Contribuição pessoal para uma perspectiva psicológica da fenomenologia - Yolanda Cintrão Forghieri

[Música] eu nasci em Taquaritinga uma cidade do interior de São Paulo e meus pais já falecidos Antônio Alves cintrão e donária Rodrigues cintrão e tendo como irmãos Maria Luísa e João de Deus eu sou a caçula da família mas vim com minha família aos 3 anos de idade para São Paulo e aqui permaneci até agora que eu cresci me formei estudei e então eu não sei quase não sei nada da minha cidade natal sou mais Paulista do que tacar tingues então eu gostaria de falar sobre duas vocações na minha vida que é muito importantes e

que o germe surgiu a partir da minha infância assim foi a minha vocação para ser professora e a minha vocação para ser terapeuta na minha vocação para para professora olhando lá para o passado eu me vejo sentada no segundo degrau da escada de minha casa contando história pros meus amiguin e os meus priminhos e eu contava as histórias com tanta ênfase tanto entusiasmo que eles nos nos relatos tristes ficavam com os olhos marejados de lágrimas e nos alegres eles sorriam junto comigo então a princípio eu relatava as histórias que os adultos me contavam mas quando

eu aprendi a ler eu comecei a ler as histórias de fadas e de princesas para depois poder relatar então eu aprendi a ler assim com muito interesse naquilo que estava escrito isto despertou em mim o gosto pela leitura que durou a vida inteira e foi importante na minha carreira como acadêmica bem mas acontece que eh fui crescendo fui eh lendo histórias depois passei a ler filmes quando adolescente ainda contava os filmes para para as amigas e os grupos e tudo mais e finalmente eu acabei lendo coisas tidas como verdadeiras para contar pros meus alunos e

foi uma grande emoção o primeiro dia que eu me tornei professora eu tinha 16 para 17 anos e eu havia ingressado no na faculdade de Filosofia Ciências e Letras sed de Sapiens Saudosa e emérita faculdade que hoje já já não existe E como eu tinha dificuldades financeiras e a reitora ela era muito interessada na vida das alunas então eu já no primeiro ano nos primeiros meses ela me indicou para dar aula no colégio Assunção era no curso primário e eles usavam geografia e história separado de português e matemática eu fui ensinar história e geografia então

com muito entusiasmo como eu já estava aprendendo no na na pedagogia a respeito de um revolucionário sistema de ensino que chamava-se a escola nova vejam em 1942 já se falava nisso então era divulgado aqui pelo famoso brasileiro Paulista Lourenço Filho e o John Dew e o americano nos Estados Unidos que a gente já usava o livro dele também então o novo sistema consistia que o ensino devia ser voltado paraa vida eh das crianças pros seus interesses paraas suas necessidades então motivada por por esses ensinamentos que eu estava começando a aprender eu preparei um cartaz com

um mapa assim muito colorido onde eu coloquei a Europa destacando o Portugal e as índias que era o que se falava naquela época e o Brasil o Brasil cheio de índios e florestas e tudo mais então fui para dar a aula toda muito contente comecei a aula assim muito entusiasmada porque eu coloquei as caravelas de Pedro Álvares Cabral no oceano também né e o trajeto Então fui contando eles saíram de Portugal e a criançada ficou tão animada que começou a falar a rir e E aí então a a a mestra de classe que cuidava da

disciplina não é ela ficou muito contrariada aí aos berros falou que que é isso chamou minha atenção na frente das Crianças eu fiquei assim muito decepcionada e ela falou que eu não ia não ia poder continuar lecionando daquele jeito e tal Eu falei não mas então eu prometo que isso não vai acontecer mais fui embora muito triste falei Preciso arranjar um jeito porque eu não queria também eh negar aqueles princípios Nos quais eu já acreditava e não queria entrar naquele sistema da escola tradicional então eu pensei eu preciso também ocupar as crianças e fazer tudo

devagar a outra aula já era de geografia aí então eu distribuí os cadernos de desenho para as crianças elas tinam porque a Assunção ou a esse esse colégio era um colégio de de da Elite de São Paulo então tinham Todo o material necessário né As crianças com todo o seu material eu comecei a desenhar no quadro negro em primeiro lugar uma ilha né banhada pelas águas e disse para elas Vocês também vão fazendo junto comigo vamos fazendo e tal e vocês quem é que já viu uma ilha todo mundo Então agora vocês vão na ilha

vocês vão pôr tudo que vocês já viram né se tinha pessoas ou bichos ou árvores e eles começaram muito entusiasmados a desenhar depois o Rio e assim eu fui ensinando os acidentes geográficos elas aprendendo muito alegres porém eu Logo no início falei olha Se vocês fizerem barulho a a superiora vai me mandar embora eu não volto mais se vocês gostaram querem continuar comigo vamos fazer o possível para ficar quietinhas ou se quiserem falar um pouquinho com a colega baixinho vocês T que aprender falar baixinho e quando quiser falar comigo levanta a mão aí eu vou

lá e atendo vocês naquilo que vocês quiserem e precisarem e elas foram assim quando ventava eu elas abaixavam a e foi uma beleza daí então eu fui desenvolvendo o método durante o ano todo muito feliz ora história ora geografia mas a mestra de classe a freira que cuidava da disciplina foi ela não se conformava de verz as crianças alegres ela foi contar para a madre superiora que as as crianças tinham muita alegria na minha aula e só brincavam nos não estudavam não faziam nada com seriedade aí a superiora sem avisar eu arguia as crianças aquele

Arch solene aquela mre usava aquele hábito né aquela Madre ela era francesa lá veio a mer como el diz não era er lá veio ela e tal e ainda com mais duas outras freiras assistentes né Aí se sentaram na minha mesa e coisa eu só fiquei de lado meu será que vai acontecer aí ela começou a fazer perguntas do programa O que é um rio que depois as crianças se saíram magnificamente sabiam tudo responderam tudo e ela ficou surpresa ela virou-se para mim e disse Mas que que interessante como elas aprendem alegres brincando eu falei

é um novo sistema de ensino né E foi tão convincente que a mestra de classe que era uma freira muito séria assim muito sempre de mau humor quando chegou no fim do ano ela ela veio me pedir para fazer o mapa da Palestina e coisa porque ela lecionava história Sagrada e ela queria também começar a adotar o mesmo sistema paraas crianças ficarem mais atenciosas que as crianças conversavam não prestavam atenção então foi foi mesmo uma uma grande conquista para mim que foi foi um começo tão significativo que eu mantive através de toda a minha vida

como professora aquilo que tá sendo ensinado relacionar com a vida das das Crianças primeiro depois das adolescentes na escola normal onde eu lecionei e finalmente na faculdade e ensinando psicologia é uma coisa muito própria né porque a psicologia já vai tratar ex amente da nossa própria vida né Então as vivências aí entram em cheio e eu digamos o meu amor pelo magistério e que eu digo que é praticamente uma paixão tão grande que mesmo adentrando em mais de 80 anos eu continuo lecionando ainda e fazendo palestras tal o modo como eu me sinto envolvida e

conforme eu gosto agora a outra minha grande vocação que foi a de ser terapeuta os germes dessa dessa minha vocação surgiram no Convívio com a minha mãe porque a minha mãe era assim dedicada chegava a contar histórias para mim na hora de dormir até eu adormecer porém ela sofria de periódicas crises de intensa ansiedade então ela ficava desesperada nem se cuidava andando de um lado pro outro e dizendo que estou com medo de enlouquecer e de morrer porque eu não vou aguentar tanta aflição e eu criança ainda que me recordo de meus 4 5 anos

eu ficava muito aflita também mas eu queria ajudar então eu penteava Os cabelos dela levava ela pro Jardim para ela se distrair e eu conseguia acalmá-la por alguns momentos depois voltava não tinha E aí eu ficava imaginando que de existir algum modo de ajudar as pessoas a terem o seu sofrimento minorado e que quando eu crescesse eu havia de descobrir eu tive sempre esse desejo esse empenho por causa disso eu fui fazer o curso de pedagogia porque era o único na ocasião que tinha psicologia que é a ciência né que estuda a personalidade das pessoas

e de pedagoga que era o único curso que havia na década de 1940 eu fiz o curso de especialista em psicologia Clínica e me tornei uma uma mas eu o meu grande aprendizado nesse período foi a importância do amor na vida das pessoas Porque conforme eu manifestava meu amor pela mamãe ela também me retribuía com um beijo com carinho e ela ficava aliviada Então essa minha ideia permaneceu e quando eu fui estudar psicologia as teorias psicológicas tudo eu queria encontrar a importância do amor eu não encontrava e e paralelamente ou digamos no final do curso

de quando eu me tornei uma psicoterapeuta estudei tinha estudado do anos de psicanálise mas eu não conseguia não conseguia aquela distância porque eu era muito sensível me envolvia então primeiro cliente que eu fui atender eu tinha feito do anos de psicanálise com nota máxima do grupo eu conhecia a fundo me entusiasmei com as ideias porém eu me perdi no atendimento aconteceu de ser um rapaz que eu chamo de Artur tinha tentado suicídio duas vezes estava num estado deplorável de aflição de desespero de e ele começou a me contar como ele se sentia e eu comecei

a ficar envolvida e ele acabou chorando um rapaz eu era jovem ainda diante de uma de uma moça ele acabou chorando eu chorei junto com ele e e e mais ainda quando ele se levantou para embora ele pôs a mão dele em cima da minha na mesa e falou assim a senhora não precisa ficar tão triste porque eu já estou um pouco melhor Ora meu supervisor pela sala de espelho assistindo tudo quando eu saí houvi uma descompostura me pus a chorar dis que eu nunca seria psicoterapeuta porque eu era sensível demais que mas já que

eu tava no final do curso senão i me negar o diploma ele que ele queria que eu promet tesse que eu seria uma administradora de clínica jamais uma psicoterapeuta Mas acontece que o Artur na semana seguinte voltou voltou melhor e me disse olha olha a senhora vai é preciso dizer isso pra senhora Eu tava descrente do mundo das pessoas de tudo conhecendo uma pessoa como a senhora eu acabei achando que vale a pena viver eu eu quero eu quero agora falar dos meus problemas estudar com a senhora eu eu quero eu quero ser feliz eu

quero viver então o meu supervisor ficou e ele evoluiu teve alta e os meus clientes todos tinham alta e das colegas não porque é muito difícil ser uma psicanalista logo de início ter aquele distanciamento eu achei que quando chegou no final do curso ah o o Dr Aim que era um dos supervisores Mas quem mais me censurou foi o de adultos que era do Dr bachir o Dr Aim me convidou para trabalhar na clínica ele tinha uma clínica enorme falei mas D Aim o senhor Dr bachir achou que eu não sirvo para ser psicoterapeuta eu

tô surpresa com esse convite aí o bachir que tava do lado a senhora faz tudo errado mas dá certo eu falei Ah que bom pensei com meus botões vou continuar fazendo desse jeito e continuei fazendo desse jeito buscando os fundamentos porque eu sabia que eu como eu ingressei eu logo já comecei a ser professora primeiro do sedes o sedes foi fundido com a PUC depois da PUC depois eu fui convidada também para ser professora da USP então eu sabia que eu tinha que ter fundamentos teóricos né Não podia dizer que que tenha sido só a

minha ideia a minha o meu desejo e digamos a minha própria vida tinha que colocar um pouco de teoria então eu me lembro que procurei estudando quer dizer estudei a a psicanálise já tinha estudado demais mas estudei behaviorismo várias teorias humanistas e acabei pensando que talvez encontrasse No Roger no Carl Roger na teoria dele naquela ocasião eraa centrada no cliente denominação porque ele falava muito da atenção com o cliente da compreensão e aí eu elaborei Minha tese de doutorado baseada No Roger estudei a fundo tudo que havia do Roger na ocasião eu eu estudei artigos

os livros A bibliotecária mandou buscar mais isso mais aquilo também fiquei um pouco decepcionada porque havia muita repetição Então muitos artigos tão difíceis de achar porque era da Universidade não sei quanto quando chegava era o mesmo artigo com título diferente eu falei mas ol que danado desse Roger ou das pessoas que o promovem né então mas quando eu acabei a tese eu comecei a achar que tava um pouco superficial que não tava resolvendo bem então por sorte ou não sei que por uma realidade o professor Dante Moreira Leite que fez parte da banca examinadora Ele

me falou que as minhas ideias estavam indo adiante do Rogers que eu já estava entrando na fenomenologia e foi ele então que me deu dois livros de psiquiatras fenomenólogos binswanger e boss que não existiam nas bibliotecas do Brasil provavelmente eu digo do da de São Paulo e provavelmente do Brasil Então aí comecei a estudar a fundo A fenomenologia desse psiquiatra fui para outos moves vandenberg depois fui aos filósofos Nos quais eles baseavam suas ideias Russel merl Ponti heidger e buber porque em buber eu acabei encontrando o tal do amor que eu estava procurando porque o

buber ele é o o fenomenólogo das relações interpessoais E ele fala da sintonia a importância da sintonia e de uma pessoa com a outra ou da própria pessoa com o mundo que que consiste naquilo que eu considero como amor que é o fato da pessoa estar completamente ligada completamente sintonizada na na situação que ela está vivendo naquele momento então preparei a Minha tese de livre docência fundamentada na na na fenomenologia e foi pro seguindo na carreira prestei o concurso para professora titular ainda com as defendendo a a A fenomenologia e como eu também era professora

da PUC prestei o concurso também na PUC de catedrática ainda falava-se naquele tempo professora titular também sempre lançando as ideias da fenomenologia que eu comecei a lançar também nos vários congressos comecei a participar de Congresso porque eu sentia que eu tinha o que falar antes eu achava que não tinha porque eu tava meio procurando alguma coisa então divulgando A fenomenologia comecei a realizar pesquisas com metodologia fenomenológica divulgando em em congressos dois três por ano congressos principalmente os nacionais mas também alguns internacionais a publicar artigos em periódicos científicos principalmente na no boletim da academia Paulista de

Psicologia porque entre parênteses tão logo eu obtive todos esses títulos eu fui convidada fui Eleita acadêmica da academia Paulista de Psicologia onde eu substituí ou digamos tive como patrono Francisco Franco da Rocha um renomado psiquiatra brasileiro e como antecessora eu tive Virgínia Bicudo duas palavrinhas sobre meu patrono é que ele veio confirmar algumas ideias que eu tinha a respeito do aconselhamento terapêutico que eu já considerava considero até hoje que o importante se a gente quiser ajudar uma pessoa é favorecer momentos em que ela seja feliz em que ela se sinta bem porque os nossos Sofrimentos

eles vão ficando como cinzas na nossa energia Vital e a pessoa também não não sofre muito mas também não tem nenhuma alegria passa a ter uma vida monótona ou então com super ansiedade sem saber porquê e Francisco Franco da Rocha quando assumiu já muito jovem ele era ainda ele tinha Acho que uns 26 anos ele assumiu a diretoria do Instituto jueri e ele vendo aqueles doentes não havia quase né não se conhecia os remédios naquela ocasião isso por volta de 1930 havia pouca medicação aqueles doentes mentais sofrendo todos fechados ali por dentro a aí ele

conseguiu apoio do governo e todo e conseguiu uma chácara uma chácara com o rio com frutos com tudo que tem uma chácara e mudou-se para lá com os os pacientes ele mudou-se foi morar lá dentro também junto tratando os pacientes sempre de uma forma muito humana e instituiu um novo sistema de manhã depois do café da manhã cada um podia passear pela chára fazer o que bem entendesse podia colher frutos ou plantar ou pescar então ele no começo Eles estranharam não sabiam depois eles foram se acostumando e quando eles voltavam para almoço suados cansados felizes

que era o que ele queria tinham vivenciado o momento Então os sintomas ficavam atenuados e às vezes até desapareciam por alguns dias e eu isso veio confirmar a minha ideia de que a importância da gente digamos ter muita consideração amor pelo cliente e ajudá-lo a ter algum momento de de bem-estar de felicidade para livrar daquelas cinzas dos Sofrimentos deles não é bem Está faltando ainda antes de considerações finais falta uma coisa muito importante que eu não falei desde o início foi a minha vocação para ser esposa e mãe que aconteceu mais ou menos na época

digamos quando eu entrei para o sedes quer dizer eu tinha 16 anos eu conheci o Ciro ele tinha 17 anos e nós nos apaixonamos e resolvemos que iríamos casar nós tivemos que fazer todo a faculdade arranjar emprego isso Demorou 6 anos depois então nós nos casamos e graças a Deus vivemos felizes eu considero 60 anos de convivência comemoramos bdas de prata bdas de outro tivemos quatro filhos dois homens e duas mulheres então eu acrescentei Mais uma Paixão na minha vida ser professora ser terapeuta e ser esposa e mãe então eu na verdade eu me considero

assim uma pessoa realizada eu dou graças a Deus meus filhos cresceram bem todos se formaram todos são independentes hoje não é e e eu sofri uma grande perda quando ele faleceu a uns 8 ou 9 anos atrás mas aos poucos eu eu fui com os colegas principalmente os colegas da PUC que é nap é um ambiente assim muito humano de querer bem começaram a me chamar para uma tese não Yolanda você não pode o candidato faz questão que seja você e devagarzinho eu fui voltando e VII pensando afinal de contas ainda restam Duas Paixões né

a do magistério e a de terapeuta que eu continuo também como aconselhadora terapeuta então de de uma maneira geral eu eu eu penso que abordei o que seriam os temas mais importantes mas eu quero deixar assim uma uma recomendação para os novos psicólogos e os estudantes de Psicologia que eles racionalmente estudem aprofundadamente todas as teorias psicológicas mas Deixem que alguma ou algumas delas tenham Eco em seu coração porque Como dizia Pascal lá longe na antiguidade ele afirmava que o coração tem razões que a própria razão desconhece