[Música] Kristus, Kristus, V. Christus, Chrus. [Música] Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Auxílio dos Cristãos, rogai por nós. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Bom, eh, essa aula eu vou culpar a Margarida. É a Margarida porque eu tinha
perguntado aqui que ela queria, eh, queria saber sobre o que ela falou, queria saber sobre Dante. Aí eu estava pensando até que seria interessante porque, eh, quando nós éramos mais jovens, nós tivemos várias aulas... Oi, jovens na época de... não, não tão, não tanto assim, eh, mas nós tivemos muitas aulas com o professor, e houve muitas, foram muitas mesmo, foram três anos, uma vez por semana, indo na casa do professor, tendo aula sobre o Dante, eh, sobre A Divina Comédia, especificamente, três anos. Eh, então a gente acaba deixando isso aqui para lá, porque, mas ela,
com o pedido da Margarida, eu falei: os mais jovens não sabem nada, né, do, talvez, sobre o Dante, sobre toda essa posicionamento, sua questão política, e certamente muitos não tiveram três anos de aula com o professor sobre A Divina Comédia. Mas, obviamente, não vai ter nem perto disso aqui. Isso aqui é só, como eu coloquei aqui, uma conversa sobre Dante, A Divina Comédia. É só alguma coisa para começar mesmo a aula; nem está bem preparada, foi uma coisa que eu fiz rápido aqui. Eu queria dar... eu estava pensando em outra coisa, mas falei: não, acho
que dá tempo de preparar. Eu me superestimei aqui, eh, então não deu para preparar como eu queria, mas eu vou tentar falar um pouquinho do Dante e A Divina Comédia como uma introdução, uma conversa. Então, fiquem à vontade para perguntar. Então, vamos lá. Então, o Dante, né, né, desculpa que tá, tá meio… o formato tá... não era para parecer exatamente assim, texto tão puro, mas, eh, tá. Eu sou da área de TI, né? Eu vou falar que na minha máquina funcionava, então não aparecia assim na minha máquina, mas aqui tá aparecendo assim. Então, tem essa
primeira desculpa. Já é a segunda, né? Então, quem foi o Dante? O Dante foi um autor medieval. O nome dele é Dante Alighieri; na verdade, Dante já é um apelido de Durante, que é o nome completo dele: Durante Alighieri. Ele nasceu em Florença, em maio de 1265. O pai dele era Aligero de Belluno, Del Alighieri. Os italianos sempre adoravam isso aqui; eles gostavam de colocar um nome que combinava com sobrenome. Isso é muito comum: Aligero deu Alighieri. Galileu Galilei, né? Então, era uma coisa muito comum. A mãe dele só se sabe que chamava Bela e
que morreu quando ele era muito cedo, ainda menino. Só se sabe que ela morreu antes de 1278. A família dele era de uma nobreza eh pequena, e ele teve parentes que lutaram nas Cruzadas, lutaram ao lado do Papa. Teve um trisavô dele que lutou na… então ele tem que lutaram lá. Então, ele tem uma pequena nobreza, mas ele tinha também algumas posses, porque nobreza não é sinônimo de riqueza. Então, ele tinha, a família dele tinha posses e ele também tinha uma certa riqueza. Aqui era o auge da Idade Média, mas quando a gente fala, era
o auge da Idade Média, a gente sempre tem que tomar cuidado quando a gente fala que é o auge de alguma coisa. Eu cheguei no topo da montanha; que que eu vou fazer depois? Descer! Não tem mais para onde... Então, ele estava exatamente no auge da Idade Média. Nessa época reinava São Luís, vivia São Tomás de Aquino e, da mesma forma, São Boaventura. Então, estava realmente no topo da Idade Média. Logo em seguida, que acontece... até coloquei uma frase do Jorge Luis Borges, que vale a pena ser colocada. Eu gosto do Borges, então eu acho
que isso aqui me denuncia um pouco. E um dos motivos é que o Borges também gosta da Divina Comédia. Jorge Luis Borges, fazendo um parêntese aqui, né? escritor argentino, um escritor entre os melhores do mundo, né, como literatura. Ele gostava muito da Divina Comédia também. Então, teve até uma vez que ele teve que escolher sete palestras, ah, depois lançou um livro chamado “Sete Notas”, que ele escolheu sete temas preferidos, eh, da vida dele; um deles foi a comédia, A Divina Comédia, que ele falou. O outro, que era muito próprio dele, ele era cego, né? Foi
a cegueira. Então, estavam ali, eram coisas muito marcantes na vida dele. Então, a cegueira marcou tanto ele quanto A Divina Comédia. Então, ele coloca do auge da Idade Média, nessa, essa Idade Média tão caluniada e complexa que nos deu a arquitetura gótica, as sagas da Islândia e a filosofia escolástica, em que tudo é discutido. Então, até ele que não era bom, reconhecia esse valor da Idade Média. Observação: As escolas discutiam, sim, a crítica que se faz na ideia que havia contemplação sem discussão. Exato! Não se procurava tão afundada assim, absolutas. Então, não havia debate algum.
Exato! Essas que criticam, aham. Exatamente essa questão. O Pinga Fogo... vai lá, uma pessoa e fala: pergunte o que quiser! É bem, ah, alguém tem coragem de fazer isso? Entra no meio da, ó, pessoal, no meio de todo mundo, amigos e inimigos. Vamos falar sobre qualquer assunto aqui! Era comum na Idade Média isso. Então, porém… Nessa época, também aqui eu coloquei isso. Aqui, eu já falo: na Idade Média, ainda havia o catarismo. O catarismo não tinha sido totalmente vencido. As seitas franciscanas estavam se multiplicando, o Joaquim mesmo estava florescendo e estavam nascendo as ideias mercantilistas.
E nascia Dante; a gente vai ver por que nascia Dante. Dante já é um pré-humanista, então já marca o humanismo. É o fim da Idade Média, né? Então, o pré-humanista nascendo aqui já mostra a decadência. Aqui, eu coloquei a Idade Média: catedrais, gárgulas, né? Até faltou o acento aqui porque, por gárgulas... Porque o medieval tinha algumas ideias interessantes antes, né? Por que colocar gárgula na catedral? Gárgula é um diabo. Por que vai colocar aquela coisa feia na catedral? E estava cheio, né? Para lembrar que até na igreja tem diabo. Então, eles lembravam, no auge da
Idade Média: "Oh, lembra? Tem a igreja aqui, o altar tá ali, mas tá cheio de diabo aqui também, hein?" Fiquem sempre na mente: os diabos estão sempre acompanhando, estão sempre esperando. Como diz a Sagrada Escritura: "Quem possa devorar". Então, os medievales tinham isso bem claro e aqui mostrava que os gárgulas estavam, por assim dizer, dominando a partir de agora, né? No fim da Idade Média, tá interessante a advertência que a gente não pode deixar de observar. E na época do... falando do Dante ainda, né? O Dante foi um membro de um grupo chamado "Fidelidade Amor",
os fiéis de amor, que era um grupo de poetas, em geral. Eles faziam poesias que chamavam de "trobar clus", "trobar" de forma fechada, como "close" em inglês, né? Fechado, hermético, escondido. Eles falavam uma coisa querendo dizer outra: falavam não por símbolos exatamente, mas por símbolos esotéricos. Não como, por exemplo, "a água representa a pureza"; é muito óbvio que representa. Mas eles queriam "Ah, vamos falar de amor, falando da Roma", mas não Roma católica, Roma antiga. Então, eles faziam todo um jogo; isso exatamente era um código para "eu falo uma coisa, mas eu tô querendo dizer
outra". E o código, obviamente, é conhecido só do grupo que codificou, exato, dos iniciados. Então, tem muita coisa que você percebe que tá errada, mas muitas vezes você não sabe dizer. Era muito comum na poesia desse grupo, desse "Fidelidade Amor", que tinha esse "trobar clus". E outra coisa que também é digno de mencionar aqui na Florença era a questão dos guelfos e gibelinos. Em Florença, dele, dois grupos eram muito rivais. Não eram duas famílias simplesmente; eram dois grupos políticos. Os guelfos e os gibelinos diziam que o poder do imperador estava acima do Papa, e os
guelfos diziam que o poder do Papa estava acima do imperador. E eles se amavam assim, de se achar na rua e se bater e se matar, literalmente. E tudo neles era marcado, por exemplo, pelo jeito de... dizia-se, né, pelo jeito de jogar os dados num jogo. Já a pessoa identificava: "Não, esse é guelfo, esse é gibelino." Então, tinha coisas muito marcantes. Ah, eu corto o pão desse jeito, eu faço isso aqui desse jeito. Então, era tão separado que dava para dizer: "Ó, esse aqui é guelfo, esse aqui é gibelino". Até nisso. Tanto que a bandeira
de Florença, nessa época, era dividida; era uma flor de lis. Na metade dela, era branca e a outra metade era negra, porque os gibelinos foram vencidos em batalha, só que eles vão continuar com outro nome. Então, os guelfos vão continuar, mas aí vão se criar dois partidos: os guelfos negros e os guelfos brancos. E fica mais própria a bandeira de Florença, né, dividida entre brancos e negros. Aqueles chamados guelfos brancos, na verdade, eram gibelinos disfarçados, e os guelfos negros eram os guelfos, realmente, que diziam que o poder do Papa era acima do imperador. E os
guelfos brancos diziam que o poder do imperador era acima do Papa. E aí, o Dante pertencia a que grupo? Vocês conseguem imaginar? Obviamente, aos brancos. Ele gostava, ele era totalmente do partido dos gibelinos, que na época dele já eram guelfos brancos. Sim, o Duns Scotus, que o Bento XVI coloca como quase o começo da filosofia moderna, onde nascem os dois ramos. É quase um curto-circuito, né? Onde nascem os dois ramos que dele vai nascer o Guilherme de Ockham e o mestre Art. Ele coloca, ele faz a questão do voluntarismo: "Deus criou o mundo, mas ele
poderia criar um mundo diferente." Por exemplo, Deus criou o mundo e deu esses 10 mandamentos. Os 10 mandamentos poderiam ser diferentes do que são, diz Duns Scotus. Que sim, os mandamentos, se Deus quisesse, poderiam ser... matar, roubar. Por que os mandamentos são assim? Porque Deus quer. E não é verdade. Então, isso aqui mata totalmente a analogia ou ele separa de tal forma Deus do mundo. Deus é totalmente separado do mundo. Deus é diferente do mundo. O mundo só é assim porque Deus quis. Se Ele quisesse, Ele faria totalmente diferente. Ou seja, Deus não tem nada
a ver com esse mundo. Ele destrói toda essa questão da analogia. Como o Melo falou: Deus não é... Deus não é mais parecido com o mundo. E, observando o mundo, eu não sou capaz de chegar em Deus. No máximo, no máximo, diz Duns Scotus, eu conseguiria... Existe mais um Deus que não tem nada a ver com o mundo, acho que é isso. É um Deus caprichoso, um Deus caprichoso, exato. Então, aqui, deixa eu ver se a ordem está correta. É uma coisa que é muito marcada, falando da Divina Comédia, né? Já entrando aqui na Divina
Comédia e nos personagens, porque aqui a gente fala do Dante, né? O Dante é uma figura histórica, mas o Dante tem até uma coisa que o próprio Borges coloca como genial; ele fala: "Isso aqui foi um ponto genial do Dante, porque ele se coloca como personagem. Ele é o autor, mas ele também é um personagem" e ele se coloca, às vezes, falando uma coisa errada, alguma coisa errada assim. Por exemplo: por que que a lua eu vejo com cores diferentes? Na lua, que a gente sabe hoje, nós sabemos que são as crateras. Então ele coloca
uma teoria maluca e sendo corrigido. Então, se ele falasse também alguma heresia, ele falaria: "Não, mas eu sei, eu só tô colocando isso aí como uma ilustração. Esse aqui é o meu personagem falando, não sou eu". Então, de certa forma, sim, é uma genialidade dele, porque ele se isenta de muita coisa. Ele fala: "Não, quem falou besteira não fui eu, foi o meu personagem." Inclusive, essa questão aqui: quer dizer, o outro corrigiu também, não fui eu que escrevi quem corrigiu ele. Então, realmente, é um negócio bem feito, né? Então, Dante é o primeiro personagem da
comédia. Às vezes eu falo "comédia", o nome completo é Divina Comédia, mas na época do Dante ainda não tinha "Divina Comédia", era só "Comédia" mesmo. O nome "Divina Comédia" foi colocado depois devido ao valor da obra, mas o Dante colocou o nome dela de "Comédia". Só depois nós temos a Beatriz, personagem que vai aparecer na comédia, e não só na Divina Comédia, mas em outras obras do Dante também. E ele conta toda a história da Beatriz, que é teoricamente a amada dele. Quando ele encontrou ela, ele diz que Beatriz ele encontrou pela primeira vez quando
tinha 9 anos. Teoricamente, eles tinham uma idade muito próxima, talvez a diferença de um ano, né? Segundo o que ele conta, ele tinha 9 anos e, quando ele a viu, ele teve uma espécie de êxtase. Imagina um menino de 9 anos tendo uma espécie de êxtase ao encontrar uma menina de 8 anos! Então, ele teve uma espécie de êxtase místico. Nove anos depois, ele encontra ela de novo, ou seja, ele devia ter 18 e ela 17, aproximadamente. Ela o cumprimenta; ele fala do "saluto", e o "saluto" é um cumprimento que ela faz para ele. E
ele tem um novo êxtase, um novo êxtase místico. É estranho esse amor. Ele escrevia cartas de amor e passava para todos os amigos poetas dele, falando sobre o amor dele por Beatriz. Então, não era segredo nenhum. No entanto, ele diz que, a partir desse ponto, desse segundo encontro, ele finge amar outra mulher, que ele chama de Dona Gentile. Então ele finge que não ama Beatriz e finge amar outra mulher. Por causa disso, em outro encontro, ela nega o "saluto" para ele, nega o cumprimento. Então, ele fica triste e conta que isso dá um problema para
ele. E ela, nesse segundo encontro, já é casada. Ela é casada e, teoricamente, sempre se perguntou se ela realmente existiu. Mas falam: "Beatriz, ela existe, ela é uma pessoa física ou o que que é?" Porque era muito comum nessa época os autores inventarem uma dama e cantarem para ela as poesias. Tem um autor da época do Dante mesmo que fala, inclusive, ele faz descrição da dama dele. Ele fala: "Não, ela tem os cabelos dourados". Agora eu tô inventando, não sei se é exatamente assim que ele fala, mas ela tem cabelo dourado, olho azul, ela é
alta, magra e tal. E o nome dela é Dona Inteligência. Então, não era uma mulher inventada. Era algo muito comum na época dele, ele não é o primeiro que faz isso. Mas você pergunta: "Mas a dama dele, a Beatriz, era uma mulher de verdade ou era alguém que ele inventou?" Muitos autores dizem: "Não, ela é uma mulher de verdade." Inclusive, o nome dela era Beatriz Portinari, filha de Folco Portinari, que se casou com Simone de Bard. Traduzindo, Simone de Bard é Simão dos Bardos. O nome já é estranho, né? Simão, nome de São Pedro, né,
dos Bardos, né? Os Bardos, os trovadores, não sei. Então, era casada com esse Simão dos Bardos. E ela morreu aos 27 anos. Então ela, sendo casada, o Dante nutriu um amor por ela. Aí já fica difícil defender o catolicismo dele, né? Porque, se ela era casada e ele tinha amor por ela, era uma coisa, era adultério. Já não era assim muito correto, mas ele coloca outras questões. Por exemplo, ele nunca ficou triste, nunca escreveu nada. Ele sempre foi indiferente ao casamento dela com outro homem. Ela casou com Simão dos Bardos e ele nunca falou nada.
Mas é que eu tô pulando um pouco. Deixa eu só falar da quando ela morreu, né? Porque, só recapitulando para pegar os números: ele conheceu ela com 9 anos, teve o segundo encontro com ela com 18, que foi o "saluto", e ela morreu com 27. Então, os... Os números já são estranhos, né? 9, 18, 27... e depois que, quando ela morreu aos 27 anos, ele disse que Florença ficou em luto pela morte de Beatriz. Dante teve o desejo de escrever a todos os príncipes da terra, falando sobre os valores de Beatriz e o luto que
todos sentiam pela morte dela. É uma coisa estranha falar da esposa de Simone de Bard, uma pessoa, mesmo que fosse um banqueiro de Florença. Não é? Não justifica escrever para todos os príncipes da terra falando da morte dela. Pois é. Então, aqui se coloca sobre a existência dela ou não, se coloca a quatro posições. Alguns dizem: não, ela existiu de fato. Por exemplo, tem autores famosos que falam que ela existiu de fato. Por exemplo, Bocácio fala que ela existiu de fato e defende, dá várias coisas da vida dela, passagens, e fala: não, ela era uma
mulher real. Mas ele também é suspeito, né? A segunda posição fala: não, Beatriz nunca existiu; ela é simplesmente um símbolo. Ela representa a sabedoria de Deus e Dante só usou a figura de uma mulher para representar a sabedoria de Deus. Tem uma terceira posição que diz que não; ela existiu e Deus, e Dante aproveitou a existência dela, usando-a como símbolo para falar da sabedoria de Deus. Então, ela existiu e Dante também aproveitou; ele inventou umas coisas sobre a vida dela para que ela representasse a sabedoria de Deus. E a quarta posição, que é a posição
do Zingarelli, é uma posição meio confusa, porque ele fala que Beatriz é divina e humana. Então, ela, na verdade, é uma encarnação da sabedoria de Deus que Dante intuiu como se fosse uma revelação particular de Deus para ele. E ela realmente existe como mulher, mas ela é também a sabedoria de Deus encarnada. Dessa forma, só Dante sabia porque ele teve essa intuição. Então, essa quarta posição é meio louca. Mas o que Dante mesmo diz quando vai falar de Beatriz? Ele diz: “Beatriz é o número nove.” É estranho falar de uma mulher, falar: não, o que
ela é? Ela é o número nove. Lembra do 9, 18, 27, né? Então, ele começa a falar, não, porque ele faz toda uma numerologia lá, fala da Santíssima Trindade ao quadrado, porque aí tem os milagres, e explica o número nove também de uma forma não tão clara, mas o próprio Dante fala isso. E fica difícil dizer que ela é uma mulher quando, na Divina Comédia, quando eles passam pelo purgatório – é que eu já estou adiantando uma coisinha, mas depois eu falo melhor isso aqui –, Beatriz é carregada numa carroça puxada por Cristo. Também não
faz sentido nenhum uma mulher comum ser carregada por Cristo. Além de ser carregada por Cristo, ela era antecedida pelos profetas e seguida pelos apóstolos. Então, é uma coisa estranha. Aqui eu já comentei sobre a indiferença de Dante sobre o casamento de Beatriz, né, com Simone de Bard. E outra coisa também: Dante escreveu desejando que todos os homens amassem Beatriz. Se fosse uma mulher de verdade, não se escreveria falando que seria bom que todos os homens a amassem. Não é uma coisa comum de se dizer. Exatamente. E na Divina Comédia tem uma saudação de Virgílio para
Beatriz que também não mostra que ela é uma mulher, né? Fala: “Ó Senhora de virtude, a única através da qual a espécie humana supera qualquer felicidade que possa existir abaixo do círculo da Lua.” Para uma mulher, fica muito estranho isso, um olhar comum. Então, só apresentando aqui a Beatriz. Agora vamos apresentar o plano de fundo que é a cidade onde a gente nasceu: é Florença. Na época, Florença era uma das cidades mais ricas da Europa. Em 1330, por exemplo, ela tinha 90.000 habitantes. A cidade tinha três muralhas que protegiam a cidade; ou seja, vai proteger
do quê? Por que tem que proteger? Porque era rica. A cidade tinha 110 igrejas, 30 hospitais; desses 90.000 habitantes, tinha 10.000 crianças em idade escolar, todas alfabetizadas na Idade Média, 1330. E a cidade, como eu falei anteriormente, estava dividida entre os guelfos e os gibelinos, agora com os nomes de guelfos negros e guelfos brancos. Essa parte eu vou pular aqui, a apresentação de outro personagem, o Virgílio, mas vou entrar direto na comédia. Aqui, na Divina Comédia, depois eu falo do Virgílio quando ele aparecer. Vamos lá! Então, A Divina Comédia, a obra que Dante escreveu, é
um livro que, como eu falei, citando de novo Borges, ninguém tem o direito de se privar da leitura dele, porque todo mundo precisa ler A Divina Comédia. É um livro muito bom! Ele é dividido em 100 cantos, como se fossem 100 capítulos, né? A gente diria hoje: 100 cantos, 33 cantos para o Inferno, 33 cantos para o Purgatório, 33 cantos para o Paraíso. Calma aí que eu já explico. Faltou um, que é o canto de introdução. E, segundo o filho do Dante, o filho do Dante depois foi entrevistado e falou do pai dele, a obra
pode ser lida em quatro sentidos diferentes: tem o sentido literal e os sentidos alegóricos. Vocês já viram isso em algum lugar como na Sagrada Escritura, né? Que tem exatamente a mesma coisa: quatro sentidos. E, de novo, aqui, desculpa se está tanta coisa do Borges que nem fez parte dessa aula, mas ele diz: "Um verso bom não se dá para ler em voz baixa ou quietinho." Então, eu vou, apesar do meu italiano... Que não existe? Ah, a! Então, faço uma ressalva aqui: o Dante não falava italiano, tá? Ele falava toscano. Então, se vocês perceberem alguma falha
na minha pronúncia, é porque não é italiano, é toscano antigo. Então, não, não. "No meio do caminho de nossa vida, me retrovi por uma selva oscura, que a direita via era a estrada e a gente...". Então, assim começa "A Divina Comédia": "No meio do caminho de nossa vida, me encontrei em uma selva escura, porque o caminho verdadeiro estava desaparecido." Os versos já são estranhos, né? O que significa isso: "No meio do caminho de nossa vida"? Porque nossa vida... não, porque da minha vida? Porque aqui dizem os autores que ele está falando não da vida dele,
mas da vida humana. Então, a vida humana, segundo os Salmos, é mais ou menos 70 anos. Então, no meio é mais ou menos 35 anos. Então, ele está dizendo que, quando isso aconteceu, ele tinha 35 anos. 35 anos era... agora é perto de 1300, eu não lembro exatamente a data, perto de 1300. Acho que é 1301, mas ele estava exilado de Florença. Ele estava... ele tinha sido exilado, ele estava fora de Florença quando ele escreve "A Divina Comédia". Na verdade, "A Divina Comédia" demorou bastante tempo para escrever, mas ele a coloca nessa data. Então, com
35 anos, o que aconteceu com ele? Ele diz que se perdeu nessa selva escura porque o caminho verdadeiro tinha desaparecido. Não que ele tinha perdido o caminho, não que ele estava perdido; o caminho verdadeiro tinha desaparecido. O que ele quer dizer com isso? E o que é essa selva? Essa selva escura? Os autores dizem que a selva pode ser lida como a selva dos vícios. Então, dando uma interpretação boa, ah, o Dante, em um determinado ponto da vida dele, ele se viu ruim. Ele estava cheio de vícios; ele pessoalmente estava cheio de vícios. Então, ele
precisava melhorar. Aqui eu não vou ler o restante dos versos em italiano, depois eu dou uma resumida aqui, mas eu só vou contar aqui o que acontece. Então, ele vê que está perdido lá, não sabe o que fazer. A selva é escura. Então ele vê um monte que tem luz, que ele chama de "monte da salvação", e vai em direção ao monte. E nesse monte, quando ele está indo em direção ao monte, aparecem três feras para ele que aparecem em ordem lá. Não exatamente no mesmo momento: ele vai em direção e aparece um leão. Ele
tenta desviar do leão. Aparece uma... um leopardo. Que ele chama de "onça". É interessante, uma onça, né? Mas ele diz "onça", mas é um leopardo; muito provavelmente que é quase a mesma coisa, é muito parecido com a onça, né? Nenhum biólogo me mate, por favor! E ele dizia, tentando desviar da onça, do leopardo, ele... vem para cima dele de forma extremamente feroz e ele praticamente desiste da subida. Ele... porque o animal que se aproxima dele é uma loba e a loba, ele diz, que é uma loba magra e cheia de fome. E até interessante falar
de forma literária, né, que ela está vazia, né? Magra, mas cheia de fome, e vai para cima dele com uma voracidade tremenda. E ele, de todos os animais, é o que ele mais teme, a loba. Então, dando essa interpretação boa que alguns autores dão, fala que ele está perdido nos vícios e esses vícios são representados por essas feras: o leão, que representa o orgulho dele; a onça, que é pintada, representa a luxúria, uma impureza; e a loba magra, que representaria a avareza ou mesmo a gula. Então, esses animais impediriam que ele subisse ao monte da
salvação e se salvasse. Então, os vícios dele. Então, ele está contando da vida dele: "Eu não consegui me salvar por causa desses vícios". Quando essa história aconteceu? Quando eu tinha 35 anos. Então, essa seria uma interpretação melhor, né? Que é ele tentando vencer os vícios para poder se salvar. Mas a história do "caminho direito desaparecido", "caminho verdadeiro desaparecido", o leão, sem dúvida, é Roma. E aqui os outros autores colocam isso, que aqui não são vícios, mas ele quer dizer outra coisa. Ah, os guelfos, quando foram derrotados, foram derrotados... eu esqueci o nome do francês agora...
pelo rei francês?. O que é que é, sem dúvida, o leão. O leão representa a França, que acabou com os planos políticos dele, derrotando o partido dele. Florença é a própria... é a própria... já falei, né? O leopardo é a própria Florença, né? Lembra da divisão entre guelfos brancos e guelfos negros pintados? Então, as pintas do leopardo representam essa divisão da Florença. Então, a própria Florença se coloca como uma inimiga dela mesma e de Dante, pessoalmente. Então, o leopardo é Florença, o leão é a França e a loba, Roma. O papa também incentivou a França
a entrar contra os guelfos, que eram exatamente contra o poder papal. Os guelfos não, os gibelinos, que eram exatamente contra o poder papal. A França sempre foi um braço do papa. O exército sempre foi, muitas vezes, considerado um exército do papa, nessa época. Então, Roma, aqui... a loba é Roma e, por isso, é o inimigo pior. É o que ia contra tudo. Lembra aquela ideia dos gibelinos? É que o imperador seria maior que Roma, que é exatamente o inimigo que eles querem vencer. E aí faz sentido. A ideia de que a loba era o pior
dos animais aqui é que vamos voltar no caminho direito. A Smarrita, o caminho lá viu era esquisito, havia o caminho verdadeiro que havia desaparecido. Como assim, o caminho verdadeiro? O caminho de salvação verdadeiro, o caminho, a religião verdadeira é o que ele quer dizer. É, mas por que desapareceu? O que os gibelinos diziam? E outros hereges também, eles falavam que, com a doação de Constantino ao Papa Silvestre, a igreja havia se corrompido e já não era mais a igreja verdadeira. Aqui tem outra passagem que eu vou comentar mais tarde, que vai corroborar essa afirmação, que
é exatamente do Paraíso Terrestre. Então, voltando aqui pro monte, ele está acuado pelos três animais, praticamente desistindo e voltando atrás ou quase sendo morto pela loba, de que ele não consegue de jeito nenhum se livrar. Então, ele vê ao longe um vulto; ele vê um vulto e, como bom italiano, pede socorro: "Me ajuda aqui! Socorro! Corro você!" E ele não vê direito quem é. Então, ele fala: "Você aí, homem ou fantasma ou sombra, não sei quem você é, mas me ajuda, pelo amor de Deus!" Então, a pessoa responde de lá: "Ah, por que você não
sobe o monte? Por que você não sobe o monte da salvação?" Ele fala: "Porque eu não consigo! Você não vê as três feras aqui que me acampam?" Então, a pessoa se apresenta e fala: "Eu não sou homem, mas homem já fui." Ou seja, é um fantasma, um espírito. Ele começa a se apresentar e fala: "Eu fiz isso, eu vivi sobre Otávio." Então, ele fala: "Escreve tais obras." Ele responde: "Ah, você é Virgílio! E se hoje eu tenho todo esse estilo que falam tão bem, é por sua causa." Então, é o autor da Eneida que está
lá. Ele faz uma proposta pro Dante e fala: "Eu posso te ajudar. Você quer ajuda?" Claro que eu quero! Então, ele se aproxima do Virgílio e, quando o Virgílio conta para ele o que ele tem que fazer para se salvar, ele fica com medo, porque o Virgílio fala que ele tem que fazer um caminho passando pelo inferno, descendo aos infernos, passando pelo purgatório e depois ele chegaria ao paraíso. Ele tem medo e fala: "Mas quem sou eu para fazer tal caminho?" Tem toda uma conversa entre eles, mas no fim ele aceita fazer o caminho. E
ele, aceitando, vai começar a passagem. Então, vamos voltar aqui pro Virgílio. O Virgílio é um autor pagão, viveu de 70 a 19 a.C., então no século I a.C, que vai ser o guia do Dante por esse passeio. Ele vai guiar o Dante por todo o inferno, por todo o purgatório, mas ele não vai poder guiar o Dante no paraíso porque ele é pagão, então ele não é batizado, ele não pode entrar no paraíso. A maior obra do Virgílio é, sem dúvida, a Eneida, que conta a história de Eneias, um príncipe de Troia que foge de
Troia. Faz todo esse caminho de quando ele foge, e os descendentes dele fundam, o filho dele funda Alba, que vai dar origem a Roma. Resumindo bastante, né? E depois os romanos, que na verdade são descendentes dos troianos, vão voltar pra Grécia e conquistar a Grécia. Ou seja, Troia venceu no fim, né? E é interessante que o Otávio, primeiro imperador, era descendente do Eneias, que era filho de Vênus, e depois os outros descendentes dele vão ser filhos de Marte. Então, ele faz toda a ligação e fala: "Os imperadores são filhos de Vênus e Marte, os imperadores
romanos." Então, Virgílio faz essa ligação toda dessa linhagem divina dos imperadores. E como a Eneida... Só pra curiosidade, aqui, como que ela começa? O primeiro verso da Eneida: "Armur", traduzindo mais ou menos assim, não tão fiel, mas "as armas e os barões assinalados". Lembra alguma coisa? Será que alguém se inspirou nela? Sim, óbvio, né? Tanto que é exatamente o mesmo começo. Ele pega exatamente a mesma... Hoje diriam que ele plagiou, que é um absurdo, né? Que o Camões plagiou, obviamente é um absurdo, não, não tinha. E ele está dizendo da onde ele se inspirou. Ele
usa exatamente os mesmos versos para falar: "Ó, foi a minha inspiração, é essa aqui." E é tão verdadeira que é exatamente isso. Os YouTubers modernos provavelmente cancelariam Camões, dizendo que ele era um ador... Que absurdo! Mas muitos autores, não portugueses, lendo as lendas falam que ela é a "Eneida Lusitana". Uhum. Então, é realmente uma obra que tem seu valor; não é de forma alguma plágio. E o Virgílio, aqui, dizem os autores, ele vai representar a filosofia pro Dante, né? A filosofia que é só essa, natural, não está junto com a filosofia pagã, não está junto
com a revelação divina, mas já consegue guiar o Dante por todo esse caminho antes de chegar ao paraíso. Mas não é só por isso, não é só por esse valor literário que o Dante escolhe o Virgílio. O Virgílio, na Eneida, ele, como autor, guia Eneias, que é o protagonista aqui da Eneida, também por uma viagem pelo inferno. Eneias também vai pro inferno para pegar algo, conhecer, fazer algumas entrevistas lá e pegar alguns conhecimentos que ele precisava para saber o que ele tinha que fazer. Então, eh, o Virgílio é o mistagogo, aquele o guia no mistério
que introduz e faz a iniciação da pessoa nos mistérios, na religião, né, nessa seita, por assim dizer. Também, por isso, por esse motivo, ele, o Virgílio, é escolhido, né, como agogo. Bom, voltando aqui, então, falando da selva, né? Vocês vão me desculpar, eu vou falar os versos aqui. Eh, de novo, perdoem meu Toscano, vou falar desde o começo. Eh, não, eu do caminho de Nostra Vita me retrov para a selva escura que direita vi, Ermita, ai, como era coçadura esta selva selvagem e áspera, forte! Que, pense, renova pra tanto? É amarga que pouca morte, mas
tratar bem que, eu, ou seja, ele chama essa selva, fala essa selva selvagem, áspera e forte, que só de pensar renova medo. É tanto é amarga que mais um pouco é morte, mas para tratar bem, eh, que eu vi e eu vou, Prado, bem que é necessário. Eu vou contar de outras coisas que aí aconteceram, mais ou menos, não uma tradução literal, né? Então, ele diz que a selva é escura, eh, áspera, forte e amarga. O que isso quer dizer, né? Calma aí que eu dei uma pulada aqui, cadê? Aqui, ó. Então, ela é áspera,
que é uma coisa difícil de entender, que engana. Então, aqui representa a heresia, a heresia no sentido de Dante. Lembra que ele tá dizendo que o caminho verdadeiro desapareceu? Então, ele tá dizendo que a doutrina verdadeira é, na verdade, herética. Então, eh, lembra que o caminho verdadeiro desapareceu e ele tá nessa selva. Então, a igreja atual é herética, ela engana. Então, a aspereza vai contra a inteligência, não é suave e é enganosa. Ela é forte porque vai, aí, contra a vontade; ela domina, ela escraviza os homens. E ela é amarga, que vai contra a sensibilidade,
ela impede a felicidade dos homens, ela traz amargura pros homens. Então, tudo isso aqui ele tem que vencer, essa situação atual da igreja, no sentido dele, fazendo todo esse caminho para encontrar a verdadeira religião. Os autores colocam a igreja, a selva, que poderia representar o mundo, pode representar os vícios também e também a própria Florença, né? Além disso, aqui, eu já falei dos animais. Quando ele fala da loba, essa parte eu não falei. Ele faz uma profecia, ele fala que, na verdade, o Virgílio diz que essa loba vai ser um dia vencida pelo veltro. Veltro,
traduzindo, aqui, do seria o lebreu ou o galgo. Sabe aquele cachorro? Então, vai vir o galgo e vai vencer a loba. É interessante ver esse nome aqui, veltro, que ele usa. Deixa eu ver se tem o aproveitar, aqui. Vro, eu pego o l, aqui o v... Opa, isso aqui, n, v... Aí, o t, o e, o r, o. Só que o Lutero não chamava Lutero, ele assumiu esse nome depois, né? Será que foi sem querer? É, o nome dele era outro nome, então era parecido, mas depois ele ficou assim. Alguns dizem que foi por causa
disso. Não dá pra saber realmente, ele dizia que tinha ascendência, aham. Agora, não sei se é, não sei, aham, mas é, obviamente, o Dante não falava de Lutero, é só uma curiosidade, aqui, que outros autores colocam. Mas o Dante, ele identificava esse veltro, esse cão, com algumas pessoas reais. Por exemplo, ele acreditava que o imperador venceria o papa, então ele seria esse veltro que venceria, esse cão que venceria a loba. Ou tinha uma outra família que ele coloca na Divina Comédia. Ele oferece essa Divina Comédia para uma pessoa em particular, ele dedica a Divina Comédia
para uma pessoa e ele coloca lá que esse veltro vem, eh, vem de um local entre feltro e feltro. Se você pegar no mapa, lá tem o monte Feltro e tem uma cidade, Feltro, que fica bem, eh, e no meio fica Verona. Verona tem uma família que dominava lá, chamada família Escalera, aí, família da escada, né, traduzindo. E é interessante que o pai, né, o, eh, dessa família, o patriarca dessa família, ele gostava de colocar o nome dos filhos de cães. Então, lá tinha, eu não sei exatamente qual é o cão, mas ele dava o
nome de cão mesmo. Por exemplo, Bulldog, mas era o Mastin, o, sei lá. E tinha um deles que era o Cão Grande, que era o Cão Grande da Escala, né? Cão Grande de Escala, que é exatamente para quem o Dante dedica a Comédia, a Divina Comédia. Ele escreve cartas para ele e dedica a comédia para ele, pro Cão Grande da Escala. Nós até vimos a ponte lá dele, não sei se você lembra, em Verona, o Cão Grande da Escala. Ah, agora, uhum. Então, talvez o Dante acreditasse, pelo menos em determinado momento, que o veltro, esse
cão, talvez fosse dessa família aí que venceria o papa. No final, não venceu, graças a Deus, aham. Ah, era o... Oh, coloquei o Imperador, era o Henrique. Uhum. E aqui, só para encerrar, também já tá indo tarde. Eh, aí, a história continua. Então, eles vão passar pelo inferno. O Dante, ele tenta convencer o Virgílio que é melhor não e tal. Ele fica com medo, mas o Virgílio fala que não tem outro jeito. Então, eles vão pro inferno. O primeiro lugar que eles vêm... Inferno significa locais inferiores, né? Então, o primeiro lugar para onde... Eles vão,
na verdade, ao Limbo, e aqui é bonito também. E os versos que ele, quando chega ao local, tem a porta para descer para o inferno. A porta não tem mais porta; só tem um buraco lá. A porta foi arrombada, e diz que não tem mais porta, mas tem um letreiro em cima. Daí, ele pergunta o que aconteceu ali. Fala em determinado momento sobre Virgílio; o Virgílio mesmo não sabe exatamente como aconteceu, mas chegou um grande campeão aqui que derrubou a porta do inferno e levou algumas pessoas que estavam ali para fora. Está falando, obviamente, do
primeiro ponto, que é o Limbo. Então, entrou um grande campeão, arrombou a porta do inferno e pegou algumas pessoas que estavam no Limbo e levou embora. Quem é esse grande campeão? É Cristo, obviamente. Mas o Virgílio ainda mora no Limbo. Então, Dante percebe que o semblante dele muda; ele fica triste porque ele sabe que nunca, na verdade, vai poder ver Deus. Então, ele tem essa tristeza. Mas aí ele mostra, apresenta várias pessoas que estão lá no inferno, no inferno não, no Limbo. Então, estão lá Homero, Horácio e vários autores pagãos. Quem está no Limbo são
os batizados que não cometeram pecado. Então, é um pouquinho forçado as pessoas que ele coloca lá, por exemplo, ele coloca Júlio César lá no Limbo, coloca também Saladino. Saladino está lá no Limbo, então Saladino foi um dos não batizados que não cometeu pecado. Então, o Dante dá uma forçada aqui, mas eu falei do letreiro que está na porta do inferno, né? Vale a pena falar de novo, desculpem, mas versos bons não podem ser ditos em voz baixa. Então, o que acontece quando eles chegam lá? Tem uma escada que vai até o inferno e eles começam
a descer a escada enquanto leem o letreiro. O letreiro está escrito: "Per dolente, per se eterno dolore, per se la perduta gente. Giusti, Fei, la Divina potestate, la suma sapienza e di primo amore dinanzi a me. O eter C Create e io eterno duro. Lasciate ogne speranza, voi ch'entrate." Por mim, se vai à cidade dolente, por mim, se vai eterna dor, por mim, se vai à perdida gente. Justiça moveu meu alto autor, criou-me a Divina potestate, potestate assuma, sapienza e o primeiro amor, né? A Santíssima Trindade. Antes de mim, só foram criadas coisas eternas. Eu
eternamente duro: "Perdam as esperanças, vós que entrais." Então, essas palavras, Dante até comenta com Virgílio: "Essas palavras me são duras." E Virgílio dá a primeira bronca nele: "Aqui não tem lugar para piedade! Se você está com piedade dessas pessoas, você está errado. Elas estão aqui porque merecem." Então, o Dante já leva uma primeira paulada, mostrando aquela questão, né? Ele é autor e personagem também, né? Quem corrige também é ele. Então, eles entram. É apresentado a você, como eu falei, o Limbo. Ele vê os personagens e, naquele momento, não conversa com ninguém; ele fica quieto. Mais
tarde, ele vai, só que eu não vou continuar agora, vou pular algumas coisas. Não vou falar de todos os círculos, só para falar mais um. Tem um momento lá que eles vão se aprofundando no inferno, passam por círculo e círculo, falando com condenados sobre qual era o pecado deles. Ele encontra mestres dele lá no inferno. Eu vou pular toda essa parte. Me interessa só um ponto rápido: perfeito. Então, o Dante coloca o inferno como se fosse um funil, uma montanha ao contrário, né? Imagina a Terra. Eu tenho a Terra, né? Olha só, medieval. Hein? Eu
tenho a Terra que é um globo. A Terra é um globo. Então, no momento em que Lúcifer foi expulso do Paraíso, ele caiu com tanta força na Terra que fez uma espécie de funil na Terra que vai até o centro da Terra. Lembrando, de novo, que ele está falando da Terra como globo, 1300. Então, esse funil vai até o centro da Terra, onde está exatamente no centro, Lúcifer. E aqui tem vários níveis, são nove níveis de inferno onde eles vão descendo, né? Nove patamares, por assim dizer, que conforme os graus de pecado vão aumentando, mais
fundo a pessoa vai. Então, aqui no primeiro nível está o Limbo, e nos níveis mais baixos estão os pecadores realmente. Ele coloca como primeiro nível a impureza, que para ele é um pecado menos grave porque ainda busca um bem, e depois vai piorando até chegar a Lúcifer, que está no pior dos pecadores, lá no centro congelado do inferno. E lá, Lúcifer tem três faces, três rostos, com três bocas, e ele mastiga... Eu vou falar essa parte porque não está... Ele mastiga três pecadores que seriam os três piores pecadores de todos, junto com ele. Então, ele
está mastigando esses pecadores como se fosse chiclete o tempo todo. Mastigando, um deles que está na boca da frente é Judas. Então, para ele, o pior pecador que está sendo mastigado por Lúcifer é Judas, e nas outras bocas estão sendo mastigados Cássio e Bruto. Quem são Cássio e Bruto? Também traidores. Traidores de quem? De César. De novo, a ideia do imperador. Como trair o imperador seria a mesma coisa que trair Deus? Mostra, de novo, esse gibelino dele. Então, ele tem esse inferno nessa forma de funil ou montanha invertida, né? Que, quanto mais fundo, pior o
nível dos... Pecadores! Depois, ao contrário, quando Lúcifer caiu, ele fez esse buraco no chão. Mas, do outro lado da Terra, do outro lado do globo, é como se ele empurrasse essa terra para cá. Do outro lado, fez um calombo, fez uma montanha do outro lado, que é a montanha do purgatório. Então, o caminho dele é passar até pelo inferno, passar pelo centro da Terra, andar por outro lado da montanha, onde ele chega na montanha do purgatório. Ele passa, e o purgatório funciona também em níveis, né? Só que aí, ao contrário, né? Os que estão pior
estão nos primeiros níveis. Conforme a pessoa vai se purificando, ela vai subindo até ir para o céu. Aí, é interessante, quando ele sai, e isso é extremamente interessante; até hoje não sabem explicar direito o que acontece quando ele chega no inferno. Ele sai para o purgatório e vê um céu, um céu azul, céu, eh, céu azul de safira oriental. Ele diz que brilha uma constelação de quatro estrelas, o Cruzeiro do Sul, que só é visto no hemisfério sul. Mas ele tinha conhecimento do Cruzeiro do Sul, como não sei, mas, de alguma forma, Dante tinha conhecimento
do Cruzeiro do Sul. Não sei se ele viu outros autores do hemisfério sul, mas é interessante porque normalmente não se tinha. Bom, voltando aqui, ainda falando do inferno, né? Tem um momento que eles estão já adiantados no inferno e o Dante faz um verso que é estranho. Ele fala: "Ó, ele chega numa espécie de cidadela, tem uma muralha que eles têm que parar porque os demônios não deixam eles passarem." Então, aí chegam uns demônios lá, que são umas fúrias, aquelas figuras da mitologia grega, né? As fúrias começam a falar mal deles e falam que vão
chamar Medusa para petrificar Dante. Então ele fala: "Doutrina que esconde sob o véu dos versos estranhos. Olha a doutrina que se esconde atrás do véu dos versos estranhos." Então, é uma coisa esquisita de se dizer. Nesse momento, o Virgílio tampa os olhos dele, a Medusa passa, e ele não é petrificado porque está protegido pelo Virgílio. Aí chega um anjo e derruba a porta para eles poderem passar, expulsa os demônios, e eles conseguem passar mais tarde. Aí, caberia outra aula. Eles encontram Plutão, que é o Hades, o rei do inferno, e ele, quando vê os dois,
ele solta, em um momento de raiva, uns versos estranhos. Ele fala: "Pape Satan! Papes Satan! Alep!" Aqui têm versos estranhos. Não é isso que aqui não é toscano, não é italiano, não é nenhuma língua ali que dá para interpretar. Alguns autores falam: "Ah, mas ele falou qualquer coisa numa língua lá do inferno." Mas, ele acabou de falar isso aqui: "Ó, para prestar atenção nos versos estranhos." O que quer dizer isso aqui? Então, muitos colocam que "alep" é o alfa, a primeira letra do alfabeto hebraico. Então, talvez ele tenha dito uma inversão, né? O pai Satã
é o alfa. O Plutão, o Hades, teria dito isso fazendo uma inversão. Ele fala que você tem que prestar atenção no contrário: quem diz que é bom é mau e quem diz que é mau é bom. Mas, como eu falei, caberia outra aula. E em todo lugar mostra esse ódio escondido do Dante da igreja, da igreja verdadeira. E aqui eu vou terminar falando de quando ele sai do purgatório. Ele está no topo do purgatório, que tem o paraíso terrestre, de onde as almas depois vão para o paraíso celeste, realmente. E lá ele tem uma visão,
ele encontra a Beatriz. Aí, nesse momento, ela é carregada numa carroça por Cristo. Ele não fala "Cristo"; ele fala que é um ser de duas naturezas. Aí tem os doze apóstolos, os profetas. Então tem toda a cena de Beatriz triunfal na carroça. Aí, de repente, vem um gigante que entra na carroça, vem uma águia. Eles ficam debaixo de uma árvore e a águia, uma águia imperial, sacode as asas e a carroça fica cheia de penas, tão pesada, tão pesada que ela afunda. Então, Beatriz se transforma e ele diz que ela é a Meretriz do Apocalipse
e beija o gigante, que representa o Estado. Então, representaria essa corrupção da igreja, a igreja que deixa de ser uma igreja verdadeira, que se corrompe após a doação de Constantino, representado pela águia que joga as penas dentro da carroça da igreja. Então, ela se corrompe e passa a não ser mais a igreja verdadeira. E isso não é só o Dante que diz isso; várias seitas dizem. Era uma coisa assim, é uma história comum entre essas várias seitas dizer que depois da doação de Constantino, até hoje se diz que a igreja se corrompeu. Sim, e que
a igreja, na verdade, é a Meretriz do Apocalipse. O Dante falava, os hereges falavam, hoje os hereges ainda falam. Então, Dante mostra, na verdade, um grande ódio da igreja real, e não dá para falar que ele é católico de forma alguma, conhecendo bem a obra dele. Dúvidas, pessoal? Oi! Então, só pelo inferno, purgatório e paraíso? Não, nem passei pelo inferno! É como eu falei, foi só uma introdução; falei só do primeiro canto, que é introdutório, e coloquei umas... Pinceladas aí dos dois cantos do inferno e aqui um do purgatório. Teria, como eu falei, foram 30
anos de aulas; não dá para dar uma aula. Isso aqui é só introdutório. Não falei nada disso, pessoal, exatamente. E aí eu termino a aula, falando que não se deve se privar da leitura da Divina Comédia, que é um livro muito bom e, sem dúvida, um dos melhores da nossa cultura, da humanidade. Tudo bem? Vamos rezar: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai
por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. [Música]