Hoje eu quero falar a respeito do dízimo como um ato profético que celebra a redenção de Deus na nossa vida. Nós vamos seguir aquela linha de pensamento de que não adianta apenas fazer a coisa certa, mas é importante fazer a coisa certa do jeito certo. Mais do que apenas fazer o que alguém disse para nós que deveríamos fazer, quando nós entendemos não só que o mesmo Deus que nos mandou fazer nos dá bons motivos para executar isso, significa não que nós estamos colocando à prova o mandamento de Deus. Vamos ver se é ou não
é confiável, não. Mas nós entendemos que essas explicações têm muito mais impacto na forma como fazemos do que apenas no fato de que as fazemos. Então, eu quero trazer, na verdade, não apenas um ensino e uma instrução bíblica sobre o dízimo; inevitavelmente, nós vamos ter uma aula bíblica aqui sobre redenção para poder apresentar o dízimo como um ato que celebra a redenção. Nós vamos entrelaçar muitas coisas; eu vou meio que montar uma espécie de um quebra-cabeça aqui com vocês. Antes mais nada, eu gostaria que a gente começasse no livro de Hebreus, no capítulo 7. Se
você puder, me acompanhe na leitura do verso 1 até o verso 10. Nós vamos ver um texto um pouquinho maior do que o habitual para aquilo que nós chamamos de um texto inicial. Hebreus, capítulo 7, de 1 a 10, o texto sagrado diz assim: "Porque este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao encontro de Abraão quando este voltava da matança dos reis e o abençoou". Deixa eu fazer uma pausa, uma referência a Gênesis 14, quando Abraão vai resgatar seu sobrinho Ló, que foi levado como prisioneiro de guerra. Esse evento do encontro com
Abraão é registrado em Gênesis 14. O texto diz assim, verso 2: "Agora foi para ele que Abraão separou o dízimo de tudo". Primeiramente, o nome dele significa "rei da justiça"; depois, também é "rei de Salém", ou seja, "rei de paz". Sem paz, sem mãe, sem genealogia, ele não teve princípio nem de dias, nem fim de existência, mas, feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. Veem como era grande esse a quem Abraão, patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos? Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem de
acordo com a lei de recolher os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora estes sejam descendentes de Abraão. Entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre os filhos de Levi recebeu dízimos de Abraão e abençoou aquele que havia recebido as promessas. Evidentemente, não há dúvida de que o inferior é abençoado pelo superior. Aliás, aqui, os que recebem dízimo são homens mortais; porém, ali o dízimo foi recebido por aquele de quem se testifica que vive. E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão, porque Levi, por assim dizer, já
estava no corpo de seu pai Abraão quando Melquisedec foi ao encontro. "Desse, meu Deus, nós declaramos nossa confiança e dependência no Senhor. Suplicamos uma vez mais, não apenas como mera formalidade ou rotina, mas como anseio; ó Deus do nosso coração, clamamos que o Senhor nos conduza no entendimento espiritual da Tua palavra. Nós oramos por mais do que formação, oramos que os olhos do coração sejam iluminados. Oramos por aquela aplicação prática que só o Senhor pode fazer e que a Tua palavra cumpra o propósito pelo qual o Senhor a tem liberado. Nós oramos em nome de
Jesus. Amém." Bom, antes de começar, eu quero reconhecer que, quando falamos de um assunto como esse, o dízimo não dá para não reconhecê-lo como um assunto controverso. Controverso até entre os que estudam a Bíblia, o que diz, entre os que mal estudam. Esse é o tipo de assunto que, quando a gente percebe, por exemplo, um vídeo como este, uma mensagem vai ao ar, existe uma milícia digital, né? Que eles normalmente nem ouvem. A gente percebe que, um vídeo de uma hora, uma hora e pouca, é postado. Cinco minutos depois, a pessoa tem todo o comentário
sobre aquilo que não ouviu. Mas mesmo entre aqueles que estudam um pouquinho mais, é necessário que a gente consiga ter parâmetros para entender o assunto do dízimo na perspectiva do novo. É por isso que eu estou começando no livro de Hebreus. Na verdade, essa introdução que vou fazer merecia, ela sozinha, sem uma mensagem; aqui eu coloco na sequência, deveria ser outra. Mas nós conseguimos, ao longo dos outros três cultos, não nos estender tanto, e eu acho que a gente vai conseguir fazer dois em um aqui. Então, vamos lá. Primeira coisa que nós precisamos avaliar: eu
volto e mesmo vejo pessoas que atacam a prática do dízimo, e normalmente o argumento principal é Romanos, capítulo 10, verso 4; diz que o fim da lei é Cristo. Por que é que vocês estão pegando o dízimo da lei e colocando no Novo Testamento? Normalmente eu olho para algumas dessas pessoas e digo: que Novo Testamento? Exatamente. Você lê muito de tudo aquilo que é fundamentado da nossa fé, do entendimento da Nova Aliança que nós temos. O novo foi construído em cima de toda a revelação do Antigo Testamento. Mesmo aquelas áreas onde houve mudanças, como, por
exemplo, nos ritos cerimoniais da lei, ninguém vai negar que houve mudança de lei. Eu li até o versículo 10, mas se você olhar, por exemplo, o verso 12 de Hebreus 7, está escrito: "Pois quando se muda o sacerdócio, necessariamente muda também a lei". Então, seja, quando estamos falando aqui de graça, quando estamos falando de obediência, a gente sempre volta a ensinar essas coisas. A frase "O fim da lei é Cristo" não significa aniquilação da lei; significa o fim de uma lei específica que teve a vigência durante. Um sacerdócio anterior da antiga aliança, e que, quando
houve uma mudança de sacerdócio — do sacerdócio de Levi da antiga aliança para o sacerdócio de Cristo no Novo Testamento — houve mudança de lei. Então, Jesus vai dizer: "Ouviste o que foi dito aos antigos", e ele vai trazer retificações, ampliações, ajustes; eu diria até mesmo explicações. Em algumas dessas, ele simplesmente introduz a permanência de algo, exatamente da forma como acontecia na lei anterior. O fato de que uma lei, que teve vigência no sacerdócio anterior, ter terminado e uma nova ter sido instituída no seu lugar, não significa que essa nova lei tenha que ser fundamentada
só em novidades, e que nada da lei anterior possa ser implementado na nova. Aliás, quando você estuda o Novo Testamento, não dá para negar que há algumas coisas que ganharam o caráter de permanência e continuidade. Por exemplo, Paulo escreve aos Efésios, ele diz: "Honra teu pai e tua mãe", o mandamento da lei de Moisés, "para que tudo te vá bem e seja de longa vida sobre a terra". E ele diz para os gentios convertidos da Nova Aliança, porque esse é o primeiro mandamento seguido de promessa. Isso a gente chama de permanência, mas também houve revogações.
Sim, Efésios 2:15 diz que Cristo aboliu na sua carne a lei dos mandamentos, na forma de ordenanças. Então, havia muitas ordenanças que eram de caráter cerimonial; muitas delas foram revogadas. Hoje, nós não sacrificamos animais como se fazia no Antigo Testamento. Por quê? Porque vivemos o cumprimento dessas figuras que eram proféticas. Hebreus 10:1 diz que a lei não tinha imagem exata das coisas; tinha a sombra de bens vindouros. Então, naquilo que a lei, em caráter profético, anunciava para o futuro, as coisas se cumpriram; agora nós vivemos a materialização das sombras, o cumprimento da tipologia. Por exemplo,
o Antigo Testamento determina que a oferta de incenso era um estatuto perpétuo. Estatuto perpétuo é algo irrevogável que não terá fim. Mas, quando chega o Novo Testamento, você não tem mais uma oferta de incenso literal, mas você tem o livro de Apocalipse dizendo que o incenso são as orações dos santos. Ou seja, o que eles praticavam com o rito cerimonial de queimar incenso, eu e você hoje damos continuidade por meio das nossas orações. Então, você precisa ir olhando o quadro todo. E eu digo às pessoas que quem explica a Bíblia é a própria Bíblia; ela
não tem afirmações conflitantes. Mas, normalmente, quando você está diante de aparentes contradições, você tem um desafio de interação, e a própria Bíblia precisa dar sentido ao seu conteúdo e ao seu texto. Quando Satanás fala para Jesus: "Pula do pináculo do templo, porque está escrito que Deus vai proteger", Jesus rebate na hora: "Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus". E quando ele diz "também está escrito", ele está dizendo: "Alto lá, Satanás! O resto da Bíblia não concorda com essa aplicação em particular que você está fazendo." Então, é muito importante que as pessoas atentem para
o todo. Infelizmente, muita gente quer discutir o assunto sem considerar o todo. O livro de Hebreus é uma carta escrita para falar da Nova Aliança, do Novo Testamento e de todas essas mudanças. Pega o primeiro texto lá de Gênesis 14, que introduz o dízimo na Bíblia; em cima dele, ele transita para a lei de Moisés, que sacramentou o dízimo como uma expressão de todos e uma ordenança divina, para depois de tudo isso simplesmente nos apresentar a figura de como o dízimo passa da antiga para a nova aliança. Onde está essa figura? O livro de Hebreus,
ele é toda a epístola; todos os capítulos seguem uma linha de pensamento básica primária: qual é? Que o sacerdócio de Cristo é superior ao sacerdócio levítico da antiga aliança. Na verdade, a superioridade de Cristo é enfatizada em toda a epístola; no capítulo 1, Cristo é maior do que os anjos. Você chega, por exemplo, no capítulo 3, e vai ver que Moisés foi fiel na casa de Deus como servo; Cristo, como filho. E a ênfase é que Jesus é maior do que Moisés. Quando nós chegamos no capítulo 7, a ideia é mostrar o sacerdócio de Cristo,
que mudou, como superior ao sacerdócio anterior que foi substituído. O finalzinho do capítulo 6, que é o verso 20, diz que Cristo foi feito Sumo Sacerdote, e o texto faz a seguinte afirmação: "tendo-se tornado Sumo Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque". Essa é uma declaração do Salmo 110, verso 4, que é um salmo messiânico; apontava para Cristo, Messias, ou seja, mostrava que o Messias seria um sacerdote, porém não da linhagem de Levi, a tribo sacerdotal. As promessas do Messias são de que ele viria da linhagem de Davi, ou seja, da tribo de Judá,
tribo à qual nunca foi confiado o sacerdócio. Então, ele simplesmente apresenta essa afirmação bíblica de que Cristo seria sacerdote de acordo com uma outra ordem sacerdotal, e não a de Levi. A ideia apresentada pelo próprio texto bíblico é "segundo a ordem de Melquisedeque". Então, o autor explica que Melquisedeque é feito semelhante ao Filho de Deus. Alguns tentam defender que ele é uma manifestação do próprio Jesus; para mim, se você é o próprio Jesus, você é ele, não semelhante a ele. Se você é semelhante a ele, você não pode ser ele. Então, para mim, Melquisedeque é
um tipo de Cristo. Mas, mesmo para quem pensa diferente, a linha de pensamento vai na mesma direção. Quando Abraão se curva diante de Melquisedeque, que figura Cristo, quando você lê Gênesis 14, não tem genealogia de Melquisedeque; não menciona dia de nascimento nem da morte, e a Bíblia pega isso como uma figura da pré-existência de Cristo, sem começo e nem fim de dias. Então, ele é apresentado como uma figura de Cristo. O autor enfatiza: "Veja como ele era grande, porque o..." Patriarca que tinha as promessas do plano de Redenção em ti; serão benditas todas as famílias
da terra. Se curva diante dele para ser abençoado, e o texto está dizendo que o superior, o maior, abençoou o inferior, o menor. Está dizendo, então, que o cara era maior que o patriarca Abraão, mas ele diz: “Não foi só Abraão que se curvou diante dele”. Nos versos 9 e 10, ele diz que Levi — e ele usa a expressão "por assim dizer", que estava no corpo, ou as traduções mais literais dizem "nos lombos de Abraão" — entregou os dízimos a Melquisedeque. O que temos aqui? Quem é Levi em relação a Abraão? Levi é o
bisneto de Abraão. Abraão, no momento em que encontra Melquisedeque, já era pai; Isaque, o filho da Promessa, nasceria anos depois. Depois que Isaque nasceu, aos 60 anos de idade apenas, ele vai gerar os gêmeos Esaú e Jacó. Quando Jacó crescesse e casasse, por sua vez, teria vários filhos homens; mas um deles seria Levi. Portanto, Levi, filho de Jacó, que é filho de Isaque, que é filho de Abraão, era bisneto de Abraão. É lógico que quando Abraão está pagando os dízimos e a Bíblia diz que ele estava nos seus lombos, não está dizendo que ele está
escondido em algum lugar do corpo; está falando que aquele que viria da sua descendência, da sua linhagem, estava pagando os dízimos. Se você pegar a lógica, então Judá também estava; todo mundo estava. Por que uma ênfase sobre Levi? Porque o texto está pegando a tipologia, está apresentando qual a ideia: chegaria o momento em que a tribo a quem seria confiado o sacerdócio da Lei se curvaria diante do novo sacerdote, dizendo: "Você é maior do que eu, e agora os dízimos que nos foram dados são teus". Exatamente isso que significa o versículo 8. Aliás, aqui, os
que recebem dízimos são homens mortais, e a referência de Gênesis da lei de Moisés diz que, lá em Gênesis 14, aquele de quem se testifica que vive é uma figura de Cristo. Normalmente, eu falo para as pessoas que querem atacar o dízimo no Novo Testamento: eu digo que Hebreus pega a primeira menção de dízimo, a instituição do dízimo, e traz a figura do sacerdote anterior se curvando e entregando os dízimos para o novo sacerdócio. Eu pergunto para elas se isso não é a passagem dos dízimos da Velha para a Nova Aliança. O que é? E
a maioria muda; ele sequer tenta inventar uma explicação, porque não há o que discutir diante de um texto como esse. Então, assim, eu não tenho um pingo de dúvida de que o dízimo passa para a Nova Aliança. Como eu disse, nós temos vários critérios; por exemplo, Jesus revogou algumas coisas com clareza. Você vai vê-lo no Sermão do Monte dizer: “Ouviste o que foi dito aos antigos: ama o seu próximo e odeie o inimigo”. Odiar o inimigo não era uma permissão, era uma ordem fácil de obedecer, mas era uma ordem. Ele diz: “Eu, porém, vos digo”,
mudança de lei. Agora vocês amem os inimigos. Então, ele revogou a ordem de odiar o inimigo. Ele diz: “Agora é para amar”. Isso é revogação. A revogação é clara; não se estabelece revogação no silêncio ou supondo que há pouca informação. Então, a primeira pergunta é: Cristo, aos apóstolos, em algum momento falou sobre o dízimo no Novo Testamento como fez com vários assuntos? Nunca. Então, pode descartar a revogação. Você tem coisas que passam da Antiga para Nova Aliança com uma ampliação. Jesus disse: “Ouviste o que foi dito aos antigos: não adulterarás” e diz: “Agora eu vou
dizer uma coisa para vocês: qualquer um que olhar para uma mulher com intenção impura no coração já adulterou”. Ele está dizendo que a ordem de não adulterar não vai ser descartada, porque há determinados valores que simplesmente são transmitidos para a nova lei. Mas ele diz: “Isso aqui agora vem ampliado”, diferente de “honrar pai e mãe”, que só passou direto e tem a permanência. O dízimo, ele foi ampliado? Não, ele é só permanência. Eu quero te mostrar que não: ele é uma figura simbólica, como eu falei da oferta de incenso. Também não, o dízimo entra numa
categoria que nós chamamos de ajuste. O que houve em termos de ajuste? Não houve ajuste da prática, houve um ajuste, um alinhamento do propósito. No Antigo Testamento, o dízimo foi dado para sustento de uma tribo sacerdotal, dos ministros de Deus. Então, você vai ver Malaquias 3, Deus dizendo: “Trazei os dízimos à casa do tesouro para que haja mantimento na minha casa”. Então, normalmente, a pessoa dizimava o produto da colheita dos animais; algumas coisas eram dadas em dinheiro, mas o grande volume da contribuição não era dinheiro, então eles traziam os alimentos; a tribo sacerdotal comia daquilo.
No Novo Testamento, você vai ver a ideia de sustento dos ministros, mas com a ideia da Antiga Aliança do dízimo, porque, de acordo com o texto de Hebreus 7, na Nova Aliança, os dízimos são de Cristo, o sumo sacerdote, e os obreiros e os ministros de Cristo. Aí você tem uma instituição de salário, não vivem de uma contribuição percentual. Isso é muito importante que a gente defina. Então, o único ajuste que nós temos ligado ao dízimo diz respeito ao propósito; ele não é dos sacerdotes, ele é do sacerdote. Embora a Bíblia vá defender que os
sacerdotes que ministram do altar devem comer do altar, ser sustentados do altar, é evidente que o dízimo não é deles como foi dado na Antiga Aliança. Então, esse é o único ajuste. Não só Cristo não falou contra, como você vai perceber em Mateus 23:23, Jesus falando para os fariseus: “Vocês dão o dízimo do endro, da hortelã, do cominho”. Os fariseus eram parte da seita mais severa do Judaísmo; eles eram muito dedicados ao cumprimento da lei, e Jesus está dizendo que o cara dava dízimo da porta de casa quando... Deu de hortelã divide por 10. A
palavra dízimo significa décima parte; dá 10% para Deus. E o cominho divide em 10. Dá para Deus, mas Jesus diz: "Mas vocês negligenciam a fé, a misericórdia, a justiça." Aí você vai vê-lo dizendo essas coisas sobre o dízimo. Vocês tinham que fazer isso sem negar essas outras coisas. Esse é o único momento em que você não vê Jesus dizendo que os fariseus estão fazendo algo errado ou que eles estão fazendo a coisa certa do jeito errado. Mateus 6: Jesus confronta eles por causa das suas esmolas, jejum e oração. Não é que essas coisas eram erradas,
mas Jesus fala que eles estavam fazendo a coisa certa do jeito errado. Não há um único momento em que você vai ver Jesus elogiando os fariseus ou dizendo que eles estão fazendo a coisa certa do jeito certo. O único momento em que ele fala isso é na hora do dízimo. Ele diz que acertar nessa área não dá a vocês o direito de errar em outra. Quando Jesus diz: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", ele está dizendo que, assim como César tem uma fatia percentual dos seus
ganhos, do seu orçamento, do seu rendimento, Deus também tem uma. Ou seja, assim como o imposto é proporcional aos ganhos, ele está dizendo que Deus tem uma fatia do seu ganho que também é proporcional ao nível do seu rendimento. A única coisa que cabe dentro dessa lógica, aplicada por Jesus, é o dízimo. Então, não só não há revogação, como há textos que sustentam isso, e eu não tenho mais um pingo, um pingo de dúvida, se quer, sobre esse assunto. O ponto é o que a Bíblia ensina, na perspectiva de uma nova aliança, sobre a prática
do dízimo, porque eu acredito que isso deveria nos nortear. Então, eu quero apresentar para você uma relação que existe entre o dízimo e redenção. Porque, se você me acompanha em Malaquias, no capítulo 3, o último livro do Antigo Testamento, Malaquias 3, a partir do verso 6, você vê Deus dizendo o seguinte: "Porque o Senhor não mudou; por isso vocês, filhos de Jacó, não foram destruídos. Desde os dias dos seus pais, vocês se afastaram dos meus estatutos e não os guardaram. Voltem para mim, e eu voltarei para vocês", diz o Senhor dos exércitos. "Voltar no quê?"
O texto termina: "Vocês perguntam: como havemos de voltar?" Verso 8: "Será que alguém pode roubar a Deus? Mas vocês estão me roubando", e ainda perguntam: "Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas." "Com maldição vocês são amaldiçoados, porque estão me roubando; vocês, a nação toda." "Tragam todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa; ponham-me à prova nisso", diz o Senhor dos exércitos, "se eu não lhes abrir as janelas do céu e não derramar sobre vocês bênção sem medida. Por causa de vocês, repreenderei o devorador, para que não consuma
os produtos da terra e não deixarei que as suas videiras nos campos fiquem sem frutos", diz o Senhor dos exércitos. "Todas as nações dirão que vocês são felizes, porque vocês serão uma terra de delícias", diz o Senhor dos exércitos. Esse é um texto que regulamenta o dízimo, obviamente dentro da antiga aliança, e nós já vimos que ele tem um aspecto do propósito: mantimento na casa, que não é exatamente o modelo que é tratado no Novo Testamento. Mas a pergunta é: e as demais verdades foram ditas sobre eles, sofreram mudança? Não. Uma das coisas que Deus
faz quando, por meio do profeta, confronta o povo é dizer: "Vocês se afastaram; têm que voltar para mim." No que vão voltar? Deus diz o seguinte: "Vocês têm que parar de me roubar." Ou seja, o cerne dessa discussão, se a gente fosse falar com um palavreado mais acadêmico, diria que diz respeito à apropriação indébita. Traduzindo: "Vocês estão metendo a mão no que é meu; estão me roubando." A discussão é em torno da propriedade. Agora, se você vai discutir a propriedade de Deus na Bíblia, você não pode fazer isso evitando a doutrina da redenção, que para
mim é o que eu defino como o cerne da revelação bíblica. Então, nós precisamos entender redenção. Quando eu falo de entender redenção, é evidente que a maioria de nós, crentes, convertidos, está familiarizada com a palavra redenção. Eu cresci ouvindo falar disso, mas se alguém me perguntasse: "O que é redenção?", eu ia dizer: "Salvação, perdão dos pecados, escapar da condenação eterna do inferno e ir para o céu." E tudo isso diz respeito a uma aplicação prática de redenção, mas não é a definição de redenção. Redenção, na perspectiva do Antigo Testamento, é uma transação comercial, e ela
significa o resgate de uma propriedade. Agora, quando a gente ouve os judeus falando de redenção, para eles isso era parte de um contexto cultural que não precisava de explicação. Para nós, que tentamos nos informar de como era a cultura deles, às vezes a gente pode ficar um pouco perdido em relação a detalhes. Exemplo: se eu falar que a palavra "feijoada", eu preciso te explicar alguma coisa? Não. Eu rodo praticamente quase todo ano, em todos os estados do Brasil, pregando. Não importa onde você vá; a feijoada deixou de ser patrimônio dos cariocas há muito tempo e
virou patrimônio nacional, assim como o churrasco deixou de ser só dos gaúchos e é de todos nós. Então, qualquer lugar que você vá, não tem brasileiro que não saiba o que é feijoada. Agora, um dia nós recebemos um pregador que veio de um país da África, e ele falou assim para mim, numa conversa: "Eu gostaria de comer um prato típico brasileiro." Quando eu ouvi, pensei: "Nós vamos te fazer uma feijoada." Quando eu falei isso, ouvi a pergunta que eu nunca imaginei ouvir na vida. Cara, olha para mim e diz: o que é feijoada? Até porque
a conversa era em inglês. A palavra feijoada não cria nenhuma relação com feijão, aí eu estranhei aquilo, mas pensei: "Lógico, ele não é da nossa cultura, ele não sabe." Falei: "Um prato à base de feijão." Quando eu falei "prato à base de feijão", ele falou: "Só feijão?" Porque quase não come feijão, é tipo grão de bico, lentilha; pra gente, não se come toda hora. Eu falei: "Não, também tem carne." Aí, quando eu falei que tinha carne, ou como diria o Pastor Marcelo, carne, ele reclamou porque ele falou: "Hoje, o senhor falou porco." Parecia que o
senhor estava falando de "pico". Ele falou: "O senhor é do Paraná, arruma esse R!" Falei: "Sim, senhor." Ele é do fiscal de qualidade, agora das pronúncias das palavras. Obrigado, Marcelo! O que seria de mim sem você? O povo não entender a nossa amizade pode achar que estou fazendo bullying. Talvez esteja. Deixa eu voltar na pregação, quarto culto. Vamos pensar: eu falei que também tem carne. Aí, quando eu falei que tinha carne, ele olha para mim e fala: "Que tipo de carne?" Eu falei: "Porco." Quando eu falei "porco", ele olha para mim e já torce o
nariz; o país dele quase não come porco. Ele faz a pergunta que não deveria ter feito: ele disse: "Que parte do porco?" Falei: "Então é melhor se comer primeiro, depois te dou toda a receita." Ele olha para mim e diz: "Não me instruíram a não confiar em você." Isso foi há muito tempo atrás; eu era bem moleque, aprontava muito com os amigos e a fama nos precedia. Aí eu falei: "Não, não, não, cara, você vai gostar, nós vamos fazer." Ele falou: "Eu não vou comer." Graças a Deus não mandei fazer só a feijoada, porque ele
não tocou na feijoada; ele olhava para mim e dizia: "Não como." E eu brinco que, até hoje, ele não sabe que perdeu o momento profético da estação de Deus na vida dele. Ele não sabe a bênção que jogou fora. Mas aquilo me fez pensar: falei que feijoada, entre nós, do contexto cultural brasileiro, não precisa de explicação para o estrangeiro. Você explica e tem a sensação que não consegui explicar direito. Por que eu estou dizendo isso? Enquanto os judeus falavam de redenção entre eles, era a mesma coisa que a gente falar de feijoada. Quando nós os
ouvimos falar de redenção, é quase como o pastor lá da África ouvindo a gente falar de feijoada. Então me permita gastar um tempinho e tentar trazer uma aula breve do que é redenção. Eu afirmei antes que é o resgate, uma propriedade que é uma transação comercial, e eu quero te mostrar isso na Bíblia. Levítico 25:25 diz assim: "Se alguém do seu povo empobrecer e vender alguma parte das suas propriedades, então virá o seu resgatador, o seu parente, e resgatará o que esse irmão vendeu." Então, nós temos aqui a ideia do resgate de uma propriedade, que
era aplicação prática de redenção. O livro de Rute, por exemplo, é uma história de redenção: como Boaz se torna o resgatador dos bens da família de Noemi, com a qual, obviamente, ele tinha parentesco, porque o texto está dizendo que é o seu irmão. Então havia uma ordem para que a pessoa pudesse levantar como resgatador, como você tem na linha de sucessão hereditária. Quanto mais próximo o parentesco, maior é a prioridade na linha de sucessão. O resgate ou a redenção não era diferente. Então, vamos pensar numa premissa bíblica que vem desde o Antigo Testamento e continua
no Novo. Qual é? Nós precisamos entender que Deus não quer dívidas que não sejam honradas. Aliás, o Novo Testamento diz: "A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor." Obviamente, quando falo de dívida, não falo de compra programada, falo de prazos não honrados. Quando alguém não podia pagar uma dívida, a falta de liquidez, de cash, dinheiro na mão para quitar algo, nunca foi desculpa para que algo não se resolvesse. Então, normalmente, a pessoa tinha que abrir mão de coisas que tinha para honrar o compromisso. Então, bens eram dados para quitação de uma dívida. Não
sendo suficiente, entravam as propriedades. Aqui, nós vamos falar das terras. Entre os judeus, a terra não se transferia de forma permanente como as nossas transações imobiliárias de hoje. Então, você faz uma escritura de um terreno, de um imóvel, está ali, como a gente chama: "papel passado", não tem uma volta. Antigamente, não. Qual a lógica que Deus deu para o seu povo? Eu vou dividir a terra prometida em 12 áreas, uma para cada uma das 12 tribos. Cada uma das áreas da cada tribo será dividida entre os clãs, as famílias principais, e a terra se transmite
em perpetuidade para aquele grupo. Então, por exemplo, uma tribo... Aliás, você vai encontrar isso na Bíblia. Algumas mulheres da tribo de Manassés eram de um clã onde o pai só teve filhas, não homens. Elas receberam uma ordem de Deus: "Vocês não podem se casar com homens das outras tribos, têm que casar na tribo de vocês, porque senão a herança de uma seria transferida para outra tribo de forma perpétua." Então isso não podia acontecer. A cada 50 anos, mas podia vender terra, podia, mas não em caráter permanente. A cada 50 anos, você vai encontrar em Levítico
25 a definição do ano do Jubileu: a cada meio século, 50 anos, toda a dívida era zerada, todo escravo saía livre e toda a propriedade voltava ao seu dono original. Então, as pessoas vendiam a terra e o valor era calculado de acordo com os anos de colheita até o próximo Jubileu, porque a terra não era vendida em caráter permanente. Entendido isso, vamos também lembrar que uma pessoa que não tinha condições... Que era que eu estava falando antes de honrar uma dívida? Ela poderia ter os seus bens entregues à propriedade, que era a terra, ainda que
não em caráter permanente. E, não sendo suficiente, a liberdade dela poderia ser comprometida. Segundo Reis, capítulo 4, nos fala de uma viúva de um dos filhos dos profetas que vem até Eliseu e diz: "Olha, teu servo morreu, deixou uma dívida, e os credores querem levar meus filhos como escravos." Porque quando não existia mais bens ou propriedades, o que entrava na negociação da dívida era a própria liberdade da pessoa. Aí, quando Deus está dizendo que se alguém do seu povo empobrecer e vender as propriedades, isso poderia chegar até as últimas consequências: ele já abriu mão dos
bens, já entregou a propriedade, e, não sendo suficiente, a liberdade dele seria comprometida; ele seria entregue como escravo. Quais eram as chances dele de deixar de ser escravo? Primeiro, é o ano do Jubileu. Mas vamos supor, né, num caso qualquer, que o ano do Jubileu acabou de acontecer. Até fechar os 50 anos, muitas vezes isso não era nenhuma opção para que a pessoa ainda tivesse vida para reverter o quadro. Uma segunda opção para sair da escravidão: Êxodo 21 diz que, quando um hebreu escraviza outro hebreu do mesmo povo, no máximo em seis anos, no sétimo
tinha que deixar sair livre. Mas se a relação acontecesse, um dos dois, não importa se estamos falando do senhor ou do escravo, fosse um edomita, por exemplo, do país vizinho, a lei de Êxodo 21 já não se aplicava. Então, qual seria a possibilidade de alguém sair da escravidão? A terceira e última possibilidade era a redenção. Como podemos pensar, imaginar ou visualizar a redenção como uma transação comercial? Então imagine, por exemplo, que eu tomei um empréstimo de uma determinada pessoa, querendo investir, por exemplo, na agricultura, e deu tudo errado; perdi todo o dinheiro. Aquela pessoa, na
hora de firmar o acordo comigo, não existia contrato em cartório, mas nós teríamos ido na frente dos anciãos, sentados às portas da cidade, e o cara tinha dito: "Estou emprestando dinheiro a juros; eu não estou correndo risco, não sou sócio dele. Se ele ganhar muito dinheiro com meu dinheiro, ele se dá bem; se ele perder dinheiro, eu não estou correndo risco." Vamos supor que eu fiz o empréstimo, fiz o investimento, e deu tudo errado. Na hora que não era para chover, choveu; na hora que não era para chover perto da colheita, choveu; deu geada e
eu perdi tudo. Você acha que eu poderia chegar para o cara que me emprestou e dizer: "Desculpa aí, foi mal"? Ele olharia para mim e diria: "Eu não corri risco, quem correu foi você." Então, provavelmente, ele tomaria meus bens. Não sendo suficiente, ele tomaria minhas propriedades. Vamos imaginar que, nesse caso, eu seria entregue como escravo. O último Jubileu foi no ano passado, quer dizer que o próximo é daqui a 49 anos. Eu tô com 51; daqui a 49 anos, estou com 100. Não faria questão nenhuma de ser livre, né? Chegando lá, vivendo com saúde, eu
prefiro o camarada cuidando de mim até a morte, me dando de comer e garantindo minha subsistência. O Jubileu não é uma opção; a minha relação com ele era estritamente comercial. Mas um de nós não era um hebreu e, Êxodo 21, de sair livre no sétimo ano, não se aplicava. O que é que me sobrou? A possibilidade de redenção. Como isso funcionaria? Se houvesse algum dos meus parentes que tivesse dinheiro e condição e fosse movido de compaixão e misericórdia para me socorrer, esse parente poderia vir e dizer: "Eu vou pagar a dívida do Luciano." No momento
em que ele pagasse a dívida para meu credor, o credor deixava de ser meu dono, porque a escravidão dependia do vínculo da dívida. Então, não seria mais escravo; com a dívida paga, não apenas isso: meus bens e propriedades, quando falamos de bens, na época, temos que pensar que eram boi, cavalo, jumento, camelo, e propriedades, as terras, que foram dadas para indenizá-lo e não quitá-lo, elas sairiam do poder dele. Isso significa que eu deixei de ser escravo. Não que meu resgatador, que tinha que ser um parente, que estava pagando a dívida, estava me comprando. Imagina, hoje,
alguém negocia com o banco, com a dívida, e diz: "Olha, aqui te dou um juros menor e compro a dívida do outro." Você transferiu toda a responsabilidade. Essa pessoa estaria me comprando e, até o próximo Jubileu, ele seria meu dono e eu seria escravo dele. Mas pastor, deixar de ser escravo de um para ser escravo do outro não era trocar seis por meia dúzia. Não, porque esse que me comprou não me comprou para me tratar como escravo. O preço que ele estava pagando não valia a pena; ele poderia comprar mais e melhores escravos com bem
menos dinheiro. Normalmente, ele fazia isso como um parente, para usar de misericórdia e não me trataria debaixo de uma servidão pesada como a que eu estava, a menos que fosse a sogra alheia comprando para ser de contas, né? Você imagina que, dentro dessa ideia, tratar como família, a ideia seria, obviamente, um tratamento mais ameno. Esse era o desenho de redenção: era uma transação comercial. Quando Efésios 1:7 fala que, nele, em Cristo, nós temos a redenção, pelo seu sangue, qual a ideia? Deus pega exatamente o exemplo que todo mundo conhece. É como se ele fosse dar
o exemplo da feijoada. Pega aquilo que todo mundo conhece e diz: "Eu quero que vocês entendam o que é que Jesus veio fazer." Gente, Cristo veio pagar uma dívida. Colossenses, capítulo 2, verso 14, diz que o escrito de dívida que havia contra nós, nas suas ordenanças e nos era contrário, ele removeu do nosso meio e cravou na cruz. Por que ele veio pagar a dívida? Porque… Eu e você não poderíamos pagar a dívida; era tão alta que nos levou à escravidão. Qual escravidão? A do pecado! Segunda de Pedro 2:19 diz: "Quem é vencido em algo
se torna escravo daquele que o vence." Quando o homem cede, não só ao pecado e à tentação, mas ao tentador, que é Satanás, ele se torna escravo de Satanás. E o ponto é: algum de nós poderia sair dessa condição? Não. O Salmo 49 diz assim: "Nos versos 7 e 8: Verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem dar por ele a Deus o seu resgate." Que ideia é essa de dar o resgate? O texto continua e diz: "Pois a redenção da alma deles é caríssima e cessaria a tentativa para sempre." Então, ninguém podia redimir o irmão que
entrou nessa condição de escravidão. Nós precisávamos de um Redentor. É aí que você vai entender o mistério da encarnação de Cristo dentro do plano redentor. Porque Deus, na pessoa de Jesus, precisou se fazer homem, pois só um parente com consanguinidade poderia se levantar como resgatador. E como não havia ninguém no nosso meio — porque cada um de nós nasceu debaixo da mesma dívida e da mesma escravidão — Deus diz: "Eu preciso enviar o resgatador." Então, Cristo se torna homem e diz: "Eu vou pagar essa conta." No momento em que Ele pagou a conta, como eu
disse, Colossenses 2:14 fala da quitação da dívida. O que Ele realizou, na verdade, foi um ato de compra. Apocalipse 5, versos 9 e 10, diz: "E cantava um cântico novo, dizendo: Digno é o Cordeiro de abrir o livro com seus selos, pois foste morto e com seu sangue compraste para Deus homens de toda raça, tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes." O que Jesus fez na cruz foi pagar uma dívida, e no ato de pagamento da dívida, Ele nos comprou. E significa o quê? Tem crente dizendo: "Eu
era escravo, não sou mais." Digo: "Não! Tu eras escravo de Satanás, e de Satanás você não é mais escravo." Mas você não pode dizer que não é escravo, porque, na verdade, você foi comprado e agora você tem um novo dono. A diferença é que o novo dono não nos trata como escravos, e sim como família. Aí você vai entender Paulo escrevendo em Gálatas 4 e Romanos 8: "Não recebeste de novo o espírito de escravidão para outra vez estardes com temor, mas recebeste o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!" E a Bíblia diz: "Se
somos filhos, somos herdeiros." Ou seja, Ele não apenas, ao nos comprar, com tudo que nós tínhamos, disse: "Vocês vão poder usufruir do que perderam e já era de vocês", mas está dizendo: "Ainda vou dar mais, eu faço vocês meus herdeiros para usufruírem aquilo que é meu." Aleluia! Mas o fato de que Ele usou de bondade e misericórdia, e que Ele não nos trata como escravos, e sim como família, não muda o fato de que, legalmente, Ele é nosso Senhor e nós somos seus escravos. Então, você vai ver o mesmo Paulo que diz que nós não
estamos com temor debaixo do espírito de escravidão, Paulo dizendo: "Eu, Paulo, servo." A palavra "servo" significa "escravo". Ou seja, o fato de que somos filhos... Eu vejo algumas pessoas dizendo: "Você é filho, não é escravo." Digo: "Não, você é tanto um quanto o outro." A diferença é que Ele te trata como filho e quer que você tenha, no mínimo, a consciência de gratidão de que Ele te comprou e que, mesmo não te tratando como escravo, Ele tem o direito de ser seu Senhor e de ser seu dono. Então, se você entende o que é redenção,
você tem que entender a consequência. Qual é a consequência ou o resultado? Deus é o nosso dono; Ele nos comprou, Ele é dono por direito. Quem está entendendo, diga amém! Amém! Então, você olha para 1 Pedro, por exemplo, capítulo 2, verso 9: "Vós sois a nação santa, geração eleita, o sacerdócio real, povo de propriedade exclusiva de Deus." Você é propriedade de Deus. Por que você é propriedade de Deus? Porque Deus te comprou. O apóstolo Paulo fala isso em 1 Coríntios 6: "Vocês não sabem que o corpo de vocês é o santuário do Espírito Santo que
está em vós, o qual vocês receberam da parte de Deus?" Ele pergunta: "E que não sois de vós mesmos?" A Bíblia está dizendo que você não é de você mesmo, você não é seu dono; você não é dono do seu corpo, você não é dono nem do seu nariz! Sempre quis falar isso para alguém! Não imaginei que ia falar pregando. E eu não sei me sair tão bem que eu gosto de repetir isso: você não é dono nem do seu nariz! Então, o que é que Paulo está dizendo? No verso seguinte, ele diz: "Porque fostes
comprados por preço." Por que nós não somos de nós mesmos? Porque alguém nos comprou. Então, nós somos do nosso possuidor, daquele que nos comprou. Deus é o dono; nós somos a propriedade. Em Atos 27:23, Paulo faz, nas palavras do nosso saudoso Pastor Francisco, uma das mais belas autointroduções que você vai encontrar na Bíblia e diz assim: "O Anjo de Deus, de quem eu sou e a quem eu sirvo, esteve comigo." Ele está dizendo: "O Anjo de Deus, de quem eu sou, pertenço e a quem eu sirvo." Sou servo, escravo! Por que eu pertenço a Ele?
Porque Ele me comprou. Quando você entende essa verdade, a perspectiva de vida cristã precisa mudar. Eu me lembro que, alguns anos atrás, eu estava pregando o evangelho para um Senhor, e ele simplesmente olhou para mim, estava preocupado, era com a parte do bolso, que a gente brinca que é a última que converte. Ele fala: "Pastor, é..." É verdade que, se eu me converter, 10% de tudo que eu tenho e que eu ganho vai ter que ser de Deus, da igreja. Eu falei: "Não, não é verdade." O pastor falou: "Não me menta." Eu falei: "Cara, não
posso mentir, eu sou pastor." Ele falou: "Mas eu sei de fonte segura." Falei: "Quem é fonte segura?" Ele falou: "Gente lá da sua igreja que disse que vocês falam que 10% do que ganham vai ter que ser de Deus." Falei: "Ó, se você tá falando que foi um dos nossos que falou, eu não vou chamar de mentira, eu vou dizer que é um mal-entendido." Ele falou: "Certeza, não tem isso." Falei: "Cara, certeza, diante de Deus, eu te garanto que não tem esse negócio de que 10% vai ser de Deus." Quando ele fez a cara de
alívio, entrei com os dois pés no peito e falei: "100% de tudo que você tem vai ganhar, vai ser de Deus, porque Deus não comprou 10% das suas ações, meu querido. Ou a redenção faz d’Ele tudo ou, em teoria, Ele não é dono de nada." Então, a primeira coisa que nós precisamos entender é redenção e o resultado. As pessoas ficam desconfortáveis, mas, de vez em quando, eu gosto de perguntar: "Quanto custa o Reino de Deus?" E eu gosto de usar a Bíblia para responder: "Custa tudo que você tem." Mateus, capítulo 13, versículos 44 a 46,
em três versículos, Jesus conta duas parábolas, que são só roupagens diferentes para falar a mesma verdade. Na primeira, Ele diz: "O Reino de Deus é semelhante a um homem que encontra um tesouro escondido no campo; movido de alegria, ele vai, vende tudo o que tem para adquirir o campo." O campo representa o reino; como que adquire? Vende tudo que tem. Na sequência, Jesus fala: "O Reino de Deus é semelhante ao homem que encontra uma pérola de grande valor." De novo, Ele vai dizer: "Vai, vende tudo que tem para adquirir a pérola." Quanto custa o Reino
de Deus? Tudo que você tem. "Pastor, o senhor tá querendo dizer que eu compro minha entrada no reino?" Não, meu querido, você não compra nada; você foi comprado. Só que, para reconhecer a legitimidade do ato de compra, você tem que desistir da ideia da fantasia de que você é dono de alguma coisa, porque a Bíblia tá dizendo que você não é dono de nada, nem do seu corpo, de coisa nenhuma. Então, como que entra-se no Reino de Deus? Quando você reconhece que, pelo direito de compra, Jesus é o dono. Então, você vai ver Paulo dizendo
em Romanos 10: “Se, no teu coração, creres que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos e com a sua boca confessares a Jesus como Senhor.” O que é a palavra "Senhor", do grego "kirios"? É uma palavra fraca na língua portuguesa. Fraca porque não expressa a força que tem no original. A gente usa, na língua portuguesa, o termo "senhor" para falar de um filho expressando respeito ao pai: "Sim, senhor." Ou, alguém na cadeia de comando militar, uma patente inferior respondendo para um superior com continência: "Sim, senhor." Mas nem de longe a gente consegue penetrar a ideia
de que a palavra "senhor" era só um escravo que usava para o seu dono, para o seu amo, para o seu possuidor. A Bíblia tá dizendo que eu e você temos que confessar Jesus, dono das nossas vidas, senão não tem salvação. Então, você só entra no reino quando reconhece a legitimidade dessa transação, dizendo: "O Senhor é meu dono porque me comprou." E se você admite que tem dono e que você não é seu e nada é seu, você abriu mão de tudo que achava que podia ter para entrar no Reino de Deus. Mas você não
tá comprando nada; você só tá reconhecendo que você é que foi comprado. Quem tá entendendo, diga amém. Amém. Então, nós precisamos entender que a compreensão de redenção não vai ajustar sua área de contribuição na nossa vida. Todo o conceito de mordomia, de como cuidamos de tudo que temos, será afetado por isso. Agora, a próxima pergunta, depois de definir o que é redenção, falar do resultado que faz Deus nosso dono, é como quem entende o que é ser comprado deveria agir. Qual seria o comportamento desse tipo de pessoa? Vamos dar um exemplo claro da Bíblia. Eu
digo que é um exemplo na perspectiva cultural. Em Gênesis 47, se você puder, abra comigo lá. Eu quero ler a partir do verso 13. Enquanto você localiza Gênesis 47:13, eu quero dar o pano de fundo: José, filho de Jacó, que foi para o Egito, interpreta o sonho do faraó, que sonha com sete vacas gordas que eram consumidas por sete vacas magras; está lá no capítulo 40, né? A partir do 40, esses episódios estão registrados. Faraó também sonhou com sete espigas boas que eram devoradas, engolidas por sete espigas secas. E José explica e fala o sonho:
um só viram sete anos de prosperidade, muita prosperidade como nunca se viu, mas depois virão sete anos de fome, de crise econômica como nunca se viu. E a crise, os sete anos de crise, vão liquidar toda e qualquer resquício dos ganhos. E diz: a menos que o rei entenda que Deus não tá só mostrando o que vai acontecer, Ele tá dando uma revelação seguida de conselho. José olha para o faraó e diz: "Arrume um bom administrador que trabalhe com provisionamento nos anos de prosperidade para que você possa não só sobreviver na crise, mas consolidar o
seu império." Ele falou: "Tudo que você precisa, depois dessa informação, é de um bom administrador." Faraó olha para José e diz: "Tu tá contratado. Você é o cara que tem o entendimento, a compreensão, o discernimento de tudo isso." E aí, Jacó, José, filho de Jacó, tá vivendo o... Cumprimento de todo o plano de Deus: 7 anos de prosperidade passaram e agora vem o tempo da fome. O texto diz assim: verso 13, "não havia alimento em toda a terra porque a fome era muito, muito grande." Assim, o povo do Egito e o povo de Canaã desfaleceram
por causa da fome. Então José arrecadou todo o dinheiro, observe a frase: "todo o dinheiro que havia na terra do Egito e na terra de Canaã", pelo cereal que comprava; e o recolheu à casa de Faraó. Você consegue imaginar que o dinheiro sumiu, saiu de circulação? Não existia papel moeda, era só moeda mesmo. Não existia crédito nem dinheiro eletrônico. Então chega o ponto onde ninguém tem mais dinheiro. José recolheu tudo. Aí o texto continua: verso 15, "quando acabou o dinheiro na terra do Egito e na terra de Canaã, todos os egípcios foram a José e
disseram: queremos comida, porque o Senhor nos deixaria morrer em sua presença só porque o dinheiro acabou." José respondeu: verso 16, "se vocês não têm dinheiro, traga o seu gado em troca do gado; eu lhes darei comida." De novo aquela ideia de que falta de liquidez (cash) não é desculpa; não honrar compromisso. José diz: "não tem dinheiro, vamos fazer um escambo, vamos negociar com a troca." Vocês trazem o gado em pagamento e eu entrego comida. E o povo trouxe. O verso 17 diz: "então trouxeram o seu gado a José e ele lhes deu mantimento em troca
de cavalos, rebanhos, gado e jumentos, e José os sustentou naquele ano em troca de todo o gado deles." Verso 18: "Tendo acabado aquele ano, foram a José no ano seguinte e lhe disseram: não podemos esconder de meu Senhor que o dinheiro acabou, e meu Senhor já é dono dos animais; nada mais nos resta diante de meu Senhor a não ser nosso corpo e a nossa terra. Porque o Senhor nos deixaria perecer em sua presença, tanto nós como a nossa terra? Compre a nós e a nossa terra em troca de mantimento, e nós e a nossa
terra seremos escravos de Faraó; dê-nos semente para que vivamos e não morramos, e a terra não fique deserta." Qual a proposta deles? "Se a gente pegar comida, o grão para comer e plantar e não pagar, você vai executar a dívida." Já não temos dinheiro, Senhor. Levou os bens, o que restou: propriedades, terra e a nossa liberdade. Se a gente não pagar a dívida, você vai tirar a propriedade; nós vamos virar escravos. Os caras olham para José e dizem: "vamos acelerar o processo. Nós já estamos vendendo a terra e a nossa liberdade." Eles partem da premissa
de sobrevivência: é melhor continuar vivo como escravo do que em nome da liberdade morrer de fome. E diz: "vamos acelerar." José olha para eles e diz: "negócio fechado." Verso 20 diz assim: "José comprou toda a terra do Egito para Faraó." Foi a maior transação imobiliária de todos os tempos; comprou o país inteiro, gente, porque os egípcios venderam cada um seu campo, porque a fome era extrema sobre eles, e a terra passou a ser de Faraó. De quem a terra passou a ser? O povo, verso 21, diz: "Quanto ao povo, ele o escravizou de uma a
outra extremidade da terra do Egito." Então, quem é dono do povo agora? Faraó. Verso 23: "Então José disse ao povo: Eis que hoje comprei vocês e a terra de vocês para Faraó; aqui estão as sementes para que semeiem a terra." E está pegando a semente de onde? Do celeiro de quem? Do Faraó. Então, se a terra é do Faraó, a semente que vai ser plantada é do Faraó; a mão de obra que vai trabalhar na terra é do Faraó. Pergunta com resposta óbvia: de quem é a colheita? Quem é o dono das colheitas? Gente, é
uma pergunta fácil. Agora, o que é que José fala para esse povo? Olha, o verso 24 diz assim: "Das colheitas vocês darão a quinta parte, o quinto, 20%, a Faraó; as outras quatro partes, 80%, serão de vocês para semear o campo, para servir de alimento a vocês, aos que estão em suas casas, para alimentar seus filhos." Você acha que quando José deu essa notícia, alguém levantou para protestar: "ladrão, está tentando tirar 20% que é nosso?" Ninguém brigou, porque quem entende o que é ser comprado sabe que já não é dono de nada. Os caras olharam
para José e disseram: "Peraí, o Faraó comprou a gente, a nossa terra é dono de tudo; salvou a gente da morte, impediu a gente de perecer, e agora ele está dizendo que só quer uma parte do que é dele de volta e a gente fica com o resto." E se você pensar bem, nos sete anos de prosperidade, todo mundo já dava um quinto como tributo, então basicamente o José não está mudando nada. Os caras fizeram festa. Olha o verso 25: "Eles disseram a José: o Senhor salvou a nossa vida! Que possamos alcançar favor diante do
meu Senhor e seremos escravos de Faraó." Eu brinco que na Bíblia da linguagem de hoje, do pastor Luciano Subirá, os caras falam assim: "Gosto de ser escravo!" Os caras estão celebrando: "Você salvou a nossa vida e não vai tratar a gente como escravos." Basicamente, José está dizendo que Faraó nunca quis oprimir, nem abusar, nem se aproveitar de vocês. Faraó tinha um plano para salvar todo o Egito. Faraó quer que vocês vivam como já viviam antes de serem escravos, porque não vai tratar vocês como escravos, mas como todo favor. Quem não se lembra que é favor,
acaba sendo visto como obrigação. Só para manter a cabecinha de vocês no lugar e uma consciência de gratidão, vocês vão continuar devolvendo uma parte do que é do Faraó. Para quê? Manutenção da corte da casa do Palácio do faraó. Eu vou te dizer mais do que isso: nós temos aqui uma figura interessante, o crente que reclama: "Estão tentando tirar 10% do que é meu". Não entendeu o que é redenção, porque se ele entender redenção, ele sabe que Deus é que deixa ele ficar com 90% do que é dele. Deus não está tentando tirar nada do
que é seu, porque na verdade, se você entendeu e viveu redenção, Ele é o dono de tudo. A pergunta é: por que uma parte de tudo que é d'Ele deve voltar para Ele? E aí, precisamos entender que há um elemento importante aqui. Eu mencionei que todo favor que você não lembra que é favor vira obrigação. Isso me faz lembrar quase 30 anos atrás, no início do meu ministério pastoral, quando a gente tinha um programa de ajuda social que hoje eu defino como equivocado. Na época, a gente não queria controlar caso a caso, pessoa a pessoa,
né? E parecer que a gente estava tratando um de uma forma ou de outra. Então, instituímos um padrão: quando qualquer desempregado da igreja ou próximo a alguém da igreja era incluído no nosso programa, a gente dizia: "Você tem seis meses de cesta básica". O cara dizia: "Se eu arrumar emprego no mesmo mês ou no mês seguinte," e a gente dizia: "Você está no lucro, reparte a cesta com quem quiser, mas vai ter do mesmo jeito." Mas se não conseguir emprego em seis meses, também já era, porque de vez em quando tem aqui aqueles que querem
encostar em vez de trabalhar, e a gente sabia que tinha que ter padrões. Se a gente não lembrasse a pessoa: "Olha, foi o primeiro mês, tem cinco, foi dois, tem quatro, chegou no meio só mais dois, só mais um," o cara batia lá na igreja no sétimo mês dizendo: "Cadê a minha cesta básica?", como se a gente estivesse roubando ele. Porque favor que você não lembra que é favor vira obrigação, e Deus sabe que o seu povo é esquecidinho. Então, na hora que Josué vai liderar o povo na travessia do Jordão, gente, tentem imaginar isso:
Deus abre o rio e você passa a pé enxuto, um evento nunca antes experimentado na história. Dá para esquecer isso? Tem história que vão contar para os filhos, para os netos, bisnetos, para todo mundo. Mas Deus disse para Josué: "Tira 12 pedras do leito seco do rio na hora da travessia. Levantem um monumento memorial do lado de fora, uma pedra representando cada tribo de Israel, para que ninguém esqueça o que eu fiz aqui." Deus não está falando "esquecer" no sentido de amnésia, mas Ele está falando de uma memória de gratidão, de uma ciência a ser
cultivada. Quem está entendendo? Quando Jesus, na última ceia, está conversando com os discípulos, eu imagino, se fosse numa linguagem hoje, Ele falando alguma coisa mais ou menos assim: "Negócio seguinte, cambada, eu vou morrer pelo seu estudo, mas todas as vezes que vocês comerem o pão e beberem o cálice, vocês vão fazer em memória de mim." Ele não estava achando que nenhum deles ia ter uma amnésia, ia acordar uma manhã dizendo: "Quem é Cristo? O que Ele fez? Não sei, não lembro." Não era esse tipo de coisa, mas Ele fala de manter viva uma consciência. Quando
você entende toda essa progressão, a pergunta é: qual a relação de tudo isso com o dízimo? Eu vou dizer a você que Deus não instituiu o dízimo, a décima parte da nossa renda, apenas para dar manutenção à casa d'Ele. Eu cresci ouvindo isso dentro da igreja: "Os dízimos são para manutenção da casa de Deus." Na verdade, nós precisamos entender que eles têm a ver com uma consciência. Se José pediu aqui parte 20%, por que Deus estabeleceu a 10%, parte 10%? E precisamos entender que mesmos números na Bíblia têm um significado recorrente, repetitivo. E aí, quem
estuda dentro da tipologia, especificamente a questão dos números, normalmente você vai ver o seguinte comentário: muitos deles falam assim: "É difícil dizer com precisão o significado do número 10." Você pega um, fala de unidade; o número dois sempre está relacionado com o número um; por isso Jesus mandava de dois em dois. O três fala de um outro nível de unidade, e aí você vai ter o mistério da Trindade, o ser humano tripartido, e a lista aqui vai longe. O quatro fala de universalidade; é por isso você tem quatro Evangelhos. Tudo que está relacionado com a
graça vem no número cinco; relacionado ao homem, o número seis. O sete fala de totalidade, o oito de recomeço, fecha o ciclo do sete total e abre um novo começo, e o nove, de frutificação. Quando chega no 10, os comentaristas às vezes falam assim: "É difícil determinar se o 10 é um número de prova ou de juízo." Porque, em decisão, eles dizem: "Deus deu 10 mandamentos para provar o seu povo, mas deu Deus 10 pragas para julgar os egípcios." Tem dias que pode ser prova, outras pode ser, né, julgamento. A minha pergunta é: o que
essas coisas têm em comum? Não o que elas têm de diferente, que normalmente a mensagem bíblica é tão precisa, é tão clara, é tão harmônica, que a mentalidade tem que ser essa: o que elas têm em comum? Ambas foram dadas no contexto de redenção. A saída de Israel do Egito é a maior figura de redenção que você vai encontrar no Antigo Testamento. Todo mundo estava debaixo da tirania de um senhor que os escravizava, Faraó, que representa a escravidão que eu e você vivemos debaixo da autoridade de Satanás. Deus tira o povo da escravidão quando, na
noite, em Êxodo 12, em que o primeiro Cordeiro de Páscoa foi imolado. Qual o paralelo disso? Paulo escreve aos Coríntios e diz: "Cristo é o nosso Cordeiro Pascal." Cristo está para nós como o Cordeiro da Páscoa estava para... Eles tinham que pegar o sangue daquele Cordeiro emolado e colocar nos umbrais das portas. Isso não fala só da aplicação de fé, né? De tomar posse de algo pela fé, mas fala de um anúncio de redenção. O apóstolo Pedro escreve e diz: "Não foi com prata ou ouro que vocês foram resgatados da vossa vã maneira de viver,
que por tradição é dada por vossos pais, mas com o precioso sangue de um Cordeiro, sem defeito, conhecido antes da fundação do mundo e agora manifesto por amor de vós." O sangue era moeda de transação dessa redenção. Então, Deus disse: "Vocês vão pegar o sangue e vão colocar no umbral das portas, porque o sangue tem o poder de proteger uma casa." Não é à toa que ainda tem gente usando sangue de animal até hoje para pintar. Não era só umbral da porta; era a porta toda, a parede, o telhado, o muro, o portão. Mas Deus
diz: "O sangue será por sinal." Aquilo era um ato profético. Quando os hebreus colocavam o sangue na porta, estavam mandando uma mensagem que ecoava através dos séculos: um dia, o Cordeiro, conhecido antes da fundação do mundo, vai encarnar, vai se tornar semelhante a nós, vai se levantar como resgatador e a moeda de pagamento. Porque Hebreus diz: "Sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados." Não será prata, não será ouro, não será nada corruptível, será o sangue do próprio Filho de Deus. Aleluia! Então, o que eles estavam fazendo era um ato profético. O que eu
e você precisamos entender é que, normalmente, na Bíblia, Deus manda a gente lidar com o diabo. Ele diz: "Você pode resolver." Marcos 16, Jesus diz: "No meu nome, vocês expulsam demônios." Quem expulsa demônio é a gente, no nome de Jesus, por procuração dele, com a autoridade dele. Mas quem expulsa é a gente. Se a pessoa ficar endemoniada perto de você, você não tem que orar: "Ó meu Deus, vem tirar esse bicho daí!" Você chuta o miserável para fora, na autoridade do nome de Jesus. Paulo escreve aos Efésios e diz: "Não deis lugar ao diabo." Ele
está dizendo que dar ou não dar espaço é responsabilidade nossa, não tem a ver com Deus. Tiago, capítulo 4, diz: "Resistir ao diabo, e ele fugirá de vocês." Primeira de Pedro 5:8-9 diz: "O diabo, vosso adversário, anda em vosso derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. Resistir e firmes na fé." Quem resiste somos nós. Essa é a dinâmica que se encontra na Bíblia. Mas, quando o assunto é redenção, Deus coloca-se como dono da sua propriedade. Normalmente, você vai ver Deus dizendo o quê: "Quem defende o que é meu sou eu." Então, Deus diz
o seguinte: "Se vocês colocarem o sangue nas portas, quando o anjo da morte passar e ver o sinal, Ele não vai entrar." Por que não vai entrar? Deus disse: "Porque eu vou defender a casa." Ele está dizendo: "Eu defendo aquilo que é meu." Glória a Deus, gente! Isso é um fato. Anos atrás, eu já estava morando aqui em Curitiba. Na época, eu recebi a visita de um amigo, que tem um dos testemunhos de conversão mais impressionantes que eu já ouvi. Ele foi bruxo, canceroso, mendigo, tudo o que você imaginar. Jesus fez a limpa na vida
desse cara, e ele estava dando detalhes do lugar onde viveu na magia. Conheci pouca gente que entrou tão a fundo nas trevas como esse cara entrou. Eu olhei para ele e falei: "Carlão, como é que você conseguiu sair de um lugar de tamanha cegueira e escravidão para um encontro com Cristo?" Ainda lembro dele no sofá de casa, sorrindo e dizendo: "O diabo deu um tiro no pé." Eu falei: "Como é que foi?" Ele falou: "Você não quer saber as nojeiras que eu fazia, porque o diabo paga mal seu serviço." Mas, numa determinada ocasião, ele falou
de uma forma que você entenda: "Me foi pedido um trabalho específico dentro daquele nível de magia. Diz que eu tinha que fazer aquilo com um cadáver, um defunto humano de 15 dias." Eu falei: "15 dias?" Ele falou: "Lázaro com quatro dias cheirava mal! Você não imagina o que é um de 15!" Eu falei: "Não imagina o de quatro, criatura! O que dizer o de 15?" Ele falou que nem queria saber a nojeira do que tinha que fazer com aquele corpo em decomposição. E diz, na gíria do ocultismo: "Comprei um corpo!" Ele tinha informação de que,
no dia do trabalho, ia ter alguém com exatos 15 dias enterrado. Era garantir que a violação ao túmulo e ao cadáver ia ser mantida em sigilo. Então, ele comprou o corpo, chegou o dia do trabalho, violou a sepultura, e, quando chegou no caixão, ao violar o caixão para ter acesso ao cadáver, o demônio que ele servia na magia apareceu materializado atrás dele e o chamou pelo seu apelido da magia. Quando ele olhou para ele, o demônio falou: "Ei, o que eu te pedi não dá para fazer com esse corpo, não." Esse meu amigo falou que
bateu o pé e disse: "Eu comprei o corpo, é meu! Vou fazer com esse!" O bicho atrás dele falou: "Se você tocar nesse corpo, você morre." E ele levou um susto. Ele só perguntou: "Por quê?" E diz que o demônio, com a cara feia, sinalizou um gesto de cabeça para cima e disse: "Esse é do homem lá de cima." Glória a Deus! Ele falou: "Senhor, eu fiquei perturbado com aquilo." Ele foi no dia seguinte tentar descobrir quem tinha sido enterrado ali e descobriu que era uma crente, esposa de um pastor. Depois de tantos dias de
putrefação, Deus ainda estava protegendo o que é dele. O que dizer? E você, hoje, vive nossa casa, nossa família, nossos bens, porque Deus defende aquilo. Que é dele agora? Preste atenção, pastor, que isso tem a ver com o dízimo. Deus disse: se vocês trouxerem os dízimos, Malaquias. Eu, Deus, é minha, porque a propriedade é minha. Quando existe um reconhecimento disso, então eu ouço dizer que o número 10, do dízimo, está associado à redenção. Não importa se nós estamos falando dos 10 mandamentos que ele deu para provar o seu povo no ato de redenção das 10
pragas. Se você olhar para o Cordeiro da Páscoa, na lei de Moisés, Deus instituiu o dia em que o cordeiro tinha que ser separado do rebanho para sacrifício. Só seria sacrificado no 14º dia, mas Deus diz: o dia de separar do rebanho é o 10º dia. Era o dia 10 do mês de Abib, que para eles cai mais ou menos perto do nosso abril, mas para eles é como se fosse janeiro, o primeiro mês do ano. Deus diz: não é o 9, não é o 11, é o dia 10 que você separa o cordeiro, que
figura o Cristo, que é o nosso Redentor. Porque o 10 é o número de redenção. Então, Deus pega uma cota que simboliza o número de redenção e pede um comportamento que o leva a agir, só como quando ele age com redenção. Isso me faz entender o que quando Paulo diz que você não é dono do próprio corpo e diz: "Porque foste comprado." Ele termina dizendo: "Glorifiquem, portanto, a Deus com o corpo de vocês." Glorificar a Deus com o corpo não é meramente a dança no louvor e adoração. É o reconhecimento de que o corpo tem
um dono; a consciência de mordomia, de gerência, de cuidar bem do que é de Deus para honrá-lo pelo ato de compra, nos leva a glorificá-lo. Se isso vale com o corpo, vale com a forma como você cuida da sua casa, vale a respeito da maneira como você cuida dos bens. Quando nós temos a consciência de que ele é o dono, quando você junta todas essas coisas, eu ouso dizer que o dízimo tem algo parecido com a Ceia do Senhor. Qual o propósito de comermos o pão e bebermos o cálice? Recordar a redenção, manter viva a
consciência da redenção. Qual foi a primeira vez que o dízimo aparece na Bíblia? No texto citado em Hebreus, Gênesis 14, que vai ser usado como a figura da passagem dele para a nova aliança. Melquisedeque, que é figura de Cristo, vem ao encontro de Abraão, trazendo o quê? Pão e vinho. É a primeira vez que você tem a menção do dízimo, é a primeira vez que você tem os elementos da Ceia, porque ambos servem ao mesmo propósito: manter e preservar uma consciência de gratidão pela redenção. Enquanto meus filhos cresciam, eram pequenos. Quando chegava o dia de
entregar o dízimo, normalmente fazíamos isso no primeiro domingo do mês, que era o domingo da Ceia. Aliás, muita gente perguntou, pastor, por que ao longo dos anos a gente ceava, né, junto com o momento da entrega dos dízimos? Depois, pelo volume e quantidade de pessoas, a gente teve que reformular, mas quem está aqui há mais tempo lembra que a gente fazia as duas coisas ao mesmo tempo e a gente dizia: porque as duas figuras se mesclam em relação ao seu significado. Então, quando chegava o dia, normalmente eu dobrava os meus joelhos junto com os meus
filhos, toda a família reunida, segurando o mesmo envelope. A gente pegava aquele envelope com dízimo e a nossa oração era: "Jesus, nós reconhecemos que o Senhor é o nosso Senhor. 10% do que nós temos, o Senhor é dono de tudo que nós somos, de tudo que nós temos. Esses 10%, nós vamos Te entregar agora. É só uma pequena parte do que é, se o que volta para preservar uma consciência de que o Senhor comprou todo o restante." E tem, quando Te exaltamos e Te dizemos: "Muito obrigado pelo que o Senhor fez." Nós também Te pedimos
sabedoria para administrar os outros 90, não como se fosse nosso, mas como sendo Seus. E sabe o que eu comecei a perceber? Que quando Deus diz: "Me prova nisso, traz o dízimo." Eu não abro as janelas dos céus. Existe bênção sobrenatural sobre a vida do dizimista. Mas isso não significa… Deus está dizendo: "Me ponha à prova, em tudo o resto." Eu digo: "Só me obedeça, não questione nisso." Ele diz: "Me ponha à prova e veja se não funciona." Então, ao que eu e você precisamos entender que o dízimo não é uma forma de aumentar o
nosso patrimônio, porque se a gente tem a consciência de que é tudo de Deus, não nosso, o que multiplica não é o nosso patrimônio, é o patrimônio dele sobre a nossa gerência e mordomia. Então, o dízimo está mais além de expressar e celebrar a redenção. A bênção que vem dele ou a ausência de bênção que provém da não fidelidade nele está muito mais para um teste de fidelidade. Jesus disse: "Quem é fiel no pouco, será fiel no muito, mas quem é infiel no pouco, vai ser infiel no muito." Aí, de vez em quando, o crente
fala: "Não, pastor, não estou dizimando porque eu ganho pouco. Quando eu ganhar mais, vou dizimar." Eu falo na cara dura, eu digo: "Mentira." E tem uns que se ofendem: "Está me chamando de mentiroso!" Estou falando de mentiroso e de mentido, porque ao mesmo tempo que você mente, você é um enganado. Quem não dá R$ 1 de 10, não vai dar R$ 10 de 100, não vai dar R$ 100 de 1.000, não vai dar R$ 1.000 de 10.000, não vai dar R$ 10.000 de 100.000, não vai dar R$ 100.000 de 1 milhão, não vai dar R$
1 milhão de 10 milhões. Agora, a Bíblia diz que quem é fiel no pouco será sobre o muito, porque a fidelidade no pouco nos promove para o muito, como não é Deus multiplicando seu patrimônio, é Deus aumentando ou ampliando a sua mordomia. Porque pode confiar em você? Glória a Deus! Nós paramos para entender isso. Aleluia! Algumas vezes, a nossa dinâmica em lidar com Deus nesses assuntos é um tanto quanto controversa. Imagina que você tem um negócio aqui na República Argentina, na Avenida, aqui na frente da igreja, que, no bairro, é um excelente ponto comercial. Imagina
que você tem um ponto de venda, e num canto da loja você tem o caixa que trabalha na venda varejo, e no outro canto da loja você tem o caixa que trabalha com a venda para o atacado. Aqui, o que você tem é venda no CNPJ, distribuição, né? O ganho, proporcionalmente, é menor, mas o volume de venda é muito maior e o fluxo do dinheiro do seu negócio está aqui. Esses dois funcionários estão trabalhando, e o que eles acham que tem no meio deles aqui é só uma lâmpada. Mal sabem eles que a tecnologia que
tem ali você colocou: uma lâmpada que também é uma filmadora, que cobre 360 graus de ângulo, tem infravermelho e filma no escuro. Outro dia alguém falou: "Pastor, onde é que eu compro a lâmpada?" Aí eu falei: "Pronto!" Tô brincando, nem existe. Eu imaginei. Outro falou: "Existe!" e me mostrou que tem várias opções dessa, né? Mas aqui, tô fazendo propaganda. Só imagina você, como dono do negócio, tá checando as filmagens de segurança aceleradamente e descobre que o caixa que trabalha na venda do varejo todo dia tira um pouco do dinheiro, sem saber que tá sendo filmado,
bota no bolso e desvia. Ele não fez isso uma vez, não fez duas, não fez três. Tá fazendo todo dia! Você chegou, conferiu, e todo dia ele tá fazendo isso. O que você faria? Eu vou te dizer o que eu, como empresário, faria: botaria ele no olho da rua por justa causa. Mas isso eu, que sou ruim! Você não, porque você é bom. Você olharia e diria: "Imagina, ele só deve estar fazendo isso porque ele tá precisando; deve ter alguma necessidade." Então você diz: "Não, vou mexer. Deixa ele resolver o problema dele." Mas ele não
para de te roubar todo dia; ele continua roubando. Aí, chega um dia que você pensa: "A necessidade dele deve ser muito grande porque me rouba, me rouba, me rouba todo dia e não resolve o problema." E você vê que ele ainda insiste. Você pensa: "Não, ele nunca vai resolver o problema dele aqui nesse caixa que passa menos dinheiro." Você diz: "Eu vou promovê-lo para caixa do atacado, porque aqui corre a grana alta. Aqui sim, ele vai resolver o seu problema." Você se imagina, como empresário, fazendo, com perdão da palavra, uma estupidez. É lógico que não!
Agora, a pergunta é: por que você acha que Deus vai fazer? Imagina uns crentes chorando no pé do altar, dizendo: "Ô Deus, tá dando pra viver com essa mixaria? Não, meu Deus! Manda mais, manda mais, manda mais!" Eu imagino Deus olhando do céu, com vontade de rir e resmungando: "Crê, tu já me roubas no que você chamou de mixaria! Por que eu vou lhe dar mais do que é meu?" A palavra de Deus diz que Deus vai tirar da conta do ímpio para depositar na conta do justo. Glória a Deus! Então, me ouça com atenção:
haverá, no tempo do fim, uma grande movimentação e transferência de riqueza, mas não vai ser na conta de qualquer justo. Deus tá treinando, preparando e forjando mordomos fiéis a quem Ele possa confiar recursos que vão financiar a maior colheita de almas de todos os tempos. Aleluia! Então, Deus está procurando os bons mordomos a quem Ele possa ampliar a mordomia. A bênção do dízimo não é a multiplicação do seu patrimônio, mas o aumento do patrimônio de Deus, confiado aos seus cuidados. Se a gente não tiver a visão correta, nós não vamos a lugar nenhum em relação
a isso. Para terminar, acho que ainda tem uns minutinhos. Quando nós começamos a comunidade Alcan aqui em Curitiba, no primeiro mês, que foi julho de 2005, a gente só reuniu na casa dos pastores Marciano e Adriano, lá na garagem da casa deles. Mas, no primeiro domingo de agosto, apesar da igreja existir oficialmente, antes dos cultos, das celebrações públicas, a gente teve a primeira reunião no prédio lá da Mato Grosso, na Água Verde. Na época, a gente nem tinha alugado o salão; nós alugamos só o predinho do lado, que depois virou para o ministério infantil. E
eu lembro que nós tivemos 53 pessoas no primeiro culto, então a sala não era muito grande. Logo, a gente deu início... Eu combinei com o pastor de almoçar com ele no dia seguinte, na segunda-feira, até porque ele tinha culto domingo e não podia estar conosco. Esse pastor já estava há mais de 30 anos servindo a Deus na cidade. Eu falei para ele: "Amigão, você é um dos anciãos, se senta às portas da cidade. Para mim, seria muito importante e significativo se você pudesse conhecer o nosso prédio, orar conosco e nos abençoar nesse início de igreja
na cidade." Ele hoje tá com o Senhor, mas nos abençoou muito aqui na casa do pastor Miguel Piper. Então, na segunda-feira, nós almoçamos juntos: eu e a Kelly, ele e a esposa. E, depois do almoço, fomos pra igreja; mostrei as instalações e falei: "Ó, estão de olho no barracão do lado. A hora que não couber aqui, né? Já tem uma pré-negociação pra gente ficar com os dois prédios. Ore conosco!" E, depois desse momento, que para mim era muito significativo para o reino espiritual, quando nós saímos da igreja, Kelly percebeu antes de mim, porque era do
lado que ela ia entrar, do passageiro. Eu tava dirigindo, alguém quebrou a janela do nosso carro, e não só quebrou o vidro, mas quebrou o vidro para levar o CD player, e o porta-mala tava aberto. A única coisa que a gente percebeu é que não era manual de carro. Nada disso era o que minha esposa, na época, chamava de disqueteira; era uma bolsa que tinha com todos os CDs nossos de louvor e adoração que a gente tocava ali na época. Essa mídia física era cara; você comprava um CD de cada vez, não tinha essa facilidade
do streaming. E eu não sabia o que doía mais: eu pensava quanto custava o CD player, eu pensava nos CDs que nós perdemos, mas eu pensava no vidro. Meu carro era um carro mais velho, mas era um carro importado; eu pensava: "não vai ter peça de reposição, eu vou ter que achar isso em ferro-velho, vai dar trabalho, vai custar dinheiro." E a primeira coisa que me deu foi o desgosto de olhar e imaginar toda aquela cena. Mas, de repente, no meio daquele desgosto inicial, lembrei e falei: "pera aí, nada disso é meu, é tudo de
Deus." Na hora que eu lembrei, olhei para cima e falei para Deus em voz alta: "Senhor, viu o que fizeram com o seu carro?" Falei para Ele: "Eu não sei o que é que o Senhor vai fazer a respeito, porque o Senhor é o dono, é o Senhor que decide, mas se fosse eu, eu ia para cima dos miseráveis, acabava a marrapada deles." Mudei a estação de rádio, joguei na sintonia e falei: "Diabo, se você não estiver me ouvindo, algum demônio fofoqueiro vai te levar a mensagem." Eu falei: "Eu quase joguei o seu jogo, eu
estava começando a me entristecer e me desgostar com isso, porque, por um instante, você quase me levou a acreditar que esse carro era meu. Mas não é; eu sei que não é, você sabe que não é, e você sabe quem é o dono. Você sabe com quem que você se meteu. Na boa, eu acho que tu tá lascado. Eu não sei o que o dono vai fazer, porque Ele que decide. Se fosse eu, ia para cima de tu, miserável; eu acho que Ele vai... Se tem alguém aqui que vai ficar no prejuízo, não sou eu,
é você." Eu falei para Ele: "Vou aguardar ansiosamente os próximos dias para rir na sua cara, miserável." Fomos dali, passamos direto na escola pegar os filhos. Na escola, Israel ainda era um toquinho de gente quando a gente chegou e ele perguntou: "O que são esses vidros no chão?" E quando a gente contou o que aconteceu, a primeira pergunta dele foi: "Pai, nós fizemos alguma coisa errada?" Eu falei: "Filho, nós não fizemos nada de errado e nós vamos fazer festa daqui a uns dias. Fica de olho nisso. Isso aqui é uma grande lição para nós." Uma
semana depois, na outra segunda-feira, o telefone toca; era a época do finado telefone fixo. O telefone toca, eu atendo, e quando atendo, do outro lado, uma voz pergunta: "É da casa do pastor Luciandro Subirá?" Eu falei: "É. Ele está?" Falei: "Ele mesmo, eu tô me perguntando como é que esse cara tem meu telefone, porque eu mudei pra cidade faz poucos meses, o telefone não estava no meu nome e nem divulgado na lista." Agora os mais novos vão ficar se perguntando: "O que é lista?" Essa é uma experiência cultural fantástica; Google "lista telefônica" e talvez você
ache mais do que uma foto, quem sabe um vídeo para entender o que nós estamos falando. Eu pensei: "Como é que ele tem meu número?" Aí o cara pergunta do outro lado e diz assim: "Roubaram seus CDs?" Eu não acreditei. Falei: "Roubaram?" Ele falou: "Roubaram." Eu falei: "Como é que você sabe disso? Não fiz queixa, não fiz BO, não falei para quase ninguém." Ele falou: "Porque os CDs estão comigo." Falei: "Você que roubou?" Ele falou: "Não, eu sou um policial. Temos uma batida numa favela, e recuperamos vários materiais roubados. No meio de tudo isso, têm
esses CDs." Eu falei: "Como é que você sabe que são meus?" Ele falou: "Um dos policiais, na hora, falou assim para mim: 'Isso aqui é coisa de crente. Sua mulher é crente, vê se interessa, porque nós nunca vamos achar o dono dos CDs.'" E ele falou: "Eu levei para casa. Quando cheguei em casa, minha irmã também estava lá, que também é crente. E quando eu mostrei os CDs, eu falei: 'Vê se interessa para vocês, porque nós nunca vamos achar o dono.'" Ele disse que a irmã dele olhou e falou: "Isso aqui é de um homem
de Deus." Eu falei: "Como é que você sabe que o CD é meu?" Ele falou: "Porque tá escrito Luciano e Kell Subirá em tudo." Eu lembrei que o crente não rouba, ele esquece de devolver. Então, minha esposa sempre escrevia com aquelas canetas que não apagam o lembrete de quem era a bendita mídia, né? O CD. Ele falou que tá escrito Luciana e Kell Subirá em tudo. Mas por que o nome de vocês estava lá? Quando eu cheguei, minha irmã falou: "Esse cara é um homem de Deus, já veio pregar aqui na nossa cidade." Ele falou:
"Quando ouviu isso..." Ela ainda falou assim: "Se você não devolver, você tá debaixo de maldição." Ele falou: "Eu nem conheço, não sei como." Ela falou: "Te vira, senão você tá lascado." Eu fui e bati o seu nome na internet; apareceu que o senhor pregou numa igreja aqui em Curitiba. Liguei para eles para deixar lá, para ver se eles faziam o contato com você, e foi o pessoal da igreja que me deu o seu telefone. Ele falou: "Então queria que o senhor me desse o endereço para eu levar." Eu tô pensando: "É ruim tu tá com
coisas roubadas minhas. Não sei se foi você que roubou, agora vou dar o endereço de casa." Aí pensei: "Endereço da igreja é público." Falei: "Você não quer que eu busque com você?" Ele falou: "Não, tô na ronda. É mais fácil eu te achar do que você me achar." Eu falei: "Ok, então me leva à igreja." Falei: "Amanhã cedo eu tô orando." Lá dei o endereço da igreja. Enquanto eu estava orando, eu lembrei daquilo que eu falei: não sei o que Deus vai fazer, mas se fosse eu, o diabo fazia o quê? Você trazia de volta.
Falei: não é que tá voltando no mesmo portão! Glória a Deus! Eu achei aquilo curioso. Mas, enquanto estava orando, o Espírito Santo começou a me incomodar e disse: "Ele te disse que não é crente, mas na verdade ele é um desviado." E, na hora que ele chegou, foi uma das primeiras coisas que eu falei, porque eu comecei a entender. Falei: Deus arrumou uma pra Satanás. Enquanto ele achou que ia roubar um CD player e alguns CDs de um servo de Deus, Deus iria usar essa situação para não roubar algumas almas que estavam no controle dele.
Então, eu tô orando por ele. Quando ele chega, eu falei: olha, você me diz que não é crente, que sua mulher que é, mas na verdade tu é um desviado. Ele falou: como é que o Senhor sabe disso? Falei: Deus me disse. Ele falou: eu sou. Eu falei: por que que você se quer? Ele falou: pastor, tô tão desviado que eu sou pior do que o não crente, então eu prefiro dizer que eu não sou. Na hora que ele falou isso, simplesmente aquele negócio saiu da minha boca; não deu tempo de eu segurar. Eu falei:
alguém como você, que conheceu a verdade, está vivendo longe dela. Trabalha com o que? Trabalha... a linha não é muito fina entre o certo e o errado. Na hora que eu falo isso, eu mesmo me pergunto o que que eu tô falando. O cara vem trazer minhas coisas, tô chamando ele de corrupto. A hora que eu falei isso, ele baixou a cabeça e falou: é, não adianta esconder as coisas do Senhor, que o Senhor é homem de Deus. Ele falou: então vamos rasgar o jogo aqui. Ele falou: eu não recuperei isso em batida nenhuma; eu
fui o receptador que comprou do crackeiro que quebrou seu carro. Eu falei: então você é cúmplice do resto do prejuízo. Eu perdi o vidro, eu perdi o CD player; tu veio me trazer só o CD de música de volta. Ele falou: então tava aqui me perguntando como é que eu ia chegar nesse ponto sem precisar abrir o jogo, mas eu te trouxe outro CD player para te restituir. E já abriu o porta-mala do carro dele, pegou um aparelhozão de CD. Eu lembro que eu perguntei pra ele, era a GIA da época. Eu falei: você garante
que isso aí não é cabrito, não é roubado? Ele olha para mim e diz: aí, o pastor tá querendo mais também. Eu falei: meu amigo, se isso é cabrito, eu não posso pegar. Ele falou: não, se o senhor não pegar, eu tô debaixo de maldição. Falei: se pegar, tô eu. Por que que eu vou ficar debaixo de maldição no teu lugar? Ele: ah, ok, já entendi. Falou: então vamos fazer o seguinte: nós vamos ali na loja, eu te compro novo, com nota. Eu falei: tu tá mesmo com medo da maldição? Eu falei: eu tenho uma
outra proposta para você. Ele falou: qual? Falei: vai te custar um pouco mais caro do que isso. Se fosse hoje, eu voltasse lá atrás, eu tinha feito ainda um drama, uma encenação, teria dito: sua alma. Ele falou: o que que vai me custar? Falei: eu quero domingo, às 6 da tarde, que é a hora do nosso culto, você e sua família na primeira fila de bancos. Se você vier, tá liberado da cumplicidade do vidro e do CD player. Falei: eu não quero nada. Ele falou: não, eu te dou o CD; volta domingo. Falei: se você
me der, você não me deve nada; eu quero você devendo. Eu quero só consciência fritando, aí eu quero você com medo da maldição, dizendo: vou lá na igreja acertar as coisas e Deus seja louvado. Ele não só veio, ele se reconciliou com o Senhor Jesus. Ele permaneceu e eu ficava dizendo pro diabo: tu é muito besta de se meter com aquilo que é de Deus. Sabe, a gente começa a viver um nível de consciência, meu querido. Eu não acredito no que muitos pregadores, na boa intenção, dizem; não acho que estão mentindo, estão mal informados no
que diz. Pois, se você dizimar, ninguém vai roubar o que é seu; a Bíblia nunca falou isso. Jesus falou pros seus discípulos: "Junta tesouro no céu, porque aqui na terra a traça e a ferrugem correm e consomem, e os ladrões minam e roubam." Ele não falou que isso é pro não crente, o não dizimista; foi pros seus discípulos. A Bíblia nunca disse que não vai acontecer, mas Deus disse: se acontecer, quem defende o negócio sou eu; quem briga por isso sou eu. E há motivos pelos quais Deus pode decidir lidar com o que é dele
de forma diferente. Nesse dia, nós tivemos uma baita de uma isca para ganhar o que para Deus vale mais do que dinheiro ou qualquer outro matrimônio: almas, pessoas que têm valor para Deus. Essas coisas vão ajudando a gente a mudar completamente a visão de como lidamos, de como administramos, de como honramos o Senhor. Quem tá entendendo, diga amém!