Queridos irmãos e irmãs, na homilia da manhã eu comentei de modo mais expositivo o texto do Evangelho, versículo a versículo; mas agora eu gostaria de focalizar a homilia sobre um ponto que me parece ser exatamente aquele que a liturgia de hoje nos quer chamar a atenção. O Evangelho termina com essa frase de Jesus: "Depois de falar sobre que não pode haver uma árvore boa que dê frutos maus, não pode haver uma árvore má que dê frutos bons. " Então, ele diz: "O homem mau tira muitas coisas más do seu mal tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio.
" E é exatamente aquilo que diz o livro do Eclesiástico na primeira leitura: "O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. " Pois é no falar que o homem se revela. Isso é muito importante porque uma pessoa insensata não dá importância às suas palavras; ela fala irresponsavelmente, como uma torneira aberta: abre a boca e, dali em diante, tudo o que sai não é refletido, pensado.
E quanto mais a pessoa é ignorante, tem uma cabeça pequenininha, menos ela é capaz de perceber a potência que uma palavra tem. Nós lemos na Escritura que Deus criou todas as coisas por meio da sua palavra. Ele disse: "Haja luz" e houve luz; ele disse: "Separe-se a luz das trevas" e a luz e as trevas se separaram.
Isso é tão poderoso que o autor do Livro dos Provérbios diz, lá no capítulo 18, que a vida e a morte estão no poder da língua. E São Tiago, no capítulo 3 da sua epístola, diz que a língua é um mundo de iniquidade; e ele estabelece uma comparação: "Vede, uma pequena chama que é capaz de pôr fogo numa floresta; assim, a língua, embora seja um membro tão pequeno, é um mundo de iniquidade. " Jesus, no Evangelho, diz que nós seremos julgados por cada palavra ociosa que sai da nossa boca.
Palavra ociosa é palavra inútil, é palavra que não exorta, não edifica e não consola. E, por isso, nós precisamos examinar a nossa consciência para ver como lidamos com a nossa palavra. Em primeiro lugar, a palavra tem uma natureza; a natureza da palavra é comunicar aquilo que está na nossa mente.
É para isso que existe a palavra. Por isso, Jesus diz que a boca fala do que o coração está cheio, do que a alma está cheia, do que a mente está cheia. Então, a primeira ofensa que nós cometemos contra a palavra é quando dizemos o oposto daquilo que está na nossa mente.
O nome disso é mentira. A palavra mentira vem de mente. A mentira é um pecado porque deteriora a natureza da palavra; ela existe para comunicar o pensamento, enquanto que a mentira comunica o oposto do pensamento.
Às vezes, uma mentira pode parecer um pecado muito inocente; de fato, nós não diríamos que uma mentira normal fosse pecado mortal. Porém, Jesus diz no Evangelho que o pai da mentira é o diabo; ou seja, o cristão não deveria abrir a sua boca para mentir, ele deveria sempre dizer a verdade, ainda que isso lhe faça passar um mal bocado. É evidente que a Igreja sempre fez a distinção entre a mentira e a não declaração da verdade; é diferente.
Há muitas pessoas que são intrometidas. As pessoas são curiosas, gostam de especular sobre a vida alheia. Então, às vezes, uma pessoa diz: "Aonde você vai?
" Às vezes, as pessoas não perguntam isso. "Onde o senhor está indo? " A resposta mais correta seria "Isso é da sua conta", seria a resposta mais simples.
Mas, como nós não queremos comprar uma briga, nós dizemos: "Ah, eu vou ali. " Ou seja, você não disse nem deixou de dizer. Isso é permitido porque nem todo mundo tem direito de saber aquilo que nos é íntimo.
Vejam, hoje em dia há uma profanação da intimidade que é odiosa. Essas entrevistas que se fazem nas televisões, em que perguntam as coisas mais íntimas, mais banais, e as pessoas acham muito bonito, muito legal falar daquilo, parece um ato de sinceridade, mas isso não é sinceridade, é sincericídio: a banalização da sinceridade. A intimidade nos leva a proteger certos segredos da nossa alma, da nossa vida.
Todavia, mentir, ou seja, enganar os outros, dizer o oposto daquilo que nós queremos, daquilo que nós sabemos, isso para nós não deveria ser uma prática, muito menos recorrente. Eu vejo, por exemplo, como é errado as mães que mentem para os filhos. Por exemplo, um filho vai tomar uma injeção e ela diz: "Não, não vai doer.
" Daí, menos de um minuto, ele toma a injeção e dói. Ele está aprendendo a mentir com a mãe. O que custaria dizer assim: "Não, filho, vai doer.
Vai doer bastante, mas vai passar. Aguenta aí. Tem que tomar, senão não vai sarar.
" A criança vai chorar. Ué, choro mata, faz parte. O choro faz parte, mas não é essa a única profanação da palavra.
Nós também temos a murmuração. A murmuração é aquele péssimo costume de sempre ficar falando mal dos outros, das situações, dos acontecimentos. Tem pessoas que são fofoqueiras de família.
É uma coisa que já vem na cultura doméstica, já está meio que no sangue; a pessoa gosta de fofocar, de falar, de especular, de reclamar, de falar mal dos outros. E vai se tornando uma "mejeira". Bom, quando é homem, então, é mais feio ainda.
Nós não podemos ter o mau hábito de ficarmos murmurando. A murmuração é um veneno que destrói o ambiente. Quantas vezes nós estamos bem e, aí, chega um murmurador e começa a falar mal daquilo?
E, de repente, a nossa alma se apega. A murmuração tem uma força devastadora. Se algo não está bem, nós precisamos ter a maturidade de procurar o interessado e conversar, ou a fortaleza de suportar as dificuldades.
Que são inerentes à nossa existência. Nós não estamos no Paraíso; nós estamos nesse mundo, que é corrompido, que é decaído. Existe a chamada maledicência, que é outra profanação da palavra.
A maledicência é quando você espalha os defeitos dos outros, os defeitos que são verdadeiros. Muitas pessoas dizem: "Não, mas eu não; eu não estou fofocando porque estou falando a verdade. " Não é verdade isso.
Quando alguém destrói a boa fama do outro, está cometendo um pecado de maledicência. E o pior maledicente é aquele que se atreve a falar mal dos outros por iniciativa própria. Vai lá e chega e puxa assunto com o objetivo de destruir a fama alheia.
É uma serpente que chega e pergunta: "Ah, o teu filho, teu filho tá namorando com o fulano assim? Ah, mas olha, eu acho que aquela menina ali. .
. " e começa a descer a lenha. Cobra, fofoqueira, maledicente, difamador não pode fazer isso; isso é pecado.
A calúnia é pior ainda, porque consiste em você destruir a fama alheia pela mentira. Então, você diz algo inverídico sobre uma pessoa para destruir a sua fama. Então, você fala, por exemplo, né?
Tem pessoas maldosas que chegam e semeiam uma mentira para causar contenda e, por exemplo, chegam assim e dizem: "Nossa, a tua mulher te trai! " Isso é calúnia. Mas quanta dor de cabeça uma calúnia dessas não causa!
Às vezes, são coisas absurdas, mas o caluniador introduz a desconfiança, que muda o olhar do seu interlocutor. Nem todo mundo tem a sensatez de escutar um absurdo desses e pensar: "Não, mas essa pessoa está sendo maldosa. " É aquilo, né?
Por exemplo, se alguém vem falar de um filho meu, a primeira coisa que eu digo é: "Vai cuidar da sua vida! Não quero ficar escutando fofoca. " Nem todo mundo tem a maturidade de entender assim.
Errado é quem tá fofocando, errado é quem está falando. Nada justifica esse terrorismo verbal. É um ataque diabólico, porque é coisa do demônio.
É o demônio que chega na Eva e fala: "Olha, é verdade que Deus vos mandou não comer de todas as árvores do Paraíso? " E vai construindo; é coisa do diabo! Ainda mais quando isso acontece em nível grupal, que é o grupo da fofoca, né?
O grupo de pessoas que ficam ali, o tempo todo, falando mal, especulando e dizendo e dando a sua opinião sobre o que os outros são, sobre o que os outros pensam, sobre o que os outros fazem. Coisa de gente desocupada. Nós temos que tomar cuidado com isso, irmãos!
Eu já vi cada coisa em igreja. Me lembro de um grupo que rezava o terço às 6 horas da manhã, numa paróquia. E aí, antes do terço, faziam as intenções do terço, e as intenções eram mais ou menos assim: "Olha, ai, gente, precisam rezar pela fulana de tal, uma briga essa noite com o marido, e que nossa!
A gente escutava os gritos lá de fora, ele jogou um negócio no chão, fez um estrondo tão grande, e não sei o quê, e depois saiu de casa, parece que não voltou até agora. " Eu fiquei olhando para ver, e aí: "Nossa! Eu fiquei preocupada com a fulana.
Rezemos ao Senhor! " Quer dizer, quando você transforma a fofoca em oração, isso é blasfemo! É blasfemo!
Mas as pessoas acham bonito isso. Aliás, nas redes sociais, isso tá um negócio até epidêmico, né? Porque as pessoas não se envergonham mais de ser fofoqueiras.
Elas dizem assim: "Não, eu gosto de uma fofoca! Eu, nossa, eu curto saber da vida dos outros! " Que coisa mais feia!
Nós precisamos, queridos irmãos, crescer em caridade, em respeito. Como é que eu valorizo a minha palavra? Em primeiro lugar, examine o seu coração, porque a boca fala do que o coração está cheio.
Examine o seu coração. Seu coração está cheio de malícia? Seu coração está cheio de julgamento sobre os outros?
Você se sente o ungido, o juiz, aquela pessoa que diz quem presta e quem não presta? Você está errado! Porque o nosso coração tem que estar cheio de bondade, misericórdia, compreensão, amor, respeito, tolerância.
E quando nós vemos alguém agindo de uma maneira errada, nós temos que ter um certo olhar de compreensão, porque quem de nós não erra? Todos nós erramos! Então, nós temos que ter um olhar de bondade, de indulgência.
Depois, aprenda a amar o silêncio. Os antigos diziam que a palavra vale prata, mas o silêncio vale ouro. A gente nunca vai se arrepender de ter ficado quieto!
Nunca! "Ah, mas fulano de tal fez! " Eu acho que não!
Mete a sua colher na panela alheia? Deixa, deixa! As pessoas que querem ficar se metendo muito no que os outros fazem ou dizem vão acabar sofrendo consequências graves disso, porque aos poucos todo mundo descobre, né?
Você tem ali uma terrorista, uma fofoqueira, uma serpente no meio da casa. Não! Silêncio!
Prefiro não comentar. Prefiro não ver, prefiro não saber. E, sobretudo, que nós não tenhamos um mau hábito de ficarmos falando mal de nada.
Nós precisamos nos corrigir e reprimir esse mau costume de ficar o tempo todo falando, reclamando, murmurando, criticando etc. Porque uma hora isso vaza de nós! Você sabe que uma vez eu tinha um, na verdade, eu tenho um amigo meu que aconteceu muitos anos atrás, quando começaram a ter esses sistemas de conexão do telefone com o rádio do carro.
Eu telefonei para ele, precisava falar uma coisa, e no que eu fui desligar, travou. Eu estava numa rodovia, não conseguia desligar, a não ser que eu desligasse o carro e não dava pra desligar o carro naquela hora. E ele esqueceu de desligar o telefone.
Ato contínuo, ele começou a falar horrores de mim, horrores, coisas indizíveis, mas não só. . .
De mim, falava mal; da minha família, falava mal de outras pessoas. Eu fiquei chocado com aquilo. Dias depois, eu o confrontei.
Eu disse: “Olha, naquele dia aconteceu assim: eu escutei tudo o que você disse, porque é o seguinte: o fofoqueiro, ele aproveita a ausência, né? Então, ele é covarde; ele gosta de falar nas costas. O mundo caiu, assim, desabou o céu na cabeça dele, mas, ao invés de me intrigar ou de fazer uma inimizade, o que eu disse para ele foi o seguinte: eu entendo que isso daí é um mau hábito que você tem.
De fato, ele foi criado lá com uma avó velha fofoqueira, que só ela e acabou introjetando esses costumes. Falei: você tem que se corrigir desse mau hábito, pare de falar mal; mas não é só porque eu te ouvi em qualquer circunstância, não fale mal de ninguém, se corrija. Nós precisamos, queridos irmãos, ter essa sabedoria, a sabedoria de, se eu não puder louvar, elogiar, eu calo a minha boca.
Calar a boca, botar um cadeado na boca é muito importante; segurar a língua dentro da boca, não ser irresponsável e deixar que a palavra saia de mim como instrumento de ferida, de detração. E, por último, tomar cuidado com o que a gente escuta, porque geralmente a gente reproduz aquilo que a gente escuta. Cuidado com quem você escuta, cuidado com as suas fontes.
Nós precisamos, muitas vezes, parar de escutar certas pessoas, porque elas só nos induzem ao pecado. Sabe aquela pessoa que chega assim: “Nossa, deixa eu te contar uma…”? Não, não conte!
Não quero saber! Sobre a última, nem da penúltima. Não quero saber, não me conte, não me fale.
Essa curiosidade eu tenho que aprender a mortificar, a matar. Eu não quero ouvir; eu quero estar em paz com Deus. Vamos pedir ao Senhor a graça de termos o coração puro, um coração que não se inclina aos comentários.
O Papa Francisco sempre fala do terrorismo da fofoca. Que nós saibamos nos conter, que nós saibamos nos vigiar, exatamente como diz o Salmo: “Vigiarei minhas palavras a fim de não pecar com minha língua. ” Que Deus nos leve a uma grande sobriedade.
Então, queridos irmãos, nós poderemos viver a caridade e a fraternidade entre nós, porque, se houver qualquer dificuldade, ao invés de sermos covardes e falarmos nas costas, nós vamos fazer aquilo que Jesus manda no evangelho: iremos conversar com o irmão, porque conversando a gente se entende. Esses dias, e aqui termino, houve um jornalista que fez um vídeo no seu canal do YouTube, e que ele colocava a minha imagem falando coisas que eu não disse. O que eu fiz?
Eu procurei, consegui o seu WhatsApp, mandei um WhatsApp para ele, muito gentil: “Caríssimo Fulano, hoje você publicou um vídeo assim, etc. Queria lhe esclarecer que você está equivocado em relação à minha pessoa, por esse, por aquele motivo, etc. ” Apesar de ser uma pessoa de um pensamento ideológico oposto ao meu, completamente o contrário, a gente foi conversando, ele viu que tinha se equivocado e tirou o vídeo.
Agora, imaginem se eu sou um barraqueiro que fala assim: “Ele fez um vídeo, agora vou fazer outro! Fulano de tal fez um vídeo contra mim, ele é um vagabundo! Ele é um… não sei o quê… um mentiroso, caluniador!
” Que isso ia resolver? Nada! O vídeo equivocado ia continuar lá e o meu vídeo surtado ia continuar aqui.
Resolveu? Não resolveu! Ou seja, a sabedoria nos leva a sermos muito econômicos e comedidos nas nossas palavras, para sermos eficazes: a caridade, a compreensão, a bondade, a misericórdia, a paciência, a tolerância, a capacidade de dialogar, de conversar, a coragem de dizer a verdade na cara.
Tudo isso é o que nos leva a um caminho de êxito e de santidade. O contrário disso não passa de agitação, característica dos fofoqueiros.