Como Putin virou líder que comanda a Rússia e intriga o mundo | 21 notícias que marcaram o século 21

3.28M views2461 WordsCopy TextShare
BBC News Brasil
Os americanos Barack Obama, George W. Bush e Donald Trump; a alemã Angela Merkel; os chineses Hu Jin...
Video Transcript:
Vladimir Putin poderá bater Stálin e se tornar o líder russo que mais ficou no poder. Poder conquistado, e mantido, por meio de uma prática política bastante questionada. Putin lidera uma máquina de guerra e é constantemente acusado de aniquilar oponentes.
Por outro lado, garantiu à economia russa décadas de prosperidade, em níveis somente comparáveis aos da China no mesmo período. Mas quem é Vladimir Putin? Como o desconhecido ex-agente do serviço secreto russo chegou ao poder e se tornou o mais poderoso líder do país em décadas.
Sou Camilla Veras Nota, da BBC News Brasil, e este é um capítulo da nossa série "21 Notícias que Marcaram o Século 21". Vou contar a incrível história de ascensão de Putin. Também vou mostrar a polêmica relação do líder russo com a oposição.
Uma história que envolve envenenamentos, guerras sanguinárias e, por incrível que pareça, rock and roll. Primeiro, para entender a chegada de Putin ao poder, é preciso observar a Rússia nos Boris Yeltsin partiu da enorme popularidade para um alto nível de insatisfação – popular, não apenas pessoal. Celebrado pelas potências ocidentais como emissário do capitalismo na combalida economia da União Soviética, Boris Yeltsin fez um governo conturbado.
Desmembrou a União Soviética. Perdeu uma guerra, privatizou a preços considerados de banana por seus críticos e, diante da crescente oposição comunista, atacou o Parlamento. Mas a crise de mil novecentos e noventa e oito submeteu os russos a algo que não esperavam do capitalismo que se anunciava.
Algo pior do que a escassez nos anos finais do regime comunista: a fome. Yeltsin renunciou no dia trinta e um de dezembro de mil novecentos e noventa e nove: Para o futuro da Rússia, no entanto, a parte mais importante do discurso de renúncia de Yeltsin viria no final. Nascia, digamos assim, uma das mais controversas personalidades políticas do século 21.
Apenas quatro meses antes da renúncia, Putin havia sido escolhido por Yeltsin para o posto de primeiro-ministro. Era o quarto ao assumir o posto em apenas um ano, sinal de que também ele, provavelmente, não duraria muito. Errado.
O novo premiê, que até então era o chefe do serviço de espionagem russo FSB, substituto da temida KGB, era desconhecido do grande público. Com imensa rapidez, porém, Putin alcançou alta popularidade e ganhou a confiança de Yeltsin. Tal confiança estava diretamente ligada a um tema específico: a Chechênia.
A província russa, localizada na região do Cáucaso, travou uma sangrenta guerra com Moscou entre 94 e 96. O conflito terminou com cinquenta mil mortos e um acordo de paz humilhante para o governo de Boris Yeltsin. Na prática, a Chechênia havia conquistado sua sonhada independência.
Putin mudaria essa realidade. Um mês e meio depois de tomar posse como primeiro-ministro, forças russas invadiriam novamente a Chechênia. Ele habilmente usou o conflito no Cáucaso para colher apoio popular.
Com quarenta e sete anos de idade, e apenas três meses após assumir a Presidência interinamente, venceu as eleições presidenciais no primeiro turno, com 54,4% dos votos. A receita de ir à guerra para levantar o orgulho nacional e o apoio político interno foi muitas vezes usada por líderes globais. Com Putin, não foi diferente.
O controle da Chechênia por Moscou foi garantido em maio de dois mil, mas o embate com grupos islâmicos da província continuou por anos. As imagens são fortes e correram o mundo, reforçando a fama de implacável que seria associada a Putin. Em dois mil e dois, militantes chechenos tomaram um teatro em Moscou.
Fizeram cerca de 900 reféns, entre funcionários, atores, músicos e espectadores. Após três dias de impasse, forças de segurança invadiram o lugar depois de lançar no interior do prédio uma desconhecida arma química. Rebeldes foram mortos a tiros, e pelo menos cento e trinta reféns sucumbiram ao gás letal.
Em dois mil e quatro, outro episódio chocou o mundo. Militantes separatistas tomaram uma escola na região russa da Ossétia do Norte. O cerco de três dias terminou com a morte de trezentas e trinta e quatro pessoas, incluindo cento e cinquenta e seis crianças.
Apesar de outros ataques a civis na Rússia, Putin se consolidou como um líder forte na área da segurança. O presidente foi implacável com grupos armados, sempre chamados por Moscou de terroristas, e manteve a integridade territorial da Rússia. Ao acabar com a situação de quase independência da Chechênia e colocar um regime de confiança na região, Putin recuperou a honra nacional, abalada pela guerra anterior, perdida por Yeltsin.
Reeleito em dois mil e quatro, Putin surfava em oitenta por cento de aprovação. Observadores internacionais, em especial no Ocidente, começaram a apontar para sinais que consideravam dignos de regimes autoritários. Na época, vinte e cinco porcento dos principais quadros do governo eram ocupados por ex-integrantes do serviço secreto.
Por outro lado, Putin cortou impostos, aumentou salários nas áreas de Saúde e Educação, estendeu benefícios sociais e reduziu consideravelmente a pobreza. Segundo o Banco Mundial, o produtor interno bruto da Rússia, a soma de todas as riquezas geradas no país, avançou 6,4% em 1999 e 10% em 2000. E cresceu em média 6,6% por ano entre 2001 e 2008.
Assim, em sua primeira década no cargo, Vladimir Putin manteve relações diplomáticas positivas com líderes ocidentais, embora fosse crítico da política externa destes países. Mas logo as políticas intervencionistas e o cerceamento da democracia seriam vistos como marcas de seu governo. E evidenciariam a grande ambiguidade nas relações entre Putin e as chamadas democracias ocidentais.
Por exemplo: ao mesmo tempo em que assinava um acordo com a Alemanha para fornecimento de gás, Putin retomava o controle estatal da gigante de petróleo Gazprom e acabava com eleições diretas para governadores, sem maiores sinais de protesto de seus parceiros comerciais na Europa. No fim do segundo mandato de Putin, o partido governista ganhou de goleada a eleição de 2008 O novo presidente, Dmitry Medvedev, escolheu Putin como primeiro-ministro. As regras do jogo começariam a mudar seis meses depois.
Medvedev enviou proposta de emenda constitucional ao Parlamento russo, aumentando o mandato do presidente de quatro para seis anos. O texto aprovado também garantia a Putin que, ao final dos quatro anos de Medvedev na Presidência, poderia voltar ao cargo por mais dois mandatos, tendo cumprido a restrição constitucional de que um presidente só podia governar por dois períodos consecutivos. A diferença: em vez dos oito anos que Putin passou na Presidência até dois mil e oito, dessa vez ele poderia ficar mais doze, se reeleito.
Em 2020, Putin deu mais um passo no ajuste das regras da democracia russa. Reformas na Constituição, aprovadas por quase oitenta por cento da população, deram a ele a chance de ser reeleito até dois mil e trinta. Isso significa que Putin poderá ocupar o poder até dois mil e trinta e seis.
Incluindo seus quatro anos como premiê, Putin colecionaria 36 anos no comando, sete a mais que o ditador comunista Josef Stalin. Tamanho poder veio, claro, da aceitação popular. Mas, também de um arriscado – e violento – jogo militar no tabuleiro das potências globais.
E, ainda, da repressão a opositores, muitas vezes vistos como traidores. Com fatos dignos de filmes de James Bond e avanços militares que fazem lembrar justamente o período soviético, Putin passou a ser visto com enorme desconfiança. A situação começou a azedar quando o líder da oposição russa, Alexander Litvinenko, morreu envenenado por polônio no Reino Unido em dois mil e seis.
Litvinenko tinha se mudado para Londres seis anos antes, após denunciar corrupção e crimes no regime em Moscou. Detalhe: polônio é um elemento radioativo com enormes restrições de comercialização, o que eleva a suspeita de ação do serviço secreto russo. A partir daí uma série de casos parecidos desembocaria numa mudança clara de tratamento político das potências ocidentais em relação ao líder russo.
Em março de 2018, outro ex-agente, Sergei Skripal e sua filha, Yulia, foram vítimas de envenenamento na cidade de Salisbury e quase morreram. Dessa vez, foi usado o agente nervoso Novichok. O caso causou um novo abalo nas relações já difíceis entre Reino Unido e Rússia.
O governo Putin negou qualquer envolvimento. Os britânicos, porém, acusaram dois agentes russos. O caso levou o governo dos Estados Unidos a também adotar sanções econômicas contra a Rússia.
Em agosto de dois mil e vinte, o oposicionista Alexei Navalny passou mal durante um voo. Internado às pressas, ele foi autorizado pelas autoridades a ser transportado para Berlim, na Alemanha. Lá foi comprovado o envenenamento por Novichok, a mesma substância usada contra Skripal.
A equipe de Navalny acusou Putin de tentativa de assassinato, o que foi rebatido pelo presidente. Navalny havia duras acusações a Putin. Acabou banido de Moscou e quase morreu.
Ao voltar das Alemanha, Navalny foi preso novamente, acusado de descumprir condições de sua liberdade condicional. Outros assassinatos de opositores e jornalistas foram atribuídos a Putin. Mas, por envolverem figuras que se movimentavam majoritariamente nos bastidores, provar o envolvimento do presidente é muito mais difícil do que acusar.
Mais evidente é a repressão a quem atua diante do público. Neste caso, o regime mandou recados claros a oponentes entre poderosos oligarcas e artistas, respectivamente os mais fortes e os mais fracos grupos dissonantes. Desde dois mil, Putin criou atritos com empresários conhecidos como oligarcas - milionários que fizeram fortuna nas privatizações de estatais russas, promovidas por Boris Yeltsin e criticadas pelo grupo político de Putin pelo preço de venda das empresas, considerado extremamente baixo.
O empresário de mídia Vladimir Gusinsky e o magnata Boris Berezovsky deixaram a Rússia em 2000, depois de serem alvos de processos e suposta intimidação do governo. O caso mais notório, porém, foi o de Mikhail Khodorkovski, o principal oligarca do país e então um dos homens mais ricos do mundo, discordou do projeto de Putin. Ele financiou oposicionistas e acabou vendo grande parte de seu poder econômico se evaporar do dia para a noite.
Foi acusado pelo governo de evasão fiscal e fraude. Em 2013, porém, Khodorkovsky foi perdoado por Putin – e se mudou imediatamente para o exterior. Mais visível ainda foi a repressão a três jovens mulheres de cerca de vinte anos de idade.
O grupo punk feminista Pussy Riot foi fundado em dois mil e onze. A banda tem onze integrantes. Três delas foram presas e condenadas a dois anos de prisão, em dois mil e doze, por terem apresentado uma música crítica a Vladimir Putin dentro de uma catedral ortodoxa em Moscou – território sagrado para Putin, que se aproximou da Igreja Ortodoxa Russa.
As ativistas foram presas e, após idas e vindas jurídicas, foram vistas em outras situações sendo reprimidas por agentes fiéis ao governo. O Pussy Riot fez diversas canções críticas a Putin e atraiu imensa atenção na Europa e nos Estados Unidos. Mas, o que parece de fato exaltar os ânimos dos líderes políticos do Ocidente quando se trata de Putin não são as questões de direitos humanos e as perseguições individuais.
Mas, sim, o temor dos movimentos russos no xadrez geopolítico. O primeiro exemplo foi a invasão à Georgia. Em 2008, a breve guerra da Rússia contra a Geórgia acendeu a luz amarela no Ocidente.
O conflito começou quando forças georgianas bombardearam a região separatista da Ossétia do Sul para tentar retomar o controle da província rebelde. Em resposta, os russos, com os quais parte da população da província se identificava, repeliram o ataque e avançaram em território georgiano até chegar à capital, Tbilisi. No entanto, foi a movimentação russa no leste da Ucrânia, em 2014, que azedou as relações diplomáticas de Putin com as principais potências ocidentais.
A invasão e a anexação da Crimeia gerou sanções da União Europeia e dos Estados Unidos contra a Rússia, levando também uma suspensão da filiação do país ao G8, grupo das oito maiores economias do país. Mas a anexação da Crimeia, até hoje controlada pelos russos, em 2014 levou Putin a atingir pico de popularidade nas pesquisas de opinião. Outro momento-chave nas relações entre Putin e as potências ocidentais foi a guerra civil na Síria.
O regime da família Assad era próximo à Rússia desde o tempo da União Soviética. Assim, a Síria ainda era um dos principais aliados de Moscou quando a guerra civil começou. A forte suspeita de uso de armas químicas por Assad contra rebeldes e a população civil levou os Estados Unidos a ameaçarem entrar na guerra contra o regime, mas faltou apoio de aliados europeus.
A participação russa, especialmente por meio de bombardeios aéreos, se mostrou decisiva para garantir a Assad a retomada de regiões nas mãos de rebeldes e do Estado Islâmico. Mais estável, a Síria reforça um eixo de oposição à influência ocidental no Oriente Médio. Em contraponto aos Estados Unidos e aos países árabes sunitas, especialmente a Arábia Saudita, os regimes xiitas de Síria e Irã têm declarada ajuda da Rússia na disputa regional.
O envolvimento russo na Síria também enviou uma mensagem a Europa e Estados Unidos: Moscou iria agir no cenário internacional para defender seus interesses. Afinal, assim como na Ucrânia, bases militares russas estariam en perigo. Mais recentemente, foi a política interna de potências ocidentais que fez o nome de Putin voltar à boca do povo.
Basta lembrar as acusações de interferência no plebiscito de saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit. Ou, ainda, um relatório da inteligência americana que acusava, sem provas contundentes, o líder russo de tentar manipular a eleição em favor de Trump. Quando, já em 2020, Trump perdeu a reeleição, o eleito Joe Biden imediatamente repetiu acusações de tentativa de interferência nas eleições e afirmou que Putin pagaria o preço.
Biden também chamou Putin de assassino. O bate-boca reacendeu temores de uma nova Guerra Fria e de agravamento de tensões militares. No entanto, como muitas vezes ocorre na política, ao ameaçar rivais, líderes podem estar mais preocupados em falar a seus próprios eleitores do que a se mover para um confronto de fato.
Assim, não é difícil imaginar que a troca de farpas faz parte do repertório de dois políticos experientes. Por falar em experiência política, não se pode falar de Putin sem mencionar suas, por que não dizer, exóticas aparições públicas, muitas vezes descritas pela mídia internacional como uma forma de conexão com o povo russo – ou, ao menos, com uma ideia de Rússia aos olhos desta mesma mídia. Putin está no poder há mais de 20 anos, seja como presidente, seja como primeiro-ministro.
Sob o comando dele, críticos dizem que a Rússia se tornou um estado mais autoritário, com menos direitos e liberdades democráticas. Defensores podem dizer que, sob sua direção, o país está forte como nunca no cenário internacional. Espero ter ajudado vocês a entender um pouco melhor a força de Putin na Rússia e no mundo.
Muito obrigada, e até a próxima!
Related Videos
Como Guerra do Iraque espalhou violência pelo mundo | 21 notícias que marcaram o século 21
24:03
Como Guerra do Iraque espalhou violência p...
BBC News Brasil
1,149,238 views
A incrível e dramática saga dos 33 mineiros do Chile | 21 notícias que marcaram o século 21
28:25
A incrível e dramática saga dos 33 mineiro...
BBC News Brasil
1,238,797 views
LUXUOSO, BLINDADO e PODEROSO - Como é o AVIÃO PRESIDENCIAL de PUTIN, o IL-96-300PU
13:43
LUXUOSO, BLINDADO e PODEROSO - Como é o AV...
Aero Por Trás da Aviação
1,106,826 views
Fidel Castro: O Homem mais Vigiado do Mundo | Discovery Brasil
43:48
Fidel Castro: O Homem mais Vigiado do Mund...
Discovery Brasil
3,675,659 views
China: de país pobre a superpotência | 21 notícias que marcaram o século 21
17:44
China: de país pobre a superpotência | 21 ...
BBC News Brasil
1,203,426 views
Como e por que o 11 de Setembro mudou os rumos do mundo | 21 notícias que marcaram o século 21
26:29
Como e por que o 11 de Setembro mudou os r...
BBC News Brasil
835,285 views
PUTIN: O Caminho para o Poder | Documentário Completo
23:50
PUTIN: O Caminho para o Poder | Documentár...
Elementar
1,708,994 views
Jornalista americano morre a 2 km de Roberto Cabrini e equipe
37:13
Jornalista americano morre a 2 km de Rober...
Domingo Espetacular
2,232,263 views
Colônia japonesa cria 'florestas de comida' no Pará e vira referência contra desmatamento
16:20
Colônia japonesa cria 'florestas de comida...
BBC News Brasil
1,982,125 views
Entenda a guerra entre RÚSSIA e UCRÂNIA - Doc Nostalgia
1:00:12
Entenda a guerra entre RÚSSIA e UCRÂNIA - ...
Canal Nostalgia
8,149,186 views
Glossário político: O que é ser fascista?
18:05
Glossário político: O que é ser fascista?
BBC News Brasil
611,348 views
Barack Obama, do marco histórico ao legado controverso | 21 notícias que marcaram o século 21
19:21
Barack Obama, do marco histórico ao legado...
BBC News Brasil
890,329 views
Roberto Cabrini decifra o verdadeiro poderio militar da Rússia
16:34
Roberto Cabrini decifra o verdadeiro poder...
Câmera Record
2,645,089 views
Por que o muro de Berlim foi construído e por que caiu? A análise 30 anos depois
9:39
Por que o muro de Berlim foi construído e ...
BBC News Brasil
856,318 views
Jammu and Kashmir elections: What message does New Delhi want to send? | Worldview
12:44
Jammu and Kashmir elections: What message ...
The Hindu
511 views
Como a covid mudou o mundo | 21 notícias que marcaram o século 21
24:30
Como a covid mudou o mundo | 21 notícias q...
BBC News Brasil
95,387 views
Quem é Vladimir Putin? | DOCUMENTO JP
53:41
Quem é Vladimir Putin? | DOCUMENTO JP
Jovem Pan News
670,057 views
Pakistan Crisis Explained
29:09
Pakistan Crisis Explained
Nitish Rajput
8,596,753 views
Blinkit’s Genius Strategy that stunned Amazon and Flipkart | Business Case Study
28:07
Blinkit’s Genius Strategy that stunned Ama...
Think School
1,764,066 views
Quais as razões por trás da invasão russa à Ucrânia?
13:06
Quais as razões por trás da invasão russa ...
BBC News Brasil
1,852,450 views
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com