O perdão: reflexo do amor - Prof. Sidney Silveira

10.76k views9516 WordsCopy TextShare
Centro Dom Bosco
O prof. Sidney Silveira, embasado no Doutor Comum, Santo Tomás de Aquino, discorre sobre o tema do p...
Video Transcript:
[Música] Bom, podemos começar. Licença. Tem um tema: Ave Maria. Quando vamos falar de Santo Tomás, sempre convém começar com a Ave Maria. Santo Tomás foi, apesar do que dizem os detratores, um grande Mariano. O tema de hoje, que eu sugeri, é o tema do Perdão, tema universal e atemporal, ou seja, serve para todas as pessoas de quaisquer épocas. É um tema decisivo que diz respeito a algo que está no nosso âmago. O título da aula, que foi sugerido, foi "Perdão: Reflexo do Amor". O amor é um termo tão... é um termo que usamos com
analogia de atribuição; ele pode significar muitas coisas, mas para esta tradição, que é a tradição de Santo Tomás de Aquino, o amor é entendido como o Êxodo da alma do amante na direção do Amado, seja o Amado uma coisa ou uma pessoa. Então, o amor é essa saída de si. A palavra grega "extasis" quer dizer isso: é sair de si. O amor sai de si livremente na direção da pessoa ou da coisa amada. Então, quando se disser "amor", aqui entenda-se um ato livre da vontade, não um sentimento, não algo que nasce de pulsões freudianas, do
inconsciente, ou o que quer que seja. O amor é uma decisão nesta perspectiva. E, além de ser uma decisão, por sua natureza imaterial, ele é - em minhas aulas, cursos, palestras - porque ele é tangível, ele é facilmente identificável por qualquer um. O seguinte: não está na mão de um torturador, por exemplo, fazer com que eu não ame o meu filho. Ele pode me fazer dizer que não amo o meu filho para que ele pare de me causar dores, mas o amor está no meu âmago e é imaterial, e, portanto, não é passível de ser
coagido ou constrangido por qualquer agente interno. É óbvio que a contemporaneidade, pós-cristã, digamos assim, tem do amor ou uma ideia romântica, mais ou menos tosca, ou uma ideia sentimental. O amor é algo que comprime o coração, é algo inexplicável. Mas para esta corrente, que é aristotélica e também tomista, o amor é a liberação humana em sua fortaleza inexpugnável. O amor é o que nos define como pessoas; é o ato sublime que o ser humano é capaz de realizar: um ato livre de doação. E há uma escala de amores que pode ser definida sob prismas diversos,
entre os quais está aquele que é o da escala dos bens amáveis. Uma coisa é tão mais amável quanto mais digno é o seu grau de ser. O Miguel Reale, que foi um escritor brasileiro e liberal, tinha até uma teoria da tridimensionalidade do direito. Temos aqui um estudioso do direito, que é o Marco Antônio, que não me deixará mentir. Na perspectiva do tomismo, ele é um autor, digamos assim, esforçado, e criou certos conceitos que podem até ser mais ou menos palatáveis, mas, para além de ser um jurista, era um bom escritor. Ele tem um livro
chamado "Pluralismo e Liberdade", em que dá o exemplo que serve ao que vou dizer aqui a respeito da natureza do amor. Suponhamos que o Museu do Louvre, em Paris, pegou fogo e lá uma mãe deixou uma criança no carrinho, prestes a morrer sob as labaredas do fogo. Bom, ele tem uma escolha: ou salva a criança ou a Monalisa, que até nesta última semana, pelo que soube, recebeu um jato de excrementos de alguma pessoa desassistida pelo Logos. Tentaram destruir a Monalisa, mas o mundo real está superando a ficção e a crítica filosófica. Então, ele tem uma
escolha: ou salva a criança ou salva a obra de arte. Bom, se ele salvar a obra de arte, segundo Reale e Nicho, ele tem toda a razão: ele estará escolhendo algo de dignidade ontológica inferior. Porque, por maior valor que tenha a Monalisa, em valor econômico, ela é apenas um bem cultural, ao passo que a criança, que é uma pessoa, é portadora de direitos desde a sua mais tenra idade. Ela é uma vida humana que tem mais valor do que qualquer obra de arte. Uma vida humana isolada, como diz Santo Agostinho e Santo Tomás, eu repito:
uma só alma tem mais valor do que todo o universo material. Então, a criança é mais amável do que a obra de arte. Assim, nós fazemos na nossa vida ou vamos aperfeiçoando as nossas escolhas e amando aquelas coisas que são mais dignas de ser amadas, em detrimento de outras que são menos dignas. Ou, paulatinamente, a nossa vida psicológica vai para o buraco, porque quando a pessoa perde a noção das coisas que estão à mão da sua ação e do seu pensamento, toda a sua vida se esgota, toda a sua vida decai, toda a sua vida,
de alguma maneira, chega ao ponto de confusão mental; aquilo que Santo Tomás de Aquino chamava de "cegueira da mente", na qual qualquer escolha é como que obra de coisas fortuitas, e, portanto, terá uma grande chance de dar com os burros na água. Então, o amor é um ato livre da vontade; é um Êxodo da alma do amante na direção da pessoa ou da coisa amada. É livre; é a fortaleza da liberdade inexpugnável. Não é só livre, como é a fonte da nossa liberdade. Eu tenho um aforismo que é mais ou menos assim: será publicado em
breve neste ano no livro ao qual darei o nome de "Provérbios do Abismo", que a plenitude da liberdade é quando o querer escolhe o dever. Quando eu livremente escolho aquilo que devo fazer em circunstâncias objetivas da minha vida, é quando sou mais livre. A liberdade não é... Um atirar de dados, né? A liberdade pressupõe a inteligência que se volta para as coisas com critérios objetivos, para que a escolha se faça de maneira reta. Podem escolher retamente, é ter essa clara ideia de todos os bens que estão à mão da escolha. Então, a partir da definição
do amor, agora podemos ensaiar uma definição que eu escrevi; estava no meu trabalho. Hoje falei: "Vou fazer uns apontamentos aqui e desenvolver a aula a partir disto." Então, temos aqui uma definição de perdão, que é deste que vos fala. Santo Tomás não dá uma definição própria de perdão, mas é um corolário de anos de leitura. É óbvio que uma definição pode aproximar-se da verdade mais ou menos. Eu posso dizer que o homem é um bípede em plume; isto é verdadeiro. E posso dizer que um homem é um animal racional; isto será mais verdadeiro. Há várias
definições que se aproximam mais ou menos da essência das coisas definidas. Então, no caso aqui que ensaio de perdão, a seguinte: perdão é o ato livre da vontade pelo qual uma pessoa escolhe não guardar ressentimento ou rancor contra quem lhe fez algum mal. Eu vou repetir, se tivesse aqui o quadro, estaria escrito no quadro: perdão é o ato livre da vontade pelo qual uma pessoa escolhe não guardar ressentimento ou rancor contra quem lhe fez algum mal. Pois, muito bem, algumas coisas já nos servem de corolário, né? Já podemos extrair, ao modo de corolário: no perdão,
há sempre objetivamente algum mal que foi feito por alguém. Isso é importante dizer, porque há pessoas cuja mente está tão confusa, há pessoas que se deixaram levar por emoções desgovernadas de maneira tal que não conseguem divisar objetivamente o bem e o mal nas ações humanas, o que é uma tragédia. Às vezes pedem desculpa daquilo que não dos males que não cometeram, o que é um erro formal. Não devemos jamais nos desculpar de coisas que não são de nossa responsabilidade, e muitas vezes as pessoas fazem isso, seja por respeitos humanos, seja para não estragar a amizade,
entre aspas. Porque, neste caso, é entre aspas: se eu não posso dizer a verdade, que amizade será esta? Aristóteles, o grande Aristóteles, dizia que a amizade só acontece quando os homens reúnem-se em torno da verdade; onde a verdade não é a reitora dos atos humanos, eu só posso dizer que a amizade, para usar uma certa metáfora tosca. Então, muitas vezes, as pessoas, como não estão aquilatando bem o que fazem com elas e o que elas fazem com as outras pessoas, e em seus projetos de vida, acabam, acomodaticios, pedindo desculpas sem terem culpa, né? Desculpar é
literalmente retirar a culpa, entre outras coisas. Mas o perdão é mais do que retirar a culpa; nós vamos ver, então, consequências da definição geral. O amor é das duas definições a propósito de amor e de perdão. O amor é o motivo formal do perdão. O que se quer dizer com isso? Quem não ama, não perdoa. Quem não ama não tem razões para perdoar. Quem não ama, de alguma maneira, não se perdoa, né? Então, o amor, justamente por ser a realidade humana em seu pletórico estado, não tem nada mais importante do que amar, e o desamar
é, de alguma maneira, corromper a nossa natureza, que é intelectivo-volitiva. Nós somos entes dotados de potências intelectivas. Nós temos inteligência; a inteligência não é calcular algoritmos. A inteligência dita artificial só pode ser dita inteligência por quem não tem a menor ideia do que é uma inteligência. Inteligência é 'intus legere', ler por dentro; não é calcular algoritmos. Calcular algoritmos é só uma das possibilidades da nossa potência intelectiva. Então, nós temos inteligência, que é essa capacidade de ir às coisas em suas causas, interpretando-as, associando-as, vendo até que ponto causas e efeitos se coordenam, etc., etc., etc., e
a vontade, que é este apetite intelectivo do bem. Quando eu quero algo, seja lá o que for, eu só quero, segundo Santo Tomás de Aquino, porque na minha mente aquilo surge como uma imagem de um bem. Outro exemplo corriqueiro que todo mundo entende, eu costumo dar, é o seguinte: o suicida, ele mata-se não porque não ama a vida, e sim porque a vida não está como ele ama, e ele está sofrendo. E o que o motiva é a imagem de um bem, a saber, dar fim à sua dor, dar fim ao seu tormento. Então, até
mesmo quando agimos mal, quando escolhemos mal, e até mesmo quando sentimos mal, o que move a vontade é a forma inteligível de um bem, ainda quando este bem não esteja retamente ordenado. Por exemplo, o gozo sexual é um bem; Santo Tomás jamais diria que é um mal. Agora, ele é para ser adquirido em qualquer circunstância? Por exemplo, num estupro? Claro que não. Os bens que estão à escolha da nossa vontade devem ser ordenados pela inteligência. Quando não é a inteligência o que ordena as nossas escolhas, a nossa vaquinha existencial caminha para o brejo das almas
numa velocidade, né? Maior que a do Rubinho Barrichello. Então, o amor é o motivo formal do perdão. Só quem ama perdoa. Outra máxima que é como que um corolário do que se disse: o perdão é uma exigência da caridade. E aqui, não sou eu quem diz; Magister dixit. Santo Tomás de Aquino diz, a certa altura da "Secunda Secundae" da Suma Teológica, o seguinte: "Vou abrir aspas". Diz o mestre Tomás: primeiro, ele fala do amor dos inimigos, né? O amor dos inimigos é exigência da caridade, pois quem ama a Deus e ao próximo não deve excluir
seus inimigos do amor universal. Isso é exigência da caridade como disposição da alma, a saber, que se tem o espírito disposto para amar até um inimigo, em particular, se necessário, mas mesmo não sendo o caso da... Necessidade aqui, a máxima que eu quero ressaltar pertence à perfeição da caridade, que se ame efetivamente um inimigo. Olha só, há dois tipos de perdão, segundo uma tradição larga filosófica, teológica e até magisterial católica: o perdão das ofensas e o perdão dos pecados. O perdão das ofensas é o perdão que nós temos, e tem caráter de preceito, até porque
provém de um mandamento. Cristo, antes de ir-se, o que diz? “Eis que vos deixo um Novo Mandamento”, que significa que não estava na antiga lei: “amai-vos uns aos outros”, como eu vos amei. Ou seja, da maneira como eu vos amei. Portanto, se eu vos perdoo, vós deveis perdoar, perdoardes uns aos outros nas vossas perspectivas vidas. Então, não é uma coisinha qualquer para o cristão; tem caráter de preceito porque provém de um mandamento. Agora, em termos de pecados, só quem os perdoa é Deus, e aí estamos no âmbito dos sacramentos. Depois eu posso ler mais um
trechinho dessa segunda, porque é o sacramento da Penitência, o sacramento do perdão da reconciliação. E, porque no perdão, de fato, ainda que eu estivesse aqui a falar para ateus, qualquer um entenderia que no perdão há sempre uma certa conciliação entre quem perdoa e quem é perdoado, né? Há sempre um certo concílio; é como se as vontades, pelo menos naquele momento, os corações se desafogassem e as pessoas respirassem melhor, e não houvesse entre elas ressentimentos e rancores de nenhuma espécie. Então, o perdão é uma exigência da caridade como disposição da alma. Esse trechinho aqui que eu
li é de um dicionário que agora finalmente foi traduzido para o português, o meu, que é o italiano do Batista Mondin, Dicionário enciclopédico del pensiero de S. Tomás, e já está tão batido, né? Eu já estava assim de levá-lo pra rua; agora tenho aqui a tradução que parece estar boa isso no Brasil, né? É sempre bom dizer com certo receio até conferir, mas tudo leva a crer que sim. Então, é um bom glossário. E outra máxima: a partir da pressuposição de que o amor é o que dá o vetor à vontade. Ora, se há coisas
na vida mais ou menos amáveis, numa escala incomensurável, né? Ora, amar o meu time de futebol, Fluminense Futebol Club, né? É para mim um bem, né? Porém, não pode ser o maior dos bens, né? Há uma escala de coisas a mais. Então, a partir do pressuposto de que essa escala é um pressuposto teológico que culmina no próprio ser subsistente que é Deus, que é o ser infinito, ora, se eu hierarquizar os meus amores a partir do sumo bem, automaticamente hierarquizo também os meus temores e os meus perdões, né? Eu costumo dizer o seguinte: uma vez
eu briguei com uma pessoa, até pela internet, né? Fiz as pazes; aí alguém ficou chateado porque eu fiz as pazes. Eu falei: “Meu filho, olha só, eu sou o gestor dos meus perdões; não delego essa merda para ninguém, né? Eu perdoo quem eu quiser, como eu quiser. Deus me deu essa liberdade.” Por que isso acontece? É muito comum, né? Você se mete, às vezes, numa situação mais ou menos desconfortável; as pessoas passam a saber, mas você perdoa. Seu perdão é propriedade inalienável sua; ninguém tem o direito de meter o bedelho nisto. Parece uma bobagem, mas
olha, isso é mais corriqueiro em brigas de família, etc., do que possamos imaginar, né? Então, a partir dessa pressuposição de que há uma hierarquia de bens amáveis que culmina em Deus e essa hierarquia, se nós a entendemos, acabamos por refinar as nossas escolhas, os nossos perdões e os nossos temores. É bom ter quem pode mais, né? Santo Agostinho diz, tem um sermão espetacular em que ele diz o seguinte: “Temei antes a luz que as trevas.” Olha que coisa! Ou seja, temei antes a Deus, que é o diabo. Deus pode tudo; ele é onipotente. Então, é
ele que eu devo temer. Ele pode tudo, inclusive revogar as minhas culpas. É ele que eu devo me referir como fim último. Ora, se isto é assim, só o amor de Deus é capaz de fazer o homem perdoar plenamente. Disse-se aqui ainda há pouco que o amor é o motivo formal do perdão; agora eu estou dizendo uma outra coisa: só o amor a Deus, que é o bem supremo, é capaz de nos fazer perdoar com toda liberdade interior. Porque, se o motivo do meu perdão é um amor a este ser infinito material, isto significará que
tudo que partir do meu coração partirá com a liberdade que é superior àquela liberdade ordinária pela qual nós vamos exercitando as nossas escolhas. Porque quanto mais é imaterial algo que dá forma a uma operação minha, mais essa operação minha é livre. Então, só o amor a Deus é capaz de nos fazer, por exemplo, perdoar um inimigo. Porque perdoar um inimigo não é de razão natural; não é algo de filosofia moral natural; é preciso uma graça suplementar, né? Porque o inimigo, a pressuposição é de que ele não apenas nos fez o mal como nos quer o
mal e fará novamente, se tiver a primeira oportunidade. Depois, nós vamos dizer aqui o que é que, para Santo Tomás, é o amor dos perfeitos e o amor comum. Outra máxima: conclusão mais ou menos próxima da definição. O perdão é, ao mesmo tempo, afetivo e efetivo. O perdão é afetivo porque está no nosso coração; o perdão é efetivo porque está na nossa inteligência, que escolhe os critérios pelos quais, ou a partir dos quais, perdoará. Então, nós somos corpo e alma, inteligência e vontade; portanto, tudo que em nós tem o selo dessas duas potências superiores da
alma, inteligência e vontade, nos eleva e nos faz, pela operação cotidiana, sermos mais nós mesmos. Aquela famosa máxima do poeta grego Píndaro, que é a seguinte: "Homem, torna-te o que tu és". Enigmático, né? Como é que eu vou me tornar o que já sou? Ora, o homem, na escala dos entes, é o único que, para ser o que é, deve aperfeiçoar-se continuamente. O que ele faz pelos atos da inteligência e da vontade. Porque se o copo não se descopa, a mesa não se desmescla. E aquele ato de gratidão interna de beneficiar com o coração as
pessoas que nós amamos. Sêneca. Há dois livros importantes de autores antigos, né? Sêneca e Cícero. Os dois estão traduzidos. O do Cícero é "De Oficiis", sobre os ofícios, né? O ofício é o dever, né? E o do Sêneca é "De Beneficiis", sobre os benefícios, que é um livro sobre a gratidão. Em ambos, há, de diferentes prismas, aquela ideia de que, para que uma relação seja saudável, é necessário que as pessoas troquem benefícios verdadeiramente baseados no mundo das coisas reais e não em conceitos abstratos. Então, um ato de justiça é dar a cada um conforme o
que lhe é devido. Estritamente, ora, para eu praticar um ato de justiça, tem que saber aquilatar os bens que estão, digamos assim, implicados naquela relação. Sem isso, aliás, essa definição é de uma obra que foi trazida à luz pelo Justiniano, né? Que é o Digesto. Para quem estuda Direito, vale muito a pena ler. Tem tradução para português em quatro ou cinco volumes. Eu preciso saber a quem eu convém, a quem convém que eu beneficie livremente, porque, se eu começo a beneficiar quem não merece, a relação desanda, ela se corrompe. Então, o tema dos benefícios e
dos deveres é um tema muito importante para a filosofia antiga e para nós ainda hoje. Só que nós, sendo cristãos, temos, sob esta visão de filosofia natural, um prisma sobrenatural da fé. Nós podemos nobilitar, ou seja, tornar mais nobres os motivos das nossas escolhas, dos nossos amores, dos nossos benefícios e, inclusive, das nossas decisões severas. Porque, às vezes, mesmo com amor, é necessário tomar a decisão dura, né? Amor não é sentimentalismo barato. O pai que ama o filho corrige o filho naquilo que é para ser corrigido. Cada vez mais, vamos perdendo isso do nosso horizonte
mental, porque estamos forjando quatro ou cinco gerações já de pessoas de geleia, a quem não se pode fazer nenhuma emenda entre o sujeito, o verbo e o predicado. Há uma concordância. Isso é objetividade, né? Isso não é preconceito linguístico, como um professor aqui do Rio de Janeiro escreveu certa vez. Não vou comentar, até porque fugiria muito; eu ia acabar caindo no sarcasmo. E não convém para um tema de aula tão elevado, mas a realidade é objetiva. As relações que se estabelecem nela devem ser igualmente objetivas, inclusive as relações que, pela linguagem, eu estabeleço com as
coisas. Devem partir das coisas mesmas, abstraindo delas os conceitos e correlacionando-os. Então, o perdão é afetivo, é do coração, é efetivo, é da inteligência. Outra máxima decorrente das definições. Essa é importante, hein? Perdoar não é apagar o passado, tirar-lhe o peso. Olha só, o passado não pode ser desacontecimentos. Ele é, de fato, registrado e deixou a sua marca ontológica durante uma existência. Então, nem Deus revoga o passado, quanto mais nós. Então, perdoar não é simplesmente esquecer, do ponto de vista de uma espécie de amnésia voluntária. Não é apagar o que passou, até porque o que
passou deixa em nós ressonâncias também, né? Porque o que passou e foi importante para nós marcou de alguma maneira. Portanto, eu não sou alheio a isso; não posso ser alheio. Isso serve para relações. Se as pessoas entendessem, por exemplo, como isso é decisivo na vida das suas relações, por exemplo, se respeitariam mais. Porque, depois que certos cristais se quebram, é muito difícil refazer. Então, o perdão é, dentre as coisas humanas, a única que consegue refazer um cristal da melhor maneira possível para nós, né? Mas ele não considera que o que passou não passou. O passado
está ali como algo que sucedeu e está aqui em mim, na minha memória e na minha inteligência. Eu recordo o passado. Às vezes é doloroso, às vezes é um trauma. Recordar o passado. A pessoa foi estuprada com três anos. Às vezes, fica ali até no subconsciente dela, né? Não é fácil livrar-se de coisas antipáticas à nossa consciência que sucederam. Mas, no caso do perdão, o exercício que se faz, já que ele é um ato da vontade, é tirar o peso, ou seja, aquele passado que passou. Aquela bofetada que eu levei, eu levei, mas não me
dói mais lembrar dela. Pelo contrário, né? Hoje eu entendo que, se não fosse aquela bofetada, talvez eu não aprendesse isso, aquilo ou aquilo outro. Então, o perdão revalora as coisas que sucederam no tempo, como que sintetizando e dando-lhes uma perspectiva nova, né? Por isso que o perdão é leve. Quando as pessoas se perdoam, a relação fica mais leve, mais agradável, né? Inclusive, elas são capazes de rirem de si mesmas. Só quem perdoa é capaz desse ato de inteligência que é rir das suas próprias falhas. A pessoa que se leva a sério não perdoa ninguém, e
o que se leva muito a sério não se perdoa acaba sendo escrupuloso, e a sua vida vai também para uma espécie de buraco existencial. Outra máxima: perdoar. Essa é boa também, que essa é de ordem prática, né? Perdoar não é seguir o beócio, né? Suponha, digamos assim, que a sua digníssima esposa teve uma queda e praticou, digamos assim, relações venérias com o vizinho. E aí o marido resolveu perdoá-la, mas perdoou do fundo do coração, com dor. Tudo bem, mas... Vai convidar o sujeito para jantar hoje à noite? Lá, não! Não, pelo amor de Deus, né?
Não sejamos idiotas. Quem perdoa, ama; e quem ama não é idiota. Não é esse o caso, porque senão o perdão será falso. Quem ama verdadeiramente sabe perdoar e, portanto, sabendo aquilatar as situações, vai se prevenir. O sujeito deu um desfalque na família, né? Poxa, "perdoa"? Toma aqui o meu talão de cheque! Não, perdão nunca é imprudente; pelo contrário, o perdão é a prudência máxima no plano da Psicologia Moral, digamos assim. Então, perdoar não é imprudência. Não, não é cegueira bélica. Tenhamos isso no nosso horizonte. Outra máxima: o perdão que nós damos, né? Digamos assim, vamos
usar o verbo "dar", que é uma doação, a um amigo, é sempre benevolente. O perdão que nós damos a um inimigo é obediente, né? Aquele nós damos até com certo querer bem. Poxa, o cara vacilou comigo, mas eu gosto tanto dele, né? Eu já quero bem a ele; então, assim, o meu perdão já é até mais facilitado. O outro é por obediência a Deus, né? Então, a obediência, nos casos da filosofia moral de Santo Tomás, é também uma forma sublime de liberdade. Não é que, porque eu obedeci a uma regra externa à minha consciência, eu
não sou livre. Os liberais são tarados pela liberdade, né? Só que é uma tara que, nunca jamais, em tempo algum, desde o início dos proto-liberais do século XVII, os iluministas até hoje... Você pergunta a um liberal o que é a liberdade, e ele foge como o diabo da cruz, né? Ou vai sair por aí tergiversando, velho verbo antigo, né? Diversar; vai jogar conversa fiada. Mas a noção que ele tem de liberdade é só ou liberdade no plano civil ou a liberdade de fazer o que quiser. O pobre volta, né? Grande escritor, do ponto de vista
do talento literário, péssimo homem de ideias, que morreu muito mal. Ele dizia que a liberdade é eu fazer o que eu quero. E essa ideia tosca foi assimilada pelos revolucionários do século XVII e, até hoje, está aí; as pessoas caem nessa esparrela, não conseguem abstrair o seguinte: eu tenho limites na minha liberdade, até físicos. Ah, eu sou livre para voar aqui pelo Aterro do Flamengo? Não, não sou; eu não tenho potências voadoras no meu ser. E a liberdade tem limites físicos e psicológicos. Ah, eu quero entrar como hipopótamo debaixo? Eu tenho corpo de hipopótamo, né?
Mas assim, eu não tenho potências hipopótamo anaeróbica. Eu não sou capaz de ficar 20 minutos embaixo d'água sem o respirador artificial, né? Então, assim, a minha liberdade tem limites. Isso é uma conversa fiada que a liberdade é fazer o que eu quero. Só um idiota de estrita observância e coração desgovernado é capaz de acreditar nisso, ou seja, toda a modernidade, né? E nós caímos nesse conto do vigário. Coitado do vigário, né? Conto do vigarista. Então, o amor, o perdão, melhor dizendo, que nós damos a um amigo é benevolente; o perdão ao inimigo, daqui a pouco,
vamos dizer algo dele, é obediente. Outra coisa que me parece importante dizer aqui: a humildade é a pré-condição psicológica do perdão, tanto da parte de quem perdoa quanto da parte de quem é perdoado, né? Humildade. Ou seja, é estar perto do humus da terra, né? O humilde sabe-se pequeno e, portanto, o humilde está em melhores condições para aquilatar seus próprios erros e, portanto, ele tende a ser mais benevolente com os erros alheios, porque ele entende que a condição humana é falha de alguma maneira. Então, a humildade é essa pré-condição psicológica para alguém perdoar alguém; mas
mais ainda, para alguém ser perdoado. Porque o soberbo, que é muito severo nas suas críticas aos demais, ele também é implacável consigo mesmo. Há pessoas que não se perdoam, e não se perdoar, de alguma maneira, é usurpar o lugar de Deus. Deus quer nos perdoar; por que nós não nos vamos perdoar? Então, assim, é preciso que a pessoa desenvolva o mínimo de humildade para que ela tenha as pré-condições necessárias para ter uma vida habitual de perdão. Eu fiz publicar aqui no Brasil, eu me meto em várias coisas, né? Uma delas era a coleção Escolástica, que
saiu para uma editora que acho até que não existe mais, que era a Concreta, e eu fiz publicar no Brasil uma obra magnífica de São Bernardo de Claraval, chamada "Dos Graus da Humildade e da Soberba", que é um comentário à regra de São Bento, em que São Bernardo vai mostrando uma escadinha parecida com a escada bíblica de Jacó. Quais são os degraus da humildade? Quais são os degraus da soberba? Um livro que se acha aí na Estante Virtual, vale muito a pena. A leitura dele fica indicada: "Os Graus da Humildade e da Soberba". Sem humildade
não há perdão, nem por parte de quem perdoa, e nem por parte de quem é perdoado. Até porque eu preciso me arrepender para ser perdoado efetivamente. Mas vamos chegar lá; esse é outro tópico. Perdoar não apaga os efeitos ou sequelas dos maus feitos de quem foi perdoado. Então, isso serve tanto no plano civil, familiar, psicológico etc., como também no plano teológico. No caso do plano teológico, é o pecado. O cristão católico sabe que vai sacramentalmente pedir perdão a Deus na pessoa do sacerdote. Ora, a culpa eterna lhe é perdoada e comutada em culpa temporal. É
isso que acontece nas nossas confissões; nós que somos católicos. Porém, certa pena, essa pena, implica uma ressonância, porque os maus hábitos, os vícios, os pecados são como isso aqui. Olha, vamos fingir que isso aqui é um livro. Olha, fica com orelha, deixa marcas em nós, os nossos hábitos e eles... Hábitos são atos reiterados que deixam marcas que são aquilo que Santo Tomás chama de disposições. Se eu minto muito, eu tenho uma predisposição à mentira, e a mentira vai me escapar até mesmo em situações que não têm a menor importância. Então, assim, os hábitos, do mesmo
jeito, pro bem ou pro mal, né? Um hábito físico... Ah, o sujeito diz: "Vou emagrecer a partir da semana que vem, tô malhando, tô tomando suplementação." O corpo também é sujeito de hábitos, né? Mas a alma o é em nível muito mais excelente. Então, pro bem ou pro mal, os hábitos criam em nós disposições. Os hábitos bons criam em nós uma semente de virtude; os hábitos maus criam em nós a semente do vício. O vício, segundo Santo Tomás, é um hábito operativo, ou seja, pelo qual eu ajo habitualmente contrário à nossa natureza. Todo vício é
contrário à nossa natureza volitiva e intelectiva, todo e qualquer vício. Já o hábito predispõe a nossa natureza a atuar com excelência. Eu vou dar um exemplo aqui. Tô aqui com um amigo que é um ótimo violonista. Houve na Espanha um violonista chamado Andrés Segovia, um grande violonista. Um dia, num concerto que ele foi fazer lá, ele tinha um fã; o fã alugou o quarto do lado do quarto do hotel onde estava o grande ícone do violão espanhol, da guitarra espanhola, né? Para tentar ouvir o que ele faria antes de um grande concerto. Para sua decepção,
tudo que ele ouvia eram escalas musicais. O Segovia estava lá treinando. Olha só, eu sou capaz de tocar uma peça de Liszt, né, ao piano, desde que eu treine exaustivamente. Ora, o hábito reiterado me conduz à excelência. Eu sou livre para ser um Mozart, mas para ser um Mozart, além de talento, eu tenho que ter atos repetidos. Esforço. Sem o mínimo de suor, ninguém cria hábitos virtuosos, a não ser que seja por um verdadeiro milagre, que são os hábitos infusos. Mas aí saímos da filosofia moral e entramos na teologia; não é o caso aqui. Então,
perdoar não apaga em nós, pro bem e pro mal, essas disposições que nos ficam. Isso nos dois casos, né? Que uma pessoa pode ser que até perdoe, mas não tem o hábito do perdão; perdoe por um interesse. E o perdão por interesse, embora seja efetivo e alcance, de alguma maneira, o coração da pessoa perdoada, ele não está sendo doado com toda a plenitude da alma, e por isso mesmo, já que é um ato interno, ele tem um déficit. Então, podemos ser viciados em muitas coisas, não só em drogas, né? Outro tópico: perdão e justiça não
são termos unívocos, significa o seguinte: não são a mesma coisa, né? Ninguém merece ser perdoado; é perdoado por amor. É esse o sentido aqui, que é o sentido profundo de Santo Tomás. Eu perdoo quem eu perdoo porque eu amo, né? E não porque a pessoa merece. Pode ser que ela tenha feito algo gravíssimo. Quantas mães aí de criminosos vão lá, continuam amando seus filhos que cometeram um crime gravíssimo, estão lá na prisão cumprindo uma pena, mas elas continuam a amá-los, apesar daquilo que eles fizeram. Então, não é uma questão... e os perdoam e querem crer
que eles vão voltar a fazer o que fizeram. Porque no perdão, como eu disse aqui na definição, há sempre um vetor de benevolência. E o que é benevolência? Benevolence, literalmente, etimologicamente, é querer o bem. Benevolência é querer o bem; beneficência é fazer o bem. A beneficência é a benevolência quando há. Não adianta só querer o bem, né? "Ah, eu quero tanto bem a fulano." Aí, fulano precisa; eu fico, em vez de ajudá-lo numa situação objetiva, fico sentado nas minhas instalações sanitárias, pensando em como podia ajudar, né? Eu fico muito, sim, triste quando eu vejo, ainda
mais num ambiente Instagram, né? As pessoas são capazes de aderir a bandeiras extraordinárias, né? Mas são incapazes de ajudar a própria mãe, ajudar o vizinho amigo que está em dificuldade, etc. Claro que essas pessoas, o que elas têm de publicidade, não está no seu coração como correspondente genuíno de uma realidade boa, né? Então, o perdão é gratuito e não devido, já que não é uma questão de justiça, porque na justiça eu dou o que é devido. No que é gratuito, eu dou porque quero dar. Agora, pensemos no seguinte: Deus, mais do que todos os outros,
é o que ele nos quer dar, o seu perdão. Ele só quer que nós aprumemos a alma para nos prepararmos para receber este perdão. E como é que se apruma a alma? Pela contrição, né? A contrição, o conceito de contrição, ele é profundo. Santo Antônio de Lisboa tem um sermão maravilhoso. "Contritio" é esmagar, pegar os meus maus atos e pisar neles, triturá-los. Daí vem contrição; eu esmago os meus maus feitos e ponho num processador e vou refazer a minha vida de alguma maneira. Então, é a dor de amor. A contrição é a dor que o
verdadeiro amor acarreta na nossa alma. Quem aqui já falhou com a pessoa amada e não ficou com medo de que ela sofresse com a sua falha, com seu engano, etc., ou até mesmo com a sua traição, né? Nós tememos desagradar aqueles a quem amamos. Isso é assim desde que o mundo é mundo. Se não temos esse medo, é porque não amamos, né? O próprio ciúme, que Santo Tomás diz que é um reflexo sensível do amor, né? O ciúme saudável não é o ciúme patológico, "hamletiano", né, do shakespeariano, melhor dizendo. É o ciúme como reflexo do
amor; é um zelo. Em espanhol é bonito: "Celo". Celo tem o ciúme, tem o zelo especial pelas coisas que eu amo. Então, quem não tem ciúme de nada, não... Aqui está o texto com a pontuação corrigida: Amanhã nada, tá? Ah, não tem ciúme de nada, né? Meu marido vai afanar, né? Vizinhas, duas têm ciúme de nada, é filho, né? Depois não reclame, né? Tomar uma galhada, né? Para dizer o mínimo, né? Então, o ciúme saudável é um reflexo desse amor, da mesma maneira como o perdão é um reflexo do amor, eh? Mas é gratuito. Outra.
Estamos indo para o fim daquilo que eu coloquei. Depois, eu estarei aberto aqui para todos os insultos que você, né? Vocês quiserem me, né? Com os quais quiserem me beneficiar, né? Quem não se arrepende coloca-se fora do alcance do perdão. O perdão é uma relação entre quem perdoa e quem é perdoado. Ora, se a pessoa que fez alguma coisa má não enxerga que fez e não se arrepende porque não enxerga, ou enxerga e mesmo assim não se arrepende, em ambos os casos, ela se coloca de alguma maneira fora do alcance benévolo do perdão, porque ela
está fechada. Ora, eu quero que o sol entre na minha casa; eu tenho que abrir as cortinas, abrir a janela, né? Assim é com a graça divina também. Deus não arromba o nosso coração, e o amor não é a elucidação pelo amante do coração da pessoa amada. Hoje em dia, as pessoas acham que se relacionar amorosamente é isso: eu tenho que saber tudo o que você pensa, tudo o que você fez, o que você pensa, né? Quais são os seus hábitos sanitários, etc.? Não dá, né? O amor é um mistério! O amor é uma aposta
livre no mistério do outro, não é a elucidação do outro, pretensiosa, diga-se de passagem, né? No dia em que nós elucidarmos o outro totalmente, será um tédio. Que bom, né? Que há algo sempre por conhecer, né? Mas reitero, quem não se arrepende fica ali fechadinho em copas, como uma concha, e não é alcançado pelo perdão, eh? E aqui, a observação que eu pus é o seguinte, eh, pois ainda se guia pela intenção. Se não se arrependeu, ainda se guia pela intenção maléfica, e o perdão se refere ao mal passado e não ao presente. Eu não
posso perdoar quem continua fazendo o mesmo mal; eu tenho que perdoar depois que ele parou de fazer, mesmo que ele não tenha se arrependido. Mas já passou; ninguém perdoa no ato, exercício, né? No exercício do ato maléfico por parte do outro. Até no caso divino, Deus espera que tenha passado, que nós nos arrependamos para que, então, Ele possa subministrar o seu perdão sacramental. Outra coisa que eu disse no início, só vou reiterar agora: o perdão pressupõe um mal realmente sucedido, não é uma abstração de mentes. Estão ali, né? No Instagram, de bobeira, numa quinta-feira chuvosa,
né? Com lucubrações, né? Jazendo nos seus perímetros, respectivos perímetros pélvicos. Não é isso! Perdão é algo mais do que isso; supõe uma realidade existente má que sucedeu. O perdão, outra coisa, pressupõe uma culpa objetiva. Ora, a culpa, o que que é a culpa? Vocês já pararam para pensar? A culpa foi demonizada pela psicologia do século XX, né? Só que ela foi sendo demonizada ao longo de toda a modernidade, entendida aqui como um período longo, né? Desde quando René Descartes disse lá, né? "Cogito, ergo sum" (penso, logo sou), como que entranhando dentro do seu pensar todo
o ser. É o subjetivismo. Desde que se inaugurou uma filosofia do sujeito, em substituição à filosofia do ser, em todas as áreas das ciências humanas, nós caminhamos para aquilo que tecnicamente se chama solipsismo, que é o eu isolar-se das coisas e do mundo, a ponto de, hoje, aliás, esse isolamento se dá de maneiras como, por exemplo, no caso da ideologia de gênero. A pessoa acha que pode definir o seu próprio gênero à revelia da sua realidade cromossômica. Isso é uma decorrência de um pensamento que começa lá no século X, não é da noite para o
dia. Agora, é óbvio, se você perguntar a um ideólogo de gênero o que é ideologia e o que é gênero, ele inclinará sua cabeça em um ângulo de 30 graus e seus neurônios praticarão suicídio, né? Que não tem a menor ideia do que seja uma ideologia, né? Ideologia é um termo cunhado por um revolucionário francês, né? Tem um livro chamado "Éléments d'idéologie". Ele diz mais ou menos o seguinte: ideologia é quando a filosofia esquece do ser, entranha-se em si mesma, traduzindo, né? Ou seja, quando as ideias não têm mais nenhuma comunhão com o ser. Quando
você deparar com alguém assim, é um ideólogo, né? É um ideólogo que tem ideias, mas as ideias são vagas, fluidas, né? Então a culpa, é o que eu queria ressaltar aqui, é a consciência de uma transgressão que merece reparo. Essa culpa, tão demonizada pelos modernos e pós-modernos, é a simples consciência de que algo foi feito que não devia ter sido feito e clama por um reparo, qualquer que seja. É simplesmente isso, desde os pré-socráticos, né? Se você eliminar a culpa, é destruir a sociedade de uma maneira mais ou menos dramática, né? Ou as pessoas entendem
que a culpa é a consciência objetiva de falhas que devem ser purgadas, sanadas, pagas, etc., ou toda a Pólis vai para o brejo, porque as relações entre as pessoas ou se baseiam em coisas que se dão na realidade ou, até mesmo, o direito, que é uma realidade importante em qualquer política, de qualquer época, se deturpa, é quando se esquece da chamada lei natural. Mas isto é um outro assunto. Tá, então, penúltimo tópico: não se deve pedir perdão por culpas inexistentes, sob o pretexto de amizade. Isso aqui eu já tinha falado, não vou repetir por óbvio,
né? Isso aí acaba piorando a amizade, né? Ah, não, não quero ferir você. PED Fulano, você é tão gente boa! Aí você deixou de falar para ele o que era para falar, algo que sucedeu. E aí, a relação passa por cima deste fato; daqui a pouco, vai acontecer de novo e você não terá nem argumentos mais para arrolar, né, na defesa da verdade. Então, uma relação saudável pressupõe que as pessoas digam entre si, habitualmente, a verdade. Não é dizer a verdade materialmente em todas as circunstâncias objetivas da vida; nós não estamos obrigados a esse tipo
de verdade, né? Ah, não, como é que você faz sexo com a sua esposa? Não interessa, né? Não estou obrigado a dizer a verdade sempre integralmente. Eu posso sair pela tangente com aquilo que os grandes teólogos morais chamavam de restrição mental. Eu restrinjo a mente, só manifesto da verdade aquilo que convém que o cidadão inconveniente saiba, né? Por fim, é possível uma pessoa assumir erroneamente algumas culpas, né? E isso provém do fato de que, se a sua mente não está ordenada, minimamente ordenada, os critérios de escolha vão se tornando cada vez mais pobres. E é
capaz, sim, pela fragilidade mental dessa pessoa, dela ser inculpada por algum malicioso e acabar assumindo culpas que não tem. Olha, nós, esse mundo aqui não é o melhor dos mundos possíveis, como pensava o indigitado Leibniz, né? Ele poderia ter criado mundos muito mais perfeitos do que este, e este mundo atual não é, digamos assim, a consequência lógica das melhores possibilidades. E isso serve também para as nossas relações com as pessoas. Não tenhamos a ingenuidade de achar que as pessoas com quem nos relacionamos estão sempre imbuídas das melhores intenções. Né? Não estão. O homem prudente avalia
cada circunstância; ele percebe indícios no proceder alheio de se a intenção é mais ou menos boa ou mais ou menos má. A intenção é um ato da vontade; é um dos doze atos da vontade. A vontade é uma potência que tem doze movimentos, e a intenção é um deles. Quando Santo Tomás de Aquino diz que a ordem do universo provém de uma intenção objetiva da Inteligência Divina, olha que maravilha: a intenção é um dos aspectos da ordem. A ordem não se dá ao acaso. Se eu pegar aqui as letras desse livro, chacoalhá-las, botar num saco
e jogar para o alto, não vai sair o livro ordenado. Onde há ordem, há uma inteligência ordenadora. Isso serve para todas as circunstâncias da nossa vida; ordem é um conceito importantíssimo. Ora, eu preciso ordenar as minhas culpas objetivas e os meus méritos objetivos, sem o que minhas relações no trabalho, relações afetivas, relações com projetos de vida, etc., vão cada vez mais virar algo esquizofrênico. Então, assim, tenhamos no nosso horizonte... Eu não sei a quantos minutos eu vou... Porque assim, se deixar, né, isso aqui vira quase conversa de botiquim, que aliás é um samba do Noel
Rosa que eu muito aprecio. Né? Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa uma boa média que não seja requentada. Agora, podia me trazer um café? A propósito, então, se deixar, eu vou emb... Mas do que eu queria falar de básico, está dito. Agora, só pretendo ler um trechinho do comentário de Santo Tomás ao Pai Nosso, né? Porque tem um dos pedidos do Pai Nosso. O Pai Nosso é a oração mais importante porque foi a única que Cristo ensinou. No prólogo desse comentário, Santo Tomás diz isto: "nenhuma oração é tão importante como o Pai
Nosso", entre outras coisas, porque ela encerra virtualmente tudo que está em todas as demais orações. Tudo que é importante e necessário pedir está no Pai Nosso, atual ou virtualmente. Então, são sete pedidos, né, que há no Pai Nosso. Um deles: "perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores". Eu sei que aqui talvez alguns rezem, né, na tradução que virou a corrente, né, "perdoai as nossas ofensas", né? Mas uma ofensa, isso aqui é importante dizer, não é a mesma coisa que uma dívida. A dívida precisa ser saudada; quem nos ofende não necessariamente tem
a noção de que está devendo algo, até porque a pessoa pode ser completamente equivocada nos seus critérios. Dívida é uma coisa que abarca as ofensas e é mais profunda do que uma mera ofensa. Então, o quinto pedido do Pai Nosso, "perdoai as nossas dívidas", é o único condicional; os outros não têm condições pré-estabelecidas. Qual é a condição? Assim como nós perdoamos os nossos devedores. Ora, se nós não perdoarmos, não seremos perdoados. É óbvio que aqui eu estou falando não mais de tudo que eu falei, que é o perdão das ofensas; estou no âmbito do perdão
dos pecados, que é um perdão divino. Então, quem dá esse perdão é Deus, que só Ele é capaz de nos limpar interiormente. Depois que uma água passou, de um rio, pelo meio de uma siderúrgica, ela se contamina com os materiais dos dejetos da siderúrgica e passa, a partir daquele ponto, a ficar contaminada. Assim é com as nossas más ações; por mais que nós procuremos, depois de tê-las praticado, melhorar, a nossa ação fica algo de sujo, né? Quem se acha limpinho está com a ideia muito equivocada a respeito de si mesmo, ou é porque tem uma
consciência cauterizada, obliterada; não se enxerga, não sabe quem é, não sabe o que é o homem, e não sabe quem é a própria pessoa. Não sabe quem é, é o que é um drama. E aí, ó, se suja cada vez mais. Ora, essa sujeira, que é a sujeira do ato de aversão a Deus, que se chama pecado, ela sempre fica por aqui, neste mundo, em nós. Por mais que nós reiteradamente peçamos perdão a Deus, né, Ele nos retira a culpa em... Cada confissão. Mas ficam essas marcas, e muitas vezes indeléveis. E é o modo de
disposição e disposição que se repete. Se repete; as pessoas confessam gerar os mesmos pecados, repetem, né? E a coisa interessante é o seguinte: que bom, né? É bom ficar com vergonha porque, olha só, não é terapia. Eu adoro a psicologia atomista, mas confissão não é terapia; a pessoa não vai lá para contar sua vida, ficar num circunlóquio, num colóquio com o padre a respeito da condição humana, do sentido da sua existência. Tá lá só para se limpar espiritualmente pelo perdão. Mas essa limpeza espiritual, enquanto esta vida durar, ela não é perfeita, no sentido de que
as ressonâncias ficam em nós. E o que Santo Tomás mais nos diz? Vou ler um trechinho antes de encerrar, né? "E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos a quem nos deve." Porque a tradução aqui... O tradutor é bom; até eu coordenei essa coleção aqui, mas aqui ele realmente botou ofensas, o que me ofendeu quase que pessoalmente. É Magister dixit, diz Santo Tomás: "Há pessoas que, embora com sabedoria e força, justamente porque confiam demais em sua virtude, não agem sabiamente no que fazem. Como, tão pouco, levam a cabo o que pretendem fazer." Ou seja, o
sujeito delibera que vai fazer algo—é um regime, é o trabalho, é o curso de inglês que ele vai aprender a partir da semana que vem—não consegue terminar nada, né? Hoje em dia tem aquele... como é que é o nome do termo que os psicólogos usam? Procrastinação, né? Bonita a palavra, né? Os "propósitos" corroboram pelos conselhos. Livro dos Provérbios, um dos mais belos livros da Bíblia. Vale a pena ler; esse é um livraço, né? Conselhos espirituais profundos. Volta a Santo Tomás: "Mas deve-se notar que o Espírito Santo, que dá a força, também dá conselho. Pois todo
o bom conselho relativo à salvação dos homens vem do Espírito Santo." O conselho é necessário ao homem quando está em tribulação. (Quando a porca torce o rabo, quando o problema familiar, pessoal, profissional surge, quem é que é tão idiota que não há de procurar um bom conselheiro, né?) Geralmente, quando a situação tá muito ruim, o melhor que uma pessoa deve fazer é buscar quem tem luzes para que sejam projetadas para aquela situação que, às vezes, a pessoa, ali no afã de resolver o problema, no calor do momento, da emoção, vai fazer bobagem, né? Então, o
conselho, para além de ser, né, um dom do Espírito Santo, ele é uma virtude que provém da Prudência. É próprio da Prudência aconselhar, diz Santo Tomás, né? Portanto, quando o homem fica espiritualmente doente pelo pecado, deve buscar conselho para ser curado. Aí vai, vai, né? E chega, enfim, aos pedidos: "Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores." Podemos considerar três coisas nestas palavras: primeiro, por que fazemos este pedido; segundo, quando ele é cumprido; terceiro, o que exige da nossa parte para que se cumpra. Quanto ao primeiro, desse pedido devemos deduzir duas coisas necessárias
ao homem nesta vida. A primeira coisa necessária é que sempre esteja em estado de humildade e temor. Olha aqui que Santo Tomás está dizendo; uma das primeiras coisas necessárias, né, para nós é estarmos em estado de humildade, da qual já falei, e temor. Que temor? É o temor da covid, é o temor da política, é o temor disso, daquilo, daquilo outro? Não, né? É o temor que provém do amor. Porque a vida espiritual é a vida que começa no temor e termina no amor. Primeiramente eu temo desagradar a quem eu amo. Depois, lá na frente,
eu vou acabar fazendo aquilo que a pessoa gosta, só porque ela gosta. Eu refinei, né? Eu saí do medo e o amor me fez vencer o medo. Então, é um caminho de temor e de humildade; a nossa vida, se ela tem um mínimo de profundidade. Vou pular o texto. A segunda coisa necessária é sempre viver na esperança. Pois, embora sejamos pecadores, não devemos nos desesperar, para que o desespero não nos leve a pecados maiores e variados. O que é a esperança? As pessoas hoje confundem a esperança com otimismo. "Ah, eu espero que o meu deputado,
meu candidato, ganhe a eleição, vai ser o presidente," né? Isso não tem nada a ver com esperança; isso é otimismo intramundano. Eu posso ser otimista a respeito se o meu time vai ganhar o título, se eu vou passar na prova, se a minha pretendida vai dizer sim. São coisas humanas. A esperança é transmundana; a esperança é esperar, contra todas as adversidades, só pode ser em Deus. Então, o que Santo Tomás está dizendo aqui é que—vou dizer com as minhas palavras—ainda que Deus não existisse, ele, sendo o conceito que dá sentido a toda a existência, é
nele que devemos esperar, né? Ainda que Deus fosse um conceito abstrato, que Deus absolutamente não existisse, seu pensamento nessa existência de um ser infinito seria suficiente para nos ordenar. No comentário ao Credo, Santo Tomás diz que quem acredita nas realidades escatológicas—escaton é uma palavra grega que quer dizer "para depois do fim." Escatologia é o estudo das coisas depois do juízo final. Se eu acredito que, depois desta vida aqui, há um inferno—ainda que ele não exista, mas se eu acredito que há um inferno de dores infinitas—não, não é qualquer dorzinha nesta vida que vai me deixar
fracote. Se eu acredito que é um céu de felicidade irreversível, eu quero ficar infeliz? Não, no céu não vai dar, né? Não é qualquer alegrezinha medíocre que vai me fazer soberbo nesta vida. Então, ainda que Deus não existisse, ele dá um sentido superior à nossa existência; ele nos fortalece. Virilização gelatinosa e a sociedade dos tiranos de geleia, que é pior do que a dos tiranos viris. Os tiranos de geleia estão sempre de prontidão para diante de qualquer coisa que os ofenda ou apelam para o Estado, ou para uma traição, ou até por uma morte por
motivo torpe. Nunca houve na história humana conhecida tantos homicídios dos próprios filhos pelos pais; nunca houve tantos suicídios de crianças. São estatísticas. Nunca houve tanto suicídio de idosos. Olha só o suicídio: a pessoa para querer matar-se, ela tem que ter passado por uma dor profunda. Em uma criança, isso é antinatural, ela não viveu o suficiente. Ora, o que as crianças estão vendo aqui? Fantasmagoria pura, e os pais deixam as crianças. É fácil deixar a criança lá na frente da TV, do computador, sem saber nem o que está passando, sem conhecer nem o que é engenharia
social. Daqui a pouco, a criança está se jogando da janela ou matando o pai a facadas, etc. Então, nós vivemos numa época que é mais bárbara do que todas as épocas bárbaras, porque nós matamos nossos próprios filhos. Os bárbaros que invadiram Roma matavam os filhos dos romanos, né? Não matavam os seus próprios. Agora somos bárbaros tecnologizados, né? O que dá um caráter de verniz, né? Olha que maravilha! Hoje eu sou capaz, com um clique, né, de fazer uma operação tal. De que adianta esta merda se eu não olho para quem está diante de mim, né,
com o mínimo de benevolência? Se eu não sei me relacionar com as pessoas, se eu delego ao Estado as decisões mais importantes da minha vida? Que desgraça! Então, assim, pedir perdão e ser perdoado são duas das coisas mais extraordinárias da vida humana. A inteligência artificial não pede perdão a ninguém. É a fotografia do pardal que está aqui na Cidade do Rio: a indústria das multas. Antigamente, posso dizer isso, que eu já vou fazer 59, portanto já não sou nenhum garoto, peguei a época em que o trânsito do Rio, só para dar um exemplo, quem fazia
era a PM. Qual era a indicação para os PMs? Olha só a orientação: não é sair multando, é fazer o trânsito andar. E isso porque, às vezes, circunstancialmente, alguém não cumpre uma norma porque naquele momento não dá. Eu estou fugindo da polícia, não posso andar 80 km naquela via. Agora eu tenho que frear; eu tenho que acelerar para não atropelar uma criança. Ora, o pardal vai multar? A inteligência artificial não interpreta nada, ela não perdoa, não se arrepende, não é inteligência, não vai a fundo nas coisas. Ora, perdoar é ir profundamente à realidade humana, naquilo
que ela tem de mais bonito. E ser perdoado deve ser recebido por nós como uma dádiva profunda, pela qual devemos dar graças. Então, viver na esperança é fortalecer-se. Olha, agora a Netflix fez aquele filme sobre o acidente que houve na década de 70, em 1972, nos Andes: Sociedade da Neve. O acidente, eu me lembro, eu tinha 7 anos, em 72, porque isso ganhou um caráter nacional, foi manchete em todos os lugares. Chegaram a praticar antropofagia para sobreviver. O avião caiu nos Andes, um gelo, e a sobrevivência foi um verdadeiro milagre. E o que aconteceu ali?
Até o Papa Paulo VI, na época, fez um documento absolvendo aqueles que praticaram antropofagia naquele momento. Mas por que eu lembrei do filme? O filme é atual, mas tem depois um depoimento de um dos sobreviventes que diz o seguinte: eles ficaram 72 ou 71 dias na neve, em condições adversas, um frio infernal, uma fome. Um deles perdeu 43 kg, né? Eles sobreviveram em condições absolutamente desumanas. E um dos depoimentos era o seguinte: olha, se alguém dissesse para nós, no primeiro dia, no dia do acidente, na hora do acidente, que nós ficaríamos 71 dias aqui nesta
neve, nós não teríamos sobrevivido, porque a esperança precisa dos próximos 5 minutos, né? Isso sou eu quem estou dizendo. Nós precisamos de... a esperança é nosso alimento. Se eu não espero nada, a vida não tem sentido, né? Até do ponto de vista prático, coisas que eu espero e nem me dou conta de que espero. Eu espero que, ao sair daqui, haja um chão do outro lado ali do elevador. Nós vivemos com esperança, e na esperança. Então, pedir perdão é confiar na esperança. Confiar na esperança é dar um crédito ao amor. Dar um crédito a um
amor é ser profundamente humano. E mais não digo, e até a próxima. [Música] Aula ABB.
Related Videos
A Beleza e a Alma Humana - prof. Sidney Silveira
1:13:41
A Beleza e a Alma Humana - prof. Sidney Si...
Centro Dom Bosco
29,173 views
O plano secreto da Maçonaria para destruir o Brasil e a Fé! | Ação Católica #033
1:21:50
O plano secreto da Maçonaria para destruir...
Centro Dom Bosco
46,207 views
PSICOLOGIA TOMISTA | Conversa Paralela com Sidney Silveira e Rafael de Abreu
1:43:54
PSICOLOGIA TOMISTA | Conversa Paralela com...
Brasil Paralelo
57,717 views
Com a Virgem Maria venceremos as batalhas contra o Mal - Irmã Zélia - 03/03/2025
53:01
Com a Virgem Maria venceremos as batalhas ...
TV Canção Nova
768 views
John Mearsheimer, Who Predicted Russia Ukraine War, Says Pro-Zelensky Europe 'Coalition' Won't Last
18:19
John Mearsheimer, Who Predicted Russia Ukr...
CRUX
332,758 views
O filósofo que mostrou a CONEXÃO entre DEUS e a RAZÃO | Santo Tomás de Aquino
1:35:27
O filósofo que mostrou a CONEXÃO entre DEU...
Vozes Sagradas
170,821 views
Comunhão na Mão: o Triunfo da Desobediência [Filme Completo 4K]
1:46:05
Comunhão na Mão: o Triunfo da Desobediênci...
Centro Dom Bosco
146,654 views
Se morrer o Papa Francisco o que acontece? Quem será o 8º Rei da profecia Biblica? #iasd #profecias
1:36:47
Se morrer o Papa Francisco o que acontece?...
Minuto Profético
267 views
Vice President JD Vance reveals the moment the Trump-Zelenskyy meeting 'went off the rails'
13:56
Vice President JD Vance reveals the moment...
Fox News
2,936,392 views
A luz foi impressa em nós  (S. Tomás de Aquino) - Padre Paulo Ricardo - 12/07/2024
54:34
A luz foi impressa em nós (S. Tomás de Aq...
Canção Nova Play
274,136 views
As Sete Filhas da Vaidade na Era das Redes Sociais - Prof. Sidney Silveira | Liga Cristo Rei
32:22
As Sete Filhas da Vaidade na Era das Redes...
Centro Dom Bosco
20,214 views
O Demônio e a sua Insídia - prof. Sidney Silveira
1:44:38
O Demônio e a sua Insídia - prof. Sidney S...
Centro Dom Bosco
61,739 views
A Sabedoria de Santo Tomás de Aquino | Ep. #137 | com Sidney Silveira
1:57:34
A Sabedoria de Santo Tomás de Aquino | Ep....
Anima Podcast
102,674 views
As raízes católicas do Brasil - prof. Raphael Tonon
2:00:36
As raízes católicas do Brasil - prof. Raph...
Centro Dom Bosco
273,298 views
A psicologia tomista aplicada ao escrúpulo - prof. Sidney Silveira
1:22:16
A psicologia tomista aplicada ao escrúpulo...
Centro Dom Bosco
29,190 views
Full Meeting between President Trump, VP Vance and Ukrainian President Zelensky in Oval Office
49:58
Full Meeting between President Trump, VP V...
C-SPAN
4,257,833 views
Desceu aos Infernos e Ressurgiu dos Mortos I Catequese Tradicional #008
52:23
Desceu aos Infernos e Ressurgiu dos Mortos...
Centro Dom Bosco
38,593 views
Sermão de Rodrigo Silva | COMO PERDOAR
38:44
Sermão de Rodrigo Silva | COMO PERDOAR
Promessa e Bênção
107,929 views
SIDNEY SILVEIRA I Sobre a Desordem do Mundo Moderno #001
57:12
SIDNEY SILVEIRA I Sobre a Desordem do Mund...
Centro Dom Bosco
32,466 views
Jon Stewart on Trump’s Heel Turn on Zelenskyy In Favor of Putin’s New World Order | The Daily Show
24:07
Jon Stewart on Trump’s Heel Turn on Zelens...
The Daily Show
2,723,873 views
Copyright © 2025. Made with ♥ in London by YTScribe.com