[Música] [Aplausos] [Música] [Aplausos] [Música] a aula pública de hoje discute Educação de relações étnico-raciais neste programa gravado na universidade Metodista em São Bernardo do Campo quem fala sobre o assunto é Osvaldo de Oliveira Santos bacharel em Geografia e mestre em ciências da religião Osvaldo é coordenador do núcleo de Formação cidadã da Universidade Metodista discutir questões étnico-raciais é um dos principais desafios de educadores na atualidade mesmo em país plural como no Brasil o sistema de ensino tem dificuldade em lidar com preconceitos e discriminação na escola para evitar conflitos muitos educadores preferem não discutir ou se posicionar
sobre racismo e intolerância sem debate e mediação escolas acabam neutralizando práticas discriminatórias por outro lado crescem no Brasil movimentos para fortalecer o ensino de história e de afro-brasileira e indígena para especialistas a implantação dessas questões no currículo escolar é fundamental para promover uma sociedade igualitária Mas afinal como trabalhar racismo e preconceito na sala de aula como deve ser a educação das relações étnico-raciais [Música] para nós chegarmos no momento em que nós vivemos hoje em que temos por exemplo a lei 10.639 de 2003 e posteriormente a lei 11.645 que vai instituir a obrigatoriedade do ensino da
história e da Cultura Africana e indígena nas escolas e nos estabelecimentos escolares desde do do início até a a graduação para chegar esse momento há uma longa trajetória de luta do movimento negro no Brasil é importante ter claro que a luta dos negros africanos e afro-brasileiros é a luta de resistência mais longa da história foram mais de 380 anos de resistência e de luta contra a escravidão e esse processo é um processo que inclui momentos na nossa história que são muito problemáticos e eu queria destacar três deles O primeiro é um momento na história que
acontece em 1835 em janeiro de 1835 que é a Revolta dos Malês ou também conhecida como revolta dos negros Malês que acontece eh em Salvador na Bahia em 1835 entre os dias 24 e 25 de Janeiro esses negros chamados de negros al eram negros de origem yorubá negros que haviam passado por um processo de islamização ou seja eram negros muçulmanos e esses negros que viviam principalmente na região ali eh da cidade de Salvador organizam durante meses e meses organizam essa rebelião que tem por finalidade destituir o governo eh português que estava ali no controle da
cidade de Salvador e instauraram um governo negro né e trazer portanto a liberdade dos negros eh escravizados ali na cidade de Salvador a revolta dura 4 dias ela vai encontrar um traidor eh ela acaba sendo vencida pelos portugueses n é mas ela vai deixar uma marca muito importante na nossa história a partir de então para vocês terem uma ideia o governo brasileiro proíbe a comercialização de negros eh e baianos para outras partes do Brasil com o receio de espalhar esse sentimento de revolta esse sentimento de luta por liberdade um outro momento acontece no ano de
1910 novembro de 1910 ocorre na Cidade do Rio de Janeiro a revolta da Shibata o que que foi a revolta da Shibata em pleno 1910 portanto algumas décadas depois né do fim da escravidão ainda acontece na marinha brasileira o castigo de chibatadas de chibatadas em marinheiros principalmente negros quando eram castigados por alguma razão e houve em novembro de 1910 a condenação de um marinheiro que foi condenada a 250 chibatadas vocês TM uma ideia do que significa isso E aí os marinheiros ali se revoltam contra Essa ordem se voltam contra essa situação e exigem o fim
do castigo de chibatadas isso é obviamente que não vai ser atendido num primeiro momento não é alguns oficiais da marinha acabam morrendo nesse processo de revolta e um dos Marinheiros que acaba liderando esse processo João Cândido né liderando É o primeiro negro a comandar uma esquadra de navios na história da humanidade é a primeira vez que isso vai acontecer na história ele aponta os canhões para a cidade do Rio de Janeiro e ameaça bombardear a cidade do Rio de Janeiro caso a lei que permite a as chibatadas não seja revogada então pelo presidente da república
a lei acaba sendo revogada e os marinheiros acabam então ganhando essa eh conquistando esse elemento obviamente que a repressão virá no processo posterior muitos vão ser presos muitos vão ser eh mortos nesses processos João Cândido passa a viver um processo não só de prisão mas de Humilhação né humilhação pública a moral de João Cândido vai ser também completamente eh destroçada nesse processo e João Cândido então acaba sendo um importante símbolo nessa luta pela libertação e pela autonomia da população afro-brasileira e há um terceiro momento importante nessa trajetória até chegarmos à educação das Relações etnic raciais
que é a marcha e de Zumbi dos Palmares contra o racismo e por cidadania que acontece em Brasília em 1995 essa marcha vai entregar pro então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso vai entregar pro Fernando Henrique uma pauta com várias reivindicações que inclu por exemplo a questão da educação e da cultura afro-brasileira para que isso seja incluído no currículo escolar é a primeira vez que isso vai ser de de certa forma oficializado esses três momentos que eu destaquei Revolta dos Malês revolta da Shibata e a marcha sobre Brasília de 1995 são momentos emblemáticos nesse processo
de luta para Se chegarmos até o ano de 2000 três quando pela primeira vez na nossa história nós vamos ter uma lei que vai regulamentar e que vai trazer a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas Isso vai acontecer no ano de 2013 essa lei ela vai sofrer uma certa mudança em 2008 com um adendo eh trazendo também a questão indígena para esse para esse contexto então a lei muda de número e se transforma na lei 11.645 de 2008 que traz então a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira
e indígena né e a Lei quando a gente olha aquela lei naquele primeiro momento a gente vai perceber que ela fala do quê Ela tá falando principalmente do ensino fundamental do ensino básico mas posterior a essa lei vai sair uma sequência de outras regulamentações e resoluções e que vai mostrando para nós que essa lei também se estende para outras áreas por Como por exemplo o ensino superior né então hoje no ensino superior também se tem muito claro da obrigatoriedade de se trabalhar esse tema também no ensino superior porque é uma questão muito importante precisa ser
falada aqui que nós vivemos num país racista o racismo é algo extremamente presente no nosso contexto há uma mentalidade racista que persiste em nossa sociedade nós podemos dizer que em 1888 houve a abolição eh da escravidão no Brasil mas não houve a abolição de uma mentalidade escravocrata essa mentalidade escravocrata ela está presente nos meandros da nossa sociedade qualquer lugar para qualquer lugar que nós olharmos nós vamos perceber que há uma diferença que soma-se na nossa sociedade a diferença de Classe A diferença também racial a desigualdade de classe e a desigualdade racial são coisas que caminham
muito próximas né Há um Pensador peruano um filósofo peruano chamado Mariá José Carlos Mariá que vai descrever um um pouco essa situação pensando o contexto da do Peru dizendo que há essa relação entre classe e Raça no peru e que essa invenção de uma de uma raça inferior ela é uma invenção que tem um propósito o propósito é de ampliar a exploração de classe de legitimar a exploração de classe de de aprofundar e naturalizar essa forma de exploração e aí quando a gente pega alguns dados né ao nosso redor nós vamos perceber isso com muita
clareza que há uma diferença por exemplo de gênero né Por exemplo as mulheres ganham no Brasil hoje em torno de 30% menos do que um homem certo então na média o salário a a a renda de uma mulher a renda das mulheres são inferior é inferior à renda de um homem e quando eu pego a questão racial eu vou perceber que isso também está presente que a renda né do negro é inferior à renda do Branco Portanto o racismo ele não é um desvio um mero desvio de caráter ele é uma ideologia que tem por
função a dominação a exploração do Homem Sobre o homem Essa é a função Esse é o objetivo do racismo então quando Nós pensamos hoje numa educação das relações étnico-raciais o que que nós estamos trazendo eh à luz nós estamos trazendo essa situação dessa sociedade que aonde a mentalidade racista perdura e desconstruindo esses processos até porque a população negra no Brasil ela não se vê na sociedade ela não se vê por aqui porque há um processo brutal há um processo perverso de embranquecimento quando o negro adota para si a cultura e as expressões da sociedade da
cultura branca não é então tudo que é do negro ao longo da história foi mostrado para ele como algo negativo né então o cabelo do negro é o cabelo ruim não é assim o cabelo do negro é cabelo ruim certo a cor do negro não é a cor mais legal porque tudo que é ruim é associado também à cor negra Então o a a questão da da criança negra ao ser educada nesse processo ela vai ter a sua autoestima jogada lá no chão o tempo todo porque ela não tem história ela não tem pertença né
de onde ela veio né quem é essa criança então ao trabalharmos a educação das relações étnico-raciais O que que a gente trabalha a gente a gente justamente desconstrói esses processos perversos que colocam a o negro numa situação desalentadora e iníqua não é e perigosa que é justamente a dele não pertencer à sociedade ou seja a única forma do negro pertencer a Essa sociedade é abandonando a sua cultura abandonando a sua história né e adotando e embranquecendo adotando portanto a cultura e a manifestações culturais brancas então ao trabalharmos a educação das Relações etn raciais h a
intenção de valorização dessas múltiplas culturas dessa diversidade cultural que existe em nossa sociedade valorizando Portanto o negro como pessoa negra como negro valorizando portanto a sua história história essa que foi silenciada história essa que foi negada que não é com ada nos nossos espaços escolares não significa como alguns dizem que é reforçar o racismo ou que é o racismo ao contrário não é nada disso porque racismo é uma coisa perversa porque racismo significa construir uma hierarquia entre os seres humanos racismo significa dizer que há determinados grupos humanos que são mais importantes do que outros isso
é o racismo a educação das relações étnico-raciais tem por objetivo justamente isso desconstruir esse fenômeno desconstruir essa ideologia que é o racismo racismo esse como eu já disse anteriormente Tem uma função né a função é de aprofundar os processos de exploração de classe O que é uma coisa extremamente perversa extremamente doente agora o professor Osvaldo Santos Responde à pergunta do correspondente doa m o Parlamento europeu decidiu que uma das prioridades do do setor Educacional era promover uma educação inclusiva que abarcasse a crescente diversidade cultural a minha pergunta é Qual a importância de repensar o currículo
e dando ênfase as múltiplas culturas e como transformar mais rapidamente a atual situação Obrigado Nossa cultura é uma cultura que se assenta sobre um processo educacional cêntrico ou seja centrado na cultura branca que valoriza exclusivamente a cultura branca não significa portanto desvalorizar a cultura branca mas ter a possibilidade de valorizar as demais culturas que formam a sociedade brasileira como por exemplo as diversas culturas africanas e as diversas culturas indígenas o negro que é trazido pro Brasil é o negro que tem muito conhecimento da agricultura conhecimento de metalurgia conhecimento de irrigação conhecimento de construção civil conhecimento
de criação de máquinas né ou seja esse negro ele já fazia por exemplo tirava o ferro né transformava o ferro o minério de ferro o ouro fazia uma pção de outras coisas então Eh houve no processo de escravização do negro a apropriação do seu conhecimento e da sua força de trabalho há muitos especialistas que afirmam que os 200 primeiros anos de história do Brasil a tecnologia empregada no Brasil foi uma tecnologia africana Esta é uma questão muito séria ao trabalharmos a educação das relações étnico-raciais a valorização dessas múltiplas culturas e da verdadeira intenção que existia
no processo de escravização do negro um elemento importante que a gente pode perceber para finalizar é quando a gente vê por exemplo a questão eh da mitologia quando nós ensinamos mitologia grega quando nós ensinamos mitologia nórdica ninguém estranha todo mundo acha isso muito natural aliás acho inclusive que conhecer a mitologia grega é um traço eh da de erudição não é assim é um TR conheço todos os deuses da mitologia grega né ou da mitologia Nórdica eu sei queem quem é o Thor né então eu sei quem são quem é o Odin né mas quando nós
tratamos por exemplo da das mitologias africanas né ou especificamente da mitologia yorubá há um processo de demonização dessa cultura há um processo de desqualificação desta cultura e é justamente isto que precisa ser desconstruído para que o a população afro-brasileira possa ver a sua pertença e possa perceber a riqueza da sua herança e da sua cultura é nisso que consiste portanto a educação das relações etnicorraciais [Música]