O que é o espaço, Sr. Einstein?

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Carlos Nougué Tomismo
O dito neste vídeo se baseia no "Curso de Física" (ainda não publicado) do Padre e engenheiro nuclea...
Video Transcript:
O que vou tratar aqui não se baseia na obra "Curso de Física" do Padre Álvaro Caldeira, que, sendo engenheiro nuclear e tomista da mais alta qualidade, é a referência obrigatória hoje em dia quanto às ciências naturais. Mas também se baseia, o que eu vou dizer aqui, em meu escrito da necessidade da Física Geral aristotélico-tomista, que saiu junto com o comentário de Santo Tomás à Física de Aristóteles pela Editora Contra Errores. A obra de Caldeira, do Padre Caldeira, infelizmente, não foi publicada, mas ele promete para proximamente.
É um livro exatamente sobre o assunto; ou seja, sobre cosmologia. É preciso, antes de tudo, distinguir a Física Geral, que é como um gênero de cosmologia, que é o que hoje se chama física. A Física Geral de Aristóteles permanece quanto ao essencial, impedida, ao passo que sua cosmologia caducou grandemente, se é que não totalmente.
Mas vamos lá. Já gravei aqui um vídeo sobre o tempo e Einstein; hoje, será sobre o espaço e a teoria da relatividade. Em parte, um duplo.
E a mesma reconhece que este duplo princípio não se demonstra senão que se induz por experiência. Antes de tudo, não existe nenhum corpo imóvel com respeito ao qual possa definir-se o movimento de maneira absoluta; é o que diz. Em segundo lugar, as leis físicas são as mesmas para qualquer marco inercial de referência.
Até chamou a sua teoria de teoria da relatividade precisamente porque, não havendo marco absoluto de referência, os movimentos não têm realidade; eles mesmos, realidade absoluta. Tão só realidade relativa a este ou aquele marco de referência. Então, se alguém está sentado em dado lugar aqui na Terra, este alguém se move ou não se move com respeito à Terra?
Não se move com respeito ao Sol? Sim. E nenhuma resposta tem preferência porque o movimento seria, como já dito, realidade relativa.
Mas este princípio vai contra o que se deve dizer do espaço imóvel, com respeito ao qual pode definir-se, sim, de modo absoluto, todo e qualquer movimento. Que o espaço seja imóvel é o que sugerem muitas leis da própria física, né? Não só nem principalmente as leis da mecânica de Newton, nem só nem principalmente as leis do eletromagnetismo de Maxwell, mas também, e sobretudo, as leis da causalidade.
Se tais leis são bem entendidas, este princípio, ou seja, a imobilidade do espaço, não é, no entanto, de evidência primeira; e não o defenderei aqui, mas o defendo no referido escrito, ou seja, da necessidade da física aristotélico-tomista. O que pretendo defender aqui é que o espaço vazio é algo. A extensão que ele ocupa não pode medir-se sem sujeito substancial, entenda-se.
É o que pode ter extensão e outras propriedades ou qualidades; não pode ser o nada, tem de ser algo. E tudo o que é algo, neste sentido, é substancial. Estou falando de substância, no sentido aristotélico.
O sujeito substancial é aquele que suporta acidentes, qualidades, propriedades. As qualidades e as propriedades não se dão no ar sozinhas; nunca ninguém viu uma gordura passar andando ao contrário. Viram-se animais e homens gordos.
E isto é de evidência fundamental, claro que não de ordem física, mas de ordem metafísica. Mas não saber nada quanto ao espaço é um pecado que o próprio Asein confessa em sua obra de divulgação "A Teoria da Relatividade ao Alcance de Todos". Diz ele: "Se eu, sem reflexão madura e sem explicações mais profundas, formulo o problema da mecânica, dizendo: a mecânica tem por objeto estudar as variações de lugar que, com o tempo, sofrem os corpos no espaço".
Então carrego sobre minha própria consciência, diz ele, alguns pecados mortais contra o Santo Espírito da clareza, e para tranquilizar minha consciência, os confessarei antes de seguir adiante. Não é claro o que se deve entender por espaço e por lugar. Suponhamos que da janela de um vagão de trem, né?
E, estando este trem em movimento uniforme, deixo cair na ferrovia uma pedra sem dar-lhe impulso nenhum. Então, eu a vejo cair segundo uma linha reta, prescindindo da resistência do ar. Mas um indivíduo que veja os fatos de longe, e da plataforma do trem, a vê cair segundo um arco de parábola.
Então, cabe perguntar: os lugares que a pedra percorre estão realmente sobre uma reta ou sobre uma parábola? Que significa, além disso, a locução "movimento no espaço"? A resposta imediata, diz ele, em primeiro lugar, deixemos de lado a palavra "espaço".
Vejam vocês, ele parte da noção de espaço, mas deixa para lá a palavra "espaço", que é tão obscura que, honradamente, não podemos raciocinar sobre ela. E substitui esta locução pela seguinte: "movimento com relação a um corpo de referência praticamente rígido", que é mais convincente, segundo ele, porque as posições com respeito aos corpos de referência, né? Ou seja, ou o vagão ou a ferrovia foram definidos com suficiente clareza.
Mas se não quer falar do movimento no espaço, não é de estranhar que apareçam muitos problemas. Para Asin, no mesmo livro "A Teoria da Relatividade ao Alcance de Todos", Aen reconhece que não há, em toda a física, lei mais simples que a da propagação da luz no vácuo. Qualquer menino de escola sabe, ou julga saber, que esta propagação se dá em linha reta com uma velocidade constante de C igual a 300.
000 km/s. Mas, bem, embora Einstein aceite que a constância da velocidade da luz seja um princípio físico fundamental, no entanto, nega-se a medi-la com respeito ao vácuo. Diz ele, ainda no mesmo livro, que naturalmente o processo de propagação da luz, como todo e qualquer outro, é preciso que o refiram a um corpo sólido como sistema de coordenadas.
Mas digo eu agora aqui que aparece a estranheza da coisa porque um mesmo fóton de luz, segundo esta teoria, se se aproximaria de dois corpos à. . .
mesma velocidade, e, por mais que estes corpos estejam em movimento relativo entre eles, se o fóton partiu quando os dois corpos estavam à mesma distância, teriam de alcançá-los aos dois ao mesmo tempo. Mas, como os ALC, depois de um tempo, nesse tempo os dois corpos se separaram. Isto é a razão porque um mesmo fóton os tocaria ao mesmo tempo em dois lugares diferentes, como faria o mesmo fóton para estar atrás e adiante no mesmo espaço de tempo, no mesmo instante.
Resolve o assunto dizendo que, como a velocidade se define em razão do espaço, e o tempo é a velocidade da luz, pode ser a mesma para os corpos em movimento relativo, desde que não sejam o mesmo, nem os metros, nem os segundos em que se medem o espaço e o tempo com respeito a cada corpo. E vejam o curioso: segundo isto que acaba de dizer Einstein, para aquele que se aproxima da luz, os metros são mais curtos e os segundos mais lentos. Não há que objetar que corpos colocados em grande velocidade mostrem certa contração em suas dimensões, um aumento de massa e um retardamento em seus movimentos inerciais.
Com efeito, numa experiência realizada em 1971, transportaram-se relógios atômicos em dois aviões que viajavam à grande velocidade; um voava para o leste, ou seja, no sentido da rotação da Terra, e o outro para o oeste. Depois do voo, os relógios que estavam sendo transportados estavam atrasados ou adiantados com relação a um relógio que permaneceu na Terra, e isto, segundo se tivessem deslocado em um ou outro sentido, confirmaria uma das previsões da relatividade. Correto.
O que não se pode, no entanto, aceitar, e que é, no entanto, imediata consequência dos princípios da teoria da relatividade, é que dois acontecimentos sejam simultâneos para um observador e não sejam para outro com igual legitimidade física. Dizem em relatividade da simultaneidade que fenômenos simultâneos com respeito à ferrovia não são, no entanto, com respeito ao trem. Mas, digo eu, simultaneidade significa coexistência, não é?
Dois acontecimentos simultâneos são duas coisas que existem no mesmíssimo instante, ao passo que as que não são simultâneas, uma existe antes e outra depois. Dizer que o que é simultâneo para um não o é para outro e que ambos estão corretos é dizer que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo e no mesmo sentido ou aspecto, coisa que é absolutamente contraditória. Então, esta consequência contraditória é que nos faz ver que há um defeito nos princípios da teoria da relatividade.
Como não pode haver, de modo algum, a ideia da simultaneidade, também não pode haver relatividade de marcos de referência. Se dois acontecimentos coexistem, está correto quem os mede simultâneos e está errado quem os mede qualquer outra coisa. Bom, posto isto, este preâmbulo, diga-se que a física moderna fala mais de espaço do que de lugar.
Não vou tratar o lugar aqui; vou tratá-lo em outro vídeo. Mas digo apenas, a título de ilustração, que lugar é o termo imóvel, continente. Primeira definição aristotélica que escapa à física moderna.
Mas, posto isso, diga-se que comumente, no uso comum da palavra, espaço são muitas coisas. É o espaço exterior, fora da atmosfera terrestre, ou a extensão, ou a superfície, ou o volume que separam ou ocupam as coisas. Em física, porém, se chama espaço ao conjunto dos lugares que podem as coisas ocupar, se abstraindo das espécies de substâncias que se dão na realidade, bem como se abstraindo suas qualidades e tudo mais, todos os outros acidentes; e ficamos somente com um acidente chamado quantidade, a extensão resultante da totalidade corporal do universo é o que conforma o espaço real.
Revela a astronomia que, em comparação às humanas, o espaço real é imenso. Naturalmente, não tem extensão estritamente infinita, porque o infinito é o que carece de limite, e o espaço é a soma das coisas naturais corpóreas que não podem existir senão com quantidade determinada, em número determinado, ou seja, com limite. Razão porque o espaço real não ser infinito: não pode existir um corpo ou uma multidão de corpos com quantidade indeterminada, nem em magnitude, nem em multitude.
Como explico abundantemente na escola tomista e como explica Santo Tomás na Suma Teológica, por exemplo, na parte um de sua Suma Teológica. Pois bem, qual é, então, a forma do universo? Os antigos falavam de esfera.
O filósofo Parmênides de Eléia dizia que a totalidade do que é era esférico e homogêneo. Aristóteles o corrige, mas o mesmo Aristóteles fala do universo corpóreo como de uma grande esfera. Creio que sabia ele que era só uma maneira de falar para referir-se ao perfeito universo, porque a esfera é o corpo mais perfeito e único que se move mesmo sem sair de sua própria exação.
É que o universo também não é estritamente esférico, porque não tem superfície terminal que confine, que limite com nada. O universo corporal não pode terminar em um muro extenso cujos diversos pontos terminassem linhas perpendiculares na fronteira com o nada, porque no nada não cabem diferenças. Todos estes pontos terminais devem ser, em última análise, nenhum ponto.
Quanto à figura do universo, como o mostro no referido escrito, ele se explica talvez pela conjunção da curvatura do espaço e com o fato de que o universo seja uma sorte de corpo negro; mas isto eu não o vou aprofundar aqui. Pois bem, vejamos quais são os sistemas de medição do espaço. Há diversos sistemas numéricos que determinam posições e lugares no espaço; são sistemas de coordenadas e os dois mais comuns são o sistema de coordenadas cartesianas e o sistema de coordenadas polares.
Quanto ao primeiro, imagina o espaço cúbico com um centro que reúne três eixos perpendiculares, numerados segundo certa unidade de extensão em metros, por exemplo, e pode determinar a posição de qualquer ponto por três números: x, y, z. Cada um dos eixos, segundo certa ordem pré-estabelecida, e assim como se determinam pontos, podem determinar-se também linhas, superfícies, volumes. Tudo isto que aprendemos na geometria analítica quanto ao sistema de coordenadas polares, ele imagina o espaço esférico e a distância de qualquer ponto ao centro é determinada por dois ângulos: um horizontal, o outro vertical, e uma distância que se chama raio.
Este é o sistema que se usa em geodésia, né? Ou seja, na medição da Terra. O ângulo horizontal é dado pela longitude, enquanto o vertical é dado pela latitude.
Quanto ao raio, mede-se a altura ou profundidade com respeito ao raio normal da superfície dos oceanos. Estes sistemas, no entanto, não podem, absolutamente não podem, servir para representar a totalidade do espaço real, porque o espaço real evidentemente não pode ser esférico nem cúbico. Aliás, adentrando um pouco pela teologia sagrada, veja-se que São João, no Apocalipse, diz que a Jerusalém Celeste será cúbica.
Interessantíssima observação é que pode ter certa explicação física, como direi em meu comentário ao Apocalipse. Mas vamos adiante, vamos tratar a duplicidade espaço vazio, espaço cheio. Esta a noção de espaço vazio é de grande importância e deu panos para mangas, né?
E muita confusão houve em torno desta noção. A física moderna entende o vazio como uma extensão sem massa corporal, mas carente de verdadeiro método científico. Ou seja, aquele que quer descobrir o que de fato são as coisas, né?
Facilmente a física moderna acaba por falar demasiado. Trata-se de saber se existe vazio, entendido como extensão carente de toda e qualquer substância corpórea. Não, não são a mesma coisa a massa e a substância.
A massa é aquilo que, em lógica, chamamos qualidade passível, né? Não assim a substância. Substância é o que é suporte de qualidades ou propriedades.
Os primeiros físicos pré-socráticos discutiram acerca da existência do vazio entendido desta maneira. Parmênides, ainda Parmênides, defendeu que tudo está cheio de ser, porque o que não é, nada é, e não pode então estabelecer nenhuma distância. Como pensou, no entanto, o ser ou o ente como homogêneo, negou a possibilidade da mudança e do movimento.
Né? Demócrito, opondo-se a Parmênides, defendeu a possibilidade do movimento, sustentando que o ser eterno e imóvel sim existe, mas que também existe o não ser, que é o vazio que penetra o ser e o divide em átomos, partículas indivisíveis, esferas esféricas e imutáveis. Aristóteles também defendeu a existência da mudança, mas a explicou dizendo que há diversos modos de ser: alguns imutáveis, outros não.
E negou a possibilidade do vazio por ser noção contraditória, porque supõe a existência de quantidade sustentada por nada, sem nenhuma substância que seja seu sujeito ou suporte. Negou também a teoria de Demócrito, que julgava ser necessário vazio para explicar o movimento dos átomos. Assinala Aristóteles que, pelo contrário, ao vazio se tornava impossível movimento, porque a absoluta falta de resistência do vazio tornaria infinito todo e qualquer movimento, né?
O problema é que, embora seja uma análise profunda a aristotélica, ela se expressou em termos de observações físicas deficientes. Ainda ele acreditava, por exemplo, que tudo está cheio de algo semelhante ao ar. Mas atenção: para além de tais deficiências, Aristóteles continua sendo válido, como já se verá.
A Escolástica medieval seguiu o aristotelismo e negou, pelas mesmas razões, a existência do vazio. Algumas experiências físicas, como as do efeito sifão, levaram a que se impusesse como um princípio físico o horror vácuo, ou seja, o horror ao vazio. A natureza tem horror ao vazio e age para impedi-lo.
O princípio físico do horror ao vazio continuou a ser aceito até o século XIX, ou seja, até que novas experiências acabaram por dar outra explicação dos fenômenos em que se apoiava o horror ao vazio. Nas minas de carvão, etc. , se observou que não se conseguia bombear água para além de 10 m.
Partindo desta observação, experimentos de Torricelli e Pascal mostraram que a força que fazia subir a água bombeada não era a impossibilidade de um certo vazio, mas a própria pressão atmosférica. Então surgiram os barômetros e bombas de vácuo, ou de vazio. Quem termina de explicar, aparentemente, tais fenômenos é Newton, né?
Justamente com suas leis sobre a atração da gravidade. Né? Mas dá-se então uma polêmica em torno da existência do vazio.
Decart havia identificado extensão e corporeidade mesmo sem aceitar a distinção escolástica entre quantidade e substância. E muitos seguiam a posição cartesiana, né? Era o caso de Hobbes, de Spinoza.
Os newtonianos, por seu lado, identificando corpo com massa (que era o parâmetro que entrava nas leis da inércia da gravidade), passaram a defender a existência de um vazio corporal. Pois bem, o triunfo da física newtoniana implicou a convicção de que, onde não há massa, há espaço vazio. E por espaço vazio tende-se a entender a ausência de toda substância corpórea.
E é este o problema. A isto se acrescentou a ressurreição do atomismo de Demócrito, por gente que entendia os átomos como corpúsculos que se movem no vazio. Mas tudo isto se assenta numa ciência, entre aspas, que carece do verdadeiro modo científico, o método científico.
Pois bem, o verdadeiro físico não pode deixar de lado as observações da física moderna, que são ajudadas pelos recursos enormes das novas técnicas. Portanto, distancio-me aqui absolutamente dos que querem retornar à cosmologia caduca aristotélico-tomista. Isto é um atraso com relação ao próprio tomismo, né?
E implica fazer do tomismo um curador de antiguidades, de quinquilharias, de velharias. No entanto, o verdadeiro físico não deve renunciar à luz da inteligência, e nisto Aristóteles continua a ser superior. A defesa de tais princípios, que ela é antes metafísica, e metafísico demonstra que pode existir substância sem quantidade, mas não quantidade sem substância.
A experiência mostra ainda que as qualidades que se observam nas diversas partes extensas são muito diversas e. . .
Às vezes manifestam claramente diferenças substanciais. Uma das primeiras qualidades e que parece a fundamental é o que se chamou e passou a chamar de massa corporal. Parece ser fundamental porque, de um modo ou de outro, está na origem de todos os fenômenos físicos.
Mas esta qualidade se encontra com entrada mais ou menos em diversos lugares: concentração, que se denomina justamente densidade. Há regiões mais densas, outras menos densas, e há regiões em que não se manifesta a massa. Como a massa é a expressão de certo vigor corpóreo da substância, pode falar-se de um espaço mais ou menos cheio, aquele que tem maior ou menor densidade, e pode-se falar de vazio absoluto: o espaço em que não se manifesta esta qualidade.
Nisto não há questão, não há problema algum, mas não se pode dizer que não há substância onde se observa. É a extensão da quantidade onde a extensão da quantidade tem de haver substância. Voltarei a isto.
O espaço tem propriedades lumínicas, tem propriedades eletromagnéticas, tem extensão, e, tal como o nada, poderia ser mensurado e ter propriedades lumínicas e eletromagnéticas. Mas vamos lá, além do dito: o espaço vazio, assim chamado porque não tem massa, manifesta muitas outras qualidades que evidenciam sua realidade, né? Repito: o espaço em torno da Terra tem qualidade lumínica, tem qualidade gravitacional, tem gravidade, eletromagnética etc.
Onde é que se quer que tenham acento todas estas qualidades, propriedades ou acidentes, senão numa realidade substancial? E o que deveria terminar de confirmar ao físico que o espaço vazio tem realidade substancial é que nas mesmas substâncias corporais, mesmo nos seres vivos, a continuidade da unidade substancial é evidente. E, no entanto, nesses mesmos corpos se mostra uma heterogeneidade análoga à da ordem cósmica.
Na ordem microscópica, muitas experiências permitem ver que a densidade se concentra em espaços quase pontuais, com espaços sem massa relativamente muito amplos. Não se pode negar a realidade substancial das moléculas, nem das estruturas cristalinas, às vezes tão uniformes e tão rígidas. É evidente que o espaço que separa os átomos, bem como os núcleos e os elétrons, é parte da mesma substância, ainda que mostre não ter massa.
Às vezes se chama éter, né? Isso, no século X, voltou com peso ao que preenche o espaço vazio. Enche, quanto à quantidade, porque ele está vazio quanto à massa.
Usar este substantivo éter tem uma vantagem: manifestar que o espaço tem substância. Talvez, no entanto, haja um inconveniente em usar a palavra, porque não deixa claro se se trata de uma substância separada dos corpos mássicos presentes ou se depende deles a modo de certa emanação. Como todas suas qualidades parecem depender de alguma maneira da massa, deve-se suspeitar que não possa existir o espaço vazio se não em dependência de suas partes cheias, assim como os espaços vazios intersticiais dentro de nosso corpo.
Mas é o que sugere o vazio interatômico dos corpos conhecidos e também, ainda que com menor certeza, as teorias cosmológicas que fazem depender a própria geometria espacial da densidade. Ainda que não se use o termo éter, fico aqui, né? Fico aqui com a expressão espaço vazio, implicando espaço, quantidade e, portanto, sujeito substancial, e significando vazio, zero densidade, privação de massa, que é só uma qualidade passível, contrária à massa, assim como o frio é contrário ao calor e assim como o branco é contrário ao negro.
Então, o que é preciso assinalar antes de tudo aqui é que não se deve entender o espaço vazio como quantidade sem substância, porque isto absolutamente não tem sentido. Mas vejamos um pouco da imobilidade do espaço vazio para tratar do movimento local. É preciso definir o lugar e, na definição, não se pode evitar referir o imóvel, porque o lugar é um termo imóvel, continente primeiro.
Mas determinar o que esteja absolutamente móvel no universo corporal é, para os físicos modernos, um dos problemas mais árduos, e alguns consideram impossível de solucionar. A teoria da relatividade parte do pressuposto de que é justamente impossível determinar a imobilidade. No entanto, as observações físicas sobre o movimento, segundo sua mesma evidência inicial, obrigam a considerar que o espaço vazio é imóvel e que todo movimento deve referir-se a ele.
E isto se segue das leis da gravidade, das leis do eletromagnetismo e, acima de tudo, do próprio movimento inercial. Consideremos dois corpos isolados no vazio: a Terra e a Lua, por exemplo, no universo onde não houvesse mais nada além desses dois corpos. Se o espaço vazio não fosse nada, como muitos pensam, mas só uma extensão em que se movem os corpos, sua presença não teria de intervir na explicação do movimento relativo destes dois corpos.
Suponhamos ainda que esses dois corpos comecem parados um em relação ao outro. Como pela lei da gravidade os corpos se atraem em proporção direta ao produto das massas e em proporção inversa ao quadrado da distância, eles deveriam acelerar um em direção ao outro até chocar-se. No entanto, se ambos giram, o que acontece?
Se giram devagar, aproximam-se com menor aceleração, porque a força de atração gravitacional é diminuída pela força centrípeta do giro. Se giram rapidamente, afastam-se pelo triunfo da força centrífuga. Se giram, no entanto, na velocidade angular justa, produz-se um equilíbrio de forças e ficam imóveis um com respeito ao outro.
Isto é o que dizem as leis da mesma física. Mas giram com respeito à Terra. É como se estão vendo, se estão olhando aproximar-se, separar-se ou manter-se à mesma distância, segundo o caso.
Não podem ver ou apreciar nenhum outro movimento relativo entre tais corpos. O giro, que é tão decisivo com respeito ao comportamento relativo dos dois corpos, não tem sentido defini-lo; só tem sentido defini-lo com respeito ao espaço vazio. O espaço vazio é o marco de referência imóvel, com respeito ao qual deve explicar-se o movimento inercial e gravitacional dos corpos.
Estão parados com respeito ao espaço vazio, atraí-se segundo a lei da gravidade. Se, no entanto, giram com respeito ao espaço vazio, depende da velocidade do giro para que o movimento seja menor, contrário ou nulo. E é evidente que o espaço vazio é o marco de referência imóvel que permite definir os movimentos dos demais corpos.
Mas suponha-se agora, suponham agora, dois corpos com carga elétrica positiva colocados no espaço. Segundo as leis da mesma física, vão sentir uma força repulsiva que tende a separá-los. Mas se ambos os corpos carregados se põem em igual movimento, segundo duas linhas paralelas, as leis do eletromagnetismo predizem que aparecerá uma força magnética que tende a atraí-los, porque a carga em movimento gera campo magnético; quanto mais rapidamente se movem, maior será a força magnética de atração que contrabalança a repulsão elétrica, razão pela qual a velocidade à qual se afastam é menor.
Se se aplicam, então, as leis do eletromagnetismo, pode-se observar que a velocidade da luz compensa as forças e os dois corpos já não se separariam. Mas, com respeito a que se move, evidentemente, com respeito ao espaço vazio, também aqui o espaço vazio não pode deixar de ser o marco de referência imóvel com respeito ao qual se vê o movimento dos corpos e os campos magnéticos resultantes. A própria conservação inercial do movimento dos corpos não se poderia explicar sem uma ação e reação sobre o meio no qual se movem, à maneira como um surfista se moveria a si mesmo se provocasse com seu empuxo uma onda no mar.
Embora, todavia, se possa pensar num passageiro que surfa na piscina de um transatlântico e que o transatlântico inteiro surfa no mar, não se pode levar esta explicação ao infinito; é preciso deter-se num primeiro meio em que está imóvel, e este parece ser justamente o espaço vazio, que é onde se deslocam todas as vibrações inerciais, acionais, eletromagnéticas, etc. Outra coisa que apoia o que se acaba de dizer é que a teoria da relatividade, que parte do pressuposto de que não há marco de referência preferencial e ainda que todas as leis físicas indiquem o vazio como tal, chega imediatamente a conclusões contraditórias, como a de que o que é simultâneo para um observador não é simultâneo para outro. É que as coisas coexistem ou não, e se um diz que sim e o outro que não, só um terá razão.
O que é óbvio até para o senso comum. É verdade que para todo aquele que está formado na ciência moderna, na física nova, tudo isto soa estranho e como uma novidade, quando é mais antigo que sabe-se lá; não deveria ser assim, não é? Sua estranheza resulta de ele ter sido formado num método científico demasiado parcial que deixou de lado o método científico verdadeiro e pleno, que considera sempre aquilo que as coisas são e as quatro causas descobertas por Aristóteles: material, formal, eficiente e final.
Muito obrigado pela atenção, até nosso próximo vídeo e, em particular, até nosso próximo vídeo de ciência natural; pretendo que seja o vídeo sobre o lugar. Um abraço, fiquem com Deus e até nosso próximo.
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