Hoje, nós vamos falar sobre mais sete condições que podem ser confundidas com o autismo. Nós já temos um vídeo aqui no canal falando sobre cinco diagnósticos psiquiátricos que têm alguma interseção com o diagnóstico de autismo e, por isso, às vezes podem ser confundidos, principalmente por pessoas leigas. Mas, infelizmente, nós sabemos que o diagnóstico de autismo é bastante complexo e algumas pessoas recebem esses diagnósticos equivocados ao longo da vida e, só na fase adulta, às vezes têm o diagnóstico correto de autismo.
Então, por isso, nós estamos aqui para conversar, para esclarecer, né, para falar sobre esses detalhes que às vezes são mais sutis ou delicados, né, menos óbvios do autismo, e para que todo mundo tenha o suporte adequado. Na nossa prática clínica, nós chamamos esse raciocínio de diagnóstico diferencial e, por isso, vocês vão ver que dentro do DSM-5 TR mesmo tem uma lista desses possíveis diagnósticos que precisam ser aventados ao longo de uma avaliação. E agora, antes de nós entrarmos aqui propriamente no assunto, seja bem-vinda, seja bem-vindo ao canal, à nossa comunidade, que nós falamos bastante sobre autismo nível um de suporte, a apresentação feminina do autismo.
Temos bastantes vídeos sobre esse tema e vai ser ótimo ter você conosco aqui nessa jornada de aprendizagem. Então, por favor, se inscreva no canal se você ainda não é inscrito, curta o vídeo, já aproveite para isso. E, dito isso, vamos ao nosso diagnóstico diferencial número um, que é o TDAH: o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, que é uma das comorbidades mais frequentes em pessoas autistas e é também uma que mais gera confusão, principalmente quando se trata de meninas autistas, porque elas podem ser muito desatentas durante a infância e, por isso, vão receber primeiro o diagnóstico de TDAH.
E, às vezes, muito tardiamente, quando são autistas, o diagnóstico correto de autismo vai ser aventado. Mas por que esses dois diagnósticos podem gerar confusão? Bom, tanto no TDAH quanto no autismo, existe uma tendência à hiperatividade, hiperatividade motora, hiperatividade mental; também há uma tendência a ter um hiperfoco.
Nós chamamos de monotropia. Alguns cientistas e pesquisadores até pensam que, talvez, essas duas condições sejam apenas uma, mas em um espectro, né, em extremos diferentes do espectro. Mas tem esse aspecto da monotropia: a pessoa vai ter dificuldades sociais.
Ela não vai ter comprometimento nas interações; ela vai compreender bem as pistas sociais ou, talvez, ela não compreenda, ela perca essas pistas sociais e cometa gafes por desatenção, não por falta de cognição social, não por ter dificuldade de interpretar essas pistas sociais. Mas, aí, quando há essa dificuldade na interação, na reciprocidade social, no cultivo, no início de relacionamentos, no comportamento não verbal, também aí sim, talvez, ah, esse diagnóstico de autismo seja pensado junto com o diagnóstico de TDAH. Um outro ponto é que os comportamentos repetitivos e restritivos em pessoas que têm TDAH podem ser compensatórios e, em geral, a pessoa não é tão inflexível como é o caso das pessoas autistas.
Talvez não tenha hipersensibilidade ou hiporreatividade a estímulos sensoriais, mas pode ter o hiperfoco, que, às vezes, é um hiperfoco mais fluido, com uma tendência maior a se distrair e mudar de atenção com mais frequência, e as estereotipias raramente são percebidas. E, por falar em estereotipias, o segundo diagnóstico diferencial é o Transtorno do Movimento Estereotipado. Então, a pessoa que tem esse tipo de transtorno vai ter movimentos repetitivos e muito estereotipados, quer dizer, pouco fluidos, pouco espontâneos, muito marcados.
E, nesse caso, se a pessoa apenas apresenta esse tipo de movimento, esse tipo de alteração de sintoma, se a gente quiser dizer dessa forma, mas não tiver alterações na comunicação, na interação social e nem outros tipos de comportamento repetitivo e restritivo, então não há motivo para se pensar em um diagnóstico de autismo. Aí, existe um diagnóstico específico para a pessoa que apresenta apenas esse tipo de movimentação exagerada e diferente. Nosso terceiro diagnóstico diferencial vem aqui num combo dos transtornos de ansiedade.
Pessoas autistas, muito frequentemente, vão se queixar de ansiedade, inclusive os transtornos mais frequentemente observados, né, como comorbidades, são as fobias específicas, que ocorrem em mais ou menos 30% dos autistas. E 17% dos autistas também tendem a apresentar tanto a ansiedade social quanto a agorafobia. Em comportamentos não verbais, na integração também da gesticulação, da expressão corporal com a fala, se ela inicia bem as suas interações, se ela compreende o que está acontecendo no seu entorno, se ela capta as pistas sociais e se sabe cultivar os seus relacionamentos, é óbvio que uma pessoa que tenha o transtorno de ansiedade, qualquer um deles, vai tender a ter restrições sociais e, talvez, por não exercitar essas habilidades, ela acabe tendo menos traquejo também.
Mas, como sempre a gente diz aqui, nós precisamos observar a infância. Então, em transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, nós vamos observar a precocidade dos sinais, e esse é um ponto fundamental durante a nossa avaliação. O quarto diagnóstico diferencial é o Transtorno Obsessivo Compulsivo, o TOC.
Então, os comportamentos repetitivos e restritivos também são características marcantes, determinantes, tanto no Transtorno Obsessivo Compulsivo quanto no Transtorno do Espectro Autista. Então, nas duas condições, esses comportamentos repetitivos vão ser considerados inapropriados, incomuns, desadaptativos. Só que, no Transtorno Obsessivo Compulsivo, os pensamentos intrusivos frequentemente estão relacionados a temas como contaminação.
Então, a pessoa tem a necessidade, né, o impulso incontrolável de lavar as mãos, de passar álcool demais no corpo, de tomar muitos banhos ou a tendência a organizar demais as coisas, e não é uma sistematização como no autismo. É uma tendência realmente incontrolável: se ela não colocar aquele objeto ali no lugar onde ela imagina que deva estar, ela sente um desconforto muito grande. Esses pensamentos também podem estar ligados a questões sexuais, então a pessoa sente culpa por ter intimidade ou fica, né, tem pensamentos mais moralistas.
Ter também pensamentos intrusivos religiosos, então, a necessidade compulsiva de fazer orações. E a gente percebe mesmo que a pessoa manifesta, ela compartilha essa tendência com a gente como algo incontrolável. Então, por isso que chama pensamento intrusivo.
As compulsões, elas são realizadas geralmente em resposta a esses pensamentos intrusivos, como uma tentativa de aliviar a tensão, aliviar a ansiedade. Como tentativa de expulsar esse pensamento, quer dizer, se eu colocar o objeto lá, justamente onde ele deve estar, se eu alinhar a roupa toda por cores, aí eu vou ficar bem. Só que isso não acontece.
A tendência é que os pensamentos obsessivos fiquem cada vez mais fortes. No transtorno do espectro autista, os comportamentos repetitivos incluem, classicamente, mais comportamentos motores e estereotipados, né? Às vezes, a fala também é estereotipada.
A pessoa tende a balançar, movimentar as mãos, tem as estereotipias. Às vezes, vê como enrolar o cabelo, que parecem mais sutis, mas são muito fortes. Tem aluno meu que chega a retirar o pelo da barba todo porque fica com a estereotipia.
Sim, tem uma aluna também que perdeu a digital de tanto que pressiona um dedo contra o outro. Geralmente, não está associado a um pensamento e ela faz isso. E, nesse caso, no caso das pessoas autistas, de verdade, tende a gerar alívio.
Os comportamentos mais complexos também, como a insistência em manter a rotina, passar pelo mesmo caminho, alinhar os objetos, geralmente trazem esse conforto e são regulatórios. Essa é a diferença básica entre TOC e o TEA (transtorno do espectro autista), porque no TOC, quanto mais a pessoa tem pensamentos intrusivos e quanto mais ela tem comportamentos compulsivos para tentar aplacar aquela angústia, mais ela entra nessa repetição e mais desconfortável ela fica. No caso da pessoa autista, pelo contrário, esses comportamentos, as estereotipias, tanto vocais quanto motoras, e às vezes até a inflexibilidade, tendem a gerar conforto.
Pode causar desconforto para a família, para quem está em volta, porque às vezes se sente um pouco regulado, mas, no caso da pessoa autista, ela tem esses comportamentos como reforçadores. O nosso quinto diagnóstico diferencial é a esquizofrenia. Não deveria causar confusão, mas o próprio DSM-5 traz como diagnóstico diferencial, porque, principalmente, quando a esquizofrenia tem início na infância, às vezes o comportamento social da criança também vai ser diferente.
Ela pode ter um período de desenvolvimento mais ou menos típico, mas quando, antes da crise, num estado prodrômico, que se chama, aí talvez ela tenha prejuízos sociais, não consiga interagir, fique mais isolada e pode ter falas também diferentes. Às vezes, crenças ou uma fala mesmo atípica, que são sinais de alguma alucinação, de algum delírio. E aí isso pode ser confundido com os déficits sociais e com a dificuldade de se comunicar também.
Eu lembro uma vez que estava atendendo uma criança e ela apontava para alguns lugares e não havia nada nesses lugares, mas a mãe sabia reconhecer a partir da fala repetitiva dela, que era uma fala idiossincrática, que a gente chama. Então, a gente não compreendia direitinho o sentido, mas a mãe compreendia. Então, era uma fala repetitiva que ela usava para se comunicar e ela apontava, e a família compreendia que aquela fala tinha valor comunicativo.
Então, não era esquizofrenia. Mas quem estava de fora podia pensar que ela estivesse alucinando. E aí, as alucinações e os delírios são as características fundamentais da esquizofrenia, né?
São características definidoras, ou seja, vão estar sempre presentes. Por outro lado, no autismo, não existe esse tipo de comportamento. Então, a criança autista, mesmo que tenha um comportamento atípico, não significa que ela esteja vendo coisas ou que ela esteja vendo o ambiente dela de forma distorcida ou de forma diferente da forma que os outros veem.
Ela só às vezes não sabe comunicar ou fica mesmo no seu mundinho. E aí, os profissionais precisam ter em mente sempre, durante um processo de avaliação, que as pessoas autistas são muito literais. Então, se você pergunta a uma pessoa autista se ela ouve vozes, se ela ouve barulhos que as outras pessoas não ouvem, talvez ela diga que sim, mas porque ela realmente ouve, e esses barulhos são reais.
Ela ouve a voz do vizinho ao lado, ela ouve um avião passando, ela ouve as pessoas mastigando, e talvez para os outros esses barulhos sejam irrelevantes. Só que para o autista não, porque a pessoa autista pode ter a hiperreatividade aos estímulos sensoriais. Mas isso não é uma alucinação.
O nosso sexto diagnóstico diferencial é o transtorno explosivo intermitente. Então, tanto no autismo quanto no transtorno explosivo intermitente, as pessoas podem ter explosões (meltdowns) tanto de agressividade quanto de impulsividade, podem ter algum tipo de comportamento descontrolado e, em geral, as pessoas que têm TDAH também são impulsivas. Então, olha só como várias condições psiquiátricas podem fazer interseção, podem ter características semelhantes.
E aí, as pessoas que têm TDAH, muito frequentemente, também apresentam comportamentos explosivos, principalmente meninos, né? Um comportamento mais frequente em garotos, esses comportamentos externalizantes. Agora, como nós vamos saber se é um transtorno explosivo intermitente ou se é um meltdown do autismo?
Mais uma vez, o autismo vem com quê critério? A dificuldade na reciprocidade social, dificuldade nos comportamentos não verbais, na integração dos comportamentos não verbais e comportamentos verbais, né? Na comunicação.
Além disso, a pessoa vai ter dificuldade para iniciar os relacionamentos, para fazer a manutenção e para compreender as pistas sociais. Ela precisa apresentar pelo menos dois aspectos também do critério B, que são as estereotipias vocais ou motoras, a inflexibilidade mental, os hiperfocos, interesses especiais e a hipo ou a hiperreatividade. Então, precisa cumprir esses critérios.
Além disso, nós precisamos observar a precocidade e esses sinais realmente precisam ser justificados pelo transtorno do espectro autista e causar muito prejuízo. Explosivo intermitente também causa prejuízo, obviamente. Mas se a pessoa eventualmente só explode, nós temos um diagnóstico específico para esses casos.
Então eu vou dar um exemplo de um trono explosivo intermitente puro. Eu me lembro de uma amiga que estava num trem, feliz com os amigos e tranquila, mas ela ouviu crianças atrás dela com balões, bexigas. Elas brincavam com os balões, estavam se divertindo, mas o atrito de uma bexiga com a outra, de um balão com o outro, causava um barulho muito aversivo para ela.
E aí ela sustentou aquela tensão por um tempo, mas não aguentou e teve uma explosão: virou para trás e estourou todos os balões das crianças. Quer dizer, aquilo foi diferente, né? E foi desproporcional, um comportamento desproporcional e não adaptativo.
Ela tinha um comportamento regular durante a vida dela, mas quando tinha algum tipo de tensão dessa, ela explodia com agressividade. O sétimo diagnóstico diferencial é o transtorno disruptivo da desregulação do humor. Esse diagnóstico é pouco falado, mas eu sinto que na clínica aparece com frequência, e vocês vão observar quando esse diagnóstico está presente, porque a criança tem uma desregulação do humor mesmo.
Os pais costumam dizer que o filho ou a filha já nasceu mal-humorado, irritável, e inclusive têm que fazer o diagnóstico diferencial também com transtorno bipolar, pois parece haver uma oscilação de humor. Mas no transtorno disruptivo da desregulação do humor, esse humor desregulado tende a ser mais constante. A criança fica com a cara fechada, emburrada, não gosta das atividades, tem opiniões negativas sobre quase tudo.
É difícil também ser confundido com o transtorno de oposição desafiante. E aí a gente precisa observar, claro, mas é um diagnóstico que é feito durante a infância. Esses sintomas precisam ser precoces também.
Mas qual a diferença entre o transtorno disruptivo da desregulação do humor e o transtorno do espectro autista? Porque no transtorno do espectro autista nós também podemos observar, como já dissemos, crises de humor, de agressividade, de impulsividade. Só que as crianças que têm o transtorno do espectro autista frequentemente vão apresentar essas explosões de raiva quando a sua rotina é alterada, quando a sua expectativa não se cumpre, quando a família precisa mudar o caminho, quando não tem o seu alimento favorito, a sua caneca favorita.
Então, por causa da inflexibilidade mental ou às vezes por causa da sensibilidade, ou porque ela está focada em algum interesse e precisa tomar banho, quer dizer, os pais estão rompendo ali a rotina, as expectativas dela, e aí ela pode ter uma explosão. É um pouco diferente do transtorno disruptivo da desregulação do humor. E aí, nesse caso, no caso do autismo, as explosões de raiva vão ser consideradas como aspectos ou como sintomas secundários ao transtorno do espectro autista e a criança não vai receber o diagnóstico conjunto do transtorno disruptivo da desregulação do humor.
Além disso, nós vamos observar que a criança que tem o transtorno disruptivo da desregulação do humor às vezes é muito hábil nas interações, na comunicação, e ela é muito inteligente. Às vezes tem inteligência até acima da média e sabe perceber as pistas sociais, tem boa argumentação, e às vezes até por isso que irrita a família, porque está sempre de bom humor e quer argumentar sobre os assuntos que ela acha relevantes. É sarcástica, às vezes irônica, ignora comportamentos ou falas que ela acha banais, e mais uma vez, por isso também pode ser confundido com transtorno opositivo desafiador.
E como você pode ver, realmente algumas condições podem ter características bastante semelhantes. O autismo e outras condições, outros diagnósticos psiquiátricos, podem ter uma interseção muito ampla. E por isso nós estamos aqui para conversar sobre esse assunto, para evitar equívocos diagnósticos, para evitar que o nosso olhar esteja enviesado durante um processo de avaliação e para que todos nós fiquemos mais conscientes.
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