no mundo diversos movimentos sociais lutam pela equivalência de direitos de pessoas que ao longo da história tiveram suas vozes silenciadas pelo preconceito e discriminação movimento negro movimento feminista movimento LGBT entre outros o movimento organizado homossexual foi o mote para o fortalecimento da luta de gays lésbicas bissexuais travestis e transexuais embora tivesse esse nome sempre foi um movimento com várias identidades diversas o movimento LGBT enfrentou várias batalhas a legitimidade das relações o direito à diferença o reconhecimento das equivalências sociais e a visibilidade em vários espaços sociais como nas famílias no trabalho nas instituições sociais públicas e
nas ciências como resultado dessa luta temos por exemplo a retirada da homossexualidade da lista da classificação internacional de doenças em 17 de maio de 1990 embora ainda existam muitas práticas curativas chamadas de reversão ou conversão que necessitam ser combatidas à luz dos Direitos Humanos da mesma maneira a luta pela despatologização das identidades transsexuais e travestis também vem das mãos dos movimentos sociais os e as militantes atuam há décadas em vários níveis de organização da sociedade para interpelar os modelos binários de gênero propor o respeito à diversidade sexual E de gênero e o direito ao próprio
corpo com autonomia e dignidade mais do que ninguém sabem dizer como se veem como se sentem e o que querem mais do que ninguém dizem como lidam com as dores e amarguras resultantes das várias formas de preconceitos e de violências cometidas por uma sociedade que ainda os declara doentes e inaceitáveis eles e elas também sabem dizer sobre as felicidades e realizações construídas nas experiências de desafiar os binarismos como a psicologia se posiciona diante disso as experiências diversas das pessoas TRANS e travestis São ouvidas pelos psicólogos e psicólogas nos consultórios ambulatórios pesquisas acadêmicas e serviços públicos
no Brasil a experiência e o conhecimento das pessoas T sido considerados fr a olhar científico como considerar as experiências como legítimas na produção de conhecimento de si mesmo Esses são os desafios postos para a prática profissional que pretende transversalizar os direitos humanos às vezes me dá impressão quando a psicologia entra nessa nessa onda da repetição da adequação do sexo né da adequação do corpo ao gênero me dá a impressão de que a gente tá num grande retrocesso né se os movimentos feministas desde os anos 70 os movimentos LGBT passaram anos e ainda passam né tentando
desconstruir a gente faz esse debate na academia também então a militância faz a academia faz eh às vezes de maneira mais congruente às vezes de maneira mais divergente até porque existem várias falas né nos movimentos sociais e várias falas dentro da academia a gente não é não é um moniss e nem é para ser mas esses movimentos sociais e a academia passaram anos e já décadas tentando de escolar sexualidade de reprodução orientação sexual de identidade de gênero quando a gente faz essa junção para falar da necessidade da adequação entre o corpo e o gênero Isso
parece um grande retrocesso primeira questão importante é que o movimento feminista e movimento trans trouxeram paraa psicologia uma crítica a qualquer concepção Universal sobre sujeito ou seja as pessoas começaram a discutir um processo de experienciar corpo sexualidade e posições de gênero de maneira muito singular né então isso trouxe pra psicologia um questionamento se é possível a gente ter teorias tão universais assim sobre o sujeito e sobre as suas experiências e a necessidade da gente pensar nas experiências nos seus contextos localmente como é que elas são produzidas Então esse é um primeiro elemento importante que é
o cuidado com a generalização que a psicologia precisa ter para falar dessas questões O Grande Desafio da da das psicólogas dos psicólogos eh reconhecer gênero como eixo estruturante da sociedade né Nós fomos formadas eh capacitadas como profissionais como pesquisadoras como pessoas que estão pensando a psicologia a partir de um paradigma em que gênero é apenas uma variável que já estava definida a partir do sexo biológico e nossa formação em gênero de sexualidade ainda é muito precária muito limitada acho que um ponto importante é a gente ampliar a dimensão da formação do psicólogo para o trabalho
com essas populações e mais do que isto né inserir no campo das diretrizes curriculares em psicologia uma formação pras questões da diversidade sexual né da Cidadania dessas populações em geral o psicólogo não tem uma formação para pensar diversidade sexual eu acho que a gente precisa ampliar esse debate e colocar como parte da formação dos psicólogos em qualquer universidade em qualquer faculdade a questão do trabalho com a diversidade sexual a gente não discute nada dessas questões de gênero e sexualidade na formação tirando um ou outro curso no Brasil que conseguiu introduzir uma disciplina de gênero sexualidade
eu sei também de instituição em São Paulo que conseguiu introduzir como obrigat essa questão parece que ela é só daqueles pesquisadores que trabalham com o tema só que o psicólogo ele vai ser atravessado e vai ser interpelado por questões de gênero sexualidade em qualquer lugar que ele esteja na escola na hospital na justiça no consultório essas questões vão aparecer a formação Nossa de psicólogos e psicólogas é muito precária No que diz respeito a esses temas não é a história da Psicologia é a história de normatizar e patologizar as sexualidades e as transexualidades então um passo
importante da formação a gente começar a desconstruir essa história da Psicologia não é e começar a se perguntar o que nós psicólogos e psicólogas entendemos sobre transexualidade e o que que nós queremos fazer porque hoje o nosso fazer tá completamente regulado por uma posição que é da psiquiatria que não é Nossa então vamos dizer assim estamos fazendo um trabalho que não é nosso Estamos fazendo o trabalho que a psiquiatria Decidiu sobre as transexualidades como um transtorno eh mental e transtorno sexual patologizado essa experiência então Quem produz esse trabalho somos nós no cotidiano dos atendimentos no
não é no na obrigatoriedade de 2 anos de processo psicoterápico pras pessoas que entram e pelo sistema único de saúde nos ambulatórios trans Ou seja a gente não se perguntou ainda como categoria O que é que nós entendemos sobre isso e o que é que nós vamos fazer como psicólogos e psicólogas que não seja o ditame da psiquiatria e da Medicina Quem são os profissionais que se formam com algum tipo de referência para trabalhar com essa questão pouquíssimos e como é que eles vão trabalhar muitas vezes com base em seus próprios preconceitos Ou eles vão
procurar apoio na literatura e vão encontrar os textos que vão dizer para eles que transexualismo é perversão né então fica complicado a participação dos psicólogos na luta pela despatologização implica os psicólogos contribuirem numa reflexão sobre os papéis tradicionais de gênero sobre a heteronorma idade que organiza a nossa sociedade e ela atravessa não apenas a vivência das pessoas trans ela atravessa a vivência de Todos Nós há um conjunto de expectativas em relação ao gênero e à sexualidade eh que os psicólogos muitas vezes não têm um papel questionador à medida que o psicólogo se envolve na luta
pela despatologização das identidades trans eu acho que ele é convidado a sin serir em outras lutas para refletir sobre as questões de gênero e sexualidade na nossa sociedade e atuando numa perspectiva crítica em relação aos padrões tradicionais o psicólogo ele pode oferecer um trabalho muito mais interessante do que esse trabalho pontual né pontual do diagnóstico porque isso não ajuda o sujeito ao contrário né E essa ideia ou esse esse argumento de que no Brasil pelo menos por enquanto precisa da patologização pro acesso ao serviço e é por isso que a gente faz tem que começar
a desconfiar um pouco disso né qual é o papel ético político do psicólogo no sentido da desconstrução dessa patologização né se o psicólogo é um profissional de saúde saúde mental ele vai ter um papel preponderante aí nessa desconstrução essa é outra crítica né Outra discussão do movimento para despatologização entender o atendimento à demandas das pessoas para além de procedimentos cirúrgicos né entender que as pessoas trans como quaisquer outras pessoas dentro do princípio que a gente tem de saúde nesse país né no sistema universal de saúde Elas têm direito à integralidade o princípio da integralidade serem
atendidas nas suas demandas independentemente de qualquer questões de saúde ou de doença né ser atendidas como seres humanos essa ideia de que tá é importante ter um diagnóstico porque isso permite as pessoas terem acesso à saúde ela é uma ideia falsa porque há muitas possibilidades de acesso à saúde que não passam por nenhum diagnóstico de Patologia a gravidez é o caso mais exemplar né as pessoas ficam grávidas tem um diagnóstico de que estão grávidas e nem por isso são patológicas consideradas doentes e tem acesso integral à saúde Então vamos dizer assim é ampliar o direito
despatologizar não é o temor de que despatologizar poderia implicar em perder direitos é exatamente o contrário é ampliar direitos de maneira que as pessoas eh trans possam acessar os direitos básicos de cidadania que estão sendo negados hoje e mais inventar direitos que ainda não existem que precisam ser pensados hoje a discussão da Psicologia no âmbito da saúde né E como no nosso código de ética a gente assumiu compromisso com a Constituição democrática nós Assumimos compromisso com os direitos humanos então na saúde as discussões contemporâneas na psicologia elas também levam conta a lei orgânica da saúde
a Lei 8080 que institui o sistema único de saúde e que tem uma série de princípios inclusive nós podemos trabalhar junto a comunidades na no fortalecimento de suas lutas pelo direito à saúde nós podemos trabalhar numa lógica de grupo de convivência onde as próprias pessoas protagonizam as direções de seus essos de melhoria de qualidade de vida né então nós na psicologia nós estamos nos esforçando muito para superar o a lógica da patologia o que tem sido muito comum na psicologia é exatamente a experiência da pessoa ser descartada né quer dizer o olhar científico sobre aquele
corpo tem m mais valor normalmente do que o que a pessoa pode falar da sua própria experiência e eu acho que a gente tá no momento exatamente de inverter essa hierarquia né de dar valor ao discurso da experiência de compreender essa experiência e de aprender a produzir um olhar para esse corpo junto com as pessoas que vivenciam transições de todos de todas as formas eu acredito numa psicologia que leve em conta fundamentalmente a vozes dos sujeitos na construção dos discursos psicológicos sobre esses sujeitos né acho que isso é uma coisa muito importante que nós não
não podemos retroceder nesse ponto né Então as narrativas psicológicas sobre transsexualidade elas tem que levar em consideração o modo como as pessoas transsexuais pensam a transsexualidade são as pessoas transexuais que ensinam sobre a transsexualidade e não o contrário né Eu acho que isso é muito importante porque o afã tecnicista faz com que muitos profissionais e coloquem a voz da pessoa trans em segundo plano E aí eles vão fazer o qu eles vão se revestir de todo um arcabouço conceitual que muitas vezes faz com que eles não consigam escutar o que a pessoa trans tem a
dizer como fazer o novo eu acho que se a gente se incomodar com o que a gente tá fazendo já é um passo importante da gente pensar eh saídas criativas que às vezes podem não est legitimadas ainda no campo profissional Mas podem apontar com propostas importantes de dar de colocar a voz da experiência desses sujeitos no lugar de igualdade com o conhecimento científico e profissional Acesse o site despatologização cfp.org.br e saiba mais sobre a campanha despatologização das identidades transsexuais e travestis realizada pelo Conselho Federal de Psicologia [Música] [Música]