Capítulo 1.5 - Ensinar Exige Estética e Etica - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire

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Prof. André Azevedo da Fonseca
A superação da ingenuidade e a conquista da criticidade devem ser realizadas ao lado de uma rigorosa...
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A necessária superação da ingenuidade e a conquista da criticidade devem ser realizadas ao lado de uma rigorosa formação ética. Não é humanista uma formação que promove sujeitos críticos, porém, cínicos. E ao lado da ética, Paulo Freire, argumenta que a educação não pode deixar de lado o caráter estético da aprendizagem.
Nas suas palavras, é a decência e a boniteza de mãos dadas. Paulo Freire defende que a educação deve ser um testemunho rigoroso de decência e pureza – lembrando que a gente não deve confundir os conceitos de pureza com puritanismo, entre aquele empenhado em cultivar os valores da sinceridade, da integridade e da honestidade; e aquele outro repleto de malícia que se dedica a apontar defeitos e acusar os outros. E além disso, a rigidez moralista do puritanismo não oferece a oportunidade para o sujeito exercitar a sua relação ética com o mundo.
Porque uma coisa é deixar de fazer o mal com medo da punição e porque essa escolha é proibida; outra coisa é escolher fazer o bem, mesmo sabendo que seria possível fazer o mal. Mulheres e homens, seres históricos, sociais e culturais, só podemos nos tornar éticos quando temos a liberdade de aprender, de comparar, de escolher, de decidir, de aceitar ou de recusar. E essa liberdade de escolher é essencial porque, mais uma vez, seres humanos não estão prontos, acabados.
A condição humana ainda é um processo. Ninguém tem a resposta definitiva para nada, porque os conhecimentos ainda estão sendo construídos e a humanidade ainda está aprendendo sobre si mesma. Por isso que petrificar os saberes e impedir a liberdade de pensamento é uma ação desumanizadora, no sentido de que interrompe o movimento de nossa compreensão sobre as transformações que ocorrem permanentemente na humanidade.
Justamente porque a liberdade é uma condição indispensável para a educação, essa liberdade não pode jamais estar dissociada da ética. E é por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de mais fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Formador nesse sentido amplo de uma humanidade que ainda está aprendendo a se descobrir, que ainda está inventando o seu mundo.
O ensino dos conteúdos não pode estar dissociado dessa formação humana, que para Paulo Freire inclui a formação moral e a formação ética dos alunos. E é por isso também que sacralizar determinados saberes e demonizar outros é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado. De testemunhar um maniqueísmo aos alunos, como se o professor e a escola fossem os guardiões da verdade.
Pensar certo exige profundidade, exige a compreensão de que a realidade é complexa e que todas as ideias comportam também as suas próprias contradições. Pensar certo exige que professores e estudantes estejam disponíveis para revisar os próprios conceitos e reconhecer não apenas a possibilidade de mudar de ideia, mas o direito de fazê-lo. Agora, é claro que não há como pensar certo sem ética.
Se mudar de ideia é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda assumir a mudança. Do ponto de vista da ética, não é possível mudar de ideia e fazer de conta que não mudou. Todo pensar certo é radicalmente coerente.
Em termos estéticos, a gente não pode deixar de considerar os aspectos subjetivos da relação entre professores e alunos. A própria ruptura criativa de uma educação passiva para uma formação crítica exige que todos exercitem novas percepções sobre o mundo. O professor precisa conhecer os recursos expressivos para conquistar aquela atenção crítica dos alunos e criar um ambiente favorável para a expressão da curiosidade.
A própria variedade das expressões vocais do professor: afirmações, perguntas, pausas retóricas, humores, e também as expressões faciais e corporais são recursos estéticos indispensáveis para a aprendizagem. A desatenção dos alunos, ou mesmo a apatia ou muitas vezes a indisciplina estão frequentemente relacionadas a uma autossabotagem do professor que às vezes, sem perceber, demonstra para os alunos, através da sua expressão facial, a sua antipatia, a sua descrença ou mesmo o seu esgotamento diante da turma. A linguagem não-verbal diz muito daquilo que a palavra tenta esconder.
Por isso, não deveria ser surpreendente a resistência e às vezes a agressividade dos alunos contra esse sujeito que fala de educação, mas que expressa no seu rosto a hostilidade a eles. E por isso, é indispensável que as palavras sejam incorporadas no próprio exemplo do professor. É o que veremos no próximo vídeo.
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