E é por isso que nós precisamos buscar a fonte de onde nós podemos ter essa caridade viva impregnando a nossa alma, para assim podermos amar exatamente como Cristo, heroicamente, nos ensina a amar no Evangelho. E a chave para nós entendermos isso está na segunda leitura: São Paulo diz que "o primeiro homem, antropo, Adão, foi uma alma vivente; o Último Adão, o exaton antropo, é um espírito vivificador". Essas duas frases são simplesmente magníficas, são maravilhosas, porque elas nos mostram uma distinção de planos: a distinção entre o plano natural e o sobrenatural.
O primeiro Adão e o Último Adão. A tradução da liturgia fala "segundo Adão", mas o texto grego diz "o Adão escatológico", o Último Adão, o Adão que termina todas as coisas, o Adão terminativo, Cristo. O primeiro Adão, e ele cita aqui o livro do Gênesis, é uma alma vivente, uma psique, uma alma vivente; ou seja, o primeiro Adão representa o homem velho, o homem natural, o homem animal, o homem psíquico, conforme o próprio São Paulo diz na primeira carta aos Coríntios.
Em outras passagens, é o homem que vive de acordo com aquilo que é terreno. De fato, ele diz assim: "Veio primeiro não o homem espiritual, mas o homem natural, o homem psíquico; depois é que veio o homem espiritual". O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o Último homem é celeste.
Ou seja, Adão vem da terra; o seu nome significa isso. E ele vive em função daquilo que é terrestre e vive para tudo aquilo que é terreno. Ele trafega no mundo dos sentidos e é governado pelos sentidos.
O primeiro homem, o homem natural, portanto, é o homem que é dominado pelas suas emoções, como reações ao mundo exterior, que funciona em relação aos estímulos que lhe provocam, que lhe fazem ser de um modo ou de outro. E este homem não tem salvação, no sentido de que ou ele morre, e aí São Paulo diz que este homem tem que ser crucificado com Cristo. Ele tem que morrer, ele precisa morrer todo dia; ele tem que ser diariamente combatido.
Ou ele morre, ou não tem jeito. O homem espiritual, Cristo, ficará bloqueado em nós; ele não conseguirá manifestar a sua força, o seu poder, a intensidade da sua vida, porque o filtro dos sentidos é pequeno demais para a amplitude, a exuberância dessa vida eterna sobrenatural, que é a vida de Deus. O primeiro homem foi uma alma vivente; ou seja, uma alma que tem a vida em si mesma, uma psique que vive em função de si.
O segundo Adão, não, o segundo Adão, Cristo, é um espírito vivificador. Isso é grande demais! Por um lado, o Verbo se fez carne, o que significa que Deus assumiu a natureza humana de tal modo que o ato de ser eterno, divino, assumiu a natureza humana concreta, e essa natureza humana concreta é o instrumento da nossa salvação.
São João diz, no prólogo do seu evangelho, que "da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça". Ou seja, a alma santíssima de Jesus Cristo está de tal modo unida à segunda pessoa da Santíssima Trindade que a mesma vida eterna de Deus jorra em sua alma. E, uma vez que o Senhor morreu, ressuscitou, foi glorificado, e está sentado à direita de Deus Pai, agora ele causa a nossa salvação por um contato que os teólogos chamam de contato virtual.
O que é isso? O sol nos toca, mas nos toca pela sua virtude, pelo seu poder. Se o sol tocasse a terra, acabava tudo.
Então, ele nos toca pela sua força; do mesmo jeito, a humanidade santíssima de Cristo nos toca pela força da sua divindade. E isto significa que o segundo Adão, isto é, Cristo, é um espírito vivificador. A vida de Deus está sendo soprada sobre nós; a vida de Deus está sendo soprada dentro de nós; a vida de Deus continua sendo insuflada.
O primeiro Adão é uma alma vivente: Deus soprou a alma em Adão; ele se tornou um ser vivo. Mas o segundo Adão, o segundo Adão é um sopro contínuo, é Deus continuamente soprando, através da humanidade santíssima de Cristo, a sua vida divina na nossa vida, ou seja, no nosso espírito. O Senhor sopra o seu espírito, e é por isso que São Paulo diz, no mesmo trecho, aliás, em um outro trecho da mesma carta, que "aquele que se une ao Senhor torna-se um só espírito com ele".
Ora, queridos irmãos, qual é o nosso problema? O nosso problema é que, em primeiro lugar, nós, como Adão, vivos por aí, continuamente vivemos como um velho homem, e tratamos a obra de Redenção de Jesus Cristo como se ele viesse apenas para perdoar os nossos pecados. Mas ele não veio só para nos perdoar os nossos pecados.
Ele veio para perdoar os nossos pecados e infundir em nós a sua vida divina, a sua mesma vida divina em nós, uma vida que nos eleva a um nível sobrenatural. Isso significa o quê? Que eu não posso viver como um homem terrestre que é governado pelos seus sentimentos, que é governado pelas suas reações, que é governado pelas circunstâncias, que fica o tempo todo cativo, sequestrado pelo que acontece do lado de fora.
Eu tenho que viver como um homem espiritual. Como foi o homem terrestre, assim também são as pessoas terrestres; como é o homem celeste, assim também vão ser as pessoas celestes. Ou seja, o meu espírito tem que estar suspenso nas coisas divinas; eu preciso estar afeiçoado ao que é imaterial, ao que é supersubstancial, aquilo que está para além do que os meus olhos podem ver.
Isso eu só sou capaz de fazer na medida em que eu me deixo tocar pela graça divina e mergulho na vida de oração, quando eu não estou trafegando aqui embaixo. Num intercâmbio contínuo com pessoas da terra, eu estou numa outra dimensão, recebendo de Deus, e meu espírito está manifestando na realidade a minha dimensão nova. Passa a ser vertical; eu passo a viver voltado para Deus e, voltado para Deus, eu consigo simplesmente manifestar aqui e agora aquilo que se torna realidade através do meu espírito.
Sem isso, você não vai viver a caridade com ninguém. Por quê? Porque você estará no intercâmbio horizontal.
Então, as pessoas te provocam, isso te afeta, isso mexe com os teus sentimentos, isso te deixa ansioso. Você já se agita, quer retrucar, e aí a coisa fica pior. Você começa a maquinar; sua mente doida começa a imaginar mil e uma coisas e o seu pensamento fica o tempo todo confabulando, conjecturando e tentando descobrir o modo de fazer as coisas, com uma vontade extremamente engajada.
Então, você tem objetivos, você tem alvos, você quer persegui-los, exatamente como alguém que foi por qualquer sistema de programação neurolinguística que fica fissurado em dar resultados. Uau, que cansaço! O homem terrestre é exausto, o homem terrestre é estressado, o homem terrestre vive a vida inteira correndo de um lado pro outro.
O homem espiritual tá flutuando em Deus; ele está em outra dimensão. É como se o seu espírito estivesse pairando com o Espírito Santo. No princípio, criou Deus os céus e a terra; a terra era sem forma e vazia, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.
Pairava. O homem espiritual está pairando aqui embaixo; é tudo sem forma, vazio, desolado, totalmente desconsertado. Mas o meu espírito está pairando sobre isso e, assim como Deus trouxe as coisas do nada à existência e as coisas visíveis procedem das invisíveis, desse mesmo modo nós vamos vendo Deus produzir na realidade aquilo que a Sua palavra mesma significa.
Então, eu consigo amar. Claro, porque eu não sou afetado; eu não sou do Senhor onipotente. Me cobre, portanto!
Pode vir demônio, pode vir inferno, pode vir gente ruim, pode vir o que for; eu estou no esconderijo do Altíssimo. Agora, todo o esforço do diabo, qual é? Todo o esforço do diabo é o de nos derrubar dessa posição no espírito para a posição do homem psíquico, do homem mental, do homem natural, do homem que está trafegando aqui embaixo.
É tudo o que ele quer, e ele já começa cedo, te dando uma preguiça superlativa, para que você não reze, porque ele sabe que, se ele conseguir essa primeira vitória sobre você, que é te tirar da oração, a batalha para ele está praticamente vencida. Você já começa na carne, e como diz São Paulo: quem semeia na carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia no espírito, do espírito colherá a vida eterna. É por isso que São Paulo [Música] diz: aquele que fala em variedade de línguas edifica-se a si mesmo e conclui: eu cantarei com o meu espírito, cantarei também com o meu pensamento; orarei com o meu espírito, orarei também com o meu pensamento.
Ou seja, se eu não me jogo numa oração sobrenatural, se eu não deixo o Senhor me levar para as alturas da união com Ele, se eu não me escondo em Deus desde o primeiro momento do meu dia e vivo numa atmosfera sobrenatural, numa atmosfera de fé, numa atmosfera em que eu estou absorvido em Deus, em que eu estou impregnado pela presença de Deus, em que o meu ser está completamente embebido pelo Último Adão, por esse Adão escatológico, pelo Senhor que me vivifica, o que acontece comigo é que o evangelho, para mim, vai ser só uma teoria. Veja o que Jesus diz aqui: se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Alguém que está na carne consegue fazer isso?
A pessoa tá ali, sabe? É o boi mugindo, é o sangue da carne gritando; não consegue. A pessoa te dá um tapa, já deu um tapa, já tá rolando no chão, já virou um escândalo; quando você viu, já tá todo mundo na cadeia.
É assim: para você ter a altura de conseguir dar a outra face, meu amigo, você tem que estar numa outra atmosfera. É assim, te xingando; você não tá nem escutando. Ele está te estapeando, você não tá nem entendendo, você está em outra.
Você realmente entrou numa vibe sobrenatural. Por quê? Porque você se escondeu em Deus, através da oração no espírito.
Ora, nós precisamos, queridos irmãos, nos arrepender de ser tão carnais e temos que começar a levar muito a sério a vida espiritual, muito a sério mesmo. Muitas pessoas estão buscando continuamente experiências emocionais na igreja, então elas querem se sentir bem, elas querem ter um tipo de convulsão afetiva. Isso é homem psíquico.
Você não vê essas igrejas modernas que existem hoje, todas programadas para que a pessoa se sinta bem, para ela ter uma experiência emocional? O nome disso é carne; nas escrituras, é carnalidade. Deus não age através da carne.
O primeiro Adão é que é uma alma vivente; o segundo Adão é o espírito vivificador. Então, Ele vai agir pela fé. Portanto, se você busca em Deus apenas afeições religiosas, sentimentos, experiências emocionais gratificantes, é a tua alma sangrando, é o teu ego ainda.
Deus não está aí. Jesus disse à Samaritana: Deus é espírito, e os verdadeiros adoradores o adoram em espírito e verdade. Espírito.
Ou seja, eu tenho que subir, eu tenho que transcender esse nível, eu tenho que entrar no repouso da fé, no descanso da união com Deus. Eu tenho que permitir que Jesus me leve pela força da sua Páscoa, pela força da sua ressurreição, para essas alturas. Conclui São Paulo: e, como já refletimos a imagem do homem terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste.
Vejam, é muito interessante essa metáfora. Diz aqui, ele tinha dito no Capítulo 11: sede meus imitadores, como eu sou de Cristo. Porém, a metáfora da imitação é uma.
. . Metáfora externa.
Então, eu tenho um modelo e eu tento copiá-lo. Aquele modelo aqui, a metáfora é mais perfeita; ele fala de Cristo como um Homem Celeste Vivo. Ele está dizendo que, assim como nós, por sermos seres humanos, refletimos a imagem do homem terrestre, ou seja, somos seres humanos, nós temos a natureza humana.
Assim também refletiremos a imagem do Homem Celeste; ou seja, o modelo que é Cristo passa a ser refletido em nós. Nós participamos dele. É como se, pela vida espiritual, nós nos tornássemos uma cópia dinâmica de Cristo, que é um modelo vivo e dinâmico.
Então, nós vamos nos movendo, movidos por ele. É uma ideia maravilhosa essa; muda muito o nosso modo de entender. Porque, veja, não se trata tanto de copiar o modelo exterior; o modelo está aqui dentro.
Trata-se de participar mais da união com Cristo, de intensificar a nossa dependência dele. Isto é ser espiritual, como diz São Paulo: aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Irmãos, vamos subir para a dimensão do Espírito.
Vamos tornar cristãos espirituais. Só isso pode resolver os nossos problemas. O caso é tão fácil de te derrubar!
É tão fácil; basta o diabo pegar um filho teu, um neto, uma pessoa mais fraca que está ao teu lado, mexer no teu dinheirinho, mexer em qualquer coisa da tua saúde. Pronto, ele te derruba; você vira um caco. Porque tudo te afeta.
Ao contrário, quando você sobe para essa dimensão sobrenatural, você está escondido; a tua vida está guardada com Cristo em Deus. O que acontecer aqui embaixo não vai te derrubar. Mil cairão ao teu lado, dez mil à tua direita, e tu não serás atingido, porque você está guardado numa posição invulnerável, que é a posição de quem está realmente no Espírito; ou seja, sob a influência direta do último Adão, que é um Espírito vivificador.
Que o Senhor nos transforme, que ele nos leve a essas alturas, e que nós consigamos, queridos irmãos, manter um alto padrão de vida espiritual, um alto padrão; muita oração, ambiente sobrenatural. Agora que está chegando o carnaval, parece que as portas do inferno se abrem; o ar parece que fica carregado, coberto de pecado, uma espécie de lama podre que vai se impregnando. Né?
Que, se nós mantivermos uma vida espiritual de alto padrão, um pensamento completamente dependente de Cristo, um ambiente de fé, um ambiente em que a presença de Deus está continuamente nos assediando, tudo isso não nos toca, não nos atinge. E é isso que nós precisamos! A hora que você deixar todas as coisas que o diabo está usando para te derrubar de lado e você se ocupar de Deus e entrar na sintonia, na comunhão com ele, sabe o que vai acontecer?
O diabo vai desistir de continuar te afetando e você vai provar as vitórias de Deus em todas as áreas que estão bloqueadas. Que o Senhor nos leve para esse caminho de sabedoria e assim poderemos desfrutar das delícias da comunhão com Deus e viver completamente na dependência de Jesus Cristo.