(LIBRAS) 6. A cor dos faraós | podcast do projeto Querino | por Tiago Rogero
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Rádio Novelo
Tradução em Libras do episódio 06: "Ficará a cor morena / De coroa e cetro na mão"
Podcast do proje...
Video Transcript:
[Música] em 1789 mais de 30 anos antes da independência do Brasil os escravizados de um Engenho no sul da Bahia mataram o mestre de Açúcar eu até falei sobre essa função no Episódio Passado basicamente era o responsável por supervisionar a parte do beneficiamento do Açúcar da transformação do melaço em açúcar refinado depois de matar o mestre de Açúcar os escravizados foram até o dono do Engenho e apresentaram um documento a gente já falou disso também mas era muito raro que qualquer pessoa soubesse ler e escrever no Brasil naquela época menos ainda pessoas escravizadas por causa das proibições e interdições mas não era impossível e os trabalhadores escreveram assim meu senhor nós queremos paz e não queremos guerra se o meu senhor quiser paz há de ser nessa conformidade Ou seja a paz teria que ser nos termos deles Daí eles fizeram uma série de exigências por melhores condições de trabalho queriam ter Livres tanto a sextas-feiras quanto os sábados para que pudessem cultivar as próprias roças e diziam que não aceitavam Os feitores Atuais do Engenho feitor era uma outra função né era o supervisor Geral de toda a operação os trabalhadores exigiam que fosse feita uma eleição para escolher os novos feitores e eles terminavam assim o documento poderemos brincar folgar e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos impeçam e nem que seja preciso pedir licença e se brincar e cantar tem mais significado do que parece e daqui a pouco a gente chega lá isso tudo foi no engenho de Santana que ficava em Ilhéus no sul da Bahia e por causa disso documento ficou conhecido como o Tratado do Engenho de Santana Olha só o terreno matama toma esse Neto ele é fundado em 1885 e uma localidade que fica numa zona rural da cidade de Ilhéus no engenho de Santana onde houve uma revolução escrava que se constituiu um documento dizem né que é o primeiro tratado trabalhista aí entre patrão e empregados onde esses escravos pontuaram nessa carta algumas das suas reivindicações o dono do Engenho acabou pedindo ajuda para o juiz do distrito que enviou mais de 80 homens armados para conter a revolta Aí lá pela época da guerra da Independência A Fazenda já estava na mão de outro Senhor e teve uma outra revolta dos escravizados do Engenho de Santana os trabalhadores mantiveram o controle por mais três anos só em 24 que as autoridades conseguiram retomar o engenho e os revoltosos montaram Quilombos nas matas ali por perto e foi a partir dos remanescentes desses Quilombos que nasceu esse terreiro que a gente ouviu a pouco lá em Ilhéus aqui também minha mãe é a sala da consulta dela onde ela recebe os clientes dela também aí aqui a camarinha onde recolhe ou seja de Santo aqui o quarto dos Tatá das macotas aí nós temos aqui Santos Esse é o nome que eu fui batizado na igreja católica mas eu faço parte também da religião do Candomblé sou membro do terreiro matamba Tome esse Neto o qual eu recebi o nome de encosto eu sou Tata cambondo aqui do terreiro matamba tão desse neto na cidade de Ilhéus no estado da Bahia no sul da Bahia um terreiro uma tampa tomoci Neto é referência na cidade por ser um dos terreiros mais velhos então quando acontece algum tipo de casos desse de intolerância religiosa de desrespeito essas pessoas procuram a gente naturalmente se nós tivemos vários casos aqui em vários casos um desses casos acabou sendo com parentes dele o meu tio que é casado com bialê neozida filha de santo da minha avó boa parte desses meus primos que não é daqui da comunidade boa parte deles são evangélicos e a mãe desses primos a mãe consanguinha deles é uma orixá é uma mãe de santo E aí meu tio faleceu ele não era iniciado mas ele ajudava a neozida né nas obrigações e tudo e aí a gente foi para o funeral dele ele chegou lá tinha muitos evangélicos lá o pessoal da igreja dos filhos todos quando chegou Nossa putamento um encosto né ou algum de neozine que era a esposa do meu tio manifestou nela Na hora de arriar o caixão na Cova ou algum virou pegou ela o orixá da nilzera se manifestou nela queria se despedir do marido da neuzira que tinha falecido e aí esses evangélicos começou tentando pegar ogum sai satanás sai seu diabo tira ele tá repreendido porque gerou aquela confusão e esse tipo de confusão tem acontecido cada vez mais no Brasil a gente volta falando de um pastor evangélico que foi autuado por intolerância religiosa em Nova Iguaçu na Baixada Fluminense depois de gravar um vídeo mostrando Que destruiu imagens sagradas integrantes da rede de articulação da caminhada dos terreiros fizeram protesto hoje à tarde no Recife a manifestação foi contra um pastor evangélico que divulgou um vídeo nas redes sociais com agressões as religiões de matrizes africanas sobre uma denúncia de intolerância religiosa aqui em Vitória da Conquista uma mãe de santo acusa um pastor evangélico de agressão e intolerância o caso foi parar na polícia nos últimos anos os casos de intolerância religiosa ou mesmo de terrorismo contra religiões de matriz africana tem aumentado tem escalado quando a gente vê esse tipo de caso hoje em dia tem um grupo bem específico que costuma estar por trás um grupo de Bíblia na mão uma menina de 11 anos foi atingida na cabeça por uma pedra a caminho para um culto de Candomblé no Rio de Janeiro segundo testemunhas dois homens que estavam naquele ponto de ônibus do outro lado da rua começaram então a ofender o grupo que preferiu não reagir nas provocações eles estavam bem vestidos com bíblias na mão aí a primeira pergunta que eu faço para o senhor nesse sentido é existe liberdade religiosa no Brasil hoje depende para quem Este é o Ivanir dos Santos que é professor pesquisador e ativista na luta contra a intolerância religiosa ele também é babalau o processo de entender a liberdade religiosa no Brasil temos que entender o processo histórico do país né e ele nós temos um país que durante a colônia e o império a Igreja Católica fez parte do Estado e tá aqui uma questão bem importante é inegável que boa parte dos ataques a religiões de matriz africana hoje sejam cometidos por alguns evangélicos principalmente os neopentecostais e a gente vai tratar disso em detalhes com toda a complexidade que o assunto exige Mas se a gente pegar a história do Brasil todos os anos desde a colonização passando pelo império e a república na maior parte desses anos desses séculos teve um outro grupo promovendo esses ataques nesse período não tinha para ninguém a não ser a Igreja Católica as manifestações naquele primeiro momento dos escravizados e também dos indígenas não tinham liberdade que tinha era conversão a Igreja Católica foi a principal sócia de Portugal na empreitada da colonização na empreitada da escravidão da exploração de mentes e corpos negros por mais de três séculos do genocídio desse povo a principal sócia E durante todos esses anos a Igreja Católica foi a principal responsável por perseguir qualquer manifestação religiosa que não fosse a do catolicismo a Igreja Católica desenvolveu uma justificativa ideológica e ideológica para barbari que foi a escravidão algumas dessas ideias permanecem até hoje então base não só para intolerância religiosa para o terrorismo contra religiões de matriz africana mas não base para o próprio racismo eu sou o Tiago Rogério Este é o podcast do projeto Quirino produzido pela rádio novela Episódio 6 a cor dos faraós [Música] até onde se sabe a primeira viagem de tráfico negreiro de escravizados foi lá por volta de 1440 quando um português a mando da coroa portuguesa foi até a região do Rio do Ouro no continente africano para comprar azeite e pele de leão marinho daí esse português sequestrou 12 africanos e levou para Portugal Os Três anos depois teve o primeiro leilão de escravizados em Portugal e aí já eram mais de 200 pessoas entre elas crianças e é sempre bom lembrar que não foi nesse momento que a escravidão começou que ela foi inventada a escravidão já existia e há muito tempo tinha escravizado na Grécia antiga por exemplo a própria palavra escravo e fica mais fácil quando a gente pensa nela em inglês slave vem do latim slavos que é uma referência aos eslavos que por muito tempo foram escravizados e o povo eslavo é branco é que havia muitos motivos para se escravizar uma pessoa podia ser como resultado de uma guerra por exemplo ou por dívida mas não se escravizava alguém só por ser de determinada raça muito menos só por ser negro até porque essa ideia de quem é negro e quem não é é uma ideia criada depois justamente para justificar essa nova forma de escravidão que surge a partir do momento em que Portugal começa a expandir o seu império uma forma Mercantil em que a pessoa escravizada se transforma em mercadoria e na mais valiosa e lucrativa mercadoria de todas Quem começa com isso é Portugal Portugal e a Igreja Católica porque a igreja é quem dá autorização para isso a igreja Deus subsídio moral ideológico para que a coroa portuguesa escravizasse os africanos pouco depois desse primeiro leilão de escravizados o Papa publicou uma bula que os historiadores chamam de a carta Régia do imperialismo português e lá ele autorizava a escravização dos africanos a Desculpa era a escravidão serviria para salvar a alma deles porque quem sequestrava estaria convertendo aquelas pessoas para o cristianismo mas eu queria que a gente tentasse pensar no continente africano antes de tudo isso bom meu nome é Fernando Thomaz Sou professora de história da África da Universidade Federal de Juiz de Fora pensar o continente Africano antes do tráfico Transatlântico pensou em diversidade porque era um pobre diferente não era irmãos sabe esse papel nosso era os irmãos a ideia de África nem existia essa ideia de África era constituída pelos europeus exatamente com esse contato ao longo do tráfico de escravizados depois com colonialismo que aí sim define o outro como continente Africano essa identidade se você achar africano não o cara era bacongo o outro era vi mundo sei lá outro era maku a maconde e alçar entendemos culturais a gente tá falando de um continente com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados continente com dimensões gigantesca que hoje tem cerca de 2000 povos mesmo sabendo da complexidade Quer tentar pensar em definir uma religiosidade no continente tão diverso com povos tão distintos eu perguntei para Fernanda se haveria elementos em comum entre boa parte dessas diferentes culturas primeira coisa Tiago a gente tem noção de que é muito da nossa sociedade separar Sagrada profundo e eu não sei nem se o termo religião daria conta para pensar nessas práticas espirituais do continente africano da sociedade africanas mas eu acho que a primeira ponta a pensar é que nossa separação o cotidiano ele tá mergulhado em espiritualidade [Música] pensando na linha do deserto do Sara para baixo é muito comum curtas ancestrais na grande maioria das sociedades africanas assim culto aus ancestrais em que o pertencimento histórico pertencimento num território tem a ver com as suas heranças na relação de parenteses suas heranças na linhagem né Ou seja é quem na verdade cuidou de você é quem trouxe você para o mundo É que na verdade um dia ele vai ser o mais velho e um dia ele vai ser um ancestral E era uma relação não só com quem veio antes mas com o território também tem um caso era o jornalista conhecido lutou para a independência de Moçambique enfim na concepção dele enterrou no cemitério da cidade passaram-se 20 anos ele teve AVC vários problemas inclusive profissionais ele procurou todos os meses né desde cuidado físico né e ao médico enfim mas é outras coisas acontecendo que não tinha explicação Você precisa jogar Os oráculos para você saber o que seu pai quer falar com você ele não acreditou né [Música] descobriu o pai dele tinha sido enterrado no cemitério da cidade e ele queria ser enterrado na terra onde tava os avós antepassados ancestrais dele e aí ele faz uma ação do esoçadas transporta tudo para Ian Bunny lá para terra onde estava os ancestrais E aí teve todo mundo ritual enfim né após o ritual a vida dele voltou a normalidade entende tudo voltou normalidade Kalunga e ela quer dizer um monte de coisa um significado bem comum é o de morte além daí eu já tinha lido que para muitos povos africanos que foram escravizados a travessia pelo mar aqueles dias todos no porão de um navio negreiro aquilo era encarado como uma morte mesmo porque o mar era chamado de calunga Grande mas eu entendi errado a morte e muitas sociedades africanas simboliza uma outra coisa a morte não é um problema sabe a morte não é obscura a morte é simplesmente uma passagem nessa existência o mundo vive depende do mundo dos mortos e vice-versa sabe porque o mundo de mota que me dá sentido sabe para minha existência a morte ela só simboliza uma passagem que é para ir para esse outro mundo a travessia no navio negreiro não era morte a travessia era algo pior [Música] na verdade corta seu ex com seu território o mar simboliza esse tempo de ida que não tem volta [Música] e esse mar é o que corta sua relação com a sua linhagem com seu território de onde você veio e corta sua relação com a sua história que ainda que você leve seus ancestrais contigo a relação não é mesmo do lugar o que você vive o que você largou seu hoje sabe eu divido que tem toda uma relação de coletividade ele passa a ser individualizado e eu acho que esse individualização é quando esse vídeo são comprado na costa e eles atravessa quando eles atravessam eles estão entrando emergindo em uma outra cultura e numa outra posição social que ele passa e mercadoria ele passa a ser escravo a mostra se dá num processo e é num processo de travessia Mas é uma morte que ela é feita a partir deles é raízamento essa amostra travessia é muito maior do que a morte física e sabe quem também participava do tráfico negreiro a igreja em 1558 tinham mais de 10 mil pessoas escravizadas trabalhando em sítios e fazendas dos Jesuítas em Angola daí começaram umas críticas dentro da própria igreja não a escravidão mas a participação deles no tráfico e o Padre responsável pela missão respondeu que seria impossível sustentar a operação sem o tráfico negreiro pensando aqui no Brasil agora a igreja ganhava por cada escravizado que fosse batizado e era lei todos escravizado deveria ser batizado e a igreja já tinha tentado justificar a escravidão com aquela desculpa de salvar almas para manter de pé o regime escravocrata a coisa foi ficando ainda mais complexa a igreja criou toda uma justificativa ideológica e ideológica tinha por exemplo a ideia de que os africanos deveriam ser escravizados porque Eles teriam sido amaldiçoados e havia todo uma Pedagogia da escravidão a igreja pregava que o senhor eles tinham Nascido Para serem senhores e os escravizados [Música] um dos principais nomes dessa pedagogia era o Padre António Vieira que até hoje dá nome é uma porção de coisa no Brasil eu já morei numa Rua Antônio Vieira por exemplo ele dizia que o trabalho no engenho era a cruz e que não há trabalho nem gênero de vida no mundo mais parecido com a Paixão de Cristo do que o trabalho escravo nos engenhos a religião católica não era só a oficial era a única permitida manifestações religiosas que não fossem católicas eram classificadas como heresia feitiçaria coisa do demônio aí vem a independência o Brasil se separou da coroa portuguesa mas estava lá na Constituição de 24 que durou até o fim do Império a religião Católica Apostólica Romana Continuará a ser a religião do império e tinha mais esse trecho todas as outras religiões serão permitidas e o Chama Atenção para isso com seu culto doméstico ou particular em casa para isso destinada Mas essa casa não poderia aparecer um templo do lado de fora e a constituição também dizia que ninguém pode ser perseguido por religião uma vez que respeite a do estado e não ofenda a moral pública e você sabe o que sempre foi uma ofensa moral pública no Brasil né qualquer traço de africanidade como as religiões de matriz africana embora carrega em elementos seculares e até milenares as religiões de matriz africana Que nós conhecemos hoje São relativamente recentes a partir da segunda metade do século 19 e são várias né tem as mais conhecidas Candomblé e Umbanda mas também tem o tambor de Mina e o Telecom no Maranhão o Xangô e o chambá em Pernambuco e Alagoas a Cabula no Espírito Santo o batuque no Rio Grande do Sul o babaçuê no Pará aqui banda no Rio e em São Paulo o homolocou em Minas no rio em São Paulo São religiões que nasceram aqui no Brasil com elementos de diferentes sociedades e culturas africanas mas que nasceram no Brasil são afro-brasileiras e não é que não havia essa religiosidade aqui antes do século 19 apesar da religião oficial imposta pelo Estado pessoas negras Nunca deixaram de processar a própria fé e tinha muito senhor que no interior das fazendas permitia isso para não provocar uma revolta lembra do tratado do Engenho de Santana com os escravizados exigiram poder brincar folgar e cantar sempre de licença isso podia tanto significar quanto religiosidade também chamar de brincadeira era uma forma de proteger esses ritos religiosos era uma forma de resistência Com passar dos anos até por causa do número cada vez maior de pessoas negras que estavam conquistando a própria Liberdade foram surgindo mais casas mais terreiros aí olha esse caso de 1849 em Porto Alegre no Rio Grande do Sul uma mulher negra fez um requerimento para o chefe de polícia ela fez um pedido quem vai contar que é o historiador e Professor Paulo Moreira Então ela se apresenta para o delegado de uma determinada maneira se apresentando como Maria José preta forra Rainha Ginga Rainha Ginga nação Angola com predomínio sobre as outras Nações da Costa da África e ela reclama de que ela tinha uma licença para brincar com as pessoas da sua nação e ela pedia então que ela essa licença ela fosse renovada e aí é interessante por a forma como ela se apresenta e como ela tenta disfarçar aquela manifestação coletiva aquela manifestação Comunitária como brincadeiras e aí a polícia fica toda ressabiada porque evidentemente mesmo ela sendo forra a presença dessa mulher e a liderança que ela tinha nessa Comunitária atemorizava aquela sociedade branca de uma forma que essa sociedade durante muito tempo ficou pensando se renovaria a sua licença a licença tinha sido caçada E aí então num determinado momento a licença dela é renovada desde que a manifestações as festas os brinquedos fossem feitas Extra Muros da Cidade ou naquilo que se chamava na época da Várzea de Porto Alegre lembra do nome que ela usou quando fez o requerimento para o chefe de polícia quando ela se apresenta como rainha agenda não é uma coisa fortuita na coisa por acaso ela certamente escolheu aquilo ali talvez ali nesse momento ela estivesse dando uma intimada até no delegado como se ela estivesse dizendo olha veja bem com quem você está falando né eu sou Rainha Ginga Eu sou uma mulher que representa várias Nações da Costa da África ai a Ginga como a gente sabe né uma mulher que realmente existiu se trata de mesinga muito uma mulher que viveu ali de 1. 582 a 1663 nunca pisou no Brasil né foi uma rainha no reino do Tombo e o reino de matamba uma pessoa extremamente importante nos anos em que ela esteve no poder a rainha zinga conseguiu barrar o avanço de Portugal sobre o reino dela e essa presença da rainha nessa região Congo Angola marcou tanto a memória dessas pessoas que foram trazidas compulsoriamente para o Brasil que rainha xinga se tornou uma distinção né se tornou um elemento de prestígio quando a Maria José ela disse que ela é Rainha Ginga ela tava chamando para si uma certa Realeza mas também uma representatividade ligada a sua ancestralidade ancestralidade no Rio Grande do Sul você é com o Brasil de uma forma geral a gente tem uma série de territórios negros e nesses territórios existem uma série de festividades que dialogam com essa memória da África e aí nessas manifestações atualmente nesses territórios negros a gente ainda tem a presença da Rainha Ginga e do Rei Congo e tu tem rainha recongo dentro das irmandades isso que a gente chama de afro catolicismo mulheres negras dentro da igreja católica as irmandades negras é considerada a primeira forma de associativismo negro que surgem no Brasil este é o historiador e professor Petrônio Domingues associativismo negro foram as formas encontradas pela população negra de adaptação a esse novo continente As Américas essa população desenvolveu várias formas né várias estratégias de resistência as irmandades negras elas remontam ao período colonial criadas inicialmente a iniciativa dessa população escravizada que buscou seu espaço na igreja católica o lugar em que essa população escravizada pudesse professar sua fé a igreja tolerava e até fomentava o surgimento dessas irmandades negras que precisavam de autorização para funcionar do ponto de vista da igreja não deixava de ser uma forma de controle e de catequização porque do ponto de vista dois escravizados as irmandades negros eram espaço de resistência era um espaço em que ele se sentiam fortalecido você sentiam Unidos e fortes em função dessa união coletiva porque era um espaço e que você iria não só tem um espaço de culto o você processar sua fé o espaço para você poder fazer sua prece você flutuar o seu santo mas também era um espaço em que você encontrar os seus irmãos seus irmãos de cor eram espaço em que essa população de consunia se fortalecida ponto de vista da sua identidade e era o espaço em que também se articulava a luta pela conquista da liberdade então os irmandades negras foram responsáveis por comprar muitas alforrias as irmandades também construíram igrejas porque os negros mesmos que eram livres não eram bem aceitos nas igrejas dos brancos os africanos e seus descendentes acabaram criando um catolicismo Popular muito permeado pelo sincretismo pela mistura de elementos com as religiões de matrizes indígena e africana e houve muitos casos de seguidores de religiões de matriz africana que também faziam parte de irmandades católicas e não só de seguidores Mas também de líderes dessas religiões de Santo da nossa história que nasceu em 1869 em Salvador fez parte de duas irmandades católicas e além da compra de alforrias as irmandades garantiam também uma boa morte um enterro Digno com direito a funeral missa quando João Cândido o Almirante negro foi julgado pela Marinha do Brasil por se revoltar contra os castigos corporais na revolta da Chibata ele e os outros marinheiros que sobreviveram os que não foram assassinados pela Marinha Eles foram defendidos por advogados contratados pela Irmandade do Rio e estudo foi já na República né porque depois da abolição e da República as irmandades continuaram a existir assim como continuou A Perseguição as religiões de matriz africana quando é proclamada República é interessante observar que a abolição cidade 88 a república vem em 89 e em 90 nasce primeiro código criminal aqui de novo o babalaô ivaninha dos Santos o que ele está contando é que em 1890 depois do golpe que derrubou o império e instituiu a república o governo provisório publicou um decreto que tornou o Brasil pela primeira vez o estado laico ao menos na teoria mas ainda naquele ano veio o código penal e o código penal colocou como crime à saúde pública a prática do Espiritismo da magia e dos seus sortilégios além do uso de talismãs e de cartomancias de maneira geral tudo que não fosse uma religião cristã entrava nessa categoria aí a história do país Teve sempre um grupo religioso que é perseguido pelo Estado na colônia no império e no início da República para depois da República tanto que esses objetos sagrados hoje que estão no Museu da República é uma prova concreta e como estado Republicano nos tratou até hoje no começo do século passado a própria imprensa comemorava os ataques da polícia aos cultos de matriz africana os jornais chamavam de limpeza a polícia civil do Rio tinha uma delegacia só para lidar com esse tipo de durante décadas a polícia aprendia objetos religiosos e por outras tantas décadas e até muito recentemente essas peças sagradas eram expostas num museu de magia negra Esse era o nome Até que a campanha liberte nosso sagrado conseguiu que todo o material fosse transferido para o Museu da República em 2020 nos últimos 30 anos o estado deixou Ele diretamente de perseguir E aí surge os neopentecostais e se a tensão vem desses grupos mas com a omissão do estado e aí a gente chega a este momento atual de São Paulo uma mãe chegou a perder a guarda da filha de 12 anos depois de denúncias de maus tratos e Abuso num ritual de iniciação ao candomblé a decisão levou em consideração acusações feitas pela avó materna da criança que não foram comprovadas o executivo e também boa parcela do Judiciário somente diante do combate sistemático que é feito contra Os cultos brasileiros e a coisa escalou a tal ponto que agora tá acontecendo isso aqui traficantes estão impedindo terreiros de umbanda e candomblé de funcionar os espaços são invadidos e depredados pelos bandidos neste muro a inscrição Jesus é dono deste lugar absurdo de você ter a casa das nossas queimadas sacerdote sem assassinado tráfico de droga evangelizado que é uma coisa que nunca se pensou em ter que expulsa que obriga as pessoas a destruir o seu próprio sagrado e tudo isso um silêncio eu não tenho dúvida se fosse contra outro grupo ou seja ele é mais rápido então essa liberdade para nós nunca existiu nessa perseguição recente as religiões de matriz africana Especialmente nos casos em que os ataques foram promovidos por evangélicos tem uma coisa que pega demais para mim a quantidade de gente negra que tá nas igrejas evangélicas aliás dizer evangélicos é uma forma de generalizar né são muitas denominações diferentes e daqui a pouco a gente vai falar sobre elas inclusive muitas pessoas dessas religiões preferem usar o termo cristãos mas como o IBGE usa evangélicos a gente vai manter essa denominação aqui só para ficar mais simples já que em cristãos entram também os católicos enfim e pensando nos evangélicos a maioria é negra pretos e pardos 59%, segundo uma pesquisa de 2020 do Datafolha é mais do que a proporção Geral de negros na população brasileira que fica ali entre 54 e 56 por cento e tem um pastor negro o nome dele é Marco Davi de Oliveira bom deixa ele se apresentar eu sou o Marco David Oliveira Sou pastor da denominação Batista Sou pastor da nossa igreja brasileira Igreja Batista ele escreveu o livro A religião mais Negra Do Brasil Porque os negros fazem opção pelo pentecostalismo porque na verdade assim a gente pensar dois negros e negras religiosos eles estão nas igrejas evangélicas é óbvio que a maioria é católica mas quando eu falo que a religião mais negra do Brasil é a igreja evangélica Eu não estou falando de simplesmente crentes nominais ou católicos nominais sou católico nunca vou à igreja não participa de absolutamente nada mas sou católico na igreja evangélica não é isso É nesse sentido que eu falo que a religião negra do Brasil é a igreja evangélica [Música] o começo das igrejas evangélicas no Brasil foi no século 19 primeiro com que é conhecido como protestantismo de imigração os anglicanos ingleses e luteranos alemães que vieram ali na primeira metade do século depois teve o protestantismo de missão que eram missionários vindos principalmente dos Estados Unidos presbiterianos metodistas Batistas nessa leva acabou vindo gente do Sul dos Estados Unidos inclusive o sul escravista dos confederados que queriam a todo custo manter a escravidão mas que perderam a guerra civil daí muitos deles vieram parar no Brasil E essas todas são as chamadas igrejas históricas dentro das evangélicas Aí lá nos Estados Unidos também surgiu a Igreja Pentecostal Pentecostes era uma festa da colheita Então as pessoas se reuniram lá de diversas nacionalidades inclusive vários africanos e tal para as pessoas se reuniram lá para essa festa onde Jesus Cristo terminou a sua missão e foi torturado crucificado ele ressuscitou e ele prometeu aos discípulos a um espírito santo e a chegada do Espírito Santo aconteceu nesse dia de Pentecostes e qual foi a evidência disso é que as pessoas começaram a falar nas suas línguas mas cada um entendia na sua própria língua os Pentecostais eles surgem com essa compreensão de que eles precisam revisitar esse dia e acontece aquela grosseria aquele falar em línguas e tudo mais Então se fosse um retorno a esse dia e o mito fundador da Igreja Pentecostal envolve um homem negro William Simon no começo do século 20 a história Era assim o simor que era filho de ex escravizados estava frequentando a escola bíblica Metodista de um pastor um homem branco e esse pastor branco ele era muito racista ele não deixava negros estudarem a empregada dele pediu para que o William Saimon estudar ele pode estudar mas ele vai ficar pelo lado de fora no corredor na janela ele não vai ficar junto com os brancos ele fica do lado de fora e estudando ele fez o tempo todo seminário dele no corredor E aí aconteceu essa Grossa essa experiência do Pentecostes na sala de aula entre os alunos eles começaram a orar e começaram a falar em outras línguas e terem manifestações com corpo aquela coisa toda isso também aconteceu então foi para a Rua Zuza encontrou uma Igreja Metodista africana abandonada e ali ele começou Os cultos dele interracial inclusive música Negra e muita utilização do corpo é o mito fundante assim porque Ferveu o mundo todo que as pessoas iam lá para ver que estava acontecendo daí no fim dos anos 70 aqui no Brasil quando ele está dura tava em crise a economia tava em crise surgiram as igrejas neopentecostais e tudo isso ligado a um contexto geral de empobrecimento da população de crescimento desordenado da cidades de falta de oportunidades nas igrejas evangélicas a rede de apoio de comunhão de ajuda e é aquela igreja lá que muitas vezes no tiroteio o povo falava se esconde se protege é o lugar onde as crianças são atendidas onde a mãe fala às vezes deixa a criança para Que ela possa trabalhar essa básica que chega onde o estado não quis chegar a igreja chegou e ela ajuda de fato muita gente ninguém se considera extremamente feliz ralando a vida toda e não conseguindo absolutamente nada passando dificuldades o tempo todo não aí vem a igreja neopentecostal com uma teologia que surgiu nos Estados Unidos a teologia da prosperidade isso dá um poder amento tremendo as pessoas que estão nas comunidades ou Karen entende que ele não precisa ser pobre a vida inteira que Deus não quer ele pobre daquele jeito não que ele passando dificuldades além de todos esses espaços que a Igreja Evangélica de fato ocupa algo que a gente nunca pode esquecer é a agência das pessoas não pode achar que é por desconhecimento por Inocência que as pessoas negras estão nessas igrejas é por opção também por escolhas para a vida delas para os familiares Não dá para ser fiscal da Fé alheia e também não dá para ficar só nesse discurso de Ah é uma população que foi abandonada pelo Estado a proporção de evangélicos com ensino superior por exemplo é quase igual a dos católicos agência As pessoas escolhem o que elas consideram que é melhor para elas e o Marco da Via acredita que uma outra razão para o sucesso das igrejas pentecostais e neopentecostais entre os negros brasileiros tá na áfricanidade valoriza a utilização do corpo essa experiência se tomada pelo Espírito Santo isso para mim é muito africano e tá muito próximo das religião de Matriz africanas o transe rapaz eu me arrepio todo mundo falou isso plástico Fantástico e olha o que que o babalaô Ivanir diz sobre isso incorporar o espírito santo fala a língua estranha Qual é a diferença entre o cara receber o Espírito Santo e o outro recebeu o caboclo ou recebeu o orixá é trânsito a incorporação não é todo mundo claro que reconhece essa africanidade E isso tem um motivo E aí eu lembro do meu pai rapaz tocava muito pandeiro e para você ver como é que a coisa era forte na minha cabeça porque a minha denominação a minha igreja de certa forma demonizava a cultura brasileira né então eu não aprendi tocar pandeiro o meu pai que tocava muito né podia ter aprendido e eu não aprendi nada disso porque a igreja dizia mesmo que nós entre linhas que aquilo não era de Deus tem dois mitos de duas maldições que são espalhados até hoje por alguns pastores um deles é o da maldição de cam o cara era um dos filhos de Noé aquele Noé da arca depois do dilúvio dilúvio Noé ele bebe bebe lá seu vinho lá e aí o can tinha can 100 e Jafet E aí cam vê a nudez de Noé está na Bíblia o Noé acabou dormindo pelado o can que era um dos filhos passou viu e chamou os outros dois irmãos para ver os dois não entraram na pilha do irmão e foram andando de costas sem olhar para o pai e cobriram não é quando não é acordou e descobriu que o filho mais novo tinha feito amaldiçoou não mas o filho dele o Canaã daí tem pastor até hoje e pastor famoso pastor político que diz que os povos africanos foram escravizados por causa da maldição de tem um texto que eu gosto do teólogo e pesquisador Glauber Henrique Correia Rocha que ele disse que na própria Bíblia dos quatro filhos de cá três são descritos pelo Gênesis como os ancestrais dos povos africanos sabe o único filho de Kan que não é ancestral dos africanos justamente o Canaã ainda sobre esse mito tem um quadro Mega famoso chamado A Redenção de cam é uma pintura de 1895 quando o Brasil depois de ter sido forçado a acabar com a escravidão tava querendo eliminar a parcela negra da população aí esse quadro mostra quatro pessoas da esquerda para direita a primeira é uma senhora negra de pele retinta lenço na cabeça ela tá olhando para cima com a mão aberta e parece que tá agradecendo aos céus do lado dela tá uma moça mais jovem daí você consegue ver que teve uma miscigenação ali porque ela é uma mulher negra de pele clara do lado da moça tá um homem branco e ele tem um sorriso meio debochado meio orgulhoso e tá olhando para o bebê que tá no colo da Moça um bebê Branco Provavelmente o filho do casal a senhora negra da ponta tá agradecendo pelo branqueamento da descendência dela lembra do nome do quadro A Redenção de cá e tem a outra maldição um dia eu tava no seminário jovens seminaristas tinha uns 30 mais ou menos eu era o único preto no meio deles né e eu estava fazendo a palestra E aí eu perguntei eles com a maldição de Caim e todos em couro responderam a cor preta eu olhei para eles assim absorto né Não estou acreditando que estou no seminário prettiano estou ouvindo um negócio desse aí eu não falei assim gente vamos ler o texto de novo Você conhece a história dos irmãos Caim Abel o Caim matou o irmão daí tá lá na Bíblia que Deus colocou nele uma marca não tem nada falando que a tal da marca seria a cor negra ou a pele negra nada e essa interpretação tem que ser esbugada porque a mãe interpretação extremamente racista extremamente maldosa não tem nada a ver com texto e me chama muita atenção que essa coisa ainda esteja de alguma forma impregnada também na igreja evangélica e tem um motivo para existirem essas duas interpretações erradas da Bíblia não foram erros acidentais ambos foram conscientes e a origem disso tá na igreja católica naquela tentativa que eu falei mais cedo de tentar justificar a escravidão de tentar justificar a exploração de um povo como se fosse uma ordem divina e não uma escolha humana uma deturpação que foi sendo passada adiante mesmo para outras religiões e que infelizmente se mantém até hoje [Música] eu já nesses praticamente 30 anos estou no meio evangélico falando contra o racismo da igreja já fui pisenhado de todo jeito que você possa imaginar Deus sabe no Conselho de Pastores dizendo que eu estava cheio de demônios e queria dividir a igreja quando eu terminei eu vi naquilo tudo pela violência toda naquele momento rapaz eu senti mesmo Deus falando meu coração é isso que eu quero que você faça eu quero que você continue falando quanto racismo na igreja porque assim é pecado tira a possibilidade do outro serem mais semelhança de Deus como Inclusive a Bíblia diz tira a possibilidade do outro ser existir ter sua própria autoridade é pecado e é sempre bom destacar que não são todos os evangélicos que são racistas ou enfim todos os Pentecostais ou neopentecostais é claro que não são todos obviamente Há muitos evangélicos que discordam disso que combatem isso e a gente precisa lembrar que os evangélicos também sofrem preconceito e uma boa parte desse preconceito tá fundada justamente em todos aqueles elementos que como a gente ouviu há pouco remetem a africanidade como o transe como se falarem línguas fosse algo visível como se fosse algo primitivo a gente ouviu essa história é preconceito pura e simples preconceito contra uma religião majoritariamente negra é uma violência que se retroalimenta e também é importante destacar que tem gente de outras religiões que também ataca as de matriz africana gente que também é racista o que no mínimo cruza os braços que se cala diante do racismo O que é tão baixo quanto a sociedade precisa entender que o ataque a democracia e as Liberdade só isso pessoas pensa que hoje somos nós sempre digo entre os Católicos tem um grupo Ultra conservador no Rio de Janeiro que recentemente impediu a realização de uma missa histórica do Dia da Consciência Negra porque tinha atabaque na celebração depois da igreja passar séculos lucrando com a escravidão foi só em 1839 que um papa pela primeira vez condenou o regime escravocrata do outro lado da moeda é inegável que alguns avanços sociais dos últimos anos no Brasil foram graças a movimentos que surgiram dentro da igreja católica como por exemplo os pré-vestibulares comunitários que garantiram a entrada de muita gente negra nas faculdades assim como tem muito projeto social de igrejas evangélicas literalmente salvando vidas de pessoas negras nem tanto ao céu nem tanto ao inferno mas é difícil demais entender que em qualquer religião haja pessoas racistas ainda mais num país em que mais da metade da população é negra entre os muitos evangélicos progressistas e anti racistas que existem um que eu acho que você deve conhecer é o pastor Henrique Vieira ele é autor de livros já declamou em música do Emicida eu entrevistei ele para o vidas negras que é o podcast que eu fiz Antes desse aqui e eu não esqueço de algo que ele me disse nessa entrevista ele me contou que a primeira igreja protestante do Brasil era Negra nasceu no Recife Quem criou ela foi o Agostinho José Pereira o divino mestre [Música] foi um líder Rebelde um líder popular um líder da população negra do Recife e que era Cristão Este é o historiador e professor Marcos Joaquim Maciel de Carvalho o primeiro documento que ele encontrou sobre o divino mestre relatava a prisão dele em meio a Revolução Praieira que foi uma revolta que aconteceu por causa de uma briga política entre liberais e conservadores no fim dos anos 1840 e o divino mestre foi preso sob uma delegação [Música] de negros ali na religioso no Brasil tem liberdade religiosa mas autoridades acham assim e ele por trás disso ele não é só um líder religioso ali quando ele foi preso foi com ele faz 16 pessoas e alguns quiseram ser preso com ele porque não queria deixar o Divino mexe que é um dos nomes de Cristo né divino mestre não queriam deixar ele ir sozinho para cadeia queria acompanhar hein não Infortúnio dele 16 foram esses que foram presos junto com ele mas está na documentação que o divino mestre tinha uns 300 seguidores 300 fiéis quando o divino mestre se considera um verdadeiro Cristão Cristão ortodoxo é assim que ele se percebe ele dizia que as imagens dos Santos não tinham valores espiritual e que os católicos não cumpriam os mandamentos e que ele estava em contato constante com Deus ele se acha o verdadeiro portador da fé cristã então Isso incomoda em dobro porque ele tá confrontando um dos grandes pilares do estado que é a igreja porque havia nessa época União igreja e estado Mas aos olhos das autoridades daquela época Essa nem de longe era a maior ameaça representada pelo divino mestre é um herói rapaz eu fico imaginando rapaz naquela época no Recife o cara alfabetizando negros claro que isso é rebelde pode alfabetizar nele você tá entregando um instrumento a essa população escravizada poderosíssima e você lembra e a gente já falou sobre isso da quantidade de impedimentos que havia como leis por exemplo para que pessoas negras pudessem aprender a ler e a escrever isso tudo que o divino mestre estava fazendo foi uns 40 anos antes da abolição e ele Então foi capturado porque ele representava a grande ameaça porque ele estava alfabetizando negros e negros e defender um cristianismo próprio não era o católico no julgamento a esposa dele contou que ela viu Deus num sonho e ela Desembargador Pergunta se ele era branco ou preto e ela responde que ele era a caboclado E aí os cara ri né um riso promete para o certo travo de nervosismo porque esse cara tá alfabetizando 300 negros a maior parte deles são mulheres é muito interessante também como é que eles lidam com essa questão cromática Moreno isso a gente tentar evitar as perspectivas contemporâneas e pensar nas perspectivas da época como estratégia de resistência e sobrevivência é o significado do uso dessas expressões [Música] esse ver o senhor num sonho vincula né o pentecostalismo eu puxaria para ir os Pentecostais mesmo por um cristianismo que não é o católico que tem elementos e tradições que se misturam com elementos e tradições africanas e o mais próximo disso no meio do entendimento é o cristianismo negro americano a pessoa também recebe espírito da pessoa tem sonhos né antes de se tornar o divino mestre o Agostinho José Pereira nasceu livre no Recife em 1799 a mãe dele tinha sido escravizada que é o abc que naquela época você aprender a ler e escrever isso mesmo a b c d e f eu encontrei essa documentação Divino mexe Mas eu não tinha encontrado o abc muitos anos depois o Marcos encontrou o ABC é o primeiro documento que a gente tem explica por um negro contra o racismo e a favor da revolução eu não conheço o outro na história brasileira anterior é esse porque o ABC é fascinante então se você tem um verso revolucionário conclamando a revolução é um texto em favor do orgulho da cor morena ele diz que é a cor dos faraós é a cor e Jesus é a cor daquelas pessoas que fizeram grandes impérios e que estão sendo oprimidos aqui e que vai ficar arrepiada ele usa a expressão Moreno aí você vai com Moraes que é um dicionário é um par de escuro o abc também cita a revolução do Haiti a revolta da escravizados que libertou a ilha da colonização Francesa e criou um novo país o primeiro país das Américas abolir a escravidão a íntegra do ABC Você pode ler lá no site do Quirino www. projetoqueirino.
com. br [Música] o divino mestre acabou solto mas não se sabe o que aconteceu com ele depois e toda essa história de resistência dele me fez pensar de novo nas religiões de matriz africana quando a gente vê todas essas notícias de que traficantes se expulsaram um povo de Santo das Comunidades é óbvio que isso deve ser combatido que não pode ser normalizado [Música] Mas tem uma outra coisa também [Música] e aqui de novo o babalaô ivaninha dos Santos expulsa não tem mais será que você acha mas se tu for andar direitinho aí a turma já sabe que vai segunda-feira a gente vai lá ver então tá lá alguém virado no jogo dando consulta Apesar de todas as pressões nego fica quietinho mas vai entendeu não tem publicamente ó não pode né entendeu não faça e a comunidade às vezes é perto mesmo né Tem gente que é coberta Não quero nem saber é resistência sempre é a lógica da existência negra no Brasil é resistência por isso que vai sobreviver Por que que você acha que esses anos todos perseguida pela igreja católica ai 350 anos depois perseguindo até o estado ela República a parada é a república e agora vai acabar não vai acabar com isso como chegar na Igreja Católica Tem um cara lá o ministro da Eucaristia aí quando de noite você vai não mano o cara é papapa assim que sobreviveu e aí o projeto Quirino é apoiado pelo Instituto Ibirapitanga o podcast é produzido pela rádionovelo o nosso site projeto quirino. com.