Olá meus caros Estamos aqui no nosso programa filosofia e cultura e eu gostaria de analisar hoje a problemática ou a expressão que muitos usam religião sem Deus será que isso de fato tem sentido Qual o significado de falar de uma religião sem Deus o que significa isso né Qual é o sentido disso me parece muito comum ou seja se nós pegarmos do ponto de vista do desenvolvimento histórico principalmente na cultura ocidental nós vamos ver que a religião desde ali do contexto do Império Romano ela sempre foi entendida por um lado como a ideia de ligar
o humano ao Divino ou seja falar de religião é falar de um conjunto de práticas de crenças que de alguma maneira tem como meta como finalidade fazer com que o homem se aproxime de Deus ou muitas vezes a ideia também de não só de ligar o homem a Deus mas de religar porque muitas vezes o ser humano se afasta de Deus e ele também tem que fazer todo um processo de reaproximação Esse é o sentido que é chamado atenção por exemplo por Cícero quando ele escreve sobre a natureza dos Deuses né ou por Santo Agostinho
quando escreve toda a questão da Cidade de Deus e outras obras mas na própria cultura ocidental parece que de fato foram acontecendo muitas coisas que colaboraram por exemplo para que surgisse né ali no século X o pensamento positivista de Augusto conte por exemplo que dizia que no fundo no fundo a sociedade o ser humano passa por estágios ou seja por um lado primeiramente o estágio religioso depois vai evoluindo para um estágio mais filosófico metafísico enfim até chegar ao estágio ali científico do Espírito científico do espírito positivo aonde ele não nega por exemplo a questão de
algo sagrado da igreja mas no fundo é uma religião do homem pelo homem aonde de uma certa maneira o ser humano adora a si próprio ou quando nós vamos pegar autores por exemplo já no contexto do século XX que vão defender a ideia de uma espiritualidade sem Deus ou seja o termo espiritualidade também sempre foi compreendido nesse sentido de cultivar um tipo de intimidade ou de vida com Deus e aqui você vê a proposta de uma espiritualidade sem Deus cultivando determinados princípios determinadas atitudes ou determinados valores como né a imanen dade né ou a própria
questão do silêncio ou a questão da unidade da plenitude perante evidentemente a própria questão do mundo então quando eu olho Essa realidade e esse mundo eu vou vendo né essa sensação de que existe algo que é maior do que eu mesmo eh essa coisa do Mistério né de que nem tudo de fato eu consigo abarcar essa coisa da unidade do vínculo com as outras coisas né E esse desejo de planificação então para muitos isso já seria suficiente para se desenvolver um tipo de espiritualidade que é sem Deus e que por outro lado ajudaria o ser
humano a se realizar enquanto ser humano ora o que me interessa aqui não é discutir necessariamente apenas o fundamento ou se isso tem sentido ou não essas teses que são defendidas por alguns autores a minha questão que eu gostaria de chamar aqui né para reflexão é justamente o ponto de onde veio isso o que que aconteceu do ponto de vista do desenvolvimento histórico no mundo ocidental que colaborou para que nós chegássemos a essas teses a essas reflexões filosóficas e a essas propostas existenciais digamos assim né Será que tudo isso surgiu do nada por acaso não
não é bem assim então o que significa realmente uma religião sem Deus o que significa isso historicamente falando o que ocorreu para que tudo isso surgisse ora quando nós analisamos o advento da modernidade nós vemos claramente que ali vai haver uma mudança da concepção de Deus né da noção que se tem sobre Deus porque se no primeiro momento vai se estabelecendo toda uma compreensão de que Deus é o criador de todas as coisas é o princípio de todas as coisas é providente é o princípio e o fim de tudo é o Supremo juiz etc parece
que essa visão essa concepção tradicional de Deus ela vai sendo criticada e deixada de e vai se ter uma outra compreensão né um Deus que tá ali em movimento um Deus que está em Devir um Deus que no fundo no fundo não é alguém mas é algem constante né vínculo com a dinamicidade da vida e que portanto não fica tão preso ou vinculado Às nossas questões de fato nós precisamos compreender que foi surgindo uma nova abordagem sobre Deus e Por conseguinte até da prática religiosa Mas isso foi possível porque na realidade houve uma mudança muito
forte na compreensão da realidade humana e principalmente sobre a questão do valor da Inteligência humana e quando nós analisamos tudo isso com calma evidentemente que nós vemos que toda a cultura renascentista ali a questão do renascimento no século X já teve a sua colaboração por quê Porque ali nós vamos ter como muitos sabem toda a questão do antropocentrismo não é uma questão apenas de resgatar a cultura greco-romana mas é de fato ir colocando cada vez mais o ser humano no centro de todas as coisas né então o antropocentrismo renascentista independente de qualquer coisa vai defender
esse elemento né de que o ser humano é o centro as questões humanas os problemas humanas né e mu Professor Mas isso era uma V valorização do humano não era só uma valorização do humano é uma questão de realmente colocar o ser humano como o Ponto Central e mais importante de tudo e aos poucos foi isso que foi ocorrendo da mesma forma que no pensamento moderno nós vamos ter como todo mundo sabe uma valorização muito muito grande cada vez mais do subjetivismo Ou seja a questão não é mais o objeto conhecimento a questão do próprio
mundo mas quem é esse sujeito do conhecimento então tanto o antropocentrismo renascentista como o subjetivismo moderno com certeza também colaboraram para tudo isso mas Além disso nós vamos ter como eu disse uma mudança profunda sobre o entendimento do que é a inteligência e qual é o valor dela na vida humana então numa concepção mais clássica a inteligência era vista como uma grande potência da Alma que nos ajudava a conhecer a realidade tal como ela é né que nos capacitava a ir nos aproximando do divino né do Sagrado a partir da realidade criada e por Portanto
o ponto de partida era o mundo exterior ia se subindo até Deus por intermédio de todo um conjunto de raciocínios né para se chegar de fato à conclusão da sua existência e da sua importância Então veja que é uma inteligência que era extremamente valorizada no seu aspecto teorético no seu aspecto contemplativo de conhecer o ser de conhecer as coisas de compreender que as coisas são e porque são como são no mundo moderno de fato aos poucos Esse aspecto especulativo foi sendo deixado de lado essa dimensão metafísica da inteligência e o que foi se valorizando cada
vez mais foi o aspecto da ação o aspecto da prática principalmente ali no século XIX né e adentrando todo o século 20 então toda essa dimensão ou seja uma inteligência que é capaz de produzir uma inteligência que é capaz de interferir de agir de estabelecer determinadas práticas é isso que é valorizado ou seja aquelas operações basilares da Inteligência como a simples apreensão o juízo o raciocínio toda a capacidade de abstração e elaboração de conceitos tudo isso vai ser profundamente criticado né no pensamento moderno enfim e também contemporâneo e portanto vai se estabelecendo uma ideia de
que olha a inteligência é importante para os homens enquanto ela tem uma certa finalidade prática ou seja na medida em que os homens saem do âmbito prático parece que a inteligência ela vai deixando de ter importância ela vai deixando de ter valor Então veja que é um contexto profundamente anti-intelectual né ou seja não é possível por exemplo mais ou não tem sentido mais querer estabelecer provas da existência de Deus né não tem mais provas intelectuais da existência de Deus não só tem como que é inútil ou seja na realidade a forma de se aproximar de
Deus não é mais simplesmente pela razão pelo intelecto né pelo conhecimento que é possível o ser humano adquirir sobre Deus a partir das realidades criadas ou seja vai se estabelecendo outras vias vai se estabelecendo outros caminhos a questão da experiência religiosa a questão eh da intuição vai se impondo cada vez mais né Ou seja eu encontro Deus por algum tipo de viver que ocorre no íntimo do meu coração né a partir de um certo tipo de sentimento de emoção especial de algo interno a mim né e ou pela via mais intuitiva Então veja que do
ponto de vista moderno na medida em que vai ocorrendo toda uma crítica e mudança na compreensão do que a inteligência e do seu real valor isso colaborou profundamente para que se fosse mudando o entendimento sobre sobre quem é Deus e qual é o caminho a a via que nos leva até Deus ou seja se foca-se tanto o aspecto da experiência religiosa ou a questão intuitiva né Principalmente ali no início do mundo contemporâneo né é nítido é claro que nessa concepção moderna não se parte mais do mundo para se chegar até Deus parte-se do quê de
uma interna eu parto do mundo interior eu parto da realidade do Ego do eu daquilo que eu vivenciei e não tanto daquilo que é exterior evidentemente que isso vai ter consequências enormes porque uma coisa é você partir ter como referência uma realidade algo que é extramental e que portanto existe independentemente de você e as conclusões que você chega a partir disso vão ter uma consistência muito maior outra coisa é quando você você parte tem como ponto de partida o seu mundo interior a experiência vivenciada aquilo que ocorreu no âmbito do seu eu e portanto da
sua consciência né o segundo ponto é que a via que se leva até Deus ela é muito mais imediata do que mediata ou seja do ponto de vista clássico o conhecimento sobre Deus e a aproximação em relação a Deus passa por mediações ela é Med izada né eu vou passando por várias etapas que pressupõe todo um processo de raciocínio para se chegar até Deus enquanto que no mundo moderno vai se defender uma relação muito mais imediata principalmente ali no contexto repito do início do século XX tá ou seja esse imediato esse contato mais direto vai
ser justamente pelo quê por uma vivência interior né mas ser muito mais por algum tipo de sentimento de emoção é aquilo que alguns autores Diem diziam né esse senso de realidade é aquela coisa que alguns já devem ter ouvido né olha eu tive ali uma experiência religiosa eu tive uma experiência de Deus eu senti uma presença eu tive um senso de realidade eu não sei o que é é é algo maior é algo que me tocou isso tudo mostra Então o quê né Isso mostra que de fato o ponto de partida é muito mais o
eu aquilo que é interno do que o próprio mundo exterior olha isso vai levar então a uma questão de que eu não preciso nem discutir por exemplo a existência de Deus porque no fundo no fundo se a minha se eu tenho a minha consciência religiosa devido a uma determinada necessidade quer dizer que o meu próprio objeto que eu vivencio é resultado dessa necessidade logo não se discute tanto a existência mas vamos ver de Fato né a natureza de Deus mas no fundo no fundo ao se discutir essa questão cai numa complicação por quê Porque se
o ponto de partida é o ego eu não esse Deus que é conhecido ele é conhecido não pela racionalidade não pelas mediações articuladas pela razão mas sim muito mais pelo sentimento pela emoção por algum tipo de vivência interior né e portanto a grande consequência então é que o Deus que é eh em si mesmo o que Deus é nele mesmo não é o objeto dessa experiência como foi entendida por esses autores modernos e contemporâneos ou seja o que Deus é em si mesmo não importa o que importa é o que ele é para nós o
que o que importa é o que Deus é em relação ao humano e aí vem realmente uma questão muito interessante Porque se o que interessa é o que Deus é em relação a nós olha Deus é deve ser levado em conação o que Deus é de acordo com o quê De acordo primeiro lugar com as necessidades do indivíduo com aquilo que o indivíduo realmente necessita segundo eu preciso pensar e entender quem é Deus se é a partir das necessidades do indivíduo então também é segundo o espírito dos tempos Então veja os indivíduos são diferentes então
não interessa se Deus existe ou não se Deus é aquilo ou não o que interessa é o que ele é para mim e portanto por isso no fundo no fundo cada um acaba produzindo o seu Deus né então se eu acho que Deus é isso porque a minha necessidade É essa a minha necessidade é ter uma fazenda a minha necessidade é ter um emprego a minha necessidade é ter uma cura a minha necessidade é ter não sei o quê eu vou moldando a Deus nesse sentido e o importante é que isso funcione tanto que muitos
autores vão dizer quem Deus é Deus existe ou não Deus isso ou aquilo São perguntas inúteis O importante a essência da religião é se ela funciona se ela tá ajudando você do ponto de vista humano que você precisa tá valendo né e o Espírito do tempo é a mesma coisa ou seja eu preciso pensar Deus e eu preciso achar que Deus é tal coisa de acordo com o tempo que eu vivo então conceber Deus por exemplo como um rei como um juiz não funciona mais isso daí seria resquício de uma concepção monárquica de Deus de
uma época em que a monarquia e tantas oligarquias e tantas coisas tomavam conta Então a maneira de ver Deus e de se referir a Deus tem que ser de acordo com o tempo então como os tempos mudam na sociedade Nós também devemos mudar ou seja nós vivemos hoje um período de democracia então nós temos que ter uma visão mais democrática sobre Deus eu não posso ficar falando que Deus é Rei Eu Não Posso Dizer que é Imperador eu não posso dizer que ele é Supremo juiz porque isso é muito tirânico isso é muito antidemocrático isso
é muito autoritário e portanto se de fato o mundo evolui e a evolução é que determina tudo eu também tenho que ter uma uma visão evolucionista de Deus ou seja Deus está muito mais ligado vinculado ao Devir do que aquela ideia de uma imutabilidade de uma perfeição imutável arrogante que é muito mais problema do que solução ora isso tudo mostra o que é isso que nós devemos entender nós não chegamos a um Augusto conte nós não chegamos a espiritualidade sem Deus por acaso nós chegamos nesse contexto do mundo contemporâneo de uma religião sem Deus porque
no fundo no fundo O que significa uma religião sem Deus significa uma religião que coloca no centro o ser humano e que busca a glorificação humana e não a glorificação de Deus então na realidade tudo isso foi possível eu acho que é isso que é importante a gente refletir né Nós saímos de fato de uma religião que tinha a preocupação de ligar o humano com o Divino porque entendia que o sentido da vida humano passava pelo encontro e a contemplação do divino Ou seja eu só consigo encontrar a plenitude e a realização plena do meu
ser na medida em que eu reencontro meu princípio originário e no mundo ocidental sempre se pensou a religião nesse sentido a ligação do humano com o Divino ou a reaproximação do humano com o Divino sendo que Deus é o absoluto e ele é o centro na medida em que muda o conceito de inteligência de fato foi possível elaborar uma nova noção de Deus uma noção que estaria mais próxima da dinamicidade da vida do movimento da existência por quê Porque a concepção tradicional não funcionaria mais tem que ser um deus de acordo com as necessidades individuais
de acordo com os tempos de acordo com a evolução do próprio mundo Então veja que mudou mas mudou por quê Porque mudou-se a noção de inteligência a inteligência não é mais uma inteligência contemplativa que busca a verdade é uma inteligência prática que simplesmente procura resolver problemas então mudou-se a questão da Inteligência mudou-se a concepção de Deus e de fato nós passamos a ter uma religião em Deus porque no fundo no fundo o que muitos adoram hoje é Aim mesmo é o homem adorando o homem é uma religião que busca a glorificação do homem e não
mais do Criador isso é muito sério e as consequências são muito sérias olha pro nosso mundo olha pro que nós estamos vivendo forte abraço se você gostou deixa aí a sua curtida deixe o seu comentário Compartilhe o vídeo se inscreva no canal e como eu sempre digo leia os textos leia os livros né porque ignorância não vale a pena tudo de bom até a próxima