Aviso: este programa tem linguagem forte, relatos de abuso sexual e pode não ser adequado para todos os públicos. [digitando em teclado] [Mateus Araújo] Era 29 de agosto de 2022. De manhãzinha, enquanto lia as notícias na internet me deparei com um caso de agressão numa academia de luxo em São Paulo.
Cliquei na hora. [Apresentador] Olha, foi num cenário como esse aqui, uma academia de ginástica num shopping de luxo, que um empresário poderoso se tornou alvo de uma investigação. Aqui, ele foi flagrado numa cena em que aparece agredindo uma mulher.
[Matues] A história era a seguinte. Um empresário agrediu uma modelo na Bodytech academia que fica no Shopping Iguatemi, nos Jardins. Com mensalidades entre R$ 1.
300 e R$ 1. 600 a academia é frequentada pela alta sociedade paulistana. No site, por exemplo, se vende como “um projeto inovador que une sofisticação e conforto a um serviço diferenciado”.
Os alunos têm acesso a salas de maquiagem, massagem e fisioterapia além de open bar de isotônicos, bebidas pós-treino e cosméticos diversos. O cenário glamuroso distoava completamente da brutalidade do que tinha sido filmado pelas câmeras de segurança do local. No vídeo, após discutirem verbalmente um homem alto e musculoso aparece empurrando e puxando os cabelos de uma moça morena, magra e bem menor que ele.
♪ Esse não era exatamente o tipo de assunto que eu estava cobrindo no UOL. Naquela época, eu estava completamente imerso na apuração de denúncias de assédio e tortura contra crianças e adolescentes em uma comunidade religiosa. Só que três coisas sobre esse episódio da academia chamaram muito a minha atenção e me fizeram querer entrar de cabeça nessa história.
Primeiro: a violência absurda e injustificada. Segundo: a certeza de impunidade daquele agressor que não se preocupava em ser flagrado pelas câmeras da academia. E por último e acima de tudo: o nome completo dele.
Mas eu vou deixar que ele mesmo se apresente. ♪ [Brennand] Quem é Thiago Antônio Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira? Ou Thiago Antônio Fernandes Vieira?
Você sabe responder? Acho que, no momento, é um inimigo público. Talvez um sociopata.
Talvez um estuprador. Será mesmo? ♪ [Mateus] Eu sabia quem ele era.
Ou melhor, eu sabia de onde ele vinha. Não sei se dá pra perceber fácil pelo sotaque mas eu e ele somos pernambucanos. E duvido me mostrarem um pernambucano que nunca tem ouvido os tais sobrenomes de Thiago.
De onde eu venho, Brennand e Fernandes Vieira são praticamente sinônimos de riqueza, patrimônio e tradição. Ambas são consideradas duas das famílias mais ricas e influentes de todo o Recife com uma fortuna que ultrapassa a casa dos bilhões. E até aquele dia de agosto, esses nomes costumavam aparecer somente em colunas sociais ou quando eram celebrados por suas contribuições na cultura e na economia da cidade.
São famílias distintas, sim. Mas, acima de tudo, são famílias discretas. Só que, por causa de Thiago, isso estava prestes a mudar.
[Juliana] No fim de julho, Mateus conseguiu acesso a mais de 6 mil páginas de processos judiciais envolvendo Brennand. Nesse material, tinha boletins de ocorrência, interrogatórios oitivas com testemunhas e informantes e vários prints de mensagens. [Mateus] Essa é Juliana Sayuri, minha colega e editora que vai aparecer aqui vez ou outra para me ajudar a contar essa história.
Afinal, é com ela que eu assino as reportagens sobre esse caso. Para entender de fato quem era aquele milionário de sobrenome conhecido no Recife, a gente começou a levantar a ficha dele. Não demorou pra gente encontrar relatos de padrões de comportamento agressivo contra pessoas que ele considera, de alguma forma, inferiores.
Com o pouco que a gente tinha até ali, já dava para afirmar que o cara tinha um histórico violento, e era chegado em uma confusão. E episódios que confirmavam isso com mais convicção logo apareceram. [Juliana] Entre essas mulheres estavam uma suíça, uma russa uma americana, duas misses, muitas modelos.
. . ♪ [Mateus] Mas nem esses casos preparavam a gente para o que viria a seguir.
[Juliana] Um lastro de violência contra mulheres seguindo um modus operandi muito singular, com armas, câmeras escondidas, agressões e estupro anal. [Mateus] Logo de cara, percebemos que o desafio ia ser grande. A gente começou a ouvir relatos de casos antigos alguns até com quase 20 anos, que passaram despercebidos pela Justiça e pela imprensa.
Além do mais, depois que o caso da academia ganhou repercussão descobrimos outros processos contra ele. Dava pra ter uma ideia do que ele tinha feito contra as vítimas em casos isolados mas nunca tinha uma história de agressão com começo, meio e fim. Até que, depois de quase um ano acompanhando o Caso Brennand ouvindo vítimas, testemunhas e pessoas ligadas a ele, a gente conseguiu acesso a provas e processos com detalhes até então inéditos na imprensa.
E nessas mais de 6 mil páginas e mais de 10 horas de áudio estava o caso de K. , uma mulher de 39 anos que denunciava Brennand por agressão, estupro e cárcere privado. [Juliana] E por que que o caso K.
virou tão importante ficou tão importante pra gente? Porque lendo todo esse material, todas essas milhares de páginas a gente entendeu que K. na verdade é a chave pra entender quem é Brennand.
O depoimento dela revelava o passo a passo do modus operandi desse agressor. [Juliana] E K. foi o calcanhar de Aquiles de Brennand porque tem raízes em Pernambuco.
[Mateus] Brennand pode ter ficado conhecido nacionalmente após o caso Bodytech mas foi com K. e a história dela que o castelo de cartas de Thiago começou a cair. ♪ Eu sou Mateus Araújo, e esse é “Brennand”, um podcast do UOL Prime.
A agressão pública do empresário Thiago Brennand a uma mulher em uma academia traz à tona uma cadeia de outros crimes e acusações dos quais ele sempre conseguiu sair ileso. Até onde vai a impunidade de um milionário? [vinheta] EPISÓDIO 1: A força de um sobrenome [celular tocando] [Mateus] No dia 2 de setembro de 2021, K.
atendeu uma ligação no celular. [celular continua tocando] [Brennand] Finalmente, né? [Mateus] Do outro lado da linha, estava Thiago Brennand.
[K. ] Desculpa. Eu não tô sozinha, então não posso falar.
Eu não posso ficar falando, não tô sozinha. [Mateus] K. tinha chegado ao Recife depois de passar três dias na casa de Thiago, em São Paulo.
[K. ] Como que você tá? [Brennand] Que mistério é esse, não tá sozinha.
. . Eu tô querendo entender o que que há.
Me conte. [K. ] Eu não sei nem o que te falar.
Eu acho que eu tô. . .
eu tô ainda. . .
Eu tô ainda anestesiada com tudo isso, juro por Deus. [Mateus] Para entender por que ela não queria continuar essa conversa é preciso primeiro descobrir como a história deles dois começou. K.
é uma produtora de cinema recifense que mora em Miami desde a adolescência. A gente vai chamar ela assim, de K, para preservar sua identidade. Foi de casa, nos Estados Unidos, que ela recebeu a notificação de um tal Thiago Brennand tentando enviar uma DM pra ela.
[K. ] Ano passado ele me abordou no Instagram e, no momento, eu não sabia quem ele era. [Mateus] Esses áudios que a gente vai ouvir agora são inéditos e exclusivos do UOL.
Eles fazem parte da oitiva de K. ao Ministério Público. [K.
] Então, eu não dei bola, nem respondi até ele se apresentar e ouvir o nome e eu prestar atenção no nome e vi que era a família Brennand. Aí eu falei “quem que deve ser? ” E ele se apresentou.
“Eu sou Thiago Brennand, irmão do Brunão, de tananan”. E aí, comecei. .
. dei abertura pra falar com ele no Instagram. [Mateus] Apesar de ter nascido no Recife, depois de ter ido morar fora do país K.
contou em depoimento que só voltou à cidade natal umas duas ou três vezes. Ela não conhecia Thiago, mas conhecia o restante da família dele. [K.
] Eu conhecia a família toda dele, frequentávamos os mesmos lugares as mesmas academias. Mas eu não tinha informação sobre o Thiago o que eu sabia é que ele era irmão do Bruno, da Marília, do Zé. E pra mim, eles são uma família maravilhosa.
Então, eu achava que ele também fosse uma pessoa boa por ser irmão deles, né. [Mateus] Além do sobrenome conhecido, que fez K. confiar nele Thiago também tinha uma imagem de bom moço nas redes sociais.
Estava sempre acompanhado do filho em viagens e no dia a dia. Fazia referências a autores como João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna. Era polido, falava outros idiomas.
Se dedicava aos estudos de violão e bateria além de praticar com devoção o jiu-jitsu, esporte no qual é faixa-preta. [Brennand] É um cidadão que vocês morrem de inveja. A comunistada, então, morre de inveja.
Branco, heterossexual inegociável, inegociável. Não tem cis, cis é o caralho, rapaz. Entendeu?
Armamentista, óbvio. Conservador, sempre. Não gosto de falar direita, meu termo é conservador.
Pela família, pela propriedade privada, pela hierarquia, pela disciplina. Pelo respeito ao próximo, pela hombridade por colocar o homem no seu lugar e a mulher também. ♪ [Mateus] Brennand nasceu e cresceu no Recife.
É um homem alto, branco, forte. Dono de uma fortuna estimada em R$ 300 milhões ele tem olhos castanhos miúdos, queixo proeminente e voz grave. Na juventude, era visto como um cara bonito, elegante e inteligente.
Thiago chegou a cursar Direito na FAAP, em São Paulo, mas não concluiu o curso. Apesar disso, nas redes sociais, dizia ter feito doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ele também viajou por mais de 50 países e diz que possui casas na Inglaterra, nos Emirados Árabes e na Rússia, onde morava antes de voltar ao Brasil no início de 2020, durante a pandemia.
Nessa época, ele se revezava entre uma mansão que possuía no interior de São Paulo, em Porto Feliz, e um hotel na capital. Tudo dava a entender que K. estava diante de um cara bacana e ela resolveu apostar nisso.
[K. ] Então ali, um cavalheiro, né. Ele é uma pessoa assim.
. . incrível, aquele homem perfeito.
Aí trocamos telefone, na mesma época e começamos a conversar por WhatsApp. E comecei a ser encantada com ele, a gente falando pelo WhatsApp. [Mateus] K.
tinha terminado um namoro longo fazia pouco tempo. Ela é mãe, e ainda que encantada por Brennand, foi cautelosa. Avisou aos amigos mais próximos e ao sócio que estava de papo com ele.
Também passou o contato dele para a babá dos seus filhos com quem ele falava frequentemente via FaceTime e costumava ser sempre muito educado e gentil. O relacionamento ia ganhando contornos de namoro e naturalmente o desejo de um encontro ao vivo começou a se tornar prioridade. [K.
] Pensei em visitar os meus pais em Recife. Meu pai sofreu um pequeno incidente com o coração ele estava muito mal. Então fiquei preocupada com meu pai, então eu já ia visitá-lo.
E o Thiago falou “não, passa, vem então”. “Eu te convido para vir para São Paulo antes, passar alguns dias comigo”. E eu fui.
Né, obviamente, já estava ali encantadíssima pelo Thiago. [Mateus] Thiago fez questão de comprar ele próprio as passagens de K. Então, no final de agosto de 2021 um ano antes de eu me deparar com aquela notícia sobre o ataque na academia, K.
embarcou com destino a São Paulo. ♪ [Mateus] Ao chegar no aeroporto de Guarulhos K. foi recebida por Thiago.
E ele não estava sozinho. [K. ] Assim que eu chego em São Paulo, eram dois carros.
Ele dirigindo um carro, que era uma Porsche e o motorista, o segurança dele, dirigindo um carro atrás. [Mateus] O “segurança” é Daniel Cossani um policial militar que também trabalhava como personal trainer e, segundo algumas vítimas, uma espécie de faz-tudo de Thiago. Inclusive, Daniel atualmente é alvo de sindicância na PM por causa dessa dupla jornada Na oitiva à Justiça, Daniel contou como foi chamado para prestar o serviço de buscar K.
no aeroporto. [Daniel] Ele me pediu apoio para buscá-la, porque ele achou que ela viria com os filhos. E tava tudo programado, que eles estavam combinando segundo ele, que ele ia casar, ele apresentava já como noiva dele que ia casar, enfim.
E ela tem filhos, e ele falou que os filhos viriam. Então ele pediu o meu apoio para que buscassem dois carros porque um carro só não ia caber. Então esse foi o primeiro contato que eu tive com ela na recepção dela aqui no Brasil, aqui em São Paulo, no aeroporto de Guarulhos.
[Mateus] Mas não foi exatamente a presença de Daniel com o Thiago que chamou a atenção de K. [K. ] Assim que ele me abraçou, ele tava armado.
E eu lembro que eu comentei com ele. Eu falei: “Como assim? Por que você tá armado?
” Aí ele falou assim: “Ah, porque eu tô aqui no Brasil” “Eu não me sinto seguro”. Eu falei: “Mas tem segurança atrás de você. Por que você tá armado também?
” Ele: “Aqui eu só ando armado”. Ali, achei estranho, mas moro aqui já faz muitos anos saí do Brasil com 14 anos de idade, e eu sei que o Brasil é perigoso então até então eu achei estranho, mas deixei de lado. [Mateus] Ela entrou no carro e eles deram partida para Porto Feliz.
Mais especificamente no Hotel Fasano Boa Vista um condomínio de casas de campo de luxo onde Thiago morava. [K. ] Na ida pra Porto Feliz, eu estava no carro com ele e, atrás da gente, o motorista dele, segurança, nos seguia, né.
E ele dirigia com uma rapidez absurda. Mas assim, ele ia a 200 por hora. Ele ia muito rápido no carro.
E conversando, é. . .
Eu sentia ali, eu me sentia um pouco. . .
Senti medo dele pelo fato de ele estar correndo muito com o carro e estar sempre falando muito a respeito dele o quanto dinheiro que ele tem, como ele é influente em São Paulo. . .
[Mateus] Pouco mais de 100 quilômetros depois eles chegaram à casa de Thiago. Na mansão, tem pelo menos três quartos. O de Brennand, o do filho dele e o quarto de hóspedes, que também é chamado de “quarto das meninas” como mais de uma vítima relatou à Justiça.
[K. ] Aí chegamos na casa dele, fui super bem recebida por todos eles. A [silenciado], ela pegou minha mala, aí levou para esse outro quarto.
[Mateus] Antes, deixa eu fazer uma observação. Você vai notar que a gente censurou os nomes de algumas pessoas. Elas são vítimas, testemunhas ou informantes nos processos.
Só vamos revelar os nomes de pessoas públicas ou de agentes do Estado. Nesse áudio, K. está falando de M.
funcionária que trabalhava para Thiago fazia muitos anos. Informante em diversos processos nos quais ele é réu M. é citada nos autos como governanta, empregada ou esteticista.
Na casa, eram frequentes ainda as presenças de seguranças entre eles o PM paulista Daniel Cossani, e da secretária, B. que também aparece nos autos como massagista. A gente tentou o contato com eles por telefone para checar os seus respectivos casos e para pegar o lado deles da história.
Mas a resposta de M. em uma ligação com Juliana foi essa aqui: [M. ] Acho que você tá ligando pra pessoa errada.
[Juliana] Perdão, seu nome não é [silenciado]? [M. ] Sim, é [silenciado], mas eu nunca conversei com você, não.
[Juliana] A senhora não trabalha como governanta na casa do Thiago? [M. ] Sim, mas eu nunca conversei com você.
[Juliana] Eu liguei faz cerca de um mês, um mês e meio. A gente conversou rapidinho por telefone, mas acho que você tava ocupada. Será que a gente pode conversar para marcar uma entrevista?
[M. ] Eu não consigo falar agora, eu tô bem ocupada. [Juliana] A senhora tá em Porto Feliz?
[M. ] Não, vou ter que desligar que meu Uber tá vindo, tchau, obrigada. [Mateus] A de B.
: [B. ] Alô? [Juliana] Oi, bom dia, é [silenciado]?
[B. ] Quem fala? [Juliana] Oi, [silenciado] meu nome é Juliana, eu sou jornalista, tudo bem?
[B. ] Bom dia, Juliana. [Juliana] Eu tô te ligando porque eu gostaria de conversar com você um pouquinho sobre o caso de Thiago Brennand, eu soube que você.
. . [B.
] Ô, Juliana, eu vou ficar te devendo. [Juliana] Entendi. [B.
] Eu tô trabalhando agora e não dá para falar. E acho que vocês deveriam falar com os advogados. [Mateus] E a de Daniel: [telefone chamando] [Juliana] Alô?
Alô, Daniel? Alô? 14 segundos de ligação, mas ele desligou.
♪ [Mateus] Os processos aos quais a gente teve acesso têm os nomes de todos esses funcionários. Têm também relatos de que quando levava uma convidada nova para Porto Feliz Thiago costumava fazer um passeio pela casa. Nessas ocasiões, ele fazia questão de exibir as coleções de obras de arte e de armas de fogo.
Ele afirmava que era o maior colecionador de armas táticas do Brasil. Mas com K. , ele resolveu fazer diferente.
♪ [K. ] Quando eu cheguei na casa dele, eu tomei um banho, troquei de roupa e ele me levou pra passear no condomínio. Eu não lembro se nós almoçamos antes, eu acho que nós almoçamos e depois ele foi dar uma volta no condomínio comigo pra mostrar o condomínio.
[Locutor] A Fazenda Boa Vista fica a só a uma hora de São Paulo conta com uma reserva nativa de plantas exóticas alamedas centenárias e mais de 30 lagos. ♪ Vida boa e lazer andam lado a lado aqui na Fazenda Boa Vista onde, por sinal, você vai encontrar o primeiro Hotel Fasano de campo e o Spa Fasano, para você relaxar corpo e mente. Agende sua visita e venha ver isso tudo de perto.
♪ [Mateus] Esse é um anúncio imobiliário da Fazenda Boa Vista. Pela descrição, o lugar onde Thiago morava parece o paraíso. A primeira parada do casal, no entanto, não aparece no comercial.
Eles foram para o estábulo do condomínio, onde Thiago, que praticava polo e hipismo, mantinha alguns de seus cavalos. [K. ] A primeira coisa que ele fez, que ali já me colocou medo foi quando nós estávamos no carro tinha um senhor no estábulo, cavalgando e ele simplesmente passou por cima da calçada e entrou no estábulo, onde estava esse senhor e um cavalo.
E esse senhor começou a falar assim “Thiago. . .
”, com muita educação o cara não gritou com ele, falou assim: “Thiago, rapaz, você não pode fazer isso”. “Você não pode estar com o carro aqui”. Aí o Thiago começou a gritar e xingar esse senhor falando: “quem manda nessa.
. . , sou eu” “Eu faço o que eu quiser e você cale a sua boca”.
♪ [Mateus] Thiago explicou para K. que o tal senhor era um dos herdeiros do Banco Itaú. [K.
] Aí ele falou assim pra mim: “Sabe quem é esse cara? ” Eu falei "Não". "É o dono do Itaú, é um bosta, é um merda, morre de medo de mim".
♪ [Mateus] A família Setúbal, que é uma das maiores acionistas e que já teve alguns dos seus membros nos quadros mais altos do Banco Itaú realmente tem casa no condomínio Boa Vista. Agora, se um deles era o cara vítima das agressões de Thiago, aí é outra história. De qualquer forma, aquela reação truculenta acendeu um alerta em K.
[K. ] Ali foi a primeira vez que eu já comecei a sentir medo do Thiago da forma agressiva, eu juro pelos meus filhos o jeito que ele falava com esse cara era algo assim de. .
. surreal. A arrogância dele falando com esse senhor.
E o senhor super educado, extremamente educado e o cara não falou mais nada com o Thiago, o cara não xingou ele de volta não retrucou o Thiago, o cara simplesmente acatou o que o Tiago falou pra ele, não falou nada. ♪ [Mateus] Antes do caso da agressão na Bodytech nenhum crime supostamente cometido por Thiago tinha sido noticiado na imprensa. E ele sempre fez questão de ressaltar isso como nesse vídeo publicado em seu extinto canal no YouTube.
[Brennand] Thiago era um cidadão sem nenhum antecedente criminal. É nenhuma condenação nem em Juizado Especial. Nada, nem em primeiro grau, nada.
[Mateus] Ah, às vezes Thiago se refere a si mesmo na terceira pessoa do singular. [Brennand] Nenhum processo em sua história no exterior onde viveu mais de 25 anos nenhum processo em sua história no estado de São Paulo onde passou a maior parte da sua vida adulta. ♪ [Mateus] A gente vai fazer um pequeno intervalo e volta já já.
♪ [Mateus] Mesmo cismada com o jeito com o qual ele tratou o vizinho K. resolveu confiar na versão gentil de Thiago que tinha conhecido nas últimas semanas pela internet. Depois do passeio pelo condomínio, os dois foram jantar no Nagayama restaurante japonês que fica no bairro do Itaim Bibi acompanhados de uma amiga dele, S.
A gente ligou pra ela. [S. ] Alô?
[Juliana] Oi, bom dia. Por favor, a [silenciado]? [S.
] Sou eu. [Juliana] Oi, [silenciado], meu nome é Juliana, eu sou jornalista do UOL, tudo bem? [S.
] Tudo bem. [Juliana] Meu colega jornalista Mateus e eu estamos produzindo um podcast sobre o caso Thiago Brennand. Eu entendo que você é amiga dele, é isso?
[S. ] Eu não tenho interesse em falar sobre isso, tá? Eu estou dirigindo também, não tô podendo falar.
[Juliana] Tá certo, em outro momento você aceitaria dar uma entrevista? [S. ] Não, obrigada, viu?
Tchau, tchau. [Juliana] Obrigada. ♪ [Mateus] No depoimento, K.
também não deu muitos detalhes a respeito do jantar. Só resumiu que foi “tudo perfeito no primeiro dia”. Na volta pra casa, eles fizeram sexo consensual pela primeira vez, segundo K.
Ainda que na relação dos dois, as coisas tenham saído como K. esperava era impossível não reparar em outros alertas sobre o comportamento de Thiago que insistiam em dar as caras. [K.
] Achei muito estranho o fato dele. . .
Se ele saía do quarto pra sala, ele vai armado. Ele vai no banheiro, ele leva a arma. E todas as vezes que ele ia no banheiro, ele chamava a funcionária dele, a [silenciado] pra estar presente no banheiro com ele.
Eu nunca vi algo tão bizarro em minha vida. Ela tem um banquinho de madeira que fica no closet dele que ela pega esse banquinho, leva no banheiro e fica sentada enquanto ele está no banheiro. Quando saia do banheiro, era armado.
A arma fica no quarto dele ao lado da cama dele, ou embaixo da. . .
Minto. A arma sempre fica dentro da gaveta ou no móvel da televisão. Ele colocava a arma dele ali do lado, sempre.
[Mateus] A arma também estava por perto no dia seguinte, enquanto tomavam banho quando Thiago reparou que K. tinha uma tatuagem na costela. [K.
] E ele viu que eu tinha três letras aqui no meu corpo, três letras. E perguntou: “O que que é isso? ” Eu falei assim: “São as iniciais, do meu ex-namorado, significa [silenciado]”.
Então, aí ele falou assim: “É sério? ” Daí eu falei: “É, qual o problema? ” [Mateus] Ainda que ele soubesse do antigo relacionamento de K.
as letras miudinhas tatuadas na pele dela foram motivo para despertar a ira de Thiago. A mulher conta que aquela mesma raiva que viu ele aplicar no senhor que estava no estábulo do condomínio agora estava voltada para ela e numa potência ainda mais elevada. Afinal, ninguém de fora podia ver o que estava acontecendo ali.
[K. ] Ele falou assim: “Quero ver seu telefone”. Eu falei assim: “Como assim você quer ver meu telefone?
” Daí ele: “Me dá seu telefone”. Eu falei assim: “Não vou dar meu telefone pra você, Thiago”. Daí ele falou assim: “[silenciado], eu vou te pedir mais uma vez”.
“Me dá seu telefone”. [Matues] Ela negou mais uma vez. E ele reagiu.
[K. ] Aí foi quando ele me deu um tapa na cabeça me empurrou no chão, e pegou meu telefone e falou assim: “coloca sua senha”. Dei a minha senha pra ele.
Ali eu já estava chorando, apavorada da agressividade dele. A empregada dele chegou no corredor, viu eu chorando viu ele gritando comigo Parada, ali, ela ficou. Ele entrou no quarto dele e trancou a porta.
E eu tentei abrir a porta, falei: “Thiago, me dá meu telefone”. “Eu vou embora daqui agora, você é louco”. E eu falava assim: “[silenciado], o que que está acontecendo aqui?
” “O que que é isso? ” Eu não acreditei que eu tava vivendo aquilo naquele momento. Ela, inclusive, olhou pra mim e ela falou assim: “Menina, eu tô rezando por você”.
Eu vi o desespero no rosto dela também. Eu fiquei batendo na porta dele, pedindo pra ele abrir a porta falando que eu queria ir embora, pra ele me dar o telefone. E ali ele saiu com mais raiva ainda me bateu de novo, me empurrou nesse quarto e me trancou lá dentro.
♪ [Mateus] K. não sabe dizer que horas foi trancada no quarto de hóspedes mas lembra que, ao entrar ali, ainda era dia. Quando Thiago abriu a porta, a tarde desse segundo dia que eles passavam juntos já tinha ido embora.
[K. ] Quando ele chegou no quarto eu comecei a chorar, com medo dele. Eu falava assim: “O que que tá acontecendo?
Por que que você fez isso? ” E ele começava a falar assim: “Porque você é um rato”. “Você é um rato, você.
. . ” “Você é uma puta, você não presta, igual todas as outras mulheres”.
E os xingamentos começaram ali do nada. Do nada. E eu chorando, eu falava: “Pelo amor de Deus, me deixa ir embora” “me deixa ir pra minha casa”.
E ele falava que não. Aí ele foi me puxando pro quarto dele. Chegou no quarto dele, aí ele começou a tirar a minha roupa ele me virou de frente primeiro e começou a falar: “Pede desculpa”.
E eu falava assim: “Pede desculpa do que? ” Daí ele: “Pede desculpa”. Daí eu: “Do que que eu vou te pedir desculpa, Thiago?
” E ele falava assim: “Pede desculpa, quem manda nessa porra, sou eu” “você é uma puta, você é uma vagabunda”. E veio o primeiro tapa na cara. Aí veio o segundo.
E ali foram tapas sucessivamente, um atrás do outro. E eu já não sabia mais o que fazer eu não sabia nem por que que eu estava apanhando de alguém. [Mateus] K.
diz que todos os empregados estavam na casa. Se eles ouviram o que estava acontecendo, não dá para saber. O que ela contou em depoimento é que ninguém ligou para a polícia ou tentou abrir a porta do quarto para tirar ela de lá.
[K. ] Era de pé, ele tem um móvel assim. .
. Sabe aquele móvel que fica embaixo da televisão? A TV unit?
Ali naquele móvel, ele me virava de costas segurava e forçava o ato, ali. Então assim, era o ato, virava e era tapa. Era o ato e tapa.
Ao mesmo tempo, ele pegava sapato, pegava chinelo pra bater. E assim, eu comecei a sangrar, aí eu falava assim? “Pelo amor de Deus, para!
” [K. começa a chorar] E ele não parava. [K.
chora] Depois que ele terminou de fazer o que ele queria, ele me pegou na mão e falou assim: “Coitadinha de você, né? Olha como você chegou, o brilho que você tinha, olha o que você é agora”. “Você não é mais nada, coitadinha de você.
Mas você merecia, você é um rato”. Aí, pegou na minha mão e me levou até o banheiro. E ainda chamou a empregada pra ver, e falava assim: “[silenciado], olha a bichinha dela, olha como ela tá aqui, bichinha”.
A [silenciado] olhava. Olhava pra ele, olhava pra mim e não falava nada. ♪ [Mateus] Essa não foi a primeira acusação de que Thiago Brennan agrediu e estuprou uma mulher na mansão de Porto Feliz.
Mas foi a primeira vez que o assunto chegou de fato à Justiça. E depois da repercussão do caso da academia Bodytech outras mulheres decidiram falar derrubando a máxima que antes operava por lá: “O que acontece em Porto Feliz, fica em Porto Feliz”. ♪ No próximo episódio de “Brennand”: [Brennand] Quem era o maior colecionador de armas táticas?
O que há de mais moderno? Era a minha coleção. Hábito que vem de família.
Hábito secular. [K. ] O medo que eu tinha é que ele fosse pegar aquela arma e atirar em mim em qualquer momento.
[C. ] Ele falava que ele tem bastante arma sem registro, sem número serial. Quando ele quer finalizar as pessoas na lista negra dele, ele não vai ser descoberto.
E, antigamente, ele falou que ele fica escondido no hotel dele. [K. ] Você agora vem aqui pra sala, que o fulano de tal tá nos esperando.
E, pra mim, ele ia fazer alguma tatuagem nele, né? Tatuador ali. Jamais na minha cabeça imaginei.
. . Daí ele falou assim: “você vai tatuar agora”.
“Você vai tirar isso aí e agora você vai tatuar a minha marca”. “Você agora é propriedade minha”. ♪ Eu sou Mateus Araújo, e esse é “Brennand”.
A pesquisa e reportagem do podcast foram feitas por mim e por Juliana Sayuri. O roteiro é de Clara Rellstab. Montagem de Danilo Corrêa.
Desenho de som de João Pedro Pinheiro. Trilha sonora de João Pedro Pinheiro, com base na obra de Luís Álvares Pinto. Trilhas adicionais do Epidemic Sound.
O design é de Eric Fiori. Motion Design de Leonardo Henrique Rodrigues. Direção de arte de Gisele Pungan e René Cardillo.
Coordenação de Juliana Carpanez, Lígia Carriel e Olívia Fraga. O podcast é um produto de UOL Prime que tem Diego Assis como Gerente Geral de Reportagens Especiais. O projeto também conta com Murilo Garavello, Diretor de Conteúdo do UOL.
Este episódio usou áudios da RecordTV e do Condomínio Fazenda Boa Vista.