[Emicida] Emicida chegou no canal! [vinheta] [Foquinha] Olá, internet! Dia 8 de dezembro, estreia na Netflix o documentário “AmarElo, é tudo pra ontem” que faz parte do projeto AmarElo, do Emicida.
E, sério, todo mundo precisa ver esse documentário, é muito sensível. [Emicida] Amarelo é isso aí, rapaziada. Tamo junto.
Valeu, mano. ♪Presentemente eu posso me♪ ♪Considerar um sujeito de sorte♪ [Foquinha] Ainda mais quando você ouve o álbum “AmarElo” que, pra mim, é um dos melhores álbuns do ano. Inclusive, o Emicida levou, aí, o prêmio do Grammy Latino de melhor álbum rock de língua portuguesa e não é à toa.
O álbum foi lançado no final do ano passado e realmente é muito bom. Vem muito a calhar nesse ano, aí, tenso que a gente tá vivendo, no cenário atual, aí, do Brasil. O doc trás o processo do álbum, mas ao mesmo tempo também mostra a história do Emicida, a história do rap e a história da luta por igualdade racial no Brasil, afinal tudo se liga.
É uma produção muito importante, todo mundo precisa assistir. E agora eu vou trocar uma ideia com o cara, com o Emicida, então bora lá. Senhoras e senhores, estamos aqui com o ganhador de Grammy!
[Emicida] É verdade. [Foquinha] Que honra, Emicida! [Emicida] Toda minha!
Tem um troféu do The Voice? [Foquinha] Tenho. [risos] [Emicida] Ganhou?
[Foquinha] É, eu fiz o tapete vermelho do The Voice nos Estados Unidos e ganhei. [Emicida] Ah, achei que ‘cê’ tinha ganhado o reality show. [Foquinha] Chique!
Não, não. Não tenho esse talento. [Emicida] Poxa, obrigado pelo material que você fez lá no Prêmio Multishow lá, meu, falando da importância do AmarElo.
Fiquei, fiquei muito feliz. Fiquei emocionado de verdade, obrigado. [Foquinha] Pô, valeu.
[Emicida] Reconhecimento foi foda ali. [Foquinha] Eu já falei isso várias vezes, o quanto eu amo o disco AmarElo. E agora com o doc casou muito, ficou muito redondinho, tudo faz sentido, tudo se liga, e potencializou ainda mais o projeto.
Eu assisti o doc e me emocionei várias vezes, e eu fiquei imaginando que você também deve ter se emocionado muito durante todo o processo. ♪Ano passado eu morri♪ ♪Mas esse ano eu não morro♪ [Foquinha] Agora, eu quero saber qual foi aquele momento, o momento que você mais se emocionou durante todo o processo. [Emicida] Sabe, pra mim, qual é o momento que eu sempre tenho… Uma lagriminha vem, é a parte do Wilson das Neves.
[Emicida] Sabe. A parte do seu Wilson, pra mim, ela mexe demais comigo. Tem outros momentos em que… Tem um momento que me arrepia inteiro, todas as vezes que eu vejo eu me arrepio inteiro, que é o momento em que os integrantes do MNU se levantam no meio do teatro.
Esse momento, pra mim, também, ele é uma pancada, assim, que eu fico “mano, a gente conseguiu fazer isso”, sabe? E a maioria das pessoas não vai ter a mesma sensação, mas eu tenho, por causa da história que envolve ela, que é a imagem que fecha o filme que é. .
. Antes dos créditos tem uma cena que eu tô bem molequinho na frente do Municipal, né? [Emicida] Isso já 10 anos atrás.
E a pessoa que filmou ela foi o Bruno. O Bruno foi um amigo nosso que faleceu a semana passada. De todos os projetos que a gente fez, o único que o Bruno não tinha conseguido participar de nenhuma maneira foi o AmarElo, porque ele tava com muito trampo, ele não conseguiu ir no show de lançamento.
E há uns dois ou três meses atrás, durante o processo do filme, a gente… Eu lembrei dessa imagem e falei: “a gente precisa dessa imagem! ” Eu peguei todos os meus HD’s aqui de casa, peguei os velhos HD’s e fui procurar, e o HD mais antigo pifou, sumiram todas as imagens. Aí eu falei “se alguém tem isso, é o Bruno”.
E aí o Bruno, pô, ele parou as coisas que ele tava fazendo, me mandou todos os HD’s que ele tinha lá, a gente achou essa imagem, inseriu ela no filme. Só que o Bruno não é só um cara que filmou essa imagem, o Bruno foi o cara que comprou a primeira copiadora da Laboratório Fantasma, o Bruno foi o cara que quando a gente foi pros Estados Unidos ele foi com a gente pra ser o nosso tradutor. Ele era técnico de som, mas ele foi pra fazer… Então, o Bruno, ele foi nossa palavra, sabe, lá fora.
Pô, a gente foi pra Nova Iorque, eu lembro um dia que a gente tava numa feira em Nova Iorque e tava o… Ele ficou assim: “caralho, que porra é essa, mano? ” E eu falei: “Quê que foi, Bruno? ”, e ele falou: “Mano, é o Joey Ramone!
” O cara do Ramones tava no rolê e, tipo assim, ele que tinha me apresentado Ramones e nós dois… E eu nem conhecia tanto Ramones, eu fiquei: “Caralho, logo Ramones no rolê com ‘nóis’, mano”. Tá ligado? [risos] [Emicida] Então o Bruno, ele foi uma pessoa muito intensa, assim, de acreditar em mim quando nem minha família acreditava, tá ligado?
Tipo, eu e o Fióti, ‘nóis’ tinha o bagulho da música, Fióti tinha o trampo dele, mas o resto da minha família não acreditava no bagulho que eu fazia, tá ligado? E aí, nos 45 do segundo tempo, no documentário que intensifica a experiência do AmarElo, o Bruno participa com essa imagem, tá ligado? E ele vem a falecer 20 dias depois, tá ligado?
[Foquinha] Porra, sim! [Emicida] E aí ficou foda porque ele, nos últimos anos, tava virando um grande estudioso. Quando eu conheci, ele não era religioso, mas agora ele tava virando um grande religioso, mano, um grande estudioso de umbanda, tá ligado?
Vegetariano, punk rock, umbanda. Eu falava pra ele: "Cê misturou uma pá de bagulho que não tem nada a ver, cara”. [Foquinha ri] [Emicida] E aí, a figura central da pesquisa dele era Exú, que é a figura que abre e que fecha o filme.
[Emicida narrando] [Emicida] E que na nossa vida, o Bruno funcionou como um exú, mano, porque o exú é aquele que guia você nos caminhos pra você voltar seguro pra sua casa. E ele foi isso na nossa vida, saca? [Foquinha] Foda, aham.
[Emicida] E eu fico extremamente emocionado agora vendo o filme, pensando nisso, porque ontem eu tava pensando numa coisa muito louca, né. O Bruno, ele era um cara branco que ele nunca me perguntou o quê que é ser anti-racista. Ele nunca falou, tipo… Mano, sabe o quê que o Bruno fez?
Ele simplesmente não deu continuidade a um barato que ele não acreditava, tá ligado? Tipo assim, se eu vejo uma pessoa e eu posso ajudar ela, eu ajudo. E todas as pessoas que estavam em volta dele dizem a mesma coisa dele.
Então, o que ele me ensinou na forma dele de tratar comigo foi que eu quero ser um Bruno na vida de todo mundo, tá ligado, mano? [Emicida] Que eu me conectar, saca? [Foquinha] Que demais!
[Emicida] Por isso essa imagem final, ela é tão forte. [Foquinha] Sim! Já é forte, agora com essa história, então.
E faz muito sentido com todo o doc, porque eu acho que todo o projeto AmarElo, eu senti assistindo, tem muito a ver com relações. Dá pra ver como as relações são importantes pra você e na tua vida, na tua música, em tudo. E falando especificamente sobre as músicas, sobre o álbum, é um álbum que deu um acalanto, assim.
É um álbum muito duro, mas ele é muito sensível, ele é muito otimista, ele é positivo, é nostálgico! É uma brisa, assim. Eu acho que vem muita sensação, muitas sensações na cabeça quando a gente tá ouvindo.
E vendo o doc agora, eu tive que ouvir o álbum de novo, porque eu acho que aí dá uma outra, uma outra sensação e tal. É pra esse caminho que você quer seguir agora, depois de AmarElo, assim, na tua carreira? [Emicida] Eu quero seguir num caminho onde eu consiga intensificar a emoção da poesia, sabe?
[Foquinha] Entendi. [Emicida] É muito bacana você usar essa palavra “relação”. Quando a gente tava produzindo o AmarElo, o disco, não só o documentário.
O documentário, ele também se orienta pelo mesmo valor. Mas quando a gente tava produzindo o disco AmarElo, a gente ficava se perguntando: “qual é a coisa mais importante de todas? ” E aí, porra, é muito foda, assim, eleger qual é a coisa mais importante de todas.
E a conclusão a qual a gente chegou é que a coisa mais importante de todas é a relação, é quando a gente se encontra que a vida faz sentido, e por isso AmarElo é um disco de encontros. Porque a gente tava muito querendo passar essa energia de: “mano, a gente precisa se encontrar, a gente precisa se conectar”. [Foquinha] Aham.
[Emicida] A gente precisa pegar tudo o que a gente tem de igual, todo esse nosso desejo de no final do dia só ser feliz. E, mano, conectar tudo isso, sabe? [Foquinha] Sei.
[Emicida] E respondendo a sua pergunta, sim, eu gostaria de conseguir dar continuidade à essa linha de raciocínio de maneira a que eu me conectasse cada vez mais com outras pessoas que já vieram antes de mim e espalhar essa grandiosidade. Porque eu acho que isso também é uma característica da poesia do Brasil, né? Esse lugar do samba, principalmente esse samba que a gente chama de um samba mais dolente, que é esse samba que você sorri, mas sorri com um aperto no peito assim.
Que é tipo, é o cérebro e o coração em conflito quando ele vê a realidade do Brasil, né, mano. Como uma terra tão rica deixou as pessoas tão pobres, né? Como diria o Eduardo Galeano.
Então, a gente tem essa relação dúbia de emoção e eu quero poder explorar cada vez mais essa sensação. Porque essa sensação que se parece muito com a saudade, ela é uma sensação característica do Brasil e essa palavra “saudade”, ela só existe em português, mano, tá ligado? [Foquinha] Sim, total!
[Emicida] Por isso a gente consegue expressar essa emoção com tanta riqueza. [Foquinha] Demais. Ó, pra finalizar, tô triste que nosso tempo já voou aqui, tem muita coisa pra falar.
[Emicida] [espantado] Foi? [Foquinha] Mas, enfim, você é uma pessoa muito importante no país, porque você ocupa lugares muito grandes, de massa, com discursos muito importantes. Aí, sempre que alguma coisa importante social e política acontece as pessoas querem te ouvir, te procuram.
E aí eu fiquei pensando: você deve ter saudade, vontade também, às vezes, de falar sobre amenidades. E aí, por isso, eu quero finalizar o nosso papo fazendo perguntas totalmente aleatórias para dar uma desbaratinada. [risos] [Emicida] Foquinha, eu passo o dia inteiro só falando besteira.
[Foquinha] Mas não publicamente, né? [Emicida] Ah, publicamente eu tenho uma postura, né, mano? Tenho um nome a zelar.
[risos] [Foquinha] Ó, então pra gente finalizar aqui, eu vou fazer as perguntas rapidinhas e aí você responde aí o que vem na cabeça, beleza? [Emicida] Tá bom. [Emicida] Série preferida da Netflix?
[Emicida] Puts, mano! Samurai Gourmet. [Foquinha] Oloco!
[Emicida ri] [Foquinha] Que série é essa? [Emicida] Samurai Gourmet. É um velhinho que se aposenta e ele vai comer em vários restaurantes, ele fica viajando que ele é um samurai.
[Foquinha] Maravilhoso, vou assistir. Uma dica certeira de plantas? [Emicida] Certeira?
[Foquinha] É, pra pai de planta. [Emicida] Todo mundo vai conseguir fazer! Você vai pegar um alho, você vai pegar um copinho da boca pequena, assim, né.
Um copo, tipo um copo americano. Você vai encher ele de água, vai colocar o alho nele. Aquela parte peludinha do alho que tem embaixo tem que se encostar na água, ele vai começar a crescer a raiz de novo.
Alho nacional, porque o gringo tem muito agrotóxico, não vai crescer, o gringo. Tá ligado? E isso aí serve pra você ver também o quê que o agrotóxico faz.
Pega um alho do Brasil. Essa raiz vai crescer, ele vai levantar umas folhinhas em cima do alho, ele vai virar um pézinho de alho. Você vai cortar essa folhinha, vai jogar em cima do seu arroz e você vai agradecer eu e a Foquinha porque passamos essa receita pra você.
[Foquinha] Amo! E eu vou usar essa receita, que eu tô muito mãe de planta. [Emicida] Se você não conseguir fazer isso, cara, quer dizer que você não é ungido, mano, porque todo mundo consegue.
[Foquinha] Diva pop preferida? [Emicida] Afe, Maria! Eu gosto da Rihanna, velho.
[Foquinha] Ai, amo. É a minha. [Emicida] Fechou?
Eu gosto da Rihanna, eu gosto da Rihanna demais. Acho ela canivete suíço, pau pra toda obra, é que nem “nóis”. [Emicida] Rolezeira.
Última vez que chorou? [Emicida] Puts, última vez que eu. .
. Ah, foi na semana passada, né? Semana passada eu chorei copiosamente, primeiro de tristeza pela perda do nosso amigo, e depois eu tive um choro de gratidão.
Sabe um choro de gratidão? Porque quando você recebe uma notícia ruim, a primeira coisa que você faz é chorar pela perda. Mas depois de chorar pela perda, eu tive um outro pranto que foi um pranto pela vinda, sabe?
Porque pensa que a história da vida, como a gente conhece, do universo, tem 14 ‘bilhão’ e meio, mano, de anos. E aí, nessa linha do tempo gigante, eu tive a sorte de trombar uma pessoa tão especial por uma janelinha de 20 anos, saca? Aí eu me considero sortudo pra caramba.
Foi por isso que eu chorei na semana passada. [Foquinha] Seu meme preferido, aquele que faz você dar risada toda vez. [Emicida] Você lembra da época que teve um desabamento no Rio de Janeiro e o Zeca Pagodinho saiu pra ajudar?
E aí tem um meme que ele tá tipo numa, numa motinho… [Repórter] Valeu, Zeca, obrigado. [Emicida] Aí ele faz assim, ó, olha e faz. .
. e vai embora? [Foquinha rindo] Aham!
[Emicida] Eu vivo nesse meme, eu vivo nesse meme. Nos momentos de tristeza, eu recorro a ele. Aquilo ali é minha atitude pra vida, sabe?
Às vezes vem um monte de gente, você falou, né, esses posicionamentoa políticos importante… As pessoas ‘quer’ que a gente ‘dá’ opinião de tudo às vezes. Às vezes, tipo, a minha única reação é o meme do Zeca Pagodinho, só… [Foquinha ri] [Foquinha] Sensacional! Inclusive, vários memes do Zeca, as expressões dele são incríveis.
[Emicida] É uma fábrica de meme, né, o Zeca? [Emicida] Fábrica. E pra finalizar, é uma pergunta que eu sempre faço no meu canal.
Eu quero ver você imitar um famoso. [Emicida] Caralho, como que eu vou imitar um famoso? Que famoso?
[Emicida] Ah, algum artista, famoso, alguém que você saiba imitar. [Emicida] [imitando Gomes] “Vou imitar o Gil Gomes que é da minha época, Foquinha! ” [Gil Gomes] Quando, de repente, chegaram bandidos.
[Emicida] “Emicida chegou no canal! ” [risos] [Foquinha] Maravilhoso! Eu vou só usar isso na abertura dos meus vídeos agora.
[Emicida] Demorou! [Foquinha] Pô, Emicida, valeu demais. Parabéns pelo teu projeto!
Você é foda. Te admiro muito e espero que todo mundo assista, porque é essencial, é necessário. [Emicida] Porra, ‘brigadão’, Foquinha!
Valeu demais aí, meu. Bom dia, se cuida. Fica bem.
[Foquinha] Você também. É nóis. [Emicida] Valeu, é nóis.
[Foquinha] Ai, queria continuar esse papo com o Emicida, tomando cerveja, por horas! Mas é isso. Espero que vocês tenham curtido.
Compartilhe esse vídeo pra geral. Se você ainda não é inscrito no canal, se inscreve e vai lá assistir AmarElo na Netflix, que eu tenho certeza que vocês vão amar! Depois me conta.
É nóis.