“Bom demais pra ser verdade” Nós brasileiros sabemos bem o que essa frase significa. É difícil um brasileiro hoje que não conheceu alguém que caiu em golpe de pirâmide nos últimos 10 anos. Telexfree, BBOM, Unick Forex, Revolutyon, todas elas tinham algum modelo de negócios que prometia dinheiro fácil apresentado como uma oportunidade de marketing multinível.
Todas essas e muitas outras espalhadas pelo Brasil tinham uma estratégia semelhante pra enganar a população: prometiam retornos financeiros estratosféricos, algumas chegando a prometer 1% ao dia, e justificavam tamanho retorno em alguma tecnologia nova, que mudaria a maneira como nós fazemos as coisas. As mais recentes focam em criptomoedas, e provavelmente já deve estar surgindo alguma por aí falando em metaverso. Todas elas prometiam algo bom demais pra ser verdade e, por isso, sumiram em poucos anos, às vezes em meses.
Mas teve um cara que conseguiu roubar bilhões de dólares, e levar seu esquema inabalável por mais de quarenta anos. Esse cara foi Bernard Madoff. Com rentabilidade constante de mais de 10% ao ano, comprovada cada vez mais pelos seus próprios clientes, investir com Bernie Madoff parecia uma aposta segura, e uma verdadeira tentação pros investidores.
Bernie prometia que era capaz de trazer bons retornos financeiros. Retornos bons o suficiente, o suficiente pra ser acreditável. Fundada nos anos 60, a empresa de Bernie foi uma das primeiras no mercado financeiro a incorporar computadores nas suas atividades, e durante décadas atraiu um vasto catálogo de investidores de renome, incluindo grandes bancos, empresários e até mesmo estrelas de Hollywood.
Mas o sonho de Bernie não foi eterno, muito menos o dinheiro dos seus clientes, e quando ele se deparou com o maior desafio da sua carreira nos anos 2000, o que se descobriu caiu como uma bomba no mundo de Wall Street, destruindo a reputação que ele construiu durante quase 50 anos no mercado financeiro. Quando foi parar atrás das grades, Bernie continuou tentando os negócios e chegou até a monopolizar o mercado de chocolate quente da prisão, dando um jeito de comprar todo o estoque e revender no pátio a um preço mais caro. Mas suas ações do lado de fora lhe renderam uma pena de prisão de mais de um século, acabaram com sua própria família, levaram muitos dos seus investidores à falência, e entraram pra história como uma das maiores fraudes de todos os tempos.
Essa é a história de Bernard Lawrence Madoff. Bernard Madoff nasceu no Brooklyn, em Nova Iorque, no dia 29 de abril de 1938. Filho de pais imigrantes da Europa Ocidental, o jovem Bernie cresceu em Laurelton, no Queens.
Cursou faculdade na Universidade Hofstra, pela qual obteve seu título de bacharel em Ciências Políticas no ano de 1960. Quando ainda tava no colégio conheceu Ruth Alpern, com quem ele se casou em 1959. Ruth ajudou Bernie a fundar a Bernard L.
Madoff Investment Securities, empresa de investimentos e negociações, cuja especialidade eram os “penny stocks”, que são ações com preços baixíssimos negociadas no mercado de balcão — também conhecido como OTC, um espaço de negociação de operações que não tem registro na Bolsa de Valores. Bernie começou no mundo dos investimentos com o dinheiro que conseguiu economizar de alguns serviços que prestou como salva-vidas e com um negócio de instalação de irrigadores de jardim, além de um empréstimo que recebeu de seus sogros, enquanto ainda tava na universidade. Ele decidiu se dedicar em tempo integral aos negócios e fez amizades com empresários nas cidades de Nova Iorque e Palm Beach na Flórida.
Seu sogro, um contador aposentado, ajudou a impulsionar a empresa nos primeiros anos, que começou a atrair investidores e clientes de peso, como o diretor de cinema Steven Spielberg e o ator Kevin Bacon. Nos anos 60 e 70, a Madoff Investment conseguiu uma boa fama por ter retornos anuais confiáveis, e foi uma das primeiras a utilizar a tecnologia dos computadores nas suas negociações, um grande diferencial na época. Enquanto a empresa crescia, Bernie empregou boa parte de sua família: seu irmão Peter virou o diretor de conformidade, e mais tarde, seus filhos Andrew e Mark também se juntaram aos negócios.
No final da década de 80, a empresa já tinha mais de 5% do volume de negócios de Wall Street e Bernie já era visto como um guru das negociações. Essa fama acabou tornando ele o presidente da Nasdaq, primeira bolsa de valores eletrônica do mundo, cargo que ele comandou por 3 anos. Tudo parecia estar indo muito bem pra Bernie – ele conquistou uma legião de investidores otimistas, prometendo retornos acima do esperado, e depois cumprindo a palavra, mas nunca revelando sua misteriosa estratégia.
E assim, o mercado financeiro simplesmente não conseguia entender: como esse cara mantém lucros tão altos e consistentes, com rentabilidade de mais de 10% ao ano, mesmo passando por tempos de crise? Diferente do que imaginavam, a resposta não podia ser encontrada nos manuais de investimento, mas sim nas páginas das leis criminais norte-americanas. Desde os anos 70, Bernie construiu uma sólida reputação no mercado financeiro norte-americano, ajudou a fundar a Nasdaq e aconselhou a SEC — Comissão de Valores Mobiliários americana.
Mesmo assim, o que seguia sendo um grande mistério era como ele conseguia garantir retornos tão altos em seus investimentos. Mas em 2008, o mundo passou por um episódio que seria o maior desafio da carreira de Bernie – a crise econômica mundial. Depois de várias décadas reinando sobre Wall Street, pela primeira vez o guru se viu à beira do abismo.
Quase que da noite pro dia, Bernie se viu incapaz de pagar seus investidores, e então o seu grande segredo foi finalmente revelado: o negócio de ouro que durante tanto tempo foi sinônimo de sucesso, na verdade nunca passou de um fraudulento esquema Ponzi. Um esquema Ponzi leva esse nome por causa do italiano Charles Ponzi, o criador de um esquema financeiro onde o administrador principal usa o dinheiro de novos investidores pra pagar os antigos e assim o esquema vai ganhando confiança pra atrair novas vítimas. Ou seja, o seu investimento serve pra pagar quem entrou no esquema antes de você, e assim por diante.
Vale ressaltar aqui que, tecnicamente, um esquema Ponzi não é exatamente uma pirâmide financeira. Mas funciona de forma parecida e tem várias semelhanças. Por isso, é muito comum se referir a esquemas Ponzi como pirâmides financeiras, muitas vezes sendo usados como sinônimos.
O problema desse tipo de fraude é que se você não encontrar gente nova pra investir, fica muito difícil pagar os investidores antigos já que você não vai ter dinheiro novo, e aí a chance de todo o esquema desmoronar é gigantesca. Foi exatamente o que aconteceu com o esquema de Bernie Madoff. Com a crise financeira batendo na porta, muitos dos seus clientes tentaram retirar os recursos que tinham investido na empresa.
O problema é que durante a recessão, conseguir novos investidores ficou quase impossível. Os pedidos de saque chegaram a 7 bilhões de dólares, mas Bernie só tinha pouco mais de 200 milhões, então ele simplesmente não tinha dinheiro pra pagar todo mundo. Quando percebeu que tava em um beco sem saída, ele confessou aos seus dois filhos todo o esquema.
Os filhos, Mark e Andrew, que trabalhavam na empresa do pai, foram imediatamente a um advogado que os orientou a denunciar o esquema à polícia. Bernie foi preso no dia seguinte à confissão, no seu apartamento de luxo em Manhattan. A Bernard L.
Madoff Investment Securities agora era responsável pelo maior esquema Ponzi da história. Bernie prometia aos seus investidores retornos muito bons, mas quando recebia o dinheiro, depositava tudo em sua conta bancária pessoal no Chase Manhattan Bank. Ele admitiu que as irregularidades começaram nos anos 90, quando seus funcionários começaram a falsificar os extratos das contas, de forma que parecesse que alguns investidores estavam tendo retornos mais elevados.
Frank DiPascali, ex-diretor financeiro e braço direito da família Madoff, confessou em 2009 que os documentos que detalhavam as negociações eram todos falsos. Seus clientes nunca suspeitaram de nada. Tudo deveria parecer legítimo: Bernie orientava os funcionários de mais confiança a imprimir extratos falsos e colocar na geladeira logo depois que saíssem da impressora, e após serem resfriados, os documentos eram amassados pra que parecessem antigos.
Esse processo era feito antes de entregar tudo a um auditor. Seus clientes eram pessoas influentes da sociedade norte-americana, além de instituições sem fins lucrativos judaicas. Elie Wiesel, uma de suas vítimas, ganhador do Prêmio Nobel da Paz e sobrevivente do Holocausto, perdeu mais de 15 milhões de dólares — que seriam da sua própria instituição de caridade — e economias da vida toda.
Wiesel começou a investir no negócio de Madoff quando ficou sabendo dos bons retornos que ele obtinha comprando títulos simples. “Ele comprou 100 ações da Coca-Cola e vendeu 500 ações da Pfizer", disse Wiesel, descrevendo a estratégia de Madoff, que parecia estar entre os gênios de Wall Street. Bernie e sua esposa levavam uma vida de alto padrão, com bastante luxo em Nova Iorque.
Dentre seus bens, eles possuíam um apartamento em Manhattan que foi avaliado em 7 milhões de dólares, uma propriedade de 11 milhões de dólares em Palm Beach, na Flórida e uma casa no Sul da França — além de iates e jatos particulares. A SEC chegou a investigar os negócios da família Madoff mais de oito vezes, devido aos ganhos acima da média, mas seus métodos não deixavam escapar nada que pudesse ser suspeito aos olhos das autoridades. Além disso, Madoff tinha uma empresa de assessoria financeira que nunca foi fiscalizada ou sequer registrada em algum órgão regulatório até 2006.
Essa empresa gerenciava um fundo hedge, que é um investimento especulativo mais arriscado do que os fundos tradicionais, mas que oferece taxas de retorno mais altas. Um detetive financeiro chamado Harry Markopolos até tentou alertar a SEC que a empresa de Madoff estava operando um esquema Ponzi, no início dos anos 2000. Ao perceber que os resultados extraordinários eram impossíveis de serem alcançados, ele submeteu evidências por escrito cinco vezes, mas foi ignorado.
Bernie Madoff também disse ao jornal The New York Times que os bancos negociavam com sua empresa de consultoria de investimentos e preferiram “se manter cegos” em relação às suas atividades fraudulentas. Estima-se que a empresa fraudulenta tenha arrecadado dezenas de bilhões de dólares com o esquema, mas com a chegada da crise econômica, Madoff se encontrou encurralado em sua rede de mentiras. Agora o jogo havia acabado, e não restava alternativa a Bernie além de ver seu império de mentiras cair ao chão e enfrentar a justiça cara a cara.
Após sua prisão, Bernie Madoff foi julgado e considerado culpado por 11 crimes, incluindo fraude e lavagem de dinheiro. O Wall Street Journal divulgou uma lista de suas principais vítimas, dentre elas, instituições financeiras e bancos como o Santander e o HSBC, além de pessoas comuns, que lotaram sua audiência de condenação em 2009. A população ficou tão furiosa com a revelação do esquema, que no dia de sua audiência, ele teve que vestir um colete à prova de balas pra chegar em segurança no tribunal.
Sua fraude afetou não apenas empresários, investidores e banqueiros, mas também pessoas comuns, que chegaram a cometer suicídio por terem perdido enormes quantias de dinheiro nos investimentos de Madoff. Ele foi condenado a 150 anos de prisão pelo esquema de pirâmide que sugou cerca de 65 bilhões de dólares dos investidores. Bernie insistiu que agiu sozinho durante todos os anos em que fraudou as operações, mas o FBI nunca acreditou nessa versão.
De acordo com as investigações, os documentos finais que foram encontrados sugerem que a empresa de Madoff obteve 47 bilhões de dólares de lucro. Um advogado de Nova York, Irving Picard, processou as pessoas que se beneficiaram do esquema e conseguiu recuperar quase 14 bilhões de dólares das vítimas. Segundo Picard, mais de 60% das contas de clientes que foram extorquidos foram totalmente recuperadas.
Outros 2 bilhões de dólares foram distribuídos a instituições que também foram vítimas do esquema, como escolas e fundos de pensão do Departamento de Justiça dos EUA. As vítimas de Madoff estão espalhadas por mais de 125 países pelo mundo, e por causa disso a justiça dos Estados Unidos criou em 2013 o Fundo de Vítimas Madoff, numa tentativa de ressarcir investidores diretos e indiretos que perderam seus fundos. A justiça norte-americana confiscou mais de 170 bilhões de dólares em bens pessoais da família Madoff, incluindo imóveis, iates, investimentos e ativos.
A esposa de Bernie, Ruth Madoff, deu algumas declarações após a sentença: em 2011 ela disse numa entrevista que o casal tentou tirar a própria vida após a exposição do esquema. Segundo ela, os dois tomaram pílulas sedativas e medicamentos usados pra tratar convulsões na véspera do Natal em 2008. Atualmente Ruth vive uma vida simples em Connecticut, distante de todo luxo e da alta sociedade de Nova Iorque da qual um dia fez parte.
Ela sempre disse não ter conhecimento do esquema comandado pelo marido, mesmo tendo movimentado as contas da empresa durante anos. Sobre os filhos, que trabalhavam na empresa do pai, Mark cometeu suicídio no seu apartamento exatamente dois anos após a prisão de Bernie. O filho mais novo, Andy, morreu de câncer aos 48 anos de idade, em 2014.
O irmão de Bernie, Peter Madoff, se declarou culpado e admitiu ter mentido pra clientes e pra Receita Federal, além de também ter ajudado a fraudar documentos. Quando ficou sabendo que o irmão iria preso, preparou mais de 300 milhões de dólares em cheques pra distribuir pros membros da família, na intenção de limpar as contas da empresa. Peter foi condenado a 10 anos de prisão.
E quanto a Bernie, ele viveu alguns meses em prisão domiciliar na sua cobertura em Manhattan, até o dia que foi levado algemado pra uma prisão na Carolina do Norte, que acabaria sendo seu destino final. A jornada de Bernard Lawrence Madoff acabou no dia 14 de abril de 2021, quando faleceu aos 82 anos na cadeia devido a uma doença renal terminal. Bernie deixou pra trás um extenso legado de mentiras, fraudes, dívidas e vidas destruídas, e seu maior feito foi aquele que ficou conhecido como a maior pirâmide financeira da história.
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