[Música] muito bem-vindas e muito bem-vindos a segunda aula da segunda semana do curso de literatura infanto-juvenil na primeira semana você se lembra nós vimos é muito sucintamente mas espero que suficientemente as origens da literatura infanto-juvenil de Matriz europeia nós vimos que a matriz original não é nada europeia e na primeira aula dessa semana a gente viu o começo da literatura infanto-juvenil brasileira no século 19 na aula de hoje nós vamos ver a modernidade da literatura infanto-juvenil brasileira e qual é o papel do Lobato nessa modernidade antes de entrar na aula ou seja a gente começar
a debater isso é preciso primeiro a gente tentar entender o que que nós estamos falando quando dizemos o termo modernidade ou moderno bom a primeira definição de moderno acho que é mais fácil categoria que aquela de idade moderna que vai enfim de 14 três até a Revolução Francesa não estamos nos referindo a isso né que é uma noção da história existe uma outra noção da história da história um pouco mais sofisticada que acompanha a modernidade como o momento de maturação do sistema capitalista ou seja começaria lá nas grandes navegações e teria o ápice também no
século 18 e nós de novo não estamos falando sobre isso quando a gente pensa Literatura e modernidade a gente está pensando numa coisa muito específica que é uma certa reação que aconteceu a partir de meados do 19 em relação a práticas que seriam academicistas as academias de Belas Artes que por sua vez são uma espécie de resquício do mundo pré burguês do mundo instrumental começar a provocar uma reação nos artistas que não queriam mais aqueles padrões de bom escrever bom pintar bom cantar e tal então tentando criar padrões próprios padrões mais subjetivos aí Ou seja
é segunda onda e uma onda mais decisiva da subjetividade romântica como se fosse uma espécie de segunda parte do romantismo e uma parte mais radical do Romantismo por isso inclusive que vai gerar as vanguardas o experimentalismo do começo do século XX quando a gente pensa literatura moderna a gente pensa nisso a reação de escritores escritores aos padrões acadmicistas oriundos do século XIX e do séculos anteriores tá bom é por isso que o berma vai trazer uma definição que talvez seja interessante para nós ser moderno É nos encontrarmos em um meio ambiente que nos promete Aventura
poder alegria crescimento transformação de nós mesmos e do mundo tudo isso que eu já disse Mas agora ele é a segunda parte da citação E que ao mesmo tempo ameaça destruir tudo que temos tudo que conhecemos tudo que somos Isto é por um lado tem toda aquela liberdade que estava comentando por outro lado nós chegamos ao século 20 e temos logo de cara uma primeira guerra um pouco mais adiante uma segunda guerra então modernidade é lidar com isso uma espécie de liberdade cada vez maior e uma expectativa um Horizonte de destruição cada vez maior a
modernidade é esse estado de paradoxo há quem diga que nós ainda vivemos nesse tempo e há quem diga que esse tempo terminou a partir dos anos 60 do século XX Mas esse não é um debate para nós debate para nós é entender que a modernidade no sentido da literatura é algo que começa na metade do 19 e vai até a metade do 20 e é sobre esse tempo que nós estamos comentando na aula de hoje bom pensar então Literatura e modernidade é pensar Nesse balanço né de um lado eu tenho essa liberdade quase restrita e
de outro um Horizonte de destruição de Aniquilação muito presente é sobre isso que o berma tá falando em tudo que é sólido desmancha no ar bom mas para entender modernidade e literatura infanto juvenil brasileira é preciso então entender esses dois caminhos Isto é de um lado tem a ver com finalmente entender o livro como a mercadoria ou seja o livro é uma obra de arte Mas ele também vai entrar no circuito da mercadoria E aí eu trago um dado aqui que é absolutamente está aquecedor que é em 1919 o Brasil tinha 35 livrarias 35 livrarias
então é claro que nesse sentido a gente não tinha materialmente uma modernidade Projetada E aí a gente pode pensar bem ou mal dessa história se transformar o livro em mercadoria mas o fato é que a modernidade Traz essa questão é para frente né atrás essa questão para o centro do palco e do outro lado tem a ver com uma representação dentro da literatura infanto-juvenil menos edificante do que aquela que a gente tava vendo na aula passada isso é na primeira aula da segunda semana bom a figura que vai fazer isso de maneira central ou seja
nos dois Campos é o Monteiro Lobato né é eu vou comentar aqui muito sucintamente mas eu indico o texto que é um texto da semana que está nos materiais de apoio que é um texto da professora Marisa lajolo só a primeira parte ou 60% do texto é só sobre como Monteiro Lobato estava modernizando a circulação do livro então ele pensou na distribuição do livro pensou na venda do livro pensou em como tornar o livro o objeto mais acessível mais barato então ele ele enfim é um pioneiro nessa iniciativa de modernizar no sentido de mercantilizar o
livro mas ele também é um pioneiro na segunda iniciativa que é a partir da criação de um universo que dura dos anos 20 até os anos 40 com 23 livros né então ele criou um mundo a partir da criação desse universo Ele trabalha num Horizonte muito menos edificante do que o século XIX trabalhando em cima da matéria Viva do folclore fazendo debate super importantes debatendo inclusive traduções e adaptações para criança de clássicos então é um universo muito rico e que eu vou tentar comentar aqui mais porque é simplesmente transformador do que nós entendemos como literatura
infanto-juvenil claro que eu estou me referindo ao Sítio do Picapau Amarelo Tá aí uma uma ilustração de uma de uma das edições para TV já no século 21 em que eu tenho uma maior parte dos personagens está indo embora sejam uma dezenas de personagens bom a gente precisa entender o que que faz o Sítio do Picapau Amarelo ser tão interessante já aviso que são várias coisas né A primeira delas é o fato de que o Sítio do Picapau Amarelo na sua própria proposta constrói um espaço distante da cidade então a cidade com todo o seu
universo do trabalho de ganhar dinheiro e tal de cara de imediato tá anulada no sítio embora esse espaço esteja conectado com o sítio na chegada de visitantes Inclusive das próprias crianças né então é um espaço distante mas ao mesmo tempo conectado tem um acerto psicanalítico no sítio que é muito interessante que é a maneira como o sítio está livro de ensaios do Frizz que se chama seleção natural a maneira como sítio elimina o os as disputas edipianas né ou seja não tem pai e mãe não tem rivalidade entre irmãos então isso faz com que o
prazer no sítio seja sempre um prazer muito fluido né E isso construa em certa medida o horizonte do sítio claro que também tem a ideia de recuperação das figuras seja numa matriz mais europeia com a Dona Benta seja numa matriz mais africana com a Tia Nastácia né Então as narrativas de matriz africana estarão presentes ou com o Tio Barnabé então esses digamos esse esse Horizonte fabuloso Místico mágico atávico original está o tempo inteiro no sítio e eu também preciso comentar a maneira como Lobato mobilizou o sítio para tratar de conhecimento né então em vários momentos
essa figura da contadora de histórias do contador de história do estudioso era recuperado e nunca em chave pejorativa né tinha uma noção positiva digamos de conhecimento e de construção do Brasil embora distante dos carácteres ou dos caracteres e dos padrões edificantes do século 19 claro que com isso eu não estou fugindo aos dados da contradição das contradições encontradas e que tem que ser debatidas mesmo dentro da obra do Monteiro Lobato é do ponto de vista pessoal é em cartas para amigos em cartas para outros intelectuais em vários momentos Ele demonstrou posições racistas embora do ponto
de vista digamos mercadológicos ele tenha sido um editor do Lima Barreto então era um pouco contraditória assim já defendeu a Ku Klux Klan em carta O que é um absurdo e ao mesmo tempo editava-lhe uma Barreto Esse é o Monteiro Lobato pessoa digamos a gente também pode debater as contradições no autor criador Ou seja no Monteiro Lobato narrador assim muitas vezes a figura da Tia Anastácia aparece como uma mulher encurta e não como uma mulher outros saberes né ou seja ela é a figura negra mais importante no sítio e muitas vezes ela tida como ela
não gosta de estudar e tal o que é um problema também no sentido interno do livro então eu falei primeiro do Monteiro Lobato falei no sentido interno a gente tem ainda um terceiro nível desses problemas que é a figura da Emília né que é uma figura enfim não tem trava na língua e tal e várias vezes ela ela briga com a Tia Nastácia ela xinga te Anastácia e tal então eu tenho a sensação de maneira geral de que esses três estratos nunca foram devidamente estudados assim Isto é quando a gente diz assim ah o Monteiro
Lobato traz muito racismo em suas obras ou é racista em suas obras por conta do termo macacada por exemplo só que esse tema parece relacionado a várias outras figuras ao longo do livro Então tem um jogo que é de difícil aproximação assim que é eu tenho um indivíduo que em determinado momento de sua vida manifestou opiniões e ações racistas Esse é o autor ele deve ser criticado por isso eu tenho uma outra coisa que é como que a obra se organiza ela é racista ou não é na representação que faz das figuras de pessoas negras
e eu tenho um terceiro nível que é a personagem que a Emília que é uma diaba né Ela é chamada de diabinho o tempo inteiro e que ela tem uma inimizade de uma rixa com a Tia Nastácia embora em vários momentos também ela seja muito carinhosa com a Tia Nastácia então assim em todos esses extratos eu tenho problemas a serem debatidos né Por exemplo em muitas e muitas cenas das obras do Monteiro Lobato a Dona Benta e a Tia Anastácia aparecem em pé de igualdade assim elas estão juntas num determinado momento estão juntos determinado momento
mas a relação de base escravocrata entre a Iaiá entre a Sinhá e a sua escravizada ou ex escravizada Ela é muito forte então a gente precisa de dizer assim ah Lobato foi genial criar seu mundo sim mas sem apagar esses traços racistas da composição desse mundo embora eu volto eu acho que esses traço ainda não foram devidamente estudados nessas diferenças que eu tentei colocar aqui e aí eu trouxe um trecho para mostrar como isso se dá no trecho né só então tá no caçada de Pedrinho só então a pobre negra se convenceu de que tinha
errado correu qual uma desvairada as pernas de pau que Pedrinho ele tinha feito nada Achou a cléocia havia utilizado delas olhou aflita para as escadas bobagens escadas as onças também trepariam pelos degraus seus olhos esbugalhados procuravam inutilmente a salvação trepe no mastro gritou ele a Cléo Sim era o único jeito e tinha Anastácia esquecido dos seus numerosos reumatismo trepou que nem uma macaca de carvão pelo maço de São Pedro acima com tal agilidade que parecia nunca ter feito outra coisa na vida se não treparem mastros esse Olha como as coisas são difíceis de de flagrar
né Esse pobre negra de cima e logo na entrada do texto é do narrador e também é do narrador essa comparação que nem jaca de carvão pelo mastro o tema Macaca é utilizado também para o Pedrinho e para outros personagens brancos nesse mesmo livro né embora o de carvão possa ser uma espécie de trecho não malquisto Ou seja um trecho exagerado da figura desse narrador a quem o responsabiliza-se de carvão aqui é essa pergunta que causa uma certa estranheza na abordagem na obra do Lobato Isto é esse de carvão é do narrador é do escritor
de quem é esse de carvão Então eu queria um pouco que vocês pensassem nisso com o que eu falei e também nas outras nos outros materiais do curso né Tem entrevistas defendendo um ponto defendendo o outro eu não vou chegar a termo aqui de propósito né Não quero tô tentando o tempo inteiro não falar minha posição mas para deixar que vocês pensem por si a respeito disso tá bom na esteira do Monteiro Lobato modernizando a literatura brasileira no século 20 outros escritores também vão passar e escrever literatura infanto-juvenil em algum momento é o caso dos
hélings do Rego com histórias da velha totonha é o caso do Érico Veríssimo com as aventuras do avião vermelho e do Graciliano Ramos com a Terra dos Meninos Pelados né Ou seja a partir da cerca que o Monteiro Lobato abriu vários outros escritores vão entrar já distante daqueles padrões nacionalistas patrioticos etc do século 19 eu vou então por uma segunda citação que vai um pouco encaminhar a gente para o desfecho da aula de hoje da professora Regina zilberman e da Marisa lajojolo em Literatura Infantil brasileira dizem as professoras essa imagem é da professora o crescimento
quantitativo da produção para crianças e a atração que ela começa a exercer sobre escritores comprometidos com a renovação da arte Nacional demonstra que o mercado estava sendo favor os livros essa situação relaciona-se aos fatores sociais a consolidação da classe média em decorrência do avanço da industrialização e da modernização econômica e administrativa do país o aumento da escolarização dos grupos urbanos e a nova posição da literatura e da arte após a revolução Modernista o que as pessoas estão dizendo é o seguinte Não adiantaria de maneira nenhuma que o Lobato e outros escritores modernizassem por dentro dos
livros a literatura infanto-juvenil brasileira se essa modernização não acompanhasse uma modernização material Isto é não acompanhasse uma gradativa consolidação da classe média na sociedade brasileira classe média que pode ser entendida como uma classe indisciária ou seja ela funciona como um índice como um sinal de que a sociedade burguesa está se maturando neste lugar então essa consolidação da classe média que vem do avanço da industrialização e a modernização administrativa do país ela aumenta a escolarização dos grupos urbanos e coloca a literatura numa nova posição a literatura colocada nessa nova posição se torna uma espécie de Campo
apto Campo fértil para produção de uma literatura moderna brasileira e é isso que o Lobato vai fazer mais do que todos os outros antes lá dos anos 60 que daqui nós vamos falar ao longo do curso e também é outros escritores vão ter iniciativas dentro do quadro da literatura infanto-juvenil moderna brasileira nesse novo contexto que é de uma de uma sociedade mais moderna do que aquela que nós tínhamos algumas décadas antes Espero que tenha ficado bastante Claro Espero que tenha ficado bastante claro essa linha também de argumento que eu tentei recuperar aqui mas fique completamente
à vontade para entrar em contato com os facilitadores facilitadores ou comigo confira os textos revejam as aulas e espero também que essa aula tenha ficado com tenha deixado em vocês algumas inquietações assim né que é que é também um pouco separar o debate assim mas mas o Lobato é racista não é racista para entender mais na minúscula como funciona isso dentro das obras né ou seja o que que é uma projeção do autor dentro da obra O que que é narrador o que quer personagem e aliás acima de tudo essa espécie de contradição máxima né
que é a gente chega a modernidade na literatura infanto-juvenil brasileira com uma obra acusada de racismo né Que tipo de modernidade é essa que traz dentro da sua essas estruturas das suas fibras traços também de uma sociedade arcaica aqui no Brasil insiste em se colocar e se renovar todo tempo é isso um grande abraço e até a próxima semana [Música] [Música]