O Brasil teve uma alta de 68% no número de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão no ano...
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eu não estava em condições mesmo de trabalhar não tinha psicológico de levantar da cama não tinha psicológico de entrar no terminal rodoviária não tinha psicológico de falar com as pessoas não tinha como é uma doença assim invisível eles não acreditam como é uma doença fa não é tá com frescura é coisa da cabeça é só dar mais serviço então é aonde eles acabam não não colaborando infelizmente depressão e ansiedade são essas duas condições que estão no topo dos pedidos de licença médica provocados por transtornos ligados à saúde mental eu me senti muito esgotado o trabalho cada vez mais puxado e as coisas de casa que todo mundo né Eu sou pai né eu tenho uma esposo eu tenho uma filhinha então muita coisa me consumiu e eu meio que não tinha um escape então eu me senti sufocado até aqui nada de novo mas talvez o que você não saiba é que o número de afastamentos por problemas de saúde mental explodiu no ano passado um levantamento exclusivo do G1 com dados do Ministério da Previdência Social mostra um cenário muito preocupante em 2024 a crise de saúde mental resultou em quase meio milhão de pedidos de afastamento do trabalho um aumento de 68 em relação ao ano anterior eu já comecei a chorar já comecei a sentir Pânico Já comecei a sentir perseguida é bem difícil porque tem dia que a angústia vem é é tristeza show e eu não consigo sair do Choro segundo a Organização Mundial de Saúde esses afastamentos geram uma perda de um trilhão de dólares por ano no mundo todo o Brasil hoje é o primeiro lugar no mundo em percentuais de pessoas com transtornos de ansiedade também somos um país de pessoas deprimidas no ano passado inclusive o governo atualizou uma Norma a nr1 para que empresas reduzam os riscos no ambiente de trabalho e essa atualização vai entrar em vigor a partir do dia 26 de Maio uma atualização feita recentemente pelo Ministério do Trabalho e Emprego na norma regulamentadora número 1 a nr1 dá uma atenção especial à saúde mental dos trabalhadores a mudança destaca Que riscos psicossociais como estresse assédio e carga mental excessiva devem ser identificados e gerenciados pelos empregadores como parte das medidas de proteção à saúde dos Trabalhadores um problema que exige o olhar atento tanto de quem trabalha quanto de quem emprega saúde mental pede cuidados individuais ou seja o que que os indivíduos podem aprender a fazer saúde mental pede atitudes institucionais o que que as empresas as organizações podem aprender a fazer e as políticas públicas o que que as autoridades podem também [Música] fazer da redação do G1 eu sou Nat zaneri e o assunto hoje é é a crise da saúde mental no trabalho o que nos levou ao maior patamar de afastamento por doenças relacionadas à saúde mental na última década niso eu converso comana Casemiro repórter de ccia e saúde do G1 e com a psicoterapeuta Renata paparelli profess de psicologia coen da clnica doal na PUC São Paulo ren também é coen do nast o núcle de ações em saúde do trabalhador e da trabalhadora segunda-feira 10 de Março Poliana você e a ran Moura tiveram acesso a dados exclusivos que mostram um problema no Brasil crescente que é muitos trabalhadores vivendo crise de saúde mental nos seus postos de trabalho o que é um problema para os trabalhadores naturalmente mas também para as empresas só a título de informação em 2024 foram meio milhão de entos do trabalho e já é o maior número em 10 anos traduz pra gente por favor esses números e que tipo de relatos você ouviu quando começou a entrevistar as pessoas para essa reportagem a gente vinha percebendo isso ela a Ryan é repórter de trabalho eu sou repórter de saúde então a gente vinha percebendo assim um debate maior sobre as questões de saúde mental um impacto maior na saúde pública e a gente queria entender quais eram os impactos disso em outros aspectos então a gente foi pedir pro Ministério da Previdência Social dados sobre quais eram as doenças mais comuns de afastamento e quando os dados chegaram a gente percebeu que era um número alarmante que são esses de 400 mais de 400. 000 que são os dados de 2024 então a gente pediu uma série histórica para entender Se isso era normal se o número vinha crescendo e o que a gente percebeu é que se mantinha um certo padrão por um tempo e do ano passado para cá foi o maior aumento que a gente já teve nessa série histórica foi mais de 60% de e os dados são impulsionados pelo pelo número maior de quadros de ansiedade e depressão Ou seja que então segundo os números que você escolheram um deles você acabou de nos citar foram 472. 000 solicitações de afastamento desses Funcionários das suas das suas atividades e no total de 2024 foram 3 milhões e meio de pedidos de licença isso 3 milhões me de pedidos de licença de saúde geral e 472.
000 pedidos de afastamentos Então por saúde mental exato por transtorno de saúde mental Então aí nesse nesse número de doenças estão as doenças mais prevalentes de licenças por saúde mental então quando a gente olha esse cenário é um número Alto São 283. 000 afastamentos em 2023 contra mais de 400. 000 quase 500.
000 afastamentos é muita coisa e todos os especialistas com quem a gente falou disseram Exatamente isso é muita coisa é um índice é é um sinal de crise de saúde mental no país todos esses números eles são só a ponta do iceberg Porque como a empresa que a gente conversou eles tiveram vários afastamentos mas nenhum deles pelo INSS essas pessoas não entram nessa lista a pessoa que pegou um atestado de 2is 3S 4 dias ela não entra na lista a pessoa que pediu a licença ao INSS teve o pedido rejeitado com esse Sid também não entra na lista a gente tem um número de trabalhadores na informalidade muito alto então eles também não entram nessa lista então assim essa é a ponta do iceberg da crise de saúde mental que a gente vive no Brasil é muito é é muito alarmante o que você nos traz quando a gente tá falando de afastamento por saúde mental a gente tá falando de que tipo de de doenças existe uma prevalência dessas doenças Sim nesse levantamento específico a gente tem as doenças mais prevalentes e são ansiedade depressão vício em drogas bipolaridade vício em álcool então uma série de doenças há as com maiores índices são ansiedade e depressão ansiedade em primeiro lugar seguida por depressão a gente pediu as doenças com maior prevalência né porque aí são muitos sides alguns com os números muito pequenos e por mais que a gente venha falando muito de Burnout ele aparece num índice muito pequeno o ano passado foram só 4000 afastamentos ansiedade foram mais de 100. 000 então isso acontece não porque a gente tem poucos casos de Burnout vale dizer isso acontece porque é mais difícil de diagnosticar então muitas vezes esses números entram em ansiedade depressão em outros quadros de saúde que tipo de relato vocês colheram qual a reclamação mais frequente dos entrevistados de vocês pra gente escolher esses entrevistados a gente conseguiu conhec esse assim um perfil de quem são as pessoas afastadas né E aí o maior número é mulher elas recebem menos e também ficam menos tempo afastadas então a gente foi tentar ouvir mulheres para entender o que tava acontecendo Então a gente falou com várias pessoas a gente ouviu várias pessoas até conseguir encontrar pessoas que estavam dispostas a se expor né a dar o nome então a gente Uma das Histórias ela me marcou um pouco porque é o caso da Marcela Carolina Ela tem depressão há 20 anos são 20 anos entre altos e baixos ah depressão ela afetou no meu trabalho na minha vida no trabalho eh a partir do momento em que eu fiz do meu trabalho parte muito importante da minha vida Então eu acho que as duas coisas caminham meio que juntas Assim eh a depressão e o fato de eu colocar o trabalho eh como mais que 50% de importância na minha vida eu acho que assim hoje a gente fala muito de transtornos mentais a gente fala bastante sobre saúde mental saúde mental no trabalho não é não parece ser tanto Tabu né mas ela descobriu isso nos anos 90 a realidade não era a mesma Ela descobriu is depois de uma tentativa de suicídio então que ela ficou hospitalizada E aí foram dizer pra mãe dela Olha o que ela tem é depressão foram anos num quarto escuro até ela descobrir que o que ela tinha era uma doença e tinha tratamento Então ela passou todos esses anos fechados e ela fala assim que ela a doença roubou a vida dela porque na minha cabeça para mim assim eu acho que eu poderia ter sido outra pessoa se eu não tivesse ficado doente então assim eu passei agora na frente de um madeg Daí tava uma galerinha reunida lá tomando cerveja eh se divertindo aí eu fiquei olhando assim pensei nossa saudade do que eu não vivi porque eh esses 3 anos na verdade eles foram somatórios de anos da minha vida que eu deixei de me divertir para me dedicar a estudar me dedicar arrumar um emprego e tudo foi dando errado e aí eu quis acabar com tudo hoje ela tem 44 anos quando ela ela fala que ela quando ela passa na frente de um bar e ela vê os jovens As pessoas saindo da faculdade ela fala eu não vivi isso isso me foi roubado então assim é muito isso te emociona né sim sim porque eu acho que é é assim a gente falou com várias pessoas vário tem tem outros personagens Mas você vê a diferença entre quem descobriu isso agora mais jovem a gente tem personagem de 25 28 anos a diferença que é as pessoas conseguem parar antes de chegar num ponto extremo como ela tentou o suicídio porque ninguém entendia aquela dor Aquela tristeza que acompanhava ela todos os dias e que não tinha uma solução sabe não tinha uma solução aquele momento não era dada né a solução examente agora nesse caso da Marcela ela tem a doença desde a década de 90 mas eu tenho uma curiosidade de todo de toda essa essa esse número grande aqui de aumento a gente tá falando de casos mais recentes que surgiram agora em que as pessoas se deram conta agora exatamente Então esse é um ponto porque que a gente escolheu né Marcela nesse perfil eh depois conversando com os especialistas o que eles disseram é o seguinte esse número ele é um Boom reflexo de um contexto de anos anteriores então a gente teve assim a maior a maior citação entre os especialistas foi a pandemia e eu sei que parece complicado falar de pandemia faz 3 anos que a nossa vida voltou ao normal mas quando a gente para e olha são 3 anos 3 anos para superar 700. 000 mortes 3 anos em encerramento de ciclos que foi teve uma super alta no número de divórcios São 3 anos pras famílias se reestruturarem financeiramente não é um período longo é curto Então o que a gente tá vendo é muito TR anos para superar é perdas irreparáveis irreparáveis exato são Então essas pessoas e e a crise assim as pessoas trabalhavam no automático Então você precisava trabalhar para poder pagar o aluguel trabalhar para poder fazer a compra do básico trabalhar porque não podia perder o emprego e as pessoas foram tomadas pela emergência e quando tudo passou conseguiram dar atenção aos sintomas que talvez já sentiam E aí o que um dos especialistas falou pra gente é que ambientes que antes eram toleráveis como do trabalho a pressão do trabalho era tolerável é a pressão de algumas situações era tolerável ela deixa de ser tolerável Porque as pessoas não tem mais psíquico para isso entende com a situação com o contexto que elas têm eh resquício da pandemia essas cicatrizes que ficaram e tem um outro uma outra ponta nessa história porque Claro quem mais merece a nossa atenção é quem tá sofrendo né é quem está adoecendo mas pras empresas perder um funcionário por questões de saúde mental custa custa caro o que tem que engajar as empresas cada vez mais a prestar atenção nesse aspecto né do cotidiano do seu da sua força de trabalho e de fato as empresas estão percebendo isso como um problema né os números mostram isso né esse número de afastamentos é também número de trabalhador que deixou de comparecer no posto de trabalho então isso é perda financeira Então as as empresas estão olhando para Esse aspecto preocupadas com que estão com o que está acontecendo e adotando algumas medidas uma das empresas que a gente falou eles admitiram assim na pandemia eles demitiram as equipes ficaram mais enxutas então Mas a demanda era a mesma e aí eles decidiram começaram a perceber um aumento no número de atestados médicos não licenças do INSS mas atestados médicos e ao fazer um questionário os funcionários alegavam luto ansiedade medo de perder o trabalho pressão demais e aí eles perceberam op precisamos nos reestruturar a gente conversou com o gerente da empresa e ele falou a gente teve que contratar uma empresa fazer um treinamento com com líderes a gente teve que repensar o Home Office a gente teve que repensar eh oferecer ajuda eh psicológica né oferecer atendimento psicológico pros funcionários para tentar diminuir esse número então é uma coisa que as empresas estão olhando a associação de R fala que tem várias empresas adotando programa vamos fazendo treinamento com líderes tentando diminuir esse número observando essa estatística crescer de forma geral no mercado de trabalho e aí assim o quanto isso é efetivo a gente ainda não sabe esses números são do ano passado essas medidas vem é muito recente Então a gente vai ver isso com o passar do tempo assim mas é um é um importante sinal de alerta em todos os aspectos né e tanto é um sinal de alerta que no fim do ano passado o Ministério do Trabalho anunciou uma atualização da nr1 que uma Norma com diretrizes de saúde no no ambiente de trabalho e essa atualização vai entrar em vigor agora dia 26 de Maio certo isso o que que deve mudar Então na verdade assim a ideia do do Ministério do Trabalho é não deixar só na mão dos gestores né Tá todo mundo vendo o que está acontecendo Então vamos fazer uma cobrança maior a nr1 ela já existe então é uma Norma que rege a saúde e segurança do trabalho e aí foram foram incluídos foi incluída a cobrança de de risco psico psicossocial a aviação que passou a ser obrigatória após a atualização da norma regulamentadora número 1 a chamada nr1 que já determinava que as empresas tivessem um plano de ações para garantir a saúde física de seus colaboradores a nova Norma não obriga as empresas a contratarem psicólogos ou outros profissionais especializados para seus quadros fixos e permite a contratação de consultores para guiar as mudanças agora o Ministério do Trabalho vai poder fiscalizar esses pontos não só isso o trabalhador também pode denunciar nos canais de denúncia do Ministério do Trabalho pode denunciar coisas como jornada de trabalho muito excessivo então muitas horas extras pressão ass sée moral todos esses pontos podem ser denunciados E aí se fiscalizado comprovado a empresa pode ser até multada então assim é uma tentativa de colocar de cobrar as empresas não deixar que seja só iniciativa própria de tentar ali mediar a situação de certa forma porque se a gente observar também natuza não tem dados oficiais o INSS não diz pra gente por exemplo Quanto custou isso pro governo Quanto custou o incs não diz mas a gente sabe que a média de afastamento é de 3 meses o valor de afastamento é o valor pago benefício é r$ 900 fazendo uma conta assim por cima a gente vê que são quase R bilhões de reais só no ano passado por esse motivo então custa para todo mundo custa pro trabalhador que tá sendo exposto que tá sofrendo tendo essa vivência custa pra empresa custa pro governo Sem dúvida nenhuma Sem dúvida nenhuma e por fim Poliana eu queria te perguntar de todas as pessoas que você entrevistou essas pessoas elas falam o quê sobre o trabalho delas e o ambiente de trabalho é um lugar para para onde elas não querem voltar ou elas querem um pouco mais de atenção do ambiente de trabalho não desistiram do trabalho delas nessas empresas nesse aspecto O que que você ouviu delas algumas desistiram outras não desistiram mas eu acho que o ponto que fce assim ele é um pouco mais que o mercado de trabalho tem a ver um pouco com a economia assim o que as pessoas reclamaram no geral é que elas vinham muito pressionadas financeiramente então São pessoas que antes conseguiam comprar carne agora tem que viver de ovo são pessoas que perderam o poder de compra viram a vida custar mais caro e continuaram com o mesmo salário Então elas foram algumas delas eh acumularam outras jornadas a gente tem um caso a Amanda ela tinha três empregos para tentar manter a vida que ela tinha antes da pandemia então assim é uma sobrecarga muito grande nesse ponto assim é óbvio ela fala sobre a pressão no trabalho o exagero das cobranças mas ela mesma admite eu não conseguia conciliar ninguém consegue conciliar três empregos por mais de 2 anos como foi o que ela fez e aí por outro lado pressão e pressão porque as equipes estão mais enxutas então você tem mais trabalho para fazer entrega no mesmo prazo de tempo e um ponto que os especialistas com que a gente falou também alertam também citam aliás é que na pandemia a gente passou a trabalhar em casa né E essa ida do trabalho paraa casa Estendeu as horas de trabalho a gente naturalmente começou a englobar o trabalho em mais horas do dia do que a gente fazia antes e isso não mudou a pandemia acabou e isso não mudou em muitas empresas em muitas culturas de trabalho então as pessoas estão muito cansadas não tem você a sua saúde mental é um contexto Então você precisa ter o básico uma boa alimentação tempo para lazer tempo para descansar um sono adequado coisas que essas pessoas não conseguem ter então é é o contexto do trabalho mas também o contexto econômico assim um dos pontos que que o um dos psiquiatras que a gente falou Fala é o principal ponto pro Brasil ser um país tão ansioso como ele é nós somos um dos países mais ansiosos do Mundo Segundo a OMS é justamente a instabilidade a instabilidade é um arga gatilho pra ansiedade e é o que a gente não tem é isso isso é um é um ponto é um ponto fundamental puxa pana que bom te ouvir Eu agradeço muito por você ter topado conversar com a gente aqui no assunto agradeça por favor a Rane também nosso nome aqui da equipe do assunto e bom trabalho para você obrigado Espera um pouquinho que eu já volto para falar com a Renata [Música] paparelli Renata eu acabei de falar com a Poliana que é minha colega aqui Repórter no G1 e ela deu um Panorama bem preocupante dos afastamentos em 2024 em razão da Saúde Mental com você eu quero entender as causas dessa crise porque o aumento de 2022 para 2024 foi de mais de 60% né Por afastamentos justificados por razões de saúde mental a gente tá falando de que cenário sofrimento psicológico ele é algo multideterminado né Ele é fruto de múltiplas determinações muitas vezes o trabalho é uma importante determinação especialmente eh nesses momentos né nesse momento histórico em que estamos vivendo um processo de um lado de precarização dos vínculos empregatícios né então a uberização a plataformização do trabalho cada cada vez mais a o formato emprego né que seria um pouco menos instável esse formato ele vai desaparecendo no Brasil quase 600.