Cultura do Narcisismo | #06T02 Dirty Job

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Luiz Felipe Pondé
Neste episódio, Pondé e Gabriela falam sobre a Cultura do Narcisismo utilizando trechos do livro “A ...
Video Transcript:
Se seu analista virar para você e disser que você hoje analista acho que não vai falar isso não, porque hoje não se pode ofender ninguém. Se ele virar para você e disser assim: "Olha, na verdade você tem uma personalidade narcísica. Sente e chore. Sente e chore. Das cinzas do sonho libertário de uma nova sociedade surgem os homens narcisistas do nosso tempo. Os narcisistas se caracterizam pela superficialidade emocional, medo da intimidade, hipocondria, pseudo autopercepção e horror à velice e à morte. Os narcisistas tomaram poder. É, tomaram poder, né? Narcisistas do mundo, univos, não foi os proletários.
Então, a gente tá falando aqui, só se eu entendi bem, dois tipos de dependência, né? Na dependência psíquica, subjetiva, física de outras pessoas e numa dependência macroestrutural como sociedade. É social. econômica. O mundo hoje é um resorte. Todo mundo quer seu desejo realizado. Todo mundo acha que tem direito ao mundo que lhe sirva. Não é sobre você. Eu sei que é difícil aceitar. Eu sei. Nunca é sobre Eu pago análise para aceitar. Recomendo que você pague também uma para você. A felicidade é um grande valor na cultura do narcisismo e a obsessão pelo eu. É
assim, tipo, passe a vida inteira massageando o seu eu. E quando alguém falar alguma coisa se ofender, lembre que na realidade isso também é uma massagem no seu eu. Olá, jobbers. Chegamos no nosso sexto episódio da segunda temporada com um tema que eu acho que vocês vão gostar, a cultura do narcisismo. Esse é um tema do pondé por excelência, né? É assim, aquela disciplina que você erdou, comportamento contemporâneo, era um pilar, né? É um pilar. eh era o tema por onde eu entrava na discussão. Inclusive o livro foi publicado em 79 e eu dava inclusive
um panorama da década de 80 que há 10 anos atrás ou 15 anos atrás os alunos ainda conseguiam acessar. É, hoje não significa nada. É, conseguia acessar, conseguia acessar o, mas agora não. E hoje eu conversava com um pesquisador da área de teologia e ele me fez uma pergunta e eu disse para ele: "Olha, eu tenho a impressão que essa geração que você fala no futuro próximo, talvez eles não tenham nenhuma opinião sobre nós, que talvez eles não vão saber nada sobre a nossa época. zero, vão ter informação, zero vão ter interesse, zero. Isso é
um acirramento de uma das características que a gente vai tratar aqui. Essa é a primeira vez que eu montei uma pauta em cima de um texto e de um autor específico, porque realmente eh a gente usou muito esse livro, eu fui reler Nerd que sou para montar a pauta, porque é isso, né? A gente vai lendo muitas coisas. faz anos eh que eu li esse livro, li inglês ainda, nem tinha lido essa tradução pro português. E é assombroso. É assombroso a atualidade das coisas que ele escreveu em 75. Pensa, são 50 anos, certo? Eu sou
de humanas. É, também sou. Medicina não conta. 50, né? Obrigada, produção. Dá 50 anos. 50 anos. 50 anos, gente. Eh, eu tenho 40, entendeu? Mas o o cara escreveu antes de eu nascer uma condição cujo ápice em várias não é um diagnóstico único, ah, cultura do narcisismo, ponto, não. Ele abarca vários aspectos da vida, o trabalho, a família, as expectativas, uma série de coisas. E inclusive a gente percebe e lendo o leste, da onde veio muita coisa do Balman, da onde veio, muit Ele é um fundador de uma tradição, né? Exatamente. Da onde veio muita
coisa do Frederick Jameson, que é um cara que eu estudei no mestrado, que é da teoria crítica, um adorniano que dialoga ali com a escola de Frankfurt. Eu fiquei meio pasma ao reler, porque isso que é bom, né, da vida acadêmica. A gente vai relendo livros em momentos diferentes da jornada de pé. E os que ficam de pé quando você relê e fala: "É assumba tá raiva". Eu fico com um pouco de raiva. Ah, porque, pô, o cara escreve um negócio desse, sabe? há 50 anos. Ah, é que nem um pouco o Yashamunk. O cara
fala alemão porque ele é de origem alemã, mora nos Estados Unidos, é cientista político, escreveu aquele livro The People Versus Democracy com 36 anos antes da pandemia, né? 36 anos. Dá um pouco de raiva. Tudo bem, tudo bem. É, mas no caso Yasham, o que importa também é que ele veio escrever depois, né? Yashamunk cai um pouco em desgraça com a esquerda, né? É. Mas aí, mas não tira o mérito, né? É óbvio que não. Na realidade aumenta o mérito. Eu ia falar, eu ia falar isso, mas eu deixei para você. Aumenta o mérito. É
exatamente. Com 36 anos ele virou um bestseller mundial na ciência política. Você fala: "Ai, olha, Orson Wells quando fez, enfim, esse povo muito inteligente, muito novo, né? Tem um povo por aí". É. Então o leste é desses e a cultura do narcisismo é um texto super acessível para quem quiser ler com tradução em português agora não me lembu nova, né? Porque tava esgotado quando tradução nova. É uma tradução nova que é recente, prefáciil, dois, tr anos vai no máximo. E é um livro, ele é historiador. É, então é um livro friendly assim, né? Ele é
amigável. Não é que ele tá teorizando, não é filosofia hard, não é epistemologia, não. Ele te pega pela mãozinha, vai descrevendo que você fala: "Olha, é verdade, é uma escrita aberta, né?" É, exatamente. Então é muito bom. Eu fiz essa pauta, tirei trechos, falei: "Ponderé, posso tirar trechos?" E a gente fala sobre os trechos. Só antes disso, eu queria pontuar, queria que o Pondé explicasse um pouquinho pra gente o narcisismo em Freud, né? E por que da utilização do conceito freudiano na no diagnóstico de uma cultura como um todo a partir da década de 70,
assim, o lesh, o o grande, como dizer assim, a a originalidade do Lash e a força do texto dele, ele pegar uma categoria da psicanálise ou da psicologia e transformá-la em categoria hermenêutica do comportamento social e histórico, né? né, e fazê-lo de forma consistente, né, essa grande, porque no Freud, a o narcisismo, você tem na realidade e o que se chama, alguns chamam de narcisismo primário, narcismo secundário, tem o primeiro narcisismo ou o segundo narcisismo. você tem um narcisismo que seria um narcisismo normal, digamos assim, uma fase, né? É, que espera-se que a criança inclusive
tenha, né? que o Freud chega a dizer que eh é fundamental para que você se para que você constitua aquilo que hoje se chama autoestima de alguma forma, que é um resto, um seria um resto daquele momento em que havia a chamada célula narcísica, você, a sua mãe, todos, uma coisa só, em simbiose. Em sibiose. Ou seja, o último momento em que as coisas fizeram sentido, em que tava tudo bem, pro Freud, os o último momento em que tava tudo bem e de lá para cá só desceu a ladeira. Depois eu tive que me separar
da mamãe. É. Então, e aí eu descobri que era eu e minha mãe já fodeu ali já duas pessoas. Mãe, não era minha. Depois eu descobri que ela era do papai. Piorou, piorou, piorou, piorou. E assim, é por isso que o Freud, eh, o Freud, ele foi tão assim, visionário, ele foi tão brilhante em perceber que, na realidade a constituição da vida psíquica se faz a partir de uma perda, né? Você perde. A priori, não é alguma coisa que você ganha, você parte de uma perda que nunca mais será possível, por isso que ladeira baixo.
A gente vem fazendo luto desde lá. É, então esse narcisismo então é o narcisismo, tudo bem, é que espera-se aí, é esse aí não é não é o patológico, não é o do Lesche, não é o que les tá usando como categoria de análise social histórica. O segundo narcisismo, o narcisismo secundário ou narcisismo patológico, digamos assim, clínico, é, eh, eu lembro que uma vez eu li em algum lugar, não sei quem escreveu isso, num jornal, eu acho, e que dizia assim: "Se seu analista virar para você e disser que você hoje o analista acho que
não vai falar isso não, porque hoje não se pode ofender ninguém, se ele virar para você e disser assim: "Olha, na verdade você tem uma personalidade narcísica. Sente e chore. Sente e chore. Você vai passar a vida inteira na jugular de alguém ou vários alguém sugando eh um pouco de energia para que você consiga se manter de pé, porque senão você cai. Então essa é uma diferença cabal entre uma ideia de senso comum do narcisismo e a ideia do Freud. Quer dizer, o narcisista não é alguém que se acha, que tem alta autoestima. É que
tem alta autoestima. Ele até pode fazer o misanced, mas no fundo ele é o sujeito mais frágil, mais vazio, que é um verdadeiro pedinte de atenção pros outros e que se ele der sorte de encontrar uma alma generosa, de repente ele até pode viver as custas de alma generosa, mas ele é frágil, não tem autoestima, é inseguro, não confia em ninguém. bem e cresceu e se espalhou como a praga nas redes sociais. É, o narcisismo então faz parte do edifício conceitual freudiano, da questão da teoria da libido, a libido sendo essa energia que nos faz
fazer tudo na vida, tudo, comer, ficar de pé, trabalho, tudo, tudo, tudo. E então tem uma diferenciação técnica, né, que o Freud vai fazer entre libido do eu, libido vegetal, mas basicamente é isso, né? O narcisismo se torna uma patologia quando você não consegue mais fazer o investimento libidinal nos objetos. Ou seja, você não tem libido como você vai investir? Ex. É exatamente. E você, não é nem que você não tem, você volta ela para você mesma a pouca que você tem, porque você tem uma baixa autoestima. Então, é, é se torna patológico, né? O
narcisismo primário é esse momento nirvânico, quando a gente tá quando a gente tá em simbiose com mamã ali e que eu choro, vem alguém me satisfazer, não tem boleto, não tem nada que tire a paz. E de repente, por isso que é uma perda, né? Porque esse é e na verdade quando você entra em análise, em muitos momentos você vai perceber que você tá tentando buscar essa sensação que você não lembra, mas você tem alguma notícia, alguma alguma coisa de que ela existiu na sua vida, um momento em que não tinha estress, né? que tava
tudo resolvido no caso, porque alguns que conheciam o Freud chamam de sentimento oceânico. Sentimento oceânico que ele disse que nunca sentiu. É que pode ser dado, por exemplo, pela religião. Se é uma pessoa, exatamente, você é uma pessoa de muita fé que consegue se dissolver de alguma maneira no todo. Um pouco do que o Freud fala no começo ali do malestar. Mas bom, a gente só quis trazer essa essa ideia do narcisismo para ficar bem cravada essa diferença. Então, narcisista então é uma pessoa de baixa autoestima, não de alta autoestima. justamente por ter baixa autoestima,
ele precisa, todos nós precisamos, tá, do reforço das pessoas, do olhar do outro, do olhar dos pais, né, da de amor vindo de fora. O narcísico precisa muito mais, muito mais patologicamente, né, a ponto de ser patológico, de se tornar uma doença e de se ele não encontrar uma alma generosa, como o Pondé dizia, ele vai virar um miserê por aí. É a a o interessante, quer dizer, é uma pessoa então que tem uma reserva libidinal muito baixa, inclusive uma reserva libidinal na física primária que manteria ele razoavelmente funcionando. E como isso, como L vai
transformar isso em categoria sociohistórica e acertar e acertar e acertar no começo que a tendência tava nascendo. Porque de novo, né, a filosofia é a coruja de Minerva, né? Tem aquela coisa de que a filosofia ela não dá o diagnóstico na hora, ela espera, ela precisa esperar um tempo passar, porque se ela for muito afoita, a chance dela errar é enorme, né? Muito embora ele seja um historiador, ele foi um filósofo nesse texto. Sim. Filósofo social, né? É um filósofo social. E ele acertou o começo de uma tendência de novo, cujo ápice nós vivemos hoje
em dia num momento que a gente não tinha nem rede social. É lá em 2005, não 2005 não, 2015. Eu lembro de um artigo num jornal Guardian, um jornal que é inglês, um suplemento de final de semana mais denso, os jornais ainda eram mais densos em 2015, inclusive fora daqui, mas aqui também era. E eh tinha toda um conjunto de matérias que falava justamente do vínculo entre cultura do narcisismo, do les e as redes sociais. Sim. E que ele viveu antes disso, não conheceu isso, mas ele estabeleceu todo um conjunto de ferramentas para entender porque
que na nas redes sociais o narcisismo virou uma epidemia. É. E bom, entrando agora no nosso percurso histórico, eu não vou, a gente não vai refazer ele aqui de novo. A gente já é isso, né? A gente tá trabalhando com o contemporâneo e a matéria-pra prima do contemporâneo é o século XX. É onde a coisa foi gestada. até chegarmos onde estamos. Então, a cultura do narcisismo tá dialogando com todo aquele processo que a gente já falou aqui da modernidade do século XX, do pós Segunda Guerra, do da virada da contracultura, pós-modernidade, o sobrinho do Freud,
todo aquele rolê que se você quiser entender mais a fundo, volta lá nos nossos primeiros episódios. do primeiro, sobretudo, a gente fez esse percurso, então não vou me deter nele e vou passar paraas citações do leste e a gente vai comentando uma a uma. Então a primeira, ele diz: "Após a ebulição política dos anos 60, os americanos recuaram para preocupações puramente pessoais. Ele sugere o Leste que após a decepção, quanto aos resultados políticos da década de 60, houve uma retração da atividade política e como consequência, e aí de novo eu cito ele, emergem o culto
da expansão da consciência da saúde e do crescimento pessoal. Escreveu ontem, né? Eh, tava vendo nós de 2025. É, tava vendo nós, né? Mas é essa esse tema do do fracasso da da utopia política dos anos 60, né, que quando você olha pros anos 60 e pro movimento hiip e paraa contra a cultura e eu acho que um filme que retratou isso muito bem foi era uma vez em Hollywood, os hips não tinham como dar certo. Eles não tinham como dar certo porque no fundo eles eram vagabundos, né? No fundo, era gente que ergueu a
preguiça como crítica política e social, né? E o resultado é que é evidente que uma utopia associada à ideia de que você poderá permanecer até a sua vida adulta, como se você tivesse 5 anos de idade, 6 anos de idade, não. E isso é, na realidade, o que eu tô querendo dizer é o seguinte, e eu tô puxando a categoria de narcisista, de de cultura narcismo para trás. E assim, o movimento hip já é muito narcísico, sim, né? Só que ele tá travestido, ele tá travestido de um investimento no mundo, de uma transformação política, porque
tinha movimentos. Muitas pessoas eh degeneraram, como no pastoral americano, fala muito, ia falar. Aí eu falei, não, você repetitiva, tô fixada na pastoral americana, pastoral americana, como você citou o livro. É porque tem isso, né? para aqueles grupos terroristas underground contra guerra do Vietnã e sem tirar a legitimidade de alguns dos movimentos, sobretudo contra, enfim, não é nesse, não é por aí que a gente tá entrando. É, a gente não tá preocupado com isso porque inclusive ah isso é um rolo. É, e a história provou que os americanos não precisavam ir combater no Vietnã, porque
o capitalismo acabou vencendo no Vietnã. Não precisava, não precisava aquele esforço todo, não precisava aquele esforço todo, porque a Coca-Cola venceu, o McDonald's venceu os Vietcoms. Assistam The Corporation sobre isso, aliás, então. Ah, então tudo bem, ele faz um diagnóstico de que essas expectativas utópicas frustradas, né, fez com que as pessoas fizessem o movimento de retração em direção a questões que a gente poderia chamar de vocabulário de repertório subjetivo. É que passa pela subjetividade do corpo, a obsessão com a saúde, né? E passa pela subjetividade da expansão da consciência. Isso é uma palavra para você
é ótimo. Eu não sei quem acompanha o Pondar desde o começo, mas lá nos ídos de 2008, 2009, quando ele começou escrever na Folha, ele tinha uma categoria que nem o jantar inteligente que ele adorava bater nas pessoas, que era o budismo light. É, mas é, tá aí até hoje, né? Isso é budismo light, né? Essa coisa de você ler um livro, duas páginas, entrar entrar, não, mas eu sei do que se trata. Então, entrar numa livraria, ficar tomando um café e olhando livros que tem a ver com a espiritualidade, depois vê que você tá
trabalhando para expansão da consciência. É, é, na Tailândia você vai acabar transando para [ __ ] porque, né, provavelmente. Mas se você vai para aqueles mosteiros vietnamitas, não, de fato, a previsão que o L faz, ele acertou em cheio, né? Porque esses sintomas eles se mantém, mantém. A a próxima citação é até mais assombrosa. Eu ia lendo, eu ia falando: "Meu Deus, meu Deus". Abro aspas. Das cinzas do sonho libertário de uma nova sociedade surgem os homens narcisistas do nosso tempo. Os narcisistas se caracterizam pela superficialidade emocional, medo da intimidade, hipocondria, pseudo autopercepção e horror
à velice e à morte. Hipócrita leitor, meu igual meu irmão. Que é a frase que o Bodeler termina o começo das flores do mal, né? Falou: "É, não, isso daí é veja, ah, é um tema do les é como a pessoa narcísica, ela tem uma espécie de teto baixo." É, né? Ela vive num teto baixo, ela ela não e e é a cultura em que a gente vive. Na realidade, e a uma das coisas importantes da leitura do L e do que surgiu a partir daí é perceber que isso é uma luta contínua, porque se
a cultura narcísica ela se reproduz, é, e ela se reproduz até hoje. Então veja essa coisa, a obsessão a hipocondria, o horror ao envelhecimento, né? Olha a quantidade de procedimentos e o quanto a a clínica dermatológica gera uma indústria bilionária pra gente não envelhecer. Assim. E aí como é que faz o povo? O povo acha que vai resolver o pânico com envelhecimento que a gente tem, que se transformou num ícone do nosso universo e o medo da morte e tudo mais. Discutindo o etarismo. Sabia que falou? Eu adoro. Eu adoro a política, cara. essa política,
discutir um etarismo, vai resolver o fato de que, né, evidentemente que as empresas mandam embora as pessoas mais velhas e é evidente, né? Evidente que você só tem duas formas de ter cidadania na sociedade de mercado. Você produz e você consome. Se você não produz, que você foi cuspido para fora da máquina e você não tem dinheiro, você não conse. Então você não existe, não existe na família, vai parar numa casa de repouso. E aí muita gente acha que quando ah ouve alguém falar isso, eu tô dizendo, você não ama sua avó. Aí você vê
como uma pessoa narcísica. Ela tá voltada para ela, certo? Ela tá achando que ela é o centro do mundo e que não é possível se fazer uma análise macro da dinâmica histórica e social, porque na verdade a gente tá falando que ela não ama a avó dela e eu amo sim a minha avó. É, é por isso que isso é uma característica narcísica. voltar para si mesmo, achar que você é o centro do mundo, que tudo se refere a você e no fundo você ter uma incapacidade, porque a possibilidade de enxergar macro significa que você
tem alguma energia libidinal e que você conseguiu sair disso minimamente. Dafna, por favor, faz esse corte porque ele tem um disclaimer. Sempre que a gente tá fazendo uma análise social macro, vem nossos perseguidores narcísicos e fala: "Não, mas eu amo a minha avó. Não, mas na minha casa não é assim, mas eu deixo meu filho dormir na casa do amiguinho?" Não, eu não. Não é sobre você. Eu sei que é difícil aceitar. Eu sei. Nunca é sobre eu pago análise pr aceitar. Recomendo que você pague também uma para você. É difícil, mas depois de um
percurso aí dá para aceitar. Juro que a gente tá falando aqui não é sobre você e você não precisa se defender nas redes quando a gente posta o corte. Bom, feito o disclaimer da DFNA, eu vou então para terminar essa segunda, né, de um sonho de uma nova sociedade, surge uma cultura com teto baixo, com horror é velice, horror à morte. E aí alguém pode dizer: "Ah, mas quando que as pessoas não tiveram horror à morte?" De fato, a gente sempre teve medo da morte, mas numa sociedade hipersecular, hiper voltada pra produção e pro consumo,
atomizada, né? Em que as famílias estão cada vez mais separadas, de fato, o horror à morte, a solidão, ele é muito diferente do que o horror da morte do sujeito do da idade média, sei lá. É primeiro porque tinha menos pessoas que chegavam, é, lá. a a há uma idade em que você começa a perder funções físicas, não é só perder a beleza, você começa a perder funções físicas, tomar banho. É, não é? E você vai e e como você tem hoje é mais ou menos, vou fazer um paralelo com o problema do aquecimento global,
sabe? Ah, o planeta Terra, ele já esfriou, já esquentou, tudo bem. Agora, a ciência diz que ele tá esquentando não só por causa do ciclo que sempre aconteceu, mas por causa da matriz fóssil. Ponto, né? Mas o fato é que hoje um esquentamento do planeta, como já aconteceu antes, seria de fato uma catástrofe, porque a gente transformou o planeta num resorte. E como ele é um grande resorte, não pode mudar nada, nada. Quando houve esquentamentos há 2500 anos atrás, há 1500 anos atrás, 10.000 anos atrás, era outro impacto, porque o mundo ainda era muito aberto
à natureza. Eu não tô fazendo uma nostalgia do passado, né? Não se trata de nostalgia do passado. O mundo, as coisas nunca foram boas e e nunca foram fáceis. Mas o que eu quero dizer é simplesmente quase geograficamente, o mundo hoje é um resorte. Todo mundo quer seu desejo realizado, todo mundo acha que tem direito ao mundo que lhe sirva. Portanto, uma situação como a mudança climática, que vai alterando a relação com a natureza, com os produtos, com o espaço que você vive, de fato hoje se transforma numa catástrofe gigantesca. É, ele ele chega a
tocar na questão da dos movimentos ambientalistas e tal, mas não vou entrar por isso agora. Vou trazer uma outra citação que essa aqui cada uma é pior que a outra. Pior no sentido de atual. É, é melhor na verdade no sentido que é muito atual e que você fala: "Cara, não é possível. 50 anos é muito tempo. É pouco, olhando, né, a humanidade como macro". Mas é é pouco, mas é muito do ponto de vista da modernidade, do tempo histórico da modernidade, que tem aí 250 anos a contar da primeira experiência urbana, né, pra gente
a vida que a gente vive mesmo tem a globalização 25, 20 anos e o cara escreve isso a 50 e faz todo sentido. Enfim, abre aspas. O importante é o autoaprimoramento psíquico, conectar-se com os próprios sentimentos. Olha o romantismo aí, vagabundo, né? É, mas é romantismo. É que a gente falou comer comida saudável, participar de aulas de balé, banhar sem sabedoria ocidental, ó, budismo light, tudo embebido na retórica de propósito. Propósito, a palavra mercadoria é um escândalo. É a palavra que de ordem do mundo contemporâneo é propósito. Autenticidade. Autenticidade e consciência. Então você vê assim,
a ter propósito na vida é uma coisa que algumas pessoas têm, outras têm menos. É assim como vocação para uma profissão, né? É um luxo, é um fato. É grande. Algumas pessoas têm, outras não têm. Trabalham no que tem que trabalhar e porque tem que viver. Make a living, como falam os americanos. Então propósito é a mesma coisa. Tem pessoas que encontram tem propósito por uma questão de temperamento, sei lá. E a a vez algumas pessoas têm propósitos péssimos, by the way. Então, propósito é uma é um substantivo, né, que pede perigoso adjetivo para você
saber exatamente qual é. Mas no mundo que a gente vive hoje não. Propósito virou um signo de que se você tem propósito, você é uma pessoa legal, autorrealizada. algumas pessoas que t propósito, é melhor você manter distante de você, né? Agora esse vínculo, né? Consciência, propósito, autenticidade, é como você mesma falou, é um escândalo à palavra propósito, porque ela hoje domina e muita gente acha que isso foi uma descoberta dos milênios, agora dos ex, né? quando na realidade eh é porque uma característica do do mundo narcísico, isso é uma das forças da argumentação do Lesche,
do entendimento dele, do uso, melhor dizendo, que ele faz, é ele perceber que a cultura do narcisismo, ela vai muito bem com a sociedade de mercado e com o capitalismo. E aí você fabrica e vende propósitos e aí as pessoas saem comprando propósitos ou e aí gera sofrimento ao mesmo tempo, porque se não tem um propósito, sofado psíquico. Exato. O mercado da saúde mental para suprir quem tá sofrendo porque não achou propósito. Olha só. Olha meu a eu acho que parte da humanidade vive sem nenhum propósito e como eu disse, às vezes isso pode até
ser mais safe. É. Porque muita gente com o propósito, o eu li um artigo que o sujeito falava sobre ideologia política em partidos, né? E ele falava assim: "Eu acho muito importante terem partidos fortes, com ideologias fortes, mas jamais como maioria no parlamento." Quer dizer, o partido ideológico forte, ele funciona na oposição, perseguindo determinadas pautas, mas se ele for maioria no parlamento, seguramente ele vai ser ditatorial. É. E e do mesmo jeito, de novo, né, isso é romântico do romantismo, como a gente falou já em outro episódio, no sentido de que nasce como uma reação
ao mundo serializado, automatizado, das indústrias, do capitalismo, da mercadoria em série, né, que matou o mundo da manufatura, da unicidade, enfim. Exato. Mas isso é transposto pro mundo em que o capitalismo tá no seu estágio mais avançado. Então, uma coisa você tá lá no romantismo alemão, numa Alemanha pré-moderna, que não era nem Alemanha em termos de unificação geográfica nem França e Inglaterra, né? É, exatamente, com um certo mal-estar frente a um capitalismo que, imagina, era, não há comparação, não tem nem como a gente imaginar que tipo de capitalismo era o que o romantismo se opunha.
E aí você pega, dá um plot twist, né, torce esse conceito todo e transforma ele na mercadoria mais valiosa. E é subjetivo, que é mais difícil ainda, porque uma coisa é vender a mercadoria pelo seu valor de uso, né? Voltando no velho barbuda comunista. O valor de uso das coisas, o valor de troca já atesta que a gente não tá mais comprando porque a gente precisa, mas a gente já deixou isso há muito tempo. Senão que tinha acabado, compr, a gente tá comprando identidade, a gente tá comprando satisfação, a gente tá comprando posicionamento, a gente
tá comprando propósito, a gente tá comprando tudo menos o que a gente precisa de fato para viver. É, inclusive o nosso nosso não, o querido sobrinho do Freud foi muito importante nisso, porque a a descoberta de que você vende significado junto com os objetos. Porque se fosse só comprar o que a gente precisa, já tinha dado o pau. Já tinha dado pau. A economia não girava, não havia revolução industrial, não ia haver sociedade contemporânea, não ia haver esse consumo gigantesco que existe, que cada um quer um café para chamar de seu, né? Se não tiver
um café para chamar de meu, o mundo não me ama, não me dá direitos. E é muito interessante como L percebe que essa cultura da consciência, né, tem um também um, não é discípulo dele de forma nenhuma, mas alguém que transita por esse essa chave que é pôr em diálogo psicologia e sociologia, que é o Frank Fured, aquele húngaro que residiu na Inglaterra há muito tempo, mas hoje vive em Bruxelas, que é a essa eh eh eh essa percepção muito clara que na cultura do narcisismo você precisa precisa o tempo inteiro comprar signos. Você tem
que comprar signos. E um dos signos que ele fala, apontando aqui pro leste, né, que ele fala, eh, o Leste no livro, ele percebe que é a cultura do narcisismo é uma cultura de uma sensibilidade terapêutica. A, é minha próxima citação. Essa é grandiosa. É, essa é grandiosa. Abro aspas. O clima contemporâneo é terapêutico, não religioso. As pessoas hoje não têm fome de salvação pessoal, muito menos de restaurar uma antiga era dourada, mas sim da sensação e da ilusão momentânea de bem-estar pessoal, saúde e segurança psíquica. E é importante segurança psíquica porque é é uma
é um recurso que na cultura do narcisismo não existe. É muito raro, né? Depois veja, o narcisista é um excelente consumidor no século XX. Excelente. O mundo no século XX, o narcisista ele e na realidade o Leste descobriu uma verdadeira revolução. Os narcisistas tomaram poder. É. tomaram poder, né? Narcisistas do mundo univos. Não foi os proletários, foram os narcisistas. Essa é muito bom. E veja a o culto da consciência, né? É. e essa sensibilidade terapêutica, essa coisa de que há uma atmosfera terapêutica, uma busca de sensações momentâneas que reforcem aquilo que você sente. Imagina toda
a literatura de autoajuda e motivacional que navega de braçada numa cultura que é pautada por subjetividades miseráveis, sofridas, né? Extremamente frágis. A gente não tá, exatamente, não tô, a gente, eu falo por nós, não estão sendo nem irônico porque são frágeis mesmo, são miseráveis mesmos e mesmo carentes, né? É a nossa cultura, entendeu? Nossa, a gente vive dentro dela e ela nos contamina o tempo inteiro. Examente. Você pode tentar se afastar, mas ninguém aqui tá se pondo na torre de marfim, de modo que a gente não esteja antes que alguém fale isso. É, é antes
que alguém fale, ai os dois não são. Então, é, né? É. Não, mas essa semidade terapêutica é maravilhosa. Maravilhosa. Não, porque ele acertou em cheio. É, a gente de em 50 anos desenvolveu o mercado da saúde mental plenamente. A gente tá no ponto dele e tudo tem que ser terapia, que é o que o fur também vai retomar, né? Esses signos, ele vai percebendo que são signos já no comecinho do século XX, são signos terapêuticos voltados para um vocabulário terapêutico, né? E a mesma coisa que o Lesh, ele reconhece justamente uma era de vulnerabilidade que
o L percebe. E isso quando você tá produzindo conteúdo nas redes, eu que tô nessas aí, aí você contrata um estrategista de conteúdo, mas ele fala para você, Gabi, você tem que demonstrar vulnerabilidade nas sedes. É assim que gera conexão com as pessoas. Você não pode se apresentar como uma mulher que faz doutorado na filosofia, que conversa com o Pondé, que faz isso, que faz não, você tem que abrir o coração, se expor. A regra, a regra, a palavra de ordem das redes sociais é expor vulnerabilidade. É aí que gera vulnerabilidade brega isso aí. Mas
olha isso, né? É, mas é muito brega. E inclusive porque assim, eh, se você tá expondo sua vulnerabilidade para engajar, você tá no estágio mais terrível de se vender, né? Sim. É, é uma monetização completa de si mesmo. Mas é isso que são as redes sociais. As redes sociais é um marketing digital, é você vender você mesmo na forma mais clara que existe da mercadoria, tomando conta de você. da sua vida. Não é mais que você se identifica com uma mercadoria que você compra e quer agregar. Você se tornou a sua subjetividade uma própria, nós
de novo, nós tornamos a nossa própria subjetividade, a mercadoria, a moeda de troca nas redes sociais para conseguir o engajamento, para conseguir o que quer que E olha, é muito engraçado, porque engraçado não, mas você falando me fez lembrar a uma série, um filme e um livro que é o Leopardo, né, do Lampedus. usa o livro. E ah, nessa nessa série, nesse filme, nesse livro, que a isso que eu vou falar tá nos três, é claro, porque nem tudo tá nos três. O livro tem um um conjunto de elementos que alguns aparecem no filme, outros
aparecem na série, normal em adaptação, né, de livros. Mas é quando o personagem principal, que é um príncipe italiano, né, da Sicília, se passa na união da Itália, que é um movimento muito embebido na Revolução Francesa, na ideia de progresso, de futuro, que ele fala, se referindo a eles, ah, nós somos os leopardos e os leões que nós somos, vão desaparecer no nosso lugar. virão as hienas e os chacais, certo? Essas e aí depois ele diz: "E no final nós, leopardos e ienas vão continuar achando que nós somos o sal da terra, né? Mas assim,
o que ele quer dizer é que você tem uma virada em que os chacais, o que que significa chacais, hiena?" significa animais ah que são identificados com animais, no caso das hienas inclusive que come carne podre, que é muito oportunista e tem um um monte de elementos no livro, no filme, na série que mostra esse tipo de comportamento entre o príncipe e o prefeito, né, da cidadezinha onde ele tem a casa de verão dele, né, dona fogata, a propriedade dele, a cidadezinha. E e fica muito claro isso. O narcisista ele tá muito melhor a a
pessoa que cede a cultura do narcisismo, certo? Porque como ela é cultura, ela pode pegar você de fora também, o ambiente que você vive. Quando você cede a cultura do narcisismo, então, por exemplo, você, o exemplo que você deu, se você seguiu o seu o estrategista que falou para você, expõe a vulnerabilidade, você começa a expor vulnerabilidade, você começa a engajar, você começa a ganhar dinheiro e aí você entra na dança, você fica feliz, né? Por isso que é uma coisa que a cultura do narcismo adora é justamente um discurso otimista. É porque não aguenta.
E tem uma coisa que o o João Canalha, nosso amigo, falava que ele dava aulas de secando a mercadoria. A mercadoria. Um livro muito bom chamado Crítica da Estética da Mercadoria. Difícil, mas muito bom. E ele falava: "Não tem nada pior no mundo do da mercadoria do que não estar no mundo da mercadoria". É. É. Você não existe. Você não existe. É. Você não tem lugar. Então, de novo, hipócrita. leitor meu igual meu irmão. A gente não tá se colocando aqui numa torre de marfim dizendo que ai essa cultura dos narcísicos tá lá e a
gente tá aqui filosofando a 2000 pés de altura. É, de vez em quando a gente faz um disclaimer só para mostrar que a gente tem alguma generosidade, né? Exato. Que a gente é humano. É, vou para uma outra citação. Ele fala, e aqui eh, que a gente dá que o homem econômico do século XX, do começo até o pós-guerra, dá lugar ao homem psicológico do final, eh, do século XX. E ele não viu, né, até hoje. Isso também é uma coisa que o Balman volta muito depois e que justamente vai mudar muito a nossa relação
com o trabalho, coisa que a gente já falou também no pobre de direita aqui no episódio, essa mudança ao longo do século XX do da categoria do trabalho, de como as pessoas se relacionam com o trabalho de uma maneira geral. De novo, uma citação assombrosamente atual. Abro aspas. A inflação corroi investimentos e poupanças. A publicidade afugenta o pânico da dívida, estimulando o consumidor a comprar e pagar depois. Uma alteração profunda em nossa percepção de tempo transformou os hábitos de trabalho, os valores e a definição de sucesso. A autopreservação substituiu o autoaprimoramento como meta da existência
terrena. O self-made man, personificação arquetípica do sonho americano, devia sua prosperidade ao esforço, a sobriedade, a moderação e a autodisciplina, e também ao hábito de evid de evitar o endividamento. Ele vivia para o futuro, abrindo mão de luxos em prol do acúmulo meticuloso e paciente. O Balman fala muito isso, né, da dessa mudança de comportamento de uma geração que poupava porque a vida acontecia depois da aposentadoria para uma geração que até slogam de cartão de crédito, a vida é agora. É, né? É, é. Inclusive utilizando ideias filosóficas antigas, né? Aproveite o dia, né? Compre com
cartão de crédito, não pense, né? E assim, essa carpediaem, né? Exatamente. Carpedia, né? Exatamente. Essa essa essa frase. Então assim, ah, essa essa citação aí mostra o que primeiro o sonho americano e e a personalidade americana foi muito construída historicamente em cima da mentalidade calvinista, protestante de contenção, né? Contenção da natureza, a contenção dos arroubos, né? A ideia de você acumular lentamente, isso podia ser indício que você era predestinado, pensava os calvinistas, né, na teoria da predestinação da graça. E agora no universo da cultura do narcisismo, você não tem adiamento do prazer, você não tem
noção de responsabilidade, você não busca autoaprimoramento, você não busca superar, apesar que se fala hoje muito superação, superação hoje é antes de tudo você conseguir correr cada vez mais e mais postar aqueles numerozinhos lá do seu desempenho quando você correu. andou de bike, quantos quilômetros, qual tempo e qual a velocidade? É, é isso. Você vai postando isso, isso é completamente narcísico. Não fazer o exercício, né? Você pode fazer exercício. Claro, ele fala que há um culto físico enlouquecido narcisismo, mas de fato, mas a questão aqui é de outro grau, né? Não é o fato de
você fazer o exercício ou andar de bike em si. Antes que quem anda de bike começa a xingar. Ah, veio de novo, né? Mas assim, é xingando quem anda de bike, mas assim, não é você postar isso, seus números, seus índices. Terror. Já postei, gente. Então, olha, olha, olha que coisa. Você se curou, né? Acho que sim. Não, mentira. Não me curei. Eu só parei de correr porque machuquei o pé. Essa é a verdade da história. Então você veja que às vezes a graça chega de formas estranhas. Você machucou o pé, parou de correr e
parou de postar, parou de ser narcísica. Ai ai ai. Você vai postar seus ritmos de natação também? Não, porque eu perdi o meu Apple Watch, quase morri afogada. Não, mas isso é um exemplo que eu lembrei, porque eu sei que existe, né? Isso é um exemplo claro da cultura do narcisismo no seu estágio mais avançado, né? Porque ele percebe obsessão com a saúde, obsessão com a cultura física, o cuidado do corpo, isso tudo tá claro, né? Mas hoje não basta fazer isso, não. Você tem que postar. É, você tem que mostrar. E ainda é uma
coisa que a gente discutia em relação ao meu conteúdo, diferença do seu você, pela sua geração, você pode se dar o luxo de ter uma relação com as redes sociais em que você nem mexe, nem sabe que elas existem, né? Eu já é diferente porque é você tem que escolher jogo o jogo ou não jogo o jogo. Tem um jogo. É, então a a as redes sociais, como a gente falava num outro episódio, quer dizer, quanto mais jovem você é, pelo menos dentro do cenário que a gente tá vendo hoje, pode ser que mude daqui
algum tempo, os cada vez mais jovens, é isso que eu quero dizer, serão cada vez mais escravos das redes sociais, a não ser que mude. É muito difícil pensar que muda, porque pelo menos até agora as mídias sociais elas são claramente monetizadas. Sim. E como elas são monetizadas e como elas fazem parte da estrutura da produção, certo? Então é difícil imaginar que mude. É, tá na base, é difícil imaginar que mude, né? Então, portanto, o horizonte que no na cultura do cismo é baixo, né? como fala o Les quer dizer, eh, o horizonte é ele
é quando você olha assim, cada geração mais jovem será mais escrava desse universo para trabalhar, para estabelecer relações, para existir, para colocar limite nisso. É, então a cultura do narcisismo é uma cultura necessária para o mundo contemporâneo continuar sendo o que ele é. E e essa questão do, eu só queria fazer dois paralelos desse, dessa última citação, que o Jameson ele fala, né? A gente não tem visão pro futuro, quer dizer, a gente vive o eterno presente. Isso é uma característica que o o Jameson, ess cara que eu estudei, que é da teoria crítica, fala
que é uma das principais características da pós-modernidade, essa falta de historicidade, de relação com a história, não só pela nostalgia, uma nostalgia rasa. Ai, eu queria ter sido uma mulher da idade média para usar os vestidos. Se ela usar isso para parir também, sem nenhum tipo de anestesia, talvez, sei lá, entendeu? Enfim, ou que esse é o tipo de consumo do passado que a gente tem futuro, esquece, né? Não tem nenhum. E o Balman, eh, também com essa inversão de comportamento entre um homem, então, que era econômico, que cujo trabalho, então, a virtude era eh
não viver a vida agora, poupar. Pensa nesse coisa calvinista como você tava falando. Hoje em dia deu, entendeu? Na Kincadashian que é o culto do excesso, do excesso do excesso. É muito brega, cara. Você imagina essa cultura porque nós estamos falando da cultura americana. Como a cultura americana ela foi hegemônica no pósegunda guerra, a gente tá falando da cultura global. Sim, não tem como. Mas, mas é óbvio que quando a gente fala especificamente da cultura americana, tem uma loucura intrínseca a eles. Por mais que eles passem essa loucura pro resto do mundo, nes fica mais
atinge atinge um nível mais profundo. O les fala uma palavra que ele fala em inglês, né, na na versão original, que é selfaccomplishment. Quer dizer, a cultura do narcisismo não tem selfaccomplishment. Quer dizer, você não busca uma realização por que você falava aí, auto é ao invés de autoaprimoramento, é só autopreservação, né? Você não autorrealiza coisa nenhuma. Você tá o tempo inteiro preocupado em preservar quem você é, o que você é. Você quer que os outros ajudem a você preservar a E você entende que realização é isso, que autorrealização é isso. É quase o ideal.
É o reconhecimento. O tempo inteiro eu ser reconhecido. Por isso tem a ver com o sucesso, a ideia de sucesso, né? O sucesso pelo sucesso, não o sucesso vinculado ao resultado de um processo. Sucesso. Exatamente, né? e em que o gozo estava no processo. É exato. O gozo estava no processo. É como se você pensasse que a celebridades na época que o adorno escreve a indústria cultural eram celebridades porque atuavam, eram atores, tal. Hoje em dia você é famoso porque você é famoso. É isso. É muito louco. Você é famoso por quê? Ah, porque eu
tenho rede social, porque eu porque eu posto conteúdo, que eu sou famoso. Não, o que você fez para chegar lá? Como assim que eu fiz para chegar lá? É, você é famoso. É por isso que as redes sociais é a ferramenta da cultura do narcisismo. Exatamente. É a ideia de Ele fala isso, eu não peguei essa citação, mas ele fala da ideia de ser uma celebridade, de querer ser uma celebridade, que o a celebridade é o modelo de sucesso por excelência, porque é famoso. Então você, que que você quer? Eu quero ser famosa. Por quê?
Porque eu quero ser famosa, não porque eu realizei algo e esse algo é importante pra sociedade, para alguma coletividade. Daí, como consequência, eu fiquei famosa e fiz sucesso. E é por isso que tanta gente, principalmente os mais jovens, é normal que o seja, pergunta coisas como: "O que que você fez para chegar onde você chegou?" Como se isso fosse alguma coisa que você consegue expressar numa fórmula, numa frase. Tudo bem que alguém que vive na cultura do narcisismo no mundo do século XX e é jovem, faça uma pergunta como essa, porque tá imerso nisso e
não sabe um monte de coisas. Mas o pior é que tem um monte de gente adulta, mais adulta, que vende isso para eles. É, então um monte de gente não. E a rede sociais, as redes sociais, as pessoas, teve até um um seguidor nosso que falou: "Ah, não, não vendam curso, não façam isso". Aí eu respondi para ele, eu falei: "Caro, fulano, tem uma inversão aqui, né? As pessoas estão na internet vendendo cursos e fórmulas prontas de sei lá o quê. O ofício de um filósofo, de uma professora por excelência é dar curso, é ministrar
aulas, é passar este conhecimento adiante. Então, se tem alguém que tem eh como eh não é autenticidade, mas é que que assim tá na tá no nosso ofício, que tá autorizado, que tá autorizado, é a fazer isso, somos nós professores. O resto que tá dando curso aí sobre como viver, empacotando alguma fórmula, fazendo alguma coisa que tá como comer maçãs, como morangos para você ser uma pessoa melhorada que tá no lugar errado na hora errada. A grande parte da minha vida até hoje profissional foi dar curso para um lugar fechado, numa instituição e tal, né?
Então só para deixar essa esse disclaimer que é não, porque ficar claro, né? É, na realidade não dá cursa, é que fica o tempo inteiro de graça. Exato. Falando ali, falando a linguagem da mercadoria que fica tempo inteiro de graça. Exatamente. Não dê o nível desse pessoal que dá curso. É tudo de graça. Mais uma. E aí eu vejo muito ecos de Balman aqui. O enfraquecimento dos laços sociais, cuja origem está no estado predominante de belicosidade social, reflete, por sua vez uma defesa narcísica contra a dependência. Opa. Não. E e a belicosidade, então, no tempo
da polarização de lá para cá, né? E essa enorme dificuldade de reconhecer a dependência, que isso é muito interessante na contradição narcísica, né, que serve de categoria pro lche, é que o terror em relação à dependência é típico de uma personalidade narcísica. Porque a ideia é de que se você não é narcísico no sentido clínico, ah, você lida com a dependência de uma forma um pouco mais ah dada, porque a gente não é dependente, é, a gente não é dependente absolutamente o tempo inteiro, né? Mas a gente depende de uma série de coisas. A, o
simples fato da gente conseguir fazer coisas depende de uma gama de pessoas que cuidaram da gente até anos e cuidam até hoje de formas, inclusive cuidam no sentido econômico. Sim. Porque veja bem, você encontrar pessoas que querem trabalhar com você mesmo que você pague, a não ser que você esteja falando de pessoa que tá passando fome, não é tão óbvio assim, certo? Só porque a pessoa vai ganhar dinheiro com você, certo? Quer dizer, quanto pessoas, que é uma característica da sociedade de mercado internacional, é você usufruir de relações de parceria, que são relações desconhecidas. Alguém
fabrica uma coisa em tal lugar e você usufrui aqui porque essa pessoa fabricou lá, porque existe uma rede de transmissão, certo? Que leva a coisa de um lugar para outro. Então você consegue consumir isso aqui que a gente nem imagina, né? Nem imagina, nem conhece. pandemia, por exemplo, que deu o pau dos chips, que não produziram os chips, o efeito em cascata, que isso de uma quantidade de mercados enormes. Então, a gente tá falando aqui, só se eu entendi bem, dois tipos de dependência, né? Na dependência psíquica, subjetiva, física de outras pessoas e numa dependência
macroestrutural como sociedade. Sim. É social, econômica. Imagina na pandemia o que a gente dependeu das farmacêuticas que fizeram vacina numa velocidade que ninguém imaginava. Todo mundo dizia: "Não, daqui 10 anos impossível fabricar vacina em menos de 10 anos". Não, não, não, né? Mas assim, voltando a essa coisa da dependência que você falou, dos ecos do Balman, quer dizer, o horror da dependência é típico de quem não suporta se relacionar com ninguém. Por isso que o amor virou líquido pro Balman, né? Porque as gerações que nasceram na cultura do narcisismo preferem a descartabilidade a uma relação
profunda, duradora. Quanto mais profunda, mais duradora, mais dependente você tá do outro, mais difícil vai ser você sair daquela relação. E que o caráter de durabilidade, digamos, se podemos falar assim, de uma relação e da continuidade de uma relação não tem a ver necessariamente com a felicidade contínua. É isso é óbvio, né? Não tem não tem característica mais clara da cultura do narcisismo do que você erguer a felicidade como o valor primordial da vida. e achar que em todas as suas relações, especialmente na relação amorosa, que é a mais complicada, você vai ser feliz o
tempo inteiro. E aí na primeira dificuldade, desculpa, é isso que o Balman fala desse amor líquido e dessa descartabilidade e que tá aqui, né, bebendo no leste nessa dificuldade de laços sociais do Narcísico. Na primeira, no primeiro tropeço que essa relação dá de amizade, de qualquer coisa, você descarta, porque realmente a relação ela dá trabalho. Toda a relação dá trabalho. Dá com pai, com mãe, com marido, com tia, com avó. Não, nada vai ser flores o tempo inteiro. É mais fácil você ter uma relação belicosa, como você leu aí, e que de lá para cá,
né, o mundo tá extremamente belicoso. Exato. Exatamente. Assim, todo mundo briga com todo mundo. Todo mundo briga com todo mundo. A tal da polarização, inclusive. Por isso que quando eu li isso da belicosidade, eu falei: "Nossa, até nisso ele acertou". Ele acertou. E ele também vai apontar no livro aquilo que ele vai chamar de sex warfare, que é o conflito entre os dois sexos. já apanhou muito das feministas o Leste, né, quando ele falou que na cultura do narcisismo esse conflito entre homens e mulheres ia ficar cada vez pior por uma razão muito simples, porque
para você manter uma relação, inclusive com uma outra pessoa, diferente de você, essa relação de dependência pode ser cada vez mais insuportável, né? E aí você vê, por exemplo, nessas discussões sobre os moleques Red Bill que a gente fazia na série nosso, pelo amor de Deus, tá até hoje rodando os moleques Red Pill e tal, você vê como há como há narcisismo nisso aí, a incapacidade de você, no caso dos Red Pillar com uma transformação de comportamento feminino e você achar que isso é o fim do mundo, que não tem mais o que fazer, não
há não há como se relacionar e tudo mais, né? e a própria demonização dos homens pelas feministas, fazendo com que os homens pareçam o tempo inteiro como maus. Todos os homens é um préstam, que é como outro dia eu escutei alguém dizia assim: "Não significa que todo não significa que todo homem estuprador, mas significa que todo estuprador é sempre homem". Essa frase é tão fofa. É o famoso sofisma, certo? É o famoso sofisma. É quando você fala uma frase que parece que tem todo sentido, mas na realidade ela é só óbvia e não traz nenhuma
informação. O fato de que todo estuprador é homem, é você deduzir daí que todo homem, portanto, deve estar sob suspeita, é o que em filosofia também se chama de não sector. Uma coisa não segue a outra, mas você faz parecer que segue e faz parecer uma conclusão. Ah, então, cultura do narcisismo total. Bom, o narcisismo então foi uma espécie de resposta para lidar com as tensões da vida moderna. E aí vou citar o lesche. As condições sociais predominantes tendem a despertar traços narcísicos que estão presentes em grau variável em todos nós. Essas condições também transformam
a família que, por sua vez molda a estrutura subjacente à personalidade. Então é essa, por que que eu coloquei essa citação de novo? que a gente já tinha feito esses disclaimers antes, eu tinha me esquecido dela, mas é isso. A gente e eh de alguma maneira ela afeta cada um de nós, não igual para todos, não do mesmo modo. É óbvio que gerações mais velhas, por terem forjado sua personalidade, sua subjetividade num ambiente ainda menos contaminado pela cultura do narcisismo e pela sociedade da imagem, pelas redes sociais, sobretudo, tendem a ter um distanciamento um pouco
maior, não tantas sequelas, enquanto que é óbvio que as gerações mais novas, dos millennials para baixo, são cada vez mais afetados por isso. e ao ponto da gente enxergar claramente como isso aqui tá presente nas novas gerações e na própria dificuldade de amadurecimento que a gente falava na parentalidade paranoica ou no para que ser adulto que eu te mandei esses dias uma dizendo a história do meu aluno que falou que ele que tinha 24 anos e que não queria ser tratado como tu. É, que agora é oficial, né? Agora é oficial. Eu mandei pro Pondé,
falei: "Olha que meu aluno era vanguarda. O conceito de adolescência agora expandido até a ciência provou que anos. Ciência. Olha, é isso, né? Tem outra coisa da ciência, muito embora a gente seja obviamente a favor da ciência, trabalhamos com ciência, com método científico, com referência, com ABNT, com toda coisinha bonitinha, tal, tem muitas pseudo ciência aí querendo ser ciência. É, não, porque qual qual afinal de contas a o uso de você afirmar que a ciência provou que a adolescência vai até 24 anos? Primeiro porque a adolescência é uma característica histórica, hein? E social. Ela é
histórica, social. Você não pode falar que existia adolescente há 1000 anos atrás, como existe hoje, mas deixa isso de deixa isso de barato, né? Quando você fala que a ciência provou que adolescente eh continua até 24 anos, inclusive isso tá autorizando a você ser bobo até 24 anos, a não ser responsável por coisa nenhuma, como também amplia toda uma gama de atividades científicas que tem o adolescente como objeto e gera mais mercado. É um nicho de mercado. E logo logo, provavelmente a ciência vai provar que a adolescência vai até os 34 anos. O pior são
os primeiros 40. É essa a parte pior. A gente tem que ir embora, Gabi. Eu sei. Eu também. E aí, ó, de novo. Ele me me desconcerta quando ele faz isso. Eu já tô na última. Já tô na última. Uma última citação que é para fechar, na verdade a gente nem precisa eh comentar porque ela é autoexplicativa. E ele diz, abro aspas, novas formas sociais requerem novas formas de personalidade, novos modos de socialização, novas formas de organizar a experiência. O conceito de narcisismo nos fornece não um determinismo psicológico pré-fabricado, mas uma maneira de compreender o
impacto psicológico das mudanças sociais. recentes, recentes para ele são as mudanças de do pós-guerra, né? 50, 60, 70 e que permanecem atuais. Mas é isso, ele tá aqui justificando que uma série de coisas mudaram. A economia mudou, a sociedade de mercado mudou, a produção mudou, você teve o boom, você teve fordismo, você teve os tais dos 30 anos dourados do pós- Segunda Guerra Mundial, que a gente também já falou aqui. Sim. E a sociedade muda e ela muda e vai para um lugar que a cultura do do narcisismo para mim nada mais é do que
a cultura adaptada ao consumismo desenfreado. É porque começa lá cujo a gente atinge hoje. É porque o o consumo é uma prática social que faz bem ao a alma narcísica, porque ela precisa consumir o tempo inteiro, senão ela não existe. comunista. Gente, tenho muito ainda para dizer teria, né? Não fosse o Pondé cortar de novo. Só para dizer, a gente falou um monte de redes sociais, o Leste já fala da relação com a imagem, já fala da TV, já fala de tudo. Leiam. É realmente é uma obra fácil de ler, muito instrutiva e maravilhosa. Eu
vou então para uma ponderação final. Faz tempo que eu não faço, né? A cultura do narcisismo reflete uma busca pela felicidade em um beco sem saída de preocupação narcísica com eu? Reflete. Como eu falava há pouco, a a felicidade é um grande valor na cultura do narcisismo e a obsessão pelo eu. É assim, tipo, passe a vida inteira massageando o seu eu. E quando alguém falar alguma coisa que se ofender, lembre que na realidade isso também é uma massagem no seu eu. Jobers, ficamos por aqui. Espero que vocês tenham gostado e até a próxima. Yeah.
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