Se tem uma coisa que os brancos amam é o Blues, mas eles nem sempre amam quem criou o Blues. Vamos falar dessa obra que conseguiu unir com maestria o melhor do Blues, tornar entendível e pop a importância dos grios, arrancar a atuação incrível do Michael B. Jordan juntar Cuclus Clan menções a Charlie Paton ao Capony em um filme que muito mais do que um terror com vampiros é um longa profundo e repleto de camadas sobre ser negro.
Ah, e com performance dupla de Michael B. Jordan nunca é demais lembrar. Sim, é claro que eu tô falando de Pecadores, o mais recente filme do Ryan Kugler, que é uma das obras mais impressionantes, mais cuidadosas e profundas dos últimos anos.
Exatamente. Por mergulhar em todos esses temas com coragem, com maestria e uma profundidade que só um artista tão comprometido com a cultura negra poderia fazer. É um filme que superou completamente todas as expectativas.
Pecadores conseguem a proeza estratégica de parecer e atrair como um filme blockbuster de vampiros, sendo na verdade uma experiência cultural, política, histórica, um filme para maiores de 18 anos com um roteiro praticamente perfeito também. Dran Cogler. Então vamos mergulhar direto nos seus temas mais profundos e simbolismos, destrinchar o significado do filme e analisar o que ele realmente significa.
É aquele final, hein? Sim, vai ter spoilers. Então vamos começar.
Eu quero muito chamar sua atenção para esse enquadramento específico. Esse é o Eli. Repare no nome bíblico.
Elaide é um nome hebraico. E o Elaidia mais famoso foi, claro, o profeta do reino do norte de Israel no século antes de. Cristo.
Então esse homem aqui se chama Eliia, mas todos o conhecem como Smoke. Ele tem um irmão gêmeo idêntico chamado Elias, que na verdade é a forma grega do nome Eliia. Um bom detalhe.
Ambos, portanto, se chamam essencialmente Eliia. E Elias tem um apelido Stack. Junto.
Os dois são os irmãos Smoke Stack. Smoke se traduziria para fumaça. E o segundo que apesar de ser chamado de foligem na versão em português teria tradução literal de pilha, como um monte de alguma coisa, uma pilha de lenhas, por exemplo.
Mas quando você une smoke stack, a expressão significa chaminé. E eles são figuras notórias que serviram na Primeira Guerra Mundial antes de trabalhar para Alcapone em Chicago. E o ponto de partida do filme é que eles retornaram ao Mississippi para abrir um clube.
Agora, esse enquadramento específico ocorre no terceiro ato. Depois que Stack foi transformado em vampiro e meio que desapareceu. Então aqui tá o Smoke sozinho.
E repare que ele tá usando dois colares, como fez durante boa parte do filme. Um é uma moeda, duas moedas na verdade, mas penduradas na mesma corrente. Então quando se alinham é difícil perceber.
E um colar idêntico com outras duas moedas pertence ao seu irmão Stack. Esse colar, o colar de moedas parece representar o laço fraternal entre eles. Mas por que uma moeda?
pode refletir o fato de que eles também são parceiros de negócios, pode também ter algum significado pessoal e familiar para eles. Não descobrimos ao certo, mas o segundo colar usado por smoke, nós descobrimos é uma bolsinha mole da sua esposa com quem ele se casou por arranjo, a N com quem ele se reconecta durante o filme. Ela era praticante de rudu, a espiritualidade afro-americana.
E uma bolsinha múel é um amuleto tradicional utilizado especialmente nessa prática espiritual afro-americana. O Rudu, que combina elementos da espiritualidade africana com tradições populares dos Estados Unidos. Nesse ponto do filme, o Smoke perdeu tudo.
O seu irmão se tornou um vampiro, a sua esposa tá morta e agora ele tá prestes a buscar vingança contra os membros locais da Cuclus Clan, cujo líder foi quem lhes vendeu um moinho no início do filme. Então é um momento significativo, ele não tem mais nada a perder. E o que ele faz com os dois colares é notável?
Ele remove o colar com a bolsinha mo. Talvez o ponto seja que agora ele aceitou a morte da esposa, porque ele não quer a proteção da bolsinha MIO, na qual talvez nem acredite pra batalha que ele tá prestes a enfrentar, então porque ele sabe que vai ser a sua última. Então ele retira o colar a sociedade da sua esposa e ao preparar as armas ele tira o colar de moedas do stack idêntico ao seu, que pegou do corpo do stack depois que ele se tornou um vampiro.
Mas ele não coloca o colar de stack no pescoço, não. Ele o pendura sob a arma enquanto parte pra batalha contra KKK. Quase como para criar a sensação de que ele tá indo pra guerra com o irmão ao seu lado, como nos velhos tempos.
Eu achei esse detalhe visual de narrativa fascinante, a troca dos colares refletindo a decisão firme e final desse personagem. E já temos aqui várias ideias espirituais em jogo, mas vamos recuar um pouquinho. Na minha visão, o filme retrata seis principais religiões ou espiritualidades.
Tem o Rudu da esposa do Smoke, a Annie, como eu já mencionei. Tem o vampirismo em si, que traz uma certa visão de realidade, como a gente vai ver. Tem a religião do povo Jaqu, um povo nativo americano retratado no filme.
Eles são retratados como caçadores de vampiros, o que é bem legal. Então tem o cristianismo retratado também no filme. Muitos dos moradores dessa área são frequentadores de igreja.
A Grace, uma logista chinesa local, usa uma cruz do pescoço e depois a KKK, que obviamente é um grupo extremista de ódio, mas que funciona como uma religião em certo sentido, uma religião horrível, tem a sua própria teologia, tem os seus rituais. Então, a última espiritualidade presente no filme, acredito, é o, é o Blues, a música Blues. E pode parecer surpreendente, mas a narração de abertura nos diz que em muitas culturas a música é tratada como um lugar de passagem entre a Terra e o mundo espiritual.
Essa ideia aparece na cultura irlandesa, na cultura nativo-americana, na cultura da África Ocidental. Mas essa ideia vem acompanhada de um alerta. Nós aprendemos que músicos talentosos podem, nas palavras do filme perfurar o véu entre a vida e a morte, entre o passado e o futuro.
E isso une as pessoas de forma extremamente profunda, mas também pode funcionar como um portal para forças sombreas. Assim, no filme, a música, especialmente o Bruce, ela é vista como uma força cósmica muito potente e o seu impacto vai além da compreensão até mesmo dos músicos mais experientes. Criar esse tipo de música é brincar com fogo.
É maravilhoso, mas também é extremamente perigoso. E a jornada espiritual que mais interessa o filme é a de Samy. Nós o encontramos pela primeira vez na igreja do seu pai.
e o seu pai é pastor. E os dois estão discutindo o trecho bíblico que vai ser pregado no dia seguinte. É 1 Coríntios, capítulo 10, versículo 13.
Nenhuma tentação os atingiu que não fosse comum aos seres humanos. E Deus é fiel. Ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar.
Mas quando forem tentados, ele providenciará um escape para que possam suportá-la. Esse é um trecho muito interessante de se levantar num filme chamado Pecadores. Nesse versículo, o apóstolo Paulo tá dizendo que Deus nunca vai colocar alguém numa situação onde pecar seja a única saída.
Sempre há uma outra saída. E parte do que precisamos ser salvos é dessa tendência de ceder a tentação segundo ele. Mesmo havendo sempre um caminho, ainda assim a tendência das pessoas escolherem o pecado.
E isso é parte da nossa natureza decaída humana. O semi é um músico extremamente talentoso e quer tocar blues novo clube fundado pelos gêmeos Smoke Stack, que são seus primos. é um Jack Joint, um tipo de bar ou um clube informal, geralmente localizado em áreas rurais ou periféricas do sul dos Estados Unidos, criado e frequentado majoritariamente por pessoas negras durante o período da segregação racial, especialmente entre o fim do século XIX e meado do século XX.
A palavra joke vem de um termo da língua gulá, uma língua criola africana da região da Carolina do Sul e da Geórgia. Jug ou jug, que significa bagunçado, desregrado libertino. Joint é uma gilia informal para um lugar, um estabelecimento ou um projeto ou colaboração.
Você já viu que todo o filme do Spike Lee começa com a Spike Lee Joint? Mas então o pai de Semi o adverte fortemente contra esse plano que ele tem, porque o pai de Semi reconhece o poder da música e a sua capacidade de invocar forças sombreas. E ele diz: "Você continua dançando com o diabo.
Um dia ele vai te seguir até em casa. Sem então decide sair da igreja, a casa do seu pai, ruma a festa no estilo do filho pródigo. E o que se segue é uma noite que sai completamente do controle.
Mas que começa bem, o clube reúne as pessoas para as quais ele foi criado e a música ela é arrebatadora. Eu fiquei impressionado e você também com plano sequência em que a câmera circula entre os personagens enquanto o sem toca a guitarra e canta. É a cena do filme e você sabe exatamente que eu tô falando.
Nessa cena nós percebemos que espíritos do passado e do futuro estão sendo invocados e estão se misturando aos presentes. Existem seis eras musicais e estilos presentes na grande cena de semin Jack Joint. O Blues com Samy cantando I Light to you.
O rock and roll com a aparição do homem com uma guitarra elétrica, com o instrumento ainda nem existe na perspectiva daqueles personagens. Tem um hip hop ao mostrar as pessoas com agasalhos esportivos fazendo break dance no meio da multidão e o DJ operando uma picap. Tem a música tribal africana com seus tambores.
Tem o gospel com um coral que pode ser ouvido ao fundo. E tem o Chicu, uma forma de teatro musical que existe há milhares de anos na China, combinando canto, dança e artes marciais e que reflete a herança cultural da Grace e do Botal, sobre o qual nós vamos falar mais adiante. E essa cena inacreditável embaralha a fronteira entre sonho e realidade.
Na visão, o prédio pega fogo e desmorona ao redor dos ansarinos uma ilustração da liberdade que parece acompanhar a música. E a canção que o semi tá cantando é da sua autoria e é notável. Ele diz que é pro seu pai e explica como foi bem criado.
Foi criado na fé cristã, mas tem uma obsessão secreta pelo Blues. Um veterano do Blues chamado Delta Slim o encoraja a Nilson explicando que o cristianismo é religião imposta a eles pelos brancos americanos. Mas o Blues remonta aos nossos ancestrais e é aí que o filme chega no fim das contas.
O blues é visto com uma espiritualidade verdadeiramente transcendente, ao que todas as culturas estão tentando alcançar de alguma forma. Mas o cristianismo é enquadrado, ao menos por alguns, como a religião do homem branco. E no entanto, o cristianismo engraçado teve origem no Oriente Médio.
E as igrejas na Índia, no Iraque, na Etiópia e em muitas outras nações orientais são mais antigas que a igreja na Inglaterra. Portanto, o cristianismo não é por origem uma religião do homem branco. Mas eu entendo que dado quanto foi distorcido e usado para justificar a exploração ao longo da história, ele venha muito carregado dessas bagagens.
Então, Samy, conhecido como Prature Boy, agora tá fazendo o que ele ama, tocando Blues com o violão que ele pensa pertenceu ao lendário Charlie Patton, conhecido como o pai do Delta Blues. E a presença desse instrumento, ela não é aleatória como nada no roteiro. Patron é uma figura real, símbolo máximo das raízes culturais negras no sul dos Estados Unidos, especialmente no Mississippi, onde o Blues nasceu.
E a partir daqui nós acompanhamos então seu mergulho na tentação. E ele comete adultério com uma mulher casada. E Stack, ao reconectar-se com a sua ex-namorada, Mary também comete adultério com uma mulher casada.
E tudo isso acontece nesse ambiente cada vez mais edonista, alimentado por álcool. Mas então a narrativa toma um rumo radical. Uma nova espiritualidade entra em cena.
Os vampiros aparecem. São vampiros do estilo clássico de Burn Stoker. Imortais, não envelhece, tem presas, podem dar saltos enormes, precisam ser convidados para entrar no local e são repelidos por alho.
Se mordem alguém, essa pessoa morre e retorna como um vampiro. E só podem ser mortos com a clássica estaca no coração ou pela luz do sol. E aqui tá um ponto extremamente interessante.
Eles oferecem uma espécie de salvação falsa. Eles dizem: "Deixe-nos morder você". Deixe-nos transformá-lo em vampiro e você se juntará à nossa comunidade musical de amor, livre da opressão do mundo, livre do racismo de grupos como a KKK e outros.
E ela é uma espécie de vida eterna, um tipo de paraíso na terra. É isso que os vampiros afirmam oferecer. Essa promessa e essa tentação lembra muito Gênesis 4, no qual Deus diz a Caim: "O pecado está porta à tua espera".
No filme, literalmente os vampiros estão à porta do clube e a pessoa que mais desejam é o semi, o mestre músico. E as palavras de Jesus em Mateus 16 são bastante emblemáticas para analisarmos isso também. Do que adianta alguém ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma ou o que alguém poderia dar em troca da sua alma?
E se me parece reconhecer isso de certa forma, por um momento ele se arrepende de não ter ouvido os conselhos do pai. Ele acredita que o diabo realmente o encontrou na forma desses vampiros e que se tornar um deles seria vender sua alma. Mas, infelizmente, durante a batalha que se segue, muitas pessoas são transformadas em vampiros contra a própria vontade.
E Sem é confrontado pelo vampiro original, o Remck, nas águas ali próximas do clube. É uma espécie de batismo perverso. O Remick mergulha a Semi repetidamente na água, tentando desesperadamente transformar ele em vampiro.
Só que Semi o rejeita. Ele reza o Pai Nosso e ele contra-ataca Remick com a sua guitarra. preciosa para ele, mas é a estaca no coração cravada por Smoke, que finalmente mata Remik e o nascer do sol mata a maioria dos outros vampiros.
Então, como eu já mencionei no início, Smoke vai atrás da KKK e nessa batalha ele é mortalmente ferido, mas tem uma visão da esposa dele morta, M cuidando da filhinha bebê deles. Mas o que que essa visão significa? Confirma o sistema de crenças do Rudu, da N e a sua visão do pós-vida.
é uma alucinação. A resposta fica em aberto. Quanto a seme, ele retorna à igreja do pai.
É como o filho pródigo voltando para casa. E antes de considerarmos a decisão final do semi, vale refletir. Seu pai, será que era um bom pai?
Ele fez algo errado? Você poderia argumentar que ele foi rígido demais ao proibir o seme de tocar blues. Mas no contexto do filme, os seus temores acabaram se mostrando extremamente justificáveis.
A música de semi de fato invocou forças sombrias do além e muitas pessoas morreram. O semi inclusive cometeu adultério nessa festa. Então o pai do Sem tinha razão em se preocupar com ele andando com os gêmeos Smoke Stack.
E ainda assim o pai de Sem recebeu o filho de volta, óbvio, de braços abertos. Tem o perdão. Ele só pede que sem largue o que sobrou da guitarra e deixe o Blues para trás.
Não precisa abandonar a música por completo, porque de fato tem um lindo coral gospel na igreja cantando This Little Light of Mine quando o Semi chega lá. Mas o Semi diz não, ele parte novamente pras terras distantes e se torna um bem-sucedido músico de Blues. Assim, no fim das contas, o filme parece tratar o Blues como a sua espiritualidade mais transcendental.
É o que prevalece. Isso fica claro na cena após créditos. Os vampiros Stack e Mary aparecem pro velho Sem em um bar.
E sem nessa fase mais velho, é interpretado por ninguém menos que o Bud Guy. E o Steck a Mary pergunta se ele quer se tornar um vampiro. Só que ele recusa.
Ele diz que já viu o suficiente, não quer ser imortal na terra do jeito que ela é. Isso é mais do que compreensível. Ele se afastou do cristianismo, da sua juventude e rejeitou a falsa salvação dos vampiros.
Mas qual é a esperança de fato pro homem que dedicou sua vida inteira ao Blus? No fim, enquanto os três personagens relembram tudo que eles podem dizer que o dia em que todos se reuniram naquele moinho foi o melhor dia das suas vidas. Antes de tudo virar um banho de sangue.
Foi um momento fugaz, transcendente de comunhão. E com isso o filme finaliza e se complementa de forma bastante sutil. Ele não endossa totalmente a decisão de seme de se afastar do pai com seu final com tom de melancolia misturada com arrependimento.
Dito isso, ao longo de todo o filme, Blu tá claramente associado à liberdade, tá ligado a se libertar do racismo e da escravidão, algo com que todos podemos concordar. Mas para semei também passa a representar a liberdade dos pais. Ele abandona a família, abandona a igreja para seguir o que considera um chamado mais elevado.
O blu, então é um filme de terror bem pós-moderno. A jornada do semei envolve rejeitar sua criação, rejeitar a perspectiva cristã como supostamente simplista e restritiva sobre o bem e o mal e se voltar para algo mais adulto emocionalmente. E todos os personagens do filme, exceto o pai de semi, são moralmente ambíguos.
Até os vampiros, que a princípio parecem demônios, se vem como a junção de Deus, da terra e da besta. Isso não é inteiramente refutado pelo filme. Então, o filme inclui várias espiritualidades diferentes e o filme parece ver todas essas espiritualidades como verdadeiras em algum grau, com exceção da Truclus Clan, é claro, sim.
Essa é a única que o filme condena abertamente como irremediavelmente má, como não poderia deixar de ser. Mas para que o filme possa chamar KKK de má, ele precisa estar apelando a algum bem supremo. E no filme não é óbvio onde reside essa fonte de bondade.
Tá na cosmovisão nativo-americana, no hudu, no cristianismo, no blues. O blues é o que sai por cima num filme tão sofisticado e complexo ao mergulhar em todas essas questões espirituais, filosóficas e práticas sobre ser uma pessoa negra, seja em que época for. Vamos ver sobre o prisma do Eliia e Elias Smoke Stack, interpretados por um impressionante Michael B.
Jordan num duplo papel. O retorno do Gêmeos pro Mississippi dos anos 30 em plena segregação racial depois de trabalharem com Alcapone em Chicago, ele é um símbolo fortíssimo. A escolha deles de voltar paraa sua comunidade e investir no próprio povo reflete a experiência real de muitos negros americanos que após migrarem pro norte em busca de melhores condições, decidiram retornar ao sul com dinheiro e com novas perspectivas.
Trabalhando com o crime organizado em Chicago, os gêmeos viviam a rota pragmática de sobrevivência que alguns veteranos negros tiveram depois da guerra. Eles tinham treinamento militar, conheciam táticas, logística, disciplina, armamento. Isso tornava eles extremamente valiosos no submundo do crime, trabalhando como segurança em bares clandestinos, operadores de bebidas ilegais, cobradores, motoristas e até gerentes de casas de apostas clandestinas.
às vezes trabalhavam de forma independente, outras sob o comando das famílias mafiosas que precisavam de homens fortes, de homens confiáveis e que, por serem negros, não eram oficialmente aceitos, eram subempregados e explorados. Ainda assim, eles mantinham operações críticas no dia a dia da economia clandestina durante a lei seca. E na página oficial da trilha do filme no Spotify, era possível encontrar alguns STGs que ofereciam planos de fundo envolventes pra gente saber mais sobre partes da história.
Tem páginas de jornais que revelam, por exemplo, assaltos a bancos. Em um desses assaltos tem a descrição da personalidade dos irmãos, segundo testemunhas oculares. Steck apresentado como carismático e articulado, o smoke mais violento e impulsivo.
Pelo ano de publicação, 1924, nós sabemos que esse crime ocorreu bem antes dos eventos do filme e a segunda página mostra os conflitos entre a máfia italiana e a máfia irlandesa em Chicago após a prisão do Alcapone. O jornal informa que ambas as facções acusam uma a outra de roubar um carregamento de bebidas alcoólicas ilegais. Enquanto isso, os irmãos Smokestack enchem o seu clube com caixas de cerveja irlandesa e de vinho italiano, o que os coloca diretamente no centro da guerra entre as gangues do norte.
Isso foi o que os irmãos Smokstack tiveram que fazer para criar o seu espaço próprio, livres do olhar explorador dos brancos, onde pudessem ter controle econômico e cultural completo sobre a sua produção. Isso é exatamente o que Ryan Cugler fez na sua carreira com pecadores. Após grandes filmes, como as franquias Pantera Negra e Creed, ele volta suas origens para contar uma história essencialmente negra, mantendo o controle criativo e econômico sobre a sua obra.
Tanto que Ryan Kugler negociou um acordo raríssimo com a Warner Bross. Corte final do filme e participação no lucro bruto desde o primeiro dólar. Ou seja, o Kugler começa a receber a sua parte assim que o filme saia nos cinemas.
sem precisar esperar que o estúdio recupere o investimento como é prh. Mas o pedido que realmente fez alguns estúdios travarem foi outro. O Kugler queria que os direitos sobre o filme retornassem para ele depois de 25 anos.
Isso, meus amigos, é história sendo feita diante dos nossos olhos. Essa decisão não é apenas criativa, mas profundamente política e histórica. é o povo negro tomando posse daquilo que é seu por direito.
E faz isso a partir de um filme muito profundo e bem escrito, que traz camadas em uma camada ainda mais complexa, a relação com outros imigrantes, como os irlandeses, também marginalizados nos Estados Unidos, mas que alguns casos se tornaram agentes de exploração. Tudo começa com Remick, o vampiro líder, que é um irlandês que chega a América num navio chamado The Celtky Hair, claramente inspirado no navio lendário do Drcula, o The Matter. Hem é o primeiro vampiro a chegar à região e funciona como um paralelo poderoso aos imigrantes europeus, especialmente os irlandeses, que também eram vistos como uma espécie de praga pela sociedade americana.
O catolicismo ele chegou na Irlanda com muito impacto no século V por meio de missionários como São Patrício, que era britânico e romano. Remic se lembra disso. Então ele tava vivo na época ou carregava as memórias de quem o transformou, que teria vivido durante esse tempo, durante séculos, um império britânico, ele oprimiu os católicos irlandeses de maneira extremamente violenta, sem direito ao voto, sem direito à propriedade, sem acesso à educação religiosa.
E essa opressão acabou fundindo o catolicismo da identidade irlandesa. E após eventos, com uma conquista da Irlanda por Oliver Cowell, dezenas de milhares de irlandeses foram capturados, foram vendidos e foram enviados às colônias como Barbados, Jamaica e a colônia da Virgínia nos Estados Unidos. Muitos foram literalmente chamados de escravos brancos.
foram anunciados em jornais, foram leiloados, foram espancados, violentados e levado ao esgotamento físico. E embora fossem servos contratados e temporários, ao contrário da escravidão hereditária imposta a indígenas e aos africanos, o tratamento era brutal também. O que torna Remik um vilão especialmente poderoso é o fato dele tentar roubar e assimilar a cultura negra representada pela música do semi, ao que não lhe pertence, que jamais poderá realmente absorver.
Essa tentativa de apropriação cultural violenta, ela é central na trama e ela reflete uma discussão extremamente atual. A forma como Ryan Kugler retrata esse contexto é extremamente cuidadosa e cheia de camadas. O filme também mergulha nas relações com os sino-americanos no sul dos Estados Unidos a partir da presença do casal chinês Grace e BW.
Eles precisam operar duas lojas distintas. Percebeu isso? Uma para clientes brancos e outra para clientes negros, uma em frente da outra.
Isso não é só um detalhe de roteiro, é uma representação precisa e cortante da lógica racista do Jean Crow, em que asiáticos, apesar de sofrerem discriminação, ainda atuavam como uma espécie de meio-coampo racial, funcionando como amortecedores comerciais entre negros e brancos. Após a guerra civil, os negros começaram a criar suas próprias estruturas econômicas com cidades como Mount Bayu, por exemplo. O Smoke, ele menciona essa comunidade numa conversa com o Semi, sugerindo que ele vá até lá ou vá a lugares como Rosewood, como Tulsa, como Greenwood ou até partes do Ren, onde médicos, banqueiros e agricultores negros prosperavam com independência.
Mas a elite branca, temendo esse crescimento, ela criou um sistema de contenção. Imigrantes chineses, recém- saídos do trabalho forçado nas ferrovias e barrados dos bairros brancos, eram direcionados legal e economicamente paraas comunidades negras. Isso com apoio secreto de bancos e cadeias de suprimento brancos.
Negócios sino-americanos se tornaram a linha de frente da extração de recursos. mercadinhos, lavanderias, bares, restaurantes e lojas de bebidas capturavam os dólares negros e escoavam os lucros para fora das comunidades sem retorno. Enquanto isso, empreendedores negros eram sistematicamente impedidos de competir.
políticas de empréstimo racistas, zoneamento urbano, intimidação, comerciantes chineses, embora também marginalizados, ganhavam o terreno para operar acima dos negros, mas ainda abaixo dos brancos. Eles podiam abrir lojas, mas eram raramente donos da Terra. O capital, os bancos, os contratos fluíam pelos sistemas brancos.
A população negra não tinha suprimento local, nem acesso a alimentos ou serviços básicos. Era um ciclo constante de consumo que drenava a riqueza a cada compra. E muito disso continua até hoje.
Nos anos 50 e 60, o movimento pelos direitos civis foi um golpe extremamente decisivo. A luta contra segregação era justa, mas a integração teve consequências econômicas devastadoras. Quando negros puderam finalmente comprar em lojas brancas, estudar em escolas brancas, trabalhar em escritórios fora das suas comunidades, as cidades e os negócios negros foram abandonados em massa.
Os jovens talentos, médicos, professores, advogados migraram para cidades brancas. O dinheiro negro passou a circular diretamente nas economias brancas em vez de permanecer nos bairros negros. As vitórias sociais dos direitos civis fecharam as portas econômicas da independência negra.
Isso nunca foi totalmente reconstruído. Foi isso que acabou com comunidades como Mont Bo. A tragédia não é que os negros buscaram liberdade.
A tragédia é que o tipo de liberdade oferecida foi justamente aquela que desmontou seus sistemas de propriedade, de empreendedorismo e de autossuficiência, deixando eles, as pessoas negras, mais vulneráveis economicamente do que nunca. Curiosamente, o filme toca nesse tema. Eu percebi que Remic e Mary eles ficaram extremamente preocupados depois que a M foi mordida.
O Smoke cumpriu a promessa de matar ela antes que ela se transformasse em vampira. O verdadeiro alvo de Remik era Semi, mas ele também queria absorver os conhecimentos e os dons da praticante do Rudu. A já havia previsto a sua própria morte ao jogar os ossos na mesa de apostas e não queria que o seu saber fosse usado pro Remick.
Se conseguisse converter N ao vampirismo, o Remick teria uma poderosa aliada para conseguir persuadir o smoke, que seria outro trunfo dado a sua habilidade tática e o irmão recém transformado. A tríade, Semi, Nos gêmeos eram o Dram Team. Se o Remy, que é esse vilão fundamental, os próximos vampiros que vemos também são extremamente significativos.
Dois membros brancos da Cuclus Clan, Berty e John. não deixa margem para dúvidas aqui. O vampirismo em pecadores é uma metáfora direta pro racismo estrutural, pra exploração e pro roubo sistemático da cultura negra.
O branco explorador é retratado como um vampiro literal, sugando não apenas o sangue, mas a vida, a cultura e a identidade daqueles que oprimem. é tratada principalmente através do blues. E o que os vampiros desejam não é só o sangue, mas também essa conexão poderosa que o semi tem com seus ancestrais, essa conexão profunda e poderosa de nós negros com a nossa cultura.
E isso é ricamente sintetizado na fala contundente do Slen, que talvez seja o que melhor resuma toda a profundidade, complexidade e importância desse grande filme que é Pecadores. É a frase com a qual eu abri esse vídeo e com a qual eu encerro. Os brancos amam o Blues, mas odeiam quem o faz.
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