Swami Vivekananda - Todos os Caminhos Levam ao Único

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Corvo Seco
Citações e trechos retirados do livro “The Complete Works of Swami Vivekananda”, de Swami Vivekanand...
Video Transcript:
Todas as palavras e conceitos brotam de  uma única raiz. Arte, ciência e religião, são três maneiras diferentes  de expressar uma única verdade. A longo prazo, toda ciência está fadada  a chegar à mesma conclusão.
Ela nada mais é do que a descoberta da unidade. Assim que a ciência alcançar a unidade perfeita, pode parar de avançar, pois alcançou sua meta suprema. No final, todos os caminhos  convergem e se tornam um.
Mas para entender isso, devemos  entender a não dualidade. Toda essa investigação tenta compreender  a realidade, variando conforme a linguagem e seus vários métodos de  pensamento, como a filosofia, a metafísica, ou o que quer que seja. Porém, enquanto houver algo como a morte no mundo, enquanto houver algo como fraqueza, enquanto houver um grito saindo do coração do homem por sua própria fragilidade, haverá também, fé em Deus.
Sabemos que todas as religiões são iguais,  do mais baixo fetichismo ao mais alto absoluto, todas são tentativas  do homem compreender o Infinito. Esse é o caminho direto para o entendimento  final, mas o que o mundo precisa, era de uma fé que não temesse a  verdade. É o que encontramos aqui.
Essa é a verdade: Todos os Caminhos Levam ao Único. Swami Vivekananda. Todas as religiões, ciências, métodos e trabalhos nos levam a esse único e mesmo entendimento, aquilo que chamo de “liberdade”.
Tudo o que vemos no universo tem como base essa luta pela liberdade; é sob o impulso dessa tendência que o santo ora e o ladrão rouba. Quando a linha de ação tomada não é adequada, nós a chamamos de má; e quando essa manifestação é adequada, nós a chamamos de boa. Mas o impulso é o mesmo, a luta pela liberdade.
O santo é o sujeito que foi oprimido por  conhecer sua condição de escravo, mas ele deseja ser livre; então, ele adora a Deus. O ladrão é oprimido com a ideia de que ele não possui certas coisas, e ele tenta se livrar dessa necessidade, para obter liberdade a partir disso; então ele rouba. A liberdade amada pelo santo o leva ao êxtase infinito e indescritível de pura felicidade, enquanto a liberdade do ladrão apenas forja novas correntes para sua prisão.
Em todas as religiões e manifestações  podemos encontrar essa luta em direção à liberdade. O que, por fim, significa  abandonar a crença de ser essa pequena entidade carregada de “corpo-mente”. Cada ciência tem seu próprio método, se você quer ser um astrônomo, você deve procurar esse caminho.
Você deve ir a um observatório, pegar um telescópio, estudar as estrelas e planetas, e então, com prática e entendimento, você pode se tornar um astrônomo. Mas se você quer a sabedoria, você deve  analisar os sábios, de todas as épocas e regiões, você deve ouvir os homens  puros e altruístas, aqueles que não tinham outra razão de existir além  de fazer o bem ao mundo. Todos esses disseram ter encontrado uma  verdade superior, algo que está além do que os sentidos podem nos dar, e  eles nos convidam à essa verificação.
Eles nos instruem a um método e a  praticar honestamente, e então, conforme nosso raciocínio aponta para isso como  uma verdade, podemos trabalhar e seguir, assim, surge a luz. Não importa qual seja a variação, todo código de ética tem a mesma ideia central: Não pensar em si mesmo, mas desistir de si mesmo. Todos os grandes sistemas de ética  pregam o altruísmo como a meta.
Supondo que esse altruísmo absoluto possa ser  alcançado por um homem, como ele é? Ele não se identifica como um  pequeno indivíduo, o “Sr. Fulano”.
Nessa condição humana, a personalidade  que é tão pequena foi perdida para sempre; ele perdeu suas ilusões e se  tornou eterno, e o entendimento dessa compreensão infinita, é de fato, o objetivo final. Sua parte nisso é simples; abandonar  seu apego as paredes dessa pequena e miserável individualidade. É só essa  prisão desaparecer, e então, a morte e o sofrimento podem acabar.
O personalista, quando ouve essa ideia, fica assustado. Ele não tem coragem de olhar para um mundo onde sua individualidade é apenas imaginação, e então, não pode ter a conclusão correta. Imagine uma ciência que pudesse prever  o futuro ou que pudesse lhe conceder qualquer desejo, poderíamos encontrar  multidões prontas para o treinamento.
Mas para atingir o objetivo supremo, que é  o fim do egoísmo, encontram-se poucos. Poucos aspiram pelo mais alto, poucos  são os que têm o poder de agarrá-lo, e menos ainda são aqueles que possuem  a paciência para continuar tentando. Lemos algumas vezes que o fim do “ego”  e o fim dessa “individualidade” é algo prejudicial, como se você fosse  se tornar uma pedra.
Isso é falso. Se você consegue desfrutar da  felicidade deste seu pequeno corpo, ao abandoná-lo, imagine poder desfrutar  da felicidade de dois, três, muitos, se expandindo num crescente número até  uma consciência de felicidade eterna. Essa é a visão adequada.
Mas esse  entendimento exige um processo. O homem não viaja do completo erro à  verdade final instantaneamente, mas numa progressiva escalada, subindo de verdade  inferior à verdade superior. Desse modo o homem deve se tornar divino,  se conscientizando do divino.
Cada religião está apenas desenvolvendo  uma imagem sobre um poder supremo e seus conceitos, tudo se desdobrando  a partir do homem material, mas a inspiração original vem deste único  ponto primário, a Realidade, Deus. O centro de tudo é o entendimento sobre Deus. A adoração externa e a adoração material  são estágios iniciais.
Ídolos, templos, igrejas ou livros são apenas suportes,  ajudas da infância espiritual. Mas não desrespeite o ídolo de qualquer um. Não  considere sua adoração um erro.
É um estágio necessário. Imagine um homem  velho dizendo que a infância de outro homem é um erro. Seria correto?
Mesmo depois de passar dessa fase, o homem nunca deve chamar isso de erro. A superstição é uma grande inimiga do homem, mas a intolerância é pior. Então, surge a questão, onde está o centro comum para o qual todos esses raios amplamente divergentes convergem?
Onde está a base comum? O que  é Deus? Qual é a sua natureza?
Você não deve viver de palavras e teorias.  Se existe algum tipo de consciência além desse padrão sensorial, superior ao  corpo-mente, você deve tentar ficar cara a cara com ele. A verdade não consiste  em tentar acreditar, mas em reconhecer o que é, não em acreditar, mas em ser e  se tornar.
Assim, seu objetivo deve ser o de lutar constantemente para se tornar  perfeito, para se tornar divino, para alcançar Deus e ver Deus, tornando-se  perfeito, “como o Pai Celeste é perfeito”. Esta escravidão só pode cair pela  misericórdia de Deus, e esta misericórdia só vem sobre o puro. A pureza é  a condição da sua presença.
Ele se revela ao coração puro; ser puro  e inoxidável é ver Deus, sim, mesmo nesta vida; Então, todas as dúvidas  cessam. Este é o próprio centro. “Bem-aventurados os puros de  coração, porque eles verão a Deus”. 
- Mateus 5:8. “Portanto, sede vós perfeitos como  perfeito é o vosso Pai celeste”. - Mateus 5:48.
E o que acontece com o homem  quando atinge essa perfeição? Ele vive a vida de felicidade infinita.  Tendo obtido o único, ele desfruta de felicidade eterna e perfeita.
A perfeição  é absoluta, e o absoluto não pode ser dois ou três. Não pode ter qualidades.  Não pode ser um indivíduo separado.
E então, quando uma consciência se torna  perfeita e absoluta, ela deve se tornar um com Brahman, e então, só pode  perceber “Aquilo”, o Senhor, como a perfeição, a realidade, de sua própria  natureza e existência, a existência absoluta, o conhecimento absoluto e a  felicidade absoluta. Sat-Chit-Ananda. Mas que direito tem um homem para dizer  que ele tem uma alma, se ele não a sente, ou que existe um Deus se ele não o vê?
Se existe um Deus, devemos vê-lo, se existe uma alma, devemos reconhecê-la; caso contrário, é melhor não acreditar. É melhor ser um ateu  declarado do que um hipócrita. Não acredite em nada até descobrir por  si mesmo; apenas a experiência direta pode ensinar.
Nós não entendemos  essas coisas até experimentá-las. Temos que ver e sentir por nós mesmos. O homem não pode viver de palavras, por mais que ele queira.
A dúvida sempre vem a nós, para sabermos se há alguma verdade nisso tudo ou não; e mesmo o melhor de nós duvidará muitas vezes: mas com a prática, surgem os vislumbres da realidade, então, esse silêncio lhe abastecerá com esperança e ânimo de continuar. Quando uma prova é obtida, por menor  que ela seja, alimenta-se a fé em todo o ensino. Desse modo, você verá por si mesmo.
Essa compreensão leva muito tempo e só acontece através de uma prática constante. Parte dessa prática são disciplinas físicas, mas o principal é a compreensão através da mente. Todas as potências da mente devem  ser concentradas em voltar-se para si mesmo, desvencilhando-se de todas as  tendências, até que esta mente possa penetrar em seu segredo mais íntimo.
Assim, chegaremos à base de todas as crenças, o alicerce vazio de onde tudo surge. Este é o local onde todo o mistério é revelado. Assim cantaram os Rishis dos Vedas: “Ele está em toda parte, o puro e sem forma, o todo poderoso e o todo misericordioso”.
“Tu és nosso pai, tu és nossa mãe, tu és  nossa amada, tu és nosso amigo, tu és a fonte de toda força; nos dê força. Tu és  aquele que carrega os fardos do universo; ajude-me a suportar o pequeno fardo dessa vida”. “Ó filhos da imortalidade, mesmo para aqueles que vivem na esfera mais alta, o caminho é encontrado; há uma maneira de sair de toda essa escuridão, e isto é, percebendo aquele que está além de todas as trevas; não há outro caminho”.
Krishna, nos ensinou que um homem deve viver neste mundo como uma folha de lótus, que cresce na água, mas nunca é umedecido pela água. Então, um homem deve viver no mundo, mas seu coração deve ser dedicado à Deus, suas mãos e seu trabalho devem ser destinados à Deus. E como adorá-lo?
Ele deve ser amado como o único, mais querido do que tudo. Todo o segredo está na prática. Nossos vários Yogas não entram em  conflito uns com os outros; cada um deles nos conduz para o mesmo  objetivo e nos torna perfeitos.
Primeiro você deve ouvir, depois pensar,  e então praticar. É difícil entender tudo de uma vez, mas muito do que você ainda  não entende ficará esclarecido se você ouvir e pensar constantemente sobre isso.  Afinal, a explicação de tudo já está em você.
O professor externo apenas oferece  uma sugestão que pode incentivar o professor interno a trabalhar  e entender essas coisas. Você tem que crescer de dentro para  fora. Ninguém pode te ensinar, ninguém pode te tornar espiritual.
Não há outro  professor além da sua própria alma. O que você vê, nomes, formas e aparências,  nascem num mundo estabelecido na ignorância. Para adquirir liberdade,  temos que ir além das limitações deste universo; “Aquilo” não pode ser encontrado aqui.
O equilíbrio perfeito, ou o que os cristãos chamam de: “A paz que excede todo o entendimento”, não pode ser obtida neste universo, nem no céu, nem em qualquer lugar onde nossa mente e nossos pensamentos possam ir, onde os sentidos possam sentir, ou onde a imaginação possa conceber. Nenhum lugar assim pode nos dar essa liberdade, pois todos os lugares já estão presos pela ótica das nossas limitações. Então, é lógico que há apenas uma  maneira de alcançar a liberdade que é o objetivo de todas as mais nobres aspirações  da humanidade, e isto é; desistindo.
A única maneira de sair dessa escravidão  é ir além dos limites e ir além daquilo que delimita os limites. Desistindo. Desista deste pequeno universo identificável, desista desta terra, do céu, dos desejos, do corpo, da mente, de tudo que seja limitado e condicionado.
Desista de ser “alguém”. Se conseguirmos desistir e abandonar  completamente os apegos deste pequeno universo dos sentidos e da mente,  seremos livres imediatamente. Para encontrar a saída das amarras do  mundo, nós temos que passar por isso lentamente.
Pode haver os excepcionais, aqueles que facilmente desistem de tudo, como uma cobra tira sua pele e fica de lado, satisfeita e imperturbável. Mas para a maior parte da humanidade, isso acontece através de um longo processo gradual. O que também significa dizer: Trabalhe incessantemente e  desista de todos os apegos.
Não se identifique com nada  e mantenha sua mente livre. O desapego é a base de todos os Yogas. Nunca diga “meu”.
Desista de tudo que alimente essa  identificação com este corpo e mente Execute um grande sacrifício,  o sacrifício do seu pequeno eu. Abandone todos os frutos do trabalho;  faça o bem pelo bem; então, o que resta é o desapego perfeito. Quando os laços das paixões se quebram, podemos colher a liberdade perfeita.
Essa liberdade, é de fato, o objetivo final.
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