e é com muito orgulho mesmo né o meu texto tanto texto literário como texto ensaístico a poesia a prosa nasce muito marcado na aliás pro muito marcado não profundo profundamente marcado pela minha experiência de mulher negra na sociedade brasileira é uma escrevivência que se dá realmente através da dessa vida né que a vida é do povo negro homens mulheres crianças eu só conceição evaristo professora aposentada do município do rio de janeiro e escritora e o meu o meu material literário é um material que está profundamente é ligado à as experiências na as experiências dessa coletividade
negra e é interessante porque talvez essa crítica literária é não acredite que a experiência negra que nós autoras e autores negros que a nossa experiência que a nossa vivência possa ser matéria de ficção isso é muito contraditório porque nós vamos ver várias obras da literatura brasileira que usam como temática o que se inspiram inclusive nas culturas africanas o ato de as porcas para construir este texto literário né eu acho que é um grande exemplo e pensam os tambores de são luís do montello se você pensa em vivo o povo brasileiro hoje você pensa nas obras
de jorge amado em que as culturas negras estão presentes como temáticas então mas quando se trata dessa autoria negra quando nós mesmo usamos as nossas experiências as nossas culturas e transformamos em textos literários e é uma passagem mais difícil é como se o negro não tivesse o direito de criar suas próprias histórias de falar além disso as próprias é histórias como a ficção ela não tem esse compromisso com a verdade e como também o discurso ficcional no caso dessa literatura que nós criamos esse discurso é ficcional ele chega justamente é cobrindo certa lacuna o que
é história não nos oferece eu tô falando história ciência o que é história não nos oferece a a literatura ela pode ela pode oferecer esse vasinho histórico ele é preenchido pela pela ficção exemplificando isso que eu falo acho que assim um romance é brasileiro que cumpriu hoje o que entra nesse espaço lacunar é o livro de ana maria gonçalves um defeito de cor ela vai fazer uma pesquisa histórica sobre luiza mairo encontra nada ela fique só na lisa né ela dá uma vida para luiza mahin e é muito do que eu tenho feito também puxar
vicêncio é um livro que retoma a personagem retoma é todo o processo de escravização que que os os ancestrais dela passaram é essa memória do passado ela acaba também se fundindo ao presente e o tempo toda essa essa essa personagem ela busca a ancestralidade dela e é interessante porque é um livro que parte de uma situação o que vende uma ideia bem bem específica na traz essa história da escrava ização dos africanos e seus descendentes mas é um livro que acaba convocando várias pessoas homens velhos crianças brasil e lancheiros tanto é que ele já tá
já está publicado em inglês francês espanhol e está agora no prelo para uma publicação é em árabe é poxa abstencio também é um livro que traz justamente é essa memória e traz uma história do cotidiano que é uma mulher que sai de uma cidade qualquer para tentar a vida na cidade grande becos da memória também traz essa essa memória da escreve zação e o que eu gosto de fazer também eu como eu gosto de criar essa temática a professora leda martins de belo horizonte ela diz que para os africanos escravizados o nosso passado não terminou
eu acho que qualquer pessoa que tem um um pouco de observação percebe né a situação é entre os árvores brasileiros se encontram é esse passado ele tem ainda ele não foi expurgado acho que ele não foi expurgado nem termos emocionais mesmo e nem nem uma política concreta eu acho que quando a gente vê aonde está a grande maioria negra né é trabalhar é esse passado é uma é uma maneira também de reivindicar uma posição de dignidade no presente e talvez mais do que isso ainda trabalhar esse esse passado na literatura é uma forma também de
você afirmar a sua identidade afro-brasileira então cada beijo que a gente fala de uma identidade afro-brasileira como afirmamos como brasileiros mas também é afirmamos as nossas as nossas raízes ancestrais gosto muito também de trazer para literatura talvez imagens e situações e situações que olhadas de fora não tem não tem nenhuma poesia hora a maneira como você descreve esse esse fato a maneira como você trabalha este fato a maneira como você constrói a personagem e inclusive e a maneira como você usa a linguagem você pode fazer deste fato extremamente cruel você pode construir ele de tal
forma que você humaniza inclusive humaniza o próprio vou dizer entre aspa o próprio marginal e é praia sempre ficar isso eu tenho dito muito também eu tenho uma cena que eu preciso transformar essa cena no texto literário é uma cena que eu assisti e é na última escola que eu trabalhei quando eu me aposentei tinham um rapaz o rapaz negro isso no morro de são carlos no rio de janeiro e esse rapaz ele era o soldado do tráfico ele estava em pé na postura mesmo de sentinela com a metralhadora atravessada no peito e ali de
plantão e quando eu olho vem uma mulher negra também bastante jovem como a criança essa criança deveria ter uns 3 ou 4 anos vem caminhando em direção a isso soldado do tráfico quando ele ver essa criança esse rapaz abaixa joga a arma para trás e abraça a criança que é o filho dele essa é a qualquer momento aquele gesto de afeto é aquele pequeno momento de carinho poderia se transformar em sangue bastava a polícia tá chovendo em são carlos naquele momento ou bastavam um outro show dário do tráfico do grupo rival entrar ali numa disputa
com ele e então olhando aquela cena não é uma cena poética é uma cena dura é uma cena além de ameaça à vida mas é um momento que você que eu acho que o texto literário tem esse poder dependendo da maneira que eu escreva esse texto e dependendo do meu olhar porque eu vi aquele olhar com eu vi aquela cena a um momento que o que a arma que tudo ele some o momento que perdurou para mim era um pai bastante jovem abraçando um filho agora como transformar em isso no texto literário como você retirar
né uma poética dessa cena é é é um exercício é um exercício grande é uma cena que você escreve de uma hora para outra não quero eu quero trabalhar bem assassina eu tenho que encontrar palavras né eu tenho de encontrar as construções que o que importa ali é descrever um rapaz um rapaz bastante jovem é um pai bastante jovem é abraçando o filho então é vários vários momentos é vários acontecimentos é sempre me chamam a atenção são matérias que me que que eu construo através dessas observações como conto de lixão que está também olhos da
água de lixão nasce eu estou no amarelinho no rio de janeiro e vem um menino me vendendo amendoim bom então essas cenas do cotidiano que me interessa é justamente tentar abarcar assassinas do cotidiano e eu quero cenas do cotidiano em que eu construo a personagens que tem a ver comigo tem a ver com a minha experiência senão uma experiência particular é uma experiência coletiva de aquele menino negro que está ali vendendo amendoim é o menino que poderia ser meu filho meu sobrinho é um menino que eu conheço da favela aonde eu dava aula e aí
agora eu me lembrei da interpretação de elza soares do guri e ao momento uma das interpretações a elsa vai dizer o guri sou eu mais ou menos isso então é esse é é um processo criativo que nasce que nasce de dentro e quando eu olho é uma doméstica e aí eu vou me valer muito tímida alves fala também miralves é uma escritora daqui de são paulo é quando nós quando essa autoria que vem de uma descendência que já experimentou essas posições de subalternidade então a gente escreve a partir de dentro e mira alves tem um
exemplo também que eu gosto muito também ela diz quando nós vamos falar escrever compor uma personagem que a doméstica é como se fosse e a própria doméstica dentro do quarto olhando para patroa na própria na porta do quarto é esse gesto de criação ele nasce de uma experiência como eu já disse não é uma experiência particular é uma experiência histórica é uma outra autoria que não conhece é nem nem por história ligada ao seu povo que não conhece esse lugar de subalternidade é uma outra escritora branca que vá compor esta personagem doméstica é como se
fosse a patroa que tivesse dentro do quarto olhando empregada aqui e componentes a personagem é uma personagem que nasce de fora olha o que nós estamos dizendo aqui não é um juízo de valor não é quem faria melhor quem comporia melhor se a personagem o que nós estamos afirmando aqui é de que lugar essa esse texto esse texto literário nasce né em que em que lugar social e no caso de nós mulheres né em que lugar também de gênero e no caso das mulheres negras em que lugar também a experiência étnica este texto esse texto
nasce quando for uma vez até o mudei mudei até o enredo desse desse romance eu estava escrevendo um livro em que no centro da cena tem uma mulher e essa mulher a maneira dela diz se comunicar com o mundo através dos seios não tem pessoas que falam se a hoje vai chover porque o meu caso está doendo então essa é essa grande matriarca toda vez que acontecesse alguma coisa com a descendência dela com alguém da descendência dela os sinais deveriam nos seios ela sentiria dor no seios haveria momento que que seios dela podia poderia e
é os seios poderiam verter água outra hora ver teria leite e eu comecei a escrever esse romance eu comecei sentir dores nos seios aí eu mudei o rumo da prosa esse romanos ficou vários anos esquecido quando eu retomei esse romanche tem essa mulher no centro da cena mas eu não vou brincar com cheio de dessa personagem não fiquei com o recheio é realmente e é beleza quando eu tava escrevendo também beleza assim naquela apanha do marido dela e graças a deus eu nunca apanhei de homem nenhum nem de marido nem de pai nem nada mas
a cena que essa mulher está sendo esbofeteada pelo marido eu escrevo essa cena chorando a momento de uma tensão de uma amargura tão grande que eu tenho que levantar respirar um pouco e voltar e escrever a cena deixa deixa o processo criativo né dessa maturação de um texto que pode começar hoje ficar abandonado e eu retomar esse texto daqui dois três anos eu nunca escrevo muito rápido de modo geral só tive um livro que eu escrevi muito rápido que foi o insubmissas lágrimas de mulheres submissas lágrimas de mulheres foi um momento meu de submissão até
respondendo uma provocação de uma pesquisadora que questiona a então a vida das mulheres negras é é só tristeza e aí e não tem final feliz então respondendo a edileuza da penha eu resolvi escrever uma submissa as lágrimas de mulheres e crio né essa antologia em que as mulheres passam por processos de dores mas ela já estão depois contando o êxito né ela já saíram da tormenta do sofrimento e várias outras artes também me contaminam eu não sei cantar não sei dançar mas eu gosto muito de música a música para mim ela é um grande momento
de sensibilização escutar uma música determinadas cantoras determinadas vozes por exemplo eu amo nina simone muitas vezes eu escrevo escutando nina simone eu gosto muito de ver também dança de assistir espetáculos de dança olhar para as pessoas às vezes as pessoas até falam que eu tenho porque eu encaro mesmo eu gosto de olhar para as pessoas você percebeu você tentar adivinhar o que que tem atrás de um rosto e oferecia também o teu olhar para as pessoas perceberem né o que o que que tem né quem é a conceição evaristo e por isso olhos d'água né
aquele conta o que eu escrevi e que dá título ao livro é olhos d'água o mundo dos projetos meus descrita hoje seria ler determinados poemas de autores já consagrados autores e autoras já consagradas e criar uma espécie talvez até anos contra poema ou então de contra discurso o o outro discurso né tomando aquele primeiro texto e depois desviando é totalmente já fiz algumas experiências nesse sentido quando eu diálogo carolina maria de jesus com clarice lispector quando eu removo a pedra no meio do caminho né com águas e dialogando com carlos drummond de andrade quando a
recordar é preciso e não navegar de fernando pessoa o do lema português então a várias há várias situações que podem motivar e motivar uma escrita e talvez é eu gostaria que as pessoas se prendem menos a minha biografia e se ligasse mais ao texto e isso para mim tem sido e é de vital importância porque muitas vezes eu estou na algum espaço para falar de literatura e as pessoas falam a fala da condição da mulher negra na sociedade brasileira e eu acho que eu não preciso falar meu texto é isso e o exercício da literatura
para mim é a minha maneira de não adoecer eu sempre penso isso e quando eu falo de não adoecer eu tô falando mesmo é desse adoecimento emocional porque a arte ela é uma válvula de escape e a literatura para mim é essa criação é a possibilidade que eu tenho de sair de mim mesma de indagar o mundo de inventar é um outro mundo de apresentar a minha a minha discordância com este mundo e é uma experiência que eu tenho desde bem nova eu sempre escrevi eu sempre gostei de escrever a escrever para mim é é
a possibilidade mesmo de fundamentar né de fundar é um diálogo eu acho mais fácil você falar pela escrita do que você falar apesar da minha literatura ter um fundamento né ela nasce do espaço da oralidade mas eu consigo para ti falar muito mais do meus sentimentos se eu escrever o movimento da escrita acho que tem um movimento da própria vida eu acho que o movimento da própria vida é um movimento que você faz para vencer a dor eu vou para vencer a morte e eu acho que é alguma coisa assim é o espírito de sobrevivência
mesmo né esse desejo de você agarrar-se à vida de alguma forma e para mim a literatura é essa oportunidade que você tem que se agarrar à vida né você que você registra a vida você registra a vida você inventa vira você discorda da vida e escrever tem até um texto meu também que eu digo isso escrever uma forma de sangrar é porque você e é porque uma forma de sangrar mesmo e a vida é uma sangria desatada né