Os dias estão mais quentes. E as chuvas, mais fortes Esses novos tempos são reflexos das mudanças climáticas, como apontam diversos estudos científicos das últimas décadas Mas há outras consequências ainda não tão visíveis do aquecimento global Novas doenças devem aparecer. Com o derretimento das geleiras e oceanos e as temperaturas mais elevadas, mais patógenos estarão em circulação E outros males que já existem atualmente estão registrando alta nos casos: as doenças transmitidas por mosquitos Eu sou João Fellet da BBC News Brasil e nesse vídeo eu falo de como as mudanças climáticas afetarão a nossa saúde e o nosso sistema imunológico Arboviroses - Talvez a gente comece a ouvir esse termo com mais frequência daqui pra frente As arboviroses são doenças transmitidas por pernilongos e mosquitos e devem se tornar um grande desafio para a saúde pública E qual a razão para isso?
A resposta tem a ver com Charles Darwin e sua Teoria da Seleção Natural no contexto da era dos extremos climáticos Segundo Leandro Gurgel, pesquisador da Fiocruz, os insetos vetores de transmissão estão se adaptando muito bem ao período de temperaturas extremas E Darwin disse que a adaptação é uma característica que favorece a sobrevivência e prevalência de uma espécie em um ambiente Com mosquitos e pernilongos mais resistentes, e consequentemente em maior número, há mais chance de os vírus se espalharem e infectarem mais pessoas Um velho conhecido do brasileiro, o Aedes Aegypti, pode se tornar um perigo ainda maior Transmissor de doenças como dengue, chikungunya e zika vírus, o mosquito se mostra cada vez mais adaptado às mudanças do clima, afirma Leandro Gurgel. Ele contou ao meu colega Rone Carvalho que antigamente se pensava que o mosquito se reproduzia só em água limpa e parada. Mas que hoje já se sabe que ele também se reproduz em lixo e em água suja e que o ovo do mosquito pode se manter viável por mais de um ano sem água.
Além disso, segundo Leandro Gurgel, já se descobriu também que não é somente picando pessoas infectadas que os mosquitos se tornam vetores das doenças, já que as fêmeas grávidas podem transmitir o vírus para até 50% de seus descendentes. Cassia Lemos, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, desenvolveu a AdaptaBrasil, uma plataforma que mostra os potenciais riscos das mudanças climáticas no país em diversas áreas Além da dengue, as projeções do sistema indicam que a malária deve se alastrar ainda mais pela região Norte e atingir de forma intensa o litoral do Nordeste até o ano de 2050 Outra preocupação é o aumento de leishmaniose visceral humana, outra doença transmitida por mosquitos. Ela causa inchaço do fígado e do baço, e pode levar à morte em 90% dos casos se não for tratada Para chegar às suas previsões, a AdaptaBrasil analisa, além das características das doenças, os aspectos da população e a qualidade do sistema de saúde local Cassia Lemos diz que a forte desigualdade social que existe no país deve ter impacto direto sobre quem mais sofre com as mudanças climáticas na saúde pública A partir do aumento previsto de 1,5°C a 4°C na temperatura média global até o final deste século, outra preocupação é com doenças respiratórias, cardiovasculares e até renais Uma pesquisa feita pela USP em parceria com uma universidade australiana avaliou os registros de saúde de mais de 1.
800 cidades brasileiras entre 2000 e 2015 A conclusão foi de que a elevação de 1°C na temperatura média ocorrida nesse período pode ter elevado em quase 1% o risco de internações por doenças que afetam os rins Já um estudo publicado na revista Nature Medicine constatou que quanto maior a temperatura, maior o risco de morte por doenças cardiovasculares e respiratórias Os pesquisadores analisaram a relação entre temperaturas altas ou baixas demais e a mortalidade em 326 cidades de nove países da América Latina, entre 2002 e 2015 O perigo é maior para mulheres, idosos, quem mora em regiões tropicais ou habitantes de países menos desenvolvidos Para Waleska Teixeira Caiaffa, que participou do estudo, esses dados mostram que as mudanças climáticas não são apenas um problema restrito à área ambiental e devem afetar a todos de alguma forma Segundo ela, o risco de morte aumentou tanto com temperaturas extremas de frio quanto de calor. Mas o aumento do risco foi maior com as temperaturas mais altas. Se alagamentos e enchentes se tornarem uma constante com as mudanças climáticas, a incidência de doenças infecciosas e parasitárias deve crescer no Brasil Isso porque a chuva, a dificuldade na drenagem de águas e as falhas na coleta de lixo e esgoto configuram cenários propícios para surtos de doenças como leptospirose A falta d’água, por sua vez, pode provocar mais casos de esquistossomose e diarreias, problemas decorrentes do consumo de água contaminada O caramujo hospedeiro do parasita causador da esquistossomose é favorecido por áreas com água de pouca correnteza James Venturi, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, aponta um outro quadro não tão óbvio: as altas temperaturas levam à necessidade de mais agrotóxicos e fungicidas, o que torna parasitas mais resistentes e propícios a infectar humanos.
Outro exemplo da lógica da seleção natural darwinista Para Leandro Gurgel, pesquisador da Fiocruz, mais do que nunca é preciso empenho de governos e sociedade civil em prol da mitigação das mudanças climáticas Em suas palavras, abre aspas: "Assim como as doenças, que são resultado de uma agressão ao meio ambiente, a mesma coisa está acontecendo com o meio ambiente. Nós o estamos agredindo e uma hora a conta chega, seja com aumento de temperatura, alteração no regime de chuvas ou até eventos climáticos extremos" Waleska Teixeira Caiaffa, da Federal de Minas, diz que cada vez mais precisamos entender a gravidade das mudanças climáticas Ela diz: "As pessoas precisam entender que o que a gente esperava acontecer em 2030 já está acontecendo. É necessário organizarmos nosso serviço de saúde para essas novas demandas, e isso também inclui planejamento urbano” E ela exemplifica: “Um idoso na favela que mora em uma casa sem água encanada ou saneamento básico pode ser uma potencial vítima das mudanças climáticas.
Assim como uma criança sem acesso a serviços básicos de saúde” Isso tudo pode servir como mais um de tantos lembretes sobre a gravidade das mudanças climáticas e da urgência de ações tanto para conter as mudanças quanto para mitigar seus efeitos. Espero que você tenha gostado do vídeo. Continue acompanhando nossa cobertura de meio ambiente aqui no YouTube, nas redes sociais e no nosso site bbcbrasil.
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