[Foquinha] Olá, internet! Dia 16 de outubro foi aniversário de uma lenda nacional, uma das atrizes mais celebradas e respeitadas desse país, que, aos 94 anos, segue sendo uma potência. Minha xará, Fernanda Montenegro.
♪ Gente, não tem como! Esse nome é sinônimo de excelência e legado. Com mais de 70 anos de carreira, a contribuição de Fernanda pro cinema, televisão e teatro brasileiro é imensurável.
E é isso que a gente vai ver hoje nessa linha do tempo da sua vida e carreira. É claro que assim, com tantos feitos incríveis, é impossível falar de tudo sem que esse vídeo tenha, sei lá, umas cinco horas, pra mais de duração, né. Por isso, vou dar aquela resumidinha aqui do FBI.
Vamos dizer assim, que um dos grandes destaques da carreira de Fernanda foi ter sido a primeira latina a ser indicada ao Oscar de melhor atriz, prêmio que ela perdeu por uma pessoa que tem usado o troféu como peso de porta. Mas vamos deixar baixo. Enfim, né.
Cata a pipoquinha pra conhecer melhor a história da nossa dama da dramaturgia brasileira, Fernanda Montenegro. E já vamos começar com uma curiosidade. Fernanda, na verdade, nasceu como Arlette Pinheiro Monteiro Torres em 16 de outubro de 1929 e, como eu disse, acaba de completar 94 anos.
Com avós maternos imigrantes italianos e avós paternos imigrantes portugueses, Fernanda nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro, em Campinho. Filha de Carmem, uma dona de casa, e Vitorino, um mecânico, ela é a mais velha de três filhas, Aída e Áurea, todas com “A”, porque, segundo Fernanda na sua autobiografia, “Prólogo, Ato, Epílogo”, seu pai prezava por nomes iniciados com “A” pra poupar as filhas de longas esperas em listas de chamadas. Aí o pai arrasou.
Ela também teve um irmão, José, que faleceu aos dez meses. Na infância, Fernanda conviveu muito com a sua avó materna, que contava várias histórias, desde os contos infantis até histórias bíblicas. Já os pais de Fernanda, adoravam cinema e a família chegava a assistir três filmes por semana, além de sempre frequentarem o circo.
Já na igreja, que a família ia todo domingo, ela assistia aos filmes do Charles Chaplin, artista que, segundo Fernanda, tá em algumas das suas primeiras memórias. Também na igreja, aos oito anos, Fernanda encenou a peça “Os Dois Sargentos”, em que ela interpretou um menino. Foi a sua primeira vez no palco, olha só, já aos oito anos.
E aí deu pra perceber que ela sempre foi interessada por arte, né, algo que a sua família também incentivou. E na adolescência, no ensino médio, a Fernanda contou que não conseguia acompanhar o ritmo da escola, que tinha mais de dez matérias, vários professores, lições, a gente sabe. Ela se sentia incapaz e vivia uma depressão por esse motivo.
E aí os seus pais entenderam a sua frustração e não julgaram ela. E aí a Fernanda, então, achou uma alternativa: fazer um curso de secretariado numa escola de idiomas pra que, quando formada, pudesse trabalhar como secretária ou comissária de bordo, imagina! Fernanda Montenegro ali, comissária de bordo.
Chique. Fernanda também poderia dar aulas de português pra alunos estrangeiros dessa escola, o que ela realmente acabou fazendo ali enquanto ainda estudava. E foi assim que ela aprendeu inglês e francês.
Olha que maravilhosa! E aí, enquanto ela fazia esse curso durante a noite, Fernanda também fez um curso de madureza. Sim, que é tipo uma espécie de suplemento em que ela aprendia as matérias principais do colegial.
E aí, nesse contexto, veio uma virada de chave. Uma das muitas. Aos 15 anos, Fernanda ouvia um anúncio na Rádio MEC.
“Você que é estudante, vem a participar do radioteatro da Mocidade! ” Lembrando que a gente tá falando dos anos 40, né, quando a rádio era o mais poderoso meio de comunicação. E, como contexto histórico, vem aqui com a professora Foquinha, a Segunda Guerra Mundial acabou em 1945.
Então, o mundo vivia uma fase de readaptação. Por volta de 45, como a própria Fernanda contou no seu livro, ela foi num impulso, que surpreendeu até ela mesma, visitar a sede da rádio, assim, sozinha. Ela chegou lá, preencheu um formulário e foi embora, achando que não ia dar em nada.
Dois meses depois, Fernanda recebeu um telegrama pedindo que se apresentasse na rádio. E aí, lá, eles pediram pra que ela lesse um poema como um teste, assim, só. E aí ela foi aprovada.
Foi tão inesperado que os pais da Fernanda nem se deram o trabalho de se opor. Eles simplesmente nem ligaram muito assim, porque achavam que não ia dar em nada. Vamos lembrar mais uma vez aqui que a gente tá falando dos anos 40, né, mores, em que era mais forte ali o papel socialmente designado à mulher de casar, ter filhos, ser “do lar” e tudo mais.
E também, além disso, ser artista nessa época era visto como absurdo por muitos. A própria Fernanda fala sobre isso no livro. Ela contou que, hoje, ela entende que foi atrás desse teste pra buscar um futuro que transcendesse o “apenas fazer”, né.
Que fosse diferente daquilo que já tava socialmente planejado pra ela. Ela queria uma profissão que fosse sensível e que a fizesse livre. E aí, aqui, a gente já vê como ela sempre foi ali à frente de seu tempo.
Então, foi assim que Fernanda iniciou profissionalmente sua carreira de atriz no programa de rádio teatro. O seu primeiro papel foi em “Sinhá Moça Chorou”. No livro, Fernanda relembra que a sensação foi a mesma de quando atuou pela primeira vez, aos oito anos, na igreja.
Ela não ficou nervosa, ela não tremeu, não se sentiu estranha. Era como se ela fosse feita pra aquilo, o que é muito incrível de se pensar, né. Porque parece uma coisa de destino mesmo assim, como se ela já tivesse nascido com esse propósito.
E a Rádio MEC acabou sendo uma escola pra Fernanda e pros outros radioatores da sua época. Lá eles tinham aula de português, de declamação, comunicação, além dos estudos feitos pra cada obra em que eles atuavam. Fernanda também se tornou locutora e apresentadora de vários programas da rádio.
E aí, depois de cinco anos lá, como atriz, locutora, apresentadora, a Fernanda também começou a escrever e produzir o programa "Passeio Literário", com informações gerais sobre literatura, notícias de lançamentos, entrevistas, adaptações de romances, contos ou novelas. Imagina um podcast hoje de Fernanda? Ia ser tudo, né?
E aí veio mais uma virada. Até então, ela usava Arlette Pinheiro como nome pra se apresentar como atriz e locutora, né. Muito que bem.
Quando ela começou a escrever e produzir, ela passou a assinar como Fernanda Montenegro. Até meio de zoeira, assim, como ela mesma contou, né. Ela achava que “Fernanda” tinha um clima de romance do século XIX, eu também acho.
E “Montenegro” era um nome que ela sempre ouvia, porque tinha um médico que ela frequentava na infância, que tinha esse nome, “Dr Montenegro”. [ri] É muito bom, né. Quem diria que uns anos depois, Fernanda Montenegro seria o nome da dramaturgia nacional, né?
Muito maravilhosa. E aí, em 1948, Fernanda Montenegro foi trabalhar na Rádio Guanabara enquanto ainda tava na Rádio MEC. E aí, no elenco ali da Guanabara, também tinha uma galera que eu não sei se vocês conhecem.
Silvio Santos, Chico Anysio, apenas. Todos ali no início das suas carreiras. E no mesmo ano, a Fernanda assistiu a peça “Hamlet”, de Shakespeare, no Teatro do Estudante, protagonizada pelo hoje icônico ator Sérgio Cardoso, que na época fazia o seu primeiro papel.
Era uma montagem bem amadora, mas a Fernanda ficou tão impressionada com a potência de Shakespeare que assistiu à peça umas 18 vezes, e teve certeza de que queria estar nos palcos. E foi em 1950 que vieram seus primeiros passos nos palcos, depois de alguns anos de experiência como radioatriz. Ela foi convidada pra participar da peça "Alegres Canções na Montanha", uma produção que reunia atores experientes e principiantes.
E aí, no elenco, tava Nicette Bruno, Beatriz Segall e outros. Inclusive, o elenco contava também com Fernando Torres, o ator que Fernanda já conhecia ali dos corredores da Rádio MEC, em que ele também trabalhava. E aí, nos ensaios dessa peça, eles começaram um relacionamento que durou 56 anos, até a morte de Fernando, em 2008, aos 81 anos.
E eles tiveram dois filhos, Fernanda Torres, que com certeza vocês conhecem muito bem, e Cláudio Torres. E aí, a peça foi um fracasso, segundo a própria Fernanda contou no livro, e disse que na plateia só tinham ali alguns familiares dos atores. Precisa ter, né.
Toda grande atriz com certeza tem essa história. Mas ela e Fernando, seu namorado, receberam elogios dos críticos. Elogios esses que chegaram aos ouvidos dos produtores da recém inaugurada TV Tupi, a primeira emissora de TV do Brasil.
Fernanda, então, foi convidada pra gravar uma esquete pra TV Tupi. Ela gravou, eles gostaram e assim ela se tornou a primeira atriz contratada da TV Tupi, em janeiro de 1951. Ou seja, isso mesmo, Fernanda foi a primeira atriz contratada da primeira emissora de televisão do país.
Se isso não é fazer história, meus anjos. . .
Só que não foi fácil assinar contrato, né. Lembra que os pais da Fernanda nem se opuseram ao fato de ela ser atriz de rádio porque achavam que não ia dar nada? Muito que bem, como a gente pôde ver, deu, né.
E aí os pais interviram. Na época, década de 50, como eu já falei, ser artista era um absurdo, ainda mais pra uma mulher. Pensa, a televisão tinha acabado de chegar no país e não existia sequer referência do que era ser ator de TV.
Então os pais de Fernanda se opuseram à ideia dela assinar o contrato. Só depois de muita insistência e de explicar que seu emprego na TV tomaria apenas um dia da sua semana, e que nos outros dias ela poderia continuar com os empregos nas rádios e como professora de português, aí sim eles concordaram. E assim foi.
Fernanda estreou como atriz nos programas de teleteatro, porque sim, gente, era tudo ao vivo, como se fosse uma peça de teatro encenada na TV. Durante dois anos na TV Tupi, Fernanda participou de dezenas de peças televisionadas já ensaiando ali pra se tornar uma atriz consagrada. Só que, nessa época, a TV era bem diferente do que a gente conhece e ainda não existia o famoso intervalo comercial, aquela publicidade ali na TV.
Ou seja, os recursos pra manter a TV existindo tinham que vir da própria emissora, o que começou a se tornar insustentável. E aí, com isso, por volta de 1952, aconteceram atrasos no pagamento e, nesse momento, Fernanda voltou ao teatro e não parou mais. Duas peças em que ela atuou nessa época se destacaram entre o público: “Loucuras do Imperador” e “Está lá Fora um Inspetor”.
E, por conta de suas personagens nessas peças, Fernanda ganhou o prêmio de atriz revelação de 1953. Foi aí que ela se perguntou se queria continuar seu trabalho na TV, porque tinha se apaixonado completamente pelo teatro. Ela tinha se cansado dos estúdios e só respirava teatro mesmo.
Aliás, não só ela, né. Ela e seu namorado, Fernando Torres. Ela ingressou na companhia de teatro Artistas Unidos e ele na companhia Eva Todor.
Os dois eram apaixonados por teatro e um pelo outro, tanto que eles se casaram em 53. Ela se casou usando vestido emprestado de Eva Todor, inclusive, porque não tinha dinheiro pra pagar um. E aí, por causa do seu trabalho na companhia, Fernando teve que fazer excursões fora do país e a Fernanda continuou no Brasil.
Segundo Fernanda, a sua estreia definitiva como atriz foi na peça “Mulheres Feias”, também de 53. E aí, olha essa história. Ela interpretaria a filha da protagonista, que era uma mulher feia.
Mas ela não ficou feliz com a escalação e pediu pra que o diretor deixasse ela interpretar a personagem bonita e sedutora sobrinha da protagonista, que era assassinada, inclusive, no segundo ato por causa da sua beleza invejável. E aí a Fernanda pediu isso por quê? Por que ela não queria ser uma mulher feia?
Não. Porque ela queria um desafio, interpretar alguém que fosse totalmente diferente dela. Isso porque, na época, o padrão de beleza era de mulheres carnudas, corpos divinos, rostos perfeitos, como ela mesma disse.
E a Fernanda era bem magra, tinha 1,62m de altura e, apesar de hoje, ela vendo as suas fotos jovens, ela se ache bonita, na época ela não se considerava. E aí o resultado dessa ousadia toda foi a aclamação do público e a sua consagração. A essa altura, mores, Fernanda já tava a todo vapor no teatro.
Ainda assim, em alguns domingos ali, ela pegava o ônibus pra São Paulo pra apresentar uma peça ao vivo na TV Tupi. Aqui ó, na correria. Equilibrando a vida no teatro e na televisão, o que era um ritmo bem intenso na vida dela.
Nessa peça televisionada pela TV Tupi, tava faltando um ator jovem. Foi então que Fernando, marido da Fernanda, aproveitou a oportunidade e se desligou da companhia Eva Todor, voltando pro Brasil. A intenção era também passar mais tempo com a Fernanda, já que eles eram recém casados e não queriam viver separados.
E aí, ele entrou na mesma companhia de teatro da Fernanda, Artistas Unidos, e eles decidiram passar uma temporada morando em São Paulo, em 1954, pra trabalhar na peça televisionada da TV Tupi. No final da temporada dessa peça, Fernanda e Fernando perceberam que a companhia de teatro que eles faziam parte tava se esgotando. Além do fato também de que o Brasil passava por uma crise política depois da morte de Getúlio Vargas.
E aí, com essa insegurança toda, os dois cogitaram largar o teatro. Mas olha o plot twist. Sabe quem convenceu Fernanda a desistir dessa ideia?
Os seus pais, sim. Aqueles que se opuseram à sua carreira de atriz lá no começo. Não tinha como, né.
Ela, ainda bem, ouviu os pais e seguiu, né. E os dois, Fernanda e Fernando, continuaram em São Paulo pra trabalhar em algumas companhias de teatro, que hoje são parte importante da história da dramaturgia nacional, como o Teatro Maria Della Costa e o Teatro Brasileiro de Comédia. E além de continuarem fazendo papéis nas peças de TV.
E tudo sem glamour, tá? Com salários baixos, dificuldade, era tudo pelo amor à arte mesmo. E só um parênteses aqui.
Nas décadas de 50 e 60, Fernanda fez parte de várias obras, muitas acontecendo ao mesmo tempo ali. Por isso eu não vou dar os detalhes de cada coisa, de cada obra, porque seria um vídeo gigantesco. Mas assim, eu vou destacar alguns momentos importantes, obviamente.
Em 1944, por exemplo, Fernanda interpretou sua primeira protagonista na telenovela “A Muralha”, na RecordTV, sendo a primeira telenovela da emissora. E só pra explicar, o formato telenovela, com uma história dividida em capítulos, iniciou em 1951. E, mesmo assim, todas as produções eram feitas ao vivo, porque o videoteipe, o formato que permitia a gravação de vídeo pra reprodução, só chegou ao Brasil em 1960.
E aí, entre 1944 e 62, Fernanda fez parte do programa “Grande Teatro Tupi” da TV Tupi, que exibia peças de teatro, as famosas, adaptadas pra TV. E aí, nesse período, ela participou de várias dessas peças. Fora isso, no teatro, participou de várias peças icônicas, como “A Moratória”, “Nossa Vida com Papai” e “Vestir os Nus”, e foi premiada várias vezes, se consolidando ano após ano como uma dama do teatro nacional.
Em 1959, fundou, ao lado do seu marido Fernando e outros profissionais da área, a Companhia Teatro dos Sete, que durou até 1965, época em que chegaram a fazer excursões em uma Kombi pra se apresentar em alguns lugares do Brasil. E, no meio disso, em 1962, Fernanda engravidou de seu primeiro filho com Fernando, o Cláudio. E aí foi tenso, porque foi uma gravidez agravada por um tumor no ovário, mas que foi bem sucedida.
Cláudio nasceu em julho de 1963. E, no mesmo ano, Fernanda foi contratada pela TV Rio e atuou nas novelas “Pouco Amor Não é Amor” e “A Morta Sem Espelho”. Assim, sem parar, né.
Gravidez, TV, Teatro. . .
- Kombi. [Foquinha] Kombi. Kombi rolando solta, grávida.
Meu Deus! E no ano seguinte, em 64, na Record, ela fez mais duas novelas, “Vitória” e “Sonho de Amor”. E, só pra lembrar, foi nesse ano que a ditadura foi instaurada no Brasil, né.
sE ainda em 1964, Fernanda fez sua estreia no cinema no filme “A Falecida”. Em 1965, estreava a TV Globo. E claro que Fernanda tava lá né, mores!
A sua primeira aparição na emissora foi no programa “Quatro no Teatro". Em setembro de 65, nascia Fernanda Torres, que teve esse nome dado pelo seu pai Fernando, que disse que queria uma Fernanda verdadeira. Porque, né, Fernanda não é o nome de batismo de Montenegro.
Gente, o auge! Segundo Fernanda, a Montenegro, no seu livro, o nascimento da Fernanda Torres foi um alívio em meio ao caos, porque ela e o marido tavam passando por dificuldades, sem emprego fixo, aquela coisa. Pra gente ver como, mesmo fazendo tantos trabalhos, os dois ainda não tinham estabilidade financeira por conta de várias dívidas que eles assumiram ao longo dos anos pra viabilizar os trabalhos no teatro.
E é um reflexo da não valorização da arte no Brasil. E aí eles seguiram se dedicando à arte, vivendo como dava, até que, por volta de 1968, Fernanda foi contratada pela TV Excelsior, e estrelou uma nova versão da novela “A Muralha”, considerada uma superprodução pra época. E aí, nesse mesmo ano, a censura da ditadura militar foi instaurada no Brasil com o AI-5.
E no seu livro, Fernanda conta que ela e seu marido participaram das passeatas e assembleias contra o regime, que, inclusive, a Fernanda desde sempre se posicionou muito politicamente, né. E ela, inclusive, cita a chegada da Tropicália como um respiro de esperança em meio às censuras. E eu falei um pouco mais desse movimento no vídeo sobre a Gal Costa, pra quem quer saber mais.
Bom, Fernanda fez mais papéis na TV Excelsior, onde ela ficou até meados de 1970, quando a emissora foi extinta. Em meio à crise política, Fernanda ficou nove anos longe da televisão e se dedicou ao teatro, lutando diariamente contra as limitações e ameaças do regime autoritário. No seu livro, ela cita uma passagem que aconteceu quando ela tava em cartaz com a peça “É”, em São Paulo.
Fernanda e Fernando tavam hospedados na casa de um amigo e, uma noite, um tiro foi disparado em direção aos quartos dos dois, quebrando a janela e atingindo o teto. Na manhã seguinte, Fernando foi à delegacia denunciar o que aconteceu, mas obviamente nada foi feito. E aí eles começaram a receber telefonemas com ameaças de matar Fernanda em cena durante a peça.
Aí vocês acham que ela parou de fazer peça? Claro que não. Ela, corajosa, seguiu em cartaz e contratou quatro seguranças armados pra ficar na plateia.
E deu tudo certo. Em 1979, Fernanda voltou à TV protagonizando a novela “Cara a Cara”, na Band. Mas foi a partir dos anos 80 que ela começou a sua saga como diva das novelas nacionais.
Ela retornou à Globo por influência de Manoel Carlos, o Manuca, que era amigo dela já. E aí, em 1981, ela integrou o elenco de duas novelas da Globo, “Baila Comigo”, ao lado do marido, Fernando, e “Brilhante”. E, no mesmo ano, ela protagonizou o filme “Eles Não Usam Black Tie”, que se tornou um dos filmes mais icônicos do cinema nacional, ganhando prestígio internacional.
Fernanda se tornou tão referência no entretenimento nacional nos anos 80 que em 85, aos 56 anos, recebeu o convite pra assumir o cargo de ministra no Ministério da Cultura, recém criado na época, inclusive no governo do Sarney. Ela contou no seu livro que ficou assim, incrédula e comovida com o convite, justamente por uma atriz ter sido cogitada pra um cargo tão alto, né. Mas ela recusou o convite, dizendo, em uma carta publicada pela imprensa, o seguinte: [legenda na tela] Olha, gente, se tem uma pessoa que tem amor à arte, essa pessoa é Fernanda Montenegro.
[palmas] A partir daí, acabou, né. Foram mais de 40 anos de TV Globo, participando de mais de 20 novelas. E sem deixar os palcos e o cinema de lado, né.
Fernanda sempre esteve em todos os lugares. Ela fez mais de 30 filmes e mais de 50 peças ao longo da sua vida. Claro que não dá pra citar tudo, como eu disse, não vou nem me atrever a isso, a elencar os papéis mais icônicos.
Porque quando a gente tá falando de Fernanda Montenegro, né, mô, todos os papéis são memoráveis. Tem o “Auto da Compadecida”, “Belíssima”, “Central do Brasil”, “Babilônia”, “Riacho Doce”, “Doce de Mãe”. .
. Ih ó… Mas assim, vocês podem comentar aí nos comentários quais são seus preferidos, que eu ainda vou passar por uns aqui. Vamos lá.
Nos anos 90, Fernanda já era consagrada uma das maiores artistas do Brasil. Tanto que, em 1993, foi inaugurado o Teatro Fernanda Montenegro, em Curitiba. Mas essa potência toda não ficou só por aqui, não!
Em 98, ela protagonizou, ao lado de Vinicius de Oliveira, um dos filmes mais icônicos, se não o mais icônico do cinema nacional, “Central do Brasil". O enredo do filme gira em torno de Dora, uma professora aposentada que trabalha como escritora de cartas pra pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil. E aí, ela ajuda Josué, um garoto que perdeu a mãe, a encontrar o seu pai no Nordeste.
Gente, é um filme incrível, lindo, que levou Fernanda a um novo patamar. Uma atriz reconhecida pela indústria internacional e ajudou a inserir o cinema nacional no circuito mundial. Claro, Fernanda já tinha participado de grandes produções que fizeram o seu nome ser respeitado fora do Brasil.
Mas, dessa vez, foi diferente. Porque Fernanda venceu e foi indicada a algumas das maiores premiações do cinema fora do Brasil. Ela levou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim e o prêmio de melhor atriz das seguintes instituições: New York Film Critics Circle Awards, Los Angeles Film Critics Association Award, National Board of Review, International Film Festival Fort Lauderdale e Festival de Cinema de Havana.
Já as indicações como melhor atriz vieram em… [pigarreia] Globo de Ouro, Internacional Press Academy, Satellite Awards e, atenção, no Oscar de 1999! Sim, mores! Fernanda Montenegro é a única atriz brasileira que recebeu uma indicação ao Oscar por uma atuação em língua portuguesa.
E ela também foi a primeira latina a concorrer à categoria! E ela tava lá, belíssima na premiação. Mas cata os bastidores.
Bom, Fernanda tava em Berlim, por conta do Festival de Berlim, e voltaria ao Brasil no dia seguinte à premiação. Na manhã da sua volta, seriam anunciados os indicados ao Oscar, e “Central do Brasil” tava cotado. E aí, ela tava lá, bem boa, assistindo pela TV e descobriu a indicação do filme a melhor filme estrangeiro e a sua indicação à melhor atriz, junto com Meryl Streep, Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett e Emily Watson, apenas.
E aí, foi uma loucura, né. Fernanda começou a ser procurada pela imprensa internacional, participou do programa do David Letterman, deu várias entrevistas, foi a jantares, eventos e fez todo aquele lobby de indicado ao Oscar. E no dia do Oscar, já no local onde ocorreu a premiação, Fernanda contou no livro que Ian McKellen, ator icônico e muito conhecido por ter interpretado Magneto em “X-Men”, chegou pra ela e disse: “Você sabe quem eu sou?
” Ela respondeu: “Claro que eu sei quem você é”. E ele respondeu: “Eu espero que você ganhe”. [beijos estalados] Gente, imagina isso, apenas!
Mas, bom… Infelizmente, Fernanda perdeu pra Gwyneth Paltrow, por “Shakespeare Apaixonado", que naquele momento se tornou oficialmente a pessoa que roubou o Oscar de Fernanda Montenegro pros brasileiros. Sim, gente, fiquei imaginando se tivesse Twitter naquela época. Meu Deus do céu, gente!
O bicho ia pegar. E aí, no seu livro, a Fernanda conta a sensação de estar ali. Ela disse: [legenda na tela] Gente, até Glenn Close acha que Fernanda merecia ter ganhado, tá?
E numa entrevista em 2020 pra ABC News, a Glenn comentou assim, que não faz sentido a Gwyneth ter ganhado da Fernanda aquele ano, que ela chamou de uma atriz incrível. A Glenn Close tava respondendo perguntas ali falando desse lobby aí do Oscar, e falou sobre isso. E a Fernanda, uma querida, agradeceu, em entrevista ao Conversa com Bial, dizendo que uma colega da dimensão dela lembrar o seu trabalho é um prêmio.
Ai, ela é muito fofa, a Fernanda, gente! Inclusive, existe toda uma teoria do porquê “Shakespeare Apaixonado” ganhou tantos Oscars naquele ano. Foram sete no total, incluindo melhor filme.
Harvey Weinstein, hoje condenado por assédio e abuso sexual, inclusive quando veio a acusação dele foi quando começou o movimento #MeToo, né, vamos só relembrar. Enfim, ele era produtor do filme e investiu pesado no marketing, fazendo até eventos privados pra divulgação, além de contar com a ajuda da imprensa e publicidade. E aí, isso tudo trouxe a teoria, a acusação de que ele teria burlado regras nessa campanha, fazendo com que os quase seis mil votantes da Academia dessem preferência ao seu filme.
Na época, o grande favorito pra vencer melhor filme era “O Resgate do Soldado Ryan”, e foi um choque quando “Shakespeare Apaixonado” venceu. Tanto que a gente vê essa fala da Glenn Close anos depois sobre isso tudo, né. E vamos relembrar também que a Gwyneth Paltrow apareceu recentemente numa entrevista em vídeo com a Vogue, no quadro “73 perguntas”, esses dias mesmo, debochando do prêmio, mostrando ele sendo usado como um peso de porta!
O que deixou, claro, os brasileiros muito putos, teve gente falando também que ela fez isso justamente pra debochar ali do Harvey Weinstein. Enfim, só sei que os brasileiros ficaram putos com aquele peso de porta ali. Mas, depois essa polêmica do Oscar de peso de porta, um representante da Gwyneth veio a público dizer que tudo não passou de uma zoeira, uma piada feita num momento de descontração com a jornalista da Vogue.
Sei… A Gwyneth é essa coisa meio doidinha, né, ela é muito galera. Mas é aquilo, né. Foi triste ter perdido?
Foi, mas a Fernanda ter sido indicada foi histórico, e até hoje é um marco do cinema nacional. Tanto que no mesmo ano Fernanda recebeu, das mãos do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, que é considerada a mais importante condecoração da República, pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas brasileiras. Rainha, né.
Só por esse nome, “Grã-Cruz”, eu já acho chique, sem nem saber o que era. E Fernanda continuou brilhando nos seus trabalhos ao longo dos anos e recebendo o devido reconhecimento, né. Logo nos anos 2000, mais um papel icônico.
Fernanda interpretou Nossa Senhora em “O Auto da Compadecida". Ninguém melhor, né? Inclusive, uma continuação do filme vai ser lançada ano que vem e Taís Araújo vai interpretar Nossa Senhora.
Assim, só as icônicas nesse papel, né. Bom, em 2005, ela interpretou uma das vilãs mais icônicas da TV, Bia Falcão, em “Belíssima”. Foi dessa personagem que veio a fala: “pobreza pega!
” que inclusive é utilizada na abertura do canal do Diva Depressão, quem aí lembra? [Bia] Pobreza pega! [Foquinha] Em 2008, infelizmente, Fernando Torres, marido da Fernanda há 56 anos, faleceu vítima de enfisema pulmonar, aos 81 anos.
E no ano seguinte, 2009, Fernanda foi homenageada com a Ordem do Ipiranga pelo Estado de São Paulo, que é a mais alta honraria concedida pelo Estado de São Paulo, sendo reservada aos cidadãos brasileiros e estrangeiros que prestaram serviços notórios aos paulistas. Em 2012, mais um grande feito. Ela protagonizou o especial de fim de ano da Globo, “Doce de Mãe”.
Pelo papel, Fernanda apenas, apenas, ganhou o Emmy Internacional de melhor atriz. O sucesso foi tanto que, em 2014, “Doce de Mãe” virou uma série de TV e Fernanda foi indicada mais uma vez ao Emmy Internacional de melhor atriz. Dessa vez, ela não levou, mas a série levou como melhor comédia.
Incrível, né? sNo ano seguinte, 2015, Fernanda, aos 86 anos, interpretou Tereza em “Babilônia”, uma personagem lésbica que fez par com Estela, interpretada por Nathália Timberg, também aos 86 anos. Inclusive amiga de longa data de Fernanda, com quem ela contracenou aí desde o início da carreira.
E elas deram um beijo logo no primeiro capítulo! Mais uma vez, Fernanda fazendo história na TV, né. Porque é isso, né.
Além de personagens LGBTs serem raridade na TV, ainda mais dando beijo na boca e ainda aquela época, duas mulheres de 86 anos, que, na trama, eram casados há anos, era algo totalmente fora da curva, né. E ninguém melhor do que duas atrizes icônicas da TV brasileira pra quebrar esse tabu, né. Fernanda disse inclusive, no seu livro, que nunca achou arriscado fazer personagens homossexuais.
Em entrevista, ela disse que a polêmica sobre o beijo das personagens em “Babilônia” foi um escândalo maluco, inexplicável e assustador, e reforçou que muitos dos comentários foram etaristas. Ela disse que não pode acreditar que ainda se espantem com a homossexualidade. Ah, e fica a dica, tá, que esse ano foi ao ar no Viva e Globoplay o especial “Fernanda e Natália, Amigas de Uma Vida”, em que as duas repassam momentos de suas carreiras e amizade.
E Fernanda nunca parou, gente. Em 2019, ela lançou a sua autobiografia, “Prólogo, Ato, Epílogo”, escrito por ela em parceria com a jornalista Marta Góes. Eu já citei muito aqui, porque foi uma das maiores fontes pra essa pauta aqui, pra esse roteiro.
Mas eu recomendo a leitura pra vocês também. Ela também tem feito novelas, programas de TV, filmes e peças quase todo ano. É isso, Fernanda nunca sai do ar.
Mais recentemente, ela fez as novelas “O Outro Lado do Paraíso”, de 2017, e participou de “A Dona do Pedaço”, de 2019. Também teve a série “Amor e Sorte”, de 2020. No cinema, rolaram vários papéis, sendo em “Piedade”, de 2021, o mais recente.
Mas tem mais vindo aí, tá? Em junho desse ano, ela filmou o longa “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, que é o mesmo diretor de “Central do Brasil”. E deve ser lançado no Globoplay em breve.
Assim, imperdível, né? E nesse filme, a gente vai ter a Fernanda Torres também no elenco. Gente, imagina, Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Walter Salles, todos juntos.
E ano que vem, 2024, estreia “Dona Vitória”, filme inspirado em uma senhora de mesmo nome que, aos 80 anos, filmou com uma câmera própria a rotina do tráfico de drogas na ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, e denunciou à polícia. Fernanda vai estar no papel principal e ainda vamos ter Linn da Quebrada no elenco. Gente, encontro de maiores, gigantes!
Nos palcos, é só procurar que sempre tem uma coisa ou outra da Fernanda rolando. E olha só, inclusive ano passado, 2022, ela tomou posse como imortal da Academia Brasileira de Letras e deu um discurso lindo, dizendo entre outras coisas: [legenda na tela] Só pra explicar, o objetivo da Academia Brasileira de Letras é o cultivo da língua portuguesa e da literatura brasileira. De acordo com o site da Academia Brasileira de Letras, as “cadeiras imortais" são formadas por 40 membros efetivos e perpétuos, que se mantêm integrantes da instituição até a morte.
E, por essa definição, as cadeiras as quais ocupam são consideradas imortais. Quando um acadêmico falece, a cadeira é declarada vaga. Escritores, artistas e outros interessados têm dois meses pra confirmar a candidatura pra vaga.
E aí, os integrantes imortais são escolhidos numa eleição por voto secreto. Fernanda ocupa a cadeira 17, sendo a primeira mulher a ocupar a cadeira. Gente, ela não cansa de, assim, realizar feitos e mais feitos, né.
Olha que história incrível! Assim, não deu nem pra falar um terço da história dessa mulher que, com mais de 70 anos de carreira e 94 de idade, é um pilar desse país! Fernanda é uma potência!
Ela sempre vai ser reverenciada por tantas portas que abriu e tantos paradigmas que ela quebrou. E eu fico muito feliz de poder fazer essa homenagem e, de certa forma, perpetuar um pouquinho mais a sua história, né. Até me emociona falar dela, porque realmente, como a gente viu, é incrível mesmo a sua trajetória, né.
E é isso, nem tenho mais o que dizer. Eu só quero dizer que vocês consumam a arte de Fernanda Montenegro e sigam ela nas redes, inclusive, porque ela tá lá apostando, hein, gente. E que venham mais conquistas, mais arte, mais histórias pra ela contar e pra gente aqui aplaudir e consumir, né mores.
Então é isso! Me contem o que vocês acharam, comentem. Vamos aclamar a história de Fernanda Montenegro aí.
Me conta qual é o seu trabalho preferido dela. Se você curtiu, deixa o seu like, compartilha pra todo mundo, porque é muito importante vocês compartilharem esse vídeo pra quem vocês achem que vai se interessar ou pra quem precisa ver esse vídeo. Lembrando também que esse conteúdo tá no meu canal do YouTube e também no meu podcast, Foquinha FBI, disponível em todas as plataformas de áudio de maneira gratuita!
Aqui no canal, o FBI voltou com força total toda semana, e também o Foquinha Entrevista, tá. Então, toda semana tem um vídeo de Foquinha FBI e tem um Foquinha Entrevista pra vocês, beleza? Se inscreve no canal se você ainda não é inscrito.
E é nóis! Até o próximo vídeo.