Balneário Camboriú: O Outro Lado do Paraíso

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Esta é a pizza de ouro, e você encontra ela  em Balneário Camboriú. Essa pizza talvez seja um símbolo do que virou a cidade:  luxo, ostentação e muito ouro, inshalá. Balneário Camboriú ganhou relevância  mundialmente por conta dos seus arranha-céus e instalações de luxo.
. Responsável por sete dos dez maiores prédios residenciais do Brasil e pela torre  residencial mais alta da América Latina, ela se tornou algo muito mais do que um simples  ponto turístico de verão e hoje é uma cidade com arranha-céus e atrações para todos os gostos. .
Mas nem sempre foi assim. Ainda na década de 20 a cidade viu suas primeiras casas de veraneio serem  construídas e só em 1964 foi de fato emancipada. De lá pra cá, muita coisa mudou,  mas apesar de toda riqueza, Balneário Camboriú está longe de ser perfeita.
A infraestrutura não acompanhou o crescimento desenfreado e acabou construindo uma cidade  apenas para os olhos, onde grande parte dos apartamentos luxuosos estão vazios, usados  apenas para investimentos ou veraneio, no metro quadrado mais caro do Brasil. E o efeito Balneário Camboriú se alastrou para cidades vizinhas Itapema e Itajaí, que viram  o valor do imóvel subir 20% e 13% respectivamente. Porém a classe média trabalhadora se viu com  os anos sendo expulsa pelos altos preços do custo de vista e dos preços absurdos  dos imóveis que se tornaram inviáveis.
Somados a isso ainda temos uma água  contaminada, uma praia sem sol e a saturação da infraestrutura de uma cidade  que aprendeu a crescer para cima e talvez tenha esquecido da parte de baixo. . Então, quais são os grandes problemas desse crescimento desenfreado? 
E como isso afeta os moradores? Mas antes, vamos descobrir como ela foi de  uma vila de pescadores à metrópole turística. Nos anos 1920, a Praia de  Camboriú possuía poucos moradores, os que moravam ali viviam da pesca  e da agricultura de subsistência.
No entanto, moradores das cidades vizinhas de  Itajaí e Blumenau, principalmente de origem alemã, descobriram as praias tranquilas da cidade  e passaram a visitá-la frequentemente. Com isso a cidade de Camboriú  ganhou seus primeiros hotéis. A primeira instalação hoteleira da cidade  foi aberta em 1928 por Jacob Smith com o nome de Strand Hotel, ou Hotel do Jacó.
Mas o verdadeiro investimento viria apenas 40 anos depois. Por ser uma cidade com habitantes  onde a maioria era de origem alemã e italiana, a cidade passou a ser vigiada por  militares enviados por Getúlio Vargas na época da Segunda Guerra Mundial dando fim aos  investimentos turísticos durante este período. Com o fim da guerra, a praia de Camboriú passou  a ser novamente frequentada pelos moradores das cidades próximas, assim Norberto Cândido Silveira  Júnior, em 1952 decidiu desenvolver a primeira propaganda turística do local, organizando  um Álbum Fotográfico descritivo da praia.
A ideia deu certo e a partir daquele momento  o local ganhou mais fama e estrutura. Em 1956 foi inaugurado o primeiro hotel  considerado de luxo no local. O Hotel Fischer comandado por Adolfo Fischer tinha banheiro  em todos os quartos, uma estrutura inédita em todo litoral catarinense, e recebia hóspedes  de renome, inclusive presidentes da república.
Com a popularidade, a Praia de Camboriú passou a  ser mais populosa que a cidade Camboriú e com isso em 18 de fevereiro de 1959 foi aprovado o projeto  de criação do distrito da Praia de Camboriú. Mesmo assim, em fevereiro de 1964 vereadores  deram início ao processo de emancipação da Praia de Camboriú, mas o município de Camboriú  não queria perder sua principal fonte de renda e nem transferir a sede da cidade para a praia. Após várias votações, os representantes da Praia de Camboriú conseguiram votos suficientes  e em julho de 1964 foi feita a emancipação, nascendo a cidade de Balneário de Camboriú.
A separação deu possibilidade para a expansão acelerada da cidade. O primeiro passo dado foi  o planejamento urbano da cidade com a criação de novas ruas e avenidas, implantação  de abastecimento de água e esgoto. Após se deu início a construção de prédios,  com a criação de loteamentos e construtoras, no final dos anos 1960 até os anos 1970  muitos prédios foram erguidos na cidade mudando completamente seu visual e criando  um dos maiores símbolos na cidade atualmente.
Já em 1971 Balneário de Camboriú era  uma cidade turística consolidada e só cresceria mais durante os próximos anos. A partir dos anos 70, Balneário Camboriú, e não mais “de” Camboriú, começou a crescer,  mas literalmente ela crescia para cima. Construções feitas na cidade turística  no litoral de Santa Catarina começaram a chamar atenção do Brasil e do mundo.
As construções exuberantes conquistaram os olhos do mundo e se tornaram marca registrada  da cidade que hoje é famosa pelos arranha-céus com arquitetura de alto padrão que abrigam famosos  e impulsionam o mercado de investimentos. Os primeiros impulsionadores dos  grandes investimentos na cidade foram as famílias industriais ricas de Santa  Catarina, depois deles vieram os grandes empresários do agronegócio e hoje virou  a queridinha do mercado de investimentos. Após o financiamento do setor privado no  alargamento da faixa de areia a valorização de imóveis à beira da praia foi de 30%.
O corretor de imóveis Custódio Ribeiro Júnior explica que com o financiamento das  próprias incorporadoras muitas pessoas compram e vendem com lucro propriedades ao redor da cidade. Somando isso a segurança, a culinária sofisticada, instalações luxuosas, vida noturna agitada e  todo o luxo que a cidade pode proporcionar, ela ganhou o apelido de Dubai Brasileira. Não à toa uma pizza da cidade leva esse nome e tem como ingrediente ouro.
A pizza que custa entre  R$200,00 e R$350,00 reais tem ouro incorporado aos ingredientes e é a mais cara do Brasil. Isso é apenas uma das exuberâncias que a cidade proporciona, ela já foi palco de  uma chuva de dinheiro e tem uma ferrari estacionada a cada km que você anda. A cidade até ganhou destaque na agência de notícias americana Bloomberg que  descreveu a cidade como um fenômeno.
A reportagem destacou a permissiva que dá  carta branca à construção de edifícios e a grande influência de incorporadoras na cidade. Mas o que de fato acontece quando empreendedores do ramo imobiliário recebem essa carta  branca pra investir em uma cidade? Balneário Camboriú recebe em média  4,5 milhões de turistas por ano, somente no mês de janeiro de 2023 a cidadezinha  recebeu 450 mil turistas, fazendo a população do município quadruplicar nessa época do ano.
Na necessidade por mais espaço, na década de 1960 os grandes prédios à beira  da orla começaram a ser construídos. A tendência iniciou quando o turismo  da cidade cresceu exponencialmente e consequentemente a demanda por hospedagem. Era  preciso arranjar espaço para abrigar o turista.
O primeiro prédio da cidade foi o Hotel Fischer  que quando construído em 1957 possuia quatro andares, em 1970 o prédio passou por uma  reforma ficando com mais de dez andares. Após o hotel, surgiu o primeiro prédio  residencial de Balneário Camboriú, o Edifício Eliane e após ele muitos outros. Os prédios ao redor da praia se mostraram ainda uma ótima vantagem para os turistas que precisavam  se deslocar pouco para explorar a praia.
Nas décadas de 70 e 80 Balneário Camboriú  se concentrava mais nos veraneios, turistas que vinham geralmente de cidades vizinhas e  passavam os três meses de verão na cidade, por isso as instalações eram mais simples  e serviam apenas como um dormitório. Mas a partir das décadas de 90 e 2000 os  prédios de alto padrão ganharam força, a cidade ganhou destaque nacional e internacional,  investidores de alto poder aquisitivo e cultural passaram a ver a cidade como uma possibilidade  além das férias, e passaram a vê-la como moradia, aposentadoria e investimento. Com  isso as empreiteiras estrategicamente passaram a se especializar nas classes A e B.
À exemplo disso construções como as torres gêmeas do Yachthouse Residence Club, o edifício  mais alto da cidade foram construídas. O edifício custou R$200 milhões para ficar de pé e teve  como preço médio de R$8 milhões o apartamento. Balneário Camboriú atualmente conta com 24  arranha-céus e tem o projeto de construir o maior prédio residencial do mundo com 135  andares e 500 metros de altura, o Triumph Tower.
Por passar a abranger principalmente este público  e com o alargamento da faixa de areia da Praia Central em 2021, o metro quadrado de Balneário  Camboriú se tornou o mais caro do Brasil. Segundo o FipeZap que realizou uma pesquisa com  mais de 50 cidades brasileiras o preço médio do metro quadrado de Balneário Camboriú chegou a  R$10. 741 reais, ultrapassando o metro quadrado de São Paulo e da média nacional, tornando ainda mais  conveniente o crescimento vertical dos prédios.
No entanto, essa verticalização preocupa. Um estudo de 2018 alerta que a cidade pode enfrentar escassez de água até 2028 causado pelo  crescimento e densidade demográfica da cidade. Antes mesmo do alargamento da praia que  tornou a cidade ainda mais atrativa, a faixa populacional crescia 3% ao ano  e os problemas com abastecimento de água já eram uma realidade nas férias de verão.
Mas esse crescimento não veio sem seus problemas. Apesar de todo luxo, a cidade  não é livre de problemas. .
Mas isso não é diferente do resto do Brasil,  os problemas de Balneário Camboriú são só mais divulgados e comentados justamente  pela ostentação e fama de ouro da cidade. Os problemas não são correspondentes a uma  região rica, por isso acabam se destacando. Custo de vida alto não é novidade no Brasil e  no mundo inteiro existem cidades turísticas com problemas de infraestrutura.
Algumas regiões litorâneas, especialmente aqui no RS, também sofrem  com a falta de infraestrutura, isso aliás também não é novidade no resto do Brasil. Segundo o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina que analisou 10 pontos da praia encontrou  em apenas um, em frente a Rua 2000, 14. 136 bactérias Escherichia coli a cada 100 mililitros  de água.
Essas bactérias são encontradas no estômago humano e animal e tem o número  recomendado de 800 a cada 100 mililitros para ser considerado uma água própria para o banho. O problema pode estar ligado tanto às fortes chuvas, mas também a rede de esgoto. Em resposta a EMASA, Empresa Municipal de Água e Saneamento de Balneário Camboriú,  disse que trata de 100% do esgoto coletado do município com eficiência de 60% e que  o problema estaria nas fortes chuvas e na falta de rede de tratamento na cidade vizinha  Camboriú onde todo o esgoto coletado vai para o Rio Camboriú que desemboca na Praia Central.
Na realidade, segundo matéria do O Janelão, a vizinha Camboriú, perdeu recursos de R$ 87  milhões disponibilizados pelo governo federal para serem investidos no saneamento, porque  os projetos não foram apresentados dentro dos prazos legais. Esse é um problema histórico  que, inclusive, impacta na balneabilidade da orla da vizinha Balneário Camboriú. Balneário Camboriú, enquanto isso, está melhorando sua situação, inclusive  dragando o rio Marambaia em 2022.
Mas a notícia que vende é que um  bando de rico está nadando em merda. E as diferenças entre BC e  Camboriú não param por aí. Segundo o advogado tributarista Thiago  Alves, diretor do Instituto Brasileiro de Gestão e Planejamento Tributário, em  Balneário Camboriú impostos como IPTU, ITBI, entre outros, cobram mais que o dobro da  vizinha Camboriú, a exemplo, a alíquota do ISS, o Imposto Sobre Serviços, pago por empresários em  Balneário é de 5%, enquanto em Camboriú é de 2%.
Ao jornal de Santa Catarina, ND Mais, o advogado  afirmou: “Balneário Camboriú é um paradigma: tem o luxo dos apartamentos, mas a maioria da  população que mora aqui de verdade é assalariada, são os trabalhadores da construção civil,  dos hotéis, dos restaurantes, das lojas”. E outro problema da cidade é justamente o trânsito Segundo a própria prefeitura da cidade nas épocas de festas de final de ano os Agentes de Trânsito  calcularam o dobro de carros trafegando na cidade com cerca de 200 mil carros, uma média de  43 carros por minuto nas principais vias no meio de semana e 47 no final de semana. Outro problema que se escuta muito é que os arranha-céus, que tanto fizeram a fama  da cidade, destroem a experiência do turista que chega na praia para tomar  sol e encontra ela totalmente escura.
A maioria dos prédios mais altos da  cidade ficam na orla da Praia Central, principal praia da cidade, a partir das 15  horas da tarde a sombra começa a se formar na orla deixando a praia escura e fria. Uma moradora conta: "Depois das 14h, os arranha-céus bloqueiam a luz do sol e  deixam a praia na sombra. Simples assim".
O alargamento da faixa de areia que  supostamente melhoraria a sombra, de nada serviu, mesmo após triplicar o tamanho da  faixa a sombra continua, os banhistas conseguiram um pouco mais de tempo de sol, mas só isso. Esse tipo de problema é algo mais específico da cidade de Balneario Camboriú, mas no  geral os outros problemas são os mesmos encontrados no resto do Brasil. Então, seria BC  tão diferente assim de outras cidades litorâneas?
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