Pai bilionário flagra garçonete, ajudando seu filho deficiente e toma decisão inesperada. Renata Silva observava com lágrimas silenciosas o pequeno Mateus recusar mais uma vez a comida que seu pai lhe oferecia. As terapias caras e os diversos profissionais contratados não haviam conseguido ajudar seu filho de 5 anos, que sofria com autismo severo, a se alimentar sozinho ou aceitar comida de outras pessoas. Foi quando notou uma jovem garçonete se aproximar timidamente da mesa. A moça de nome Luía abaixou-se ao nível do menino e, com um sorriso gentil começou a interagir com ele de uma forma que Renato
Mendes, empresário bem-sucedido e dono de uma das maiores construtoras do Brasil, jamais havia testemunhado antes. Em poucos minutos, seu filho estava segurando uma colher e levando comida à boca, algo que especialistas caríssimos não haviam conseguido em anos de terapia. "Como você conseguiu isso?", perguntou Renato, seus olhos fixos na cena quase milagrosa que se desenrolava à sua frente. "Ah, senhor, não é nada demais", respondeu Luía com simplicidade. "Meu irmão Caçula também é autista. Aprendi algumas técnicas que funcionam bem com ele. Renato observou atentamente a jovem. Ela não devia ter mais de 25 anos. Vestia o uniforme
simples do restaurante de alto padrão no bairro dos jardins, em São Paulo. Seus cabelos escuros, presos em um rabo de cavalo, e seu sorriso gentil transmitiam uma calma que inexplicavelmente havia conquistado a confiança de Mateus. "Você tem formação nessa área?", questionou o empresário ainda incrédulo. Comecei a faculdade de psicologia, mas precisei trancar o curso quando minha avó adoeceu", explicou ela, ajudando Mateus a segurar melhor a colher. "Agora estou juntando dinheiro para voltar a estudar". Naquele momento, Renato Mendes, conhecido por sua frieza nos negócios e por sua fortuna bilionária, sentiu algo que não experimentava há muito
tempo. Esperança. Desde o diagnóstico de Mateus e a doença que levou sua esposa Elisa três anos atrás, ele havia se fechado em uma rotina rígida e solitária, dividindo-se entre os negócios e a criação de um filho com quem mal conseguia se comunicar. "Carota, qual é o seu nome completo?", perguntou ele, já tirando o celular do bolso. Luía Cardoso, senhor, respondeu ela, notando a mudança na postura do homem. Aconteceu alguma coisa? Talvez tenha acontecido algo muito bom, Luía, disse ele guardando o celular após fazer uma anotação. Você não imagina o quanto esse pequeno momento significa para
nós dois. A garçonete sorriu sem compreender a dimensão do que havia acabado de realizar. Para ela, ajudar o menino era apenas um gesto natural. Para Renato era a primeira luz após anos de escuridão. Naquela noite, em sua mansão no Morumbi, Renato não conseguia tirar da cabeça a imagem do filho comendo sozinho. Mateus agora dormia tranquilamente, algo raro nas últimas semanas. O empresário sentou-se em seu escritório e começou a pesquisar no computador. Precisava saber mais sobre aquela garçonete que havia conseguido em minutos o que anos de terapias caras não haviam alcançado. Seu assistente pessoal, Marcos, bateu
a porta do escritório. "Senhor", trouxe as informações que pediu sobre a moça do restaurante, disse ele entregando uma pasta. Renato folhou rapidamente o conteúdo. Luía Cardoso, 24 anos. Nascida em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Veio para a capital aos 18 anos para cursar psicologia. Trancou o curso no terceiro ano, quando sua avó que a criara após a partida de seus pais adoeceu gravemente. Trabalhava no restaurante Maison Gastronomic há pouco mais de um ano, sem antecedentes criminais, sem dívidas significativas, exceto pelos empréstimos estudantis parcialmente pagos. "É isso?", perguntou Renato, esperando algo mais revelador. Bom, ela
é conhecida no restaurante por seu jeito atencioso com os clientes. Nunca teve problemas disciplinares, completou Marcos. E descobri algo interessante. Ela desenvolveu por conta própria um método de comunicação para crianças autistas. inspirado na experiência com o irmão, chegou a apresentar um trabalho sobre isso na faculdade antes de trancar o curso. Renato recostou-se na cadeira pensativo. Seu instinto de empresário bem-sucedido raramente o enganava, e algo naquela garçonete havia despertado sua atenção. Não era apenas o fato de ter conseguido fazer Mateus comer sozinho, mas a naturalidade com que ela o tratou, sem o olhar de pena que
ele estava acostumado a receber. Marcos, quero que você faça um convite a ela para vir aqui como consultora para ajudar com Mateus, disse finalmente. Ofereça uma remuneração generosa, algo que ela não possa recusar. O senhor tem certeza? Mal conhecemos. Peça, moça, questionou Marcos sempre cauteloso. Tenho certeza de que Mateus se conectou com ela de uma forma que nunca vi antes, respondeu Renato com um olhar determinado. E estou disposto a tentar qualquer coisa para ajudar meu filho. O que Renato não sabia era que sua mãe, dona Berenice, administradora do império financeiro da família desde a morte
prematura de seu pai, não veria com bons olhos a entrada de uma estranha em suas vidas. e que Luía carregava um passado mais complexo do que seu perfil sugeria, um passado que a fazia temer envolvimentos profundos e que a ensinara a manter distância de pessoas poderosas. Na manhã seguinte, Luía chegou ao trabalho, como de costume, pegando dois ônibus desde seu pequeno apartamento em um bairro da zona leste de São Paulo até o restaurante nos jardins. Pensava no menino que havia ajudado no dia anterior e em como ele lhe lembrara seu irmão Felipe, agora com 17
anos, que vivia com uma tia no interior após o falecimento da avó. Luía, o gerente quer falar com você", informou Paloma, sua colega de trabalho, assim que ela entrou. E parece sério. Com um suspiro, Luía dirigiu-se à sala do Sr. Antônio, o gerente do restaurante. Ela sabia que havia quebrado o protocolo ao sentar-se com o cliente no dia anterior, mas não conseguiu resistir ao ver o sofrimento do menino. "Senhorita Cardoso", começou o Sr. Antônio ajeitando os óculos. Recebi uma reclamação sobre seu comportamento ontem. A política do restaurante é clara quanto ao contato com os clientes.
Eu entendo, Senr. Antônio, mas aquele menino estava tendo uma crise. Não terminei interrompeu ele erguendo a mão. Também recebi um telefonema do escritório do senor Renato Mendes esta manhã. Aparentemente ele ficou bastante impressionado com seu atendimento. O gerente abriu uma gaveta e retirou um envelope. Ele pediu que entregasse isso a você. É um convite para uma entrevista em sua residência", explicou estendendo o envelope. E deixou claro que você está liberada do trabalho pelo tempo que for necessário para atender a esse compromisso. Luía pegou o envelope com as mãos trêmulas. O papel era grosso e tinha
um emblema dourado com as iniciais RM. "Quem exatamente é esse cliente, Senr. Antônio?", perguntou ela, percebendo que havia algo maior acontecendo. "Meu Deus, menina, você não reconheceu Renato Mendes?" O gerente parecia chocado. Ele é dono do grupo Mendes, uma das maiores empresas de construção civil do país. É bilionário, figura constante nas revistas de negócios e, pelo que entendi, ele quer contratar você para ajudar com o filho. Luía sentiu o estômago afundar. Ela sempre evitava se envolver demais com os clientes, especialmente os ricos e poderosos. Sua experiência lhe ensinara que pessoas com dinheiro frequentemente achavam que
podiam comprar qualquer coisa, inclusive pessoas. "Quando seria essa entrevista?", perguntou, ainda hesitante. "Hoje à tarde, um motorista virá buscá-la às 2 horas", respondeu o gerente agora com um sorriso calculista. Isso poderia ser muito bom para o restaurante, Luía, e para você também, obviamente. Saindo da sala do gerente, Luía encontrou todos os colegas olhando para ela com curiosidade. As notícias corriam rápido no restaurante. "O que foi, Risso?", perguntou Paloma, aproximando-se. "É verdade que você vai trabalhar para o Renato Mendes?" "Nem sei do que se trata ainda,", respondeu Luía, guardando o envelope na bolsa. Só ajudei um
menino que estava tendo dificuldades para comer. Um menino que por acaso é filho de um dos homens mais ricos do Brasil, exclamou Paloma. Menina, essa é a sua chance de sair desse lugar e finalmente voltar para a faculdade. Luía apenas sorriu, mas seu coração estava apertado. Ela queria ajudar o menino, mas temia o que poderia acontecer se entrasse no mundo daquela família poderosa. Da última vez que confiou em alguém com dinheiro e influência, quase perdeu tudo, inclusive sua dignidade. Querido ouvinte, se você está gostando da história, aproveite para deixar o like e principalmente se inscrever
no canal. Isso ajuda muito a gente que está começando agora. Continuando, às 2 horas em ponto, um motorista uniformizado esperava por Luía na porta do restaurante. O carro, uma Mercedes-Benz preta com vidros escurecidos, atraía olhares curiosos dos transeútes e dos demais funcionários que espia discretamente pela vitrine do estabelecimento. "Senhorita Cardoso", perguntou o motorista, um homem de meia idade, com expressão séria. "Sou Paulo, motorista do senor Mendes. Estou aqui para levá-la à residência dele. Luía assentiu, sentindo-se deslocada em seu uniforme de garçonete. Não tinha tido tempo de ir para casa trocar de roupa. "Eu estou um
pouco inadequada para uma entrevista", comentou ela, apontando para o uniforme. "Não se preocupe com isso, senhorita", respondeu Paulo com um leve sorriso. O Senr. Mendes foi bastante claro que não havia necessidade de formalidades. Durante o trajeto, Luía observava a cidade mudar gradualmente enquanto se aproximavam do bairro do Morumbi. As ruas ficavam mais largas, as calçadas mais arborizadas e os edifícios davam lugar a mansões escondidas por muros altos e portões elaborados. "É a primeira vez que vai ao Morumbi?", perguntou Paulo, notando o olhar curioso da jovem. Sim", respondeu ela simplesmente. "Nunca tive motivos para vir a
esta parte da cidade. O Senr. Mendes mora em uma das maiores propriedades do bairro", comentou o motorista. A casa principal foi projetada pela falecida esposa dele, que era arquiteta. "Ele é viúvo?", perguntou Luía, lembrando-se que não havia visto uma figura materna junto ao menino no restaurante. "Sim, dona Elisa nos deixou há 3 anos", respondeu Paulo, sua voz ficando mais suave. Foi uma grande perda para todos, especialmente para o pequeno Mateus. Ela adoeceu logo depois do diagnóstico dele. Luía sentiu uma pontada de compaixão. Perder a mãe tão cedo, especialmente para uma criança com autismo, que já
enfrentava tantos desafios para compreender o mundo, devia ter sido devastador. Finalmente, o carro parou diante de um portão imponente. Após uma breve verificação, os portões se abriram, revelando uma longa alameda ladeada por árvores bem cuidadas. Ao fim da estrada, uma mansão de estilo contemporâneo se erguia imponente, com grandes janelas de vidro e linhas arquitetônicas limpas. "Chegamos, senhorita", anunciou Paulo, estacionando o carro próximo à entrada principal. Luía saiu do veículo, sentindo-se minúscula diante da grandiosidade do lugar. Uma mulher de aproximadamente 50 anos, vestida com roupas simples, mas elegantes, esperava na porta. Bem-vinda, Senrita Cardoso", disse ela
com um sorriso acolhedor. "Sou Regina, governanta da casa. O Senr. Mendes está a sua espera no escritório e Mateus está tendo sua sessão de terapia ocupacional no momento. Regina conduziu Luía através de um hall de entrada impressionante, com pé direito duplo e uma escadaria curva que levava ao segundo andar. As paredes exibiam obras de arte que Luía reconheceu como sendo de artistas brasileiros renomados. É uma casa linda", comentou Luía, tentando disfarçar seu nervosismo. "Dona Elisa tinha um gosto impecável", respondeu Regina com um tom de saudade. Ela fez questão de valorizar a arte nacional em cada
detalhe da decoração. Ao chegarem a uma porta de madeira escura no fim de um corredor, Regina bateu suavemente. "Senor Mendes, a senorita Cardoso está aqui", anunciou. Pode entrar", respondeu uma voz grave do outro lado. Regina abriu a porta e fez um gesto para que Luía entrasse. O escritório era um ambiente amplo, com estantes de livros cobrindo uma parede inteira, uma mesa de trabalho imponente próxima à janelas que davam para um jardim bem cuidado e uma área de estar com sofás de couro. Renato Mendes estava de pé perto da janela, observando o exterior. Ao ouvir a
porta se fechar, virou-se para encarar Luía. Vestia uma camisa social azul clara, com as mangas dobradas até os cotovelos e calças escuras. Sem o terno formal do restaurante, parecia mais jovem e menos intimidador, embora sua postura continuasse a emanar a autoridade. "Senrita Cardoso, obrigado por vir", disse ele, aproximando-se para cumprimentá-la. Por favor, fique à vontade. Luía apertou a mão estendida, surpresa com a firmeza do gesto. Obrigada pelo convite, senor Mendes, mas confesso que estou um pouco confusa sobre o motivo", respondeu ela com sinceridade. Renato indicou os sofás, convidando-a a se sentar. Acredito que você seja
modesta demais para entender o impacto que teve ontem", começou ele, sentando-se no sofá oposto. "O que você fez com Mateus foi extraordinário. Foi apenas um momento de conexão, Senr. Mendes", respondeu Luía, tentando minimizar. Crianças com autismo frequentemente respondem bem quando são abordadas de forma adequada às suas necessidades. "Pode parecer simples para você, mas para nós foi revolucionário", disse ele com intensidade no olhar. Mateus não deixa ninguém se aproximar facilmente. Temos uma equipe de profissionais capacitados, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos. Nenhum deles conseguiu estabelecer uma conexão tão imediata quanto você. Renato levantou-se e caminhou até sua mesa
pegando uma pasta. Fiquei sabendo que você estudou psicologia e desenvolveu um método próprio de comunicação para crianças autistas", continuou ele e que trancou o curso para cuidar de sua avó. Luía sentiu-se desconfortável com a quantidade de informações que ele tinha sobre ela. "Como soube disso tudo?", perguntou, tentando não soar a acusatória. "Tenho recursos, senhorita Cardoso", respondeu ele sem rodeios. "E quando se trata do bem-estar do meu filho, não hesito em usá-los." "Entendo sua preocupação com seu filho, Senr. Mendes", disse Luía, escolhendo as palavras com cuidado. "Mas ainda não compreendo o que espera de mim". Renato
voltou a se sentar, inclinando-se ligeiramente para a frente. Quero oferecer a você um emprego, senorita Cardoso, como acompanhante terapêutica de Mateus, disse ele diretamente, com um salário cinco vezes maior do que ganha atualmente, além de benefícios como plano de saúde, ajuda de custo para moradia e, se desejar, financiamento para concluir seus estudos. Luía piscou, atônita com a proposta. Senor Mendes, eu não tenho qualificações formais para isso", respondeu ela, sentindo-se subitamente oprimida. "Não concluí meu curso, não tenho certificações. Você tem algo mais valioso, uma conexão natural com meu filho," interrompeu Renato e experiência prática com seu
irmão. Os diplomas podem vir depois, se você quiser. O que me interessa é a habilidade que você já demonstrou ter. Não sei se seria ético aceitar uma posição para a qual não estou formalmente qualificada", argumentou Luía, mesmo sentindo seu coração acelerar com a possibilidade de finalmente voltar à faculdade. Renato a observou com interesse, não acostumado a receber negativas. "Sua preocupação ética é admirável, senrita Cardoso", comentou ele. "Mas deixe-me esclarecer. Você não estaria substituindo os profissionais que já atendem Mateus? Seria um complemento, alguém que pudesse estabelecer uma ponte entre ele e o mundo, e, claro, entre
ele e o pai. A última frase foi dita com uma vulnerabilidade que surpreendeu Luía. Por um momento, o poderoso empresário deu lugar a um pai que simplesmente não sabia como se conectar com o próprio filho. "Eu gostaria de conhecer melhor o Mateus antes de tomar qualquer decisão", disse ela finalmente. "Uma interação de poucos minutos no restaurante não é suficiente para saber se posso realmente ajudá-lo de forma consistente." Um sorriso discreto apareceu no rosto de Renato. Isso pode ser arranjado", respondeu ele levantando-se. "Na verdade, a sessão de terapia ocupacional de Mateus deve estar terminando agora. Gostaria
de acompanhar o lanche dele. Geralmente é um momento desafiador." Luía assentiu seguindo Renato para fora do escritório. Enquanto caminhavam pelo corredor, ela notou mais de perto os detalhes da decoração. Havia fotos da família. Renato mais jovem ao lado de uma mulher bonita de cabelos castanhos e sorriso luminoso, presumivelmente Elisa. Fotos de Mateus Bebê e algumas de Renato com uma senhora elegante que parecia ser sua mãe. Chegaram a uma sala ampla e arejada, claramente adaptada para as necessidades de Mateus. Havia diversos recursos sensoriais, como luzes suaves, texturas diferentes nas paredes e móveis adequados ao tamanho da
criança. Uma mulher jovem guardava materiais terapêuticos enquanto Mateus estava sentado em um canto, aparentemente absorto em um tablet. "Boa tarde, Dra. Laura", cumprimentou Renato. "Como foi a sessão hoje?" bastante produtiva, Sr. Mendes, respondeu a terapeuta com um sorriso. Trabalhamos na coordenação motora fina e Mateus mostrou progressos significativos. A terapeuta anotou Luía e lançou um olhar questionador. Esta é Luía Cardoso! Apresentou Renato. Ela é uma consultora que está nos ajudando com novas abordagens para Mateus. Dr. Laura estendeu a mão para Luía com um sorriso profissional, mas seus olhos demonstravam uma leve desconfiança. Prazer em conhecê-la. Sempre
bom ter mais pessoas na equipe de apoio disse ela, embora seu tom sugerisse o contrário. Pen, já estou terminando por hoje. O lanche de Mateus está preparado na mesa, como de costume. A terapeuta despediu-se rapidamente e saiu da sala, deixando Renato, Luía e Mateus sozinhos. O menino continuava concentrado em seu tablet, sem parecer notar a presença deles. "Mateus geralmente fica absorvido em seus jogos educativos", explicou Renato em voz baixa. "É difícil tirá-lo dessa atividade para se alimentar". Luía observou o menino por um momento, com cabelos castanhos levemente ondulados, olhos expressivos e traços delicados. Lembrava muito
a mulher das fotografias. vestia uma camiseta azul clara e calças de algodão confortáveis. "Posso me aproximar dele?", perguntou ela a Renato. "Claro, mas ele costuma ignorar novas pessoas", advertiu o pai. Luía aproximou-se lentamente, sentando-se no chão a uma distância respeitosa de Mateus. Não falou imediatamente, apenas observou o que ele estava fazendo no tablet. Era um jogo de associação de formas e cores. "Você é muito bom nisso," comentou ela suavemente após alguns minutos, sem olhar diretamente para ele. "Meu irmão também adora esse jogo." Mateus não respondeu, mas seus dedos pausaram brevemente sobre a tela, indicando que
havia escutado. Luía continuou a comentar casualmente sobre o jogo, sem exigir resposta ou contato visual. Após alguns minutos, ela notou que o menino ocasionalmente lançava olhares furtivos em sua direção. "Está quase na hora do lanche, Mateus", disse ela no mesmo tom calmo. "Tem bolo de cenoura hoje? Meu irmão Felipe adora bolo de cenoura, especialmente com chocolate por cima." Surpreendentemente, Mateus levantou o olhar brevemente. Luía sorriu, mas não forçou o contato visual prolongado. "Quando meu irmão era pequeno, nós tínhamos um sistema para comer", continuou ela, mantendo o tom conversacional. Ele podia escolher a ordem dos alimentos,
desde que comesse tudo até o final. Isso o fazia sentir que tinha controle sobre a situação. Lentamente, Luía levantou-se e caminhou até a mesa onde estava o lanche preparado. Bolo de cenoura, algumas frutas cortadas em pedaços pequenos e um copo de suco. Olha só, adivinhei certo? É mesmo bolo de cenoura", comentou ela com entusiasmo suave. "Mateus, você prefere começar pelo bolo ou pela fruta?" Para a surpresa de Renato, que observava a cena com atenção, Mateus levantou-se, colocou o tablet de lado e caminhou até a mesa. Parou ao lado de Luía e apontou para o bolo.
"Boa escolha", disse ela, puxando uma cadeira para ele. "Vamos começar pelo bolo, então." Mateus sentou-se e permitiu que Luía colocasse um guardanapo em seu colo. Quando ela ofereceu um pedaço de bolo em um garfo, ele aceitou, mas logo em seguida pegou o garfo de suas mãos, preferindo alimentar-se sozinho. Renato observava a cena com uma mistura de espanto e emoção. Normalmente as refeições de Mateus eram batalhas exaustivas, com muita resistência e frequentemente terminavam com pouco ou nenhum alimento ingerido. Ver seu filho interagindo dessa forma com uma pessoa que acabara de conhecer era quase surreal. Muito bem,
Mateus, elogiou Luía quando ele terminou o bolo. Agora é hora da fruta. Qual você quer primeiro? O menino apontou para um pedaço de melão e novamente alimentou-se sozinho. Quando terminou o lanche, Mateus surpreendeu ainda mais seu pai ao pegar seu copo e beber o suco sem derramar, algo que geralmente se recusava a fazer sem ajuda. Ótimo trabalho, Mateus, disse Luía, sem exagerar nos elogios, mantendo um tom natural. Você comeu tudo direitinho. O menino retornou ao seu tablet, mas antes lançou um rápido olhar para Luía, o que para uma criança com autismo representava um nível significativo
de reconhecimento. Renato aproximou-se de Luía com uma expressão que misturava gratidão e assombro. "Como você?", começou ele, mas não conseguiu terminar a pergunta. Não fiz nada extraordinário, Senr. Mendes, respondeu Luía com sinceridade. Apenas respeitei o tempo dele. Ofereci escolhas claras e não criei expectativas que pudessem gerar ansiedade. Nossa equipe de especialistas tenta essas abordagens há anos disse Renato, ainda impressionado. O que você tem de diferente? Luía refletiu por um momento antes de responder. Talvez seja porque não o vejo primeiramente como um diagnóstico ou um conjunto de sintomas, explicou ela. Para mim, Mateus é uma criança
que percebe o mundo de uma maneira diferente e meu trabalho é tentar entender essa percepção, não impor a minha. Renato assentiu lentamente, absorvendo suas palavras. Senrita Cardoso, espero que reconsidere minha oferta", disse ele com seriedade. "Você acabou de conseguir em 15 minutos o que não conseguimos em meses de terapia intensiva." Luía olhou para Mateus, que parecia confortável e relaxado após o lanche, algo que Renato indicou ser raro. "Eu preciso pensar, senhor Mendes", respondeu ela. "É uma decisão importante que afetaria minha vida de várias formas." Compreendo, disse ele. Posso perguntar o que a faz hesitar? O
salário não é atrativo o suficiente. Não é uma questão de dinheiro explicou Luía, escolhendo cuidadosamente suas palavras. É sobre responsabilidade. Mateus precisa de constância em sua vida. Não quero criar vínculos que depois possam ser rompidos e causar mais danos que benefícios. O que Luía não disse era que também temia envolver-se demais emocionalmente. Depois da experiência traumática de perder a avó e ter que se afastar do irmão, ela havia construído barreiras para se proteger. Trabalhar tão próxima de uma família, especialmente de uma criança vulnerável, significava arriscar-se a sofrer novamente. Se ajudar em sua decisão", disse Renato,
"estou disposto a oferecer um contrato inicial de 3 meses com possibilidade de renovação. Isso daria tempo para avaliarmos se a parceria funciona para todos os envolvidos." Luía considerou a proposta. Um contrato temporário parecia mais gerenciável e menos ameaçador. "Nesse caso, creio que podemos tentar", respondeu ela finalmente, mas com uma condição. Renato ergueu as sobrancelhas, não acostumado a receber condições de funcionários em potencial. "E qual seria? Quero autonomia para implementar minha abordagem, mesmo que eventualmente discorde da equipe atual", afirmou Luía com confiança. "E gostaria de poder adaptar meu horário para retomar meus estudos caso decida voltar
à faculdade." Um leve sorriso surgiu no rosto de Renato. A jovem tinha coragem, ele tinha que admitir. "Parece justo,", concordou ele, estendendo a mão. "Temos um acordo, então?" Luía apertou sua mão, selando o pacto que mudaria a vida de ambos mais do que qualquer um deles poderia imaginar naquele momento. Temos um acordo, Senr. Mendes. Renato, por favor. Corrigiu ele. Se vamos trabalhar juntos pelo bem-estar de Mateus, podemos dispensar as formalidades. Naquele momento, nenhum dos dois percebia que estavam sendo observados. Da porta entreaberta da sala, Regina, a governanta, acompanhava a cena com um olhar preocupado. Ela
sabia que a chegada de Luía não seria bem recebida por todos na casa, especialmente por dona Berenice, a matriarca da família Mendes, que era extremamente protetora com relação ao neto e desconfiada de estranhos. Enquanto Renato e Luía discutiam os detalhes práticos do acordo, no outro extremo da cidade, no pequeno apartamento que Luía dividia com uma colega, seu telefone tocava insistentemente. Era uma ligação que traria à tona segredos do passado que ela lutara tanto para deixar para trás. Segredos que poderiam comprometer sua nova oportunidade antes mesmo de começar. Na tela do celular abandonado piscava o nome
Dr. Augusto. Hospital Santa Clara. Duas semanas se passaram desde que Luía aceitara o trabalho na mansão dos Mendes. A adaptação estava sendo gradual, com Luía indo a casa três vezes por semana inicialmente para não causar mudanças bruscas na rotina de Mateus. Os progressos eram pequenos, mas significativos. O menino já a reconhecia imediatamente ao vê-la chegar, às vezes até esboçando um sorriso discreto. As refeições tornaram-se momentos menos tensos e Mateus começava a aceitar participar de atividades sugeridas por Luía, como jogos simples e exercícios sensoriais que ela adaptava de suas experiências com o irmão. Naquela manhã de
quinta-feira, Luía chegou à mansão mais cedo que o habitual. havia combinado com Renato de participar da reunião semanal com a equipe multidisciplinar que atendia Mateus para que pudessem alinhar abordagens. Paulo, o motorista, já esperava no portão, como havia se tornado costume. Renato insistira em enviar o carro para buscá-la, argumentando que facilitaria sua logística e garanti pontualidade. "Bom dia, Luía", cumprimentou Paulo com seu costumeiro sorriso gentil. Dormiu bem? Não muito confessou ela entrando no carro. Fiquei estudando até tarde. Decidi que vou tentar o processo seletivo para reingresso na faculdade no próximo semestre. Isso é ótimo respondeu
o motorista dando partida no veículo. O senor Renato ficará contente em saber. Ele valoriza muito a educação. Durante o trajeto, Luía revisava mentalmente as anotações que havia preparado para a reunião. Sabia que enfrentaria resistência de alguns profissionais, especialmente da Dra. Laura, que não escondia seu desconforto com a presença de alguém sem formação completa na equipe. Ao chegarem à mansão, Luía percebeu um carro desconhecido estacionado na entrada principal. "Temos visitas hoje?", perguntou a Paulo enquanto descia do veículo. Dona Berenice chegou de viagem ontem à noite, respondeu ele em tom baixo, como se compartilhasse um segredo. A
mãe do Senr. Renato. Luía sentiu um frio na barriga. Já havia ouvido falar da matriarca da família Mendes através de comentários de Regina e outros funcionários. sabia que era uma mulher de personalidade forte, que mantinha controle sobre muitos aspectos dos negócios familiares, mesmo após passar o comando oficial para o filho. "Ela sabe sobre mim?", perguntou Luía hesitante. Paulo deu de ombros. O Sr. Renato deve ter mencionado, mas a senhora não costuma se envolver muito nos assuntos relacionados a Mateus, pelo menos não diretamente. Luía assentiu, agradeceu e dirigiu-se à entrada lateral que geralmente utilizava. Preferiu não
encontrar a matriarca logo em seu primeiro dia. Atravessou os jardins bem cuidados e entrou por uma porta discreta que levava diretamente à ala onde ficavam as salas de terapia e o quarto de Mateus. Reg. a esperava no corredor com uma expressão preocupada. "Bom dia, querida", cumprimentou a governanta em voz baixa. A reunião foi transferida para a biblioteca. Todos já estão lá, incluindo dona Berenice. "A mãe do senor Renato vai participar?", perguntou Luía, sentindo a ansiedade aumentar. Ela insistiu, respondeu Regina com um olhar significativo. "Esteja preparada, Luía. Dona Berenice, pode ser desafiadora. Com um suspiro para
reunir coragem, Luía seguiu Regina até a biblioteca, um cômodo imponente no andar térrio, com estantes do chão ao teto, cheias de livros bem conservados. No centro havia uma grande mesa oval onde várias pessoas estavam sentadas. Reconheceu a Dra. Laura, o Dr. Roberto, neurologista de Mateus, e mais dois profissionais que havia conhecido brevemente. A cabeceira da mesa estava Renato e ao seu lado, uma mulher elegante de aproximadamente 70 anos, cabelos grisalhos perfeitamente arrumados em um coque, postura ereta e expressão severa. Seus olhos da mesma cor dos de Renato examinaram Luía de cima a baixo quando ela
entrou na sala. Ah, Senrita Cardoso, bem-vinda." Disse Renato, levantando-se. Pontual como sempre. Permita-me apresentá-la a minha mãe, Berenice Mendes. Luía aproximou-se e estendeu a mão, esforçando-se para manter a compostura. É um prazer conhecê-la, Senora Mendes", disse com um sorriso educado. Berenice aceitou o cumprimento com um aperto de mão breve e frio. "Então, esta é a jovem que tem causado tanto alvoroço", comentou ela seu tom deixando ambíguo se isso era bom ou ruim. "Meu filho fala muito de suas técnicas inovadoras. O modo como pronunciou inovadoras deixava claro seu ceticismo. Apenas compartilho o que aprendi com meu
próprio irmão, senhora respondeu Luía com humildade. Nada que substitua o trabalho dos profissionais qualificados aqui presentes. Renato indicou uma cadeira vazia. Por favor, Luía, junte-se a nós. Estávamos justamente discutindo os progressos de Mateus nas últimas semanas. Luía sentou-se, sentindo os olhares avaliativos de todos na sala. A Dra. Laura foliava uma pasta com anotações enquanto o Dr. Roberto consultava algo em seu tablet. Como eu dizia, continuou Renato, tenho observado melhorias significativas, especialmente na alimentação e na disposição de Mateus para novas atividades. Acredito que a abordagem da senrita Cardoso tem sido um complemento valioso ao tratamento. Com
todo respeito, Senr. Mendes, interveio a Dra. Laura, é preciso cautela ao atribuir progressos a intervenções não estruturadas. Crianças, com o transtorno do espectro autista frequentemente apresentam variações naturais em seus comportamentos. "Concordo que precisamos ser científicos em nossas avaliações", disse o Dr. Roberto. "Mas também não podemos ignorar resultados positivos, mesmo que venham de abordagens menos convencionais". Berenice observava o debate com olhos atentos, avaliando cada palavra. Só que me interessa saber", disse ela finalmente, direcionando seu olhar penetrante para Luía. "É qual exatamente é sua qualificação para tratar de uma criança com necessidades tão complexas quanto meu neto?"
A sala ficou em silêncio. Todos pareciam esperar ansiosamente pela resposta. "Senora Mendes, não tenho a pretensão de tratar Mateus", respondeu Luía com calma. Meu papel é criar um ambiente propício para que ele se sinta seguro e compreendido, facilitando o trabalho dos especialistas. E onde aprendeu a fazer isso? Insistiu Berenice. Certamente não no restaurante onde servia mesas. O tom condescendente fez o rosto de Luía esquentar, mas ela manteve a compostura. Cursei três anos de psicologia na USP antes de precisar trancar a matrícula", explicou ela. Durante esse tempo, concentrei-me em estudos sobre neurodesenvolvimento infantil, particularmente autismo, por
causa do meu irmão. E sim, também aprendi muito na prática, tanto com ele quanto com outros casos que acompanhei durante estágios voluntários. Renato interveio, percebendo o desconforto crescente. Mãe, contratei Luía precisamente porque ela demonstrou uma habilidade natural que complementa o trabalho técnico da equipe", explicou ele. "Os resultados falam por si. Resultados que poderiam ser coincidência", rebateu Berenice, "ou fruto do trabalho contínuo que estes profissionais vêm realizando há anos. Se me permite, senora Mendes?", falou o Dr. Roberto. Embora seja cedo para conclusões definitivas, tenho notado mudanças no comportamento de Mateus que coincidiram com a chegada da
senrita Cardoso. Ele está mais receptivo durante nossas sessões, consegue manter foco por períodos mais longos e até demonstrou interesse em atividades que antes rejeitava completamente. Berenice não parecia convencida, mas recostou-se em sua cadeira, observando Luía com intensidade. "Bem, vejamos quanto tempo este milagre vai durar", comentou finalmente. Já vi muitas abordagens revolucionárias virem e irem sem deixar impacto duradouro. Querido ouvinte, se você está gostando da história, aproveite para deixar o like e principalmente se inscrever no canal. Isso ajuda muito a gente que está começando agora. Continuando, a reunião prosseguiu por mais uma hora com cada especialista
apresentando seus relatórios e sugestões. Luía contribuiu modestamente, sempre deferente à expertise dos profissionais, mas firme em suas observações sobre as preferências e padrões de comportamento de Mateus que havia identificado. Quando a sessão terminou, todos se retiraram, exceto Renato, Berenice e Luía. Senrita Cardoso, poderia nos dar licença por um momento?", pediu Berenice com um sorriso que não alcançava seus olhos. "Gostaria de falar com meu filho em particular." "Claro, senhora", respondeu Luía, levantando-se. "Com licença, ela saiu da biblioteca, fechando a porta suavemente atrás de si. Embora soubesse que não deveria, permaneceu por um instante próxima o suficiente
para ouvir as vozes alteradas que logo começaram a emergir da sala. Você perdeu o juízo, Renato?" A voz de Berenice era cortante mesmo, em volume baixo. "Contratar uma garçonete sem qualificações para cuidar de Mateus? O que as pessoas vão pensar?" "Não me importo com o que as pessoas pensam, mãe", respondeu Renato com firmeza. "Me importo com o bem-estar do meu filho e pela primeira vez em anos estou vendo progresso real." Progresso ou você está vendo o que quer ver? Por que essa moça bonita e jovem despertou seu interesse? Luía sentiu o rosto queimar. Não esperava
esse tipo de insinuação. Não seja ridícula. A voz de Renato soava irritada. Agora isso é estritamente profissional. Luía tem um dom para se conectar com Mateus. Algo que nenhum dos caros especialistas que você tanto defende conseguiu fazer. Você mal a conhece, Renato! Exclamou Berenice. Você verificou seu histórico, sabe? Porque realmente ela abandonou a faculdade, já pensou que ela pode estar apenas interessada em seu dinheiro. Chega, mãe. O tom de Renato era definitivo. Fiz todas as verificações necessárias antes de contratá-la. E ao contrário do que você pensa, ela até tentou recusar o salário que oferecia inicialmente,
dizendo que era excessivo. Luía afastou-se da porta, sentindo-se culpada por escutar a conversa privada e perturbada com o que havia ouvido. Caminhava pelo corredor quando Regina apareceu carregando uma bandeja com suco e biscoitos. "Ah, querida, estava procurando por você", disse a governanta. Pensei que gostaria de um refresco depois da reunião. Mateus está no jardim com Clara a babá. Talvez queira se juntar a eles. Obrigada, Regina, respondeu Luía com gratidão, tanto pelo lanche quanto pela distração oportuna. Seguindo a sugestão da governanta, Luía dirigiu-se ao jardim dos fundos, um espaço amplo e bem planejado, com diversas áreas
de atividades adaptadas para Mateus. encontrou o menino sentado em um banco sob uma árvore frondosa, foliando um livro de imagens, enquanto Clara, uma jovem de aproximadamente 20 anos, sentava-se próxima a ele. "Bom dia, Clara", cumprimentou Luía. "Como está Mateus hoje?" "Está bem tranquilo", respondeu a babá com um sorriso. Acordou cedo, mas não teve nenhuma crise até agora. Luía aproximou-se devagar e sentou-se no outro extremo do banco, respeitando o espaço pessoal de Mateus. "Oi, Mateus", disse suavemente. "Que livro legal você está vendo?" O menino não respondeu verbalmente, mas virou ligeiramente o livro em sua direção. "Um
gesto que, para ele representava uma enorme abertura social". "São dinossauros", comentou Luía com entusiasmo controlado. "Você gosta de dinossauros? Mateus a sentiu quase imperceptivelmente, virando a página para mostrar um tiranossauro Rex. Clara observava a interação com evidente admiração. "É incrível como ele responde a você", comentou em voz baixa. "Geralmente, ele ignora completamente pessoas novas por semanas. Acho que é porque não forço interação", explicou Luía enquanto continuava a comentar sobre as imagens que Mateus mostrava. Respeito o tempo e o espaço dele. Passaram quase meia hora assim, com Mateus gradualmente se aproximando mais, até que estava praticamente
encostado no braço de Luía, algo que Clara mencionou nunca ter visto antes. Foi nesse momento que Renato apareceu no jardim, ainda com expressão tensa após a discussão com a mãe. Ao ver seu filho tão confortável na presença de Luía, porém, seu semblante suavizou-se. Parece que estão se divertindo", comentou ele, aproximando-se lentamente para não perturbar Mateus. O menino olhou brevemente para o pai, mas logo voltou sua atenção para o livro. Mateus está me mostrando seus dinossauros favoritos", explicou Luía com um sorriso. "Ele sabe muito sobre eles." Renato sentou-se em uma cadeira próxima, observando a interação com
interesse. "Ele ganhou esse livro no aniversário de 4 anos da mãe", disse em voz baixa, mas raramente permitia que alguém o visse junto com ele. Luía percebeu a emoção contida na voz de Renato. É uma honra, então, respondeu ela. Simplesmente Clara discretamente se afastou, dando privacidade aos três. Por alguns minutos, ficaram em silêncio confortável, apenas apreciando o momento de calma e conexão. "Peço desculpas pelo comportamento de minha mãe na reunião", disse Renato finalmente em tom baixo para não distrair Mateus. "Ela é extremamente protetora e desconfiada por natureza." Não precisa se desculpar", respondeu Luía. "É compreensível
que ela se preocupe com o neto. Mesmo assim, a forma como ela se referiu a você foi inadequada". Luía hesitou, perguntando-se se deveria revelar que havia escutado parte da conversa particular. Decidiu que seria melhor ser honesta. "Devo confessar que ouvi um pouco da conversa de vocês", admitiu, sentindo-se constrangida. "Não foi intencional. Eu já estava me afastando, mas Renato suspirou, passando a mão pelos cabelos, em um gesto de frustração. "Sinto muito que tenha ouvido isso", disse ele. "Minha mãe tem opiniões fortes e nem sempre filtradas. Ela tem razão em ser cautelosa", reconheceu Luía. No lugar dela,
eu também questionaria a contratação de alguém sem credenciais formais para uma posição tão importante. Renato olhou diretamente para ela, seus olhos transmitindo determinação. Você tem algo mais importante que diplomas, Luía. Tenho uma conexão genuína com meu filho", disse ele com convicção. "E isso para mim vale mais que qualquer titulação acadêmica". Antes que Luía pudesse responder, seu celular vibrou. Ela o tirou do bolso e sua expressão mudou ao ver o nome na tela. Dr. Augusto, Hospital Santa Clara. Preciso atender. Se me der licença disse ela, levantando-se apressadamente e afastando-se alguns passos. Renato observou com curiosidade a
mudança súbita em sua postura. De longe, podia ver que a conversa parecia séria com Luía, ocasionalmente passando a mão pelo rosto em sinal de preocupação. Quando ela retornou minutos depois, sua expressão era uma máscara de calma forçada. "Está tudo bem?", perguntou Renato genuinamente preocupado. "Sim, apenas um assunto pessoal que preciso resolver", respondeu ela, tentando suar casual. Senr. Mendes, seria possível eu sair um pouco mais cedo hoje? Prometo compensar o tempo em outro dia. Claro, sem problemas, concordou ele prontamente. Paulo pode levá-la onde precisar. Não é necessário. Obrigada, recusou Luía. Prefiro ir por conta própria. Renato
notou que algo estava errado, mas respeitou sua privacidade. Como preferir, Mateus terá sessão com o fono audiólogo à tarde. De qualquer forma, Luía despediu-se de Mateus, prometendo voltar no dia seguinte, e o menino, surpreendentemente, acenou de volta, um gesto pequeno, mas significativo. Ao sair da mansão, Luía tentava organizar seus pensamentos. A ligação do Dr. Augusto trouxera notícias que ela temia. Seu irmão Felipe havia tido uma recaída e estava internado novamente. Os medicamentos que estabilizavam suas crises estavam em falta no sistema público de saúde e os alternativos não eram tão eficazes. O médico ligara porque sabia
que Luía sempre encontrava uma forma de conseguir os remédios, mesmo quando não estavam disponíveis. O problema era que esses medicamentos eram caros, muito além do que ela podia pagar com seu salário anterior. Mesmo com o aumento significativo que recebera ao trabalhar para os Mendes, seu primeiro pagamento só viria no final do mês. E havia a questão da dívida anterior com o hospital, que ela vinha pagando em pequenas parcelas mensais. Enquanto caminhava até o ponto de ônibus, Luía considerava suas opções. Poderia pedir um adiantamento a Renato, mas isso significaria revelar sua situação pessoal, algo que preferia
manter separado de sua vida profissional. Além disso, depois do questionamento de Berenice sobre suas intenções, pedir dinheiro apenas reforçaria as suspeitas da matriarca. Outra opção seria recorrer a Thago, seu ex-namorado, que havia oferecido ajuda financeira quando terminou o relacionamento, movido pela culpa de tê-la traído. Mas Luía recusara na época, determinada a resolver seus problemas sozinha, e não queria criar uma dependência agora. A terceira alternativa era a que mais a assustava, aceitar a proposta que Dr. Augusto mencionara na ligação, um estudo clínico particular. estava recrutando participantes para testar um novo medicamento para condições semelhantes à de
Felipe. A remuneração era generosa, suficiente para cobrir os medicamentos por vários meses, mas significaria submeter seu irmão a um tratamento experimental, algo que a deixava extremamente apreensiva. Enquanto o ônibus se aproximava, Luía tomou uma decisão temporária. usaria suas economias para comprar os medicamentos mais urgentes e ganharia tempo para encontrar uma solução mais permanente. Não era ideal, mas era o melhor que podia fazer no momento. O que ela não sabia era que sua saída apressada e a ligação misteriosa haviam despertado a curiosidade de Berenice Mendes. A matriarca, que observara toda a cena da janela da biblioteca,
já havia instruído seu assistente pessoal a descobrir mais sobre o Dr. Augusto e o Hospital Santa Clara, e, principalmente, sobre qual conexão Luía teria com eles. Nas semanas seguintes, Luía estabeleceu uma rotina mais regular na mansão dos Mendes. agora passava quatro dias por semana com Mateus, alternando entre atividades estruturadas com a equipe terapêutica e momentos mais livres, onde implementava suas próprias técnicas de comunicação e socialização. Os progressos do menino eram evidentes. Ele havia começado a usar mais palavras isoladas, mantinha contato visual por períodos mais longos e demonstrava menos ansiedade durante transições de atividades. um dos
maiores desafios para crianças com autismo. Renato observava essas mudanças com uma mistura de alegria e admiração pelo trabalho de Luía. Os dois desenvolveram uma dinâmica profissional baseada em respeito mútuo e no objetivo comum de ajudar Mateus. O jantavam juntos após as atividades do dia, discutindo os progressos e desafios enquanto o menino dormia. Foi durante um desses jantares que Renato finalmente decidiu perguntar sobre o assunto que notara estar afetando Luía, apesar de seus esforços para esconder. Luía, espero não estar sendo intrusivo, mas tenho notado que você parece preocupada nos últimos tempos", comentou ele enquanto Regina servia
o jantar na sala de refeições informal da mansão. "Há algo em que eu possa ajudar?" Luía hesitou mexendo na comida sem realmente comer. Estava exausta, dividindo-se entre o trabalho na mansão, as visitas ao hospital para ver Felipe e as noites estudando para o processo seletivo de reingresso na faculdade. "Estou bem, apenas um pouco cansada", respondeu ela, tentando soar convincente. Renato a observou por um momento, seus olhos refletindo genuína preocupação. "Você recebe ligações que a deixam visivelmente perturbada. Sai apressada às vezes e eu notei que tem perdido peso", disse ele diretamente. "Não quero intrometer-me em sua
vida pessoal, mas se houver algo que esteja interferindo em seu bem-estar, gostaria de saber se posso ajudar". Luía suspirou, pousando o garfo. "Talvez fosse hora de ser honesta." "É meu irmão, Felipe", admitiu finalmente. "Ele teve uma recaída e está internado há algumas semanas. Além do autismo, ele tem episódios de convulsões que requerem medicação controlada. "Sinto muito em ouvir isso", disse Renato com sinceridade. "É o mesmo irmão que você mencionou quando falou sobre suas técnicas com Mateus?" "Sim, o mesmo", confirmou Luía. Felipe tem 17 anos agora. Depois que nossa avó partiu, ele ficou sobia no interior,
mas recentemente precisou ser transferido para São Paulo para um tratamento mais especializado. E você está enfrentando dificuldades com os custos desse tratamento? Perguntou Renato delicadamente. Luía sentiu o rosto esquentar. Não queria parecer que estava usando a situação do irmão para conseguir vantagens financeiras. Estou administrando a situação", respondeu, tentando encerrar o assunto. "Assim que receber meu primeiro salário, as coisas ficarão mais fáceis". Renato assentiu, respeitando sua reserva. Após alguns momentos de silêncio, ele voltou a falar. "Luía, eu gostaria de fazer uma proposta", disse cuidadosamente, "Não como seu empregador, mas como alguém que entende o que é
fazer qualquer coisa pelo bem-estar de quem amamos". Ela o encarou cautelosa. Que tipo de proposta? O grupo Mendes mantém uma fundação que, entre outras iniciativas, apoia tratamentos médicos não cobertos integralmente pelo sistema público", explicou ele. "Gostaria de oferecer a inclusão de seu irmão no programa". Luía sentiu o nó na garganta. A oferta era tentadora, mas seu orgulho e medo de criar dívidas emocionais a fizeram hesitar. É muito generoso da sua parte. Mas não posso aceitar", respondeu ela. "Já estou recebendo um salário justo pelo meu trabalho aqui. Não seria correto receber mais benefícios." Renato inclinou-se ligeiramente
para a frente, seus olhos transmitindo intensidade. "Não é caridade, Luía, é reconhecimento", disse ele com firmeza. O que você fez por Mateu não tem preço. Pela primeira vez em anos, meu filho está progredindo, conectando-se, vivendo além das limitações que os médicos previram. Ele fez uma pausa antes de continuar. Além disso, a fundação já existe e ajuda dezenas de famílias anualmente. Não seria um favor especial, apenas a inclusão de mais um caso merecedor no programa. Luía mordeu o lábio inferior, pensativa. A saúde de Felipe estava em jogo e o tratamento adequado poderia fazer toda a diferença
em seu desenvolvimento. Posso pensar a respeito? Pediu finalmente. Claro, concordou Renato. Só peço que não demore muito. Pelo que entendi, seu irmão precisa de ajuda agora. Nesse momento, Regina entrou na sala, parecendo ligeiramente perturbada. Desculpe interromper o jantar, Sr. Renato, mas dona Berenice acaba de chegar e está perguntando por você", informou, ela lançando um olhar preocupado a Luía. Renato franziu a testa surpreso. "Minha mãe?" Ela não mencionou que viria hoje, comentou levantando-se. "Peça que me espere no escritório, por favor. Irei em alguns minutos". Quando Regina saiu, Renato voltou-se para Luía. Gostaria que pensasse seriamente na
minha proposta. Não por mim ou por gratidão, mas pelo seu irmão. Luía assentiu, embora continuasse insegura. Obrigada pela compreensão, Renato. Acho que devo ir agora. Já está ficando tarde. Não precisa sair por causa da chegada de minha mãe, disse ele, percebendo sua hesitação. Está tudo bem, realmente, assegurou Luía. Tenho mesmo que passar no hospital antes de ir para casa. Renato não insistiu, compreendendo que ela preferia evitar um encontro potencialmente desconfortável com Berenice. "Paulo pode levá-la", ofereceu. Desta vez, Luía aceitou, grata pela possibilidade de chegar mais cedo ao hospital. Enquanto aguardava o motorista na entrada da
mansão, Luía não percebeu que estava sendo observada por Berenice, que a estudava da janela do escritório com olhos calculistas. A matriarca havia recebido naquela tarde um relatório detalhado sobre Luía Cardoso, incluindo suas dificuldades financeiras relacionadas ao tratamento do irmão e uma dívida substancial com o Hospital Santa Clara. Na mente de Berenice, aquela informação era exatamente o que precisava para confirmar suas suspeitas. A jovem garçonete estava apenas se aproximando de seu filho e neto por interesse financeiro, que ela faria de tudo para proteger sua família daquele que considerava mais um golpe do destino. No dia seguinte,
Luía chegou à mansão no horário habitual, preparada para uma manhã de atividades com Mateus. Para sua surpresa, encontrou não apenas um menino na sala de terapia, mas também Berenice, sentada em uma poltrona ao canto, observando-os com olhar atento. "Bom dia, Mateus", cumprimentou Luía com seu habitual sorriso caloroso, embora sentisse o desconforto da presença inesperada. "Bom dia, senora Mendes." "Bom dia, senorita Cardoso", respondeu Berenice sec. Espero que não se importe com minha presença. Estou curiosa para observar essas técnicas revolucionárias que tanto impressionaram meu filho. Luía manteve a calma, dirigindo sua atenção prioritariamente a Mateus. Claro que
não me importo, respondeu educadamente Mateus, veja o que trouxe hoje para nós. Ela abriu sua bolsa e retirou um pequeno conjunto de cartões com imagens e palavras, um material que havia desenvolvido especificamente para ajudar na comunicação de crianças com dificuldades verbais. Por quase uma hora, Luía trabalhou com Mateus usando os cartões, incentivando-o a formar sequências simples que representavam suas preferências e necessidades. O menino mostrava-se engajado e, para a surpresa de Berenice, conseguia seguir instruções complexas e até mesmo corrigir pequenos erros que Luía deliberadamente introduzia como parte do exercício. Muito bem, Mateus", elogiou Luía quando ele
completou uma sequência particularmente desafiadora. "Você está ficando muito bom nisso." Mateus não sorriu abertamente, mas seus olhos brilhavam com satisfação. Quando a sessão terminou e o menino foi levado por Clara para o lanche, Berenice permaneceu na sala, seus olhos fixos em Luía. Devo admitir que você tem um método interessante, senrita Cardoso", comentou ela, sem entusiasmo real. "Onde aprendeu essas técnicas específicas?" "Desenvolvi a maioria delas tentando me comunicar com meu irmão", explicou Luía guardando o material. Depois, refinei com base em pesquisas acadêmicas e orientações de profissionais que o atendiam. "Seu irmão autista, que está internado no
hospital Santa Clara, correto?", perguntou Berenice casualmente. Luía congelou por um instante, surpresa que a matriarca soubesse desse detalhe. "Sim, Felipe está internado lá temporariamente", confirmou, tentando manter a voz neutra. "Como soube disso?" Berenice sorriu levemente um sorriso que não alcançava seus olhos. Tenho interesse em todos os assuntos que afetam o bem-estar de meu neto", respondeu ela vagamente, incluindo as pessoas que entram em sua vida. Levantando-se com elegância, a matriarca ajustou seu casaco impecável antes de continuar. "Senhorita Cardoso, vamos ser diretas? Sim, sei que você enfrenta sérias dificuldades financeiras relacionadas ao tratamento de seu irmão. Sei
também que isso a levou a acumular uma dívida considerável com o hospital. Luía sentiu o sangue fugir de seu rosto. Como aquela mulher havia descoberto tantos detalhes de sua vida privada? Com todo respeito, senora Mendes, minha situação financeira pessoal não tem relação com meu trabalho aqui", respondeu ela lutando para manter a compostura. Pelo contrário, minha querida, rebateu Berenice com falsa doçura. Tem tudo a ver, especialmente quando meu filho, sempre generoso e às vezes ingênuo demais, oferece incluir seu irmão no programa de nossa fundação familiar. Um benefício bastante substancial, devo dizer. Luía sentiu uma onda de
indignação. Eu não pedi isso afirmou com firmeza. Na verdade, disse a Renato que precisava pensar a respeito, pois não me sinto confortável em aceitar. Uma resposta inteligente. Hesitar antes de aceitar faz parte do jogo, não é? Comentou Berenice, suas palavras destilando veneno. Mas vamos ao que interessa. Tenho uma proposta alternativa para você. A matriarca abriu sua bolsa de grife e retirou um envelope. Aqui dentro há um cheque com valor suficiente para cobrir todas as suas dívidas com o hospital e garantir um ano de tratamento de primeira linha para seu irmão", explicou ela, estendendo o envelope.
"É seu, sem qualquer obrigação para com a fundação, com uma única condição, que você se afaste imediatamente de Mateus e Renato." Luía encarou o envelope como se fosse algo tóxico. Sentia o sangue pulsar em suas têmporas. "A senhora está me oferecendo dinheiro para eu desaparecer?", perguntou incrédula. "Estou oferecendo uma saída digna", corrigiu Berenice. "Você recebe o que realmente veio buscar sem precisar continuar com essa farça de dedicação especial ao meu neto." Luía deu um passo para trás, como se tivesse sido fisicamente agredida. A senhora não entende nada sobre mim ou sobre o que faço aqui",
disse sua voz tremendo ligeiramente. "Eu genuinamente me importo com Mateus. O progresso dele não é um truque ou uma farça. Talvez você até acredite nisso", concedeu Berenice. "Mas no fundo sabemos que sua aproximação com esta família foi motivada por necessidade financeira. E não há culpo por isso, é o instinto humano básico de sobrevivência." Ela empurrou o envelope na direção de Luía. Pense bem, senrita Cardoso. Este é um caminho muito mais simples do que continuar aqui, enfrentando o escrutínio constante e a eventual desilusão de Renato quando Mateus inevitavelmente atingir um platô em seu desenvolvimento. Luía sentiu
lágrimas de raiva queimar em seus olhos, mas recusou-se a demonstrar fraqueza. Não estou à venda, senora Mendes", disse, afastando o envelope com a mão. "E sua oferta é profundamente ofensiva, não apenas para mim, mas para seu filho e seu neto." Berenice estreitou os olhos, não acostumada a ser contrariada. "Meu filho é um homem vulnerável, senorita Cardoso", disse ela em tom gelado. "Desde que perdeu Elisa, ele se agarra a qualquer esperança, por mais ilusória que seja. E você, conscientemente ou não, está se aproveitando dessa vulnerabilidade. Antes que Luía pudesse responder, a porta da sala abriu-se e
Renato entrou, parando abruptamente ao sentir a tensão no ambiente. "O que está acontecendo aqui?", perguntou, olhando de sua mãe para Luía. Berenice rapidamente guardou o envelope em sua bolsa. "Apenas uma conversa entre mulheres", respondeu com falsa leveza. estava conhecendo melhor a senrita Cardoso. Renato não parecia convencido. Seus olhos se fixaram em Luía, notando sua palidez e postura tensa. "Luía, está tudo bem?", perguntou diretamente. Ela hesitou. Parte de si queria expor o que acabara de acontecer, mas outra parte temia as consequências para Mateus. Uma ruptura familiar poderia impactar negativamente o progresso do menino. Estou bem, respondeu
finalmente, apenas um pouco cansada hoje. Berenice sorriu triunfante, interpretando a resposta como um sinal de que Luía não estaria disposta a criar conflito. "Se me dão licença, preciso verificar como Mateus está se saindo com o lanche", disse Luía, dirigindo-se rapidamente à porta. Luía, espere", chamou Renato, mas ela já havia saído. Sozinho com a mãe, Renato a encarou com expressão severa. "O que você disse a ela?", perguntou sem rodeios. "Apenas algumas verdades que você se recusa a enxergar", respondeu Berenice, imperturbável. "Essa garota está aqui pelo dinheiro, Renato, e quanto mais rápido você perceber isso, menos doloroso
será." Chega, mãe", cortou ele, sua voz carregada de frustração. "Já discutimos isso. Luía tem feito um trabalho excepcional com Mateus. E sim, eu sei sobre o irmão dela e ofereci." Berenice deu um suspiro teatral. Seu pai também era assim, sempre querendo ajudar todo mundo, sempre acreditando no melhor das pessoas", comentou ela com uma mistura de nostalgia e irritação. E quantas vezes ele foi decepcionado? Quantas vezes tive que limpar a bagunça depois que as pessoas mostravam suas verdadeiras faces? Não estamos falando do pai, respondeu Renato firmemente. Estamos falando de uma jovem dedicada que tem um dom
genuíno para trabalhar com crianças como Mateus. A matriarca ajustou seu colar de pérolas, um gesto que fazia quando estava contrariada. "Sempre tão teimoso", murmurou. "Bem, não diga que não avisei quando essa história terminar mal. Só espero que Mateus não seja quem mais sofrerá com sua ingenuidade. Saindo da sala com dignidade intocada, Berenice deixou para trás um Renato pensativo e preocupado. Ele conhecia bem a mãe para saber que ela não desistiria facilmente, que algo lhe dizia que aquela conversa privada havia abalado Luía mais do que ela admitira. No outro extremo da mansão, no banheiro próximo à
cozinha, Luía tentava recuperar a compostura, respirando fundo e enxugando as lágrimas de raiva que finalmente permitira cair. A oferta de Berenice havia sido um golpe em tudo que ela acreditava e lutava para conquistar por mérito próprio. Mas pior que a oferta em si era o fato de que, por um momento fugaz, ela havia considerado aceitá-la, não por ganância, mas porque o dinheiro garantiria o tratamento de que Felipe precisava desesperadamente, e essa realização a assustava mais do que queria admitir. No espelho, seu reflexo mostrava olhos vermelhos e uma expressão de determinação renovada. Não, ela não desistiria.
Não deixaria que as insinuações de Berenice a afastassem de Mateus, que precisava de sua ajuda, tanto quanto Felipe precisava de tratamento. Encontraria outra forma de resolver seus problemas financeiros sem comprometer seus princípios. O que Luía não sabia era que sua resiliência seria testada além do limite nos dias que se seguiriam, pois Berenice Mendes nunca fora o tipo de pessoa que aceita uma negativa como resposta final. Enquanto isso, no Hospital Santa Clara, o Dr. Augusto observava os resultados dos últimos exames de Felipe com expressão preocupada. O quadro do jovem estava se deteriorando mais rapidamente do que
o previsto e as opções de tratamento dentro do alcance financeiro de Luía se estreitavam rapidamente. Uma decisão precisaria ser tomada em breve. Uma decisão que poderia mudar o curso de muitas vidas. Três dias após o confronto com Berenice, Luía chegou à mansão para encontrar uma atmosfera diferente. Os funcionários pareciam evitar seu olhar e Regina, sempre calorosa, limitou-se a um cumprimento breve e formal. "Bom dia, Regina", tentou Luía, preocupada com a mudança. "Está tudo bem?" Bom dia, Luía, respondeu a governanta, tensa. Mateus está na sala de música com o Dr. Lucas hoje. O Senr. Renato pediu
que você se dirigisse ao escritório assim que chegasse. Aconteceu alguma coisa? Perguntou Luía, sentindo um aperto no peito. Regina hesitou, parecendo dividida entre seu afeto por Luía e sua lealdade à família. É melhor você conversar diretamente com o Sr. Renato", disse finalmente, afastando-se apressadamente. Com crescente apreensão, Luía dirigiu-se ao escritório, bateu suavemente na porta e, ao ouvir a voz de Renato permitindo sua entrada, respirou fundo antes de entrar. O escritório, geralmente um ambiente que ela associava a conversas produtivas e planejamentos para Mateus, parecia opressivamente formal hoje. Renato estava sentado atrás de sua mesa, com expressão
grave e uma pasta aberta à sua frente. "Bom dia, Luía", cumprimentou ele. Sua voz desprovida da cordialidade habitual. Por favor, sente-se. Ela obedeceu, tentando decifrar o que poderia ter acontecido. Renato, o que está havendo? Perguntou diretamente. Todos estão agindo de forma estranha hoje. Ele a observou por um longo momento antes de falar. Recebi algumas informações perturbadoras e preciso que você esclareça a situação", disse finalmente, empurrando uma folha de papel em sua direção. "Você reconhece este documento?" Luía olhou para o papel e sentiu o sangue gelar. Era uma cópia de um acordo que havia assinado com
o Hospital Santa Clara a quase do anos, aceitando responsabilidade pela dívida acumulada durante o tratamento de emergência de Felipe após um episódio particularmente grave de convulsões. "Sim, reconheço", respondeu ela, a garganta subitamente seca. É um acordo de pagamento com o hospital, mas não entendo porque você tem isso ou como o conseguiu. Renato ignorou a pergunta, puxando outro documento da pasta. Isto? Perguntou, entregando-lhe uma segunda folha. Era um relatório médico confidencial de Felipe, detalhando a gravidade de sua condição e a necessidade de tratamentos que iam muito além do autismo, incluindo uma rara desordem neurológica que complicava
seu quadro. Como você teve já acesso a isso? Perguntou Luía e agora genuinamente alarmada. Esses são documentos médicos privados de meu irmão. A expressão de Renato permanecia impassível. A questão não é como eu obtive os documentos, Luía, mas porque você nunca mencionou a real dimensão da condição de seu irmão ou o tamanho da dívida que você carrega", respondeu ele. Quando falamos sobre incluir Felipe no programa da fundação, você me fez acreditar que se tratava apenas de autismo e convulsões ocasionais. Luía sentiu uma onda de indignação. "Eu não escondiadamente nada", defendeu-se. Simplificamos a condição de Felipe
como autismo, porque é o diagnóstico principal e o que as pessoas compreendem mais facilmente. A condição neurológica associada é complexa e difícil de explicar. "E quanto à dívida?", insistiu Renato. Você estava ciente de que a inclusão no programa da fundação cobriria apenas tratamentos futuros, não dívidas passadas? Luía sentiu o estômago afundar. Agora entendia para onde a conversa estava indo. "Eu nunca esperei ou pedi que suas contribuições cobrissem minhas dívidas anteriores", afirmou com firmeza. Esse é um fardo que assumi e venho pagando sozinha há anos. Renato ajustou sua postura, parecendo ligeiramente menos rígido, mas ainda desconfiado.
"A mais, Luía,", continuou ele puxando um terceiro documento. Recentemente, seu irmão foi considerado para participação em um estudo clínico que oferece uma compensação financeira significativa. Um estudo que, segundo a avaliação do Dr. Augusto, pode não ser a melhor opção médica para Felipe, mas resolveria seus problemas financeiros imediatos. Aquilo foi demais. Luía levantou-se trêmula. Isso é absurdo. Quem lhe deu o direito de investigar minha vida privada dessa forma? Questionou, sua voz elevando-se. Sim, fui procurada sobre esse estudo. Sim, considerei brevemente a possibilidade por desespero, mas jamais colocaria o dinheiro acima do bem-estar de meu irmão. Então,
por que não me contou toda a verdade quando oferecia ajuda? rebateu Renato também levantando-se. Por que ocultar a gravidade da situação? Porque não queria sua pena, exclamou Luía lágrimas de frustração começando a se formar. Porque queria ser contratada e mantida aqui por meu mérito profissional, não por minha situação pessoal lamentável. Um silêncio tenso seguiu-se às suas palavras. Renato a observava com expressão indecifrável. "Sua mãe está por trás disso, não está?", perguntou Luía subitamente, as peças se encaixando. Foi ela quem ordenou essa investigação sobre mim. Provavelmente as mesmas pessoas que descobriram sobre meu irmão e minha
dívida foram as que conseguiram acesso aos registros médicos confidenciais. Renato não respondeu diretamente, mas seu ligeiro desvio de olhar foi confirmação suficiente. Minha mãe expressou preocupações. Sim, admitiu finalmente, mas a decisão de verificar suas credenciais mais a fundo foi minha. Tenho responsabilidade com Mateus e com a reputação da fundação. Luía sentiu uma dor aguda no peito. A confiança que acreditava ter construído com Renato parecia ter sido uma ilusão. E o que descobriu sua investigação exaustiva? Senr. Mendes, perguntou ela, à formalidade, retornando deliberadamente. Que sou uma mulher que luta desesperadamente para cuidar do único familiar que
lhe resta, que trabalho em dois empregos e ainda assim mal consigo cobrir os custos básicos, que recusei a oferta generosa de sua mãe para simplesmente desaparecer de suas vidas. A última frase capturou a atenção de Renato de forma intensa. Que oferta? perguntou ele, sua voz repentinamente alerta. Luía riu sem humor. Ah, essa parte não estava no relatório. Sua mãe me ofereceu dinheiro suficiente para cobrir toda minha dívida e um ano de tratamento para Felipe com a única condição de que eu saísse imediatamente de suas vidas. Ofereceu literalmente um cheque para que eu desaparecesse. A expressão
de Renato transformou-se em choque e depois em fúria contida. Quando isso aconteceu? N, perguntou sua voz perigosamente calma. Há três dias na sala de terapia, respondeu Luía, logo antes de você entrar e notar que algo estava errado, mas eu optei por não contar para não causar mais problemas. Renato passou a mão pelos cabelos, um gesto que Luía já identificara como sinal de extrema frustração. "Luía, eu", começou ele, mas foi interrompido pela porta do escritório, se abrindo abruptamente. Berenice entrou, elegante como sempre em um conjunto de seda azul marinho, seguida por um homem de meia idade,
vestindo terno formal que Luía não reconheceu. Ah, vejo que estão tendo uma conversa importante", comentou a matriarca com falsa casualidade. "Espero não estar interrompendo nada crucial." "Mãe, este não é um bom momento", disse Renato. Atenção evidente em sua voz. Pelo contrário, filho, é o momento perfeito. Rebateu Berenice, avançando pela sala, porque acabei de receber mais informações que você precisa conhecer antes de tomar qualquer decisão a respeito da senrita Cardoso. Luía sentiu-se encurralada como um animal acuado diante de predadores. Senhor Teixeira, por favor, explique a meu filho o que descobriu. Instruiu Berenice, indicando o homem que
a acompanhava. O homem pigarreou desconfortável com atenção na sala. Senr. Mendes, ao investigar o histórico da senorita Cardoso, descobrimos uma informação que não constava em nosso relatório inicial, começou ele, evitando olhar diretamente para Luía. Há aproximadamente do anos, ela esteve envolvida em um incidente com seu antigo empregador, o Senr. Eduardo Monteiro, proprietário do restaurante onde trabalhava antes do Maison Gastronomic. Luía empalideceu, sabendo exatamente onde aquela conversa estava indo. O Sr. Monteiro foi acusado de assédio sexual por várias funcionárias, incluindo assim no grita Cardoso, continuou Teixeira. Entretanto, enquanto as outras persistiram com as acusações, ela retirou
sua queixa abruptamente e recebeu uma compensação significativa, que coincidentemente ocorreu no mesmo período em que seu irmão precisou de tratamento emergencial. A insinuação era clara e cruel, que Luía havia trocado o silêncio por dinheiro, possivelmente inventando ou exagerando uma acusação para estorquir seu antigo chefe. Isso é uma distorção completa dos fatos, protestou Luía tremendo de indignação. Eu retirei a queixa porque não suportava mais o processo, as ameaças veladas, os advogados me fazendo parecer mentirosa ou interesseira. Berenice sorriu levemente, como se a reação exaltada de Luía apenas confirmasse: "Suas suspeitas." "A questão, meu querido filho", disse
ela, dirigindo-se a Renato, "É que temos um padrão aqui. A senorita Cardoso parece ter um talento especial para encontrar-se em situações onde pessoas abastadas sentem-se compelidas a ajudá-la financeiramente." Luía sentiu que não conseguiria suportar mais um minuto naquela sala. A humilhação era completa. Sem dizer uma palavra, pegou sua bolsa e dirigiu-se à porta. Luía, espere, chamou Renato, mas ela não parou. Senhorita Cardoso, não terminamos nossa conversa. A voz de Berenice alcançou quando já estava no corredor. Luía virou-se brevemente. Terminamos, sim, senora Mendes disse com uma dignidade que não sabia que ainda possuía. Vocês têm minha
carta de demissão. Não trabalharei onde meu caráter é constantemente questionado. Não importa quanto precise do dinheiro. E com isso, ela saiu, deixando para trás um silêncio pesado interrompido apenas pelo suspiro satisfeito de Berenice. "Bem, isso foi mais fácil do que esperava", comentou a matriarca, sentando-se confortavelmente na cadeira que Luía acabara de deixar vaga. Renato encarou a mãe com uma fúria que raramente demonstrava. "Você tem ideia do que acabou de fazer?", perguntou sua voz trêmula. "Você acabou de afastar a única pessoa que conseguiu uma conexão real com Mateus em anos. Eu protegi meu neto de uma
oportunista, Renato", respondeu Berenice, imperturbável. "Um dia você me agradecerá". Renato balançou a cabeça incrédulo. Senhor Teixeira, por favor, nos dê licença! Pediu ao investigador que rapidamente se retirou, claramente aliviado por escapar do confronto familiar. Quando ficaram sozinhos, Renato encarou a mãe diretamente. "O que você fez é imperdoável", disse com frieza. não apenas invadiu a privacidade de uma funcionária de forma antiética e possivelmente ilegal, mas distorceu fatos para servir a sua narrativa. Que fatos eu distorci? Desafiou Berenice. Ela realmente retirou a acusação e recebeu dinheiro. Ela realmente tem dívidas significativas? Ela realmente considerou submeter o irmão
a um tratamento experimental por dinheiro? Esses são fatos, Renato. Fatos sem contexto são apenas armas, mãe. Rebateu ele. E você acabou de usar essas armas para ferir alguém que não merecia. Levantando-se, Renato caminhou até a janela, observando o jardim onde, em algum momento daquele dia teria que explicar a Mateus porque Luía não viria mais. A ideia o dilacerava. Você vai me agradecer quando essa história for apenas uma lembrança embaraçosa", insistiu Berenice, juntando os documentos espalhados sobre a mesa. "Encontraremos profissionais mais qualificados e adequados para ajudar Mateus". Renato virou-se lentamente, uma determinação fria em seu olhar.
"Não, mãe", disse com firmeza. "Desta vez você foi longe demais. Nunca mais você interferirá nas decisões que tomo a respeito de meu filho. Berenice ergueu as sobrancelhas, surpresa com o tom. O que está querendo dizer? Estou dizendo que a partir de hoje você está afastada de qualquer decisão relacionada a Mateus, declarou Renato. E se insistir em interferir, reconsiderarei também sua posição nos negócios da família. Berenice empalideceu. Nunca antes seu filho a confrontara daquela maneira. "Você não pode estar falando sério", murmurou ela. "Tudo o que fiz foi para proteger vocês." "Não, mãe, tudo que você fez
foi para controlar nossas vidas, como sempre fez." Corrigiu Renato. "E agora, por favor, deixe-me sozinho. Tenho uma situação para remediar, se ainda for possível". Berenice levantou-se, ajustando seu casaco com dignidade ferida. Você está cometendo um erro, Renato", disse, dirigindo-se à porta. Espero sinceramente que não seja Mateus quem pagará por ele. Quando a porta se fechou atrás da matriarca, Renato afundou em sua cadeira, uma sensação de derrota esmagadora o envolvendo. O dano estava feito. Luía havia saído, humilhada e magoada, e ele temia que o impacto sobre Mateus fosse devastador. Pegando o telefone, ele discou rapidamente. Paulo,
preciso que você encontre Luía Cardoso imediatamente. destruiu ao motorista. Ela saiu da mansão há poucos minutos. Descubra para onde ela foi e me informe assim que souber. Enquanto isso, do outro lado da cidade, Luía caminhava a Esmo pelas ruas, lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto. Havia deixado a mansão tão transtornada que nem pensara em como voltaria para casa. Seu celular tocava incessantemente em sua bolsa, provavelmente Renato tentando contatá-la, mas ela não tinha forças para atender. Finalmente sentou-se em um banco de praça e respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. teria que encontrar outro emprego rapidamente. A
situação de Felipe era prioritária. Não havia tempo para autocomiseração. Quando finalmente verificou o celular, viu que as chamadas perdidas não eram de Renato, mas do Dr. Augusto. Com o coração acelerado, retornou imediatamente. Dr. Augusto, é Luía. O que houve? Perguntou, temendo más notícias. Luía, preciso que venha ao hospital assim que possível", respondeu o médico, sua voz grave. Felipe teve uma crise severa esta manhã. Conseguimos estabilizá-lo, mas precisamos tomar decisões importantes sobre o próximo passo do tratamento. "Estou a caminho", respondeu ela, levantando-se e sinalizando desesperadamente para um táxi que passava. Enquanto o veículo avançava pelo trânsito
caótico de São Paulo, Luía tentava processar tudo que havia acontecido em questão de horas, havia perdido um emprego que amava e agora enfrentava uma nova crise na saúde de Felipe. Parecia que o universo conspirava contra ela. No hospital, encontrou o Dr. Augusto na sala de espera da UTI, sua expressão séria aumentando a ansiedade de Luía. "Como ele está?", perguntou ela assim que se aproximou. "Estável, por enquanto, mas preocupante", respondeu o médico, conduzindo-a para uma sala privada. "Luía, as convulsões estão aumentando em frequência e intensidade. O tratamento atual não está mais sendo eficaz." Luía sentou-se e
às pernas repentinamente fracas. "Quais são nossas opções?" O médico suspirou, ajustando os óculos. Há um novo medicamento que poderia ajudar, mas é extremamente caro e não coberto pelo sistema", explicou ele. A outra alternativa é a cirurgia que discutimos anteriormente. "Cirurgia?", repetiu Luía, sentindo a boca seca, "mas senhor disse que seria apenas o último recurso. E continua sendo,", confirmou o Dr. Augusto com um suspiro pesado. "Mas estamos rapidamente chegando a esse ponto, Luía. As medicações convencionais já não controlam as crises como antes. E este novo padrão de convulsões é particularmente preocupante. Luía passou as mãos pelo
rosto, tentando absorver a gravidade da situação. Quanto custaria esse novo medicamento? O médico escreveu um valor em um papel e deslizou-o sobre a mesa. Luía sentiu o estômago afundar ao ver os números. "É impossível", murmurou desanimada. Nem em um ano inteiro de trabalho eu conseguiria juntar essa quantia. É quanto à cirurgia, perguntou ela após um momento de reflexão. Quais são os riscos? Como qualquer procedimento cerebral, há riscos significativos, explicou o Dr. Augusto com cautela. Mas Felipe é jovem e, em geral saudável, o que aumenta as chances de sucesso. A equipe do Dr. Marques, que realizaria
a operação, é uma das melhores do país. E os custos, ainda altos, mas consideravelmente menores que o tratamento medicamentoso a longo prazo, respondeu o médico. Além disso, há possibilidade de inclusão em um programa de assistência do hospital para casos especiais. Luía assentiu lentamente, tentando processar todas as informações. "Posso vê-lo agora?" "Claro,", respondeu Dr. Augusto, levantando-se. Ele está sedado, mas estável. Apenas alguns minutos, por favor. Na UTI, Luía aproximou-se da cama onde Felipe estava deitado, parecendo ainda menor e mais frágil conectado a diversos monitores. Seu rosto, tão semelhante ao dela, estava pálido e tranquilo sob efeito
da sedação. "Oi, maninho", sussurrou ela, segurando sua mão com cuidado para não perturbar o acesso intravenoso. "Estou aqui com você. Vai ficar tudo bem, prometo. As lágrimas que havia contido durante toda a manhã finalmente encontraram liberdade, escorrendo silenciosamente por seu rosto. Naquele momento, toda a humilhação e mágoa que sentira na mansão dos Mendes pareciam insignificantes diante do medo de perder seu irmão. "Vamos encontrar um jeito", prometeu ela, apertando suavemente a mão dele. "Sempre encontramos, não é?" Após alguns minutos, uma enfermeira aproximou-se gentilmente, indicando que o tempo havia terminado. Luía beijou a testa do irmão e
saiu relutantemente, prometendo retornar mais tarde. No corredor foi surpreendida ao encontrar Paulo, o motorista de Renato aguardando pacientemente. "Senrita Luía", cumprimentou ele respeitosamente. "Senor Renato está muito preocupado e gostaria de conversar com a senhora. Ele está aguardando no carro, no estacionamento. Paulo, agradeço, mas não estou em condições de enfrentar mais conflitos hoje", respondeu ela, exausta. "Não se trata de conflito, senhorita", assegurou o motorista. "O senor Renato está genuinamente preocupado e quer ajudar. Por favor, apenas 5 minutos". Luía hesitou, mas finalmente concordou com um suspiro resignado. Seguiu Paulo até o estacionamento, onde a Mercedes preta estava
parada com o motor ligado. Ao se aproximar, Renato saiu do veículo, seu rosto uma máscara de preocupação. "Luía, obrigado por concordar em falar comigo", disse ele, sua voz carregada de contrição. "Como está seu irmão?" Ela se surpreendeu com a pergunta genuína. esperava recriminações ou tentativas de justificar o que havia acontecido na mansão. Não, muito bem, respondeu sinceramente. Ele teve uma crise severa esta manhã. Os médicos estão considerando uma cirurgia como última opção. Renato assentiu gravemente. Sinto muito por ouvir isso e sinto ainda mais que você esteja passando por esse momento difícil depois do que aconteceu
hoje em minha casa. Ele fez uma pausa visivelmente desconfortável. Luía, eu não sabia sobre a oferta que minha mãe lhe fez, nem sobre a extensão da investigação que ela ordenou sobre sua vida pessoal. Foi totalmente inapropriado e inaceitável. Isso não importa mais, Renato", respondeu Luía, sentindo-se subitamente muito cansada. "Eu entendo que você precisa proteger sua família e seus interesses. Só lamento que Mateus seja quem mais sofrerá com minha saída abrupta". É exatamente sobre isso que preciso falar com você", disse Renato, seu tomornando-se mais urgente. Mateus perguntou por você assim que soube que não estaria presente
hoje. Quando Clara tentou explicar que você não viria mais, ele teve uma crise como não tínhamos há meses. Luía sentiu um aperto no coração. Apesar de toda a dor que sentia sua preocupação com o bem-estar de Mateus, permanecia intacta. Sinto muito por ele", disse sinceramente. "Mas não posso voltar, Renato. Não depois do que aconteceu. Eu entendo sua posição", respondeu ele. "E não estou pedindo que volte nas mesmas condições. Na verdade, tem uma proposta completamente diferente. Renato respirou fundo antes de continuar. Gostaria de oferecer um contrato formal para que você desenvolva seu método de comunicação para
crianças autistas através da Fundação Mendes. Você teria autonomia completa, um laboratório adequado e poderia incluir seu irmão no programa como primeiro beneficiário, com todos os custos médicos cobertos, incluindo a cirurgia que ele precisa. Luía piscou, atônita, com a proposta inesperada. Por quê?, perguntou simplesmente: "Por que faria isso depois de tudo que aconteceu?" "Por três razões,", respondeu Renato com sinceridade. Primeiro, porque seu método funciona. Testemunhei isso com meu próprio filho. Segundo, porque seria uma forma de reparar o dano causado injustamente a você hoje. E terceiro, porque é o correto a fazer. Ele olhou diretamente nos olhos
dela antes de acrescentar: "Minha mãe não terá qualquer envolvimento nesse projeto. Será administrado diretamente por mim e pela diretoria executiva da fundação." Luía sentiu-se sobrecarregada por emoções conflitantes. A proposta era tentadora e resolveria seus problemas mais urgentes, especialmente em relação a Felipe. Mas o medo de se tornar dependente ou devedora permanecia. "E quanto a Mateus?", perguntou ela, evitando responder diretamente sobre a proposta. "Isso dependeria inteiramente de você", respondeu Renato. "Se sentir que pode continuar trabalhando com ele, ficaríamos felizes. Se preferir manter distância de nossa família pessoal, também entenderei." Luía considerou a proposta por um longo
momento. "Preciso de tempo para pensar", disse finalmente, "ciso entender exatamente o que esse contrato envolveria". Não posso tomar uma decisão dessa magnitude no estacionamento de um hospital. Renato a sentiu compreensivo. Justo, concordou ele. Posso pedir que meu advogado prepare uma minuta para você revisar? Sem compromisso, apenas para que possa avaliar apropriadamente. Tudo bem, concordou Luía, ainda hesitante. Um silêncio desconfortável seguiu-se até que Renato falou novamente. Há mais uma coisa, Luía. Independentemente de sua decisão sobre a proposta da fundação, gostaria de cobrir os custos médicos imediatos de seu irmão. Sei que há urgência na situação dele.
Ela começou a negar automaticamente, mas Renato a interrompeu com um gesto suave. Por favor, considere isso como uma compensação pelos danos emocionais causados hoje, pediu ele. Não há condições atreladas. Felipe receberá o cuidado necessário e você não me deverá nada. Luía sentiu lágrimas queimar em seus olhos novamente. Estava exausta demais para continuar lutando contra tudo e todos. "Por que se importa tanto?", perguntou ela. Sua voz quase um sussurro. "Mal me conhece?" Renato pareceu refletir profundamente antes de responder. Talvez porque você me lembre de Elisa em muitos aspectos admitiu ele. A mesma determinação, o mesmo espírito
inquebrável, a mesma capacidade de enxergar além das aparências. Ele fez uma pausa antes de acrescentar. Ou talvez porque em um mundo onde pessoas como minha mãe presumem sempre o pior das intenções alheias, eu prefiro acreditar que ainda existem pessoas genuinamente boas. Luía não tinha resposta para isso. Após alguns momentos de silêncio, ela assentiu levemente. "Aceito sua ajuda para Felipe", disse finalmente. "Mas preciso que seja feito com descrição. Não quero que meu irmão se torne um projeto de caridade ou uma peça de publicidade. Você tem minha palavra", garantiu Renato. "Tudo será tratado com o máximo respeito
e privacidade." Enquanto se despediam, Luía sentiu um peso sair de seus ombros, junto com a estranha sensação de que, apesar de tudo que havia acontecido naquele dia terrível, talvez existisse um caminho à frente menos sombrio do que imaginara. O que ela não sabia era que na mansão dos Mendes, Mateus continuava inconsolável, recusando-se a comer ou participar de qualquer atividade, e que Berenice observava a situação com crescente preocupação, começando a questionar se sua interferência havia realmente sido pelo bem da família ou apenas uma manifestação de seu próprio desejo de controle. Duas semanas se passaram desde aquele
dia tumultuado. Felipe havia sido submetido à cirurgia com sucesso e agora estava em recuperação, cercado por uma equipe médica de excelência contratada discretamente por Renato. A operação, considerada de alto risco, transcorrera sem complicações e os primeiros resultados eram promissores. Luía dividia seu tempo entre o hospital e reuniões com a equipe jurídica da Fundação Mendes, finalizando os detalhes do contrato para desenvolvimento de seu método terapêutico. A proposta havia evoluído para algo ainda mais abrangente, a criação de um centro especializado que atenderia crianças de família sem recursos, utilizando técnicas personalizadas baseadas na experiência de Luía. Naquela tarde
de quinta-feira, ela reuniu-se com Renato no escritório da fundação, longe da mansão e de possíveis interferências de Berenice. Os advogados me garantiram que todos os seus requisitos foram incorporados ao contrato", disse Renato entregando-lhe uma pasta com os documentos finais: "Autonomia total sobre a metodologia, equipe selecionada por você e liberdade para concluir seus estudos paralelamente." Luía examinou os papéis cuidadosamente. Tudo parecia em ordem, exatamente como haviam discutido. É um projeto ambicioso", comentou ela, impressionada com a escala e os recursos alocados. "Tem certeza que a diretoria da fundação aprovará algo tão personalizado?" Renato sorriu levemente. "A diretoria
já aprovou unanimemente", respondeu ele. "Seus resultados preliminares com Mateus foram convincentes o suficiente, mesmo para os mais céticos." Ao mencionar o filho, sua expressão tornou-se mais sombria. Como ele está? perguntou Luía, notando a mudança. Renato suspirou pesadamente. Não muito bem, admitiu. Recusa-se a participar plenamente das terapias. Teve regressão em algumas habilidades recém- adquiridas e suas crises de ansiedade retornaram. Luía sentiu uma pontada de culpa, mesmo sabendo que não era responsável pela situação. "Sinto muito", disse sinceramente. "Talvez com o tempo ele pergunta por você todos os dias. interrompeu Renato suavemente. Da maneira dele, claro. Mostra o
livro de dinossauros que vocês olhavam juntos e aponta para o lugar onde você costumava se sentar. O silêncio que se seguiu era carregado de emoções não ditas. Finalmente, Luía reuniu coragem para fazer a pergunta que evitara por duas semanas. E sua mãe? Como ela reagiu a tudo isso? Renato ajustou-se em sua cadeira, visivelmente desconfortável. Berenice está reconsiderando algumas de suas posições, respondeu diplomaticamente. Vê-la errar tão completamente sobre você e testemunhar o impacto negativo em Mateus a fez questionar suas próprias convicções. Ele hesitou antes de continuar. Na verdade, ela pediu para falar com você pessoalmente. Luía
ergueu as sobrancelhas, surpresa. Falar comigo por quê? Não tenho certeza, admitiu Renato. Ela não revelou suas intenções, apenas disse que gostaria de uma conversa privada. Deixei claro que seria inteiramente sua decisão aceitar ou recusar. Luía considerou por um momento. Parte de si queria evitar Berenice completamente, temendo mais manipulação ou hostilidade. Mas outra parte, a mesma que se conectara com Mateus quando outros falharam, sentia curiosidade sobre o que poderia motivar esse pedido inesperado. Tudo bem, concordou finalmente. Posso encontrá-la, mas prefiro que seja em terreno neutro. Talvez no café próximo à fundação. Vou comunicar a ela", respondeu
Renato, parecendo aliviado. Enquanto finalizavam os detalhes do contrato, Luía não conseguia deixar de pensar no que Berenice poderia querer. Estaria genuinamente arrependida ou planejando alguma nova estratégia para afastá-la. Qualquer que fosse o motivo, Luía estava determinada a não permitir que a matriarca a intimidasse novamente. No dia seguinte, precisamente às 10 horas, Luía entrou no café Meridiano, um estabelecimento elegante, mas discreto no centro financeiro da cidade. Berenice já estava lá, sentada em uma mesa ao fundo, longe das janelas e de ouvidos curiosos. Mesmo em um ambiente casual, a matriarca mantinha sua postura impecável e aparência refinada.
Embora Luía notasse algo diferente em seus olhos, uma vulnerabilidade que não estava presente em seus encontros anteriores. "Bom dia, senora Mendes", cumprimentou Luía, formalmente, sentando-se à sua frente. "Bom dia, senhorita Cardoso", respondeu Berenice, seu tomorário que o habitual. Agradeço por concordar em me encontrar, considerando nossas interações passadas, um garçom aproximou-se e ambas pediram café, criando uma pausa momentânea na conversa ainda tensa. Quando ele se afastou, Berenice foi direto ao ponto. Senrita Cardoso, Luía, solicitei este encontro para fazer algo que raramente faço começou ela, as palavras parecendo difíceis de sair. Quero pedir desculpas pelo modo como
a tratei e pelas suposições injustas que fiz sobre seu caráter e intenções. Luía não conseguiu esconder sua surpresa. De todas as possibilidades que imaginara, um pedido sincero de desculpas era a última que esperava. Confesso que estou surpresa, respondeu honestamente. Compreensível, concordou Berenice com um leve sorriso sem humor. Não sou conhecida por admitir erros facilmente. Meu falecido marido costumava dizer que eu morreria antes de reconhecer um equívoco. O garçom retornou com os cafés, proporcionando outro momento de pausa. Quando voltaram a ficar sozinhas, Berenice continuou. Passei décadas protegendo minha família e os negócios que construímos. No processo,
desenvolvi uma desconfiança quase automática de qualquer pessoa que se aproximasse de nós, especialmente após Renato tornar-se viúvo e Mateus receber seu diagnóstico. Ela tomou um pequeno gole de café antes de prosseguir. Quando você apareceu e conseguiu uma conexão imediata com meu neto, algo que especialistas renomados não haviam alcançado, meu instinto de proteção soou todos os alarmes. era conveniente demais. Perfeito demais para ser genuíno. Entendo sua cautela respondeu Luía, mantendo a guarda alta. Mas investigar minha vida privada e distorcer fatos para me difamar foi além da cautela. Berenice assentiu lentamente. Você está absolutamente certa. Ultrapassei todos
os limites éticos e morais, convencida de que o fim justificava os meios admitiu ela. Só percebi meu erro quando vi o impacto devastador que sua ausência causou em Mateus. A menção ao menino suavizou ligeiramente a expressão de Luía. Como ele está realmente? Perguntou a preocupação genuína em sua voz. Não bem, respondeu Berenice com tristeza. Ele regrediu significativamente, voltou a se isolar, recusa-se a comer adequadamente e teve algumas das piores crises dos últimos anos. A matriarca hesitou como se medindo suas próximas palavras. Ontem à noite tive uma revelação quando o observava lutar para dormir. Percebi que
em minha obstinação por protegê-lo, acabei causando-lhe um sofrimento real e desnecessário ao afastar alguém que realmente o beneficiava. Luía escutava atentamente, ainda cautelosa, mas começando a acreditar na sinceridade do arrependimento de Berenice. Senora Mendes, aprecio suas desculpas, mas preciso entender o que exatamente espera deste encontro?", perguntou diretamente. Berenice respirou fundo. Duas coisas, na verdade, respondeu ela. Primeiro, quero que saiba que apoio integralmente o projeto do Centro Terapêutico com a Fundação. Não apenas apoio, como pretendo contribuir pessoalmente, sem interferir na sua autonomia, é claro. E a segunda, indagou Luía, intuindo o que viria a seguir. gostaria
de pedir não como a matriarca dos Mendes ou como investidora da fundação, mas como uma avó desesperada que considere retomar seu trabalho pessoal com Mateus", disse Berenice, sua voz deixando transparecer vulnerabilidade pela primeira vez. "Ele precisa de você, Luía, mais do que qualquer um de nós imaginou." Luía sentiu um turbilhão de emoções. A sinceridade no pedido de Berenice era palpável, assim como sua preocupação genuína com o neto. Ainda assim, voltar à mansão, enfrentar as memórias da humilhação sofrida não seria fácil. Preciso ser honesta, Senora Mendes", respondeu finalmente. "Também sinto falta de Mateus e me preocupo
com ele, mas voltar como se nada tivesse acontecido, não sei se consigo." "Compreendo completamente", disse Berenice assentindo. "E não esperaria isso. Na verdade, tenho outra proposta. A matriarca tomou outro gole de café antes de continuar. O casarão anexo à propriedade principal, onde Elisa mantinha seu estúdio de arquitetura, está vazio há anos. Renato mencionou a possibilidade de adaptá-lo como um espaço terapêutico para Mateus, separado da casa principal. Você poderia trabalhar com ele lá, sem precisar interagir com o restante da casa ou comigo, se preferir. A proposta era tentadora e resolvia muitos dos obstáculos que Luía visualizava.
Precisaria pensar a respeito, respondeu cautelosamente, e conversar com Renato para entender como isso se encaixaria no projeto maior do centro terapêutico. Naturalmente, concordou Berenice, prontamente, tome o tempo que precisar. Só peço que considere seriamente por Mateus. Ao final do encontro, enquanto se despediam, Berenice fez algo completamente inesperado, estendeu a mão para um aperto formal, mas quando Luía retribuiu o gesto, a matriarca assegurou um momento mais longo que o necessário. "Você me lembra muito, Elisa, sabia?", comentou suavemente. A mesma determinação inabalável, a mesma recusa em se curvar perante poder ou dinheiro. "Acho que é por isso
que Mateus conectou-se tão rapidamente com você. E talvez, talvez seja também por isso que reagi tão defensivamente. Luía não soube como responder à aquela confissão surpreendente. Apenas a sentiu em reconhecimento antes de partir. No táxi, a caminho do hospital para visitar Felipe, ela refletia sobre o encontro surpreendente. Erenice Mendes, a poderosa matriarca que havia tentado comprá-la e depois destruí-la, agora pedia sua ajuda e oferecia um ramo de oliveira. O mundo certamente era um lugar estranho e imprevisível. E em algum lugar no fundo de sua mente, uma ideia começava a se formar. Uma ideia que poderia
unir todas as pontas soltas de sua vida fragmentada. Felipe, seu sonho interrompido de trabalhar com crianças especiais e o pequeno Mateus, que havia tocado seu coração de forma inesperada. Uma semana depois, Luía estava de pé diante do casarão mencionado por Berenice, observando maravilhada as transformações que haviam sido realizadas em tempo recorde. O que antes era um estúdio elegante, mas convencional, agora havia sido adaptado como um espaço terapêutico de última geração, com áreas sensoriais, salas de atividades e equipamentos especializados. Renato caminhava ao seu lado, explicando as adaptações feitas com base nas sugestões preliminares que ela havia
fornecido. "Conseguimos implementar praticamente tudo que você recomendou", disse ele com evidente satisfação. A equipe de arquitetos trabalhou dia e noite para concluir a tempo. Luía percorreu os ambientes, notando os detalhes cuidadosos. Iluminação ajustável para crianças com sensibilidade visual. materiais acústicos para reduzir o ruído ambiental e uma variedade de texturas e estímulos tácteis estrategicamente posicionados. É impressionante", comentou sinceramente. "Nunca imaginei ver minhas ideias implementadas em escala tão completa. Este é apenas o começo", respondeu Renato. "O centro principal que atenderá mais crianças será ainda mais abrangente, mas queríamos começar aqui como um projeto piloto com Mateus como
primeiro beneficiário." Ao mencionar o filho, sua expressão tornou-se mais grave. Ele vem melhorando gradualmente desde que soube que você retornaria", explicou. "Mas ainda está hesitante, como se temesse outra decepção." Luía assentiu, compreendendo perfeitamente. "É melhor irmos devagar", sugeriu. "Talvez começar com visitas curtas para que ele se reacostume à minha presença sem criar expectativas demais. Concordo plenamente", disse Renato. "Na verdade, ele está com Clara agora no jardim. Se você se sentir pronta, poderíamos passar por lá casualmente, como um primeiro contato. Luía respirou fundo, sentindo uma mistura de ansiedade e expectativa. "Estou pronta", afirmou com determinação. Eles
caminharam pelo caminho de pedras que conectava o casarão à propriedade principal, passando por jardins meticulosamente cuidados. A distância, Luía avistou Mateus, sentado em um banco sob uma árvore frondosa, foliando um livro enquanto Clara supervisionava discretamente. Quando se aproximaram, Clara notou-os primeiro e sorriu acenando discretamente. Mateus permaneceu absorto em seu livro, aparentemente alheio às pessoas que se aproximavam. Olá, Mateus, cumprimentou Renato suavemente. Veja quem veio visitar o casarão hoje. O menino ergueu os olhos lentamente e, ao reconhecer Luía, sua expressão, transformou-se. Não sorriu abertamente, mas seus olhos iluminaram-se de uma forma que todos os presentes puderam
perceber. "Oi, Mateus", disse Luía, mantendo sua voz calma e familiar. Que bom te ver novamente. É o livro de dinossauros que estamos vendo. Para a surpresa de todos, especialmente de Renato, Mateus estendeu o livro em direção a Luía, um convite explícito para que ela se juntasse a ele. Era um gesto pequeno para a maioria das crianças, mas para Mateus representava um avanço comunicativo enorme. Luía sentou-se ao lado dele, mantendo uma distância respeitosa, e começou a comentar sobre as imagens no livro, exatamente como faziam antes. Gradualmente, Mateus foi se aproximando até que estavam praticamente ombro a
ombro, absortos em seu próprio mundo de comunicação silenciosa e entendimento mútuo. Renato observava a cena com um nó na garganta, emocionado ao ver seu filho reconectar-se tão naturalmente com Luía. Clara afastou-se discretamente, dando-lhes espaço, e ele fez o mesmo, não querendo interromper aquele momento precioso de reencontro. Da janela do segundo andar da casa principal, Berenice também observava a cena, uma expressão complexa em seu rosto. Havia arrependimento pelo sofrimento desnecessário que causara, mas também uma esperança renovada ao ver seu neto demonstrando aquela abertura emocional. No espaço de uma semana, a rotina havia sido restabelecida. Luía dividia
seu tempo entre o casarão, onde trabalhava com Mateus em sessões estruturadas, e o hospital, onde Felipe continuava sua recuperação com progressos constantes. O projeto do Centro Terapêutico avançava rapidamente com Luía, participando ativamente do planejamento e seleção da equipe inicial. Numa tarde particularmente produtiva, enquanto concluíam uma sessão com resultados surpreendentes, Renato entrou no casarão com uma expressão animada. "Desculpe interromper", disse ele, observando Mateus organizar uma sequência complexa de blocos, seguindo instruções de Luía, mas tenho novidades que não podiam esperar. Luía sorriu, notando seu entusiasmo. "Algum problema?", perguntou enquanto ajudava Mateus a guardar os materiais. Pelo contrário,
respondeu Renato. Acabei de receber uma ligação do Dr. Augusto. Felipe teve os últimos resultados de exames e eles são extremamente positivos. Tão positivos, na verdade, que ele poderá receber alta na próxima semana, desde que tenha acompanhamento adequado. Os olhos de Luía encheram-se de lágrimas. Isso é maravilhoso! Exclamou a emoção transbordando em sua voz. Mas confesso que estou um pouco apreensiva. Meu apartamento é pequeno demais e fica num quarto andar sem elevador. Quanto a isso, interrompeu Renato gentilmente, tenho outra proposta para discutir. Ele olhou para Mateus, que parecia alheio à conversa, concentrado em guardar seus blocos
em ordem específica de cores. "Talvez possamos conversar mais tarde quando terminar com ele", sugeriu. Luía concordou, curiosa sobre o que Renato teria em mente. Nunca imaginara que sua vida poderia mudar tão drasticamente em poucas semanas, passando do desespero, a esperança renovada. Naquela noite, após Mateus adormecer, Renato convidou Luía para jantar na varanda do casarão, um espaço tranquilo, com vista para os jardins iluminados. Regina havia preparado uma refeição leve, mas elegante, servida com a descrição que caracterizava seu trabalho. "Então, qual é essa misteriosa proposta?", perguntou Luía após se acomodarem. Renato sorriu, servindo-se de água antes de
responder. "Na verdade, são duas propostas interligadas", começou ele. "A primeira diz respeito a Felipe. Gostaria de oferecer o segundo andar do casarão para vocês dois temporariamente. Há um quarto principal e um adjacente que seriam perfeitos. E a proximidade facilitaria tanto o seu trabalho com Mateus quanto o acompanhamento médico contínuo para seu irmão. Luía piscou surpresa com a generosidade da oferta. Isso é extremamente gentil, Renato, mas não sei se seria adequado. Por que não? Questionou ele. O casarão é separado da casa principal. Vocês teriam privacidade completa e Felipe teria acesso a todo o suporte necessário durante
sua recuperação. Ele fez uma pausa antes de acrescentar. Além disso, seria temporário, apenas até que ele esteja suficientemente recuperado e vocês encontrem um lugar mais adequado às suas necessidades. Luía considerou a proposta, de fato, resolveria vários problemas práticos imediatos. E qual seria a segunda parte da proposta? perguntou, sentindo que havia mais por vir. Renato ajustou-se em sua cadeira, subitamente parecendo menos confiante. "Esta é um pouco mais pessoal", admitiu. "Tenho observado a transformação em Mateus desde seu retorno. Não é apenas sobre as habilidades que ele está desenvolvendo, mas sobre a conexão emocional, algo que ele raramente
demonstra. Ele fez uma pausa como se buscasse as palavras certas." Luía, você trouxe uma luz para a vida dele que eu não via desde que Elisa partiu e, honestamente, para minha vida também. Luía sentiu o coração acelerar, percebendo a direção que a conversa estava tomando. "Renato, eu, por favor, deixe-me terminar", pediu ele gentilmente. "Não estou propondo nada precipitado ou inapropriado. Apenas gostaria de explorar a possibilidade de conhecermos um ao outro melhor, não como empregador e funcionária ou como parceiros de projeto, mas como duas pessoas que compartilham valores e propósitos semelhantes. Ele sorriu timidamente antes de
acrescentar e que talvez possam encontrar mais em comum do que imaginavam inicialmente. Luía sentiu um calor subir pelo rosto. Não podia negar que também sentira uma conexão com Renato, apreciando sua integridade, dedicação ao filho e disposição de reconhecer erros e corrigi-los. Mas havia tantas complicações potenciais. Não sei o que dizer, admitiu honestamente, há tantos fatores envolvidos. Nossa diferença de contextos sociais a situação profissional. Felipe, Mateus, sua mãe. Compreendo todas essas preocupações, assegurou Renato. E não espero uma resposta imediata, apenas pediria que mantivesse a mente aberta a possibilidade. Ele estendeu a mão sobre a mesa, sem
tocar a dela, apenas oferecendo a proximidade. Prometo respeitar qualquer decisão que tomar e garanto que não afetará nossos arranjos profissionais ou o bem-estar de Mateus e Felipe. Luía apreciou a abordagem respeitosa e a ausência de pressão. "Obrigada por entender a complexidade da situação", respondeu ela. Quanto à primeira proposta sobre o alojamento temporário para mim e Felipe, acho que posso aceitar, desde que seja realmente temporário e que possamos contribuir de alguma forma. Foi excelente, sorriu Renato. E quanto à segunda, apenas pense a respeito, sem pressa, sem pressão. O jantar continuou em tom mais leve, com conversas
sobre o progresso de Mateus e os planos para o centro terapêutico. Quando se despediram, havia uma nova dimensão no ar entre eles. Não exatamente um compromisso, mas uma possibilidade que ambos reconheciam. O que nenhum dos dois notou foi a figura de Berenice, que havia testemunhado parte da conversa ao passar pelos jardins. Sua expressão, diferente de ocasiões anteriores, não era de desaprovação, mas de contemplação pensativa. Querido ouvinte, se você está gostando da história, aproveite para deixar o like e, principalmente se inscrever no canal. Isso ajuda muito a gente que está começando agora continuando. Duas semanas depois,
Felipe recebeu alta do hospital e foi transferido para o casarão, onde um quarto espaçoso havia sido adaptado para suas necessidades específicas. A mudança foi um sucesso, com o jovem adaptando-se rapidamente ao novo ambiente e mostrando entusiasmo com os espaços amplos e o jardim acessível. Luía estabeleceu uma rotina que equilibrava seu trabalho com Mateus, os cuidados com o irmão e o desenvolvimento do centro terapêutico. Surpreendentemente, Mateus e Felipe começaram a interagir ocasionalmente durante atividades no jardim, estabelecendo uma conexão silenciosa, mas significativa, que beneficiava ambos. Numa tarde de sábado, enquanto observava os dois sentados sob uma árvore,
cada um absorto em suas próprias atividades, mas confortáveis com a presença do outro, Luía foi surpreendida pela aproximação de Berenice. "É uma cena bonita, não é?", comentou a matriarca parando ao seu lado. Dois jovens tão diferentes, mas que parecem entender-se perfeitamente. É verdade, concordou Luía, ainda se acostumando com esta versão mais suave de Berenice. Felipe sempre foi muito intuitivo com outras pessoas neurodivergentes. É como se compartilhassem uma linguagem que transcende palavras. Perenice assentiu observando os jovens por mais alguns momentos antes de voltar-se para Luía. Gostaria de convidá-la para um chá amanhã", disse ela direto ao
ponto. "Como sempre, apenas nós duas. Há alguns assuntos que gostaria de discutir, se estiver disposta". Luía sentiu um leve desconforto, lembrando-se de seu último encontro privado com Berenice, mas as coisas haviam mudado significativamente desde então. "Claro," concordou cautelosamente. "A que horas seria conveniente?" 3 da tarde na sala de chá da casa principal", respondeu Berenice. "E não se preocupe, não tem nada a ver com tentar afastá-la novamente." Com um sorriso enigmático, a matriarca afastou-se, deixando Luía curiosa sobre o que estaria por vir. No dia seguinte, pontualmente às 3 horas, Luía apresentou-se na casa principal. Regina a
recebeu com um sorriso caloroso e a conduziu à sala de chá, um ambiente elegante, mas acolhedor, com grandes janelas voltadas para o jardim. Berenice já estava lá, supervisionando pessoalmente a disposição do serviço de chá em uma mesa redonda. A Luía, bem-vinda cumprimentou ela, indicando uma cadeira. Obrigada por aceitar meu convite. Regina serviu o chá e retirou-se discretamente, deixando-as a sós. Por alguns momentos, conversaram sobre assuntos leves, o tempo ameno, os progressos de Felipe, o desenvolvimento do centro terapêutico. Finalmente, após a segunda xícara, Berenice foi ao ponto. "Luía, convidei-a hoje por alguns motivos específicos", começou ela,
pousando sua xícara delicadamente. O primeiro é para reiterar, mais uma vez meu sincero arrependimento por meu comportamento inicial com você. Cometi erros sérios baseados em preconceitos e medos que não tinham fundamento na realidade. "Já aceitei suas desculpas, senora Mendes", respondeu Luía. "Não é necessário revisitar o assunto. Brenice, por favor", corrigiu a matriarca. E sim, é necessário, porque meu segundo motivo está diretamente relacionado ao primeiro. Ela abriu uma gaveta lateral da mesa e retirou uma pasta elegante de couro. Há três dias, formalizei algumas mudanças importantes nos negócios da família", explicou ela, abrindo a pasta. Transferi oficialmente
meu controle acionário para Renato, mantendo apenas uma posição consultiva no conselho. Também reestruturei a governança da Fundação Mendes, estabelecendo um conselho independente, onde Renato terá a palavra final. Luía ouviu com atenção, sem entender completamente porque Berenice compartilhava essas informações corporativas com ela. "Isso parece significativo", comentou Incerta sobre a resposta apropriada. "É mais do que significativo", continuou Berenice. "É uma mudança fundamental na dinâmica familiar que venho controlando há décadas. E sabe o que me fez tomar essa decisão?" Luía balançou a cabeça genuinamente curiosa. Você, respondeu Berenice simplesmente, ou mais especificamente, o impacto que você teve em
meu filho e meu neto. Observá-la, interagir com Mateus, ver como Renato recuperou a esperança e o propósito que havia perdido após a partida de Elisa. Isso me fez perceber que meu tempo de controlar tudo e todos havia passado. A matriarca bebericou seu chá antes de continuar. Durante anos, convenci-me de que ninguém poderia administrar nossa família ou nossos negócios melhor do que eu. Acreditava sinceramente que meu julgamento era infalível e minha interferência sempre necessária. Ela sorriu levemente, com uma autoironia que Luía jamais esperaria ver. Que absurdo, não é? essa ideia de que uma pessoa pode sempre
saber o que é melhor para todos. Meu marido tentou me mostrar isso muitas vezes, mas eu era teimosa demais para ouvir. Luía não sabia como responder a essa súbita vulnerabilidade, tão diferente da imagem que tinha de Berenice. O terceiro motivo de nosso encontro, prosseguiu a matriarca, é mais pessoal ainda. Percebi que Renato tem demonstrado um interesse especial por você, que vai além do profissional ou da gratidão pelo que tem feito por Mateus. Luía sentiu o rosto esquentar. Senora Mendes, Berenice, eu, por favor, deixe-me terminar. pediu Berenice gentilmente. Não estou aqui para questionar ou interferir, pelo
contrário, quero que saiba que se você e Renato decidirem explorar essa possibilidade, terão meu apoio completo. Luía não conseguiu esconder sua surpresa. Essa é uma mudança significativa de perspectiva", comentou honestamente. Berenice riu levemente. "Sim, é verdade. E acredite, ninguém está mais surpreso com isso do que eu mesma", admitiu. "Mas observar você nessas últimas semanas me fez lembrar muito de Elisa, não em aparência ou personalidade, mas na essência, do caráter, na integridade, na capacidade de amar incondicionalmente." Ela fez uma pausa, seus olhos momentaneamente marejados. Elisa foi a melhor coisa que aconteceu a meu filho e perder-la
tão cedo foi devastador para todos nós. Durante anos, tem que qualquer mulher que se aproximasse dele estaria apenas interessada em sua fortuna ou posição. Foi um erro terrível presumir o mesmo sobre você. Berenice estendeu a mão cobrindo brevemente a de Luía num gesto surpreendentemente maternal. O que quero dizer, minha querida, é que você trouxe luz para esta casa novamente. E seja qual for o caminho que você e Renato escolherem, profissional, pessoal ou ambos, você tem em mim uma aliada agora, não uma adversária. Luía sentiu-se profundamente tocada pela sinceridade das palavras de Berenice. Jamais poderia ter
previsto tal transformação na matriarca. Obrigada, respondeu simplesmente palavras mais elaboradas parecendo inadequadas para o momento. Ao deixar a casa principal mais tarde, Luía caminhava com passos leves, sentindo que um grande obstáculo havia sido removido do caminho. A aprovação de Berenice não era necessária para suas decisões pessoais, mas removia uma camada de complicação que certamente teria impacto em qualquer relacionamento potencial com Renato. Enquanto refletia sobre a conversa surpreendente, encontrou Renato no jardim, observando Mateus e Felipe, que brincavam à distância, supervisionados por Clara. "Tudo bem?", perguntou ele ao notar sua expressão pensativa. "Como foi o encontro com
minha mãe?" Surpreendentemente positivo, respondeu Luía, ainda processando tudo. Sua mãe é uma mulher complexa e fascinante, Renato Rio. Isso é um eufemismo impressionante, comentou, mas fico feliz que tenha sido uma experiência positiva. Ela tem mudado muito nas últimas semanas. Eles caminharam lado a lado em silêncio confortável por alguns momentos. Renato disse Luía finalmente tomando coragem. sobre aquela sua proposta, a segunda parte. Acho que estou pronta para conversar sobre isso agora. Ele parou, voltando-se para ela com expressão atenta, mas cautelosa. Estou ouvindo disse simplesmente. Luía respirou fundo. Acho que gostaria de explorar essa possibilidade, disse com
honestidade, lentamente, com os pés no chão, consciente de todas as complexidades envolvidas. Mas sim, gostaria de conhecê-lo melhor, além do contexto profissional. O sorriso que iluminou o rosto de Renato foi como o nascer do sol, gradual, caloroso e cheio de promessa. "Isso me deixa muito feliz", respondeu ele simplesmente, estendendo sua mão. Luía a aceitou, entrelaçando seus dedos com os dele em um gesto que simbolizava não um compromisso definitivo, mas o início de um caminho que ambos estavam dispostos a explorar juntos. A distância, Mateus observou a cena e, para a surpresa de todos que conheciam bem
o menino, sorriu. Um sorriso pequeno, mas genuíno, que capturou perfeitamente o sentimento de esperança renovada que permeava aquele momento. Nos meses que se seguiram, muitas mudanças ocorreram. O Centro Terapêutico Novos Caminhos, fruto da visão de Luía, e do apoio da Fundação Mendes, foi inaugurado oficialmente, recebendo inicialmente 10 crianças de famílias sem recursos financeiros para tratamentos especializados. A abordagem inovadora desenvolvida por Luía, combinando técnicas convencionais com métodos personalizados baseados nas necessidades individuais de cada criança, começava a ganhar reconhecimento na comunidade médica e educacional. Felipe, agora completamente recuperado da cirurgia, tornara-se uma presença constante no centro, inicialmente
como paciente e gradualmente como assistente voluntário, descobrindo em si mesmo um talento natural para conectar-se com as crianças mais desafiadoras. Seu progresso pessoal era notável, com significativa redução nas crises e maior independência em atividades cotidianas. Mateus, por sua vez, florescia sobía. Começara a usar pequenas frases, não apenas palavras isoladas, e seus episódios de ansiedade tornaram-se cada vez mais raros. Sua conexão com Felipe evoluira para algo próximo de uma amizade, com os dois frequentemente compartilhando atividades e interesses comuns, apesar da diferença de idade, Luía e Felipe haviam se mudado para um apartamento próprio adquirido com a
ajuda financeira de Renato, mas continuavam a passar a maior parte do tempo entre o casarão e o centro terapêutico. A relação entre Luía e Renato desenvolvera-se gradualmente, com respeito mútuo e sem pressões, evoluindo naturalmente de encontros casuais para um compromisso mais sério que a todos surpreendeu pela naturalidade com que se estabeleceu. Berenice, fiel à sua promessa, mantivera-se como apoiadora e conselheira, sem interferências indevidas. Sua relação com Luía transformara-se em algo próximo de uma amizade respeitosa, baseada em admiração mútua e no amor compartilhado por Mateus. Numa tarde especial, quase um ano após o primeiro encontro no
restaurante, a família reuniu-se para celebrar o aniversário de 6 anos de Mateus. Foi uma festa simples, mas significativa, adaptada às necessidades do menino, com poucos convidados e muitos momentos de tranquilidade intercalados com as celebrações. Após o bolo, enquanto Mateus explorava seus presentes com Felipe ao lado, Renato aproximou-se de Luía, que observava a cena com evidente felicidade. "Conseguimos, não foi?", comentou ele, passando o braço ao redor de sua cintura. Um ano atrás, eu não acreditaria que veríamos Mateus assim, tão conectado, tão presente. Ele sempre teve esse potencial", respondeu Luía, recostando-se levemente contra ele. Apenas precisava de
alguém que entendesse sua forma única de ser e se comunicar. Renato beijou suavemente sua têmpora. "Você transformou nossas vidas, sabia?", disse baixinho. "Não apenas a de Mateus, mas a minha também. trouxe de volta a esperança quando eu já havia desistido. Luía sorriu, virando-se para encará-lo. "Vocês também transformaram a minha", respondeu honestamente. Deram-me a oportunidade de realizar meu sonho de ajudar crianças como Felipe e Mateus. E encontrei aqui uma família que nunca imaginei ter. Eles foram interrompidos por Berenice, que se aproximou discretamente. "Desculpem interromper esse momento, mas Mateus está pedindo por vocês", informou a matriarca com
um sorriso caloroso. Ele quer mostrar como está usando o novo jogo de construção que ganhou. Juntos dirigiram-se até o menino que esperava ansiosamente para compartilhar sua criação. Com palavras simples, mas claras, Mateus explicou sua construção, uma representação do casarão, onde Luía trabalhava com ele, completa com pequenas figuras, representando cada membro da família. "Família", disse ele, apontando para as figuras, "tos juntos". Os olhos de Renato encheram-se de lágrimas ao ouvir o filho expressar um conceito tão abstrato e emocional. Luía, igualmente emocionada, agachou-se ao nível do menino. "Sim, Mateus", confirmou ela suavemente. Todos juntos, uma família. Naquele
momento, enquanto observava os rostos que havia aprendido a amar, Mateus com seu sorriso raro, mas precioso, Felipe com seu olhar orgulhoso pela conquista do amigo mais jovem, Renato com sua expressão de pura gratidão, e até mesmo Berenice, cuja transformação havia sido tão surpreendente quanto significativa. Luía soube que havia encontrado o seu lugar no mundo. O caminho não havia sido fácil ou linear. Houvera obstáculos, mal entendidos, preconceitos a superar, mas cada desafio apenas fortalecera os laços que agora os uniam, criando uma família não definida por sangue, mas por escolha, respeito e amor incondicional. Semanas depois, numa
noite tranquila, Renato convidou Luía para um jantar especial no restaurante onde tudo começara. O meson gastronomic havia sido reservado exclusivamente para a ocasião e Paloma, antiga colega de Luía, agora gerente do estabelecimento, os recebeu pessoalmente. "É estranho estar aqui como cliente", comentou Luía enquanto eram conduzidos à mesma mesa onde haviam se encontrado pela primeira vez. "Parece que foi em outra vida." De certa forma, foi,", respondeu Renato, puxando a cadeira para que ela se sentasse. Éramos pessoas diferentes. Então, o jantar transcorreu agradavelmente, com conversas leves e memórias compartilhadas. Quando a sobremesa foi servida, Renato tornou-se subitamente
mais sério. "Luía, há algo que gostaria de discutir com você", começou ele, sua voz ligeiramente hesitante. "Parece importante", observou ela, notando sua expressão. "É o mais importante", confirmou Renato. Neste último ano, testemunhei sua dedicação incansável a Mateus, a Felipe, as crianças do centro. Vi sua integridade inabalável, sua compaixão sem limites, sua força perante adversidades que teriam quebrado pessoas menos resilientes. Ele fez uma pausa buscando as palavras certas. Você trouxe de volta à minha vida coisas que pensei ter perdido para sempre. esperança, alegria, a capacidade de olhar para o futuro com expectativa, ao invés de apreensão.
Luía sentiu o coração acelerar, intuindo onde a conversa estava indo. E o mais incrível, continuou Renato, é que fez tudo isso sendo simplesmente você mesma. Nunca tentou ser alguém que não é, nunca comprometeu seus valores ou princípios, mesmo quando teria sido mais fácil ceder. Ele estendeu a mão sobre a mesa, segurando a dela. Mateus ama você. Felipe respeita você. Minha mãe contra todas as probabilidades admira você imensamente. E eu, Renato, respirou fundo. Eu a amo Luía, profunda e completamente, e sei que pode parecer rápido demais, ou talvez complicado demais, considerando nossas histórias e contextos diferentes.
Mas ele retirou uma pequena caixa de veludo do bolso, abrindo-a para revelar um anel elegante, mas não ostentativo. uma safira circundada por pequenos diamantes. "Não estou pedindo uma resposta imediata", apressou-se a acrescentar, notando a surpresa nos olhos dela. "Apenas que considere a possibilidade de construirmos juntos oficialmente a família que já começamos a formar. Você, eu, Mateus, Felipe, todos juntos." Como disse nosso pequeno arquiteto, lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto de Luía enquanto ela observava o anel e o homem que o oferecia. Não um bilionário poderoso, não um empresário influente, mas simplesmente Renato, um pai dedicado, um
homem íntegro, que havia aprendido suas próprias lições de humildade e crescimento. "Não preciso de tempo para considerar", respondeu ela finalmente, sua voz firme, apesar da emoção. "Minha resposta é sim. Sim, para construirmos essa família juntos, para continuarmos o trabalho que começamos. para enfrentarmos juntos qualquer desafio que o futuro traga. A alegria no rosto de Renato ao deslizar o anel em seu dedo era uma imagem que Luía sabia que guardaria para sempre. O anel ajustou-se perfeitamente, como se tivesse sido feito especificamente para ela, o que, como descobriria depois, era exatamente o caso. O futuro que se
abria diante deles não seria sem desafios. Haveria adaptações, negociações, momentos difíceis, como em qualquer família. A condição de Mateus exigiria cuidados e atenção constantes. O centro terapêutico continuaria a demandar dedicação e inovação contínuas. As diferenças de origens e experiências ocasionalmente criariam pontos de atrito que precisariam ser resolvidos com paciência e compreensão mútua. Mas ao olhar para o anel em seu dedo, símbolo de um compromisso que ia muito além do convencional, Luía sentiu uma certeza tranquila de que estavam no caminho certo. Não porque tudo seria perfeito ou fácil, mas porque haviam construído uma base sólida de
respeito, honestidade e amor verdadeiro. O tipo de amor que não ignora diferenças ou dificuldades, mas as enfrenta juntos com coragem e determinação. Alguns meses depois, numa cerimônia íntima realizada nos jardins da mansão, Luía e Renato oficializaram sua união, cercados apenas por pessoas verdadeiramente importantes em suas vidas. Mateus, impecável em seu pequeno terno, surpreendeu a todos ao cumprir perfeitamente seu papel de pagem, carregando as alianças com seriedade e orgulho. Felipe, elegante e confiante como nunca antes, serviu como padrinho. Seu discurso simples, mas profundamente emocionante, arrancando lágrimas até de Berenice. A matriarca, por sua vez, havia abraçado
completamente seu novo papel de conselheira e apoiadora. contribuindo para a cerimônia com sugestões discretas, nunca imposições. Sua transformação era talvez o testemunho mais poderoso de como o amor genuíno pode mudar pessoas, derrubar barreiras e sanar feridas antigas. O Centro Terapêutico Novos Caminhos continuou a crescer, ampliando sua capacidade para atender mais crianças e estabelecendo parcerias com universidades para formação de novos profissionais na metodologia desenvolvida por Luía, agora conhecida formalmente como método Cardoso Mendes. Felipe, inspirado pelo trabalho da irmã, decidiu retomar os estudos, determinado a tornar-se terapeuta ocupacional, especializado em crianças com necessidades especiais. Mateus continuou seu
desenvolvimento em ritmo próprio, com avanços significativos intercalados com períodos de estabilidade, exatamente como deveria ser. Sua conexão com Luía apenas fortaleceu-se com o tempo, agora complementada por uma relação igualmente especial com o pai, que aprendera a compreender e aceitar plenamente seu filho exatamente como ele era. As diferenças sociais que inicialmente pareciam tão intransponíveis entre Luía e a família Mendes, gradualmente perderam importância, substituídas por valores compartilhados e objetivos comuns. A mansão, que antes parecia intimidante tornou-se simplesmente casa, um lugar de acolhimento, aceitação e amor incondicional. E assim, o que começara como um encontro fortuito em um
restaurante elegante, uma garçonete ajudando o filho autista de um cliente bilionário, transformou-se em uma jornada de crescimento, cura e união que nenhum dos envolvidos poderia ter previsto. Porque, como Luía frequentemente lembrava aos pais das crianças que chegavam ao centro, os maiores milagres não acontecem subitamente ou dramaticamente. Eles se desenvolvem dia após dia, em pequenos momentos de conexão, em escolhas consistentes de amor e aceitação, na disposição de ver além das aparências e encontrar a beleza única em cada ser humano, independentemente de suas diferenças ou desafios. E talvez esse fosse o verdadeiro presente que ela trouxera para
a família Mendes. Não apenas técnicas terapêuticas ou métodos de comunicação, mas a lembrança fundamental de que cada pessoa, não importa quão diferente ou desafiadora, possa aparecer inicialmente, carrega dentro de si potenciais inexplorados e uma capacidade limitada de amar e ser amada. Fim da história. E você, o que achou dessa história de superação e amor? Conta pra gente nos comentários o que mais tocou seu coração. Se conhece alguém que trabalha com crianças especiais, compartilhe esta história. Não esqueça do like e inscreva-se no canal para mais histórias emocionantes como esta. Aleluia.