Antes de julgar, é preciso entender. A filosofia, quando verdadeira, não tenta agradar, ela incomoda. Ela destrói certezas, desafia emoções e faz perguntas que poucos têm coragem de responder.
E Arthur Schopenhauer, talvez mais do que qualquer outro filósofo moderno, levou essa coragem ao extremo. Ele não queria consolar, queria rasgar o vel da ilusão, inclusive quando se tratava do amor, dos desejos e da figura feminina. Schopenhauer escreveu com frieza, com brutalidade, com ironia.
Suas palavras soam duras até para os ouvidos do século XX, mas por trás de cada afirmação provocadora, havia uma lógica sombria, sim, mas também coerente dentro de sua visão de mundo. Ele não via a mulher como um problema moral, nem como um problema social. Para ele, a mulher era um problema pr filosófico, um espelho da vontade, aquela força cega que comanda todos os seres vivos rumo à reprodução, ao desejo, à ilusão e, consequentemente, ao sofrimento.
Schopenhauer acreditava que tudo o que existe é expressão dessa vontade irracional, insaciável e cega. E a mulher, segundo ele, era o instrumento mais refinado dessa força. Sua aparência delicada, sua voz suave, sua capacidade de seduzir, tudo isso dizia Schopenhauer, não era acaso.
Era natureza agindo estrategicamente para capturar o homem e prendê-lo à engrenagem da vida. E por que isso era um problema? Porque para Schopenhauer viver era sofrer, existir era uma tragédia.
E tudo que nos empurra a continuar existindo, o amor, o sexo, o apego, é cúmplice desse erro metafísico. A mulher então não era culpada, era apenas uma encarnação mais clara da armadilha. Ele via nela o disfarce da natureza, uma promessa de felicidade que, no fundo, apenas arrasta o homem de volta ao ciclo da dor.
Filhos, responsabilidade, frustrações, perdas. A vontade quer continuar e a mulher biologicamente é sua ferramenta mais eficaz. É por isso que ele dizia que o amor romântico não passa de uma ilusão, um truque cruel, uma febre que cega o homem e o faz tomar decisões contra a própria razão.
Mas o problema não estava apenas na sedução. Schopenhauer também criticava o intelecto feminino, via nas mulheres uma mente mais voltada para o imediato, para o concreto e não para o abstrato. Para ele, elas eram mais instintivas, mais práticas, menos inclinadas à contemplação ou à filosofia.
Por isso, acreditava que não estavam talhadas para os grandes feitos intelectuais. Palavras duras, sim, e erradas, talvez. Mas antes de refutar, é preciso compreender de onde vinham.
Schopenhauer era um radical da renúncia, um pessimista por convicção. E nessa visão, tudo que reforça o ciclo da vontade é um obstáculo ao caminho da libertação. Homens e mulheres estão igualmente presos, mas ele via a mulher como o símbolo máximo da armadilha, não por malícia, mas por função biológica.
Seu problema não era com a mulher como pessoa, era com o que ela simbolizava, a continuidade do erro da existência. Assim como o desejo é perigoso, o corpo é uma prisão e a beleza é uma mentira. A mulher para ele era apenas mais uma ilusão.
Schopenhauer não pregava ódio, pregava lucidez, uma lucidez tão extrema que chegava a parecer desumanidade. E é aqui que sua filosofia divide opiniões. Para alguns, ele foi um misógeno amargo, para outros um pensador radicalmente honesto.
para todos. Ele continua sendo um desafio, um espelho incômodo, onde enxergamos não as mulheres em si, mas nossos próprios desejos, medos e fragilidades. Porque no fundo, quando Schopenhauer fala da mulher, ele está falando da sedução da vida, do apelo da ilusão, da armadilha do prazer.
E ao nomear isso como problema filosófico, ele nos obriga a perguntar: "O quanto da nossa busca por amor é realmente livre? E o quanto é apenas um roteiro biológico que repetimos sem questionar? Talvez seja por isso que muitos preferem ignorá-lo ou reduzi-lo a um rótulo fácil, porque encarar suas ideias significa encarar a possibilidade de que quase tudo o que valorizamos é, na verdade, parte da prisão.
E ainda assim, há quem leia Schopenhauer não como um pregador do ódio, mas como um libertador silencioso. Um homem que tentou a sua maneira nos alertar sobre o preço invisível do desejo. Vivemos num tempo onde o desejo é estimulado a cada segundo, onde a ilusão é vendida como estilo de vida e onde a recusa ao prazer é vista como loucura.
Nesse mundo, a filosofia de Schopenhauer é uma pedra no sapato, um incômodo constante, uma lembrança de que talvez a liberdade não esteja em ter mais, mas em desejar menos. Quando ele diz que a mulher é um problema filosófico, ele está dizendo, na verdade, que a própria vida é um problema filosófico. E se a mulher representa a força da vida com sua beleza, seu mistério, seu magnetismo, então ela é por excelência a figura que desafia o filósofo a renunciar.
Não se trata de ódio, se trata de escolha, de um caminho onde o desejo não reina, onde a contemplação toma o lugar da paixão, onde o silêncio é mais poderoso do que o grito do instinto. Schopenhauer, no fundo, desejava uma vida livre do engano, livre do ciclo da vontade e por isso via no amor, no apego, na figura feminina, não uma bênção, mas um teste. teste que poucos conseguem passar, porque exige abrir mão daquilo que mais nos seduz, a promessa de que a felicidade virá de fora, mas segundo ele, ela nunca vem, porque o mundo não foi feito para nos satisfazer, foi feito para nos ensinar a não desejar.
Essa é a proposta radical de sua filosofia e talvez a mais difícil de todas. Mas se você chegou até aqui, é porque também está disposto a pensar além do que é confortável, a questionar até mesmo aquilo que sempre pareceu belo, romântico e inofensivo. E esse é o primeiro passo para a verdadeira liberdade, o desconforto de enxergar aquilo que todos preferem ignorar.
Se esse vídeo te incomodou, talvez tenha cumprido seu papel, porque a filosofia verdadeira não consola, ela acorda. Inscreva-se no canal e compartilhe com quem está pronto para encarar as ideias mais desconfortáveis, porque algumas verdades não são doces, mas ainda assim precisam ser ditas. E talvez o que mais assuste nas ideias de Schopenhauer não seja o que ele disse, mas o quanto em silêncio ainda ecoa na forma como vivemos hoje.