[Música] a gente perdeu nossa capacidade de se espantar com as coisas ou ela ainda existe isso é bem mais elevado do que gostaríamos de admitirem a gente e para participar do debate para ajudar a gente nessa conversa nós trouxemos o ex árbitro e comentarista esportivo márcio chagas da silva da rbs bem vindo escreveu um artigo fortíssimo no ou contando nas ofensas racistas que já sofreu no trabalho obrigado aqui mas agora engraçado eu acho que o racismo no brasil é uma coisa rara uma coisa ainda vai rolar a a eu estava com essa mesma vítima então
tem a verdade ele tem mas eu com quase 42 anos eu te digo que eu não acho nem um pouco raro eu vivo isso quase que diariamente então essa versão de que de que é uma raridade ela não cola é a quem é negro sabe o quanto isso é doloroso e o quanto a gente passa no dia a dia a tentar matar um leão sobre [Música] na realidade eu fui adepto de futebol durante 15 anos eu passei por 13 episódios de racismo foi em 2005 ou 2006 e o derradeiro em 2014 no caso que ficou
público que foi bento gonçalves quando o terno antes mesmo de iniciar a partida quando eu saí do vestiário fui xingado chamado de tudo que vocês possam você pode falar falar falar de negro de merda macaco volta para a áfrica volta da selva matar negro não é crime adubar a terra entre outros xingamentos e ainda brinquei com os meus colegas nem começou o jogo os caras já estão me xingando imagina o final mas o gol foi o imaginário não imaginei o que iria acontecer de fato na volta do intervalo os mesmos xingamentos no retorno para o
campo os mesmos xingamentos e aí no final da partida a equipe do esportivo venceu por 3 a 2 a equipe do veranópolis que é de uma outra cidade do da serra gaúcha eu fiquei numa distância de 15 10 metros os torcedores que estavam me xingando com o policiamento do meu lado e questionei um senhor que estava com o filho é isso que está ensinando que o filho vai ter q pariu seu meigo de merda macaco safado e é o de uma boa semana o senhor também e decide o vestiário tomei um banho o policiamento perguntou
se eu iria registrar o fato em súmula diz que sim já que eles tinham negligenciado não tinha atual autuado não tinha o que dizer que quero é isso aí não tinham sequer interpelado os torcedores tomei um banho botei a - peguei na mochila de um vestiário abriu a porta do vestiário fui pegar meu carro e me deparei com o meu veículo com cascas de banana sobre o veículo chamei um colega quando eu dei a partida para tirar o veículo dessa da escuridão para fotografar a md eu vi as portas meu carro amassadas a pontapés e
aí quando eu fui da partida meu carro engasgou duas vezes e caíram duas bananas do caso do cano de escapamento aquilo ali eu pensei duas vezes eu vou voltar a deixar vou quebrar tudo mas ao mesmo tempo pensei no meu filho o que eu tenho na época meu filho tinha dez meses não posso fazer isso porque eu vou estar dando toda a razão que os caras pensar em exatamente que eu sou o macaco vou agir exatamente da forma como eles queriam eu pedi um colega meu fotografar eu não tirei fotos do meu telefone até porque
eu sabia que ia ter dúvidas na minha versão porque meu pai sempre me disse que nunca escondeu essa situação da do quanto o negro numa posição de ascensão incomodar incomodaria e naquele momento eu era o segundo melhor árbitro do estado estava entre os dez melhores do país e eu sabia que aquilo ali era um como tirei o carro uma parte mais clara pediu um colega meu registrar as fotos e registrou as fotos nisso um jogador do próprio esportivo em pegou pelo braço o adriano chuva me tirou um pouco do bolo assim dos jogadores que saíram
do refeitório para ver o que tinha acontecido e aí ele me disse assim márcio aqui é sempre assim a gente até prefere jogar fora do que em casa porque os caras nos chamam de tudo do próprio time do próprio time voltei para porto alegre cheguei em casa cheguei em porto alegre tentei fazer a ocorrência policial mas era a quarta feira de carnaval às delegacias estavam fechadas cheguei em casa vi a minha esposa dormindo o meu filho de 10 meses dormindo ela duas e meia da manhã e eu fiquei na adrenalina com raiva sem saber o
que fazer aí veio a imagem do meu pai e meu pai já faleceu e aí eu pensei assim pô eu não posso ser omisso e ficar quieto com essas com essa situação eu escrevi um texto encaminha para alguns jornalistas que eu conhecia no mesmo na mesma manhã a notícia veio a público pedir as fotos para esse colega que tinha batido ele me mandou as fotos eu encaminhei a minha surpresa o presidente da federação me ligou na tarde perguntando o motivo pelo qual não tinha ligado para ele antes de ter ido a público e eu perguntei
etapas o que mudaria está expondo clube o estado ea competição aí eu disse aí eu disse a ele e eu atuei eu pago o teu carro porque esse era o problema aí eu disse sim mas eu não estou lhe pedindo dinheiro eu quero só respeito é mas isso aí vai se prejudicar na carreira aí eu disse eu vou comprar essa briga porque daqui dez anos eu quero olhar pra cara do meu filho quando ele me perguntar o que aconteceu e eu vou dizer pra ele o que aconteceu a verdade do que aconteceu e se por
ventura acontecer com ele como ele deve conseguir levar adiante a situação [Música] existe uma passividade dos outros torcedores que observam esse total é porque também são racistas por que corroboram com isso porque têm medo porque você e eu estou usando o exemplo do estádio mas a gente pode abrir para outros exemplos para propor a convivência em outros lugares porque as pessoas se calam diante de uma manifestação na orla eu tenho lido um livro é bem importante assim está sendo importante o link do adilson moreira que fala sobre racismo recreativo e eles tipifica os tipos de
racismo e o que eu vejo esses torcedores é o racismo seu termo agora a pouco vem que é o cara ele é racista aversas smo aversivo é racista só que de certa maneira ele tenta não parecer racista então aí de forma sutil até comentando sobre o clipe que eu me enxerguei muito no clipe o rigor da missa de ano novo a iminência parda que aquilo ali é um racista aversivo ele não gosta de negro ele não quer se envolver nem socialmente de maneira alguma com nêgo e aí de forma sutil ele para piada ele ficar
quieto mas olha ele olha tem nojo rochas na altura numa situação do consumo total a e aí esse livro do da desmor ela fala exatamente sobre isso aí e esses que ficam pacificamente no meu entendimento são iguais a esses caras [Música] eu acho que tem um conflito muito visível na realidade brasileira que é um conflito que acontece entre a história ea memória só com a história ela trabalha com fatos então o marcio com a família dele ascensão profissional dele visitar um restaurante que é historicamente freqüentado por pessoas brancas que têm um poder aquisitivo de repente
ele quer lançar no domingo um fato isso acontece existe uma classe média negra no brasil existe uma classe média não branca no brasil ela existe é um fato a nossa ontem mas existe um lugar na memória da sociedade brasileira e esse esse é o lugar que que a gente quer alcançar no vídeo que é qual é o lugar que essas pessoas não brancas têm dentro do seu imaginário entende quando elas entram nesses lugares que em tese não são para elas o que aquilo gere você sabe essas situações a situação que eu ver que houve eu
vejo a cada vez que eu viajo de avião entende principalmente ao viajar em primeira classe sabe quando você vai pra fora do brasil essa é a reação que você tem principalmente na o vôo que vem pro brasil ou vai pra fora do brasil quando você tem uma primeira classe repleta de pessoas brancas ea atração daquele lugar se torna você e sua família sabe você não consegue é viver livremente acho que a gente começou a falar no começo do bloco sobre essa apatia sobre essa normalização da tragédia desta tragédia seja som do helicóptero seja a situação
dos 80 tiros hoje em especial e 3 de maio dia a abolição da escravatura da assinatura da lei áurea é isso é uma coisa muito superficial é uma coisa extremamente superficial é um decreto que se eu não me engano tem dois parágrafos sabe existe programa nenhum de inserção de todos aqueles quase 5 milhões de africanos que foram sequestradas você inserido dentro da sociedade brasileira não muito pelo contrário o que se deu nos anos seguintes foi a continuação da desumanização dessas pessoas encarceramento sabe então isso é desde é completa impossibilidade de emancipação social empurrar essa pessoa
para a virada da cidade a gente sente as conseqüências dessa não resolução dessa conciliação falsa da sociedade brasileira até hoje eu acho que isso resulta nesse tipo de racismo que o que mais se referiu porque em tese na cabeça do racismo brasileiro ele acredita que lá em 1988 quando assinou a lei acabou a gente não tem mais escravo aqui todo mundo igual vivendo só que o jessé de souza que é um sociólogo brasileiro ele fala uma coisa muito importante a maior parte da história do brasil o brasil é um país escravocratas a gente tem 300
anos contra 131 agora fazemos 131 exatamente hoje entende a maior parte da nossa história é essa dessa chaga dessa vergonha isso define muito das nossas relações a gente precisa urgentemente fala sobre isso [Música] quando as pessoas falam que racismo não existe não tem racismo no brasil é isso é é só porque já ficou normal e já é assim que a gente é a gente vive assim mesmo já tem esse esquecimento ou maldade mesmo bar das pessoas acho que tem alguns campos onde socorre meu parceiro acho que é o seguinte existe uma as pessoas podem obviamente
é ignorante a respeito do assunto não tem sensibilidade para prestar atenção nisso eu eu respeito isso e acho que eu também sou ignorante a respeito de um monte de tema sabe eu estou aberto a entender sobre eles agora o grande problema quando você nega aquilo você encontra uma evidência empírica como por exemplo o relato do márcio e aí você vem ensinar para o márcio o que ele viveu todos esses 15 anos recebendo tudo isso tem até a parada com o camarada meu usa semana negócio que os carros de mão de brasileiros plane alegado que está
a atrair o meia espremidas feminista quando um homem que explicar para a mulher que ela está sentindo brasil ex premiê quando você vai explicar tipo papa o que o catolicismo vai aplicar pelo alemão que é nazismo consequência do campus preto que cabeceia cisnes sacomã a gente tem um e se esse lugar tipo não costumam colocar isso como uma coisa maniqueísta de bem e de mal entendidos que superficializa discussão empobrece ela eu acho que tem sim um lado canalha que tenta negar isso mas acho que tem muita ignorância que a gente não trata do assunto a
gente não trata do assunto não tratou do assunto com seriedade então obviamente a gente está nos luz de distância da solução dele não tem nenhum tipo de de resolução que esteja se aproximando justamente porque é essa situação tá vendo pra muitas pessoas agora está vindo com uma agressividade porque é uma coisa que é reprimida muito tempo que acontece há tanto tempo que manda ele explode exploradas menina explode o projeto da cnaa na a aí eu sempre gosto de de problematizar eu acho que muito vem da questão da ignorância mesmo de não abordar e nunca tratar
o racismo como um assunto prioritário ele sempre secundário é quando entra na abordar o assunto de racismo as pessoas né deixa pra lá pouco papo furado vamos falar de outra coisa o gato estava politicamente correto demais ea gente não avança nessa situação ea gente entra aí nesse 131 anos que a gente vem remando e eu até aprendi um ano passado com o professor o adriano viário uma uma parábola com relação a essa questão do racismo fazendo com o futebol é como se a gente começasse um jogo há 300 anos é não 431 anos até então
a gente começou o jogo lá 1 a 0 gol roubado a confusão tão beleza segue o jogo bola no meio 2 a 0 ou roubados confusão tá tá vamos de novo 3 a 0 como roubado a confusão acabou o primeiro tempo tudo certo com o futuro incerto na confusão vamos vestiário tudo o que nós vamos fazer para solucionar agora só 40 mas o placar continua o placar continua calma se nós azar continua segundo tempo 3 a 0 da moça vocês com a terra e assim a captura do bloco terá agora quer pra ouvir transferência tecnológica
hoje era pra ouvir só toca pra gente é agradecer imensamente a imprensa do márcio assim você começou o bloco dizendo da da perda da capacidade a gente se espantar com as coisas que são inaceitáveis né eu acho que isso é um pouco natural hoje porque pra você se chocar é preciso que o acontecimento em algum nível assim de raridade esse acontecimento são tão freqüentes no brasil e hoje quando gosta de tecnologia de comunicação você fica vendo diariamente você tem que lidar com uma dose de coisas inaceitáveis né mas não é à toa que os movimentos
ditos identitários movimentos negros feministas e triton insistem muito sobre a questão do testemunho da vivência não é só porque a pessoa que tenha isso tem uma dimensão do problema que a abordagem teórica não é capaz de acessar é porque o relato testemunhal um relato da vivência acho que é capaz de tirar a gente um lugar até de um certo conforto teórico que a gente que estuda a questão do racismo mas depois tudo não estuda se deve estudar também é eu vim programa hoje pra esse bloco um pouco confortável na posição de quem já conhece algumas
coisas entendeu até o jogo falou o cartola o texto mas ele não lhe falou leia de fato eu li o texto março assim o negócio que renova em você a sua revolta e isso por sua vez renova a necessidade que a gente sente de se responsabilizar pela sociedade brasileira entender tem uma eu queria terminar como fazendo uma uma distinção de um pensador alemão cacau e asperhs ele faz uma distinção entre culpa e responsabilidade com o seguinte um sujeito só pode ser culpado por um ato que lhe directamente comete tem então nenhum de nós aqui em
indivíduos brancos somos culpados pelo racismo estrutural histórico do brasil mas responsabilidade cada em cada membro de uma comunidade é responsável pelo destino da sua comunidade então todos nós brancos são responsáveis pelo racismo estrutural do brasil e cada um de nós tem que não pode parar de pensar nisso quem não pode deixar de agir em favor da transformação e só queria agradecer novamente a a presença do mais por ter renovado o sentimento dessa revolta em forró essa conversa não terminou comentando aqui embaixo você entra no papo também e curtindo e compartilhando você chama mais gente pra
essa conversa semana que vem você que é inscrito no canal já sabe ele avisa quando um vídeo novo tv no ar quer também se escreve aqui e ativa a notificação que a gente avisa pra você