Há anos venho dizendo o mesmo que direi aqui: para mim, é extremamente monótono e triste ter de repetir isto já com meus 72 anos, quando, em verdade, não gostaria de estar gravando sobre outras coisas, sobre Ciência Natural, sobre coisas mais profundas em ordem à renovação do pensamento católico e tomista. Mas o fato é que desde o século X, uma ideia dominou o mundo. Que ideia é esta?
O messianismo. O messianismo político, a partir do século X, e, mais particularmente ainda, a partir do século X, multiplicam-se os transformadores de mundo, multiplicam-se as utopias, multiplicam-se as doutrinas ideológicas em ordem a criar um mundo melhor, a criar um mundo perfeito. E isto é um traço que, infelizmente, adentrou o mesmo meio católico.
Esquecem os católicos empregados de tal messianismo, né? Há católicos hoje de esquerda, há católicos de direita, há católicos fascistas, há católicos isto, há católicos aquilo, querendo melhorar o Brasil e o mundo, renová-lo como se fossem ativistas políticos. Mas, mais que alguns ativistas políticos, esquecem o seguinte: a doutrina política católica é única, é a realeza de Cristo, que se consubstancializou na Cristandade entre Constantino e Bonifácio VI.
Foram mil anos de paz, mil anos em que as nações, dentro da miséria possível nesta vida, constituíram a Cristandade, sendo parte da própria Igreja. Esta é a única proposta política católica, não há outra, absolutamente não há outra. O que se vê por magistério extraordinário é a bula Unam de Bonifácio VI e, por magistério ordinário, de quase 20 séculos, cujo ápice é a Quas Primas de Pio XI.
Não há outra doutrina política, seu correspondente à doutrina social da Igreja. Na verdade, a DSI, a conhecida DSI, é parte da doutrina da realeza de Cristo. É a parte econômico-social dela.
Não há mais. Há um dado que os católicos hoje, muitos, talvez a maioria, movidos, tomados por esse espírito messiânico, esquecem: nunca a Igreja promoveu um movimento político pela Realeza de Cristo! Jamais!
Isso seria fazer dela um movimento messiânico político, mas isto seria fazer da doutrina da realeza de Cristo uma ideologia. Não, os cristãos sempre seguiram a palavra do Mestre: "Procurai antes de tudo o Reino de Deus, e tudo lhe será dado em acréscimo. " E foi assim que o Império Romano se converteu, não porque os cristãos se reunissem em movimento político para fazer do Império Romano o império cristão.
Não! Eles converteram as pessoas, mais que as pessoas, converteram aqueles mesmos que os martirizavam. Já havia começado a perseguição de Nero, e São Paulo e São Pedro diziam aos católicos, aos cristãos: "Obedeçam à autoridade, porque não há autoridade que não provenha de Deus", isso com respeito àquela mesma autoridade que já os perseguia.
Nunca o cristão deixou de comportar-se assim. Os soldados cristãos do Império Romano, ao mesmo tempo que eram capazes de entregar-se em martírio para não renegar a fé, eram capazes também de dar a vida pelo Império, como os melhores soldados do império. Esse duplo comportamento do cristão é que é, e é exatamente este duplo comportamento, ou seja, a docilidade ante as autoridades e, por outro lado, a firmeza de entregar-se em martírio se essas autoridades querem exigir do cristão que ele renegue a fé.
Esta dupla característica do cristão foi o que converteu o Roma, foi isto que inaugurou a Cristandade. Quando se começa a perder isto no século X, ruína a Cristandade, e a partir daí, toma conta do mundo o já referido espírito messiânico. O católico não pode ser comunista nem capitalista.
Duvidam? Leiam, por favor, a Exortação Apostólica de Pio XII, "Menti Nostra", Exortação Apostólica de 1950 em que ele condena, em pé de igualdade, capitalismo e comunismo. Ele não pode ser nem marxista, condenado pelo magistério, nem fascista, condenado pela encíclica de Pio XI, nem nazista, condenado pela.
. . como é o título?
"Mit Brennender Sorge" de Pio XI também, nem democrata! Esta democracia liberal que está aí, que está aí, condenada desde Pio, desde Gregório XVI, condenada por n documentos do magistério da Igreja. Não pode ser nenhum deles!
Tudo isto está condenado. Por quê? Porque nada disto atende à única doutrina política da Igreja, que é a doutrina da realeza social de Cristo.
Mas os católicos atuais, em boa parte, são teimosos, insistem no erro, deixam-se levar muitas vezes, com ignorância culpável, pelo espírito messiânico e acham que aderindo a isto ou àquilo vão melhorar o Brasil, vão salvar o Brasil, vão salvar a Igreja, vão salvar nada. A primeira coisa do cristão é doutrinal, e doutrinalmente todas as correntes que existem hoje, politicamente falando no mundo, todas são de recusar, todas absolutamente todas. Não só os comunistas!
Mas o pior não é isto; é que há católicos que, sob a capa de católicos tradicionais ou tradicionalistas, querem vender o peixe de que a direita, na qual até se pode votar na hora da eleição, claro, mas querem dizer que é boa, é bem intencionada, é muito bem intencionada e que a culpa chega a ser dos padres tradicionais ou tradicionalistas que não se esforçam por chegar até os direitistas e convertê-los. Parece bonito, parece uma fórmula! Bon, né?
Agora, recentemente, ontem ou hoje, sei lá, saiu o vídeo de um instituto católico considerado tradicionalista dizendo isto: "Tal e tal figura de direita são gente boa, querem o bem do Brasil. Padres, por que é que vocês não chegam, os senhores não chegam até eles para convertê-los? " Não, não é assim!
Isto é democratismo liberal! Isto é liberalismo! Isto é liberal-conservadorismo!
A única maneira de tratar a direita é dizer: "Sua doutrina política está condenada pela Igreja, condenada em n documentos. " Dizendo “aí sim”, podemos tentar convertê-los, como, aliás, podemos tentar converter a todos. São Pio X tinha amizade, tinha relações, melhor dizendo, com ações revolucionárias na esperança de convertê-los.
Isto é correto, há que ter esperança de converter a todos. Que atuar pela conversão de todos, e mais, há que rezar pela conversão e salvação de todos, como pediu Nossa Senhora em Fátima. Levai as almas todas para o céu.
Isto é correto, mas partir como este Instituto católico fez da afirmação de que a direita é boa, então tentemos convertê-la, é uma falácia. Democracia é condenada pela Igreja, e isto, sob a capa de tradicionalismo, é insistir num erro nefasto, um erro nefasto que afasta o católico da verdadeira doutrina. Condená-la à direita, ainda que se vote nela como um mal menor, é condená-la à direita e seu liberalismo, porque o liberalismo foi condenado.
Então, diga-se: a direita é ruim, e a partir daí, sim, tentemos convertê-la. Tudo mais é falácia, é conversa para Cristão dormir. Muito obrigado pela atenção e até nosso próximo vídeo.