JOVEM que ACABOU de ficar MILIONÁRIO, chega em casa e vê a SUA MÃE CHORANDO, ENTÃO ELE...

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Narrações Emocionantes
História - JOVEM que ACABOU de ficar MILIONÁRIO, chega em casa e vê a SUA MÃE CHORANDO, ENTÃO ELE...
Video Transcript:
Maon acordou naquela manhã sentindo que o mundo estava exatamente como sempre. O despertador tocou às 7 horas, como em todos os dias úteis, e ele, sonolento, levantou-se da cama de solteiro que ocupava no canto apertado de seu quarto. A luz do sol penetrava pelas frestas da cortina barata, iluminando levemente o pequeno apartamento de dois cômodos que ele dividia com a mãe, Laura. Ele vestiu uma camiseta amassada e caminhou até a cozinha, onde Laura já estava preparando o café da manhã. O cheiro de pão fresco e café amargo pairava no ar, e o som baixo
do rádio tocava alguma música antiga, o tipo de som que Laura gostava de ouvir enquanto cozinhava. Para Maon, aquele momento parecia parte de uma rotina que nunca mudava. — Bom dia, mãe — ele disse, esfregando os olhos ainda pesados de sono. Laura, uma mulher de aparência serena, com linhas de preocupação marcadas no rosto, sorriu calorosamente ao ver o filho. — Bom dia, meu filho! Dormiu bem? — perguntou ela, enquanto colocava um prato de pão com manteiga sobre a mesa, seguido por uma xícara de café. Maon assentiu, sentando-se à mesa e pegando o celular que repousava
ao lado de seu prato. A rotina de sempre: ele abriu as redes sociais, passou o dedo pela tela, observando as postagens, até que uma notificação chamou sua atenção. Era um alerta de sua conta de investimentos. Seu coração deu um pequeno salto, mas ele tentou ignorar a sensação de euforia prematura. Ele sabia que tinha aplicado dinheiro em criptomoedas, uma pequena quantia que conseguiu juntar com muito esforço após meses de economia. Era um investimento arriscado, mas naquela manhã ele sentia que algo estava diferente. Ao abrir o aplicativo, Maon parou. Seus olhos arregalaram, e ele teve que olhar
duas vezes para a tela, certo de que estava vendo errado. A quantia que aparecia ali era surreal: mais de R$ 1 milhão de reais. Ele piscou, apertou o telefone contra o peito por um segundo e depois olhou de novo. Estava certo. Ele tinha se tornado milionário. A incredulidade tomou conta dele. As mãos tremiam, e o café que estava prestes a levar à boca quase caiu sobre a mesa. Maon levantou-se da cadeira abruptamente, sentindo o corpo inteiro vibrar com a descoberta. — Maon, o que foi? — Laura perguntou, notando súbito o alvoroço do filho. — Mãe!
— Maon começou, sem saber exatamente como dizer aquilo. O sorriso que ele tanto segurava finalmente se abriu no rosto. — Mãe, eu não acredito! Eu... eu sou milionário! Laura secou as mãos no avental e se aproximou do filho, que segurava o celular como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Maon, com olhos brilhando, virou o telefone para mostrar a tela para a mãe. — Lembra daquele dinheiro que eu coloquei nas criptomoedas, aquele que você falou que era loucura? Mãe, eu consegui! Eu sou milionário! A voz de Maon estava cheia de uma alegria incontida. Laura
olhou para o celular e, por um momento, não soube como reagir. As mãos começaram a tremer de leve, e ela olhou nos olhos do filho, tentando processar o que aquilo significava. Eles sempre haviam vivido de forma simples; cada centavo era contado com cuidado. O fato de seu filho agora ter essa quantia absurda de dinheiro era algo além de qualquer expectativa que ela tivesse. — Isso é... É verdade? — Laura perguntou, ainda sem conseguir acreditar. — É real, mãe! — Maon riu nervoso, uma risada que misturava alívio e descrença. — Eu mal consigo acreditar! A gente
não precisa mais se preocupar com nada. Posso te dar tudo que você sempre quis, tudo que você nunca pôde ter. Vamos sair dessa casa! Você vai ter a vida que sempre mereceu! As lágrimas começaram a se formar nos olhos de Laura. Ela se aproximou de Maon e o abraçou, sentindo o coração transbordar de emoção. Ela nunca tinha se importado com riquezas, mas sabia o quanto aquele momento significava para o filho, o quanto ele havia lutado por aquilo. — Eu estou tão orgulhosa de você, meu filho! — Laura disse, com a voz embargada. Maon sorriu, sentindo
um calor no peito que ele nunca havia sentido antes. Ele havia feito aquilo não só por ele, mas por ela também. Laura era tudo para ele; ela havia criado Maon sozinha, sempre se sacrificando, sempre colocando as necessidades dele em primeiro lugar. E agora, finalmente, ele poderia retribuir tudo que ela havia feito por ele. O mundo de Maon havia mudado para sempre naquela manhã, e ele sabia que nada mais seria como antes. Maon saiu de casa com o coração acelerado, ainda tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer. Ele havia se tornado milionário, algo que parecia
impossível até alguns minutos atrás. O céu, que antes era apenas parte de sua rotina, agora parecia mais azul, mais brilhante. A sensação de liberdade começava a preencher cada parte do seu corpo; ele se sentia leve, como se todas as preocupações que carregara por anos tivessem se dissipado no ar. Desceu as escadas do pequeno prédio onde morava com a mãe, passou pelo portão e parou por um instante na rua, sentindo o vento no rosto. As ruas da periferia onde morava não pareciam diferentes, mas para ele, tudo tinha ganhado um novo significado. Naquele instante, Maon sentiu que
o mundo estava aos seus pés, e a primeira coisa que queria fazer era compartilhar essa sensação. Queria gritar para todos: "Eu venci! Eu consegui!" Enquanto caminhava, Maon pensava em tudo o que poderia fazer com aquele dinheiro. Primeiro, tiraria a mãe daquele apartamento minúsculo e cheio de problemas. Ela merecia uma casa grande, espaçosa, com um jardim, algo que sempre sonhou, mas nunca teve condições de realizar. Também poderia ajudá-la a realizar antigos sonhos que foram adiados por anos de luta e sacrifício. O telefone vibrou em seu bolso, interrompendo seus devaneios. Ele pegou o celular e viu que
tinha recebido uma mensagem de seus amigos Davi e Bruno, no grupo de sempre. Eles o chamavam para... Sair à noite, como faziam em qualquer sexta-feira, mas dessa vez tudo seria diferente. Maon riu sozinho, sabendo que ninguém tinha ideia da mudança que acabara de acontecer. Respondeu rapidamente: "Hoje vai ser por minha conta. Prepare-me!" Ele já imaginava a reação deles quando contasse sobre sua nova realidade, e o pensamento de como suas vidas também poderiam mudar o deixou ainda mais empolgado. Decidido a comemorar, Maon resolveu voltar para casa para se arrumar e organizar as ideias. Apesar da excitação,
sentia uma certa ansiedade no peito; ainda era difícil acreditar que aquela nova fase de sua vida estava começando. Mas a sensação de que algo grande estava por vir era inegável. Ao chegar na esquina de casa, o som de risadas e vozes familiares chamou sua atenção. Maon parou e olhou à frente; sua mãe, Laura, estava sentada na frente do prédio, conversando com Dona Sida, a vizinha de longa data. As duas tinham uma relação próxima e Laura frequentemente conversava com ela nas tardes para passar o tempo e compartilhar histórias da vida. Maon sorriu ao ver a mãe
rindo, aliviado por saber que as preocupações dela logo seriam coisa do passado. Ele se aproximou lentamente, ainda tentando controlar a avalanche de emoções que crescia dentro de si. "Oi, mãe! Voltei", ele disse, chamando a atenção das duas mulheres. Laura virou-se, surpresa, e soltou uma risada leve: "Você voltou rápido, Maon! Aconteceu alguma coisa?" Ela perguntou, ainda com sorriso nos lábios. Maon respirou fundo, seu coração batendo forte novamente; ele precisava contar a ela. Precisava que ela entendesse que a vida dos dois tinha mudado para sempre. Ainda segurando o celular, ele se aproximou, sentindo a energia pulsar: "Mãe,
eu sei que parece loucura, mas..." Ele fez uma pausa, procurando as palavras certas para uma notícia tão inacreditável. "Eu acabei de me tornar milionário!" Dona Cida soltou uma risada antes de se recompor, pensando que Maon estava brincando. Laura, por sua vez, franziu a testa, confusa. "Maon, do que você está falando?" Ela perguntou, olhando para ele com um misto de curiosidade e preocupação. "É sério, mãe! O investimento que eu fiz nas criptomoedas deu certo. Eu tenho mais de R$ 1 milhão de reais agora! Está tudo aqui!" Ele mostrou o celular, ainda aberto na tela do aplicativo
de investimentos. "Eu estou falando sério! A nossa vida vai mudar para sempre." O sorriso de Laura se desfez por um momento enquanto ela pegava o telefone com as mãos trêmulas. Seus olhos se fixaram nos números, e o que ela viu fez seu coração disparar. Era real! O filho dela, que ela tanto se esforçou para criar e educar, havia conseguido algo extraordinário. As lágrimas encheram seus olhos. Maon, a voz dela saiu fraca, carregada de emoção: "Isso é... é inacreditável! Meu Deus! Filho, você conseguiu!" Sem pensar duas vezes, Laura o puxou para um abraço apertado, o tipo
de abraço que dizia tudo o que as palavras não conseguiam expressar. Ela estava orgulhosa, emocionada, e acima de tudo, aliviada. Toda a luta, os sacrifícios, as noites sem dormir, tudo fazia sentido agora. Ela sempre soube que seu filho era especial, mas vê-lo alcançar algo tão grandioso era um sonho realizado. Dona Sida, que havia ficado quieta, observava a cena sem conseguir acreditar: "Milionário!" Ela murmurou, rindo nervosa. "Ah, Maon, você sempre foi um bom menino. Deus abençoe você, rapaz!" Maon, ainda abraçado à mãe, sentiu uma onda de gratidão e realização tomar conta dele. Ali, naquele pequeno momento,
ele percebeu que o dinheiro era importante, sim, mas o que realmente importava era a chance de dar à sua mãe a vida que ela sempre mereceu: a vida que ela nunca teve. O caminho à frente era incerto, mas uma coisa era certa: nada mais seria como antes. Maon havia vencido, e essa vitória pertencia tanto a ele quanto a Laura, a mulher que esteve ao seu lado em todos os momentos. Agora, ele estava pronto para enfrentar tudo que viesse. Maon ainda estava em êxtase após a revelação do seu sucesso. Ele e Laura passaram o restante da
tarde fazendo planos, imaginando todas as formas de transformar suas vidas com aquele dinheiro inesperado. A ideia de poder mudar de casa, de finalmente proporcionar à mãe o conforto que ela merecia, era algo que o enchia de uma felicidade indescritível. Depois de anos de lutas e sacrifícios, tudo estava prestes a melhorar. No entanto, conforme a noite caiu, Maon começou a notar algo diferente em Laura. Ela, que havia passado a tarde sorrindo e rindo com ele, agora parecia mais distante, com olhar fixo em um ponto qualquer da sala, como se sua mente estivesse longe. Maon tentou ignorar
aquilo no começo, pensando que talvez ela estivesse apenas cansada. Afinal, a emoção do dia tinha sido grande para ambos. Contudo, conforme as horas passaram, a postura dela não mudou. Laura estava mais quieta do que o normal, e a expressão de alegria que havia mostrado anteriormente foi lentamente sendo substituída por algo que Maon não conseguia definir. De imediato, ele decidiu deixar para lá, dando espaço para que ela processasse tudo que havia acontecido. Maon se sentou no sofá com o celular na mão, ainda revisitando a tela de seu investimento, como se aquilo pudesse desvanecer a qualquer momento.
As mensagens dos amigos continuavam chegando, todos animados com a promessa de uma noite de celebração. Era para ser um dia perfeito, sem espaço para preocupações, mas a tensão crescente na sala o incomodava. Laura, ainda sentada à mesa da cozinha, agora segurava uma xícara de chá nas mãos, mas parecia alheia ao ambiente. O som do rádio, que tocava baixo no fundo, não chegava aos seus ouvidos. Seus olhos, antes brilhantes de emoção, agora estavam marejados. Maon percebeu que, apesar de todo o sucesso que ele alcançara naquele dia, algo estava profundamente errado. "Mãe, está tudo bem?" ele perguntou,
finalmente rompendo o silêncio. Laura, surpreendida pela pergunta, tentou disfarçar e limpou rapidamente os olhos, evitando encará-lo diretamente. "Está sim, meu... "Filho," ela respondeu com a voz baixa e um sorriso fraco, "só estou um pouco cansada. Foi muita coisa para um dia só, não acha?" Maon sabia que havia algo mais; ele conhecia a mãe como ninguém, e aquele olhar, aquelas lágrimas silenciosas revelavam um peso que ela estava tentando esconder. Ele se levantou do sofá e se aproximou dela, parando ao lado da mesa e inclinando-se para que seus olhos encontrassem os dela. "Mãe, fala comigo. Eu sei
que tem alguma coisa te incomodando. O que está acontecendo?" ele disse com carinho, colocando uma mão sobre a dela, que ainda segurava a xícara de chá. Laura desviou o olhar por um momento, como se estivesse lutando internamente para decidir se devia ou não abrir seu coração. Maon continuava ali, paciente, esperando que ela se sentisse à vontade para compartilhar o que quer que fosse. O silêncio entre os dois era quase palpável. Finalmente, Laura suspirou profundamente e, com a voz embargada, começou a falar. "Maon, eu estou tão feliz por você. Você não imagina o quanto estou orgulhosa
em ver você realizar seus sonhos, alcançar algo tão grande." Ela fez uma pausa, tentando controlar as lágrimas, "mas ao mesmo tempo, tudo isso me faz lembrar de coisas que eu tentei esquecer por muito tempo." Maon franziu a testa, sem entender completamente o que ela queria dizer. Sentou-se à mesa ao lado dela, segurando sua mão mais firmemente. "Que coisas, mãe?" ele perguntou suavemente. "O que você está tentando esquecer?" Laura hesitou, mas sabia que aquele momento era inevitável. Ela não podia mais guardar o segredo que há tanto tempo pesava em sua alma. Talvez fosse a hora de
Maon finalmente saber a verdade. "Filho, tem algo que eu nunca te contei porque eu achei que era o melhor para você. Eu tentei te proteger." As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Laura, e ela não conseguia mais contê-las. "Mas agora, vendo você se tornar esse homem incrível, eu não posso mais esconder isso de você." Maon sentiu seu coração apertar; ele jamais imaginaria que, naquele dia de vitória, estaria diante de uma revelação tão séria. Não conseguia imaginar o que sua mãe estava prestes a contar, mas o tom de sua voz e a tristeza em seus
olhos deixavam claro que não era algo simples. "Mãe, o que você está querendo dizer?" ele perguntou, agora mais preocupado do que nunca. Laura enxugou as lágrimas com as costas das mãos e respirou fundo, tentando encontrar forças para continuar. "Seu pai," ela começou, e Maon imediatamente sentiu um frio na espinha ao ouvir aquelas palavras. O pai, o homem que ele nunca conheceu, sempre foi um mistério em sua vida. Laura sempre fora vaga sobre o assunto, dizendo apenas que ele havia ido embora antes de Maon nascer e que era melhor assim. "Eu nunca te contei a verdade
sobre ele," continuou Laura com a voz trêmula. "A verdade é que ele não foi embora por conta própria. Ele foi tirado de nós." Maon ficou em silêncio, sentindo seu mundo virar de cabeça para baixo. Ele sempre achou que seu pai os abandonara; a ideia de que ele tinha sido tirado, de que havia algo muito maior por trás da ausência dele, era algo que ele nunca havia considerado. "Como assim, mãe? O que aconteceu com ele?" Maon perguntou, a confusão tomando conta de seus pensamentos. Laura respirou fundo mais uma vez, sabendo que agora não havia mais volta.
Ela teria que contar tudo sem omitir nada; o peso do segredo que carregava há tanto tempo finalmente estava prestes a ser revelado. "Ele foi envolvido em algo muito perigoso, algo que eu tentei te manter longe a vida toda," disse ela, olhando nos olhos do filho. "E agora, com essa notícia, com o dinheiro, eu tenho medo de que isso tudo traga de volta o que eu mais temi." O silêncio que se seguiu à confissão de Laura era denso. Quase Maon ainda tentava processar as palavras da mãe: "Ele foi tirado de nós..." ecoavam em sua mente como
uma frase que ele não conseguia entender completamente. Seu pai, que ele sempre acreditou ter os abandonado, era agora parte de uma história mais sombria, mais complicada do que ele jamais imaginara. Laura mantinha o olhar baixo, os olhos vermelhos das lágrimas que ainda não haviam secado. Ela segurava a xícara de chá com as mãos trêmulas, como se aquele pequeno objeto fosse sua única âncora no mar de emoções que ameaçava engolir. Maon, por sua vez, sentia seu coração pesado, repleto de perguntas. Ele não sabia por onde começar, mas sabia que precisava entender, precisava saber a verdade. "Mãe,"
começou ele, a voz baixa, quase um sussurro, "o que você quer dizer com isso? O que aconteceu com meu pai?" Laura fechou os olhos por um instante, como se reunindo forças para contar o que por anos havia guardado. Maon sempre havia sido a luz da sua vida, e por mais que ela soubesse que ele um dia precisaria conhecer a verdade, evitou esse momento ao máximo que pôde. Mas agora, com Maon milionário e suas vidas mudando tão repentinamente, ela temia que fantasmas do passado viessem à tona, trazendo perigos dos quais ela tentou proteger o filho a
qualquer custo. Ela colocou a xícara de chá sobre a mesa com cuidado e finalmente encarou Maon, seus olhos cansados refletindo a dor que ela carregava. "Seu pai," começou Laura, hesitando novamente, "ele não foi embora porque quis. Ele foi envolvido em algo que saiu de controle, algo perigoso." Maon ficou imóvel, os olhos fixos na mãe, sem conseguir dizer nada. Ele esperava uma explicação, qualquer coisa que fizesse sentido. Desde criança, ele fantasiava sobre o pai, sobre quem ele era, sobre por que nunca esteve presente, mas nada o preparou para o que estava prestes a ouvir. "Quando eu
conheci seu pai, ele não era a pessoa que você imagina. Ele era um bom homem, trabalhador, sonhador, mas também..." Era impulsivo e, em certo momento, começou a se envolver com gente errada, buscando dinheiro fácil. Laura olhou para baixo, sua voz embargada com a memória dolorosa: "Eu tentei afastá-lo disso, mas eu tentei, mas ele não me ouviu." "O que aconteceu, mãe?" perguntou Maon, a voz grave e cheia de ansiedade. Ele sabia que estava prestes a ouvir algo que mudaria tudo que ele acreditava até aquele momento, mas precisava saber. Laura passou a mão pelos cabelos, tentando organizar
os pensamentos, como se a história que estava prestes a contar fosse tão dolorosa que não conseguia sequer lembrar sem sofrer. "Seu pai... ele acabou se envolvendo com pessoas que faziam parte de um esquema de tráfico." A voz dela quase falhou ao dizer essas palavras. "Ele não queria participar diretamente, mas foi atraído para aquele mundo. Quando ele percebeu o tamanho do problema em que havia se metido, já era tarde demais. Ele estava devendo dinheiro para gente perigosa, e eles não iam deixá-lo sair facilmente." Maon sentiu o estômago revirar. Tráfico? Ele nunca poderia ter imaginado algo assim.
Seu pai, aquele homem que ele sempre viu como uma ausência inexplicável em sua vida, agora era parte de uma história criminosa. Era um choque, mas ainda faltavam peças, muitas peças. "Então, por que ele foi embora?" Maon perguntou, com os olhos arregalados, tentando entender. Laura respirou fundo e continuou, a voz entrecortada pela dor das lembranças: "Quando eu engravidei de você, ele ficou desesperado. Sabia que, com o filho a caminho, as coisas mudariam ainda mais. Ele tentou sair daquele mundo, tentou cortar os laços, mas os homens com quem ele estava envolvido não permitiram. Eles o ameaçaram, ameaçaram
me machucar, machucar você, antes mesmo de você nascer." Maon sentiu um frio correr pela espinha. A ideia de que sua mãe e ele tinham estado em perigo antes mesmo de ele ter nascido era aterrorizante. "E o que ele fez?" Maon perguntou, com a voz quase inaudível. "Ele fez o que achou que era a única solução," disse Laura, com a voz embargada. "Ele foi embora, tentou nos proteger se afastando. Achava que, se desaparecesse, essas pessoas nos deixariam em paz." Ela fez uma pausa, as lágrimas voltando a escorrer. "E, de certa forma, ele estava certo. Depois que
ele sumiu, eles nunca mais nos procuraram." O silêncio que se seguiu era pesado. Maon olhou para sua mãe, sentindo uma mistura de emoções que ele mal podia compreender: raiva, tristeza, confusão, mas, acima de tudo, uma sensação esmagadora de injustiça. Ele havia passado a vida acreditando que seu pai os tinha abandonado por escolha, que havia sido egoísta, mas a realidade era muito mais complexa e trágica. "E você nunca soube mais nada dele?" Maon perguntou, a voz rouca. Laura balançou a cabeça. "Não. Depois que ele foi embora, nunca mais tive notícias. Por anos, eu esperei uma ligação,
uma carta, qualquer coisa que me dissesse que ele estava bem. Mas nada. E, com o tempo, eu precisei seguir em frente. Maon, precisava cuidar de você. Não podia ficar presa ao passado." Maon sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Ele pensava em tudo que sua mãe havia passado sozinha, criando, enfrentando a dor de perder o homem que amava e, ao mesmo tempo, tentando protegê-lo de um mundo que ele mal sabia que existia. Ele se levantou da mesa, deu a volta e abraçou Laura com força. Sentia o peso da verdade, mas também a gratidão por tudo
que ela havia feito. Ela o havia protegido, mesmo que isso significasse carregar sozinha um fardo tão grande. "Eu sinto muito, mãe. Eu... eu não sabia," ele disse, a voz embargada. "Eu sei, meu filho," Laura o abraçou com força. "E você não precisava saber antes. Eu só queria te proteger. Mas agora, agora que você tem essa fortuna, eu fico com medo. Medo de que essas pessoas voltem. Medo de que, de alguma forma, isso traga à tona o que eu tentei esconder por tanto tempo." Maon se afastou um pouco e olhou nos olhos da mãe. "Nós vamos
ficar bem, mãe. Eu prometo. Nada vai acontecer com a gente. Agora eu tenho como nos proteger. Nada nem ninguém vai nos machucar." Laura sorriu, mas o medo persistia em seus olhos. Maon sabia que ela não se livraria dessa preocupação facilmente. Mas, naquele momento, ele fez uma promessa silenciosa a si mesmo: ele iria proteger sua mãe, custasse o que custasse. Os dias que se seguiram à revelação de Laura foram tensos e carregados de uma emoção sombria que pairava sobre a casa. Maon, que antes sentia como se estivesse no auge da vida, agora carregava um peso que
ele nunca havia imaginado. O dinheiro, que antes simbolizava liberdade, agora parecia mais uma ameaça, um ímã para atrair problemas do passado que ele mal conhecia. Cada vez que saía de casa para resolver questões com o banco ou encontrar seus amigos, havia uma sombra de preocupação no fundo de sua mente. O que ele faria se o passado que sua mãe temia realmente voltasse? Ele sabia que, com tanto dinheiro em suas mãos, a vida mudaria de maneiras que ele ainda não conseguia prever. O que Laura havia revelado sobre seu pai o assombrava. Como ele poderia se proteger
e proteger a mãe de algo que ele nem entendia completamente? Naquela tarde, enquanto voltava para casa depois de mais uma reunião no banco, Maon se sentiu inquieto. O vento soprava forte e as ruas que ele conhecia também pareciam, de alguma forma, diferentes, como se o ambiente em si estivesse mudado por causa do que ele agora sabia. Seus passos eram pesados, a cabeça cheia de pensamentos sobre o pai e sobre o perigo que sua mãe tanto temia. Ao mesmo tempo, ele se forçava a pensar em soluções práticas. Ele já havia feito planos de mudar para um
lugar melhor, em um bairro mais seguro. Mas sabia que isso não resolveria tudo o que... Ele realmente precisava entender era se ainda havia algo ou alguém de quem deviam ter medo. Quando chegou ao portão de casa, viu que Laura estava sentada na varanda, como costumava fazer ao final das tardes. Ela olhava para o horizonte em silêncio, com uma expressão distante. Maon sabia que ela ainda estava processando tudo que havia sido revelado e a culpa por ter trazido à tona memórias dolorosas pesava sobre ele. O dinheiro deveria ter trazido apenas felicidade e, no entanto, parecia ter
desencadeado uma enxurrada de lembranças sombrias. Ele respirou fundo e se aproximou. — Oi, mãe — disse ele, sentando-se ao lado dela. Laura desviou o olhar do horizonte e tentou forçar um sorriso, mas Maon conhecia aquele sorriso. Era o mesmo que ela usava quando ele era pequeno e perguntava se tudo estava bem, mesmo quando as contas estavam atrasadas e o dinheiro mal dava para comida. Era um sorriso de alguém que escondia preocupações, tentando não sobrecarregar o filho. — Oi, meu filho. Como foi a reunião no banco? — ela perguntou, tentando soar casual. — Foi tudo bem
— ele respondeu, olhando para o rosto da mãe. — Estamos quase prontos para sair daqui. Logo você vai ter a casa dos seus sonhos. Laura sentiu, mas seu sorriso vacilou. Maon percebeu que, por mais que ela estivesse feliz com a possibilidade de uma nova vida, havia algo mais profundo que a perturbava. Ela parecia distraída, presa em pensamentos que ele não conseguia alcançar. — Mãe — ele começou, hesitante. — Você ainda está pensando no que me contou sobre o pai, não é? Laura ficou em silêncio por um momento antes de balançar a cabeça lentamente. — Eu
não consigo parar de pensar, Maon. Tudo que aconteceu, tudo que eu tentei esquecer, agora voltou com tanta força. Eu me sinto como se estivesse de volta àquela época — ela suspirou e virou o rosto para ele. — E agora, com esse dinheiro, tenho medo de que as pessoas erradas voltem. Tenho medo de que, de alguma forma, eles descubram e venham atrás de você ou de nós. Maon sentiu um nó na garganta. Ele sabia que o medo de Laura não era irracional. O que o pai havia deixado para trás era um rastro de problemas, e ele
não fazia ideia de quantas pontas soltas ainda poderiam existir. — Nós vamos sair dessa, mãe. Eu vou garantir que nada de ruim aconteça — ele tentou soar confiante, mas havia uma incerteza em sua voz que ele não conseguiu esconder. — Maon, você não entende. Essas pessoas com quem seu pai se envolveu... — Laura olhou nos olhos dele, a preocupação estampada em seu rosto. — Elas não são o tipo de gente que simplesmente desaparece. Mesmo depois de todos esses anos, eu ainda me preocupo que um dia elas voltem. Maon ficou em silêncio, refletindo sobre o que
sua mãe dizia. Ele sabia que ela não exagerava sobre algo assim. A voz de Laura carregava o peso de uma experiência vivida na pele, uma luta silenciosa que ela travara para mantê-lo seguro desde a infância. Mas, por mais que estivesse assustado, ele não podia permitir que o medo os paralisasse. — Eu sei, mãe, mas agora nós estamos em uma posição diferente. Não somos mais vulneráveis como antes. Eu vou procurar ajuda. Vê se consigo entender melhor o que aconteceu com o pai e quem eram essas pessoas. Talvez a gente consiga encerrar isso de uma vez por
todas. Laura balançou a cabeça. — Eu só quero que você seja cuidadoso, Maon. Não confie em qualquer um, e, por favor, não se exponha demais. Dinheiro atrai olhares, meu filho, e nem todos eles são bons. Maon sabia que ela tinha razão. Desde que o dinheiro havia entrado em sua vida, ele sentia que as coisas ao seu redor estavam mudando, como se o mundo começasse a tratá-lo de maneira diferente. Os amigos, a família, até os estranhos com quem cruzava na rua, todos pareciam enxergá-lo de outra forma. Ele ainda não tinha certeza de como lidar com essa
nova realidade. — Eu prometo, mãe. Eu vou ser cuidadoso — ele colocou a mão sobre a dela, tentando passar a segurança que ele próprio não sentia completamente. Enquanto os dois continuavam sentados na varanda, o sol começou a desaparecer no horizonte, e o céu foi lentamente se tingindo de laranja e rosa. Laura permaneceu em silêncio, olhando para a distância, como se procurasse algo que estivesse além da vista. Maon sabia que, por mais promessas que fizesse, não conseguiria acalmar os medos de sua mãe tão facilmente, e no fundo ele também sentia o peso da incerteza. Não sabia
quem eram essas pessoas nem o que exatamente seu pai havia feito para se meter em tanta encrenca. Mas uma coisa ele sabia: precisava descobrir, não apenas para proteger sua mãe, mas para proteger a si mesmo. E, de alguma forma, sentia que isso era o início de uma nova batalha, uma batalha que ele jamais imaginou que teria que enfrentar. Enquanto a noite caía, ele fez uma promessa silenciosa: não deixaria o medo controlar suas vidas, não agora, depois de tudo que haviam passado. Naquela noite, Maon mal conseguiu dormir. A conversa com Laura continuava a ecoar em sua
mente, e cada vez que ele fechava os olhos, imaginava cenários diferentes sobre o passado sombrio de seu pai. Os detalhes eram vagos, mas a ameaça parecia tão real quanto o próprio dinheiro em sua conta bancária. Deitado na cama, ele olhava para o teto escuro, tentando traçar um plano sobre como poderia proteger sua mãe e a si mesmo de algo que ele mal compreendia. O sol começou a aparecer no horizonte, mas Maon já estava acordado há horas. Inquieto, ele sabia que precisava de respostas e que essas respostas não viriam simplesmente esperando. Precisava investigar o que realmente
tinha acontecido com seu pai, quem eram essas pessoas com quem ele se envolveu e, o mais importante, se elas ainda representavam algum perigo. Levantou-se cedo e, antes que Laura acordasse, saiu de casa decidido. O ar da manhã o recebia com um frio que fazia seu coração acelerar, mas ele estava determinado a desvendar a verdade. A manhã era fresca, mas a tensão no peito de Maon não permitia que ele relaxasse. Ele sabia que, para encontrar as respostas, teria que voltar ao passado, revisitar lugares e pessoas que até então ele nunca havia procurado. Seu primeiro destino era
o centro da cidade, onde ficava um antigo bar que, segundo Laura, seu pai frequentava na época em que tudo começou a desmoronar. Ela mencionara o lugar uma ou duas vezes quando ele era mais novo, sempre com uma pontada de tristeza e arrependimento. Era o tipo de lugar onde mais decisões eram feitas, e Maon sabia que ali talvez ele pudesse encontrar alguém que ainda se lembrasse do pai. O bar era uma construção velha, com uma fachada desgastada pelo tempo e pela negligência. A pintura, outrora vibrante, agora estava descascada, revelando concreto sujo por baixo. Maon respirou fundo
antes de entrar, sentindo o peso de cada passo enquanto atravessava a porta. Lá dentro, o ambiente era escuro, com poucas luzes piscando acima do balcão. Havia uma meia dúzia de pessoas espalhadas pelas mesas, cada uma envolvida em seus próprios problemas, alheias ao jovem que acabava de entrar. O bar tinha uma atmosfera pesada, como se carregasse as memórias de todos os erros cometidos entre aquelas paredes. Mas ele se aproximou do balcão, onde um homem idoso, de aparência cansada, secava copos com um pano. Ele usava uma camisa suja, e seus olhos carregavam o tipo de cansaço que
só anos de vida difícil podiam causar. — Com licença — disse Maon, tentando soar seguro de si, embora estivesse nervoso. O homem levantou o olhar, observando com curiosidade. — O que você quer, garoto? — disse o homem, sua voz rouca e áspera, como se ele tivesse passado mais tempo fumando do que falando ao longo dos anos. — Estou procurando informações sobre uma pessoa. Acho que ele costumava frequentar este lugar há muitos anos — disse Maon, sem rodeios. Sabia que, em lugares como aquele, ser direto era a melhor maneira de obter respostas. O barman soltou um
leve suspiro, como se estivesse acostumado a perguntas desse tipo, e voltou a secar os copos. — Muita gente passou por aqui, rapaz. Não sei se vou lembrar. Mas fala aí, quem você está procurando? — O nome dele era João. João Almeida. Ele era meu pai. O nome pareceu despertar algo no homem. Ele parou de secar os copos por um instante e olhou diretamente para Maon, avaliando-o com um olhar curioso, como se tentasse ver alguma semelhança entre ele e o homem de quem falava. — João Almeida — murmurou o barman, esfregando o queixo com a mão
calejada. — Não ouço esse nome há anos. Maon sentiu um nó se formar em seu estômago. Aquele homem conhecia seu pai. Ele estava prestes a descobrir algo, mas temia o que poderia ouvir. — Ele se meteu em problemas, não foi? — Maon perguntou, tentando soar calmo. O barman soltou uma risada seca, sem humor, antes de responder. — Problemas é pouco. Seu pai se envolveu com as pessoas erradas, garoto. Gente perigosa. Ele era um bom sujeito no começo, mas o dinheiro fácil e as promessas vazias acabaram com ele. O homem balançou a cabeça lentamente, como se
lamentasse o destino de João. — Quando ele percebeu, já estava atolado até o pescoço. E essas pessoas, quem eram elas? Ainda estão por aí? — Maon perguntou, sentindo o coração acelerar. O barman deu de ombros, como quem já viu de tudo e sabe que certos perigos nunca desaparecem completamente. — Esses caras? Eles não desaparecem, não. Eles se escondem, mudam de rosto, mudam de nome, mas estão sempre por perto. Se você está atrás dessas respostas, precisa tomar muito cuidado. — Ele fez uma pausa, seus olhos pequenos observando Maon. — Por que está querendo saber disso agora,
depois de tanto tempo? Maon hesitou por um momento. Parte dele queria mentir, dizer que era apenas curiosidade, mas sabia que aquele homem já tinha passado por muitas mentiras e sabia reconhecê-las. — Eu... eu me tornei milionário recentemente. Um investimento deu certo, e agora eu tenho dinheiro. Mas minha mãe está com medo. Ela acha que essas pessoas podem voltar por causa do que aconteceu com meu pai. O barman assentiu, como se compreendesse. Ele olhou ao redor do bar para garantir que ninguém estivesse escutando antes de se inclinar sobre o balcão. — Escuta, essas pessoas com quem
seu pai se envolveu não brincam. Se souberem que você tem dinheiro e que é filho de João Almeida, eles podem muito bem aparecer. E se aparecerem, não será para fazerem perguntas. Vai ser para cobrar velhas dívidas ou criar novas. Maon sentiu um frio na espinha. Aquilo que ele mais temia estava começando a se tornar real. O dinheiro que ele havia conquistado não trazia apenas a chance de uma nova vida, trazia também o perigo de um passado que ele nem sabia que existia. — O que eu posso fazer? — Maon perguntou, a voz carregada de ansiedade.
Ele nunca se sentira tão vulnerável, mesmo com todo o dinheiro que agora tinha. O barman suspirou novamente e balançou a cabeça. — Você vai ter que se proteger, ficar de olho em quem se aproxima, em quem está fazendo perguntas sobre você. E, mais importante, não confie em ninguém que venha do nada oferecendo ajuda. Esses caras podem ser espertos, mas são traiçoeiros. Se eu fosse você, procuraria alguém que conhecesse o meio, alguém que possa te guiar nesse caminho sem te vender para o primeiro bandido que aparecer. Maon ficou em silêncio, assimilando tudo que havia ouvido. O
bar, que parecia tão insignificante quando ele entrou, agora representava o ponto de partida para algo muito maior, algo que ele não sabia como lidar, mas que teria que enfrentar. — Obrigado — disse ele, finalmente, a voz baixa. O barman apenas assentiu e voltou a secar os copos, como se a conversa nunca tivesse acontecido. Para ele, aquele era apenas mais um jovem lidando com os fantasmas de um passado que nunca realmente desapareceu. Maon saiu do bar com o coração acelerado. Pesado. Ele sabia que o caminho à frente seria perigoso, mas agora não havia como voltar atrás.
Precisava proteger sua mãe e a si mesmo, custasse o que custasse. O passado havia voltado à tona e ele teria que enfrentar seus medos de frente, mesmo sem saber exatamente o que esperar. Maon caminhou lentamente pelas ruas do centro da cidade, depois de sair do bar, sentindo o peso da nova realidade que começava a se revelar diante de seus olhos. O que ele descobriu ali não só confirmou os medos de sua mãe, mas também trouxe à tona um senso de urgência que ele nunca havia sentido antes. As palavras do barman ecoavam em sua mente: “Essas
pessoas não desaparecem.” Ele sabia que agora qualquer passo em falso poderia colocar ele e Laura em risco. Enquanto andava, seu celular vibrou no bolso; era uma mensagem de sua mãe: “Está tudo bem? Você saiu tão cedo, está demorando para voltar.” Maon olhou para a tela por um momento, sentindo a preocupação naquelas poucas palavras. Laura sempre fora protetora, mas agora, depois de tudo que havia sido revelado, seu medo se tornava palpável. Ele digitou rapidamente uma resposta, tentando soar tranquilo: “Tudo certo, mãe! Só resolvendo algumas coisas, já estou voltando.” Ele sabia que, por mais que tentasse acalmar
Laura, a verdade era que ele mesmo não estava nada tranquilo. Havia uma tempestade dentro dele, uma mistura de ansiedade, medo e, acima de tudo, a necessidade de proteger sua mãe a qualquer custo. Maon sabia que não podia enfrentar essa situação sozinho; ele precisava de ajuda. As palavras do barman ainda soavam como aviso: “Procure alguém que conheça o meio. Alguém que possa te guiar.” Mas onde ele encontraria uma pessoa assim? Quem seria confiável o suficiente para guiá-lo em um mundo que ele mal conhecia? Decidido a não esperar que o perigo batesse à sua porta, Maon começou
a pensar em alguém que pudesse ajudá-lo. Depois de alguns minutos, um nome lhe veio à mente: Otávio. Ele não era exatamente um amigo próximo, mas era o tipo de pessoa que conhecia os becos escuros da cidade, o tipo de sujeito que entendia como as coisas funcionavam do lado de fora da lei. Otávio cresceu em um bairro vizinho e sempre foi conhecido por estar envolvido com negócios escusos, mas nunca foi pego por nada. Ele era esperto, sabia com quem lidar e, mais importante, com quem não se envolver. Se alguém pudesse lhe dar informações sobre o que
fazer a seguir, seria ele. Maon hesitou por um momento antes de enviar uma mensagem para Otávio. Não era fácil pedir ajuda a alguém como ele, mas as circunstâncias exigiam isso. “Otávio, preciso falar com você. É importante. Você pode me encontrar hoje?” Depois de alguns minutos de espera tensa, a resposta veio: “Claro, encontre-me na garagem perto da praça às 18 horas.” Maon sabia que se envolvia em algo maior do que ele, mas não via outra saída. O relógio ainda marcava pouco mais de 16 horas, então ele voltou para casa, tentando pensar no que diria a Otávio
e, ao mesmo tempo, escondendo suas preocupações de Laura. Quando chegou, Laura estava na cozinha preparando algo para o jantar. Ela olhou para ele com um sorriso cansado, mas seu olhar estava atento, como se pudesse perceber que algo estava errado. “Tudo certo, filho?” ela perguntou, tentando parecer despreocupada. “Sim, mãe. Estava resolvendo umas coisas, só isso,” ele respondeu, sorrindo de volta. “Vou sair mais tarde, mas volto antes de ficar tarde demais.” Laura sentiu, mas ele sabia que ela ainda estava preocupada. Ela podia não saber exatamente o que Maon estava fazendo, mas conhecia bem o filho e sabia
que ele estava mexendo em assuntos que o estavam consumindo. Maon subiu para o quarto, onde passou o tempo restante pensando no que diria a Otávio e nas consequências que suas ações poderiam trazer. Quando o relógio marcou 17:30, ele pegou a jaqueta, saiu de casa e seguiu em direção ao ponto de encontro. A praça onde Otávio havia marcado o encontro ficava num bairro não muito longe do centro. Era uma área que, ao cair da noite, ganhava uma aura de perigo; as pessoas evitavam passar por ali, a não ser que tivessem negócios, e Maon sabia que, ao
entrar naquele território, estava cruzando uma linha invisível. A garagem mencionada por Otávio era uma construção velha e abandonada, usada por moradores de rua e, ocasionalmente, por pessoas que preferiam manter suas atividades longe dos olhos das autoridades. Maon respirou fundo ao chegar e viu Otávio encostado em um dos pilares, fumando um cigarro. Seu semblante era relaxado, como se nada no mundo o perturbasse. “Maon!” Otávio exclamou ao vê-lo, sorrindo. “Já faz tempo, hein?” Maon assentiu, tentando manter a calma. Ele sabia que Otávio gostava de manter as coisas leves, mas aquele não era um encontro casual; ele precisava
ser direto. “Sim, faz um tempo, mas estou aqui porque preciso de sua ajuda. Algo sério.” Otávio arqueou as sobrancelhas, interessado, jogou o cigarro no chão e pisou nele. “Estou ouvindo. O que está pegando?” Maon olhou ao redor, certificando-se de que não havia ninguém perto o suficiente para escutar. “É sobre meu pai,” ele começou, baixando o tom de voz. “Ele se envolveu com gente perigosa anos atrás, antes de desaparecer. Minha mãe sempre tentou me manter longe disso, mas agora eu tenho medo e ela está com medo de que essas pessoas voltem para acertar as contas.” Otávio
ficou em silêncio por um momento, seus olhos avaliando Maon com atenção. Ele coçou o queixo, refletindo sobre o que acabara de ouvir. “Seu pai, João Almeida, né?” perguntou ele, como se estivesse confirmando suas suspeitas. Maon sentiu um leve choque ao ouvir o nome completo de seu pai sair da boca de Otávio. Ele sabia quem seu pai era, o que só confirmava a gravidade da situação. “Sim, exatamente.” Otávio balançou a cabeça lentamente. “Olha, eu ouvi algumas histórias sobre ele, mas...” Até onde sei, o pessoal com quem ele lidava na época sumiu; no entanto, se tem algo
que aprendi nesses anos, é que, quando tem dinheiro envolvido, velhos fantasmas sempre encontram um jeito de voltar. Você está certo em estar preocupado. Maon sentiu um calafrio; ele sabia que Otávio não estava exagerando. Se havia alguém que entendia como o submundo funcionava, era ele. "O que eu posso fazer para me proteger e proteger minha mãe?" Maon perguntou, a ansiedade evidente em sua voz. Otávio suspirou e cruzou os braços. "Primeiro de tudo, você precisa ficar de olho em quem se aproxima de você. Agora, com tanto dinheiro, vai ter gente de todos os lados querendo se fazer
de amigo, e muitos deles não estarão interessados em te ajudar; estarão interessados no que você pode oferecer." Ele fez uma pausa, pensando no que diria em seguida. "Segundo, você precisa entender quem eram os inimigos do seu pai e quem ainda pode estar por aí." "Como faço isso?" Maon perguntou, a preocupação crescendo. Otávio olhou ao redor, como se estivesse verificando se alguém os observava, e então se inclinou mais perto de Maon. "Há uma pessoa que pode te ajudar; alguém que já esteve envolvido nesse tipo de coisa e conhece o jogo melhor do que qualquer um. O
nome dela é Helena; ela costumava trabalhar com seu pai, mas saiu do jogo há anos. Se alguém sabe o que aconteceu com os antigos parceiros dele, é ela." Maon sentiu uma mistura de alívio e nervosismo. Finalmente havia uma pista concreta. "Mas quem é Helena, e por que ela estaria disposta a ajudá-lo? Onde eu posso encontrá-la?" Maon perguntou, decidido. Otávio deu um sorriso de canto, como se soubesse que Maon estava disposto a fazer o que fosse necessário. "Eu posso arranjar isso para você, mas te aviso: se entrar nessa, não tem volta. Você vai descobrir coisas que
talvez não queira saber." Maon sabia que não tinha escolha; ele precisava de respostas e não iria parar até descobrir toda a verdade sobre o que aconteceu com seu pai e como poderia garantir a segurança de sua mãe. "Eu estou preparado," respondeu ele, firme. Otávio assentiu e se afastou, tirando o celular do bolso para fazer a ligação que colocaria Maon frente a frente com alguém que poderia mudar tudo. "Te aviso quando estiver tudo certo," disse Otávio antes de desaparecer na escuridão da noite. Maon ficou ali parado, sentindo o peso da decisão que acabara de tomar. Agora
não havia mais como voltar atrás. Os dias que se seguiram após o encontro com Otávio foram cheios de expectativa. Maon sabia que estava em um caminho sem volta, mas a sensação de incerteza e medo que pairava no ar era inegável. A ideia de se encontrar com Helena, a mulher que havia trabalhado com seu pai e sabia mais do que qualquer outro sobre aquele mundo obscuro, o mantinha acordado à noite. Ele sabia que ao encontrá-la receberia respostas, mas também temia as verdades que viriam à tona. Otávio, fiel à sua palavra, havia providenciado o encontro. Ele enviou
uma mensagem curta na tarde seguinte com local e a hora: sábado, 20 horas, no antigo galpão perto do cais. Era um lugar isolado, longe do movimento da cidade, onde encontros discretos podiam acontecer sem que curiosos ficassem sabendo. Maon sabia que aquele local não era escolhido por acaso; era estratégico, seguro, para quem preferia se manter fora do radar. No sábado à noite, Maon se vestiu com roupas escuras e discretas, tentando passar despercebido enquanto saía de casa. Laura, sentada no sofá, percebeu sua movimentação e perguntou: "Vai sair de novo? Maon, tem saído muito ultimamente." Maon hesitou por
um momento, tentando pensar em uma resposta que não levantasse suspeitas. "Só vou encontrar alguns amigos, mãe, não se preocupe. Volto logo." Laura olhou por um momento, como se quisesse dizer algo mais, mas decidiu não insistir. Sabia que, desde que o dinheiro havia aparecido, o filho estava lidando com coisas que ela talvez não compreendesse completamente. O medo dela era constante, mas ela confiava em Maon. Ao sair de casa, Maon pegou um táxi e deu as coordenadas do galpão ao motorista. As ruas da cidade estavam movimentadas naquela noite, com luzes piscando e carros passando apressados, mas, à
medida que se aproximava do cais, o ambiente começava a mudar. O centro barulhento dava lugar a ruas mais escuras e desertas, com o som das ondas ao longe quebrando o silêncio. Quando o táxi parou diante do antigo galpão, Maon respirou fundo e pagou a corrida. O lugar era exatamente como ele imaginava: um prédio velho, com as paredes descascadas e grafites cobrindo boa parte de sua estrutura. Parecia abandonado, mas Maon sabia que aquela noite seria tudo menos tranquila. Ao se aproximar da entrada, ele notou uma única luz acesa lá dentro, um pequeno ponto de iluminação que
sugeria que alguém o esperava. Seu coração batia forte enquanto empurrava a porta enferrujada, que rangeu alto, ecoando pelo espaço vazio. O interior do galpão era grande, com colunas de concreto que sustentavam o teto alto. O cheiro de ferrugem e umidade enchia o ar, dando ao local uma aura quase sinistra. Maon caminhou até o centro do galpão, onde uma mesa velha de madeira estava posicionada sob a luz fraca de uma lâmpada pendurada. Sentada à mesa estava uma mulher que ele presumiu ser Helena. Ela era uma figura imponente, apesar da aparência simples; vestia um casaco escuro, os
cabelos presos em um rabo de cavalo, e seu rosto mostrava sinais de uma vida dura, marcas de preocupação e talvez arrependimento. Os olhos dela eram frios e avaliadores, como os de alguém que já havia visto muito e confiava pouco. "Você deve ser Maon," disse ela, sem se levantar da cadeira, mas com a voz firme e direta. "Otávio me contou que você queria me encontrar." Maon assentiu, sentindo-se levemente intimidado pela presença dela. Ele nunca tinha lidado com alguém como Helena antes, mas sabia que precisava. Ser forte mostrar que estava ali por um motivo sério. Sim, eu
precisava falar com você sobre o meu pai, João Almeida. Ele se envolveu em coisas que minha mãe nunca me contou direito e agora, com tudo que está acontecendo na minha vida, preciso entender o que houve. Minha mãe está com medo de que o passado volte para nos assombrar. Helena observou Maon por um momento, seu rosto inexpressivo, mas seus olhos revelavam que ela estava processando cada palavra com cuidado. Ela cruzou os braços sobre a mesa e suspirou. "Seu pai, João, era um bom homem, mas tomou decisões erradas," disse ela, balançando a cabeça levemente. "Ele se envolveu
com gente perigosa. Eu mesma tentei alertá-lo, tentei dizer que aquele caminho não era seguro, mas João tinha essa ideia de que poderia sair dessa com bom dinheiro e proteger a família. Claro que não deu certo." Maon sentiu um aperto no peito. Aquela era uma confirmação de que as suspeitas de sua mãe estavam certas, mas ele precisava de mais. "Quem eram essas pessoas?" perguntou ele, inclinando-se um pouco para a frente. "E eles ainda estão por aí?" Helena soltou um pequeno riso sem humor, como se a pergunta fosse quase ingênua. "Claro que ainda estão. Essas pessoas nunca
somem de verdade, só mudam de rosto, de lugar. Seu pai trabalhava para um grupo que controlava boa parte do tráfico na cidade, mas o verdadeiro problema não era só o tráfico, eram as dívidas que ele acumulou, as promessas que não conseguiu cumprir. Quando ele decidiu sair, eles não ficaram felizes. A única razão pela qual eles não vieram atrás de você e da sua mãe até agora foi porque, bem, ele desapareceu antes que pudessem usá-lo contra vocês." Maon sentiu um calafrio. Tudo o que ele temia estava se confirmando. Ele e sua mãe haviam vivido anos em
uma espécie de bolha de segurança apenas porque seu pai havia tomado a decisão de desaparecer. Mas agora, com a fortuna que ele tinha, tudo aquilo poderia estar prestes a ruir. "E agora que eu tenho dinheiro, acha que eles podem voltar?" perguntou Maon, a voz um pouco trêmula, mas ainda firme. Helena olhou para ele, os olhos penetrantes. Ela fez uma pausa longa antes de responder, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. "Se descobrirem, sem dúvida. Dinheiro sempre chama atenção, e com seu nome ligado ao de João, eles não hesitariam em vir atrás de você. Mas
não são só eles. Existem outros que podem estar de olho também. Gente que espera a oportunidade certa para cobrar antigas dívidas." Ela o encarou com intensidade. "E agora você é uma oportunidade valiosa." Maon sentiu o peso daquelas palavras como um soco no estômago. O dinheiro que deveria ter sido uma bênção agora parecia mais uma armadilha. Ele precisaria tomar cuidado com cada movimento, com quem confiava, e talvez até reconsiderar os próximos passos. "O que eu posso fazer para evitar isso?" perguntou, quase desesperado. "Não posso simplesmente desaparecer como meu pai." Helena se inclinou para a frente, o
rosto sério. "Você não precisa desaparecer, mas precisa ser inteligente. Mantenha um perfil baixo, não mostre seu dinheiro para o mundo e, acima de tudo, fique longe dos velhos contatos do seu pai. Se eles aparecerem, seja cauteloso. Eles podem vir como amigos, mas sempre haverá algo em jogo." Ela fez uma pausa e acrescentou: "E se for esperto, talvez consiga evitar o destino do seu pai." Maon assentiu, absorvendo cada conselho. Ele sabia que aquela era a verdade dura que precisava ouvir, por mais difícil que fosse. "Obrigado," disse ele finalmente, sentindo o peso do momento. "Eu só quero
proteger minha mãe. Isso é o mais importante para mim." Helena observou por mais alguns segundos antes de assentir. "Se continuar pensando assim, talvez você consiga. Agora vá, e se precisar de mais respostas, você sabe onde me encontrar. Mas lembre-se: o que você não sabe às vezes pode ser mais seguro do que o que você descobre." Maon deixou o galpão com a mente cheia de pensamentos sombrios. Ele tinha mais perguntas do que respostas, mas sabia que agora entendia melhor o perigo que o cercava. A única questão era: estaria ele pronto para enfrentá-lo? O futuro parecia mais
incerto do que nunca. Maon voltou para casa naquela noite, com o peso das palavras de Helena oprimindo sua mente. Ele caminhava pelas ruas desertas do bairro, sentindo o vento frio chicotear seu rosto, mas o que mais o incomodava era o turbilhão de pensamentos que giravam sem parar. A revelação sobre seu pai era muito mais grave do que ele jamais imaginara: as dívidas, os inimigos poderosos, o envolvimento no tráfico. Tudo isso parecia uma história distante até o momento em que Helena confirmou que esses fantasmas ainda podiam aparecer. Quando chegou em casa, a sala estava escura, exceto
pela luz da televisão. Laura estava deitada no sofá, dormindo com a cabeça apoiada em um travesseiro. Ela parecia tão tranquila que, por um breve momento, Maon sentiu uma vontade quase desesperada de protegê-la de tudo aquilo. Ele queria que ela nunca soubesse o tamanho do perigo que o cercava, mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria contar a ela a verdade. No entanto, não naquela noite. Subiu para seu quarto em silêncio, tentando não fazer barulho. Quando fechou a porta atrás de si, sentou-se na beirada da cama e deixou a cabeça cair nas mãos. As palavras
de Helena ecoavam em sua mente: "Você é uma oportunidade valiosa." Ele sabia que, com o dinheiro que tinha, os antigos inimigos de seu pai viriam nele uma chance de recuperar o que acreditavam que lhes pertencia. E Maon ainda estava tentando digerir tudo. Ele pegou o celular e olhou para a tela. Não havia nenhuma mensagem nova, nenhuma chamada. A sensação de estar sozinho nessa luta começou a pesar ainda mais. Otávio havia feito o possível para colocá-lo em contato com Helena, mas a partir de... Agora era com ele, Maon, precisaria ser mais cauteloso do que nunca. Os
dias seguintes foram uma mistura de tensão constante e tentativas de manter uma rotina normal. Maon começou a prestar mais atenção em quem se aproximava, observando qualquer movimento suspeito ao seu redor. Ele sabia que não podia confiar em ninguém, e as palavras de Helena ainda ecoavam: "Cuidado com quem chega até você; dinheiro atrai problemas." Laura percebeu que algo estava mudando no comportamento do filho. Ela ouvia-o se mover pela casa com uma expressão preocupada, sempre parecendo distante, como se carregasse um fardo invisível. Ela tentou conversar com ele várias vezes, mas Maon se limitava a responder que estava
apenas pensando em algumas coisas do trabalho. Ele não queria preocupá-la ainda mais, mas Laura conhecia seu filho bem demais para dar crédito àquelas respostas vagas. Uma tarde, enquanto Maon estava em casa revisando alguns papéis e tentando organizar sua nova vida financeira, ele ouviu Laura chamá-lo da cozinha. Maon pôs-se a conversar; a voz dela estava baixa, mas séria. Maon sabia que o momento de enfrentar a verdade com sua mãe havia chegado. Ele suspirou profundamente e caminhou até a cozinha, onde encontrou Laura sentada à mesa com uma expressão preocupada. Havia algo nos olhos dela que indicava que
aquela conversa não seria fácil. — Claro, mãe, o que aconteceu? — perguntou ele. Laura hesitou por um momento, olhando para o filho com uma mistura de preocupação e tristeza. Ela sabia que ele estava escondendo algo, algo que a inquietava mais a cada dia. Ela também sabia que o dinheiro havia mudado a vida deles de forma radical, mas a mudança não era apenas positiva. — Eu sinto que você está escondendo alguma coisa de mim, Maon. Desde que esse dinheiro apareceu, você não é mais o mesmo. Anda preocupado, distante, como se tivesse o peso do mundo nas
costas. O que está acontecendo, meu filho? Maon respirou fundo, sabendo que não poderia mais evitar aquela conversa. Sua mãe tinha razão, e ela merecia saber o que estava realmente acontecendo. Ele se sentou à mesa de frente para Laura e segurou as mãos dela. O toque de suas mãos era quente, familiar, mas ele sabia que o que estava prestes a dizer traria ainda mais preocupações. — Mãe, tem uma coisa que eu preciso te contar — começou ele, a voz baixa, quase vacilante. — Eu fui atrás de informações sobre o pai, sobre o que realmente aconteceu com
ele, e descobri coisas que você não me contou, coisas que eu precisava saber. Laura arregalou os olhos, o corpo ficando mais rígido na cadeira. Ela não sabia ao certo o que Maon havia descoberto, mas tinha medo do que viria a seguir. Ela sempre tentou proteger o filho do passado sombrio de João, mas agora percebia que não havia mais como escapar da verdade. — O que você descobriu? — perguntou ela, com a voz trêmula. Maon apertou as mãos dela com mais força, como se isso pudesse prepará-la para o impacto das palavras que estavam por vir. —
O pai... ele se envolveu com gente muito perigosa. Ele estava devendo dinheiro para pessoas poderosas envolvidas no tráfico. Quando tentou sair, foi ameaçado. Foi por isso que ele desapareceu. Maon fez uma pausa, sentindo a garganta seca. — E agora, com o dinheiro que eu tenho, eles podem voltar. Podem achar que esse dinheiro é a chance de recuperar o que perderam. Laura ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo o que acabara de ouvir. Seu rosto, antes marcado pela preocupação, agora refletia medo puro. Ela havia suspeitado de que algo assim poderia acontecer, mas ouvir da boca do
filho confirmava seus piores medos. — Então, eles podem vir atrás de você? — perguntou ela, a voz baixa, quase em um sussurro. — Sim, mãe — respondeu Maon, tentando manter a calma. — Mas eu estou me preparando. Já conversei com alguém que pode me ajudar a entender melhor o que está acontecendo e vou fazer tudo o que for possível para nos proteger. As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Laura. Ela se levantou da cadeira e abraçou Maon com força, como se aquele abraço pudesse afastar os perigos que se aproximavam. Ele sentiu o corpo da
mãe tremer contra o seu, e o coração dele se partiu. Ela havia sacrificado tanto para mantê-lo seguro, e agora tudo parecia estar desmoronando. — Eu só queria que você tivesse uma vida tranquila, Maon. Uma vida sem essas sombras — disse Laura. — Eu tentei te proteger de tudo isso — respondeu ela. — Eu sei, mãe — disse Maon, com a voz suave, segurando-a com força. — E você fez isso por muito tempo. Mas agora eu sou adulto, e eu vou te proteger. Eu vou garantir que nada aconteça com a gente. Laura recuou um pouco, enxugando
as lágrimas com as mãos. Ela olhou para o filho com uma expressão de tristeza e orgulho ao mesmo tempo. — Você cresceu tanto, meu filho — ela disse, sorrindo de leve, apesar das lágrimas. — Só quero que você tenha cuidado. Essas pessoas, elas não são como a gente. Elas jogam sujo. Maon assentiu, sabendo que a mãe tinha razão. Ele precisava estar mais atento do que nunca. Sabia que o dinheiro que havia ganho não traria apenas conforto, mas também perigos que ele ainda estava aprendendo a entender. Mas naquele momento, ao olhar nos olhos dela, sentiu que
tinha a força necessária para enfrentar o que viesse. — Eu prometo, mãe. Eu vou ser cuidadoso e vamos superar isso juntos. Laura assentiu, e então eles ficaram em silêncio por um momento, enquanto o peso da revelação pairava entre eles. Maon sabia que, a partir daquele momento, a relação deles mudaria. O segredo que havia sido revelado criaria uma nova dinâmica entre mãe e filho. Eles não eram mais apenas uma família tentando sobreviver; agora estavam unidos contra um inimigo invisível, um passado que ameaçava retornar. Maon se levantou e olhou pela janela da cozinha para a rua tranquila
lá fora. A vida continuava normalmente para todos ao redor, mas para... Ele e sua mãe, uma nova batalha havia começado. Ele só esperava estar preparado para o que viria a seguir. O telefone de Maon vibrou no bolso. Ele olhou para a tela e viu uma mensagem de Otávio: "Precisamos conversar. Algo aconteceu." Maon sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Sabia que aquela mensagem significava mais problemas; o passado estava mais perto do que ele imaginava. Maon olhou para a mensagem no telefone, sentindo o coração acelerar. O que poderia ter acontecido? Otávio era alguém que raramente demonstrava nervosismo,
então se ele dizia que precisavam conversar, era porque algo realmente importante estava acontecendo. Maon sabia que o cerco estava começando a se fechar. Ele havia olhado no passado de seu pai e agora, mais do que nunca, estava claro que as consequências desse mergulho estavam retornando com força. Respirando fundo, Maon enviou uma mensagem rápida para Otávio: "Nos encontramos no mesmo lugar em uma hora." Laura, que estava na cozinha, percebeu a inquietação no filho. Ela não perguntou nada, mas o olhar de preocupação no rosto dela dizia o suficiente. Maon lhe lançou um olhar tranquilo, mas por dentro
estava tenso. Ele sabia que não podia contar a ela sobre a mensagem de Otávio; precisava lidar com isso sozinho. Não queria expor sua mãe a mais medos e ansiedades do que ela já carregava. "Volto logo, mãe", disse ele enquanto pegava a jaqueta e se dirigia para a porta. "Maon, tenha cuidado", foi tudo que Laura conseguiu dizer. Ela sabia que, a partir daquele momento, cada saída do filho era um risco, mas confiava que ele estava fazendo o possível para mantê-los a salvo. Saindo de casa, Maon sentiu o ar fresco da noite em seu rosto. O caminho
até o local combinado com Otávio parecia mais longo do que de costume, talvez por causa da sensação de urgência que crescia dentro dele. Quando finalmente chegou ao galpão onde havia encontrado Helena dias antes, viu Otávio encostado em um dos pilares, com semblante mais sério do que o habitual. "Maon", disse Otávio enquanto se aproximava, "temos um problema." Maon respirou fundo, tentando manter a calma. "O que aconteceu?" Otávio olhou ao redor como se estivesse verificando se havia alguém por perto. Então, puxou Maon mais perto da luz que mal iluminava o galpão. "Você se lembra de quando me
pediu para descobrir mais sobre o pessoal com quem seu pai estava envolvido?", disse Otávio, mantendo a voz baixa. "Pois bem, eu fui atrás de alguns contatos antigos, gente que conhece esse tipo de coisa, e você não vai acreditar no que descobri: Roberto, o líder do grupo com quem seu pai se meteu, está de volta à cidade." O nome Roberto fez o sangue de Maon congelar. Ele nunca havia ouvido falar desse homem antes, mas sabia que se Otávio estava mencionando de forma tão séria, era porque esse Roberto representava uma ameaça real. "Quem é Roberto?", perguntou Maon,
tentando manter a calma. "E por que isso é tão importante?" Otávio balançou a cabeça lentamente, como se as palavras fossem difíceis de serem ditas. "Roberto era o chefe do grupo para quem seu pai trabalhava. Ele foi o cara que seu pai devia uma quantia absurda de dinheiro. E não era só isso: Roberto não é qualquer criminoso. Ele é o tipo de homem que não perdoa dívida. Quando seu pai desapareceu, ele ficou furioso, mas como não conseguiu encontrá-lo, decidiu que o tempo faria o trabalho por ele. Agora, com você milionário e ele de volta na cidade,
as coisas não estão nada boas para você." Maon sentiu um frio percorrer sua espinha. Tudo o que ele havia temido desde o início estava começando a se tornar realidade. A volta de Roberto significava que o passado de seu pai estava mais presente do que nunca e, com ele de volta à cidade, o foco naturalmente se voltaria para Maon. "O que ele quer?", Maon perguntou, embora soubesse a resposta. "Ele vem atrás de mim por causa do dinheiro, não é?" Otávio assentiu, cruzando os braços e olhando diretamente para Maon. "O dinheiro é parte da equação, sim. Mas
Roberto não é um cara simples. Ele não vai só querer o dinheiro; ele quer vingança. Para ele, o fato de você ser o filho de João, com tanto dinheiro agora, é como uma provocação. Roberto vai querer se vingar do que aconteceu no passado, e a única maneira de fazer isso é acertando as contas com você." Maon respirou fundo, tentando processar o que acabara de ouvir. Seu pai havia desaparecido para protegê-los, mas o fantasma dessa escolha estava de volta, e Roberto parecia ser o tipo de homem que não deixava o passado para trás. Maon sentiu uma
pressão enorme nos ombros, como se de repente toda a responsabilidade por sua segurança e a de sua mãe estivesse pesando mais do que nunca. "E agora?", perguntou Maon, olhando para Otávio em busca de orientação. "O que eu faço?" Otávio ficou em silêncio por um momento, pensando em suas palavras antes de responder. "Há duas coisas que você pode fazer", começou ele. "A primeira é desaparecer, como seu pai fez; mudar de cidade, começar de novo em algum lugar distante. Mas vamos ser realistas: você tem dinheiro e Roberto tem olhos em todos os lugares. Ele acabaria te encontrando
mais cedo ou mais tarde." Maon sabia que não era uma opção. Ele não poderia simplesmente abandonar tudo e fugir, não poderia deixar sua mãe para trás, nem viver sob constante medo de ser encontrado. "E a segunda opção?", perguntou, sabendo que aquela seria a resposta que ele teria que considerar. Otávio deu um leve suspiro antes de continuar: "A segunda opção é confrontá-lo, falar com Roberto diretamente e tentar negociar. Ele é um homem de negócios, no fundo, e talvez, se você for esperto, possa convencê-lo a aceitar um acordo. Claro, isso envolve risco; Roberto não é conhecido por
ser um cara misericordioso. Mas ele também não é completamente irracional." Maon ficou em silêncio, pensando. "Não que Otávio acabará de sugerir confrontar Roberto; a ideia de encarar um homem tão perigoso enchia-o de medo, mas, ao mesmo tempo, ele sabia que fugir não era uma opção. Ele não podia passar o resto da vida correndo, tinha que proteger sua mãe e encarar o problema de frente. — Como eu consigo falar com ele? — perguntou Myon. Finalment, Otávio ergueu uma sobrancelha, surpreso pela decisão rápida de Myon, mas sorriu levemente, admirando a coragem do jovem. — Eu consigo organizar
isso, mas você precisa estar ciente do que está pedindo. Uma vez que você entrar nessa sala com Roberto, não há garantias. Você vai precisar ser firme, mostrar que não está com medo e que está disposto a negociar em termos que ele possa aceitar. Se demonstrar fraqueza, ele vai acabar com você. Myon assentiu. Ele sabia que essa era a única saída; fugir não o salvaria. Ele teria que encarar o homem que agora se tornava o maior obstáculo em sua vida. — Faça isso, — Otávio disse a Myon, com uma determinação renovada. — Organize o encontro, eu
preciso acabar com isso de uma vez por todas. Otávio deu um leve sorriso, embora seus olhos mostrassem que ele sabia o quanto essa decisão era perigosa. — Certo, então vou fazer isso acontecer. Te aviso quando tudo estiver pronto. Myon deixou o galpão naquela noite com o coração acelerado, mas com uma estranha sensação de clareza. Ele sabia que estava caminhando diretamente para o perigo, mas também sabia que essa era a única maneira de resolver o que o passado havia deixado para ele. As sombras que cercavam sua vida precisavam ser confrontadas, e ele estava decidido a lutar
por seu futuro e o de sua mãe, custasse o que custasse. Quando chegou em casa, Laura já havia ido dormir. Myon ficou parado por um momento, observando a calma da noite que reinava dentro da casa. Ele sabia que os dias de paz estavam contados, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava tomando controle da situação. Deitou-se na cama, olhando para o teto, e a última imagem que veio à sua mente antes de pegar no sono foi a de Roberto, o homem que carregava o destino de sua família nas mãos. O confronto estava próximo
e ele precisava estar preparado para tudo que viria. A tensão no ar era palpável; Myon passava os dias com o coração apertado, esperando pelo momento que mudaria sua vida para sempre. A decisão de confrontar Roberto pesava em sua mente a cada segundo, e, enquanto aguardava o encontro que Otávio estava organizando, ele tentava manter a normalidade em sua casa, mas sabia que nada era normal. Laura, por sua vez, parecia cada vez mais inquieta. Embora Myon tentasse esconder sua ansiedade, ela sentia que algo sério estava acontecendo. Os instintos maternos sempre alertavam quando algo não estava certo, e
os últimos dias haviam sido marcados por conversas truncadas, olhares preocupados e respostas evasivas. No fundo, Laura sabia que seu filho estava enfrentando algo muito maior do que havia compartilhado com ela. Uma tarde, enquanto Myon estava no quarto revisando seus papéis de negócios e tentando organizar sua nova vida financeira, Laura entrou sem avisar. Ela estava com uma expressão resoluta, algo que Myon não via há muito tempo. — Myon, nós precisamos conversar agora, — a voz dela estava firme, deixando claro que não aceitaria mais desculpas. Myon suspirou e colocou os papéis de lado, olhando para a mãe.
Ele sabia que não conseguiria manter o segredo por mais tempo. Havia uma linha invisível que ele não poderia mais cruzar. Laura merecia saber o que estava acontecendo. — Tudo bem, mãe, — disse ele com a voz baixa. — Sente-se. Laura obedeceu, puxando uma cadeira e se sentando de frente para o filho. O silêncio pairou por alguns segundos, e Myon sabia que aquela seria uma conversa difícil. — O que está acontecendo, Myon? — Laura perguntou, sem rodeios. — Eu sei que você está tentando me proteger. Mas eu sou sua mãe, não posso simplesmente ficar aqui vendo
você se afundar em preocupações e não saber a verdade. Myon respirou fundo, sentindo o peso das palavras de sua mãe. Ele sabia que não poderia mais fugir da realidade. — Mãe, eu fui atrás de informações sobre o pai, como te disse antes, mas as coisas ficaram mais complicadas do que eu esperava, — começou ele, tentando organizar os pensamentos. — Descobri que Roberto, o homem para quem o pai devia dinheiro, está de volta à cidade. Ele soube do meu dinheiro e vai vir atrás de mim. O choque atravessou o rosto de Laura como uma faca. Ela
não esperava ouvir aquele nome novamente, e, ao mencioná-lo, Myon fez com que o passado voltasse à tona com uma força devastadora. — Roberto, — Laura sussurrou, como se a simples menção do nome trouxesse consigo todo o medo que ela havia guardado durante anos. — Myon, você sabe quem ele é? O que ele fez com seu pai? — Eu sei, mãe, sei que ele não é uma pessoa comum. Otávio me contou tudo, e agora, com o dinheiro que tenho, ele vai querer se vingar, vai querer o que acha que o pai lhe devia e, provavelmente, muito
mais. Laura começou a chorar silenciosamente, o medo tomando conta de cada parte de seu ser. Ela sabia mais do que ninguém do que Roberto era. Paz, João, o pai de Myon, havia se envolvido em uma teia de dívidas e ameaças que, no final, o levou a desaparecer para proteger sua família. Ela sempre soube que Roberto era implacável, mas não imaginava que, depois de tantos anos, ele ainda carregaria essa sede de vingança. — Você não pode enfrentar esse homem, Myon! — Laura exclamou, sua voz agora carregada de desespero. — Ele vai acabar com você, assim como
fez com seu pai. Eu tentei te proteger desse mundo, mas agora tudo está voltando e eu... eu não sei o que fazer. Myon se levantou e caminhou até Laura, ajoelhando-se ao lado dela. Ele segurou as mãos dela e, em um momento de conexão entre mãe e filho, um novo entendimento surgiu." Mãos da mãe, com força, olhando-a nos olhos, a dor no rosto dela era clara, mas ele sabia que, para enfrentarem isso juntos, ela precisaria confiar em sua força. — Mãe, eu sei que isso é assustador. Eu também estou com medo, mas não posso fugir. Não
posso fazer o que o pai fez e simplesmente desaparecer. Ele fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. — Eu vou enfrentar Roberto, mas não vou sozinho. Vou tentar negociar, vou encontrar uma solução. Sei que ele é perigoso, mas eu não sou mais uma criança. Eu posso lidar com isso. Laura balançou a cabeça, as lágrimas caindo livremente. — Agora não sei se você pode. Maon, esse homem destrói vidas! Ele não vai querer só o dinheiro; ele vai querer te destruir, assim como fez com seu pai. Você não entende o tipo de pessoa com quem está
lidando. Maicon apertou as mãos da mãe ainda mais forte, tentando transmitir a ela a segurança que ele próprio não sentia completamente. — Mãe, eu sei que ele é perigoso. Sei que isso é maior do que qualquer coisa que já enfrentei. Mas agora eu tenho recursos, tenho pessoas como Otávio e Helena para me ajudar a entender como isso funciona e, acima de tudo, eu tenho você. Não vou permitir que ele destrua o que nós construímos; vou proteger a nossa família. Laura olhou para Maon com olhos marejados, dividida entre o medo e o orgulho. Por mais que
temesse o que estava por vir, ela sabia que Maicon não era mais o garoto que ela havia criado sozinha. Ele havia se tornado um homem forte, decidido a lutar pelas pessoas que amava. E mesmo com o perigo à espreita, ela precisava acreditar que ele seria capaz de enfrentar o que quer que estivesse por vir. — Eu confio em você, Maon — disse ela, a voz fraca —, mas por favor, tenha cuidado. Prometa que vai ser cauteloso. Eu não suportaria perder você também. Maon abraçou-a com força, sentindo as lágrimas de sua mãe molharem em seu ombro.
Ele sabia que a promessa que estava prestes a fazer era pesada, mas não havia outro caminho. — Eu prometo, mãe. Vou fazer o possível para nos manter seguros. Eu não vou deixar que nada aconteça com você nem comigo. Eles ficaram assim por um tempo, em silêncio, enquanto a noite caía lá fora. O peso do dinheiro que Maon havia conquistado, que antes parecia a resposta para todos os seus problemas, agora era o fardo que ele precisaria carregar com sabedoria e cautela. Na manhã seguinte, Maon recebeu uma mensagem de Otávio: "O encontro está marcado para amanhã à
noite. Ele aceitou conversar." O estômago de Maon se revirou ao ler aquelas palavras. O momento que ele temia estava mais perto do que nunca; o encontro com Roberto era iminente, e ele sabia que não podia mais voltar atrás. Precisaria enfrentar o homem que destruiu a vida de seu pai e, de alguma forma, sair vitorioso. Mas como negociar com alguém que não conhecia o perdão? Como encarar um homem que fez do medo sua principal ferramenta? Maon sabia que a única maneira de sobreviver era ser inteligente, estratégico e, acima de tudo, mostrar que não estava intimidado. Naquela
noite, ele mal conseguiu dormir; o peso do encontro no dia seguinte o esmagava, e seus pensamentos giravam em torno das possíveis conversas, do que diria, de como agiria. Ele sabia que Roberto não era o tipo de homem que aceitava fragilidade, mas, ao mesmo tempo, ele também não podia ser imprudente. Pela primeira vez na vida, Maon estava diante de uma ameaça real: um homem que tinha o poder de destruir tudo que ele havia construído. E, mais do que nunca, ele sabia que a batalha que estava por vir seria a mais difícil de sua vida. No entanto,
uma coisa era certa: ele lutaria por sua mãe, lutaria por sua família e, de algum modo, encontraria uma forma de sair dessa tempestade. A noite chegou mais depressa do que gostaria. A cada minuto que passava, ele sentia o peso do que estava por vir. O encontro com Roberto estava marcado para às 20 horas, e o destino era um armazém abandonado perto do cais da cidade. Otávio tinha alertado que aquele lugar era território neutro, um local onde homens como Roberto se encontravam para resolver negócios sem serem notados. Maon sabia que o simples fato de Roberto aceitar
encontrá-lo ali já era um sinal de que a situação poderia se tornar imprevisível. Desde que havia recebido a mensagem de Otávio, ele se preparava mentalmente para o que viria. Era impossível evitar o medo — um medo frio e constante que apertava seu peito. Ele sabia que Roberto não era apenas um negociante perigoso; era um homem implacável que construiu seu império com ameaças, violência e vingança. Confrontar um homem como ele não era apenas uma questão de coragem, mas de estratégia e sobrevivência. Maon pegou sua jaqueta, olhou-se no espelho pela última vez e respirou fundo. Sabia que
o que estava por vir não seria fácil, mas não havia mais como voltar atrás. Esse era o momento em que ele precisaria provar para si mesmo e para Roberto que era capaz de proteger sua família e o legado que seu pai deixara para trás, por mais sombrio que fosse. Ao sair de casa, viu Laura na sala, com o rosto pálido de preocupação. Ela sabia que aquela noite seria decisiva, mas Maon não havia informado sobre os detalhes. Ela não perguntou, mas os olhos dela diziam tudo. Ele se aproximou dela e a abraçou. — Eu volto logo,
mãe. Confie em mim, vou resolver isso. Laura o segurou pelo braço por um instante, como se quisesse retê-lo mais um pouco. Ela sabia que precisava deixá-lo ir, mas o medo de perder o filho a consumia. — Por favor, tenha cuidado — ela sussurrou, com a voz embargada. Maon saiu de casa com uma sensação de urgência. A noite estava fria, o vento soprava. Forte, enquanto ele caminhava pelas ruas até encontrar Otávio, que o aguardava no mesmo ponto de encontro onde haviam se visto antes. Pronto para isso, perguntou Otávio, com o rosto sério, sem o usual ar
de despreocupado que costumava ter. — Pronto? O quanto posso estar? — respondeu Maon, tentando disfarçar a ansiedade. Otávio assentiu e abriu a porta do carro, que estava estacionado próximo. Eles seguiram em silêncio por ruas desertas, passando por becos e prédios abandonados, até chegarem ao Armazém. Maon observou a construção de longe: era grande, silenciosa, com janelas quebradas e uma aparência que gritava perigo. O coração dele batia forte no peito; sabia que, dali em diante, qualquer passo em falso poderia ser fatal. — Lembre-se — disse Otávio, virando-se para Maon enquanto desligava o motor do carro —, não
demonstre medo. Roberto é do tipo que fareja fraqueza a quilômetros de distância. Seja direto, mas respeitoso. Ele já sabe quem você é e do que você dispõe. Se souber jogar bem, talvez consiga sair dessa sem maiores problemas. Mas se ele achar que você está hesitando... Maon sentiu, entendendo que Otávio estava dizendo isso sem que ele precisasse terminar a frase. Ele não poderia se dar ao luxo de hesitar, não ali, não naquela noite. — Estou pronto — disse Maon, tentando convencer a si mesmo tanto quanto a Otávio. Eles desceram do carro e caminharam até a entrada
do Armazém. A porta de metal enferrujada rangeu alto quando Otávio a abriu, revelando um espaço amplo e escuro. No centro do lugar, havia algumas caixas de madeira empilhadas, e uma única lâmpada pendurada iluminava o que parecia ser uma mesa improvisada. Sentado em uma das cadeiras estava Roberto. Maon soubera muito sobre Roberto, mas vê-lo pessoalmente causou um impacto maior do que esperava. Ele era um homem de aparência forte, talvez com pouco mais de 50 anos, o rosto marcado por cicatrizes do tempo e de uma vida violenta. Seus olhos, porém, eram o que mais chamava atenção: frios,
calculistas, como os de um predador que avalia sua presa antes do ataque. Roberto olhou para Maon por um longo momento em silêncio, enquanto Otávio ficava próximo à porta, observando tudo. — Então você é o filho do João — disse Roberto, finalmente, com um leve sorriso que não alcançou os olhos. — Ele falava muito de você. Sabia que falava de como queria te proteger de tudo isso. Irônico, não é? Maon respirou fundo, lutando contra o medo que ameaçava dominá-lo. — Estou aqui para resolver isso de uma vez por todas, Roberto. Sei que meu pai tinha uma
dívida com você e sei que você acha que tem direito ao meu dinheiro por causa disso. Quero saber o que posso fazer para acabar com isso — disse Maon, direto, mas tentando manter a calma. Roberto olhou com curiosidade, como se estivesse avaliando sua coragem. Ele se levantou devagar, caminhando até a mesa, onde havia uma garrafa de whisky, serviu-se de um copo, tomou um gole e depois olhou para Maon novamente. — Seu pai me deve muito mais do que dinheiro — disse Roberto, com a voz baixa, mas cheia de ameaça. — Ele me traiu, tentou sair
do jogo sem pagar o preço, e agora você, com todo esse dinheiro, parece a compensação perfeita. Maon sentiu o estômago revirar, mas manteve-se firme. — Meu pai pode ter feito escolhas erradas, mas eu não vou pagar por elas. Estou disposto a negociar, mas não vou ser manipulado por você. Roberto soltou uma risada fria, como se achasse graça da ousadia de Maon. — Você acha que estamos no mesmo nível para negociar, garoto? — disse ele, aproximando-se de Maon, que não recuou. — Seu dinheiro é a única razão pela qual estou aqui ouvindo você. Se você acha
que pode sair dessa com algumas palavras bonitas, está muito enganado. Otávio, que estava próximo da porta, deu um passo à frente, observando o confronto. Ele sabia que o momento mais delicado estava chegando. — O que você quer? — Roberto perguntou, Maon decidido a não prolongar o jogo de ameaças. — Você quer o dinheiro? Diga o que é necessário para que isso acabe agora. Roberto olhou para Maon, medindo suas palavras. Ele sabia que tinha o poder na situação, mas também sabia que pressionar demais poderia complicar as coisas. — Eu quero mais do que dinheiro — disse
Roberto, com um sorriso frio. — Quero que você entenda que não pode comprar o meu perdão. O dinheiro que seu pai me devia é uma fração do que ele me tirou em respeito. Mas ele fez uma pausa, inclinando-se um pouco para a frente. — Eu sou um homem de negócios. Afinal, digamos que você me dê uma quantia generosa o suficiente para que eu considere essa dívida paga, mas também quero algo mais: quero saber que a partir de agora você está fora do caminho, sem negócios, sem interferência. Você vai sumir e esquecer que existo. Se fizer
isso, TZ e só TZ, eu deixo você em paz. Maon sentiu uma mistura de alívio e raiva. Ele sabia que Roberto não estava interessado apenas no dinheiro, mas também em garantir que sua própria autoridade não fosse desafiada. O preço seria alto, mas a segurança de sua mãe e dele próprio valia qualquer coisa. — Eu aceito — disse Maon, firme. — Vou te dar o dinheiro e sair do caminho, mas quero que saiba que, se algo acontecer com a minha mãe ou comigo, não haverá lugar no mundo onde você possa se esconder. Roberto riu novamente, mas
havia algo nos olhos dele que indicava que as palavras de Maon não foram recebidas como bravatas. Ele sabia que Maon estava disposto a lutar, mas também que tinha consciência de seus limites. — Então temos um acordo — disse Roberto, voltando a se sentar. — Quero o dinheiro na minha conta até o final da semana e lembre-se, garoto: se tentar me passar para trás, a próxima vez que nos encontrarmos será a última. Maon assentiu, sentindo o peso da noite finalmente aliviar um pouco de seus ombros. — O dinheiro estará lá — disse ele, antes de virar
as costas e sair. Sair do armazém com Otávio ao seu lado, a porta do armazém se fechou atrás deles com estrondo, e Maon respirou fundo, sentindo o ar frio da noite encher seus pulmões. Ele havia sobrevivido ao encontro, mas sabia que aquela vitória era temporária. Roberto era um homem perigoso, e confiar em suas palavras era arriscado. No entanto, por enquanto, havia conseguido proteger sua mãe e garantir sua própria segurança. Otávio olhou para ele, um leve sorriso no rosto. "Você foi bem lá dentro, Maon, mas lembre-se: Roberto é imprevisível; esse acordo pode ser só o começo
de algo maior. Fique atento." Maon sentiu, sabendo que o perigo ainda não havia passado completamente, mas, pela primeira vez em semanas, ele sentia que estava no controle de seu destino. Agora, a verdadeira luta seria manter o acordo e garantir que ele e Laura finalmente pudessem viver em paz, ou pelo menos tentar. A luz do sol da manhã entrou pelas frestas das cortinas, iluminando o pequeno quarto de Maon. Ele estava acordado há horas, pensando em tudo o que havia acontecido na noite anterior. O encontro com Roberto ainda reverberava em sua mente como um filme em câmera
lenta, cada palavra, cada gesto gravados na sua memória. O perigo que ele enfrentou era real, palpável, e a sensação de ter saído vivo daquele confronto era um alívio difícil de descrever. Mas Maon sabia que aquele alívio era temporário. Roberto havia aceitado o acordo, mas nada naquele homem sugeria que ele era alguém de palavra. Mesmo com a promessa de que a dívida estaria quitada e que ele deixaria Maon em paz, a sombra de Roberto continuaria a pairar sobre ele por um bom tempo. Ao se levantar da cama, Maon sentiu o corpo pesado, como se o estresse
dos últimos dias finalmente estivesse se manifestando fisicamente. Ele olhou para o relógio; ainda era cedo, mas ele sabia que precisava se mover, o tempo era crucial e ele não podia se dar ao luxo de atrasar o pagamento prometido a Roberto. Ele havia prometido transferir a quantia até o final da semana, e por mais que não confiasse nele, Maon sabia que um acordo precisava ser mantido ou as consequências seriam catastróficas. Depois de tomar um banho rápido e se vestir, desceu as escadas até a cozinha, onde encontrou Laura preparando o café da manhã. Ela parecia mais tranquila
do que nos dias anteriores, mas Maon sabia que a preocupação ainda estava presente, mesmo que ela tentasse disfarçar. "Bom dia, mãe," disse ele, forçando um sorriso para tentar acalmá-la. Laura olhou para ele, seus olhos buscando alguma pista sobre como as coisas tinham se resolvido na noite anterior. Ela havia ficado acordada até tarde, esperando Maon voltar, mas ele apenas lhe garantira que tudo estava sob controle antes de se retirar para o quarto. Agora, ela queria mais do que uma resposta vaga. "Bom dia, filho. Como você está?" perguntou ela, enquanto colocava uma xícara de café sobre a
mesa. Maon sentou-se e olhou para a mãe, sabendo que ela merecia saber a verdade. Ele não podia continuar escondendo os detalhes, não depois de tudo o que havia passado. "Estou bem, mãe, quer dizer, tão bem quanto eu poderia estar depois do que aconteceu ontem à noite," começou ele, tentando medir as palavras para não alarmar mais do que o necessário. "Eu encontrei Roberto. Ele concordou em negociar, mas o preço foi alto." Laura ficou em silêncio, ouvindo atentamente, mas a preocupação já estava estampada em seu rosto. "E o que ele quer, Maon? O que você teve que
prometer a esse homem?" Maon suspirou, pegando a xícara de café e girando-a entre as mãos antes de responder. "Ele quer o dinheiro, uma quantia significativa e, em troca, prometeu que vai nos deixar em paz." Ele olhou diretamente para Laura, tentando transmitir a ela a segurança que sabia que ela precisava sentir. "Eu vou fazer a transferência ainda hoje, mas depois disso tudo deve acabar." Laura balançou a cabeça, os olhos marejados, como se estivesse revivendo cada escolha que João, o pai de Maon, havia feito no passado. "Não sei, Maon, esses homens... eles nunca mantêm suas promessas. O
que me garante que depois de pegar o dinheiro ele realmente vai nos deixar em paz?" Maon entendeu a preocupação de sua mãe; ele também estava ciente do risco, mas sentia que, por enquanto, essa era sua única opção. "Mãe, eu sei que não é uma solução perfeita. Eu não confio nele, mas também sei que não temos muitas escolhas. O dinheiro pode ser o que ele precisa para se afastar, pelo menos por um tempo, e enquanto isso nós podemos pensar em outra forma de garantir nossa segurança." Ele pegou a mão de Laura sobre a mesa. "Eu prometo
que vou continuar atento. Eu não vou deixar que ele ou qualquer outra pessoa nos machuque." Laura sentiu, lentamente, ainda cheia de dúvidas, mas decidiu confiar no julgamento do filho. Ele havia mostrado força e coragem em lidar com a situação e, mesmo que ela ainda estivesse com medo, sabia que Maon faria tudo ao seu alcance para protegê-la. "Tudo bem, filho," disse ela, com a voz suave. "Eu confio em você. Só não quero que esse pesadelo continue por mais tempo." Maon ficou em silêncio, sentindo o peso da responsabilidade que carregava. Ele sabia que a paz que prometera
à sua mãe ainda estava longe, mas precisava acreditar que, com o tempo, as coisas ficariam mais fáceis. Depois do café da manhã, Maon foi até o banco. O valor exigido por Roberto não era pequeno, mas era uma fração do que ele havia conseguido com sua fortuna recente. Ele transferiu o dinheiro, sentindo um misto de alívio e desconforto ao confirmar a operação. O dinheiro, que antes representava liberdade, agora parecia uma ferramenta de negociação para sua própria sobrevivência. Ao sair do banco, Maon enviou uma mensagem para Otávio: "Dinheiro transferido. Agora vamos ver se ele cumpre a palavra."
Otávio respondeu em questão de minutos. Bom, fique atento. Roberto é imprevisível, mas por enquanto você fez o que precisava. Maon guardou o celular no bolso e começou a caminhar pela cidade, tentando liberar um pouco da tensão acumulada. O vento fresco batia em seu rosto, mas, ao contrário de dias anteriores, ele não sentia mais o peso do medo esmagando seu peito. O alívio de ter cumprido sua parte do acordo era real, mas ele sabia que o trabalho não terminava ali. Chegando em casa, encontrou Laura deitada no sofá, parecendo exausta. Maon sentou-se ao lado dela e a
abraçou. Eles não trocaram muitas palavras, mas o abraço dizia tudo: eles haviam sobrevivido a mais uma batalha. O medo ainda estava presente, mas a esperança de que poderiam superar aquilo juntos começava a crescer. Os dias seguintes passaram com uma calma inédita. Roberto não deu nenhum sinal e Maon começou a acreditar que o pior havia passado. Ele evitava sair muito de casa, preferindo passar o tempo com Laura, certificando-se de que ela estivesse tranquila e segura. A cada dia, a tensão parecia diminuir um pouco, e Maon começou a pensar que, talvez, finalmente tivesse encontrado uma forma de
deixar o passado para trás. Mas, no fundo, ele sabia que o mundo de Roberto era traiçoeiro. O dinheiro podia ter apaziguado a situação momentaneamente, mas não havia garantias de que o perigo não voltaria. Uma noite, enquanto estava sentado na varanda, olhando para as estrelas, o telefone de Maon vibrou. Era uma mensagem de Otávio: "ele recebeu o dinheiro, por enquanto tudo tranquilo, mas fique atento." Maon leu a mensagem com alívio, mas também com cautela. O dinheiro havia cumprido seu papel por hora, mas isso não significava que Roberto estava fora de suas vidas para sempre. Enquanto guardava
o celular no bolso, Maon olhou para o céu e fez uma promessa silenciosa: ele nunca mais permitiria que sua família fosse ameaçada. Se Roberto ou qualquer outra sombra do passado tentasse voltar, ele estaria pronto para enfrentá-los. Agora, com a mente mais clara e o coração mais leve, ele se preparava para a próxima fase de sua vida. Sabia que o caminho à frente ainda seria cheio de desafios, mas estava determinado a lutar por um futuro onde ele e Laura pudessem finalmente viver em paz. O sol havia começado a se pôr, pintando o céu com tons de
laranja e rosa, quando Maon recebeu a ligação que mudaria tudo. Era Otávio, mas sua voz, normalmente tranquila, agora parecia tensa e carregada de urgência. — Maon, agora tem algo acontecendo que você precisa saber — disse Otávio. Maon, que estava em casa com Laura, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo em seu instinto dizia que aquilo não era uma simples preocupação. A última vez que Otávio tinha ficado assim fora antes do encontro com Roberto, e agora parecia que a paz estava prestes a desmoronar. — Onde você está? — Maon perguntou, já se levantando e pegando a
chave do carro. — Nos encontramos no galpão de sempre. Não conte a ninguém que está vindo — disse Otávio, com a voz baixa, quase como se estivesse sendo vigiado. Maon desligou o telefone e olhou para Laura, que observava da cozinha. Ele sabia que não poderia alarmá-la. — Tudo bem, filho, só tenha cuidado — disse Laura, preocupada. Maon assentiu, deu um leve sorriso forçado e saiu. O caminho até o galpão parecia mais longo do que o habitual. A sensação de que algo estava errado não deixava e seu coração batia acelerado enquanto o carro deslizava pelas ruas
desertas. Quando chegou ao galpão, viu que a porta estava entreaberta, algo que não era normal. Otávio sempre era cauteloso e, normalmente, a porta era fechada e trancada até que ele chegasse. Maon estacionou o carro um pouco distante para não chamar atenção e saiu lentamente, observando cada detalhe ao redor. O local estava estranhamente silencioso, e a única luz que brilhava era de um pequeno letreiro. Caminhando com passos lentos, Maon entrou no galpão. O espaço amplo e vazio parecia ainda mais isolado naquela noite; o som de seus passos ecoava e ele teve a impressão de estar sendo
observado, embora não visse ninguém. — Otávio! — chamou, mantendo a voz baixa. Não houve resposta. Maon avançou mais alguns passos, sentindo o ar ficar mais pesado; a tensão no ambiente era palpável. De repente, um ruído vindo do fundo do galpão fez seu corpo todo se enrijecer. Ele virou-se rapidamente, mas não viu nada além de sombras. — Otávio! — chamou novamente, desta vez mais alto, então, uma voz vinda das sombras fez seu sangue gelar. — Você realmente achou que era tão simples assim, Maon? Maon reconheceu a voz imediatamente: era Roberto. Ele deu um passo para trás,
o coração disparando. Como ele estava ali? Otávio não havia mencionado nada sobre um novo encontro com Roberto. As luzes do galpão se acenderam de repente, revelando Roberto, que estava parado ao lado de Otávio, ambos observando Maon com olhares frios. Otávio estava diferente, seu rosto mais sério do que o habitual. Maon sentiu o estômago revirar; algo estava terrivelmente errado. — Otávio, o que está acontecendo? — Maon perguntou, tentando manter a calma, mas a desconfiança já surgia em sua mente. Otávio permaneceu em silêncio, mas Roberto sorriu de forma maliciosa. — Seu amigo aqui foi muito útil para
mim — disse Roberto, andando em direção a Maon com passos lentos e calculados. — Você realmente achou que poderia simplesmente me pagar e tudo estaria resolvido? Que esqueceria todas as dívidas, todas as ofensas? Maon sentiu o mundo desmoronar à sua volta. Otávio o havia traído; tudo aquilo era uma armadilha desde o começo. — Otávio, meu Deus! — murmurou Maon, incrédulo. — Você fez isso? Armou tudo isso para mim? Otávio finalmente falou, mas sua voz estava carregada de culpa. — Maon, eu... — ele hesitou, olhando para o chão. — Eu não tive escolha. Roberto me ameaçou.
Disse que se eu não ajudasse a trazer você aqui, ele acabaria comigo. Eu precisava... Me proteger, Maon sentiu a raiva crescer dentro de si, mas também sabia que Otávio estava em uma posição difícil. Mesmo assim, a traição doía. "E você escolheu me entregar", disse Maon com a voz firme, o olhar fixo em Otávio. "Você me vendeu para salvar sua própria pele." Roberto deu uma risada baixa, satisfeito com a atenção entre os dois. "É assim que o mundo funciona, garoto. Lealdade é uma coisa rara hoje em dia. Otávio aqui só entendeu como as coisas funcionam de
verdade. Você tem algo que eu quero", e ele fez o que era necessário. Maon sabia que estava em uma posição extremamente perigosa, estava cercado, sem saída. O galpão agora parecia um labirinto sem portas, e ele não tinha como confiar em ninguém ali. "O que você quer?", Roberto perguntou, Maon tentando ganhar tempo. "Eu já paguei o que você pediu. O acordo estava fechado." Roberto balançou a cabeça com um sorriso condescendente. "Acha mesmo que isso era só sobre dinheiro?" Ele respondeu: "O que eu quero é que você entenda que o poder não vem do dinheiro, Maon. O
poder vem do controle. E agora eu controlo você." Maon sentiu a garganta apertar. Sabia que Roberto estava jogando com sua vida e a ameaça era muito maior do que ele havia previsto. O dinheiro havia sido apenas um pedaço da equação; Roberto queria controle total sobre ele e, talvez, até sobre sua mãe. "O que você quer de mim?", Maon perguntou, tentando manter o controle da situação. "Se você já tem o dinheiro, o que mais quer?" Roberto parou de caminhar e olhou diretamente nos olhos de Maon. "Quero que você me obedeça, Maon. Quero que você se torne
parte do meu império. Seu dinheiro é apenas o começo. Com a sua ajuda, posso expandir meus negócios, limpar minha reputação, e você vai fazer isso para mim. Porque se não fizer..." Ele fez uma pausa, sorrindo cruelmente. "Eu vou atrás da sua mãe." O mundo de Maon parou por um momento. Ele sabia que Roberto não estava brincando; a ameaça à sua mãe era real, e ele não tinha como proteger Laura se Roberto decidisse agir. "Você está me dizendo que quer que eu trabalhe para você?", Maon perguntou, ainda tentando entender o jogo de Roberto. "Exatamente," disse Roberto,
satisfeito com a compreensão de Maon. "Você vai ser a minha. Essa chave vai manter as aparências, continuar sua vida normal, mas por trás de tudo, vai fazer o que eu mandar. E em troca, sua mãe e você permanecem vivos e intocados." Maon olhou para Otávio, que estava em silêncio, envergonhado pelo que havia feito. A traição de Otávio, o controle de Roberto... tudo estava se fechando ao redor de Maon como uma armadilha cuidadosamente planejada. Ele sabia que suas opções eram limitadas, mas Maon não era mais o mesmo jovem inseguro que havia começado essa jornada. Ele havia
aprendido a jogar o jogo de Roberto e, por mais perigoso que fosse, sabia que não podia se deixar controlar. Havia uma saída, mas ele teria que ser esperto e paciente. "Tudo bem," Roberto disse Maon, a voz controlada. "Eu faço o que você quer. Mas se eu fizer isso, quero garantias: minha mãe fica fora disso. Ela não pode ser tocada, nunca." Roberto observou Maon por alguns segundos, avaliando se a rendição era verdadeira ou uma farsa. Finalmente, ele assentiu, satisfeito. "Você tem a minha palavra, garoto. Desde que sigas regras, sua mãe estará segura. Agora, seja inteligente e
faça o que é certo." Maon assentiu. Mesmo que sua mente estivesse fervilhando com ideias de como sair daquela situação, ele sabia que aceitar o controle de Roberto era temporário. Precisava de tempo, precisava de uma estratégia. Enquanto Roberto e Otávio se retiravam, deixando-o sozinho no galpão, Maon sentiu uma chama de determinação crescer dentro de si. Ele havia entrado em um jogo perigoso, mas não pretendia jogar pelas regras de Roberto para sempre. Se Roberto achava que tinha o controle, Maon sabia que o verdadeiro poder estava em quem soubesse esperar o momento certo para virar o jogo, e
ele silenciosamente planejava sua vingança. Agora, mais do que nunca, ele precisava de aliados e de uma estratégia que o tirasse daquele inferno. Maon saiu do galpão sentindo o peso do mundo em seus ombros. Cada passo que dava parecia mais difícil do que o anterior, como se o chão estivesse se desfazendo debaixo de seus pés. Roberto havia conseguido o que queria, ou pelo menos achava que sim. Maon havia se rendido, concordado em obedecê-lo, mas por dentro sua mente trabalhava freneticamente em uma forma de reverter a situação. Ele não podia de jeito nenhum permitir que Roberto controlasse
sua vida ou ameaçasse sua mãe. Mas como escapar de alguém tão poderoso e implacável? O vento da noite parecia mais frio, cortando seu rosto enquanto ele caminhava até o carro de Otávio, que o esperava em silêncio. O trajeto de volta para casa foi preenchido por um silêncio opressor. Otávio não disse uma palavra, o que só aumentava a raiva de Maon pela traição do amigo. A confiança que ele havia depositado em Otávio agora parecia uma lembrança distante, algo que havia se despedaçado naquela armadilha. Quando chegaram perto de casa, Maon finalmente quebrou o silêncio. "Por que, Otávio?"
perguntou, sem tirar os olhos da estrada. Sua voz era controlada, mas cheia de mágoa. "Por que você fez isso comigo?" Otávio hesitou, como se buscasse as palavras certas, mas o peso da culpa era visível em seu rosto. "Eu não tinha escolha, Maon. Roberto me encarou. Ele ameaçou minha família. Disse que acabaria comigo se eu não te entregasse. Eu sei que isso não justifica o que fiz, mas eu precisava me proteger." Maon entendia sobre o qual Otávio estava, mas isso não fazia a traição doer menos. Otávio não era apenas um amigo; era alguém em quem ele
confiava para ajudá-lo a navegar pelos perigos daquele mundo. E agora... Essa confiança havia sido quebrada. Eu entendo que você estava com medo, disse Maon, tentando manter a voz calma, mesmo que a raiva estivesse à flor da pele, mas eu nunca teria feito isso com você. Nunca teria te vendido por segurança. Agora estamos todos no meio desse inferno, e você nos colocou aqui. Otávio permaneceu em silêncio, o olhar baixo. Sabia que não havia justificativa para o que fizera, mas a culpa agora o consumia. — Eu vou tentar consertar isso — Maon disse. Otávio finalmente falou com
a voz rouca: — Não posso desfazer o que aconteceu, mas vou te ajudar a sair dessa. Maon balançou a cabeça lentamente, sem olhar para o amigo. — Não sei se confio em você para isso, Otávio. Você me colocou nessa situação, e agora minha vida e a da minha mãe estão nas mãos de Roberto. Não posso cometer outro erro confiando na pessoa errada. Otávio assentiu, sabendo que não tinha mais o direito de pedir confiança. Maon abriu a porta do carro e saiu, sem mais uma palavra, caminhando em direção à sua casa. Sentia-se esgotado, mas sabia que
não podia parar; ele precisava de um plano. Quando entrou em casa, encontrou Laura dormindo no sofá, com o rosto iluminado pela fraca luz da televisão. A imagem de sua mãe, tão serena e vulnerável, o fez sentir uma onda de proteção ainda mais intensa. Ele sabia que não tinha o direito de desistir ou de ceder ao controle de Roberto. Laura dependia dele, e ele não iria falhar. Maon a cobriu com uma manta, tentando ser o mais silencioso possível para não acordá-la. Depois foi até a cozinha, serviu-se de um copo de água e ficou em silêncio, olhando
pela janela para o céu noturno. As estrelas pareciam mais distantes do que nunca, e pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu a verdadeira solidão de sua luta. Mas ele sabia que não podia enfrentar Roberto sozinho. Precisava de alguém que conhecesse o mundo daquele homem melhor do que ele: Helena. Ela era a única pessoa que até agora parecia ter uma compreensão real do jogo que Roberto estava jogando. Maon sabia que, se tivesse alguma chance de derrotar Roberto e recuperar o controle sobre sua vida, precisaria da ajuda dela. Na manhã seguinte, Maon pegou o telefone e
ligou para Helena. O telefone tocou várias vezes antes que ela finalmente atendesse. — Maon? — a voz de Helena estava rouca, como se ela estivesse acordando. — O que houve? Preciso da sua ajuda, Helena. Roberto me colocou em uma armadilha. Ele está me forçando a trabalhar para ele, está ameaçando minha mãe. Eu não posso deixar isso continuar — disse Maon, a voz firme, mas cheia de desespero contido. — Você conhece esse mundo melhor do que ninguém. Pode me ajudar a encontrar uma forma de sair disso? Helena ficou em silêncio por alguns segundos. Sabia que estava
ponderando os riscos, considerando o que poderia fazer e o quanto se envolveria. — Roberto não é alguém fácil de enganar — disse ela, finalmente. — Se você estiver pensando em se rebelar contra ele, precisa ter certeza de que está preparado. Ele não vai hesitar em fazer o que for preciso para manter o controle sobre você. — Eu sei disso — respondeu Maon, sem hesitar —, mas não tenho escolha. Não posso viver assim, com ele ditando cada passo da minha vida. E, acima de tudo, não posso arriscar a segurança da minha mãe. Preciso de uma forma
de me livrar dele de uma vez por todas. Helena suspirou, e Maon percebeu que ela estava tomando uma decisão difícil. — Tudo bem — disse ela, finalmente. — Mas você vai precisar jogar muito bem. Tenho algumas informações que podem te ajudar, mas precisamos nos encontrar pessoalmente para discutir os detalhes. Roberto tem olhos e ouvidos em todos os lugares, então temos que ser cuidadosos sobre onde e quando. Maon sentiu um fio de esperança se acender dentro dele. — Hoje à noite? Venha para um bar no centro, o bar da esquina, às 21 horas. É um lugar
movimentado; ninguém vai notar se estivermos lá. — E Maon, não conte a ninguém que vai me encontrar. Nem a Otávio. Maon concordou, sabia que quanto menos pessoas soubessem sobre o que ele estava planejando, melhor. Depois de desligar o telefone, Maon sentiu uma estranha mistura de alívio e ansiedade. Sabia que aquele encontro com Helena poderia ser a chave para recuperar sua liberdade, mas também sabia que estava se aproximando de uma linha perigosa. Uma vez que começasse a desafiar Roberto, não haveria volta. Ele estaria apostando tudo em um plano arriscado, mas era um risco que estava disposto
a correr. O dia passou devagar, cada hora se arrastando enquanto Maon tentava manter a normalidade. Laura, ainda sem saber o que se passava, notou a inquietação do filho, mas não o pressionou. Ela sabia que ele estava enfrentando algo grande e confiava que ele tomaria a melhor decisão para ambos. Quando a noite caiu, Maon se preparou para o encontro com Helena. Saiu de casa sem alarde, dizendo a Laura que voltaria mais tarde. O caminho até o bar da esquina parecia interminável, e o peso da responsabilidade aumentava a cada passo. Ao chegar, encontrou o bar lotado, exatamente
como Helena havia descrito. Ela estava sentada em uma mesa no canto, afastada da entrada, com uma expressão no rosto. Maon sentou-se à sua frente, tentando ignorar a adrenalina que corria por seu corpo. — Vamos começar — disse Helena, sem rodeios. — O tempo é curto, e a sua margem de erro é ainda menor. Maon sabia que a batalha estava apenas começando, mas com Helena ao seu lado, ele tinha uma chance. Uma chance de lutar contra Roberto, de proteger sua mãe e, finalmente, de recuperar sua vida. Agora tudo dependia de como ele jogaria suas cartas. Maon
sentou-se diante de Helena no bar, com a respiração pesada e o coração acelerado. O barulho das conversas ao redor parecia distante, quase abafado, enquanto ele se concentrava nas palavras que ela estava prestes a dizer. Prestes a dizer, sabia que o encontro com Helena era sua melhor chance, talvez a única, de se livrar de Roberto. Mas também sabia que o plano teria que ser executado com precisão: um passo em falso e ele e Laura poderiam pagar o preço. Helena olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estivesse prestando atenção à conversa. Sua experiência naquele mundo sombrio a
tornava cautelosa, mas também astuta; ela havia sobrevivido ao lado de homens como Roberto e agora estava disposta a ajudar Maon a fazer o mesmo, desde que ele seguisse suas instruções à risca. — Escute, Maon — começou ela, inclinando-se ligeiramente sobre a mesa —, Roberto não é o tipo de homem que se deixa enganar facilmente. Ele é esperto, calculista, e o fato de ele ter conseguido te colocar nessa posição já mostra que ele tem o controle. Mas ninguém é invencível; todo mundo tem um ponto fraco. Maon assentiu, ansioso para saber como poderiam usar essa fraqueza contra
Roberto. — Qual é o ponto fraco dele? — perguntou, a voz grave, mas firme. Ele estava cansado de ser manipulado; era hora de tomar o controle da situação. Helena fez uma pausa, olhando nos olhos de Maon antes de continuar. — O ponto fraco de Roberto é sua ganância. Ele sempre quer mais, nunca está satisfeito com o que tem: dinheiro, poder, controle... tudo isso para ele é como um vício, e esse vício pode ser a chave para derrubá-lo. Mas para isso, você vai precisar jogar o jogo dele, fazer com que ele acredite que está no controle
enquanto você manipula as peças. Maon pensou por um momento, tentando entender o que Helena estava sugerindo. Parecia arriscado, perigoso até, mas ele sabia que era necessário. — Como exatamente eu faço isso? — perguntou, tentando visualizar os passos. Helena se inclinou um pouco mais, falando em um tom que só Maon conseguia ouvir. — Você vai fingir que está aceitando as ordens dele. Vai fazer com que ele acredite que você está completamente submisso. Deixe-o sentir que venceu, que você está jogando pelas regras dele. Enquanto isso, nós preparamos o terreno para derrubá-lo. Roberto confia em poucas pessoas, e
muitas delas já estão cansadas da forma como ele faz negócios. Acredite, existem pessoas ao redor dele que ficariam felizes em vê-lo cair. Maon estreitou os olhos, surpreso. — Você está dizendo que há pessoas no círculo dele que poderiam me ajudar? Helena sorriu de leve, como se estivesse esperando essa pergunta. — Exatamente. Roberto não é invencível. Dentro do próprio círculo, há pessoas que perderam a paciência com o estilo autoritário dele. Elas não se importam com lealdade, desde que possam manter o poder e o dinheiro. E é aí que você entra: se conseguir trazer essas pessoas para
o seu lado, Roberto perderá o suporte que o mantém no controle. A ideia começou a se formar na cabeça de Maon. Ele não precisaria confrontar Roberto diretamente; em vez disso, ele o minaria por dentro, tirando debaixo de seus pés o apoio que o mantinha de pé. Mas para isso, precisaria ganhar a confiança daqueles que estavam insatisfeitos. — Como faço contato com essas pessoas? — perguntou Maon, já pensando em como abordá-las. Helena deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia. — Eu conheço algumas delas; posso facilitar as coisas para você. Mas você precisará ser discreto
e mostrar que não é uma ameaça. As pessoas ao redor de Roberto são tão gananciosas quanto ele. Se virem uma oportunidade de tirar vantagem, elas vão abraçá-la. O que você precisa fazer é oferecer algo mais atraente do que o que Roberto está oferecendo. Maon respirou fundo. Isso significava que ele teria que continuar jogando o jogo de Roberto, agindo como se estivesse submisso, enquanto secretamente construía alianças. Era perigoso, mas Helena estava certa: ninguém é invencível e a ganância de Roberto poderia ser sua ruína. — Certo, mas o que exatamente eu posso oferecer a eles que seja
mais atraente do que o que Roberto oferece? — perguntou Maon, sem saber até onde poderia ir. Helena sorriu novamente, como se estivesse esperando essa pergunta. — Segurança, poder, sem as consequências. Roberto exige lealdade absoluta e paga bem por isso, mas ele também exige riscos constantes. Se você conseguir convencê-los de que, com você, podem manter o dinheiro e o poder sem os riscos que Roberto impõe, eles vão abandonar o barco. E com as pessoas certas ao seu lado, você poderá derrubá-lo de uma vez por todas. Maon sentiu o peso da responsabilidade aumentar. A ideia de manipular
as pessoas ao redor de Roberto, usando sua própria rede contra ele, era perigosa, mas era o único caminho viável. Ele sabia que precisaria ser cauteloso, mas ao mesmo tempo decisivo. — E depois que Roberto cair? — perguntou ele, ainda pensando nos passos finais. — Como eu me livro dele de uma vez por todas? Helena fez uma pausa, sua expressão se tornando mais sombria. — Depois que Roberto perder o controle, ele vai ficar desesperado. Homens como ele, quando sentem que estão perdendo tudo, se tornam imprevisíveis. Nesse ponto, você precisará estar um passo à frente. — Ela
fez uma pausa, olhando diretamente para Maon. — Ele pode tentar te arrastar para o fundo com ele. Nesse momento, você terá que ser forte o suficiente para fazer o que for necessário; isso pode significar banir ele do mundo que ele conhece ou algo mais definitivo. Maon entendeu o que Helena estava sugerindo. Se Roberto chegasse ao ponto de perder tudo, ele se tornaria um homem perigoso, disposto a fazer qualquer coisa para sobreviver. E nesse momento, Maon precisaria estar pronto para tomar decisões difíceis. — E se eu falhar? — Maon perguntou, a voz carregada de incerteza. Helena
olhou para ele com seriedade, sem nenhum traço de hesitação. — Se você falhar, Maon, Roberto vai acabar com você. Ele não perdoa a traição e não hesitará em destruir tudo que você ama. É por isso que você precisa estar preparado para jogar até o fim. Não haverá meio termo aqui. As palavras de Helena soaram como um alerta final. Maon sabia. que, a partir daquele momento, estava entrando em um jogo mortal, onde não havia espaço para erros. Mas ele também sabia que não tinha outra escolha: se quisesse proteger sua mãe, sua vida e sua liberdade, precisaria
enfrentar Roberto com todas as armas que pudesse reunir. — Tudo bem — Helena disse, Maon determinado. — Vamos fazer isso. Helena sorriu, satisfeita com a determinação de Maon. — Ótimo! Vou entrar em contato com as pessoas certas e organizar os encontros, mas lembre-se, Maon, seja cuidadoso. Se Roberto desconfiar de qualquer coisa antes da hora, ele vai te esmagar. E, Maon, uma vez que você começa a jogar, não pode mais sair. Maon assentiu, já sentindo o peso da decisão que havia tomado. A partir daquele momento, ele seria tanto caçador quanto a presa. Teria que navegar pelas
sombras, ganhar aliados e derrubar Roberto sem que ele percebesse, até ser tarde demais. Depois de mais alguns detalhes, Maon e Helena deixaram o bar, cientes de que o tempo para agir era curto. Cada movimento precisaria ser preciso, cada passo, calculado. O destino de Maon e de sua mãe dependia de sua habilidade em manipular o jogo e, embora o medo ainda estivesse lá, ele sabia que agora tinha uma chance real. Enquanto caminhava para casa, Maon sentiu uma nova onda de determinação crescer dentro de si. Ele não era mais a vítima das circunstâncias; agora estava no controle
do próprio destino. E Roberto? Bem, ele não fazia ideia de que a verdadeira ameaça estava crescendo bem debaixo de seu nariz. Maon estava pronto para jogar. Maon caminhava pelas ruas com a mente a mil. O plano estava em andamento, mas ele sabia que a fase mais difícil ainda estava por vir. A confiança que Helena demonstrava era tranquilizadora, mas Maon sabia que, no mundo em que agora estava mergulhado, confiança era uma moeda rara. Precisava ficar atento a cada movimento, a cada palavra dita e a cada novo aliado que tentasse ganhar. Sabia que todos tinham seus próprios
interesses e ninguém estaria ao seu lado por lealdade, apenas pelo que poderiam ganhar. Ao chegar em casa, encontrou Laura preparando a comida. O cheiro de comida caseira encheu o ar, mas pela primeira vez em dias, Maon sentiu como se estivesse alheio àquilo. Ele amava sua mãe mais do que tudo e, agora, a distância entre o que ele precisava fazer e o desejo de protegê-la parecia maior do que nunca. — Oi, filho! — Laura cumprimentou com um sorriso leve, mas havia algo em seus olhos que indicava que ela sentia a tensão no ar. — Oi, mãe
— respondeu Maon, tentando disfarçar o peso que carregava. Ele se sentou à mesa da cozinha, observando Laura enquanto ela mexia as panelas. O ambiente era tranquilo, quase reconfortante. Mas Maon sabia que a paz que sentia ali era temporária; o perigo ainda estava à espreita e sua única chance era jogar o jogo com perfeição. Roberto não desconfiava ainda, mas se ele percebesse qualquer movimento estranho, Maon sabia que o destino dele e de sua mãe seria selado. — Você parece cansado, Maon. Está tudo bem? — perguntou Laura, parando por um momento para olhá-lo. Maon sorriu de leve,
sem realmente responder à pergunta. Não queria mentir, mas também não podia contar toda a verdade, não agora. — Só estou pensando em algumas coisas, mãe, mas estou resolvendo tudo. Pode ficar tranquila. Ela sentiu, embora o olhar de preocupação não tenha desaparecido completamente. O silêncio entre os dois era confortável, mas carregado com tudo o que Maon não podia dizer. Enquanto comiam, ele tentava aproveitar o momento, mas seus pensamentos estavam fixos no plano, em Roberto e nas pressas que havia feito a si mesmo. Ele faria o que fosse necessário, mas teria que ser rápido e eficiente. Depois
do jantar, Maon foi para o quarto, pegou o celular e enviou uma mensagem para Helena: "Quando podemos começar a falar com os aliados?". Minutos depois, o celular vibrou com a resposta dela: "Já fiz contato com um deles. Amanhã à noite, no mesmo bar. Vou te apresentar." Maon respirou fundo. Sabia que estava entrando em território perigoso, mas a sensação de estar se movendo, de estar avançando em direção à solução, era de certa forma reconfortante. O dia seguinte passou lentamente. Maon não conseguia se concentrar em qualquer outra coisa. Pensava em como abordaria o primeiro aliado de Helena
e, principalmente, em como poderia convencê-lo a se voltar contra Roberto. Ele sabia que aqueles homens eram movidos pela ganância e pelo desejo de poder, mas precisaria ser inteligente para oferecer algo mais do que Roberto oferecia. Esse era o verdadeiro desafio: garantir que eles vissem em Maon uma oportunidade melhor. Quando a noite caiu, Maon despediu-se de Laura com um beijo rápido e disse que sairia para resolver mais negócios. Ela não perguntou nada, mas o olhar de preocupação permanecia, o que apertou o coração de Maon. Ele sabia que estava mantendo segredos dela para protegê-la, mas isso não
tornava as coisas mais fáceis. No bar, Helena já o esperava, sentada em uma mesa discreta no fundo do salão. Como da última vez, ao lado dela estava um homem que Maon não reconhecia, mas que imediatamente exalava um ar de poder e autoridade. Ele era corpulento, com semblante duro, e usava um terno preto, contrastando com o ambiente casual do bar. Seus olhos não mostravam emoções, e isso fez Maon sentir uma onda de tensão. Helena levantou os olhos quando Maon se aproximou e fez um sinal para que ele se sentasse. — Maon, este é Ricardo — disse
ela, apresentando o homem com uma leve inclinação de cabeça. — Ele trabalha com Roberto há anos, mas ultimamente tem visto algumas coisas no comando. — Ricardo, este é Maon, o jovem de quem te falei. Ricardo observou em silêncio por alguns segundos, avaliando cada movimento de Maon. Parecia medir o quanto ele realmente poderia ser útil ou se valia a pena se arriscar para se aliar a ele. Finalmente, Ricardo quebrou o silêncio com uma voz grave e direta. — Então você quer... "Derrubar Roberto," disse ele. "Sem rodeios," Maon assentiu, mantendo o olhar firme, mesmo sentindo a pressão.
"Sim, e acredito que podemos fazer isso. Roberto está ficando descuidado e ele só se preocupa com o próprio poder, mas se trabalharmos juntos, podemos garantir que todos saiam ganhando." Ricardo cruzou os braços, claramente interessado, mas ainda cauteloso. "Você tem razão em uma coisa, garoto. Roberto está ficando ganancioso demais; ele tem ignorado as necessidades de quem o sustenta. Mas derrubá-lo não vai ser fácil. Você está lidando com um homem que controla cada movimento dentro do seu próprio império. Se ele perceber qualquer traição, será o fim." Maon sabia disso; já havia considerado o risco, mas sua determinação
era maior do que o medo. "Eu entendo o perigo, mas também sei que Roberto não é invencível. O que estou oferecendo é uma forma de mudar o jogo. Eu não quero apenas derrubá-lo; quero que vocês mantenham o que têm, sem o risco constante que ele impõe." Maon fez uma pausa, observando Ricardo com cuidado. "Se Roberto cair, vocês podem continuar no poder, mas com mais liberdade e segurança. Ele é uma âncora. Estou oferecendo um caminho para vocês se livrarem dele e continuarem crescendo." Ricardo ficou em silêncio por alguns momentos, claramente ponderando as palavras de Maon. Seus
olhos frios o analisavam, tentando perceber se o jovem tinha a coragem e a inteligência necessárias para enfrentar um homem como Roberto. "Você fala bem, garoto," disse Ricardo finalmente, com um leve sorriso. "Mas palavras não derrubam um homem como Roberto. Você vai precisar provar que é capaz. Se me envolver nisso, vou precisar de garantias de que você tem os meios para seguir em frente." Maon sabia que aquele era o momento decisivo. Ele não podia demonstrar hesitação; cada palavra tinha que transmitir confiança. "Eu tenho meios, Ricardo. Tenho informações e estou disposto a correr riscos, mas preciso de
aliados. Se você se juntar a mim, Roberto não terá mais o controle que acha que tem. Juntos, podemos virar esse jogo a nosso favor." Ricardo ficou em silêncio novamente, e Maon sentiu a tensão no ar. Aquele era o momento de decisão; se Ricardo dissesse não, o plano poderia desmoronar antes mesmo de começar. Finalmente, Ricardo descruzou os braços e olhou diretamente para Maon. "Tudo bem, garoto, estou dentro. Mas saiba de uma coisa: se isso der errado, você será o único a pagar. Eu vou garantir que Roberto caia, mas não vou cair com ele. Então, faça o
que precisa ser feito e me avise quando estivermos prontos para agir." Maon sentiu um alívio imenso, mas soube escondê-lo. Ele apenas assentiu, mantendo a postura firme. "Pode deixar, quando a hora chegar, você será o primeiro a saber." Ricardo levantou-se, trocando um último olhar com Helena, e saiu do bar sem dizer mais nada. Quando ele desapareceu na noite, Helena olhou para Maon com um sorriso leve. "Você conseguiu. Ricardo é uma peça importante no jogo de Roberto. Se ele está do seu lado, as coisas vão começar a mudar." Maon sentiu a adrenalina correndo por suas veias. Ele
havia dado o primeiro passo; agora precisava continuar, uma peça de cada vez, até que Roberto não tivesse mais chão onde se apoiar. A verdadeira guerra estava apenas começando. Maon deixou o bar naquela noite, sentindo um misto de alívio e ansiedade. Ele sabia que dar o primeiro passo e conseguir o apoio de Ricardo era fundamental para seu plano de derrubar Roberto. Mas, ao mesmo tempo, tinha plena consciência de que as próximas etapas seriam ainda mais arriscadas. Roberto não era estúpido, e se percebesse qualquer movimento suspeito, ele reagiria de forma implacável. Enquanto caminhava de volta para casa,
o ar fresco da noite o ajudava a clarear a mente. Sabia que não poderia parar agora, não podia vacilar. A cada segundo que passava, a sensação de que estava jogando um jogo de xadrez, no qual qualquer movimento errado poderia ser fatal, aumentava. Precisava ser rápido e preciso. Ao entrar em casa, encontrou Laura no sofá, lendo um livro. O silêncio na sala contrastava com a tempestade de pensamentos na cabeça de Maon. Ele parou por um momento, observando a mãe; ela parecia tranquila, alheia ao caos que se desenrolava ao redor deles. Laura sempre fora sua fonte de
força, e vê-la ali, segura, o lembrava do que estava em jogo. "Chegou tarde de novo," Maon disse ela, sem tirar os olhos do livro, mas com um sorriso suave nos lábios. "Sim, mãe, muitas coisas para resolver," respondeu ele, tentando não demonstrar a tensão que carregava. Maon se aproximou e deu um beijo na testa de Laura antes de subir para o quarto. Fechou a porta e se jogou na cama, com a mente ainda a mil. Sabia que agora tinha Ricardo a seu lado, mas precisaria de mais; Roberto ainda controlava muitas peças, e cada movimento precisava ser
milimetricamente calculado. Na manhã seguinte, Maon enviou uma mensagem a Helena, pedindo para se encontrarem novamente. Sabia que Ricardo era um começo, mas queria saber quem mais poderia ser atraído para o seu lado. Não podia deixar Roberto suspeitar de nada; cada aliado precisava ser cuidadosamente selecionado. Helena marcou o encontro para o mesmo bar à noite. Ao longo do dia, Maon tentou seguir sua rotina normal, mas era impossível ignorar o que estava por vir. O tempo parecia se arrastar enquanto ele esperava a hora de encontrar Helena. Quando finalmente chegou ao bar, Helena já estava lá, mais uma
vez sentada no canto mais discreto do lugar. Ela parecia relaxada, mas seus olhos, sempre atentos, seguiam cada movimento ao redor. "Como você está?" perguntou ela quando Maon se sentou. "Estou bem, Maon," respondeu ele. "Mas pronto. Ricardo está do nosso lado, mas sei que precisaremos de mais gente se quisermos derrubar Roberto de vez." Helena assentiu, pensativa. "Você está certo. Roberto controla muita gente através do medo e do dinheiro, mas não são todos que estão satisfeitos com ele. A ganância dele está começando a irritar algumas pessoas, e..." É aí que temos uma oportunidade: há mais duas pessoas
no círculo dele que poderiam ser úteis para nós, Raul e Vicente. Maon ouvia atentamente enquanto Helena explicava. Raul e Vicente eram figuras importantes nos negócios de Roberto, mas tinham seus próprios interesses. Eles não eram leais por amizade ou respeito e, assim como Ricardo, estavam cansados de arriscar suas vidas enquanto Roberto acumulava poder e controlava grande parte das rotas de tráfico. — Roberto continuou —, disse Helena. Ele é ambicioso, mas está começando a sentir que Roberto está tomando decisões arriscadas demais. Vicente, por outro lado, é o homem por trás da lavagem de dinheiro. Ele é discreto,
mas igualmente perigoso. Se conseguirmos trazê-los para o nosso lado, Roberto estará cercado. Maon assentiu, absorvendo todas as informações. Sabia que convencer esses dois homens seria um grande passo, mas também sabia que precisaria agir com cuidado. Se qualquer um deles desconfiasse de suas intenções, o plano poderia ruir. — Como faço o contato com eles? — perguntou Maon, decidido. Helena sorriu levemente, como se já estivesse esperando essa pergunta. — Deixe isso comigo. Eu vou preparar o terreno para os encontros. Raul pode ser mais fácil de convencer porque ele já demonstrou sinais de descontentamento. Vicente vai ser um
desafio maior; ele é mais calculista e não se move sem garantias. Mas confie em mim, vamos fazer isso acontecer. Maon concordou. Ele sabia que Helena tinha a experiência necessária para lidar com essas pessoas e, com sua ajuda, poderia construir o caminho para o sucesso. Ainda assim, a sensação de perigo constante o perseguia. Sabia que o tempo estava correndo e que cada dia que passava sem que Roberto desconfiasse era uma vitória. — Vamos com calma — Maon disse, Helena observando a atenção em seu rosto. — Quanto mais você pressiona, mais risco corre. Mas estamos no caminho
certo. Nos dias seguintes, Maon continuou agindo como se estivesse submisso a Roberto; respondia às suas mensagens, cumpria as pequenas tarefas que Roberto lhe dava e evitava levantar qualquer suspeita. A sensação de ser observado o acompanhava constantemente, mas ele sabia que precisava manter a calma. Finalmente, Helena marcou o encontro com Raul. Seria em um restaurante discreto, longe do circuito que Roberto frequentava. Maon se preparou para o encontro como se fosse um jogo de vida ou morte; e, de certa forma, era. Ele sabia que precisava convencer Raul de que se aliar a ele seria vantajoso, mas sem
parecer desesperado. O restaurante era pequeno, com poucas mesas ocupadas, o que dava a Maon a sensação de segurança. Quando entrou, avistou Raul sentado em uma mesa no canto. Ele era um homem de aparência imponente, com ombros largos e um olhar desconfiado. Maon sabia que estava diante de alguém que não confiava em ninguém. — Raul? — perguntou Maon ao se aproximar. Raul levantou o olhar e fez um gesto para que ele se sentasse. O clima estava tenso, mas Maon sabia que precisaria começar devagar. — Helena me disse que você tem algumas preocupações sobre Roberto — começou
Maon, direto. — Eu também, e acredito que podemos resolver isso juntos. Raul olhou para Maon por alguns segundos antes de responder. Sua voz era grave e carregada de ceticismo. — Você é o filho de João? Ouvi falar de você. Roberto te colocou sob controle dele e agora você quer se rebelar? — Sim, ele acha que me controla, mas estou jogando o jogo dele para ganhar tempo. E acho que você já percebeu que o jogo de Roberto está se tornando perigoso. Ele está se arriscando demais; isso coloca todos nós em perigo. Raul ficou em silêncio, refletindo
sobre as palavras de Maon. Ele sabia que Roberto estava tomando decisões cada vez mais arriscadas; isso já começava a afetar seus próprios negócios. Mas aliar-se a Maon significava traição, e traição no mundo de Roberto era sinônimo de morte. — O que você tem em mente? — perguntou Raul finalmente. Maon respirou fundo. Sabia que aquele era o momento decisivo. — Se Roberto cair, você mantém o controle sobre as rotas de tráfico, mas sem os riscos que ele impõe. Podemos tirar Roberto de cena e dividir o poder de forma que todos ganhem. Ele não precisa mais controlar
tudo, Raul; você sabe disso. Raul apertou os lábios, ponderando as palavras de Maon. Era óbvio que ele via o sentido no que Maon dizia, mas ainda hesitava. — E se der errado? — perguntou, com os olhos fixos em Maon. — Não vai dar errado — respondeu Maon com confiança. — Já temos Ricardo do nosso lado e vamos trazer Vicente também. Com você e eles ao meu lado, Roberto não terá mais onde se segurar. Raul olhou para Maon por mais alguns segundos antes de finalmente assentir lentamente. — Tudo bem, estou dentro. Mas não pense que vou
me arriscar sem garantias. Se isso der errado, vou te caçar pessoalmente. Maon sentiu um alívio profundo, mas soube disfarçar. — Eu sei dos riscos, Raul, e não vamos falhar. Quando Raul se levantou para sair, Maon soube que havia dado mais um passo importante. Agora, com Ricardo e Raul ao seu lado, Roberto estava começando a perder o controle sem nem perceber. O próximo passo seria Vicente, e Maon sabia que ele seria o mais difícil de convencer. Mas, com o apoio de Helena e seus novos aliados, Maon sentia que o cerco estava se fechando ao redor de
Roberto. A queda de Roberto estava cada vez mais próxima. A noite estava densa quando Maon recebeu a mensagem de Helena: "Vicente está pronto para conversar amanhã à noite no depósito do cais." O ar ao redor de Maon parecia mais pesado, como se o mundo soubesse que o fim do jogo estava se aproximando. Ele sabia que o encontro com Vicente seria o ponto final do plano, o momento decisivo. Com Ricardo e Raul já ao seu lado, Vicente era a peça final para cercar Roberto. Maon passou o restante da noite inquieto, preparando mentalmente cada passo do encontro.
Vicente, como Helena já havia avisado, era mais cauteloso e frio do que os outros. Ele não se movia por impulsos e calculava todos os riscos antes de tomar qualquer decisão. Convencê-lo não seria fácil, mas Michel sabia que, com os aliados certos, Roberto ficaria sem chão. No dia seguinte, ele fez o possível para manter as aparências. Laura, como sempre, observava o filho com olhos atentos, mas não perguntava nada. Ela sabia que algo estava acontecendo, mas confiava que Maicon estava no controle, uma confiança que Maicon lutava para não trair. À medida que a noite se aproximava, a
tensão em seu corpo aumentava. O encontro no depósito era arriscado; embora Vicente fosse um homem de negócios como os outros, ele era também imprevisível. Se desconfiasse de qualquer coisa, Maicon sabia que o plano poderia ruir ali mesmo. Quando chegou ao depósito do cais, o lugar parecia ainda mais sombrio do que de costume. Era uma construção velha, com as paredes desgastadas e grafites que cobriam boa parte da fachada. A umidade no ar trazia o cheiro forte do mar, e o som das ondas quebrando ao longe era o único barulho que Maicon podia ouvir. Dentro do depósito,
o ambiente era ainda mais opressivo: pouca luz, sombras por todos os lados. No fundo, sob a fraca iluminação de uma lâmpada pendurada, estava Vicente. Ele era um homem de meia-idade, vestido de maneira impecável, contrastando com o ambiente decadente ao redor. Seus olhos, no entanto, eram o que mais chamava atenção: frios, calculistas, avaliando Maicon desde o momento em que ele entrou. Helena estava ali também, um pouco afastada, observando a cena com a calma de quem já havia passado por esse tipo de situação muitas vezes. Ela era mediadora, e sua presença trazia a Maicon a sensação de
que, pelo menos por enquanto, ele não estava completamente sozinho. Maicon respirou fundo e caminhou até a mesa onde Vicente estava sentado. O ar no depósito parecia pesado, como se cada palavra tivesse o poder de alterar o destino de todos ali presentes. — Então, você é o jovem que quer derrubar Roberto — Vicente falou com a voz baixa, mas cheia de autoridade. Era claro que ele não estava ali para perder tempo. Maicon assentiu, mantendo o olhar firme; sabia que hesitar naquele momento seria um sinal de fraqueza, e ele não podia se permitir parecer fraco diante de
Vicente. — Sim, sou eu — disse Maicon, sem rodeios — e acredito que, se trabalharmos juntos, podemos fazer isso acontecer. Vicente olhou de cima a baixo, ainda avaliando cada palavra, cada gesto. Maicon sabia que não estava sendo julgado apenas pelo que dizia, mas por como se portava. Vicente era um homem que confiava mais no que via do que no que ouvia. — E por que eu me arriscaria? — Vicente perguntou, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Roberto me paga bem. Ele me protege, e, até agora, nenhum de seus inimigos foi capaz de tirá-lo do
poder. O que faz você pensar que pode ser diferente? Maicon sabia que essa pergunta viria; estava preparado. — Roberto está afundando, Vicente. Ele está se tornando imprudente, tomando decisões que colocam todos vocês em risco. Você sabe disso. As operações estão se tornando cada vez mais arriscadas, e a ganância dele está comprometendo o que construiu. — Maicon fez uma pausa, esperando ver alguma reação no rosto de Vicente. — Se você continuar ao lado dele, vai afundar junto. Mas se se juntar a nós, podemos garantir que você continue no controle dos negócios, sem os riscos que Roberto
está impondo. Vicente ficou em silêncio por um momento; ele era um homem inteligente, e Maicon sabia que ele estava considerando as palavras com cuidado. — Eu já ouvi esse discurso antes, garoto. Muitos tentaram tirar Roberto do caminho, e todos falharam. Por que você seria diferente? — Vicente olhou diretamente nos olhos de Maicon, tentando ver até onde ele estava disposto a ir. Maicon respirou fundo, sabia que precisaria jogar a carta mais forte. — Porque desta vez você não estaria sozinho. Ricardo e Raul já estão comigo. Eles sabem que Roberto não vai durar muito tempo e sabem
que, comigo, terão mais controle e menos riscos. A escolha é sua, Vicente: você pode continuar com Roberto e ver tudo desmoronar, ou pode se juntar a nós e garantir que seu lugar nesse mundo esteja seguro. Vicente levantou uma sobrancelha ao ouvir os nomes de Ricardo e Raul. Maicon percebeu uma pequena mudança na expressão do homem, isso era bom; ele estava ouvindo. — Ricardo e Raul... — Vicente murmurou quase para si mesmo. — Isso muda as coisas. Ele ficou em silêncio por mais alguns segundos, pensativo. Maicon manteve o olhar firme, tentando não demonstrar a ansiedade que
sentia. E finalmente, Vicente descruzou os braços e deu um pequeno sorriso, um sorriso frio, mas que indicava que ele estava pronto para tomar sua decisão. — Muito bem, Maicon. Se Ricardo e Raul estão do seu lado, eu também estou. Mas que fique claro: eu não estou fazendo isso por você. Estou fazendo isso porque sei que Roberto está perto de perder o controle e, quando isso acontecer, não quero estar ao lado dele. — Vicente fez uma pausa, olhando profundamente nos olhos de Maicon. — Mas se você falhar, garoto, não espere piedade de mim. Maicon sentiu alívio,
mas também sabia que a responsabilidade havia acabado de aumentar. Agora, com Ricardo, Raul e Vicente ao seu lado, Roberto estava realmente cercado; ele já não tinha mais o controle absoluto. Mas Maicon sabia que a parte mais difícil ainda estava por vir. — Não vamos falhar — respondeu Maicon com a voz firme. — Roberto não terá chance de se defender. Vicente assentiu satisfeito. — Ótimo. Me avise quando for a hora de agir. Maicon e Helena deixaram o depósito juntos. O ar do lado de fora parecia mais leve, mas Maicon sabia que isso era apenas temporário; a
tensão que havia se acumulado nos últimos dias ainda estava ali, e o momento final estava se aproximando. — Você conseguiu — disse Helena enquanto caminhavam. — Agora Roberto está em apuros. Ele nem faz ideia do que está para acontecer. — Sim — respondeu Maicon. Ainda processando tudo o que havia acontecido, mas agora vem a parte mais difícil: precisamos agir rápido antes que ele perceba qualquer coisa. Helena assen: "Vou organizar o momento certo para derrubá-lo. Roberto sempre se cerca de guarda-costas, mas há uma brecha: toda semana ele vai ao seu clube particular sem seus homens. É
o único lugar onde ele se sente seguro. Esse será o momento de agir." Maon sabia que aquele seria o ponto final. Roberto havia se blindado por tanto tempo, mas sua confiança excessiva seria sua ruína. "Vamos fazer isso," disse Maon com uma determinação renovada. "Vamos acabar com Roberto de uma vez por todas." Nos dias seguintes, Maon manteve a fachada de obediência, respondia às ordens de Roberto como sempre, sem levantar suspeitas. Mas por dentro ele sabia que o fim estava próximo. Quando o dia do ataque finalmente chegou, Maon estava pronto. Ricardo, Raul e Vicente haviam preparado tudo
no clube particular de Roberto. Ele estaria vulnerável, sem seus homens, acreditando que estava seguro. Mas naquele dia, Roberto enfrentaria sua maior traição. Enquanto Maon se preparava para o confronto final, uma calma estranha o envolveu. Ele sabia que o que estava prestes a acontecer mudaria tudo. Sabia que, depois daquele dia, sua vida nunca mais seria a mesma. E quando chegou ao clube, o plano foi executado com precisão. Roberto, arrogante e despreparado, foi pego de surpresa. Ele tentou lutar, mas já era tarde demais; seus aliados haviam se virado contra ele e o poder que ele tanto prezava
escapava por entre seus dedos. Quando tudo terminou, Maon ficou parado diante de Roberto, que agora estava sem saída, derrotado. O homem que tanto o atormentou, que ameaçou sua vida e a de sua mãe, agora estava diante dele, sem controle, sem poder. "Eu te avisei, Roberto," disse Maon com a voz fria. "O seu tempo acabou." E com aquelas palavras, Maon selou o destino de Roberto. O reinado de terror do homem que controlou tantas vidas havia chegado ao fim. Maon finalmente estava livre, mas enquanto saía do clube, ele sabia que a liberdade tinha um preço. Agora ele
estava no comando e o mundo perigoso que uma vez o ameaçou, agora fazia parte de sua vida. Maon olhou para o horizonte e fez uma promessa silenciosa a si mesmo e à sua mãe: ele não se deixaria corromper pelo poder. Tudo que havia feito foi para garantir a segurança de Laura e para se libertar das sombras do passado. Mas sabia que, a partir daquele momento, ele teria que ser mais forte do que nunca, porque no mundo em que agora vivia, a queda de um homem poderoso sempre era o começo de uma nova batalha.
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