Pois é, Carol. A onça pintada que teria matado o Jorge na última segunda-feira foi levada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres em Campo Grande ontem. Segundo especialistas, esse é um caso atípico, a repórter já falou, é raro.
E agora a gente conversa ao vivo com um dos participantes dessa força tarefa que capturou a onça, o médico veterinário e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e do Instituto Reprocon, além de prestar assistência lá ao nosso Instituto Onça Pintada, que é o Ged Anderson Ribeiro. Ged Anderson, obrigado por ter aceito o nosso convite. Seja bem-vindo, viu?
Bom dia. Eh, bom dia. Eh, agradeço o convite de tá podendo falar com vocês aqui.
Pois é. Deixa eu te falar como foi essa operação. Queria que você resumse como foi a operação que identificou.
E uma pergunta que eu acho que é fundamental. Já tem a certeza de que essa onça capturada é a mesma que matou o caseiro? Então, eh, após o sumisso, né, do, eh, do Jorge, então foi acionado a a Polícia Civil, a PMA, bombeiros, para poder achar, né, o corpo e eh entender o que tava ocorrendo ali, né?
E aí, assim, como acharam corpo? E teve, né, até a o caso da onça, né, e eh atacando o pessoal que tava eh procurando. Então, confirmou que a, né, o corpo tava sendo, né, assim, alimento da onça, né?
E aí nisso a SEMADESC, né, que é a Secretaria de Meio Ambiente aqui do Mato Grosso do Sul, nos acionou para poder ir até o local e fazer essa avaliação técnica na área eh do animal da onça pintada, né? Então, nós fomos até o local, vimos que realmente eh os indícios eram muito grandes, né, assim, de ataque. E aí, então a gente viu a necessidade de eh capturar esse animal.
E pra gente ter uma maior certeza, né, que seria o animal eh do caso, né, nós colocamos armadilhas não no mato, mas sim ao redor da casa, né, porque até na noite anterior o animal tinha ido até até o local eh eh onde, né, o o Jorge eh limpava os peixes, né, que é um local telado com tela de alumínio. E ele acabou, né, quebrando para poder entrar, né? E lá tinha sido feito, né, a lavagem do corpo, né, e tinha ainda, né, calçado dele lá.
Então assim, a gente viu a, então nós colocamos a armadilha lá e capturamos o animal no mesmo local, né, onde ele tinha eh tinha entrado procurando, né, resto de comida e no local onde tinham lavado o coco. Gendson, e como que é possível provar, né, que que foi essa onça? Então assim, são duas situações.
Tem uma situação, né, do óbito que para confirmar a gente precisa da das imagens, né, do momento do ataque. Então isso acho que o o HD, né, já está em posse da da Polícia Civil para poder fazer essa perícia e, né, conseguir essa imagem, que ela é muito importante pra gente poder eh confirmar, porque por mais que todos os indícios no local eh eh mostre, né, assim, seja muito grande, né, a possibilidade de ter sido, né, o ataque causado óbito. Nós não podemos afirmar, né, sem essas imagens.
E assim nós assim, né, eh o animal que nós capturamos, possivelmente ele comeu, ele comeu do corpo, mas não quer dizer que ele foi o animal que a que causou a morte do Jorge. Bom, eh essa questão que você tá colocando, ela é muito sensível. Eu já ouvi várias histórias e versões sobre isso.
Agora, havia uma relação muito, vamos dizer assim, não recomendável. Vocês que são biólogos, veterinários, técnicos do senhor com esses animais. Parece que deu muito mole.
Não se pode. Por mais que animais se aproximem, você tem que ter uma um respeito com tipo de animal que é tá no topo da cadeia alimentar, né? Onças não tem.
Segundo ontem ouvindo o Leandro do Instituto Onça Pintada, o homem não é presa de Onça, mas dependendo da situação em que esse animal estava, ele pode atacar. E uma vez atacando aparece sangue, carne, ele vai se alimentar. Não é isso não, Gedon?
Isso. Assim, eu trabalho com com capcura de onças desde 2008, né? E quase que 100% eh das vezes que, né, que eu avistei uma onça, né, e ela me viu, o comportamento dela foi fugir, né, nunca vi para cima.
E a gente vê assim, a maioria dos casos que tem esse conflito, né, que tem eh acidentes é em situações ou quando o animal tá muito habituado, ou seja, ele perde o medo do do ser humano, né, como predador e vê como, né, uma uma uma e aí vê uma chance, né, de aproximar e causar acidente. Então, assim, ava acaba sendo um grande problema. A questão ali no seu Jorge ali não assim não tinha seva, né?
Como a gente vê a serva feita para levar turista, isso não, mas como ele morava lá, então deixava resto de comida, enfim, os animais já eram habituados a utilizar aquele espaço dele e não o via como uma ameaça, né? A gente vê vários vídeos, inclusive eh eh dessa interação lá, né? para lá sem medo da do do Jorge.
Então, teve uma fatalidade, né, com a perda dele. Eh, eh, mas que possivelmente, né, toda essa situação de de a onça não ter medo daquela pessoa que morava ali já há bastante tempo, eh, propiciou o ataque. É, não dá pra gente brincar com a natureza também, né?
E Jade Edson, me diz uma coisa, a gente tava exibindo aqui, eu vou até pedir pros meninos pra gente voltar essas imagens do momento da captura. Olha só, não sei se você consegue ver daí, se você tem esse retorno, narra pra gente o que que tava acontecendo aí. Eu vi que vocês dispararam alguma coisa aí na onça, né?
O que que foi feito nesse momento e para onde essa onça foi levada? Vamos repetir as imagens do momento. Então, a gente a gente eh é nessa hora, umas 3 horas, é 3:40 da manhã.
eh, bipou pra gente o o sinal de captura, né, do do laço. E aí nós fomos até o local, né, que era é no mesmo local que o animal tinha tentado. É, na noite anterior capturamos, né, ele no laço e aí então ali eu tô tentando, né, e ver o melhor ângulo de disparo do dardo anestésico para poder o animal dormir, né?
E aí acabei de dar o tiro no animal, a gente espera 10 minutos. Isso a gente tava, né, com toda a segurança, todo o apoio da PMA, da região. E aí, então, passado 10 minutos, a gente pegou o animal, fez as primeiras avaliações, né, e aí em seguida a gente organizou para poder ir de barco até o porto, né, que dava em torno de 2 horas.
Isso de madrugada, né? E com assim é bem perigoso, tava com o rio subindo bastante pau no rio, mas eh graças a à destreza, experiência da PMA, a gente conseguiu chegar até o porto, colocar o animal no carro e levar até Campo Grande no Cris para fazer a as avaliações clínicas, sanitárias do animal e tentar entender, né, essa dinâmica aí desse desse caso. Outra questão, eu ouvi dizer e você vai me dizer se é se confirma, é preciso fazer um exame de DNA nesse animal para saber, porque você tem todos os indícios de que ele teria consumido carne humana, mas é preciso fazer um exame mais detalhado, eh, científico para poder saber se trata realmente do animal.
Você falou: "Com certeza esse animal a eh ele comeu eh carne humana da dessa vítima". Agora, nós não podemos dizer se foi esse animal quem matou o Jorge. E aí a questão é eh de perguntar, existe alguma outra hipótese que tá sendo estudada sobre a morte do do caseiro?
Olha, Valtero, isso assim tá tá muito a cargo da da Polícia Civil, tá? da perícia, assim, eles estão ainda, né, avaliando, eh, deve soltar o laudo, né, o daqui uns 10 dias. Eh, então assim, essa parte eu não tenho muita informação, tá?
Assim, eh, nós recolhemos feeses desse animal para encaminhar, né, para a a perícia, para poder nas fezes encontrar, né, identificar ossos, eh, cabelo, né? E e o mais importante que eu vejo assim para para eh confirmar, né, se foi uma morte pro ataque, é é eh são as imagens, né, do acidente. Olha, agora uma dúvida aqui pode até ser leiga, assim, né, mas fiquei curiosa aqui em saber.
Por exemplo, vocês capturaram essa onça pintada. Nós estamos falando de uma área rural, nós estamos falando do habitate natural dessa onça. Será que podem aparecer outros animais, outras onças ali que possa ser um risco, talvez pros moradores, pra população dali?
Assim, ali é o assim, o pesqueiro tá literalmente no Pantanal, né? Então assim, ali tem uma tem uma população de onças. Eh, eh, então assim, sempre vai ter onça passando ali.
A questão é que algumas onças tendo, né, assim, perdendo medo do ser humano, né, devido a serva, devido, né, esses fatores, pode sim causar, né, tem chances de causar acidentes, né? Então assim, no caso de outras onças, né, tendo essa maior proximidade, eh, eh, né, falta de medo de est próximo a pessoas, isso é um problema que aí precisa acionar a Polícia Militar Ambiental para poder ver uma ação para mitigar, né, esse possível eh eh para evitar acidentes, né? Então, assim, não é normal uma onça querer chegar perto de uma pessoa, tá?
Então, se acontecer isso, é porque eh em algum momento esse animal teve eh contato, proximidade, enfim. E isso aí é um problema. Outra pergunta, me foi informado que havia três onças nessa região do do da casa do caseiro.
Vocês a capturaram uma e as outras? Então, na assim, é como eu falei, lá tinha, né, assim, lá tem várias onças que utilizam ali, mas nem todas estavam, né, assim, eh, habituadas, né, a a à presença ali do do eh do Jorge, né? Então assim, agora a gente eh eh foram colocadas, né, estão sendo colocadas armadilhas fotográficas para para poder entender eh como é que tá essa dinâmica lá, tá?
Eh, é comum é numa carcaça grande ter compartilhamento, né? Então, um animal mata e à noite, enfim, outros animais, outras onças podem compartilhar essa carcaça. Isso é, nós já vimos isso, né?
Então é normal. Então ali não quer dizer que as três onças que a PMA no momento lá identificou, né? Viu que era que poderia ter três onças, as três mataram, entendeu?
Então, inclusive a onça que, né, que atacou o Paulinho, que estava junto com a PMA procurando o corpo, ele até falou: "Ó G, e aqui é uma um macho em torno de 90 kg, né? E praticamente o peso que nós, né, o peso do animal que nós capturamos. Então assim, era muito importante capturar esse macho e entender agora como é que tá sendo a dinâmica da movimentação das onças lá para a partir daí o estado também tem, né, o o SENAP que é do CMIB que também tá dando apoio para o estado, o próprio IBAMA para avaliar as novas etapas, se vai ser necessário fazer novas capturas ou não.
Edson, obrigado pela sua participação aqui. você que é veterinário, participou da força tarefa que ajudou a capturar esse animal, a gente tem o maior interesse, né, Carol, em continuar por aqui, porque esse esse é um conflito entre a onça e principalmente os produtores rurais. a gente é de um canal agro, conversamos ontem com o Caio Penido, que é um cara que tem uma consciência muito boa e tudo mais, mas disse que é preciso que haja algo mais sério para ser feito do ponto de vista governamental, do ponto de vista de informar a sociedade, do ponto de vista de indenizar produtores rurais que têm perdas, porque o produtor rural é cobrado, é cobrado muito para ter reserva legal, para deixar água.
Então, tá se criando o ambiente para que a onça se desenvolva. Agora, não se tá criando onças para que elas tenham um convívio próximo, né, Carol, com o ser humano e para poder colocar em segurança. Eu tenho certeza que você pensa por aí também.
E a gente fica aguardando novas informações. Um minuto a mais para você fazer as suas considerações finais, não? Eh, queria agradecer e assim concordo com a sua fala.
assim, a conservação do Pantanal, ela é feita pelo, né, pelas fazendas, né, pelas pessoas que vivem, pelos pantaneiros, né, mais de 90% era privada no Pantanal e é um bioma eh ainda muito preservado, né? Então a gente precisa, né, assim, reconhecer a importância, né, das fazendas ali, das pessoas que vivem ali paraa conservação. E claro, é importante, né, eh, que o estado continue, amplie essa parte de fiscalização, né, ter uma equipe altamente treinada da PMA ali do lado, tem, né, tem uma base no Pantanal.
E então assim, então é muito importante, né, que o estado cada vez mais eh eh olhe, né, com muito carinho paraa conservação desse bioma muito importante para o Brasil. Beleza, Gj. Edson, muito obrigada pela sua participação.
Parabéns mais uma vez por esse trabalho realizado aí por vocês e qualquer novidade o espaço aqui está aberto, viu? Muito obrigado. Um bom dia a todos.
Yeah.