O que foi a União Soviética e como ela se dissolveu em 15 repúblicas independentes

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BBC News Brasil
A notícia da dissolução da União Soviética, em 1991, surpreendeu muita gente pelo fato de, aos olhos...
Video Transcript:
Em 2005, o líder russo Vladimir Putin declarou que o fim da União Soviética foi "a maior  catástrofe geopolítica" do século 20. Isso foi lido por muitos especialistas em  relações internacionais como um indício de sua ambição de restabelecer a  influência russa sobre os países vizinhos E estaria na raiz da Guerra da Geórgia, em 2008, e na invasão da Ucrânia. Eu sou Laís Alegretti, da BBC News Brasil em Londres, e neste vídeo vou contar o que foi a União Soviética, como ela virou uma megapotência mundial, a ponto de rivalizar com os Estados Unidos, e como desmoronou.
O fim do país deu origem a 15 repúblicas  independentes e pôs fim ao bloco comunista, que se estendia a vários  outros países do Leste Europeu. Mas para começar, precisamos voltar um  pouco no tempo, até o início do século 20. A Rússia era então um país  assolado pela fome e pela pobreza Enquanto a Primeira Guerra Mundial espalhava destruição pela Europa, também eclodia a Revolução Russa de 1917.
Os chamados bolcheviques se rebelaram  e derrubaram o czar Nicolau 2º. Com isso, uma monarquia que já durava séculos  acabava em meio a uma sangrenta guerra civil, liderada pelo revolucionário  marxista Vladimr Lênin. Em 1922, um tratado entre Rússia, Ucrânia,  Bielorrússia e Transcaucásia, território onde hoje ficam Geórgia, Armênia e Azerbaijão, formou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS.
Um bloco comunista em que  não existiria propriedade privada, com Estado que controlava tudo e não deixava espaço para qualquer oposição. Após uma expansão espetacular, a União Soviética chegou a ter sob seu domínio todos esses territórios do mapa, que  representa o bloco de 15 repúblicas em 1956. Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia (hoje Belarus), Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia,  Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
O território soviético era duas vezes  e meia maior que o dos Estados Unidos e quase o triplo do do Brasil. E tinha valiosas reservas de recursos naturais, como gás e petróleo, que fizeram  do país uma potência energética. Se Lênin foi uma espécie de arquiteto  da União Soviética, foi seu sucessor, Josef Stálin, quem começou no fim da década de 1920 um processo de transformação que consolidaria o estado comunista como potência industrial e militar.
Stalin industrializou um país que  era agrícola e desenvolveu setores estratégicos como o petrolífero, siderúrgico, químico, minerador, automotivo, aeroespacial, eletrônico e o de telecomunicações. Ao mesmo tempo, implementou uma repressão brutal que custou milhões de vidas e encarcerou inimigos políticos. Outros milhões de pessoas morreram durante o processo de coletivização da produção, que levou a crises de fome.
Mas seria o fim da Segunda Guerra Mundial que consolidaria a União Soviética como grande potência. Com seu decisivo poderio militar, o país se juntou a Estados Unidos, Reino Unido  e França para derrotar os nazistas e o Japão. A aliança aconteceu apesar de unir duas ideologias  completamente opostas – capitalismo e socialismo.
As diferenças eram tantas que, após  a guerra, a aliança não durou muito. A União Soviética começou a implementar seu sistema nos territórios que tinha liberado dos nazistas em parte dos países bálticos. Isso, é claro, não agradou o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos.
Essa área de influência soviética acabou desenhando no mapa da Europa a chamada “Cortina de Ferro”, que dividia os campos capitalista e comunista. Foi nesse contexto que começou a  Guerra Fria, que durou várias décadas. Estados Unidos e União Soviética  passaram a ser rivais em quase tudo: desde corrida espacial, economia e esporte  até a disputa de arsenais militares, que colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.
Ao longo desses anos, a influência da União Soviética também alcançou países que não faziam parte dela, mas eram aliados indiscutíveis,  como Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, a então Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária e Albânia. Fora da Europa, os comunistas também tinham aliados fiéis em países como Cuba, Angola e Vietnã. Mas ainda que procurasse passar internacionalmente a imagem de uma potência invencível, a União Soviética estava à beira um colapso na década de 1980.
Grande parte disso se deveu  a um fator: a economia. Não dá para falar em números concretos, já que  o regime soviético não era muito transparente, mas a partir do início da década de 1980, a produtividade do país havia despencado Havia escassez até de produtos de primeira necessidade. Além disso, embora o sucessor de Stálin, Nikita Khruschev, tenha feito reformas políticas, a essência totalitária da União Soviética persistiu. 
Com isso, veio também a insatisfação popular. Foi nesse cenário que Mikhail Gorbachev, o líder que determinaria o fim da  União Soviética, chegou ao poder. Mas o plano inicial não era esse.
Ele queria modernizar o regime soviético com uma série de reformas que ficou conhecida como perestroika,  palavra que significa reestruturação em russo. Gorbachev fez mudanças radicais na economia, que  aproximaram o regime soviético do capitalismo. Ele diminuiu o controle centralizado sobre muitas  empresas, permitindo que alguns agricultores e fabricantes decidissem o que iriam produzir, além de definir quantidades e preços dos produtos.
A criação de negócios privados, como  restaurantes e lojas, também foi permitida. Não demorou para esse processo enfrentar a resistência da cúpula do Partido Comunista russo, que não queria perder poder. Outro efeito é que grande parte da  população passou a pagar caro por itens que antes eram subsidiados  pelo Estado, como os alimentos.
Enquanto tudo isso acontecia, Gorbachev  iniciava ainda um processo de democratização. Ele convocou as únicas eleições democráticas que ocorreram na União Soviética, em que foi eleito presidente. Alguns dissidentes políticos contrários ao  regime também tiveram vitórias nas urnas.
Essa pressão vinda das camadas populares da  sociedade acabou sendo materializada em um símbolo: A queda do muro de Berlim em 1989. Para muitos historiadores, ela seria inimaginável sem as reformas que estavam acontecendo na União Soviética. A queda provocou uma espécie de efeito dominó,  alimentando revoltas contra o domínio soviético.
No ano de 1990, todas as repúblicas da União já  haviam aprovado declarações de soberania nacional. Letônia, Ucrânia e Moldávia foram algumas das primeiras repúblicas a proclamar independência da União Soviética. Esse processo se acelerou em 1991, quando 11 repúblicas soviéticas decidiram  se tornar independentes.
Nesse mesmo ano, Partido Comunista foi dissolvido. Em dezembro, os presidentes da Rússia, da Ucrânia, e o representante da Bielorrússia,  firmaram o acordo de Belavesh, que poria fim à União Soviética e estabeleceria  a Comunidade dos Estados Independentes, a CEI. Alguns dias depois, Gorbachev já não tinha outra saída a não ser renunciar à presidência da União Soviética, uma potência que deixaria de existir após quase 70 anos.
Surgiram assim 15 repúblicas independentes  e quatro Estados autoproclamados, que não foram reconhecidos até hoje: A Transnístria, a Abecásia, a Ossétia do Sul e Nagorno-Karabakh. Mas o que vemos quase três décadas depois  é que a sombra do que foi a União Soviética ainda paira pelo mundo com a Rússia,  maior das ex-repúblicas soviéticas, que exerce forte influência  em sua região e no mundo. Ainda assim, a dissolução da União Soviética, em 1991, marcou o fim do mundo bipolar  e o início de uma era mais multilateral.
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