Aula "As raízes históricas e sociais da violência no Brasil" - Prof. Sérgio Adorno

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Núcleo de Estudos da Violência
Na aula, o Profº Sérgio Adorno revisita textos brasileiros clássicos do século XX (como Oliveira Via...
Video Transcript:
[Música] O objetivo dessa desse vamos dizer desse desses seminários é discutir a vamos dizer a o enraizamento da violência na cultura política brasileira né esse enraizamento tem uma história eh essa história ainda não foi vamos dizer pesquisada na sua Ah intensidade mas eh é possível delinear alguns desses vamos dizer de algumas das indicações eh na obra de alguns clássicos da Sociologia política brasileira eh é comum muitos de nós e acreditar não só nós mas cidadãos comuns acreditar que a violência é um fenômeno recente na sociedade brasileira né Eh datam da década dos anos 70 do
século passado com o crescimento da delinquência da violência urbana com a chegada do Crime Organizado E especialmente o crime organizado em torno do tráfico de drogas não é então a a ideia de que eh o Brasil até os anos 70 era um Brasil pacificado né era um Brasil onde não havia vamos dizer havia crimes mas os crimes estavam contidos dentro de vamos dizer eh taxas baixas que permitiam as pessoas né como muitos dizem andar pelas ruas deixar as as janelas das das das portas as janelas e as portas das casas não precisavam ser trancadas não
é eh não havia preocupação por exemplo com espaços considerados vamos dizer degradados ou perigosos não é É claro que havia cuidados com as crianças né os pais sempre recomendavam as crianças de não se deixarem acompanhar por pessoas desconhecidas não é mas essa preocupação vamos dizer essa vamos dizer a cultura do medo que se instituiu na sociedade brasileira que não é específico da sociedade brasileira mas que se instituiu na sociedade brasileira a partir dos anos 70 parece que é um fenômeno exclusivamente recente né mas se nós olharmos a história da sociedade brasileira quer dizer des da
colônia a sociedade brasileira sempre foi muito eh violenta eh Sobretudo com seus grupos eh dominados ou sujeitos a ao mando eh masculino n é eh eh sobretudo dos proprietários né e pessoas que de alguma maneira a rogavam para si a a prerrogativa de exercer o controle da Ordem Social né então o durante a colônia né crianças mulheres escravos né Eh pessoas que perambulavam pelas pela pelas ruas sempre foram tratados com muita violência e não é Basta ver por exemplo ah as mulheres dentro de casa né como é que as crianças eram educadas né e basta
ver também como os escravos eram tratados né não havia benevolência eh no uso da força e sobre tudo no uso eh abusivo da força que muitas vezes implicava na morte né Eh morte de várias de várias pessoas Então não é na verdade um fenômeno estranho se a gente olhar por exemplo a história dos movimentos sociais do Brasil Desde da do início do Brasil independente n é quer dizer Todas aquelas revoltas regionais Sabinada Balaiada farr pilhas as revoltas vamos dizer in confidência mineira todas elas foram reprimidas com um uso muito intenso de violência não é E
se nós pegarmos depois ao longo da da da da do Brasil independente né ao longo da República também movimento operário também sempre foi foi reprimido com muita muita intensidade o que eh sugeria que vamos dizer o uso da violência para garantir a ordem o que se entendia por ordem social eh tinha um certo lastro de aceitação talvez de leg idade eh para algumas pessoas podia ser que as pessoas não não aceitassem mas não havia expressão pública de resistência ao uso da violência não é como depois vai acontecer eh no final da da vamos dizer durante
a no final do do da da ditadura não é com processo de reconstrução democrática os movimentos sociais começam a se intensificar e e denunciar os casos de violência não é não só a violência eh praticada pela ditadura durante o regime autoritário mas também depois no período democrático não é a persistência dessa violência por exemplo pela ação da polícia pela ação dos agentes institucionais reprimindo né E aqueles que apareciam aos olhos da sociedade como potenciais perigosos né essa história já é bastante mais conhecida vocês a maior parte de vocês conhecem literatura eu vou falar dela provavelmente
eh em outra oportunidade não é bom então a minha hipótese é que esta esta vamos dizer a a cultura política no Brasil de alguma maneira incorporou a violência como um elemento da vida política né É claro que numa sociedade onde não havia uma uma separação muito clara entre espaço público e espaço privado né o uso da violência transitava indiscriminadamente do espaço público pro privado e do privado pro público né você podia reprimir apoiar a repressão de movimentos sociais nas ruas ao mesmo tempo que você podia usar da força da violência contra H as crianças dentro
de casa contra as companheiras esposas não é e assim por diante né Há muitas histórias não é muitas histórias eu vou lembrar duas que sempre para mim são muito significativas Uma delas eu já me referi tá citada no livro do Sérgio Bararque de Holanda Raízes do Brasil não é em que um grande proprietário de terra suspeitando eh da infidelidade eh conjugal da da sua nora monta um tribunal doméstico julga o que ele considerava uma grave ameaça a ordem familiar eh decreta condena e decreta morte depois sair pelas ruas dizendo que fez né Isso é um
fato contado no livro do Sérgio poar que é bastante conhecido eh a literatura brasileira também é muito farta disto né eu me Venho à memória o livro incidente em antares de erco Veríssimo que tem brigas de famílias logo no no início e o uso da violência na brigas de família era algo absolutamente assustadora não vou repetir algumas histórias que o o Érico Veríssimo conta até porque e quem não leu o livro eu recomendo que leia que é uma das histórias mais interessantes da literatura Regional eh brasileira então eu eh decidi refletir um pouco como é
que a Sociologia política brasileira os primeiros pensadores que tentaram entender a vida a vida no Brasil a organização da sociedade brasileira organização da sociedade política brasileira como é que pensaram a violência né eu eh dei um curso na na no Instituto latino-americano da Universidade livre de Berlim é um curso que chamava estado sociedade intelectuais no Brasil não é e me ocupei Então desse tema as raízes históricas e sociais da violência e as suas repercussões eh no pensamento contemporâneo né eu vou hoje me concentrar nas raízes históricas e sociais da violência n é ah e vou
de alguma maneira abordar alguns autores eu não vou falar de provavelmente há mais autores eu selecionei alguns que me pareceram eh que focalizaram com maior atenção a questão eh da violência e vou abordar esse tema das raízes históricas da da violência sociedade brasileira segundo dois eixos muito claros não é um deles que é um conjunto de pensadores que vai interpretar que o Brasil é uma sociedade que desde a sua constituição Colonial é uma sociedade extremamente fragmentada nãoé extremamente dispersa incapaz de uma organização própria não é incapaz de ter uma vida associativa vamos dizer regular e
por essa razão é necessário um estado forte que agrega a sociedade né então uma ideia que vai aparecer em alguns autores eu vou mostrar aqui para vocês né E que portanto o Estado tem não é como prerrogativa de poder o uso da força para agregar a sociedade Então nesse sentido Ah o caráter vamos dizer assim repressivo do uso da força teria um efeito positivo qual seria o efeito positivo organizar a sociedade que na sua origem não é organizada né claro está que eu não estou defendendo essas teses aqui eu tô eh traduzindo depois podemos até
abrir uma uma discussão mas o que é importante lembrar é que essa essa ideia aparece com muita força em alguns eh pensadores vai aparecer eh por exemplo na ideia de que ah por exemplo que aparece no Raimundo fauro de certo modo n é é que não havia sociedade quando os colonizadores chegaram aqui então o estado se antecipou a sociedade né foi o estado que criou a sociedade né Então isto de certo modo vai aparecer e no Oliveira Viana não é com os vários ensaios da Oliveira Viana Ele vai de alguma maneira repertoriar essa ideia de
uma sociedade dispersa fragmentada incapaz de se organizar autonomamente e por essa razão a necessidade de um estado forte né o segundo o segunda linha de interpretativa eh vai acentuar as heranças patrimonialistas né e aqui eu já quero me antecipar a diferença entre eh o conceito weberiano de patriarcalismo e patrimonialismo né algumas vezes aparece na literatura a ideia de que o Brasil Brasil patriarcal não é Gilberto Freire muitas vezes fala em patriarcalismo não é mas rigorosamente do ponto de vista e do conceito weberiano né Eh o Brasil é é um país patrimonialista por quê E o
patrimonialismo é a forma de dominação tradicional com quadro burocrático administrativo tá então por exemplo quando a a corte portuguesa se transferiu pro Brasil ela trouxe um quadro administrativo né que já existia de certo modo com os administradores coloniais mas quando ela trouxe ela organiza melhor todas essas atividades de gestão vamos dizer hoje palavra gestão não é boa né de administração política do território nãoé e claro não é a por que patrimonialista porque que eh todo o vamos dizer tudo aquilo que representa o patrimônio sobretudo as terras são considerados não é prerrogativas eh dos proprietários E
aí não há distinção muito não há distinção Clara entre público e privado né quer dizer você pode de alguma maneira eh identificar eh em sociedades patrimonialistas o uso privado de recursos públicos então por exemplo coleta de impostos né o coletor de impostos ele ele vai recolher os impostos ele pode dizer isto aqui é do estado isto aqui é meu né Eh então essa essa vamos dizer essa separação rigorosa entre a contabilidade privada a contabilidade pessoal não existe no sistema patrimonialista não é no sistema patrimonialista todo vamos dizer a a burocracia os servidores etc são considerados
servidores do eh senhor né seja ele um proprietário de terra seja ele um líder político seja ele uma autoridade né por isso que o quadro é formado por servidores eles estão ali para servir tá então essa a ideia então as origens patrimonialistas eh fincaram essa dificuldade do Brasil de ter uma linha Clara demarcatória entre o que é público e o que é privado e isto de alguma maneira fez com que não houvesse limites ao uso do Poder pelos grandes proprietários de terra pelos eh autoridades políticas né que em geral eram também proprietários de terra né
então eu vou falar isto a minhas referências para falar da violência e heranças históricas eh Oliveira Viana uma obra de 1929 instituições políticas brasileiras tá uma obra muito importante eh eu acho que para entender O Brasil precisa ler Oliveira Viana embora a gente não precise concordar com as ideias Oliveira Viana é considerada na linhagem o vamos dizer linhagem de pensadores autoritários né que sobretudo influenciaram o estado novo né os intelectuais e liderança e do estado novo Sérgio Buarque de Holanda 1936 Raízes do Brasil é um livro de também um Marco também uma referência para entender
a a sociedade brasileira uma outra referência extremamente importante é o Vítor Nunes Deal uma obra de 1949 colonialismo inxada e votos n que é um trabalho absolutamente fundamental um outro trabalho fundamental Raimundo fauro os donos do Poder né é uma obra de 1958 né uma obra muito substantiva toda ela fundamentada no pensamento do Weber com o emprego vamos dizer muito rigoroso dos conceitos weberianos né tô citando também aqui um livro do Raimundo fauro que aí eu a data tá tá em suspenso aqui mas eh é um livro muito importante chamado Machado de Assis a pirâmide
e o trapézio esse livro é um livro fundamental para entender a transição do Brasil tradicional pro Brasil moderno do império pra República o fauro fez uma imersão na Obra do Machado de Assis e o Machado de Assis conseguiu compreender muito bem a transição do Brasil eh organizado através de de de eh estamentos pro Brasil moderno constituído através de classes sociais então o Machado segundo o Raimundo fauro eh com a sua vamos dizer com a sua literatura conseguiu pegar esta transição de uma maneira extremamente muito viva bom e eu termino essas violências e heranças com a
Maria Silvia de Carvalho Franco um livro bastante conhecido chamado ovens livres na ordem escravocrata né que é também um uma referência eu diria Se nós queremos conhecer Brasil tem que ler essas referências tá sem ter passado por essas referências é muito difícil entender o Brasil é claro que elas não são únicas eu não coloquei aqui uma outra referência muito importante que é o Casagrande szala do Gilberto Freire tá certo mas era Sem dúvida alguma para completar eh o Gilberto Freire teria que que a gente teria que trabalhar é que eu não identifiquei no momento que
eu tava fazendo a pesquisa um texto em que ele explicitamente trabalha a questão da da violência não é então eu fui nesses ã já já digo temp mão que é uma é uma escolha seletiva ela não é resultado de uma pesquisa exaustiva mas ela uma sugestão até para quem se interessa depois por fazer talvez possamos até depois organizar seminários específicos para cada um desses textos e eventualmente até fazer uma publicação Nossa a respeito desses desses textos né então eu vou começar pelo Oliveira Viana Oliveira Viana Ele nasceu em 1883 do Rio de Janeiro e morreu
em 19 era bacharel em ciências jurídicas e sociais professor da faculdade de direito do Rio de Janeiro escritor jornalista consultor do Ministério do Trabalho 3140 e ministro do Tribunal de Contas 1940 eu fiz questão de de colocar essas mini biografias né Eh um pouco porque naquele momento eu tava também lendo o livro do Sérgio Melli né intelectuais eh poder acho que é o nome do do livro não é e o Sérgio misseri trabalha muito com com bourdier e trabalha muito as trajetórias eh biográficas e mostra que no Brasil grande parte desses intelectuais muitos deles provém
da área de direito né e muitos deles eram ensaístas intelectuais etc e eram vamos dizer Consultores da República ministros eh eh de estado eh desembargadores não é então esta vamos dizer esta confluência entre ação nas instituições públicas e políticas e o exercício intelectual sempre foi alguma coisa muito muito forte eu me lembro que que uma vez eu estava num seminário na França e os franceses me perguntavam Por que esta que tantos intelectuais no poder né Por que que no Brasil não havia porque na França eles exz assim intelectual intelectual né Você pode ter até um
vamos dizer um deputado um ministro etc que tem uma formação intelectual mas ele é político mas ise é matéria pro professor Paulo Sérgio Pinheiro que uma vez numa reunião de pox a convite de um convite que eu fiz para uma mesa redonda ele deu uma belíssima ele tinha acabado de sair do da secretaria nacional Ministro do do Estado secretaria nacional de direitos humanos e fez uma belíssima conferência sobre a incompatibilidade entre os intelectuais e o poder baseado num filósofo que ele gosta muito que é Sartre Talvez nós possamos aqui aproveitar a oportunidade de convidar novamente
para ele rever as notas dele que são muito importantes o Oliveira Viana as obras del populações meridionais do brasil20 problemas de política objetiva e de organização o idealismo da Constituição instituições políticas brasileiras de 1929 tá Então essa é o conjunto da da obra dele eu eu particularmente Lio populações meridionais do Brasil e instituições políticas brasileiras e problemas de política objetiva onde algumas ideias que estão aqui vão ser expostas bom qual é o grande tema do Oliveira Viana é o tema entre o país legal e o país real entre elites e povo massa entre o direito
costumeiro e o direito lei entre direitos civis e direitos políticos quer dizer o argumento do Oliveira Viana Oliv Viana é quem defende muito claramente essa ideia está nas populações miliones do Brasil é mostrar o caráter fragmentado da sociedade brasileira né E hoje hoje Oliveira vianaa poderia ser lido sobre uma ótica específica que é ele foi muito original a mostrar a diversidade da organização social brasileira mas ele traduziu a diversidade como fraqueza e não como virtude não é quer dizer para ele o fato da sociedade brasileira ser uma sociedade fragmentada eh na verdade ela a impedia
não é organização autônoma impedia na verdade a transição para um país real o que que seria um país real seria o país que consegui conciliar o legal com a realidade que conseguisse de alguma maneira aproximar as elites do povo ou seja uma sociedade menos com com menos desigualdade social com menos desigualdade de poder ele insiste muito nessa questão uma sociedade que de alguma maneira pudesse conciliar os direitos civis com os direitos políticos o argumento do do do Oliveira Viana que no Brasil os direitos políticos estavam de certo modo reconhecidos ainda que não materializados em ações
concretas mas os direitos civis estavam absolutamente ignorados então havia uma cisão entre direitos civis e direitos políticos ou em outras palavras uma cisão entre sociedade e Estado nãoé então que cabia na verdade pensar é como conciliar o Brasil Real com o Brasil legal como conciliar estado e sociedade ele na análise que ele faz num no no sobretudo populações meridionais os livros dele não é ele vai ele tem uma visão da sociedade brasileira fragmentada como dominada por clãs feudais né como se o Brasil tivesse sido feudal né ele ele usa muito esse esse argumento essa ideia
aparece com eh muita força né e ele vai mostrar que na verdade esse Brasil feudal provocou uma espécie de quistos políticos nãoé de mando e de autoridade não é e que de alguma maneira entravar o processo de construção de uma ordem liberal e democrática eh no Brasil não é então Eh o argumento básico dele é que isso tem a persistência dessas cisões impedem a reforma política e impedem a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática Esse é o argumento que tá no Oliveira Viana e eu para ilustrar um pouco esses essas informações selecionei algumas passagens eh
a primeira deras é o grande problema da Liberdade do Brasil não é o da Liberdade política como há 100 anos temos vivido a pensar e sim o da Liberdade civil os nossos políticos liberais desde o primeiro dia da independência tem sobre este ponto errado duplamente como homem de doutrina e como homem de ação está em problemas de política objetiva no capítulo 4 na página 64 outra outra passagem e nossa história colonial com efeito durante mais de 300 anos essas liberdades sempre estiveram expostas apesar dos esforços da Metrópolis para impedi-lo a violência e ao arbítrio das
autoridades locais então a ideia de que a violência está presente na cultura política brasileira e terceiro o problema da Liberdade individual e civil no Brasil problema que é preliminar a toda e qualquer Liberdade política é justamente eliminar este longo hábito de impunidade esta certeza da impunidade que os nossos costumes asseguram a arbitro corrompe tudo mata no seu berço o cidadão e impede a formação do verdadeiro espírito público Bom eu acho que a primeira coisa aqui é que Oliveira Viana é original e dizer que o problema de São os os as liberdades civis né quer dizer
tá insistindo que o problema tá na sociedade e não necessariamente no estado quer dizer se o estado é como é é devido esta sociedade que nós temos né E esse desencontro entre os direitos civis e os direitos eh políticos a segunda ideia que aparece aqui não é é que a violência ela esteve sempre presente então as liberdades sempre estiveram expostas à violência ou seja a violência aparece como limitador das liberdades e portanto nesse sentido a violência aparece como uma categoria política uma categoria de mando político e a terceira decorrência disso tudo é que isso acontece
por causa da impunidade mas Oliveira Viana já está falando disto há há quase vamos dizer 100 anos Sérgio Buarque de Holanda o Sérgio Buarque de Holanda nasceu em 1902 no Rio de Janeiro e morreu em 1982 Bacharel em Direito no Rio de Janeiro 1921 escritor jornalista Historiador crítico literário foi diretor do Museu Paulista de 4656 Regente em 56 e catedrático de 58 69 da cadeira de história da civilização brasileira aqui na úp diretor da coleção história geral da civilização brasileira tá obras também tô destacando algumas Raízes do Brasil 1936 Monções 1945 eão Paraíso 1959 se
alguém de vocês não leu raíz do Brasil eu vou caçar assim simbolicamente o título de vamos dizer graduação em Ciências Sociais porque raiz do Brasil é um livro de total referência né se não leram não precisam confessar aqui Leiam não é porque é um livro além do que o Sérgio de Holanda é um é um excelente escritor né ele escreve muito bem e é um livro eh dá prazer de ler e é um livro que tem ideias eh extremamente interessantes né o Sérgio Buarque ele é um dos intelectuais vamos dizer modernistas do Brasil ele tá
preocupado com a transição sociopolítica da sociedade brasileira pós 30 e no curso dos anos 40 ele quer entender a modernidade brasileira ele quer entender o rumo da sociedade que transita do mundo da tradição para a sociedade Industrial Urbana e moderna esta é a questão dele quer dija não é tanto aquela questão que tá no Oliveira Viana de explicar a estruturação da sociedade brasileira mas agora entender como é que se dá esta passagem né trata de Reconstruir a identidade brasileira tradicional o Sérgio boar também é um leitor de Weber também foi muito influenciado pelas leituras do
Max Weber e como elemento de tensão na marcha das mudanças sociais e políticas da sociedade brasileira então a novidade que o Sérgio Bararque traz é pensar essa transição como momento de tensão o momento de tensão entre a tradição e a modernidade o momento em que elementos da tradição estão sendo superados e elementos de mudança e modernidade estão aparecendo mas a tradição ainda é forte a tradição ainda é eh presente não é então esse embate entre a tradição e a modernidade entre a persistência da tradição e o fato de que a modernidade não consegue eh superar
a a a tradição é que é um dos temas fundamentais da da do pensamento da história e da sociologia política do Sérgio Buarque de ele vai dar uma ênfase nos fragmentos e formas da vida social n é ele vai estudar como Historiador ele vai estudar várias instituições né Ele é muito preocupado também com mentalidades né o Sérgio Buarque tem suscitou uma famosa discussão sobre a questão da cordialidade né E que muitos interpretaram a cordialidade como uma atitude mental no sentido que o Brasil era brasileiro era Submisso era aceitava a o mando Eh vamos dizer era
sub eh vamos dizer era sujeito a uso da violência nãoé e depois essa essa interpretação veio a ser revisada não é a cordialidade não era necessariamente não era isto a cordialidade era um traço da sociabilidade ou seja das relações de amizade das relações de Vizinhança não é quer dizer não era um traço da da cultura brasileira então Eh eles ele ele o livro a obra dele é muito preocupada com descrever um pouco essa cultura do ponto de vista das subjetividades né do ponto de vista das sensibilidades eh da vida eh associativa né então mentalidades instituições
nascidas e herdadas do passado que ainda compõe o identidade nacional né então eu acho que o livro do Sérgio Bararque é importante porque ele vem e vem no bojo de uma série de intelectuais não é que tentam compreender justamente o que que é o Brasil que nasce não é com a transição da República Velha pra República nova né e com a industrialização com a urbanização e sobretudo com a formação da sociedade de classe eu acho que é isto que está eh basicamente em discussão análise dele tá centrada nas ambiguidades da sociedade brasileira fruto da colonização
europeia porém que não se ajusta adequadamente a sua herança né o Sérgio Buarque é muito valorizado também como intelectualmente porque ele mostra que o Brasil é herdeiro da herança portuguesa ibérica mas não significa que aqui foi uma mera reprodução dessa herança quer dizer essa herança foi no fundo retraduzida numa sociedade né havia os indígenas que existia que viv aqui foi nesta vamos dizer nesta melange de culturas e etnias que a sociedade foi sendo reinterpretada e foi sendo reconstruída né uma passagem aqui que eu tirei do raíz do Brasil já se disse numa expressão feliz que
a contribuição brasileira para a civilização será cordialidade daremos ao mundo o homem cordial a ilesa no trato a hospitalidade a generosidade virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam representam com efeito um traço definit do caráter brasileiro na medida em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral ancestral dos padrões de convívio humano informados no meio Rural e patriarcal no homem cordial a vida em sociedade é de certo modo uma verdadeira libertação do pavor que ele sente de viver consigo mesmo em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência sua maneira de expansão
para com os outros reduz individo cada vez mais a parcela social periférica que no caso brasileiro como no Bom americano tende a ser mais o que importa ou seja eh o Sérgio barco de Holanda tá traduzindo essa cordialidade como traço da cultura brasileira mas que neste nesta passagem no meu entender ele tá dando um atributo positivo e não negativo não é agora de todo modo quer dizer é esta sociedade cordial Gentil essa sociabilidade baseada na amizade que também faz com que ou fez durante muito tempo que essa sociedade fosse muito pouco resistente à violência né
e sobretudo a violência política não que você possa estabelecer uma relação de causalidade entre um fenômeno e outro mas dizer que esta cultura política ela é justamente ambígua porque ao mesmo tempo que ela aponta para cordialidade ela aponta também para o uso da violência como instrumento de ação política a ideia aqui de certo modo é o seguinte e eh sujeitas interpretações e uma sociedade vamos dizer moderna ela é uma sociedade baseada no indivíduo baseada no individualismo o que não quer dizer que o individualismo seja uma forma de sociabilidade tá aí o nosso durka para dizer
que para mostrar que que o culto ao indivíduo é uma forma de cultura e portanto uma forma de integração não é mas eh o indivíduo aqui é pensado como pessoa quer dizer ele não consegue se afirmar como pessoa então ele se deixa o abrigo da sociedade Agora se abrigar a sociedade também significa se submeter Então esse jogo entre o indivíduo e a sociedade não aparece ele fica Submisso aos costumes ele fica Submisso aos padrões de ionais ele se sujeita não é às formas muitas vezes opressivas eh de Orientação da conduta n é Então nesse sentido
é que eu acho que ele tá um pouco chamando atenção aqui ou seja o Sérgio Bark ele tá sempre tentando trabalhar essa questão da ambiguidade dessa sociedade que tanto as suas instituições quanto a sua organização societária sua vida societária é marcada por esse ambiguidade entre o passado né o respeito às normas aos padrões de Cultura ecer dados e esta Horizonte que vai se apresentando com a emergência da sociedade moderna baseada na indústria no urbanização que de alguma maneira valoriza a iniciativa individual é claro que isto aqui suscita também críticas né porque a ideia do hem
cordial é a ideia de certo modo eh de uma certa Essência [Música] eh entre as do homem brasileiro e claro que definir definir a vamos dizer a a cultura brasileira a partir de um certo de um de uma certa essência e essencialmente discutível não é É como se você nascesse portador desta Essência né E nós sabemos que ninguém nasce portador Mas essa é uma construção social Eu acho que o Sérgio boar precisa ser relido de uma maneira mais talvez mais sofisticada a minha perspectiva é a segunda eu acho que ele tá preocupado com o presente
quer dizer com as mudanças que estão se operando mas ele tá tentando identificar que elementos do passado estão ainda estruturando e organizando a sociedade e a política brasileira no meu entender é essa interpretação bom vamos andar um pouquinho PR frente vor Nunes Leal o vores Leal Nasu em4 Angola Minas Gerais e morreu em 1986 no Rio de Janeiro também Bacharel em Direito chefe da casa civil da presidência da república 5659 eh no governo Joselino Kubichek foi consultor da República procurador do Tribunal de Contas do Distrito Federal em Brasília Ministro do Supremo Tribunal Federal 1960 e
do Tribunal Superior Eleitoral 1966 aposentado pelo regime militar em 1900 e eh 68 as obras colonialismo enchada e voto município regime representativo no Brasil é uma obra de 1949 é um livro ã muitas vezes pouco lido mas é um livro muito importante é um livro muito importante até porque há um capítulo que ele vai falar sobre a organização policial um capítulo Se não me engano é o capítulo 5to né eu tive a oportunidade de há muitos e muitos anos atrás ainda era aluno de ver a arguição do Vitor nus Leal na tese da Maria Vitória
benevit eu essas coisas históricas a gente bom preocupação do Vitor Nunes Leal análise do funcionamento do sistema político brasileiro tá a tese Central dele é entender a estrutura social do colonialismo VD no ileal o colonialismo não é um fenômeno do passado é um fenômeno moderno ao contrário do que nós muitas vezes pensamos a gente pensa a gente sempre associ o coronealismo com o mundo da tradição associa com atraso político ass ele vai mostrar que foi uma forma de de alguma maneira de introduzir mudanças no sistema eleitoral brasileiro colonialismo não é decorrência da pujança econômico e
social do latifúndio que se supunha ao poder eh quer dizer muitos acreditavam que com eu vamos dizer com a com a riqueza né os ciclos econômicos brasileiros que enriqueceram grandes proprietários de terra não é e que associaram poder econômico com poder político Na verdade reforçaram o papel político do Senhor e proprietário de terras como o coronel que administrava a política local né a exacerbação do papel político Eleitoral do latifúndio não é consequência de sua força mas de sua fraqueza não resulta de sua ascensão mas de sua decadência traduz o progressivo fortalecimento do poder público o
colonialismo foi possível no contexto Republicano da expansão do regime eleitoral representativo no interior de uma estrutura social herdada do império ainda arcaica e quetinha poder residual importante colonialismo foi funcional ao sistema político reforçando o governismo Alguém gostaria Alguém gostaria de explicar esta tese do do Vitor Nunes Leal talvez seria um passo seguinte ao Casagrande sem zalas sim seguramente é um passo é um passo seguinte acho que tem duas ou três ideias aqui muito importante nesta nesta passagem Quer dizer uma ideia é que o colonialismo não é um fenômeno vamos dizer assim eh do fortalecimento do
poder mas foi justamente o momento da crise do Poder do latifúndio tá e de onde vem essa crise do Poder do latifúndio é quando com a república massas eleitorais começa sepr começa a pegar os dados do crescimento dos eleitores no Brasil do império paraa República uma coisa surpreendente não é nas grandes cidades os eleitores começam não é então é preciso no fundo lidar com essa população porque você não você não lida com essa população de eleitores urbanos como você lidava no campo no campo você usa da força usa da violência e você manda não é
eh na cidade com o o vamos dizer com a a emergência desse eleitorado você tem que controlar votos então o colonialismo é um sistema político de controle Eleitoral de controle das massas eleitorais então é um fenômeno funcional e muito ligado à transição política no Brasil Então quando você leu o vor nes Leal não é ele dizendo coronelismo a sobrevivência do passado ele mostrando oiso que embora fincado em elementos do passado é um fenômeno construído funcionalmente para dar conta da transição política e do aparecimento das massas eleitorais né então é um texto que eu que é
um livro que eu acho muito importante esse também é referência obrigatória né e vou ler uma passagem ainda hoje se observa no interior principalmente dos lugares mais remotos manifestações muito visíveis de poder privado pela influência dos chefes locais e senhores de terra sobre seus dependentes E à medida que aumenta a eficiência do mecanismo judiciário e policial dos Estados mais subordinado ao poder se torna essa magistratura oficiosa reforçando o governismo dos chefes locais esse conformismo político parte essencial do compromisso coronelista traz como consequência entre outras vantagens a nomeação dos Delegados e subdelegados por indicação dos dirigentes
dos Municípios ou com instruções para agir em aliança com eles Isto é para fazer justiça aos amigos e aplicar a lei aos adversários daí a ligação dissolúvel que existe entre colonialismo e organização policial ou seja é um momento de transição não é se hoje nós continuamos criticando por exemplo que ainda prevalece no Brasil o colonialismo ou seja ascendência de poderosos locais sobre organização policial e judicial Isso é uma sobrevivência desse processo de transição n Ou seja no fundo ele tá dizendo o seguinte foi o processo de transição que criou esse mecanismo É um mecanismo de
ao mesmo tempo de modernização mas de retenção do controle do poder político nas mãos dos mais poderosos é claro que você você teria aqui para entender tudo isso tem que entender a transi da riqueza patrimonial Brasil tanto de mãos não é na na passagem do século X Pro século XX do império pra república e de certo modo esses arranjos políticos também tem a ver com essas mudanças na composição da e circulação da riqueza e controle dessa riqueza no capítulo 5to que ele trabalha exatamente essa questão da organização judicial por ex Eu recomendo a leitura porque
é uma das leituras clássicas desse desse tema bom estamos chegando já mais próximo do fim Raimundo fauro não tenho a data do nascimento dele em Porto Alegre morreu em 1996 ele baixar emem cências jurídicas e sociais advogado membro da Academia Brasileira de Letras eh o Raimundo F esteve aqui no começo do Instituto de estudos avançados como professor pesquisador visitante eu tinha acabado de defender a Minha tese sobre os bacharéis e me recomend que eu fosse levar para ele e marcar uma conversa com ele eu fui levei o levei a tese o livro não tava publicado
ainda levei a tese e marquei com ele Marquei uma semana depois voltei e quando eu voltei Ele olhou para mim falou assim você foi muito cruel com os bacharéis me lembro muito bemis Ele fez vários comentários foi muito agradável e bom o Raimundo fauro as obras dele os donos do Poder formação do Patronato político brasileiro é um é um livro CTO mod difícil de ler ele é ele é inteiramente weberiano e ele é muito detalhista né quer dizer você querer entender bem a a organização política brasileira ele desa os detalhes as filigranas né mas é
um livro extremamente importante e o Machado de Assis como eu disse a vocês que é um livro extremamente importante o livro dele e a obra dele análise da estrutura de poder do Brasil da colônia até o governo Vargas vocês estão vendo que é uma geração de intelectuais querendo entender o Brasil moderno a partir das heranças históricas do passado ainda que entre eles não é como eles entendem o passado e como eles entendem essa herança seja muito variável Mas o Marco é este quer entender o presente para entender o presente é preciso entender o passado a
estrutura dominada pelo patrimonialismo herdado do patrimonialismo português constitutivo de um insto burocrático e do capitalismo político Então aqui tem uma novidade no Raimundo fauro que é entender patrimonialismo e capitalismo tá quer dizer o Brasil moderno é o Brasil que de alguma maneira articula isto que aparentemente em termos típico ideais seria inconcebível arular ou seja patrimonialismo e estrutura racional legal trazida pelo capitalismo né e o que o Raimundo F vai mostrar é como é que no Brasil o capitalismo se articulou com o eh estamento burocrático né O que que é interessante nessa tese é mostrar que
o capitalismo brasileiro é um capitalismo de alguma maneira fomentado pelo Estado quer dizer sem o estado o capitalismo brasileiro não teria sido o que ele é com todas as suas vantagens desvantagens e mazelas né mas é um capitalismo na qual quer dizer até hoje não é você pensa que o estado é um ator fundamental no desenvolvimento capitalista desenvolvimento industrial no desenvolvimento você não consegue pensar que o desenvolvimento capitalista seja uma iniciativa do mercado e da sociedade né Embora ela seja uma iniciativa do mercado da sociedade é sempre pensado com a presença desse ator fundamental que
é o estado através dos subsídios através das políticas de financiamento né através das das das eh inúmeras eh eh iniciativas que de alguma maneira visam eh fortalecer eh o mercado né No entanto esse estamento burocrático ainda FCA raízes no estado e mantém em grande medida a prevalência desses interesses dessa mescla de público e privado de interesses privados e negócios públicos que nós estamos vendo ainda muito presentes no cenário político brasileiro né quer dizer Superar Essa dicotomia entre o público e o privado Superar Essa dicotomia entre os interesses privados os negócios públicos ainda é um desafio
da Democracia eh brasileira não é o estamento burocrático patrimonial apropriou-se das oportunidades econômicas de desfrute de bens das concessões dos cargos produzindo diferenciação entre as esferas dos negócios públicos dos interesses privados Acima das classes dos conflitos políticos Manteve fechado manteve-se fechado na hereditariedade e nas redes burocráticas estatais revelou acentuada acomodação às mudanças e transições denotando o caráter altamente estabilizador e freio o desenvolvimento capitalista Ou seja a a sociedade Vai cada vez mais avançando no capitalismo mas estrutura política continua assentada nas formas tradicionais de mando que significa dizer que a violência continua como um instrumento entre
aspas com legitimidade na ação política vou ler mais uma passagem tá no Machado de Assis a pirâmide e o trapézio a coexistência na mesma sociedade da classe do estamento tende a configurar em uma e outro missões diversas a classe como categoria Econômica ocupa-se de se firmar definir e qualificar de acordo com a ocupação específica de seus membros toida no come não se expande pelos Próprios Meios serve-se para governar dos instrumentos e do aparelhamento estatal o nosso terceiro estado doura com as franjas de uma nobless de HOB composta de Barões conselheiros e comendadores bem como titulares
da Guarda Nacional os estamentos assumem o papel de órgãos do Estado as classes permanecem se limitadas a funções restritas da sociedade esse mundo Machado de assiso descreve a meia luz sem claridades as apalpadelas [Música] furtivamente tá claro alguém quer comentar Ah eu acho que essa essa questão que né você coloca do do capitalismo né Eh Na verdade o ela acaba mostrando porque que muitas pessoas hoje defendem até de que na verdade o Brasil nunca se tornou de fato um país eh capitalista né acho que é e é interessante também né pegando tanto o Raimundo F
quanto também o próprio Vittor Nunes Leal né Eu acho que eles estão falando da dessa transformação do presente né do que acontece no presente mas a principal coisa parece que é é sempre uma crônica de como esse patrimonialismo ele vai permanecendo indefinidamente no né a cada nov Pado do do ou seja ou seja aqui tá embutida uma tese que é uma tese extremamente importante que o desenvolvimento capitalista atualiza a tradição o conceito de atualização quer dizer atualizar significa superar alguns elementos do passado mas atualizar outros atualizar significa reintrodução mas o o poder o controle do
Poder permanece concentrado hierarquizado e não se rompe este modelo agora Sérgio o uma eu acho que foi no Roberto schuartz que eu li que eu achei super interessante desse movimento histórico que de repente ajudaria a juntar esses autores que em vez do materialismo dialético marxista seria um antropofágico né uma coisa de você Auto se devorar e reconstruir alguma coisa nova a partir de uma cultura europeia mas misturada com indígena de modernismo a Tropicália tudo seria o processo de Então essa vai ser a ponte de transição com Roberto da Mata Roberto da Mata vai fazer a
crítica à incorporação do Imaginário moderno ocidental na sociedade na cultura brasileira Mas vai mostrar como os elementos se combinaram numa cosmologia não é relativista que a gente vai ver quando tiver falando um pouco do Roberto da Mata não será hoje certamente bom eu vou terminar com a Maria Silvia Eh Maria Silvia de Carvalho Franco não tem a data de nascimento Ela é formada em Filosofia e Sociologia ela foi professora de de Ciências Sociais depois ela passou pro departamento de Filosofia e ela eh enfim trabalha temas eh que eu diria que transitam entre a sociologia e
a filosofia política o livro na qual ela é mais conhecida chama-se homens livres da ordem escravocrata que a tese dela de doutorado 1969 e que depois foi publicada eh em 1974 Bom Há uma discussão a respeito do título né porque e Ordem escravocrata nunca existiu no Brasil porque escravocrata significa poder dos escravos e os escravos nunca tiveram poder então o ideal o título seria homens livres na ordem escravista né mas ordem escravocrata era um conceito que circulou muito nesse período o o que que foi muito importante no livro da Maria Silvia na tese da Maria
Silvia é que eh a geração da Maria Silvia e sobretudo com o projeto florista Fernandes estava estudando o quê estava estudando para entender o Brasil moderno a formação de classe estava estudando as heranças escravistas então vários estudos mostrando o escravismo mostrando as a vamos dizer a o controle controle da propriedade escrava as formas de dominação a a produção não é quer dizer vários aspectos e coisa e a Maria Silvia se pergunta aí onde e aqueles que não eram homens livres e aqueles que não eram que não eram proprietários e que não eram escravos estavam Aonde
então ela descobre não é esses homens livres que estão vagando durante quatro séculos como elas dizem né como ela diz e ela vai investigar então este homem eh simples e ela vai mostar será mais do que ninguém a presença forte da violência na cultura política brasileira né o tema do do do livro é o estudo sobre o lugar e o papel exercido pelos homens livres na economia café e cultura eem região caracterizada pela decadência e forte tradicionalismo ênfase nas relações entre os homens comuns e humanismo local papel da violência na Constituição das relações sociais e
políticas na Maria Silvia eu insisto muito que é aquilo que tava meio difuso nas outras análises na Maria Silvia aparece com absoluta clareza né a a Maria Silvia vai trabalhar com três conceitos que é chamada violência costumeira violência institucionalizada e a violência com imperativo moral não é di A violência costumeira é aquela em que qualquer conflito se resolve com o uso da violência qualquer desavença qualquer divergência implica no uso da violência né então tem várias situações que ela Fraga conflitos de de Vizinhança etc eh que implica o uso da violência violência estalizado em que sentido
é que em situações de conflito é esperado o uso da violência Ou seja é esperado que o mais forte se sobreponha ao mais fraco aí que ela chama uma violência institucionalizada e a violência como imperativo moral é por exemplo numa desavença que envolva problemas de honra só violência é capaz de repor a ordem né então ela vai trabalhar com esses três conceitos ela vai mostrar Ah vai mostrar V dizer como é que o livro é Exatamente isto né E vai ela tem um capítulo que eu gosto muito que é o capítulo sobre o capítulo terceiro
que é sobre a organização do Estado ela mostra claramente a a vamos dizer a indistinção entre interesses privados e negócios públicos ela que conta história dos coletores né que não o coletor não tinha contabilidade pública ele ia recolhendo os impostos e daí ele tirava x pro bolso não é e x ele depositava nos cofres públicos nãoé então não havia e não havia como checar o que que era público que era privado o que que era remuneração pelo trabalho dele o que que era apropriação privada n é mas há várias descrições a pesquisa é feita com
processos criminais a primeira que eu conheço que faz com processoa pesquisa é maravilhosa além do que Maria Silvia escreve muito bem tá certo é um dos livros mais bem escritos da sociologia política brasileira fica evidente a sua incorporação a frase dela fica evidente a sua incorporação as condutas socialmente sancionadas o fato de circular desimpedidas e juízos restritivos Indica também que a violência incorporada não apenas como comportamento regular mas positivamente valorados Então o que ela vai mostrar é que a violência não é simplesmente uma atitude vergonhosa é uma atitude valorizada positivamente e isso de certo modo
está na cultura popular brasileira e na cultura política brasileira ela mostra um encontro entre a cultura política brasileira e a cultura do Homem Comum né então é na verdade é mostrar como é que na verdade o lastro desta atitude de mando tá baseado no fato de que o cidadão comum considera legítimo usar da violência eu acho que seria bom Se a gente pudesse algum momento fazer um seminário exclusivo sobre esse texto porque a noção de legitimidade é muito forte nesse texto da Maria Silvia Então quais são os aspectos comuns eh desta destas autores que eu
e dessas obras que Eu mencionei bom a conjuntura política quer dier todos eles estão escrevendo entre 30 30 e 64 tá que significa que todos eles estão de alguma maneira na mesma conjuntura que quer entender o Brasil moderno preocupação explicar mudanças e avaliar rumos da sociedade brasileira pós 30 com avanço do capitalismo da urbanização da industrialização da emergência das massas do cenário político do alargamento da representação político eleitoral e político partidária questão futuro da Democracia claro que eu gostaria eu não introduzir aqui em todos eles a questão da violência tem lugar destacado lugar destacado mas
não significa focalização dier não significa por exemplo que acia fosse um objeto automo que meree uma refão específica traço do compo assim como cordialidade por exemplo a metodia é sempre comparativa herança ibérica tradição Liberal democrática ocidental não é eles vão trabalhando sempre com vamos dizer modelos históricos eh ideal tipos a tradição versus modernidade passado versus presente eh sociedade estamental versus sociedade capitalista moderna e assim por diante né peso das heranças coloniais do passado e da tradição Então isto é comum história de longa duração da colônia Era Vargas as fontes que fontes que eles se baseiam
para as análises Viajantes memorialistas juristas jurisconsultos literatura documentos legislativos ordenanças regulamentos leis decretos quer dizer claro que é uma pesquisa sólida histórica mas não é que nem a pesquisa vamos dizer a pesquisa depois avançou muito n é explorando outros outras fontes e que permitiram retificar certas interpretações que estão embutidas essas análises outro aspecto comum introdução de modelos explicativos extraídos da sociologia sociologia política e da Ciência Política produzidas nos centros avançados de investigação europeia e americana eu diria que uma das grandes características é que se afasta das explicações jurídicas né quer dizer havia várias interpretações do
Brasil mas que estavam muito confinadas no pensamento jurídico e quando não eram historiadores se fincavam na questão institucional e normativa quer dizer o que acontece aqui é que aqui você tem O quê você tem a emergência da Ciências Sociais E aí e a incorporação cada vez maior do dos conceitos da metodologia das Ciências Sociais para explicar a transição política no Brasil as relações entre mandonismo local apropriação privada da organização policial e judicial arbitrariedade violência e impunidade funcionalidade da violência no processo no sistema político Então tudo isso é mais ou menos comum embora com coloridos diversos
tá claro bom peso do passado das tradições do legado Colonial né então a natureza da sociedade fato de ser uma sociedade Eh vamos dizer resultado de uma de um mix de de culturas etnias a ideia da fragmentação né da diversidade o caráter Nacional Brasileiro né quer dizer muitos deles vão trabalhar um pouco nessa dimensão da psicologia da personalidade Popular né o homem cordial o homem simples o homem violento quer dizer essa um pouco essa uma certa ah e uma certa essência do que seria a característica do Brasil em relação a outras culturas e outras sociedades
né e a natureza das instituições né instituições em geral mescladas com os interesses privados e concentradoras de poder e portanto de uso da violência aqui eu fiz um mapinha uma figura Tá certo então o grande domínio Rural associado com poder e dominação patrimonialista no grande domínio Rural você tem as seguintes elementos propriedade a família as hierarquias a rede de dependentes as cidades e os traços fundamentais do domínio são personalismo familismo cordialidade e violência elementos que vão formar identidade nacional tá então isso aqui Aqui nós teríamos de alguma maneira a sociedade o poder e dominação patrimonialista
nós teríamos estrutura de governo a as classes os estamentos os mecanismos monopólios cargos negócios concessões o municipalismo e poder local Confisco tributário regime representativo a organização policial e judicial que vão formar o colonialismo colonialismo vai colocar em contraponto o que o Brasil Legal Brasil Real costume versus a lei as liberdades públicas versus liberdade cidade isso aí também contribui para formar identidade nacional então na base da pirâmide brasileira nós Ainda temos um forte a força da sociedade tradicional em cima vai se pouco a pouco se constituindo o Brasil moderno mas a base a sustentação ainda é
o Brasil tradicional tá claro isso aqui é meu esforço de imaginação sociológica tá bom para terminar Quais são os problemas o primeiro deles é este que tá na base do pensamento do Oliveira Viana quer dizer como é que você prova que a sociedade Apesar dela ser diversa ela necessariamente é frágil como é que você prova que isto é um vício e não uma virtude quer dizer tem uma concepção de sociedade de estado que atravessa essa visão e que de alguma maneira não tem como lastro entender o que que é a sociedade de fato a sociedade
real por exemplo tem vários estudos históricos recuperando o dinamismo da sociedade brasileira colonial e depois moderna e que mostra que é uma sociedade dispersa mas nem por isso absolutamente desorganizada frágil um outro elemento o peso dos processos de conservação ind detrimento dos processos de mudança social caráter conservador da cultura aparece muito nas análises é sempre é sempre o que pesa mais são as heranças e menos entender ou decifrar o curso das mudanças essencialismo a naturalização do caráter nacional brasileiro que mais apesar da complexidade sociedade tradicional estruturada em eixos binários dicotômicos classes estamentos elites versus povo
massa metr PR versus colonos costume versus legalidade liberdades civis versus liberdades políticas representantes versus eleitores manipuláveis poderosos versus sem poder prestigiados versus classificados ou seja não há nuances não há mediações não há uma sociedade Tá certo em que a diversidade torna todos esses elementos intercambiáveis né Você pode ter uma dicotomia hora entre lei legalidade e ilegalidade mas tem horas em que a lei é reivindicada para garantir certas prerrogativas certos monopólios inclusive direitos quer dizer a efetiva ambiguidade da cultura política brasileira e que ora nega a violência e Ora pela violência isso não tá de fato
contemplado nessas análises n essas análises tem um forte peso eh dicotômico a sociedade explicada desde o alto ponto a partir do qual os elites são necessariamente as únicas protagonistas da história A violência é assim necessariamente uma violência de classe o povo massa não faz história é a gente paciente incorpora a violência do outro que não corresponde à sua natureza então é preciso superar esses impasses é preciso ir além dessas dicotomias né bom fim da apresentação desta dessa aula então a ideia que eu tive com vocês não é na verdade não é um seminário exaustivo ele
não é vamos dizer imperativo mas era um pouco um overview sobre esta esses pensadores que de alguma maneira eh identificaram a violência como uma categoria da vida pública e política brasileira né que de alguma maneira transitou do privado pro público do público pro privado e que de alguma maneira demarcaram o curso dos processos de modernização Econômica política social e cultural brasileira né Eh é claro que como eu mostrei aqui para vocês no final eh essas análises Apesar de todas as virtudes e todas as a originalidade que muitas vezes el apresentam Elas têm demarcadas deficiências do
ponto de vista se a gente pode falar nisto mas é marcadas limitações do ponto de vista teórico conceitual metodológico que implica em superação Então no próximo seminário eu espero começar a avançar um pouco nessa discussão e tentar entender interpretações vamos dizer alternativas que procuram pensar a questão da violência politicamente como uma categoria mas decifrando a sua o seu modo de operação o seu modo de funcionamento m
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