Dia dos Povos Indígenas: Entrevista com Daniel Munduruku

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Revista Novo Tempo
O que, por muito tempo, chamávamos de ‘Dia do Índio’, 19 de abril, agora, é reconhecido, por lei, co...
Video Transcript:
[Música] hoje é o dia dos povos indígenas dia que o Brasil comemora e traz a reflexão sobre esse tema que é tão importante na nossa sociedade afinal de contas o Brasil Ele nasceu na floresta a gente sabe disso por isso é tão importante que a gente pare para ter conhecimento desses povos da protagonismo a eles por isso eu convidei Daniel munduruku Daniel Ele é escritor de 60 livros e traz realmente através das palavras reflexões sobre a cultura dos povos indígenas e muito mais ele adotou em educação pela USP então nosso bate-papo realmente vai ser cheio
de construções e reconstruções de pensamentos que a sociedade tem a respeito dos povos indígenas e eu amo esse tema e realmente a gente precisa da protagonismo esse povo tão especial Nossa entrevista tá no horário então vai ser muito bom [Música] Daniel você é do povo munduruku e eu queria que você explicasse para mim é a localização principal do Povo munduruku as características dele para que todo mundo possa entender um pouquinho melhor o seu povo está presente em três estados do Brasil estado do Amazonas Mato Grosso e no Pará da onde eu sou originário eu venho
do Pará é um povo que tem um contato de cerca de 300 anos com a sociedade brasileira somos uma população de aproximadamente 15 mil pessoas nos três estados e falamos a língua não durou que é uma língua do tronco Tupi agora Daniel falando agora da sua formação você é um doutor em educação pela USP Entre várias premiações temos aí com destaque os dois prêmios jabutis que você ganhou e você fez a sua graduação né o seu mestrado e doutorado antes mesmo da lei que traria né oportunidade das cotas vagas para os povos indígenas Eu queria
saber como é que foi esse momento de você iniciar os seus estudos do Meio até o final deles em relação a se houve alguma dificuldade principalmente se você teve outros colegas indígenas também ele na faculdade conta um pouquinho pra gente eu sou de uma geração de crianças que foi obrigada a ir para escola estudar porque naquela ocasião era essa política que que estava em voga que era uma política de integração do indígena sociedade brasileira e que obrigava as crianças indígenas a ele para a cidade e eu foi uma dessas crianças que foi que foi mandada
para cidade para estudar é uma escola passou a fazer parte do meu do meu cotidiano é claro não sei dificuldades não sei tristezas não sei preconceitos Mas é uma realidade que eu acabei assumindo né e comecei a estudar então continuei na cidade depois que né Depois que foi me formando nas primeiras séries e tudo mais até um chega um momento que eu precisava decidir se ficava na aldeia ou se eu ia para a cidade o seu ia definitivamente para Cidade continuar os estudos e eu tive a ser um apoio muito dos meus pais e dos
meus avós sobretudo que me incentivaram a continuar a estudar porque eles viam em minhas percebeu que eu tinha uma curiosidade muito grande eu gostava de perguntar eu gostava de saber né e por conta disso eu acabei continuando os estudos conclui um primeiro momento no Pará depois foi para Amazonas fazer Concluir meu ensino médio e do Amazonas eu vim para São Paulo aonde eu comecei a concluir a minha graduação em filosofia e daí para frente todos os degraus né de Formação é só depois que eu vim para São Paulo é que eu tive menos menos acesso
a outros indígenas mas ainda assim em São Paulo eu consegui conviver com muitos parentes de outros povos que vieram estudar também alguns conseguiram se formar outros não né porque a vida Universidade a vida acadêmica ela é muito difícil é e sobretudo para gente que vem realmente de uma outra realidade de Formação é às vezes a gente desiste a gente cansa a gente não quer mais seguir adiante né e muitos parentes indígenas acabaram desistindo me tornei professor me tornei escritor que hoje eu sou né reconhecido e foi galgando outros tantas Desafios que eu desaparecendo e eu
fui assumindo porque eu gosto muito de ser desafiado [Música] hoje nós vemos que já existem cursos superio para formar professores indígenas nós vemos também muitos indígenas ingressando na faculdade como estudantes se especializando como você mesmo falou e em relação a pesquisa que foi publicada em 2022 eu tenho dado aqui sobre isso que disse que der 198 mil vagas nas universidades estaduais e federais apenas cerca de 7.900 por aí são destinadas para os povos indígenas e pior ainda infelizmente muitas faculdades muitas universidades federais estaduais colocam apenas 7 vagas para jovens indígenas aqui em São Paulo mesmo
nesse estado a gente destaca que é o estado que é melhor essa questão porque destina cerca de mil vagas ali em todo estado para os indígenas fala para a gente assim fala sua visão sobre isso essa sete vagas é suficiente em cada Universidade é claro que o número é suficiente mas também a população indígena ela é uma população com relação ao povo brasileiro como todo muito pequeno né hoje tem aí cerca de um milhão e meio de indígenas no Brasil por cento né da população Exatamente isso é muito pouco se a gente pensar nos 200
milhões de habitantes Mas isso também é não é um problema exatamente do indígena né é um problema do estado brasileiro e o estado brasileiro que tem que se preocupar em resolver isso e nós indígenas vamos levando essa demanda para que o estado seja ele quem for governante naquele momento para que esse estado ele seja capaz de oferecer condições mínimas para que os indígenas possam se quiserem adentrar a Universidade de permanecer até o seu final agora sobre toda essa outra questão que envolve até o próprio dia 19 de Abril Muitas pessoas têm ali até nas escolas
e em outras representações também culturais colocam ali a vestimenta suposta vestimento indígena pinta os rostos né até emitem sons achando que estão fazendo daquela maneira eu queria que você dissesse como o indígena um mundo Urucu como é que vocês percebem esse tipo de movimento é uma homenagem ou chega a ser algo totalmente afastado disso às vezes se torna ridículo se torna ridículo no bom sentido do Hilário né daquilo que faz piada comédia quando as pessoas se impactam com aquilo que elas não sabem ela Elas costumam criar representações né para poder dizer que não são às
vezes preconceituosas ou que não trazem consigo este as pessoas têm que olhar para mim enxergar a si mesmo né e enxergar o seu próprio preconceito ao seu próprio equívoco seu próprio racismo às vezes se ela olha para mim e consegue perceber isso eu tô fazendo meu papel de educador de Educar né que é justamente devolver o aluno para o educando a pergunta né a indagação que ele fez para mim é e dá condições para que para que ele responde então do meu ponto de vista tá tudo bem mais ou menos né Tá tudo bem mas
pode melhorar e muito e não estamos no processo de transforma a sociedade Daniel a gente percebe que dentro desse preconceito as pessoas elas não vem com bons olhos indígenas por exemplo que tem Posses como casas muito boas carros e acham que essa sessão Econômica associado indígena não é não é muito boa Ele acha que o indígena perdeu a sua raiz perdeu a sua essência Saiu daquele meio que ele julgam que a sociedade julga que ele tem que viver lá enfim eu queria que você comentasse ao seu modo de ver né como é que você enxerga
esse como é que eu posso dizer essa barreira que o brasileiro enfim criou de achar que não pode ser assim indígena nosso pensamento é colonizado né o pensamento do brasileiro é um pensamento colonialista Nós pensamos como colonizador e quando pensamos como colonizador nós precisamos que alguém que seja menor do que a gente para dominar alguém a gente precisa se achar o máximo e o outro mínimo né E aí a gente vai construindo uma narrativa uma história para dizer que a gente é mais poderoso do que o outro as pessoas tendem a achar que quando o
indígena alcança algum algum grau de tranquilidade financeira é porque ele recebeu do estado brasileiro é porque ele é um privilegiado ele é esse é o discurso é de quem não compreende né como é que a história se movimenta eu não deixo de ser indígena mundo Urucu é porque teve um carro bacana porque tem um celular de última geração isso só deveria mostrar para as pessoas a competência que eu tenho né de poder ter tudo isso sem abrir mão de ser muito orgulho eu não sou do passado mas também não sou do futuro eu sou do
presente tem trazido muito sofrimento para os povos indígenas muitas pessoas enriquecendo a custa do garimpo ilegal por exemplo eu não posso citar aqui os povos yanomamis o povo também cainana que estão sendo exterminados por causa desse garimpo ilegal ilegal né e Nós aprendemos na escola que nós precisamos ser alguém na vida e se alguém na vida significa você ser melhor que o outro se alguém na vida significa você ser um vencedor se você vive numa sociedade que te ensina a ser vencedor ela vai te ensinar também que existe o perdedor portanto ela vai criar em
você o desejo de acumular coisas porque é isso que vai comprovar os outros que você é um Vencedor E aí não importa se você desmata Não importa se você tira ouro não importa se você é mata os animais né Não importa se você tá acabando com as nascentes de rios porque o que importa é aquilo que a sociedade Diz para mim sociedade tá dizendo que eu preciso ser um vencedor se vencer é ter não importa se eu vou destruir então não existe possibilidade de uma sociedade egoísta manter as coisas para todo mundo cada um vai
querer sempre ser dono de um pedaço e se eu puder e o meu pedaço maior mesmo independente do sofrimento do outro é isso que eu vou ter eu queria saber de onde é que vem tanta força para enfrentar tudo isso tem um sorriso no rosto construir poesias educar reconstruir transformar a sociedade onde é que vem a força do povo indígena vem mesmo dessa perspectiva de que nós não somos donos de nada e vem dessa não arrogância sabe de que na verdade hoje eu tô usufruindo da Luta dos meus antepassados o mérito não é meu o
mérito não é meu eu não sou um escritor porque eu sou melhor que os outros eu não sou um professor porque eu sou melhor que os outros né Eu sou a continuidade de uma luta eventualmente eu me tornei o professor e faço disso um exercício de aperfeiçoamento da minha humanidade né e há um aperfeiçoa minha humanidade Eu aperfeiçoo também aqueles que estão ao meu redor se eu faço isso Eu Faço bem feito eu já tô cumprindo o meu papel de rio de rio colher quero terminar essa entrevista aqui tão enriquecedora perguntando para você o que
que você espera desse 19 de Abril mas na verdade não eu quero reformular minha pergunta o que que o Daniel indígena munduruku espera não só para o dia 19 de Abril Mas para todos os dias do ano se eu fosse uma miss universo eu diria espero paz mas a gente sabe que a paz é construída também pela pelo exercício é do enfrentamento né Eu quero crer que o povo brasileiro ao aprender que não é mais o dia do índio esse índio genérico que a gente aprendeu assim um dia dos povos indígenas que o povo brasileiro
se sinta parte do que nós somos né porque nós nos sentimos partes do povo brasileiro nós precisamos criar essa ponte de fato que une esses diferentes pensamentos que nós representamos é e que nos dê a oportunidade de juntos assim com as mãos dadas mesmo a gente de fato fazer o Brasil caminhar para aquilo que ele nasceu para ser eu acho que o Brasil nasceu para ser feliz e a felicidade do Brasil está na sua diversidade né e a gente precisa reconhecer em nós a diversidade do qual nós somos compostos e eu fico feliz de poder
minimamente através da literatura através da minha atuação da sociedade é contribuir para que isso aconteça mas conhecimento de através de diversas Mídias e eu como jornalista eu como pessoa como pessoa brasileira também desejo o que que o povo brasileiro e o povo indígena seja um povo só unido na única causa Obrigado Daniel sucesso
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