[Música] em 1946 talvez buscando alívio pro Espírito depressivo do pós-guerra a Organização Mundial da Saúde reinventou o Nirvana e chamou o de saúde um estado de completo bem-estar físico mental e social e não meramente ausência de doença ou incapacidade à primeira vista poderíamos não dar atenção a essa intrigante definição que teve o duvidoso mérito de alimentar em todo mundo que se diz civilizado um novo misticismo sanitário porém não acredito que se Deva fingir indiferença perante o poder simbólico das ideologias Principalmente quando catalisa tanto desejo e energia O que é saúde é o livro dos ciências
cetas de hoje um programa resultado da parceria entre o canal saúde e a editora fio Cruz conversam comigo no estúdio do canal saúde o autor do livro nmar de Almeida Filho mestre em saúde Comunitária phd em epidemiologia e professor titular do instituto de saúde coletiva da Universidade Federal da Bahia Edina sernia Doutora em saúde pública pós-doutora em filosofia e pesquisadora titular da fundação osdo Cruz sejam bem-vindos eu abri o programa falando daquela definição de 1946 da Organização Mundial da Saúde né que transforma o conceito num novo Nirvana como você fala aqui no livro né E
aí Aqui tem umas pessoas que você cita também como grandes parceiros com quem você foi trocando né para chegar a esse a esse trabalho que dá um nó na cabeça da gente né Juan Samaha uma siris clia ja paí Coutinho a própria Dina e outras pessoas e quando eu vi uma siris Clear aqui eu lembrei de um livro que tem de um diálogo dele com Ruben Alves em que eles falam justamente desse conceito né da amplitude desse conceito que ele se aproxima de uma felicidade né esse conceito saúde bem-estar físico mental e social de alguma
maneira ele impulsiona essa discussão do que é a saúde ele complexifica pra gente chegar em alguns conceitos sobre saúde eu eu acho que não ele na verdade cria uma falsa ideia de que a saúde você pode explicar por uma definição e isso até atrapalha um pouco e na verdade desencoraja a que a gente continue refletindo o saúde eh tem até uma discussão secular de se é de fato um conceito se é um objeto científico ou se é tão amplo que transcende a o olhar da ciência né é e um e um conceito que H desde
muito tempo vem se tentando pegar né a gente chega lá nos filósofos a saúde também é é muito boa para filosofar sobre seria isso uma busca constante e enquanto a gente busca a gente vai falando sobre saúde é eu acho que até esse conceito da da UMS num certo sentido Ele abriu porque ele oficialmente se ampliou a ideia de saúde numa discussão não restrita o campo médico específico então um reconhecimento oficial de que vários aspectos interferem no que seria saúde mas essa definição se a gente for pensar como definição realmente é de uma é impossível
de ser feita de uma maneira precisa objetiva porque saúde para cada um eh ela pode ser uma outra coisa E além disso tem um outro problema na na nessa definição e que isso tá muito presente na definição da da OMS é como se fosse essa ideia do Nirvana um bem-estar absoluto como se fosse da vida e possível na vida eh não ha esse bem-estar essa essa essa estabilidade ou essa é sensação perene de satisfação né a a saúde Talvez seja a própria capacidade se for se pensar num numa filosofia for pensar filosoficamente saúde a saúde
seria assim uma capacidade inclusive da gente lidar com as lidar com as dificuldades né E também não há como negar uma coisa que é incontornável que é inevitável que é a morte eu acho que essas def ões de saúde elas ao negarem a finitude elas acabam por eh se fragilizar né Eu acho que a vida é uma constante relação com o que é passageiro né então esse movimento e essa dinâmica essa e essa presença da Morte Talvez seja a maior dificuldade e algo que a gente precisa realmente pensar filosoficamente na eh nesse em relação a
esse tema é e e e aí o conceito de doença também que o livro tempo inteiro traz né muitas vezes a definição vem pelo negativo né é a ausência de doença e traz aqui determinado momento é muito interessante né porque começa trazer primeiro a origem etimológica da palavra saúde né que é salos salvos sanitas sanos né que já vai abrindo caminho para essa filosofia que acho que é bem saudável E também o a as várias definições de saúde eh de doença digo né como é que esse diálogo entre essas definições essas origens etimológicas vão ajudando
a gente a tocar essa discussão paraa frente e essa foi uma parte que eu eh gostei muito de de trabalhar porque tem vários temas inesperados né um deles se falou sanos sanos são Santo sagrado Então tem um uma concepção de sacralização dessa felicidade ou desse estado de de bem-estar dessa saúde eh e quando se diz assim salvo significa não ferido eh salos Salvo é alguém que não foi ferido em alguma batalha né então tem esse conceito de integralidade Mas o que eu achei mais curioso nessa nessa exploração da etmologia histórica é que salos eh vem
do latim que é uma uma eh direta transferência de um radical grego que os latinos pronunciavam como solos e que é olos que é integral o a a saúde é essa integralidade por isso que daí vem o holístico que se usa bastante né holístico se usa bastante Quando você diz assim saúde holística é uma redundância já que o conceito de saúde é tão integral de hístico também né tá se falando e a raiz é a mesma a raiz é mesma tanto que em inglês saúde é Health e h h olos a mesma raiz volta Chega
no mesmo lugar chega no mesmo lugar mas vejam os os significantes são totalmente distintos saúde e Health aparentemente não tem origem comum mas tem olos no grego você trouxe uma uma coisa que talvez seja o o pensamento comum sobre o assunto é que saúde é o contrário de doença não é Todos nós somos sadios e doentes eh no sentido de processos patológicos em curso eh infecções quer dizer hoje em dia é praticamente impossível você pensar alguém que não tem algum processo infeccioso em curso e a e a até mesmo uma das ideias mais antigas sobre
saúde é que saúde é um equilíbrio entre as forças da vida e as forças da morte entre as forças da doença e as forças da saúde e esse equilíbrio é um equilíbrio instável ele não é um um equilíbrio definitivo eh essa ideia é muito antiga mas também é muito atual e eh talvez filosoficamente é aquela que mais e eh é de mais difícil apreensão pela ciência porque a ciência busca objetos disciplinados objetos estáveis que você pode estudar com conforto só que estudar saúde é diferente de estudar doença porque a doença se define pela positividade você
inclusive dá nomes às diferentes doenças e o que Dina falou é que você tem eh eh infinitos modos de estar sadil e eles não têm nome é a gente não tem como precisar né Hoje estou me sentindo com essa saúde de com saúde não com 3S qu4 de saúde nar é essa questão também você falou Três qu4 É a coisa da quantificação né o quanto se está ou não se está saudável ou o que precisa medir para avaliarmos se estamos ou não estamos saudáveis na verdade a coisa não é por aí mas se tenta o
tempo inteiro desesperadamente medir né medir e definir precisar e tornar estável aquilo que não é até essa ideia de Equilíbrio né quando a gente fala em equilíbrio se pensa muito assim numa estabilidade mas o equilíbrio ele é em si o o próprio movimento a instabil é assim é é o equilíbrio no movimento na instabilidade e essa instabilidade é um dinamismo onde saber lidar com a perda né É fundamental pro para para ser para ser saudável saber eh eh lidar com as transformações é fundamental para ser saudável eh talvez é uma palavra muito boa para para
assim se tornar um não é um equivalente mas um não também não é um sinônimo mas assim falar em termos de saúde a questão da criatividade né porque é justamente ser criativo é que é a possibilidade de eh criar novas novas formas de vida criar novos recursos criar novas condições para lidar com as condições que mudam e isso não acontece na vida sem tensão sem perturbação sem alguma dor sem algum sofrimento Então essa esse ideal da de uma saúde estável ele torna assim ele é um ideal asséptico né que fragiliza mais do que fortalece o
livro Deixa claro também que estamos tratando de um problema que é simultaneamente filosófico científico tecnológico político e prático ou seja além da dificuldade de aprender apreender esse conceito ele é aprendido e e trabalhado por todas essas Vertentes aqui de pensamento isso tudo vai deixando a gente ainda mais vai deixando essa discussão ainda mais complexa né porque de acordo com o olhar que retira a saúde para si As definições elas elas se multiplicam né ah científico e tecnológico vocês falaram bastante aqui na ciência né na na necessidade muitas vezes que a ciência tem de de querer
eh estabilizar coisas me lembro também da Medicina que durante muito tempo também durante muito tempo não a medicina em si tem muitas dificuldades também de lidar com a morte por exemplo como se isso fosse uma falha né ah não não consegui morreu quando é apenas o curso natural como é que fica essa questão da dos Profissionais de Saúde e de que lidam constantemente com esse binômio saúde doença essa dificuldade também de apreender esse movimento constante é primeiro tem tem uma questão de Formação Desse pessoal Apesar do nome dizer profissional de saúde São pessoas que são
treinadas para reconhecer para lidar para tratar doença e eh muito pouco no no nosso sistema de Formação valoriza eh a vida das pessoas tanto que você aprende cirurgia e com base em anatomia que é até Até recentemente fundamentalmente treinada sobre cadáveres sobre e e mortos isso até eh vários eh grandes pensadores focault chamava a atenção no nascimento da Clínica eh você constrói um saber eh para a vida com base no ser não vivo né Eh é contradição o tempo todo o tempo inteiro Esse é um ponto agora o outro ponto é que eh saúde também
é usado quer dizer o nome saúde é usado para para designar atos eh ou práticas eh que terminam esse se transformando em serviços Então você tem todo um campo que se chama da Saúde de prestação de serviços para lidar com a doença e aí a gente entra numa questão que é a saúde como valor que é um dos Capítulos do livro e que a gente vai deixar para explorar melhor é ótimo né saúde explorar né as palavras não surgem à toa né no próximo bloco A gente vai fazer um pequeno intervalo não sai daí a
gente volta [Música] já ciência eletra está de volta conversando sobre o livro O que é saúde comigo no estúdio do canal saúde o autor do livro na almar de Almeida Filho e Dina RN a gente deixou no bloco anterior a a o gancho paraa discussão da Saúde como valor né em termos em tempos capitalistas a saúde também é valorizada como valor de uso valor de troca valor de vida e você tava falando dessa apreensão desse conceito justamente para vender mais né quando a gente pensa nesse sentido como que a gente pode tentar definir saúde sempre
tentar né resultado de uma prática como um serviço e a venda de um produto também então tem se cria toda uma Economia em torno de algo que as pessoas desejam as economias são baseadas muito nessa nessa busca dos sujeitos por coisas que eles não têm daí que a própria ideia de que todos temos saúde ela não é mercadológica porque você precisa ter algo que você tem falta e que precisa para comprar para adquirir se você for totalmente saudável o que que eu vou te vender né O que é que você vai me vender eh então
Eh se cria na nossa cultura uma relação com o bem-estar é de aquisição o bem-estar pode ser adquirido então tem toda uma discussão eh eh do que é ideal do que é eh desejado mas do que é maravilhoso do que é perfeito então a a ideia de saúde eu posso até dizer mais rigorosamente a noção de saúde corresponde a um estado que as pessoas supostamente tê que ter mas também corresponde a algo que preenche esse estado aí você tem toda uma uma Parafernália de nesse momento de objetos que se destinam a isso que se chama
saúde como você mencionou é uma valorização constante a construção constante de um simbolismo em relação a esse valor que termina adquirindo por todo esse caráter econômico um uma função monetária em que você se você pode comprar aquilo você pode medir o valor o custo monetário daquilo então toda uma economia da Saúde até como como uma certa ciência eh se instala para medir eh quanto da sua vida é produção é produto é E para isso você precisa ter saúde por isso que os estados modernos eles eh se preocupam com sistemas de saúde para que sua força
de trabalho tenha o vigor a vitalidade que Dina falava necessária para a produção e a gente passa agora por exemplo uma coisa que tem que falado e eh eh vem se falando muito sobre os determinantes sociais da saúde né se falava antigamente Claro mas agora se voltou a ter ênfase nessa questão e você faz uma uma distinção entre duas palavrinhas que é iniquidade e iniquidade eh e é interessante porque o a Equidade tá na base do nosso sistema a busca da Equidade na base do nosso sistema de saúde né Por que diferenciar iniquidade e iniquidade
na busca de compreender dê a a a questão da justiça social ligada à saúde eh eh esse talvez essa talvez seja a questão mais complexa eh relativa a essa questão já complexa da saúde e se saúde é um direito um direito de todos os seres humanos um direito humano eh ou se saúde é algo que a as pessoas eh devem buscar ter a depender da sua capacidade de compra inclusive um dos dos economistas Mais celebrados atualmente o o a Marti 100 ganhou o prêmio nóbel em 98 Se não me engano eh eh com estudos sobre
essa essa essa questão da da da Equidade em geral e dos sistemas econômicos como instrumentos históricos para produzir a igualdade entre as pessoas eh e ele tem um um uma ideia que eu acho muito interessante no livro eu assiná-lo rapidamente eh eh essa ideia de que não é o estado resultante mas sim a capacidade de alcançar aquele estado Dina falou isso a eh numa numa intervenção anterior e eh esse esse tema faz com que eh a gente eh tem uma tendência a considerar eh o direito à saúde que a Constituição Brasileira eh e determina eh
como dado em relação à compra dos serviços quer dizer todos nós poderíamos ter a capacidade ou de comprar ou de adquirir ou de acender ao serviço porque a saúde será então mais um elemento dela uma política pública para todos e E aí isso é contraditório com o modo como a nossa sociedade se organiza que é pela desigualdade Por que distinguir inequidade de iniquidade é que algumas desigual Ades elas precisam ser tornadas vergonhosas para que a sociedade faça alguma coisa para superá-la se for apenas uma desigualdade eh tem maneiras de mercado para superar certas desigual desigualdade
perante o consumo por exemplo né e a iniquidade não as as pessoas precisam ter vergonha no Brasil de ter crianças morrendo por falta de acesso a a a assistência ou a cuidados ou ou ter pessoas que eh em nossa sociedade por não terem eh acesso a bens econômicos eh não preenchem isso que idealmente a sociedade põe põe como essa essa plenitude da da Saúde eh só que muitas vezes eh O que a a sociedade o registro com que a sociedade trabalha não é esse porque aí passa a ser uma coisa de merecimento maior ou menor
menor dos sujeitos e não pelo fato de serem humanos terem acesso a tudo que a humanidade produziu para que eles tenham mais bem-estar a justiça né E você usa aqui né a teoria da justiça da Igualdade a saúde como justiça social caminha muito juntas né Especialmente quando a gente pensa em saúde coletiva né que aí deixa a questão mais complexa ainda né se definir saúde já é complexo como é que todas essas discussões se inserem na questão da saúde coletiva à luz de uma constituição que determina isso que Saúde é direito de todos eh fica
é possível a gente tentar entender como é que a saúde coletiva se apropria desse conceito bem eh quando se fala em termos de saúde coletiva aí a questão se coloca talvez não sei e dentro de um plano de uma outra definição de uma outra demarcação quer dizer de uma das demarcações do que seja saúde é mais voltada paraa questão da interferência do Estado a política pública ou a as a ou o a compreensão de como eh as pessoas vivem em em sociedade e como essa sociedade produz ou não produz saúde ou problemas de saúde ou
Que tipo de eh dificuldades ou Que tipo de problemas ou que doenças surgem ou o que que se favorece aí isso sim em termos coletivos aí já não mais como uma definição da singularidade né do que que é um do que que é um um uma pessoa um organismo ou uma individualidade saudável mas como que essa como que isso se se fona como se isso é como isso é gerido em termos mais amplos e aí a essa questão do valor ela se coloca como um valor construído por uma sociedade por uma época que o que
que é o que que é esse bem né e o que que e o que que o Estado o que que é direito que bem é esse que nós temos que temos direito o que que nós vamos demandar eh eh a acesso Aonde se em que termos se coloca a questão do que é desigual ou não é desigual o que se quer distribuir de uma maneira equitativa né então a é a questão se coloca nesses termos maiser se se eu se você me permitir eh completar eh a chave não tá no princípio constitucional de que
a saúde É é é direito de todos está no complemento disso e dever do Estado do Estado e e dever do Estado politiza a questão E aí transforma isso que é um valor ideal em algo que os sujeitos podem lutar coletivamente para ter acesso obrigadíssimo pela presença de vocês aqui conosco hoje programa ciência e letras é resultado de uma parceria entre o canal saúde e a editora fio Cruz se você quiser entrar em contato conosco mandar sua crítica ou sugestão de leitura nosso telefone é 08701 8122 a gente se vê no próximo programa até lá
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