quando a gente fala de Deus num contexto monoteísta ou seja de crença em um só Deus parece desnecessário dar um nome específico para ele a própria palavra Deus já basta para indicar do que ou de quem a gente tá falando mas no mundo antigo num contexto politeísta onde há vários Deuses as pessoas precisavam ser mais específicas do que isso não dava para dizer simplesmente eu sirvo a Deus era preciso dizer qual Deus ou quais Deuses a pessoa servia E para isso ela precisava usar nomes específicos né nomes próprios e é por isso que na bíblia
por exemplo a gente encontra pessoas falando do Deus Baal do Deus dagon do Deus quemó e claro do Deus de Israel e de Judá né o Deus de Moisés que também é chamado por um nome próprio afinal ele era Inicialmente um Deus entre vários desses Deuses de uma realidade politeísta e para ilustrar isso melhor a gente pode pegar uma passagem na Bíblia que fala sobre uma disputa territorial entre dois povos diferentes os israelitas e os amonitas nessa disputa um Israelita chamado Jefté defende que o direito à Terra era de origem divina mas ele não diz
essa terra é minha porque Deus me deu ele sabe que ele tem que ser mais específico do que isso então o que ele realmente diz é o seguinte a terra a qual vocês amonitas têm direito é a terra que o Deus de vocês que Mós deu para vocês e a terra a qual nós israelitas temos direito é a terra que o nosso Deus e aí ele diz o nome próprio desse Deus deu para nós e eu não vou pronunciar esse nome ainda aqui para não queimar etapa né a gente vai fazer isso ao longo do
vídeo mais paraa frente mas eu posso mostrar como que esse nome era escrito inicialmente né e usando inclusive o registro Arqueológico mais antigo que a gente tem desse nome e esse registro é esse objeto que vocês estão vendo aí que é a pedra moabita ou então Estela de Mech Esse é um artefato que data do 9º século antes de Cristo e é o mais antigo realmente que contém o nome do Deus de Israel e curiosamente esse artefato não foi produzido por israelitas Na verdade ele é um artefato moabita que comemora a libertação do reino de
Moabe em relação ao domínio de Israel e o que o texto escrito nesse artefato aí diz é que o Deus principal de Moab que é quemó tinha se irritado com seu povo no passado e por isso tinha entregue esse povo na mão dos israelitas mas algum tempo depois um novo Rei moabita chamado Mea conseguiu reconquistar o favor do Deus quemó e se livrar da opressão de Israel e Mais especificamente esse texto também diz que nessa vitória Militar de Moabe contra os israelitas alguns objetos ligados ao culto do Deus Tutelar de Israel foram tomados e colocados
aos pés de quemó que era o Deus Tutelar de Moab isso para afirmar Claro a superioridade desse Deus em relação ao outro e de certa forma também a superioridade dessa nação em relação à outra então é justamente Nesse contexto né e falando nessa parte específica dos objetos do templo do Deus de Israel que a Estela AD mecha registra Qual o nome desse Deus dessa forma que vocês estão vendo aí na tela né são quatro letras numa variante da escrita Fenícia que equivalem basicamente às letras yod r vav e re da escrita Hebraica moderna de novo
né esse é o registro Arqueológico mais antigo que a gente tem desse nome 9 século antes de Cristo mas no século seguinte a gente encontra outros registros também né contendo esse nome como essas inscrições feitas num vaso encontrado em klet ajrud na região do Sinai nele também a gente encontra o yod he vav he ou às vezes só yod he vav sem a última letra e do séo século em diante a gente tem várias outras ocorrências aí já são bem mais numerosas do que do 9 e oo século e elas incluem até formas curtas que
marcam o nome do Deus de Israel só com um yod e um re ou com um yod e um vav então assim havia várias formas mesmo de gravar esse nome mas beleza né a escrita desse nome era assim mas como que ele era pronunciado bom aqui a coisa começa a ficar um pouco mais complicada né existem pelo menos duas dificuldades básicas que a gente precisa encarar para responder essa pergunta a primeira é uma questão linguística é que todas essas letras né O yod Re vav e o re de novo são consoantes assim como são consoantes
quaisquer outras letras da escrita Hebraica na época as vogais não eram indicadas na escrita então na maioria das vezes a pessoa só sabia como pronunciar uma palavra que ela via num texto escrito porque ela já conhecia essa palavra pelo seu uso na linguagem oral e aí pelo contexto ela reconhecia qual era a palavra que estava ali registrada por escrito e conseguia pronunciar corretamente aquela palavra só que o problema disso é que se você perde a pronúncia na linguagem oral se essa palavra para de ser dita você já não consegue mais e descobrir só pela sua
forma escrita o seu registro escrito qual que era a pronúncia né você precisa que a pronúncia se mantenha viva pela linguagem oral para que ela não se perca e o que acontece né e aqui a gente entra na segunda dificuldade sobre essa pronúncia do nome que é uma dificuldade histórica é que num certo estágio do desenvolvimento do c do Deus de Israel e de Judá a pronúncia do nome desse Deus começou a ser evitada Originalmente isso não era assim né porque a gente encontra esse termo sendo utilizado em vários e vários documentos em vários textos
eh sendo colocados inclusive na boca de estrangeiros por exemplo Então até gente que não era exatamente Israelita usa o nome do Deus de Israel em contextos triviais assim para comunicar para falar de quem que eles estão falando mas realmente em certo momento da história começa a surgir esse se costume de evitar esse nome e isso pode ter dois fatores principais né Isso não é totalmente claro na história mas são dois fatores principais geralmente apontados pelos historiadores o primeiro pode ter sido a adoção de uma interpretação extremamente zelosa do mandamento não tomarás o nome do teu
Deus em vão que pode ter desencorajado bastante o uso corrente desse nome e o segundo pode ter sido a consolidação de um entendimento de que os nomes divinos tinham certos poderes mágicos e que portanto não não deveriam ser conhecidos por qualquer um seja como for o fato é que a gente encontra textos rabínicos dos primeiros séculos que dizem que o nome divino só poderia ser pronunciado no dia de yon kipur pelo Sumo Sacerdote dentro do santo dos santos que era o espaço mais santo do Templo de Jerusalém né ou seja uma restrição realmente praticamente absoluta
do uso desse nome e há também uma tradição Samaritana que diz que o nome divino só era conhecido pelo sacerdote que transmitia esse nome secretamente ao seu sucessor e isso de geração em geração então só o sumos sacerdotes samaritanos é que conheceriam o nome de Deus e até na escrita a gente vê esse processo de restrição do uso do nome divino acontecendo principalmente a partir do Tero século antes de Cristo os judeus que traduziram a Bíblia Hebraica pro grego entre o Tero e o primeiro século antes de Cristo substituíram todas as ocorrências do nome próprio
do Deus de Israel e de Judá pelas palavras curios ou theos ou seja senhor ou Deus respectivamente e até hoje na verdade essa tendência ainda pode ser vista na maior parte das bíblias que costumam substituir o nome próprio pela palavra senhor ou Deus usando esse tipo de letra um pouco diferente né que é o versalete essa opção editorial é até explicada na introdução das bíblias que fazem isso mas pouca gente acaba lendo essa parte né e percebendo que houve essa substituição no Novo Testamento também o nome próprio de Deus não aparece nenhuma vez é sempre
curios ou theos também que correspondem às palavras hebraicas Adonai e Elohim que já vinham substituindo ali o uso do nome próprio então assim desde o terceiro século antes de Cristo a gente tem esse registro né histórico documental dessa prática de evitar o uso do nome do Deus de Israel o que contrasta bastante como eu disse com o que a gente encontra na maior parte da Bíblia Hebraica né ou do Antigo Testamento que são pessoas usando esse nome o tempo todo e até com estrangeiros e até estrangeiros usando o nome então ali aqueles textos não dão
a menor pista né de que havia uma intenção de evitar o uso do nome mas enfim independentemente de quais tenham sido exatamente as razões que levaram a essa tendência de evitar o uso do nome divino o fato é que isso somado a impossibilidade de registrar a pronúncia desse nome por escrito né Por causa daquela questão lá da ausência de vogais fez com que a preservação das formas mais antigas de pronúncia do nome fossem bastante prejudicadas Mas apesar disso ainda existem várias formas até hoje conhecidas né para pronunciar esse nome então por exemplo Jé yé yahu
Jeová yaho yahu enfim são várias pronúncias que circulam hoje então a pergunta que a gente poderia fazer agora é de onde que as pessoas tiraram essas pronúncias né e a resposta vem principalmente de dois conjuntos de manuscritos que são manuscritos que preserv ali mesmo depois desse período de evitar o registro do nome divino que preservam esse nome em hebraico e em grego mas antes de continuar deixa só agradecer rapidinho aqui a insider né que tá patrocinando esse vídeo vem viabilizando aqui as Produções do canal já há algum tempo e a insider se você não conhece
ainda é Quem produz por exemplo essas camisetas Tech como a que eu tô usando agora que tem tecnologia antiodor né não precisa passar são camisetas super práticas e confortáveis e se você usar o cupom estranha 12 lá no site né o link vai est na descrição você consegue 12% de desconto em qualquer produto da loja então depois se você tiver interesse dá uma passada lá mas por enquanto voltemos né pro os manuscritos que contém ali o nome divino então V começar aqui pelo primeiro conjunto de manuscritos né que é o conjunto hebraico que são os
textos massoréticos os massoretas foram escribas judeus que introduziram uma série de sinais na escrita Hebraica entre eles alguns sinais para indicar a pronúncia das vogais então nesses textos que são Med evis a gente tem essa inovação na escrita do hebraico que facilita muito o registro do som das palavras né da pronúncia realmente das palavras e como nos textos massoréticos o nome próprio do Deus de Israel aparece milhares de vezes a gente poderia ver como que a pronúncia desse nome foi registrada usando essa nova notação e quando a gente faz isso né O que a gente
encontra não é uma mas sim várias possibilidades no códex leningradensis por exemplo que é uma edição da Bíblia Hebraica escrita no sistema massorético o que a gente encontra são Principalmente as formas yá yova yevi e yovi é daí inclusive que vem a forma Jeová que é usada muito hoje né vem desse Jeová O problema é que os estudiosos hoje concordam com essas marcações vocálicas que a gente encontra nesses exemplos que estão aí na tela não deveriam ser entendidas como as vogais do nome divino propriamente mas sim que elas indicavam que outras palavras deveriam ser pronunciadas
no lugar do nome divino as formas yá e y hová por exemplo indicariam que a palavra Adonai que tem essas vogais deveria ser pronunciada já as formas yevi e erovi indicariam que a palavra Elohim que tem essas vogais deveria ser pronunciada isso né mais uma vez naquele espírito de evitar a pronúncia do nome e outra coisa né Mesmo que o texto massorético indicasse real ente as vogais do nome em si isso não seria garantia de que essa ou essas né já que tem formas diferentes aí tivessem sido realmente as pronúncias do nome divino desde sempre
a gente sabe por exemplo que os massoretas na idade média vocalizam o nome da irmã de Moisés como Miriã mas os judeus em Alexandria que traduziram a Bíblia pro grego nos tempos antes de Cristo vocalizam esse nome de forma diferente eles diziam algo como mariam e a gente sabe disso porque eles usaram a letra grega Alfa para registrar a vogal da primeira sílaba desse nome né quando eles passaram de uma escrita sem indicações vogais para uma escrita com indicações vogais que era o grego eles usaram a letra Alfa que dá esse som de a de
mariam então assim uma coisa que a gente não tem a menor dúvida é de que a pronúncia do hebraico em geral e a pronúncia de nomes hebraicos em particular inclusive nomes divinos variaram ao longo do tempo bom e como os textos massoréticos então não matam essa questão da pronúncia a gente pode tentar outro recurso que é ver como que autores que escreviam em grego na antiguidade e consequentemente usavam um sistema de escrita que representava as vogais como que eles escreveram o nome do Deus de Israel e quando a gente vai para esses textos gregos mais
uma vez a gente encontra uma diversidade de notações do nome divino no primeiro século antes de Cristo por exemplo um autor chamado Diodoro cículo escreveu o nome desse Deus com as le letras ia Alfa e Ômega ou seja algo como Yao essa mesma grafia aparece em alguns textos em grego também que foram encontrados entre os manuscritos do Mar Morto e que datam ali do terceiro ao primeiro século antes de Cristo mais tarde Irineu de Leon também escreveu o nome com iota Alfa e Ômega enquanto Clemente de Alexandria e orines de Alexandria já usaram essas formas
aí que você tá vendo aí na tela depois Porfírio usou essa e Epifânio usou essas e essa última forma especificamente usada pelo Epifânio é muito interessante porque ela soa como yavé que é uma pronúncia que já tá bem próxima da forma Javé né usada em algumas bíblias em português hoje e se você quiser entender melhor o processo linguístico aí que resulta nessas várias formas que estão aparecendo aí na tela depois confere lá a entrevista que eu fiz com o stevan Fortunato do canal Gloss conaut que lá ele detalha bastante essa questão eh usando a expertise
dele né Afinal de contas é um linguista né poliglota conhece bastante aí da história das línguas e do hebraico mas pro escopo Desse nosso vídeo aqui mais enxuto resumido basta dizer o seguinte que todas essas formas gregas são formas possíveis de interpretar o nome de quatro letras que a gente encontra no hebraico né chamado de tetragrama que significa simplesmente isso né quatro letras Esse é um termo que os gregos usaram para se referir a esse nome e ainda que sejam formas possíveis de interpretar o nome é importante dizer que todas elas são imperfeitas também porque
há alguns sons da língua hebraica que não podem ser representados por nenhuma letra grega né então não é uma falha aqui de quem tá fazendo a passagem de um de uma forma descrita para outra é que realmente não existia o recurso de representar por exemplo o som de ro né do yaho por exemplo então o grego escreveria Yao porque ele não tem como representar esse som meio de R aí do yaho usando a escrita grega Mas enfim né moral da história o testemunho grego então documental também é insuficiente para matar a questão de como o
nome do Deus de Israel era pronunciado na antiguidade ele Dá pistas importantes mas também não fecha a questão E aí para encerrar Falta só falar sobre o significado desse nome que também pode dar algumas pistas interessantes sobre a sua pronúncia e a gente pode começar pelo significado que a maioria das pessoas conhece para esse nome que é o que aparece no livro do Êxodo nesse livro Moisés se encontra com um deu sobre uma montanha que promete libertar os israelitas né o povo de Moisés da situação de escravidão que eles viviam no Egito e diante dessa
promessa Moisés Faz uma pergunta perfeitamente adequada ao ambiente politeísta né no qual ele vivia que é a seguinte quando eu for aos israelitas e disser o Deus de vosso pai me enviou até vós e me perguntarem Qual é o seu nome né o nome do Deus que direi e a resposta que ele recebe de Deus é a seguinte eu sou aquele que é ou eu sou quem eu sou ou eu serei quem eu serei enfim há várias alternativas Mas o que importa para nós aqui é a presença do verbo ser E aí continuando né Deus
disse mais assim dirás aos israelitas eu sou me enviou até vós disse Deus ainda a Moisés assim dirá os israelitas yahvé ou como queira pronunciar o Deus de vossos pais o Deus de Abraão o Deus de Isaque e o Deus de Jacó me enviou até vós é o meu nome para sempre e é assim que me invocarão de geração em geração bom essa é a tradução da Bíblia de Jerusalém né como eu disse há várias outras possibilidades Mas o importante é perceber que há aqui um jogo de palavras que o texto apresenta o verbo ser
ou estar né na forma que aparece aí no hebraico na primeira pessoa é R eu sou ou eu estou ou eu serei ou eu estarei e a essas possibilidades aqui porque não há um tempo verbal específico pro presente no hebraico e também não há uma distinção entre ser e estar né o contexto é que vai definir e esse mesmo verbo na terceira pessoa é iré então uma leitura desse texto seria de que o nome divino significa ele é ou ele está ou ele será ou ele estará que ocorre em paralelo aí no texto com o
eu sou ou eu estou ou serei eu estarei que é dito antes então se a ideia for realmente essa a pronúncia do nome divino teria que ser parecida o suficiente com a pronúncia do verbo ser estar na terceira pessoa iré para que esse jogo de palavras fizesse sentido né para que Deus dissesse primeiro eu sou eré e depois iré ou algo parecido com isso como yahu agora vale dizer também que nem todos os historiadores acreditam que essa história aí presente no Êxodo registra de fato o significado original do nome divino é possível também que o
autor dessa passagem do êxodo tivesse simplesmente fazendo o que é chamado de etimologia Popular que é basicamente Reinventar um significado para um nome que as pessoas já não se lembram mais o que significava antes isso é muito comum em textos antigos em geral e muito comum na Bíblia inclusive então assim há outras propostas alternativas né colocadas por alguns historiadores mas nada que tenha muita solidez também no estado atual da pesquisa acadêmica em resumo Então o Deus que hoje é chamado frequentemente só de Deus pura e simplesmente foi chamado historicamente por um nome mais específico né
um nome próprio que aparece pela primeira vez no registro Arqueológico no 9º século antes de Cristo e que era pronunciado o tempo todo dada a necessidade de especificar Qual é exatamente o seu Deus ou seus Deuses num contexto politeísta com o tempo desde o terceiro século antes de Cristo pelo menos o nome desse Deus começou a ser evitado e substituído por palavras como Adonai né senhor ou Elohim Deus e isso comprometeu bastante a preservação da pronúncia de desse nome é possível até tentar recuperar essa pronúncia em alguma medida considerando os registros antigos que a gente
tem dele e a origem semântica do nome também né o seu significado mas nada que seja absolutamente definitivo né até porque como a gente viu né certamente esse nome assim como qualquer outro nome qualquer palavra de qualquer idioma teve diferentes pronúncias ao longo do tempo e do espaço a reconstrução acadêmica internacional mais convencional hoje é algo como yahwe ou em português yavé ou Javé mas de novo né A história desse nome não se reduz a essas pronúncias a verdade é que ao longo do tempo foram várias as formas de escrever de pronunciar de entender o
significado e de lidar religiosamente com esse nome se você quiser conhecer mais outros detalhes ainda dessa história depois veja lá a entrevista com o Estevão do canal glossa que lá a gente fala mais sobre outras questões e ele explica também de forma bem mais detalhada os aspectos linguísticos dessa história e claro né as referências bibliográficas também né os livos livos e artigos consultados para fazer esse vídeo estão aí listados na descrição do vídeo e há inclusive livros em português aí que vocês conseguem achar com facilidade então recomendo fortemente dar uma olhada aí e é isso
muito obrigado por assistir e até o próximo vídeo falou