e a canção ela é um objeto que uma produção uma estética que depende da do entrosamento entre melodia e letra esse entrosamento só ficou mais claro para mim quando me surgiu o sentido de entoação e essa ideia de que já existe na própria fala da gente uma melodia que acompanha o que está sendo dito para mim foi essencial para mostrar que a canção tem uma linguagem própria sua Luiz tatit venho fazendo dois trabalhos principais a vida inteira um propriamente acadêmico na faculdade de Filosofia letras e ciências humanas no departamento de linguística outro trabalho é o
trabalho artístico de composição sobretudo composição de canções eu comecei na verdade com essa parte artística sobretudo é mais significativo a partir de 74 Em que em que e em que o rumo começou propriamente dito em algum bo provavelmente dito começou a lançar as suas canções eram músicas mais experimentais músicas até mais duras de se ouvir né algumas um pouco mais já palatáveis mas a maioria era um músicas de experiência que elas eram difíceis de ouvir hoje a gente percebe isso na época tudo parecia que era possível né então com nós gravamos nos anos 80 já
81 só quando saiu o disco as canções já tinham sido selecionadas aquelas que que tinham atingido uma forma um formato que já poderia até tocar no rádio se quisessem né embora não tenho sido tocar em rádio na maioria das vezes mas é um canções que estavam bem acabada já para isso e esse período de 74 80 foi só experimentação o gravação de músicos antigos a gente fazia novos arranjos por Noel Rosa para o Lamartine Babo para o senhor O que quer dizer Então tira uma pesquisa muito clara no trabalho do Rumo quero o trabalho que
principal que eu fazia naquela época do ponto de vista artístico agora depois em 83 Se não me engano e foi o saiu o disco diletantismo que eram novas canções que a gente que a gente fez ainda um pouco bastante experimentais depois fizemos um experiência com músicas infantis pela primeira vez né música infantis que na época não era não era habitual se fazer isso era época em que na televisão você tinha músicas da Xuxa né que era isso que pegava na no ambiente infantil e nós apresentamos um trabalho chamado Quero passear que era era um canções
infantis também que certa forma experimentais né mas que de fato talvez tenha sido o disco mais fácil de ouvir e que vendeu muito inclusive na época nessa faixa a independente sempre trabalhando de forma independente né bom na minha a carreira acadêmica tem talvez duas dois duas pesquisas importantes que é o meu trabalho com teoria semiótica semiótica é uma uma teoria que tenta explicar como que o sentido se compõe nas diversas linguagens então por exemplo sentido dentro do cinema se sentido dentro da música sentido dentro das artes plásticas quer ver como que a se sentido é
construído e também na literatura que é o mais utilizado né no enterro de análise mas que como que esse sentir-se esse esse sentido tem algo que é próprio dele e que acaba se manifestando em cada linguagem por exemplo uma das primeiras descobertas da semiótica ela força da narrativa e quer dizer a narrativa era uma gramática que tava por trás dos filmes estava por trás das músicas trava por trás das do teatro de todas as manifestações no começo era assim depois passou a ser a predominância eu sou a ser mais a noção de tensividade que as
essas oscilações intensivas de mais força menos força mais velocidade e menos velocidade passou a ser o elemento Regente né que que que desencadeia o resto não era mais a narrativa isso a partir dos anos 90 já mas se tudo isso era semiótica que quer dizer a semiótica tinha uma teoria no caso essa teoria no meu caso foi foi iniciada Por greimas que eram era um pesquisador extremamente influente naquele período esse período que eu tô falando é a partir de 1966 Mas eu tive contato a partir de 75 então comecei a me interessar pela semiótica pela
por entender um pouco mais de como se constrói o sentido independentemente da canção mas a canção era onde eu teria mais prática para fazer aplicação sobretudo para fazer as teses o que todo mundo sabe mais ou menos cometesse se você tem um objeto para aplicar ela fica mais concreta para as pessoas em geral fica aparecendo que aquilo tem alguma utilidade porque teoria ninguém vê ainda mais o Brasil ninguém vê utilidade em teoria se não tiver uma aplicação imediata na isso até hoje assim e eu não da verdade nem ligo para essa aplicação eu só me
interesso pela teoria enquanto tava eu gosto da abstração mesmo mas de qualquer forma você fazer a tese ela fica mais concreta se você tiver um objeto Claro e para mim objeto mais sob controle naquela época era canção porque eu sabia fazer então lhe dava com isso conhecia muito a história da canção tudo isso ficava fácil então eu fiz em 82 mestrado depois em 86 doutorado depois em 94 livre-docência que ali foi Minha tese principal a livre-docência da qual o chamado semiótica da canção melodia e letra ao mesmo tempo eu comecei a escrever também no livro
que comecei a escrever não na verdade até por terminei antes que era o cancionista Esse é um livro que ficou marcante até pela palavra cancionista que não se usava foi pela primeira vez que foi usado essa palavra pensionista para indicar a pessoa que tem tem aptidão para lidar com canção e às vezes às vezes quase sempre não é músico não é literato não é poeta não é nada apenas vida com canção sabe fazer melodia sabe fazer letra Ou pelo menos uma das duas às vezes sabe fazer sua melodia mas dá para um letrista fazer a
parceria e ou vice-versa faz a letra mas já pensando que aqui tem que ter uma melodia para para para emitir né a letra bom então então eu foi muito importante esse período em que em que em que eu comecei a a definir a canção como uma relação entre melodia e letra necessariamente aí já tava bem claro para mim que a canção tem uma linguagem própria que precisava ser analisada na relação melodia e letra e não adiantava nada você ter princípios poéticos princípios musicais harmônicos etc para analisar canção sino não conseguiria explicar nada do que a
canção do que a canção tinha de especial a canção ela é um objeto que uma produção uma estética que depende da entrosamento entre melodia e letra e esse entrosamento só ficou mais claro para mim quando me surgiu o sentido de entoação entonação É isso que eu tô fazendo agora tô falando com vocês eu tô entoando as minhas frases às vezes eu vou para cima ou para baixo faço conclusões que descendentes às vezes subo porque eu tô querendo dizer mais coisas então há quase que a minha voz vai aumentando a altura mesmo a a frequência né
para depois fazer a descendência quer dizer essa ideia de que já existe na própria fala da gente uma melodia que acompanha o que está sendo dito para mim foi essencial para mostrar que a canção tem uma linguagem própria que isso poeta não precisa levar em consideração música Não precisa levar em consideração músico instrumental por exemplo mais o ouvinte leva o ouvinte só se interessa pela relação melodia e letra é a coisa que mais todo o resto arranjo e tal ajuda nessa o cabelo dia e letra mais uma canção pura é aquela que você cantarola até
sem instrumento você por exemplo se eu vou te dizer como é que é uma música do Rosa por exemplo se eu digo Feitiço da Vila Quem nasce lá na vila na hora que eu começo a fazer as entoação é porque eu estou apresentando já canção completa para você agora se eu for gravar eu vou fazer um arranjo vou deixar lá eu vou vestir lá né dica de recursos que ela vai ficando cada vez mais enfeitada mais bonita mais agradável de ouvir mas o essencial EA melodia e letra que eu posso mostrar para alguém só essa
melodia e letra como eles faziam naquela época e a pessoa faz um arranjo o urso maestros na época fazer um arranjo às vezes até para pequenas orquestras né só só a partir daquela melodia aquela letra cantarola nada então isso para mim foi fundamental essa ideia de núcleo o núcleo digamos assim estético o núcleo da linguagem da canção baseada na entoação da fala o que me explicou um monte de coisa por exemplo porque que pessoas que não têm não sabe nada de música Podem compor tranquilamente Porque que as pessoas aprendem a tocar de ouvido violão e
passam a ser compositores às vezes os melhores compositores que a gente tem eu comecei a perceber Todo esse pessoal o pessoal que são os meus induzidos de todos lá como Chico Buarque como Jorge Ben Jor Roberto Carlos O Caetano Veloso ninguém é músico era certo e no entanto eles são considerados os nossos principais músicos não eles são os nossos principais cancionistas na todo mundo sabe que nos anos 60 a a música ocupava na televisão o papel que hoje que hoje que eu digo nesses últimas nessas últimas décadas o papel desempenhado pelas novelas não havia novela
naquela época que havia nas canções Então você assistia os programas musicais como se fossem como se tivesse uma narrativa narrativa a história da Elis Regina a história do Chico Buarque A história da Nara Leão na história do Simonal a gente acompanhava aqueles programas como se tivesse uma narrativa por trás né então isso é muito forte para mim isso era era muito forte na televisão e para e para todas as pessoas que cresceram nessa época houve um acompanhamento ácido né Foi quando apareceu o jovem guarda não é o era um rockzinho mais simples do que o
rock que se fazia fora era também o ápice dos Beatles que influenciava demais o que tava acontecendo aqui dentro né então isso tudo serviu para dar um background para depois a gente poder tentar entender essa linguagem que era tão forte sobretudo entre os jovens e tal né E aqui no Brasil especialmente Porque nós não é uma música uma música erudita participante da sociedade como tem na Europa Europa as pessoas têm uma vida com a música do dia tá muito mais próxima que não tem e nunca teve e acho que nunca vai ter não tem mais
tempo para isso porque agora são as buscas tem que ser rápida tem que cada vez mais elas são elas são mais efêmeras elas não são feitas para durar a não ser assim ficar no inconsciente coletivo e tal mas a vida da música é muito rápida atualmente você vê no stream depois já passa para o outro já elas são vistas de uma forma avulsa o que há pouco tempo atrás eu já tinha o CD pelo menos de uma composição de várias o repertório era composto né hoje nem isso as músicas são vistas individualmente e rapidamente descartada
se tal fazer é uma linguagem muito ágil que já era naquela época só que com uma outra medida na ainda via rádio a grande força né Didi isso tudo mexeu com quem estudasse canção naquela época precisava ter outros critérios né então essa canção era muito forte sobretudo até surgiu essa sigla que eu acho extremamente de mau gosto que a MPB é uma coisa que não diz nada né MPB música popular brasileira certo tudo o que eu faço aqui música popular brasileira trazendo um indica nada né porque os outros já indicavam um ritmo por trás o
samba não é o maxixe o até o até essas quando você fala o rap ou funk tem uma certa levada rítmica que define aquilo agora MPB não diz nada sobre o produto que você tá fazendo mas foi isso que todo mundo entende eu não sei como é que todo mundo entende mas todo mundo entende o que que a MPB né É mais ou menos o que a música que teve uma predominam e você tenta sobretudo no rádio ainda ainda o rádio era muito forte muita gente apareceu nessa época Como o próprio Djavan Ivan Lins multi
de gente que tiveram sucessos mesmos e rádio estrondosos a Rita Lee toda essa turma né Desse período e que aliás continuaram a carreira foi o período que deu continuidade à carreira de Gilberto Gil Caetano Chico toda essa turma né então a essa essa música Era muito forte nesse período e foram surgindo digamos Os Herdeiros dessa dessa dessa turma nós na música independente éramos ligamos Até hoje ainda somos completamente dizem importantes o que realmente entrou no mercado foi o rock o rock brasileiro foi logo em seguida a música sertaneja que tem coisas boas melódicas excelentes e
tem bobagens é que fica só repetindo essa as letras em todas as excessivas e tal isso sempre teve mas é importante essa música porque essa música que a gente chama de música brega de uma certa forma é uma música que a maioria das pessoas gosta a maioria mesmo silenciosa essa maioria que não emitir opinião que gosta simplesmente de ouvir a música sertaneja ou é a música brega de maneira geral chamava-se música Cafona nos anos 50 o próprio Lupicínio era considerado um compositor de música Cafona aquela música de uma de uma de um amor excessivo não
é um amor como a da bossa nova que é que é um amor digamos ponderados não é o amor excessivo assim com grandes reflexões melódicas e tal né bom então essa essa essa essa eu comecei a perceber nesse momento pelo menos me parecia Claro as músicas que tinham um apelo mais ritmico que por exemplo rock que ela que tem um células repetitivas e que de uma certa forma faz você enaltecer o que você tá dizendo na letra Justamente que a célula repetitiva Então como você tivesse exaltando aquilo que você tá dizendo na letra e as
músicas como se tem de um Sertanejo ao mesmo do Djavan aquelas bem românticas dele em que você sente que que o objetivo é o que eu chamo de passional as vogais duram mais a música fica mais lenta por causa disso as vogais duram mais que normalmente o que você tá fazendo ela é da falta do amor ou falta de alguma coisa você é um amor mas é o sentimento de falta que tá enjoo falta das terra natal falta de carinho falta seja lado quê bom então é isso me deu muito claramente o que era uma
música temática que essa de enaltecimento de invocação de alguma coisa e a música passional que é uma busca de busca de alguma coisa por isso que as melodias são vão lá para cima que nem o travessia né solta a voz nós está demora nas vogais né porque tão é um percurso que vem ao caso no caso das músicas temáticas o que interessa a formação de motivos que são recorrentes Justamente que está sendo você tá enaltecendo alguma coisa é uma espécie refrão o tempo todo refrão Exatamente é sempre uma algum tipo de exaltação né então isso
me deu por exemplo essas categorias foram muito Claras para mim justamente entendendo essas canções dos anos 70 80 90 por que que tem as oscilação das músicas passionais ganharem O mercado durante o tempo as mudas Episódio de música mais estimada da entra Axé Music que é uma música mais temática então ajudou muito para para fazer análise e você tendo uma perspectiva histórica maior lá isso já vem desde o começo da canção as músicas ritmadas como era os sambas mas batidos se for por exemplo são as temáticos e Geraldo Pereira baiana que entra no samba só
fica parada ou Ataulfo Alves ou mulata assanhada que passa contrafé de exaltação à exaltação que você tá vendo na letra da mulata da baiana é são as reiterações na Melodia Então você consegue fazer relação entre melodia e letra de que não tem nada a ver com princípios musicais na em princípios poéticos lá entendeu então isso ajudou a entender que que essa essa música temática que passou não vem desde os anos 30 quando começaram as músicas de rádio que a chamada é e do rádio e tal né Músicas já eram chamados de samba-canção já do final
dos anos 80 30 música de Ary Barroso mas românticas é e músicas como falei de Geraldo Pereira o mesmo às vezes o próprio do Ary Barroso também fazia de outro tipo de exaltação a própria Aquarela do Brasil em dia saltação né então então esse tipo de sacar são só foi possível justamente com essa entendendo essa evolução das canções que tem uma espécie de alternância entre os movimentos mais temáticos mais passionais às vezes mais ligados a fala pura como aconteceu daí nos anos 90 com o rappi e mostrou muito mais muito mais radicalmente que o rumo
a música que vem da fala direta o reto fez isso e Engraçado que nosso e da música falada há duas décadas antes né mas na verdade o reto e veio como como se fosse uma uma predestinação fofa lá quer dizer faltava ainda uma música que caracterizasse a fala como o seu motivo principal que normalmente é música que importa o conteúdo da letra no caso do reto por exemplo tem sempre uma denúncia Tem sempre alguma coisa que precisa entender a letra senão não tem sentido e e às vezes essas coisas mais musicais mesmo como Bossa Nova
que tem uma preocupação harmônica tem vários músicos que fazem canção Tom Jobim o não é o Johnny Alf que que eram músicos mesmo o próprio João Donato que era um pessoas que que eram ligadas a música aprenderam inclusive ler partitura tudo isso e fazem músicas todas as requintadas mas assim não quer dizer o melhor mas fazendo canções muito legais com pensamento musical também então eu acho que isso aí a partir dos anos 90 foi ficando claro que poderia ter Associação a vida inteira nós vamos ter as oscilação mais música mais fala mais tematização e mais
passionalização eu vejo hoje a música Apesar dessa dispersão enorme dispersão porque você tem que ir atrás na internet não existe mais o disco disco tá acabando né então você tem que ir atrás na internet se você gosta de seguir então você vai ver o estilo Mc coisas assim que são são lançadas as músicas avulsas depois são Reunidas ao mesmo tempo não tem uma história como havia no CD você tem que fazer a ligação você meu país a sua playlist cetera quer dizer é uma outra maneira de lidar com isso né agora a cada vez nós
temos mais cancionistas cada vez a gente tem mais gente boa tá já tivemos uma turma muito forte na época do que surgiram o Lenine o Zeca Baleiro o próprio Arnaldo Antunes depois da carreira solo ele começou os titãs que já tinha uma força como rock né mas depois da carreira solo dele se tornou uma coisa brilhante maravilhosa de produção como como melhor Chico o melhor Caetano melhor ele faz coisas no mesmo nível né e atualmente Marcelo Jeneci por exemplo autor um cantor e compositor fora de série né então nós temos a música tá extremamente fértil
ainda o que está mudando bastante é o modo de produção e o modo de veículo ação isso é claro isso ali assim até acontecer isso você não tenha Progresso e o progresso eletrônico agora virou uma uma em todos os Ramos da nossa vida imagine se você não se isso não seria incorporado pela pela canção que sempre foi ligada aos meios de produção né a canção que nós conhecemos surgiu com o disco que é uma invenção ele é na época não era fonográfica ele é uma invenção fonográfica mãe invenção técnica só fica técnica da época né
E hoje a técnica é toda reduzida aos meios eletrônicos é claro que haveria uma evolução tremenda nessa parte Como assim cinema como ainda tudo que depende de aspectos técnicos evoluiu tremendamente Só melhora não tem nada que piores Só melhora em todos os setores na canção também