[Música] eu sou Aílton kenac Esse kenac é o nome da minha tribo né é de onde eu venho do meu povo os crenac são burum que quer dizer gente mesmo e o nosso território é o atu aquele rio que nos mapas vocês vão ver que se chama Rio Doce e esse povo Eh vive eh numa região de Minas Gerais que é o médio Rio Doce essa região nossa nós chamamos de atatu quando começaram a explorar essa região eles passaram a chamar a nossa região de Vale do Aço Nós não somos sedentários a gente mesmo com
o estado criando uma reserva para nós eh nós saímos daquele lugar circulamos e um dos uma das fontes de conflito nosso com os nossos vizinhos que são chamad os brancos vizinhos nossos foi exatamente porque eles queriam que a gente ficasse preso dentro da reserva confinados se nós achamos que a gente pode tratar água eh o ar que nós respiramos os alimentos a terra de onde nós suprimos nós podemos tratar todos todos esses bens Tod todas essas bênçãos que a gente tem na nossa vida de uma maneira superficial nós vamos nos tratar também nossa existência de
uma maneira [Música] superficial o Brasil diz que é formado por índios negros e brancos Mas a vida inteira eles tentam apagar da das da da foto os dois parentes deles que não são os brancos eles querem apagar os índios e os negros da foto então que família mais perversa é [Música] essa Boa noite D Ailton como V senhor boa noite e meu eh agradeço toda essa acolhida que os meus meus queridos amigos que me propiciaram esse encontro aqui dentro do sempre um papo e que eu sempre admirei também a eh eu acho que são 30
anos que que eu fiquei correndo fico correndo atrás de você é 30 anos de sempre um papo é o último livro que a gente fez foi o qu tem uns 10 12 anos 15 anos é 15 15 anos já você não publicou livro nenhum eu fiquei atrás você na hora que eu eu vi que você publicou esse livro te liguei na hora né Sep né então eu na verdade eh eu eu confesso para vocês que eu eu sempre achei esse eh esse ambiente do sempre um papo ele para mim ele é um ambiente tão assim
especial eh no sentido da de valorizar a leitura de valorizar a criação literária E como eu não me acho um um camarada ali literário eu sou uma pessoa de palavra de falar eu sou mais do papo mesmo né e e menos do mundo da escrita da produção assim da literatura no sentido que eu acredito que o trabalho do Afonso promoveu ao longo desse tempo todo que é a valorização do livro do livro A coisa da Leitura ligada com essa produção eh eh da literatura mesmo e eu acho que cresceu e se constituiu num espaço tão
especial tão excelente que eu me sinto muito honrado de de estar transitando por um ambiente que eu admiro como diz o proverbio Popular cada macaco no seu galho mas no seu galho você tem feito coisas muito boas pra literatura ser prestigiada ser percebida ser vista como uma coisa que é nobre que é que que vale a pena uma pessoa dedicar a vida para isso aí essa essa história toda ela não tem fim ainda né mas teve um meio e certamente teve um início essa ess esses anos seus de reflexão sobre a questão indígena No Brasil
se você tivesse que inventar um início que seja propriamente seu e não o início das histórias ou da da história oficial qual seria esse início e e em que ponto desse dessa história toda Você acha que a gente tá já tá no meio ou já passou do ponto o que que você acha aqui tem um texto que eh que diz assim eh eu acho que tem uma descoberta do Brasil pelos brancos em 1500 e depois uma descoberta do Brasil pelos índios na década de 70 e 80 a que está valendo é a última Vamos considerar
então sem ler o texto todo obrigado tá tá aqui que essa essa citação das duas dos dois eventos um em 1500 e um na década de 70 e 80 pudesse eh marcar assim nesses nesses termos onde é que que eu começo digamos a contar uma linha do tempo né Eh que é uma parábola também eh de quando eu eu eu começo a achar que nós como eh um povo plural um povo que em qualquer lugar que nós paramos e olhamos assim a gente vê como que nós somos plurais como que tem gente de todos os
lugares do mundo que constitui essa gente que nós chamamos de brasileiros né então brasileiros somos tanta gente inclusive os índios e com o o o no caso relevante para nós aqui com a vantagem de que se brasileiros somos todos inclusive os índios de alguma maneira até a década de 70 e 80 esses índios estavam sendo apagado da foto como se a gente tivesse uma um retrato na parede para nos lembrarmos do nosso querido drumon né nosso querido drumon o poeta que fala daquele lugar que se eh resume a um retrato na parede Então esse retrato
na parede que é o mito de fundação de nós os brasileiros índio negro branco tem um menino com uma borracha na mão que fica apagando a foto e até a década de década de 70 e 80 o negócio desse menino era pagado a foto o índio e às vezes alguém assim na maior simplicidade vira e fala mas o o que que é um índio que que é um índio Ora se você perguntar m o que que é um branco Olha tem inglês tem italiano tem polonês tem suíço Será que dá para você dizer o que
que qual desses caras que é o branco qual quem é o negro o que que é o negro né o negro é do Congo né o ele é da África do Sul ou ele é dos Estados Unidos porque o Obama é preto mas quando quando eu comecei a tinar sobre essa essa esse Dilema do nosso mito de origem eu pensei bom eu estou aqui eu tenho uma percepção dessa história nossa e eu quero contribuir com essa percepção que eu tenho dessa história para que os outros meus parentes meus irmãos se toquem que a gente pode
ser muito mais do que estão permitindo que a gente seja quando eu nasci essa gente que somos que chamamos de índios eram ainda percebido como a parte do da população brasileira que ia se diluir culturalmente fisicamente e desaparecer na constitui da nossa forma como se fosse um fenômeno natural minha entrada digamos assim no bonde foi quando eu começo a dizer coisas como nós eh não somos gente em estado de evolução para com esse papo evolucionista pro nosso lado primeiro lá nos primórdios e tal a humanidade tá aí depois e tal e aí tem os índios
e a nossa eh situação jurídica refletia muito isso até a década de até a Constituição de 88 porque nós estávamos eh definidos pelo código civil brasileiros pelo Código Civil brasileiro e pelas constituições anteriores nós éramos chamados de eh capazes do ponto de vista jurídico e essa situação de capacidade relativa jurídica que nos colocava na situação que não era muito vantajosa também das mulheres e dos doidos né dos dos loucos Ora se a gente tava Nosa sociedade que no século XX achava que ainda tinha parte da nossa população que tinha que evoluir quase que biologicamente para
ter direitos humanos é porque a gente estava uma sociedade meio e eu cedo percebi isso e comecei a espernear daí que na constituinte de 88 quando eu eh liderando um movimento indígena que tinha vários povos que não era só os crenac que tinha os chavante os Yanomami os Guarani os pataxó eh os Carajá da Ilha do Bananal os nossos parente terena do Mato Grosso muitos povos indígenas os índios do Nordeste Xucuru Cariri quiriri pancar os Gang do Sul do Brasil todos esses parentes nossos sentiram ameaças pela política do estado brasileiro e na década de 80
eu era eu devia ter uns 20 26 anos por aí afora antes de 30 fazer antes antes de completar 30 anos eu já estava engajado num movimento indígena fazendo esse movimento indígena e nós organizamos uma união das Nações Indígenas que era Esses povos todos num conselho de de tribos e foi representando esse conselho de tribos que eu fiz uma intervenção na constituinte de 88 pondo no no na nossa Constituição os direitos aos nossos territórios e sinalizando que nós não somos povos que estão aqui temporariamente para depois virar Branco nós não temos interesse nenhum nessa nessa
perspectiva nós queremos ser respeitados na nossa identidade e que o povo indígena continue sendo índio que os meus tataranetos possam sentar aqui e falar eu sou crenac e contar a história dos seus antepassados com orgulho Se você for a uma fonte Se você for a uma nascente e se abastecer de água ali você tem que ter certeza que passado cinco gerações seis gerações a sétima geração vai poder ir aquele mesmo lugar e pegar água com a mesma [Música] qualidade você é símbolo de luta Mas também de paz e harmonia eu agradeço a você pela sua
existência por ter realmente transformado a palavra Cidadania em algo muito mais preenchido do que os livros jurídicos out sociologia nos permitiam até [Música] então muitos de vocês pelo menos aqueles que t a minha [Música] idade se lembram do máo juruna Maro juruna um chavante que saiu do Mato Grosso lá do centro oeste brasileiro comprou um gravador teve ideia genial de pegar um ador quando o gravador ainda era um tijolo assim grandão né er um aparelho grande Parecia um rádio e ele gravava fitas gravava as falas das autoridades e ele gravou o ministro mar andreasa Ministro
mar Andreas era o ministro do interior ele era um homem de muitos poderes na República fazia Pontes Neris e TRANS amazônicas e tudo ele era um grande chefe e o jul gravou o Mário andreasa e viu que Mário andreasa tava entrando em contradição tava mentindo e diz publicamente que o ministro era mentiroso ora naquela época dizer que o ministro era mentiroso ainda não era moda né gente e e ofendia o ministro agora eh nós estamos vivendo tempos muito diferentes mas naquele tempo se você dissesse que o ministro era mentiroso Era bom que você provasse is
mar juruna não falava português ele saiu da da Aldeia chavante depois dele ter liderado como chefe Guerreiro a resistência do Povo chavante contra a entrada dos Gaúchos e Catarinense que estavam derrubando serrado acabando com serrado para promover esses campos que nós temos de monocultura no Mato Grosso Agora toda aquela extensão de de florestas e de Serrado foi território indígena até a virada do século XX com raros brancos andando por lá quando eles Entraram na terra do chavante para tomar a terra do chavante o juruna liderou uma resistência muito grande contra essa essa ocupação e ele
aprendia a falar português brigando com os brancos ele não teve professor era brigando que ele aprendeu a falar português ele tava intensa briga com com Os Invasores do território do seu povo e aprendendo a Liv falar então ele ele falava um português muito peculiar conseguiu ser eleito Deputado pelo Rio de Janeiro porque o Darc Ribeiro gostava muito dele e levou ele apresentou ele pro Brisola e tal e eles viram que aquele camarada tinha um uma potência assim mobilizadora e botaram juruna e o juruna virou Deputado mesmo e o primeiro discurso que o juruna quis fazer
no Congresso ele fez na língua dele e a presidência da casa eh cortou o microfone dele e disse que ele não podia falar línguas estranhas no Congresso ele tinha que falar português dentro do do congresso né E essa coisa ele ele na prática o jeito do juruna se se se portar ele era uma uma flagrante contestação da babaquice brasileira que estava instalada no nosso país e que achava o quê que um um um caçador coletor do Mato Grosso que virava Deputado pelo Rio de Janeiro tinha que fazer um discurso em português no Congresso se a
língua materna dele era chavante então o juruna fez um discurso en chavante dentro do congresso e exigiu que fizesse o registro do discurso dele que é maravilhoso porque os funcionários do congresso não sabiam falar a língua dele um índio Eu costumo dizer que índia é um equívoco de português porque quando os portugueses chegaram na praia eles pensavam que eles estavam indo para a Índia saíram de Portugal para ir para a Índia no caminho Eles chegaram nesse continente maravilhoso que eles achavam que era uma ilha que eles chamaram inclusive chegaram a chamar de ilha de Veracruz
Ilha de Santa Cruz e depois Brasil Finalmente eles chegaram e viram gente morena na praia andando e tal e disseram vejam são os índios como eles não sabiam falar a língua daquele povo que eles estavam encontrando e eles incutia aquelas pessoas a ideia de vocês são índios aquelas pessoas eram tão generosas que aceitaram esse apelido de índios e ficou por isso mesmo hoje o Brasil tem 206 eh diferentes eh falas em línguas indígenas de aproximadamente cinco truncos linguísticos distintos um do outro além dos Tupi que todo mundo eh meio que poral naturalidade dizem não porque
aqui falavam Tupi às vezes até sem pensar no que que estão dizendo ah os índios falam Tupi e algumas pessoas até pensam que todos os índios falam Tupi Tupi foi a língua encontrada no litoral aqui falada pelos Tupinambá e pelos nossos parentes Guarani mas de certo que os kenac não falam Tupi os crenac são outra família linguística né então tem os panos os aruak tem os G tem os Caribe isso são diferentes troncos de de de de de famílias linguísticas distintas que vivem hoje assim como juruna ele os chavante fala uma língua que é parente
dos crenac que é G assim como os craô e ele fez um discurso numa língua dessas dentro do congresso e é lógico que o cara que fazia taquigrafia lá escrevia não sabia nem o que sa ouvindo coincide de uma certa forma a a colocação da da mudança da Constituição com uma redescoberta do do meio ambiente no Brasil né claro que coincide com Chico Mendes tem certa uma certa de uma uma uma série de fatores que juntaram nisso né você você acha que que o indígena conseguiu incorporar o discurso do meio ambiente em prol de um
país eh fora do do do do do discurso unilateral da demarcação das das terras indígenas eu acho que ah se a gente se aqui nessa nossa conversa se a gente perguntar PR alguém que está nesse desse lado aqui alguém que está aqui ao meio e alguém que está aqui à minha direita o que que é meio ambiente cada um vai falar uma coisa a definição do que que é meio ambiente e quando quando o Brasil foi deixando de ser um país de Economia agrícola eh e começou a literalmente acabar com as nossas nascentes eh começou
a perceber que a gente estava devastando com as nossas florestas e mais recentemente quando começou a ver que estava começando a ter eh crise de abastecimento de água agravamento de situações de clima é que as pessoas começaram a olhar um para lado olhando pro outro dizendo Parece que tem uma coisa que chama meio ambiente na cultura da maioria dos dos povos indígenas a percepção de que o vento mudou é desde que o nasceu é meio ambiente no caso de povos que viveram sempre colados na natureza eh é um é uma é uma experiência mais do
do ambiente integral do ambiente como integrado a toda ao ciclo da vida e não a uma ideia do recurso natural A grande diferença que do pensamento dos índios e do pensamento dos brancos é que os brancos acham que o ambiente é recurso natural como se fosse uma m xerifado onde você vai tira as coisas tira as coisas tira as coisas pro pensamento do índio se é que existe algum lugar onde você pode transitar por ele é um lugar que você tem que pisar nele suavemente andar com cuidado nele porque ele está cheio de outras presenças
então não existe o meio ambiente um lugar onde que é o meio ambiente meio ambiente é um amoxarifado é um depósito onde você tira você tira minério você tira Floresta você tira água você bombeia tudo exaure isso é o meio ambiente essa visão de recursos naturais que foi consagrada Como o meio ambiente que a o próprio programa das Nações Unidas para o meio ambiente durante muito tempo deu eh curso a essa ideia de que o meio ambiente são os recursos naturais e mais tarde com esse negócio do desenvolvimento sustentável eles tentaram fazer um um conserto
de que não é são o desenvolvimento sustentável os recursos naturais eles são devem ser renováveis ora pro pensamento próprio mesmo do do do povo indígena Não há nada sustentável naquilo que é chamado de Economia na economia não existe nada sustentável porque ela supõe que você vai saquear a terra você vai tirar coisas se você tira e não põe não é sustentável Então tem um uma tem uma uma expressão que diz assim que se você for uma fonte se você for fora uma nascente e se abastecer de água ali você tem que ter certeza que passado
cinco gerações seis gerações a sétima geração vai poder ir aquele mesmo lugar e pegar água com a mesma qualidade a natureza foi sendo e configurada como um lugar perigoso pra criança né E a gente nem sabia andar direito mas a gente já tava se e misturando com a natureza enfiando pelos corguinhos pelas cachoeiras pelos Poços d'água mexendo com os animais brincando Correndo Perigo com os junto com os bichos se nós achamos que a gente pode tratar a água eh o ar que nós respiramos os alimentos a terra de onde nós suprimos nós podemos tratar todas
todos esses bens todas essas bênçãos que a gente tem na nossa vida de uma maneira superficial nós vamos nos tratar também nossa existência de uma maneira [Música] superficial na nossa língua Ken é cabeça na é terra o nome do meu povo é cabeça da terra nós estávamos aqui antes de ganhar o apelido de índio a nossa autoidentificação é nós somos burum burum quer dizer gente gente mesmo o nosso qualificativo é esse nós somos gente então esse negócio de índio isso é um apelido que os portugueses puseram na gente e como quem sempre escreveu a história
quem tinha o texto eram os portugueses ou então seus funcionários o caminha inclusive eram português ele dizia que tinha encontrado índios [Aplausos] se nós somos capazes de nos desfazer da paisagem a ponto de daqui a cinco geração seis geração sete geração os nossos netos tataranetos e bisnetos não terem mais a mesma possibilidade de enxergar aquela paisagem como é que nós estamos dizendo que nós somos sustentáveis que sustentabilidade que tem nisso Ou a gente pode roubar o imaterial porque o material não conta né O que é imaterial o que o que anima o espírito o que
dá sentido à Vida que é subjetivo demais que só poetas é que enxergam e eventualmente índios eh isso não tem problema então você pode tirar a paisagem Ah tudo bem é sustentável então Eh esse meio ambiente eh que nós podíamos pensar nele ele ele é a nossa casa comum é a nossa casa comum então a gente não pode eh se desfazer do de de uma parte da nossa casa comum porque o sentido de comum que ela tem eh nos obriga Tod a todos cuidar dela não é aquela casa comum que a mãe linha por cozinha
e todo mundo chega come suje esculhamba e vai embora como só para ir lá usar e depredar ela ela é comum no sentido de que todos nós temos que cuidar cuidar da água cuidar da floresta Eu fiquei impressionado com tanto de consciência que surtou alguns dos nossos governos estaduais municipais e todos de que é importante eh conservar a água eles surtaram de uma hora para outra porque eles estavam o tempo inteiro transformando os nossos Rios em esgotos toda política que eles fizeram foi plane Écio pra gente não saber que tem um rio ali embaixo e
depois subitamente Eles tomam consciência de que água uma coisa incrível e começam a fazer campanha pra gente prestar atenção não abrir a torneira se você Verê uma gota entendeu colha ela rapidinho e guarde então é de uma eh é de uma inconsistência é tão absoluta a convicção de que o meio ambiente Vale alguma coisa Ah é muito comum agora as empresas fazerem relatórios de sustentabilidade toda empresa bacana toda empresa assim de porte tem que fazer um relatório de sustentabilidade principalmente se ela for eh claramente uma eh usuária né uma eh transformadora de matéria prima visível
em alguma coisa que vira mercadoria Então ela tem que fazer uma propaganda dizendo que ela é sustentável que você pode comprar o carro comprar a geladeira comprar o que for que aquilo ali ele conseguiu fazer aquilo ali sem tirar de lugar nenhum então eles são Mágicos parece aqueles caras Mágicos né eles fal ó tá vendo não tem nada na mão mas V fazer um carro aí eles faz o carro e daí para você [Música] e a questão da espiritualidade como é que você tá vendo isso hoje mediante tanta tanta falta de espiritualidade né é eu
eu sinto que na verdade a maioria das pessoas não se sente nem à vontade eh quando toca nesse assunto mais ou menos como você falasse assim eu acho que você está doente né o algumas pessoas que eu conheço só lembro que tem espírito quando dá um troço neles né tipo assim teve um diagnóstico lá falei ih cara ó 5 minutos você vai morrer aí ele fala meu Deus e o negócio do espírito e tal parece aquele negócio do seguro né ele falou e eu não renovei meu seguro caramba né se se eu tivesse com meu
seguro tudo em cima até podia morrer mas e o negócio espiritualidade e tal então assim o eh é uma banalização do da da da vida né que um assunto tem a ver com outro se nós achamos que a gente pode tratar a água eh o ar que nós respiramos os alimentos a terra de onde nós suprimos nós podemos tratar todas todas esses bens todas essas bênçãos que a gente tem na nossa vida de uma maneira superficial nós vamos nos tratar também nossa existência de uma maneira superficial e só vamos levar susto hora que alguém avisar
pra gente que a gente tá pronto para ter um um [Aplausos] troço mas se eu fosse escrever a história eu ia fazer igual aquele poema do do Oswald de Andrade tem um um poeminha do os osval de Andrade que diz erro de português né os portugueses chegaram as nossas praias num num num num baita dia de chuva e vestiram os índios se eles tivessem chegado num dia de sol os índios teriam despido o [Música] português quanta gente foi convencida de que alguém fica doente na família você enfia ele no hospital o Hospital vai botar ele
numa UTI em alguma coisa vai dar uma injeção nele vai tirar a dor dele porque as pessoas não querem admitir que a gente nasce passa um tempo por aqui se der muita sorte fica velho e morre essa parte eles Parece que eles não querem contar PR as crianças essa parte eles querem contar PR as crianças não assim é muito legal entendeu Aí você fica assim tal aí você nasce aí você cresce entendeu Aí você fica aqui tá Mas e aí ah sei lá mas você não morre falar que morrer é chato então Eh cultivam essa
essa ideia da até cultivam um pouco essa ideia da espiritualidade mas como um recurso eh auxiliar para não aceitar que nós somos como as folhas das árvores que ficam bonitas vistosas floresce e depois cai e vira esterco e vira adubo na terra nós somos nós somos assim a gente morre não é muito simpático ficar lembrando as pessoas que as pessoas morrem e é por isso que a gente fica despistando todo mundo e queremos despistar a nossa mãe a nossa avó então quando ela tá com 93 anos e ela doece todo mundo corre para levar ela
para algum lugar corre para levar para um hospital tal Porque não suportam ficar junto com ela aí vai dizer não mas não dá né hoje todo mundo trabalha então com essa desculpa de todo mundo trabalha eles pegam as crianças também e põem em algum lugar então tem duas categorias de gente que a gente põe em algum lugar as crianças e os velhos aí fica aquele pessoal orgulhoso achando que tá todo mundo esperto com saúde correndo fazendo alteras e tudo é a turma bacana para que que eles vão se preocupar com espiritualidade espirit idade é para
aquele pessoal que vai morrer para atletas não então a gente tá cultivando uma mentalidade de atletas de gente que não vai em lugar nenhum porque são crianças de gente que não vai também em lugar nenhum porque já são velhos e de um pessoal mais ou menos que é entre velho e criança que são os que funcionam Esses são atletas e para esses a gente faz tênis academia aparelhos Tudo para eles eh eu não consigo eh fazer um comentário sobre eh espiritualidade sem antes olhar o que é que nós estamos fazendo com nós mesmos fazendo com
as nossas crianças com as nossas cidades o tipo de alimento que nós estamos permitindo consumir achando que tá tudo bem e porque espiritualidade não é uma um um um uma subjetividade assim que só os poetas podem atinar com ela tinha que ser alguma coisa que dissesse respeito a andar comer beber dormir se relacionar com as outras pessoas porque senão eu vou criar um um truque também n assim como os relatório de sustentabilidade tem truque eu vou criar um outro truque que é o truque da espiritualidade eu faço um monte de besteira no cotidiano Em algum
momento da minha vida eu tenho um truque espiritual que eu faço o o meu seguro eu banalizou a vida como veneno me drogo esculhambo a minha vida toda não presta atenção no que que eu tô ingerindo não pergunto de onde é que tá vindo o veneno que tá na mesa e depois desenvolv uma espiritualidade fantástica então eh tem que ter nós precisamos eh Pelo menos eu para para para meu próprio as meu próprio consumo precisa ter alguma coerência entre o o que eu faço vivo falo porque senão fica uma coisa esquizofrênica né Eh todos nós
todos nós em qualquer latitude do planeta nós os seres humanos nós somos naturalmente eh seres com uma transcendência que nos põe muito além da da mediocridade eh comumente viver quando nós deitamos para dormir o nosso ser o nosso espírito sonha é por isso que nós conseguimos acordar no outro dia andar é porque a gente sonha [Música] essa coisa da importância da leitura ela não é a minha experiência fundadora né porque alguém que é da oralidade alguém que alguém que se alfabetizou os 17 Começou a ler aos 17 e se for se você for pensar mesmo
assim na coisa da escrita da escrita da da da capacidade de produzir um texto de se expressar textualmente isso foi depois dos 20 anos eh mas isso não diminuiu em nada a minha admiração e o meu entusiasmo com a coisa da leitura e do texto porque toda vez que eu tinha a oportunidade de ouvir alguém fazer uma leitura de um texto sempre me sempre me fez viajar me me comoveu me fez sonhar quando eu pude também começar a escrever eu comecei a querer escrever de uma maneira que tivesse uma marca me dava a vontade de
escrever não só eh usar o sinal gráfico assim para deixar uma mensagem mas também que aquela minha mensagem fosse tivesse identidade e a identidade que eu tenho buscado dar para esse texto é de alguém que tem a sua imaginação fundada na oralidade os índios né em diferentes culturas iam muito o a importância do sonho então é muito comum quando acorda de manhã na minha casa nas outras casas que eu conheço de outras famílias indígenas as pessoas têm uma parada assim para perguntar pro outro com que que você sonhou Então porque sonho é muito importante você
de manhã dar uma olhada no que que você sonhou Dependendo do que você sonhou você tem material para você decidir sobre o que você vai fazer de dia por exemplo eh ah então tá então foi isso que a gente sonhou tá E aí a pessoa fala assim é mas em sociedade pequena dá para fazer isso né de manhã cedo você acorda você não tem que sair correndo não tem que pegar o o táxi o metrô o ônibus o avião não sei o que para algum lugar então vocês ficam lá vocês são à toa mesmo aí
vocês ficam lá as preguiça e conversa com outro e aí com o que que você sonhou aí Ah tá então você sonhou com esse não então eu não vou não Hoje eu não vou não Hoje eu não vou né luí Não hoje eu não vou não então se a pessoa eh já admitiu que não tem tempo de manhã para contar o sonho ele já tá tá rodando né então de manhã não dá não sinto muito ó agora de manhã não vai dá conta sõ não então tudo bem vai passando eh ah mas essas essas sociedades
assim simples né eles são mais primitivos assim eles têm tempo de olhar o que que eles sonharam aí em consequência disso eles acabam tendo um outro tipo de vida também que parece que é mais simples em compensação também eles tem um outro tipo de vida que parece tem outro sentido que não comunica com esse tipo de vida apressado se você não tem tempo de saber o que você sonhou e é muito muito provavelmente você vai saber pouco sobre o que você vai estar fazendo quando tiver acordado [Música] Viver tem que deve ser e pode ser
alguma coisa muito uma experiência muito mais eh eh compensadora do que correr desse jeito sem saber o que que você tá comendo o que que você tá fazendo o que que você tá dormindo o que que você tá sonhando e talvez isso implica renunciar a algumas coisas que a vida moderna eh fez eh com que nós acreditássemos que era importante demais estar desse jeito ou ter essas coisas para est vivo bom nesse livrinho da editora zog que é o pretexto da gente est aqui conversando hoje no sempre um papo eh tem um texto lá que
chama Rio da memória no rio da memória eh foi uma uma um depoimento longo que eu fiz para um projeto que chamado do Museu da pessoa que ele ele valoriza muito a oralidade Ele gosta de promover as histórias contação de história e tudo e os meus amigos me provocaram exatamente para puxar essas Memórias de as primeiras Memórias de criança e eu tava me lembrando que minhas primeiras memórias as mais assim eh que mais me dão me D que mais me anima e me dá um conforto assim ao Espírito é de quando a gente tinha toda
coragem do mundo e andava passando Balaio passava pineira assim naqueles pequenos corguinhos para pegar Peixinhos os meninos passavam pineira assim nos corguinhos empurrava o capin colonhão e enfiando assim as peneiras caçando batendo a pineira aí vi um monte de menino de lá batendo assustando os peixinhos e os outros enfiando pineira passando balaia assim e pegando os peixinhos e essa essa coragem de de ali colado ali na natureza sem o medo de ter qualquer coisa de um medo de um strep ou medo de um bicho porque hoje todo mundo fica falando não não vai mexer aí
não aí tem uma cobra aí tem sei lá um um bicho que vai te picar você vai se [Aplausos] machucar n língua indígena que eu conheço Existe a palavra Ecologia aí eu tenho impressão de que a única cultura que era capaz de criar essa ideia de Ecologia é exatamente uma cultura bem predatória mesmo tinha que ser bem Predador para ser capaz de construir uma ciência chamada Ecologia porque uma cura convive com as diferentes paisagens do nosso planeta de forma harmoniosa não precisa inventar uma ciência chamada Ecologia a ciência Ecologia parece que ela só podia ter
nascido mesmo eh de uma experiência de cultura que supõe intervir na natureza subjugar a natureza se for para viver com a natureza você não precisa dessas desse aparato todo né a gente fica com a rlse estúpida comparação entre as culturas e fica acabando [Música] eh sendo bastante e maniqueísta nas coisas né ainda bem que você conseguiu extrapolar minha a estupidez das minhas perguntas muito obrigado viu qu depois de você fazer uma digressão sobre várias coisas que índio não queria você terminou falei assim Índio Quer ser índio Então queria te pedir para desecar um pouquinho pro
povo v raciocí o que que quer dizer Índio Quer ser índio durante muito tempo vou vou eu eu eu essa coisa da tradição oral ela é ilimitada né a gente começa a falar e conta história até o outro dia vou vou ver se eu consigo fazer assim um Haikai eh esse ser índio é evitar toda a abordagem do mundo que quer tirar o sentido de ser e trocar isso por ter então assim querer ser índio é não aceitar trocar ser por ter perdoa o rikai tá bom tanto os kenac quanto os maxacali na década de
40 50 e década de 60 foram muitas vezes eh retirados dos seus territórios de origem e despejado em lugares distantes como política de dissolução das nossas famílias feita pelo governo então intencionalmente o governo vários governos sucessivos governos governo federal governo estadual eh fizeram uma política que deliberada para fazer os índios acabarem e [Música] k Y [Música]