Autismo Leve - 100 Sinais de Alerta no Nível 1 de Suporte

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Lygia Pereira - Autismo Feminino
🎬 Novo Vídeo: 100 Sinais - nem sempre óbvios - do Autismo Nível 1 de Suporte. Olá, Comunidade Espe...
Video Transcript:
Bem, se você está aqui, é porque provavelmente você quer saber mais sobre o espectro do autismo. Seja porque você mesma ou você mesmo foi diagnosticado, ou porque você conhece alguém que tem determinadas características e talvez queira saber se realmente faz sentido pensar em autismo. E hoje nós temos um vídeo super especial para vocês! Aqui, nós vamos desvendar características do autismo que talvez você não conheça, ou que algumas, talvez, você não tenha pensado a respeito. Não conecte com autismo, e sim, são características. Antes de continuar, por favor, não se esqueça de clicar aqui no botão
curtir se você acha que esse conteúdo pode ser útil para você. E, por favor, também se inscreva no canal e clique no Sininho para que você não perca nenhum dos nossos conteúdos aqui e para que você participe dessa comunidade mais especial do YouTube. E agora, por que falar sobre características do autismo? Porque dessa lista aqui com vocês hoje! Bem, porque o autismo é um espectro. Isso significa que cada pessoa vivencia o seu próprio autismo da sua maneira, do seu próprio jeito único e singular. Entender a diversidade pode ser fundamental, tanto para inclusão quanto para autoaceitação,
e claro, para o diagnóstico correto, seja precoce ou tardio, se for o caso. E lembre-se: esse vídeo tem caráter informativo, então, obviamente, não substitui a avaliação de um profissional qualificado. Aqui no canal, nós falamos sobre o autismo de uma maneira mais fluida, mais descontraída, e embora tudo isso seja baseado em ciência, é muito importante que a gente tenha a responsabilidade de usar essas informações, e principalmente porque cada pessoa é um mundo. Especialmente quando nós estamos falando de uma pessoa autista. Então, pegue papel e caneta agora, fique confortável e vamos juntos nessa jornada de aprendizagem e
de muitas descobertas. Para começar, a primeira característica possível e esperada, até, para que a gente pense na hipótese de autismo é a dificuldade na comunicação social. Quer dizer, para a pessoa autista, pode ser um desafio muito grande iniciar conversas, compreender os assuntos e captar pistas sociais. Então, isso é muito frequente, mesmo que esteja camuflado. Nós vamos esperar e vamos observar essa dificuldade, essa falta de traquejo social, e principalmente quando existem nuances, ironias e metáforas. Então a pessoa pode entender racionalmente, mas às vezes tem uma latência, tem um delay ali na resposta. A segunda característica é
ter interesses intensos, específicos, por tópicos muito particulares. Então a pessoa pode ter paixões, mesmo profundas, e dedicar muito tempo a assuntos específicos. A terceira característica é ter habilidades verbais muito avançadas. Então pode ser uma habilidade notável, mesmo na linguagem, um repertório verbal muito amplo, muita fluência – e isso, Ranz, já pegou e notou lá em 1943. Já o quarto traço é ter desafios na interpretação de pistas sutis, pistas sociais. Então a pessoa pode ter muita dificuldade para compreender os sinais sociais que não são tão explícitos, não são tão específicos, não são tão claros e óbvios.
E isso a gente observa muito nas meninas, inclusive. Tem estudos apontando essas dificuldades na escola. A quinta característica tem dificuldades na leitura de expressões faciais e na linguagem corporal também. Então a pessoa pode achar difícil decifrar as emoções dos outros, as intenções que estão por trás daquelas expressões faciais ou dos gestos. Em teoria da mente, o sexto traço é o apego muito forte a rotinas e a rituais. Então a criança pode ter rituais para comer, para ir à escola, para tomar banho, e ela quer manter sempre essa mesma ordem. Qualquer modificação pode ser extremamente ansiógena.
O sétimo traço é a sensibilidade aos estímulos sensoriais: a luz, sons, texturas, sabores, cheiros. Então a pessoa pode ser tanto hipersensível quanto hipossensível a estímulos sensoriais. Se ela for hipersensível, ela vai fugir dos estímulos. Então, tudo isso pode causar uma sobrecarga e, se ela for hipossensível, ela vai fazer uma busca. Então vai querer ficar passando a mão em texturas ou ficar filtrando a luz com os dedos. Isso pode ser um sinal. O oitavo traço é ter dificuldades para expressar suas próprias emoções. E isso pode acontecer também de maneira atípica. Quer dizer, a pessoa pode ter
dificuldade para verbalizar, para nomear o que ela está sentindo, tanto em relação às emoções quanto ao que ela está sentindo fisicamente. Inclusive, tem vídeo aqui falando só sobre alexitimia, porque é bastante frequente que as pessoas não reconheçam e nomeiem o que elas estão sentindo quando estão no espectro. O nono traço é ter hiperreatividade ou hipo-reatividade a estímulos dolorosos. Quer dizer, às vezes até cortar as unhas é uma dificuldade, pentear os cabelos, escovar os dentes, porque a criança sente muita dor. Às vezes, um banho para a criança é desconfortável, porque ela sente realmente como dor. Por
outro lado, a criança pode viver machucada porque não reconhece aqueles estímulos, né? Bater no móvel, por exemplo, como dor. Já aconteceu de clientes me contar, por exemplo, que foram ao parque de diversão com a criança e um brinquedo machucava de forma recorrente, a bicicleta, né? Algum ponto tocava de forma repetida na pele da criança e a criança simplesmente não notava, não reconhecia, não tinha uma reação para fugir daquele estímulo doloroso. O décimo traço é ter dificuldade para entender sarcasmo. Então, às vezes, a criança está tendo ofendida; alguém está sendo irônico com ela e ela pode
levar muito a sério essa expressão, responder de forma literal. Acontece com a criança e, às vezes, isso permanece na fase adulta. Então é um sinal também de que não há uma compreensão dessas pistas sociais. O décimo primeiro traço é ter habilidades excepcionais em relação à memória, sobretudo em relação a esses interesses específicos ou interesses especiais ou hiperfocos. Ranz, já anotava essa memória excepcional, né, nas crianças que ele acompanhava. Quer dizer, às vezes acontece mesmo da criança, mesmo pequenininha, conseguir descrever de forma detalhada algum lugar aonde ela foi. Eu consegui guardar número de telefone, um poema
ou registrar uma história com muita facilidade, e aí ela pode repetir isso com frequência quando a gente nota que talvez tenha algo diferente, porque mostra que é apenas quando há um hiperfoco. O 12º traço é a dificuldade de manter amizades; então, a criança pode não compreender como se cultiva uma amizade. E mesmo na fase adulta, aliás, sobretudo na fase adulta, isso tende a ficar ainda mais difícil, porque na escola ainda tem um ambiente em que os professores conduzem as atividades, fazem grupos, então a criança tem mais oportunidade de socialização. Quando na fase adulta, na faculdade
e tudo, às vezes a pessoa tende a ficar mais isolada, sobretudo quando ela tem muitas frustrações nesses eventos sociais em relação ao cultivo de amizade. Então, já é difícil iniciar uma conversa; imagina manter esses relacionamentos muito próximos. Isso pode ser um grande desafio para as pessoas autistas. O 13º sinal é ter uma fala muito formal e, às vezes, até pedante. Isso não significa que a pessoa autista seja narcisista; pelo contrário, às vezes os autistas, e sobretudo as mulheres, são muito empáticas e ficam até sobrecarregadas com os sentimentos dos outros. Com as vivências, né, o sofrimento
alheio, podem ter, inclusive, fadiga por compaixão. Só que muitas vezes os seus exemplos são auto-referentes. E aí a pessoa parece ser muito egoísta, né, mas na verdade não é. Fica parecendo pedante porque conta o que ela faz, o que aconteceu na vida dela e tudo, e por ter esse vocabulário, às vezes mais formal, o jeito mais sério de falar. Então, isso também pode deixá-la muito polida e, às vezes, pode afastar as pessoas; pode causar uma interpretação equivocada. Essa que é a questão. O 14º traço são os movimentos repetitivos e estereotipados. Então, a pessoa pode acabar
apresentando movimentos motores repetitivos; às vezes a fala também é cíclica. Às vezes a pessoa se balança, gira. Isso não acontece só na infância; é claro que a gente vê no nível 2 e nível 1 de suporte, então a gente vê no ambiente social, mas os meus alunos e outras pessoas contam que fazem isso em ambientes mais privados. A Warner, por exemplo, tinha as próprias clientes dela e tudo, mas isso pode acontecer de forma mais discreta e camuflada, às vezes. Mas esse traço não é imprescindível para que o diagnóstico seja feito. O décimo quinto traço é
a dificuldade para entender as conversas quando elas não são objetivas, pragmáticas ou literais. Então, a pessoa pode ter muito problema para entender como nós dissemos, ou sarcasmo, as metáforas, ironias e outras expressões, né, dramáticas, piadas. Então, às vezes a pessoa acaba sofrendo bullying por isso, porque as pessoas acreditam que ela não seja inteligente e pode causar uma interpretação equivocada também a respeito das suas próprias competências. Então, muitos autistas têm a síndrome do impostor justamente por isso, porque as pessoas vivem rindo delas e comentam que ela não compreende o que está acontecendo no ambiente; parece muito
ingênua. E aí, se a pessoa não tiver autoestima elevada, ela pode acabar internalizando isso como uma vulnerabilidade e sofrendo depois. O décimo sexto sinal é a introspecção. Então, as pessoas autistas podem preferir atividades mais independentes, solitárias, autônomas e está tudo bem se a pessoa tiver esse espaço e se ela não estiver se sentindo isolada, deprimida e tudo, né. Inclusive, as crianças autistas podem assumir esse grau de autonomia muito rapidamente por causa da sensibilidade; às vezes porque não toleram que outra pessoa penteie o cabelo dela, ela vai aprender sozinha rapidamente, vai tomar o seu próprio banho,
vai se vestir para que outra pessoa não assuma esse cuidado. Eu, por exemplo, fui demitida da minha manicure logo nas primeiras vezes que ela fez porque eu ficava mexendo a mão, ficava retirando os dedos, ansiosa, aflita. Então, eu tive que aprender sozinha a fazer as unhas, a cortar o meu próprio cabelo, porque achava o salão muito estimulante. Então, outras pessoas sensíveis também acabam assumindo não só por gosto pelas atividades solitárias, mas também pela sensibilidade. O 17º traço é o hiperfoco em detalhes. Então, às vezes a pessoa está assistindo, né, a família está assistindo a um
filme e todo mundo está observando as cenas, as conversas, as pessoas ali de modo geral. E a criança está atenta aos mínimos detalhes, às vezes do cenário, das cores, da luz, e isso pode ser um problema se ela não compreende a história e, às vezes, é um superpoder se ela consegue captar essas nuances e consegue criar as suas próprias histórias. Isso acontece; tem alguns alunos que criam histórias maravilhosas e as meninas costumam ter esse mundo imaginário riquíssimo. E aí a gente não vai constranger a criança, mas às vezes a gente precisa apontar o que é
significativo em cada cena para que ela consiga se desenvolver, né, consiga aprender habilidades sociais. O 18º sinal é a ansiedade social, que pode ser um diagnóstico específico, sozinho, isolado, mas pode aparecer bastante em pessoas autistas. Então, porque a interação é muito desconfortável; ela não consegue compreender direitinho quais são os sinais sociais, o que ela precisa fazer, como ela vai responder. Como tudo é muito racionalizado, quer dizer, é bastante desgastante e, é claro, causa ansiedade. Porque se a pessoa tem um tipo de frustração em um evento, né, em uma interação social, é claro que ela vai
ficar receosa nessa próxima. Se ela sofre bullying e as pessoas debocham dela, isso tende, assim, a intensificar ainda mais. E com as meninas é um pouco mais complexo; às vezes os meninos, né, meus alunos, falam: "não, não ligo", eles não se ofendem tanto, estão focados em outras coisas. Já para as meninas, esses laços sociais são mais significativos e, quando elas não conseguem mantê-los... Ansiedade social surge e, às vezes, um medo muito grande de passar vergonha. Aqui, nós chamamos de gelotofobia. O décimo nono sinal é o apego emocional a objetos, e isso pode acontecer com pessoas
também. É um apego diferente; as pessoas chamam, às vezes, até de hiperfoco. Então, a criança pode ter um bichinho de estimação, um bichinho de pelúcia, com o qual ela vai ficar, vai dormir, vai para a casa dos amiguinhos e que estabiliza ou regula as emoções dela. Isso pode acontecer com uma pessoa também. Então, as minhas alunas, às vezes, questionam: “é amor ou é hiperfoco?”, porque a pessoa fica vidrada, ali, stalkeando e pensando na pessoa o tempo inteiro, mas não forma o laço. Assim, parece um vínculo emocional muito intenso, só que com um pensamento racionalizado ou,
às vezes, com apego à observação de detalhes. A pessoa acaba perdendo o que é mais importante nesse vínculo, que é a reciprocidade social, entender o que o outro quer dela também, e retribuir o afeto. Então, o vigésimo sinal é ter um humor negro. Às vezes, a pessoa tem dificuldade de entender as piadas bobas do dia a dia, mas como ela é muito literal, esse humor aparece justamente porque ela traduz a realidade de forma muito objetiva. Isso acaba sendo engraçado se ela não se sentir ofendida com esse rótulo de humorista, né? Principalmente nesse estilo que, como
diz Freud, é o único humor que existe: o humor negro. Então, acaba sendo divertido, e quer dizer, ela libera um pouco da tensão no ambiente em que está e segue a vida. O vigésimo primeiro traço é ter um estilo de comunicação muito direto. A pessoa pode realmente se comunicar de maneira muito franca, muito assertiva, muito direta, muito objetiva. Isso, em determinados ambientes, vai ser ótimo; em outros, já pode parecer ofensivo, e a pessoa tem que cuidar, às vezes, ou mudar de ambiente. Mas as pessoas autistas geralmente preferem que outros também conversem com eles de forma
mais direta, porque se ficar cheio de meias palavras, talvez a pessoa nunca entenda. Então, é importante saber disso. O vigésimo segundo traço é ter interesses pouco convencionais. Então, realmente, a pessoa pode colecionar insetos, gostar de dinossauros, de unicórnios e tudo mais que a gente sabe. Às vezes, isso é muito peculiar. O vigésimo terceiro sinal é ter dificuldade para detectar as informações que são mais relevantes em um ambiente. Por exemplo, se é uma festa de aniversário, todo mundo vai saber que chegou a hora de cantar "parabéns", porque as pessoas já vão se aproximando da mesa, tem
um bolo com velinhas, enfim, a música está diferente, as conversas estão diferentes, e a criança autista pode ter uma dificuldade real para detectar essas informações, integrá-las e assumir um comportamento compatível com o que é esperado naquele contexto. O vigésimo quarto sinal é a necessidade de previsibilidade, de muita clareza sobre o que vai acontecer. Isso acontece tanto com adultos quanto com crianças. Os adultos precisam de alarmes, planners, agendas, quadros de tarefas; geralmente, vão buscar trabalhos que ofereçam essa estrutura, onde as pessoas não desmarcam tanto, que sejam menos imprevisíveis. A criança também se sente mais segura se
sabe a sequência das coisas que vão acontecer; esse ambiente não tem muita imprevisibilidade. O vigésimo quinto sinal é a dificuldade em lidar com mudanças inesperadas, justamente por isso, porque a pessoa precisa de previsibilidade. Então, ela vai se sentir insegura, vai se sentir desconfortável se os planos começam a mudar demais. O décimo sexto sinal é ter habilidades artísticas ou criativas muito acima da média. Então, as crianças podem se desenvolver rapidamente, às vezes nem têm habilidade de fala, mas já começam a ter habilidade na música, já percebem as cores muito bem. Às vezes têm ouvido absoluto ou
são muito talentosas. Quando a pessoa usa essa criatividade toda em uma profissão, é ótimo, porque ela alcança a autonomia financeira e fica mais segura na vida. Isso pode criar outros projetos. Mas é uma pena, porque às vezes há uma discrepância entre esse potencial muito alto e as realizações da pessoa. O vigésimo sétimo sinal é ter dificuldades para ler nas entrelinhas. Para a pessoa autista, pode ser muito difícil captar as nuances do discurso e ler as mensagens implícitas. Por isso, quase sempre as pessoas autistas são ingênuas e acabam, às vezes, caindo em golpes. As mulheres, né,
muito frequentemente, acabam entrando em relacionamentos abusivos. Às vezes, têm muita dificuldade para sair desse relacionamento. Há estudos mostrando que mais de 90% das mulheres autistas já sofreram algum tipo de abuso, e isso é muito triste. Inclusive, nós precisamos saber dessas questões, né? Dessas características, justamente para ajudar. Precisamos informar e apontar quais são as mensagens ali implícitas no discurso que ela precisa observar quando está conversando com uma pessoa, os sinais de alerta, né? O vigésimo oitavo sinal é a tendência de levar as instruções muito ao pé da letra e seguir tudo de forma muito literal. Então,
a pessoa pode interpretar as instruções que recebe do trabalho, por exemplo, exatamente como elas são ditas. E qual é o problema? Às vezes, a pessoa recebe um feedback negativo e não entende por quê. Ela pode pensar: "Bom, mas se eu fiz exatamente o que era para ser feito, por que as pessoas não estão satisfeitas comigo?". Na escola, mesmo, uma criança às vezes recebe uma nota abaixo do que previa, e não compreende por que a professora escreve: "escreva de maneira sucinta o que você entendeu sobre o texto", e a criança responde com duas linhas. Quer dizer,
ela escreveu de maneira sucinta, mas, nas entrelinhas, há esse desejo da professora de saber um pouco mais do que a criança realmente entendeu sobre o texto. Não são apenas duas linhas. No trabalho, a mesma coisa. O chefe pode ter expectativa de que a resposta seja um pouco mais... Mas, às vezes, isso precisa ser dito de maneira literal. O vigésimo nono traço é a hipersensibilidade emocional, que aparece às vezes como desregulação emocional. Então, uma pessoa pode explodir porque ela se sentiu ofendida, tensa ou envergonhada. E aí nós vamos ter as três reações mais frequentes ao estresse,
que são a luta, a fuga e a paralisia. Cada pessoa tem o seu jeito favorito de se estressar; algumas, então, mais frequentemente se paralisam, enquanto outras explodem mais. Isso é mais chamativo e assusta mais a família. Talvez essa pessoa que tem a explosão receba o diagnóstico, ou pelo menos o suporte mais rapidamente, enquanto a pessoa que tende a fugir ou ficar em paralisia talvez não chame atenção nem na escola nem em casa e aí vai ser vista até como muito quietinha: chora tão baixinho, fica quietinha lá no canto, nem dá trabalho. E geralmente são essas
meninas que demoram mais a receber o diagnóstico e o suporte necessário. O trigésimo traço é a dificuldade em manter contato visual; isso eu acho que é o que é mais claro, né, que é mais associado ao autismo, é quando a pessoa não faz contato visual, quando ela olha para os lados, não conversa olhando para a pessoa, né, para o interlocutor dela. E isso acontece porque talvez seja muito desconfortável ficar olhando nos olhos. Então, se a pessoa camufla, ela vai olhar na ponta do nariz da outra pessoa, vai olhar na testa; alguns autistas tendem a olhar
na boca, fazer a leitura mesmo dos lábios, né, para compreender a mensagem. Às vezes, a pessoa olha mesmo para o lado e os pais reclamam: "Fala, menina, olha para mim enquanto eu estou falando com você." Tudo, mas na verdade é por uma dificuldade. Há também a característica de fazer um olhar intermitente e ser avaliado desde a infância, né, se a pessoa procura um profissional no ATOS, né, na avaliação ADOS, por exemplo, a gente observa e vai cotar como é esse contato visual. O trigésimo primeiro sinal é o apego a animaizinhos. Então, ter um animalzinho de
estimação, inclusive incentivar se a criança gosta de bicho, porque ela tende a se desenvolver com maior facilidade. No momento em que ela está brincando com o animalzinho, ela vai estar em contato com a natureza, ela pode aprender a cuidar do outro, observar o que o outro precisa, da comidinha, colocar para dormir, e tudo. Então, tem vários elementos benéficos aí nessa conexão, e quando a criança gosta de um bichinho, às vezes elas gostam de bichinhos estranhos, mesmo assim tende a ser benéfico. O trigésimo segundo traço é a fala muito monótona ou, às vezes, ritmada. E os
pais contam que, às vezes, o filho ou a filha têm um padrão para falar, têm uma fala um pouco robótica; às vezes, a entonação é muito limitada ou às vezes tem uma variação muito grande, né? Tem uma fala excedente, daqui a pouco os pais não entendem o que a criança está falando. E tudo isso a gente observa assim na hipótese de autismo. O trigésimo terceiro sinal é a intensidade emocional e, mais uma vez aqui, isso aparece como desregulação emocional, disfunção executiva. Nós observamos quando há uma dificuldade em gerenciar as emoções e, então, elas são expressas
de forma bruta, sem elaboração, e isso assusta muito os pais, assusta às vezes a escola, as outras pessoas. Porque, às vezes, uma criança inteligente, racional, que lê muito, tem um repertório verbal muito amplo, repertório cultural, tem um poder argumentativo muito forte, mas se algo sai do controle dela, ela vai ter uma birra, vai fazer uma pirraça, mesmo que ela já seja grandinha ou mesmo adulta. Às vezes, vai ter uma regulação emocional muito forte que parece incompatível com o nível de inteligência, de competência verbal. O trigésimo quarto sinal é a habilidade de observar as coisas e
observar muitos detalhes. Então, a gente, principalmente com crianças, às vezes nota coisinhas, detalhezinhos que ninguém mais percebe. E às vezes gosta de brincar com bichinhos muito pequenininhos, com bonequinhos muito pequenininhos, porque está ali atenta aos detalhes e tem até dificuldade para ver esse panorama geral. O trigésimo quinto traço é a dificuldade para resolver problemas sociais, conflitos sociais. Tem até estudo de neuroimagem mostrando que as pessoas autistas tendem a resolver esses problemas sociais como se fossem enigmas, problemas matemáticos; querem resolver de forma muito racionalizada. E isso é diferente, porque para os neurotípicos essa resolução de problema
social geralmente acontece de forma espontânea. Quem tem irmão sabe, né? Existe aquele embate, tem uma briguinha, mas daqui a pouco estão brincando juntos e tudo é resolvido, e as crianças se desenvolvem. Mas com a criança autista, isso tudo pode ser bastante dramático, bastante confuso e desgastante. O trigésimo sexto sinal é ter habilidades matemáticas muito acima da média. E não é raro que o autismo venha com altas habilidades. E aí a criança vai se sair muito bem nas matérias que exigem raciocínio lógico, né, como física, química, matemática. E isso é ótimo, inclusive as altas habilidades são
mais facilmente detectáveis quando a criança tem bom desempenho acadêmico. Só que, nesse caso, às vezes o autismo é descartado, porque muita gente acredita ainda que a pessoa que tem bom desempenho acadêmico não possa ser autista. O trigésimo sétimo sinal é ter interesses por tópicos científicos ou técnicos; é um interesse muito forte. Às vezes a criança fica fascinada pela ciência, museus de tecnologia, quer desmontar tudo em casa e às vezes os pais ficam aflitos com essas coisas. O trigésimo oitavo traço é o comportamento de evitação social. Quer dizer, se a pessoa comete muitos equívocos sociais, se
ela não compreende as pistas sociais, se é tudo muito desgastante para ela, a interação, ela pode simplesmente evitar as próximas, porque a frustração faz com que ela fique desmotivada. O trigésimo nono sinal é a dificuldade para entender a intenção por trás das palavras da pessoa. Então, eventualmente, todo mundo cai. Né nessas armadilhas sociais, mas a pessoa autista pode ser realmente muito mais engenhosa. E, às vezes, mesmo que esses sinais de manipulação estejam óbvios, ela não vai detectar. Já falamos sobre essa dificuldade para entender nas entrelinhas, mas, às vezes, essas pistas sociais, que indicam alguma estranheza
naquela situação, a pessoa autista simplesmente não percebe. O quadragésimo sinal é ter dificuldade para manter as conversas. Às vezes, a pessoa autista já inicia as interações dela com tópicos muito profundos, como filosofia ou física quântica. Isso assusta as outras pessoas e não é esperado em uma conversa informal. Além disso, elas nos contam – as pessoas autistas – que ficam em silêncio durante a conversa porque não sabem o que precisam responder ou perguntar. Então, a interação não fica fluida. O quadragésimo primeiro sinal é a necessidade de tempo para ficar sozinha, ou seja, a pessoa precisa, às
vezes, de descompressão. Mesmo que ela goste de socializar, após um evento, como uma festa de aniversário, quando chega em casa, possivelmente essa pessoa autista vai precisar de tempo para relaxar, dormir e ficar em silêncio. E está tudo bem, porque assim ela consegue recuperar as suas energias. O quadragésimo segundo sinal é a expressão de opiniões de forma muito forte e, às vezes, muito funda em teoria. Às vezes, para ter uma discussão com o namorado, por exemplo, a pessoa vai fazer citações e trazer referências científicas, e isso pode ficar muito protocolar e, às vezes, fora de contexto,
fazendo com que as pessoas estranhem. O quadragésimo terceiro sinal é a dificuldade para entender as nuances emocionais, e isso está relacionado à cognição social. Há uma dificuldade para processar as emoções do outro, o que significa que ela tem baixa cognição social nesse aspecto. Assim, a pessoa pode ter dificuldade para entender as sutilezas. Muitas autistas mães me contam que se elas têm dificuldades para entender as próprias emoções, quanto mais para entender as emoções dos filhos! Então, às vezes, elas ficam paralisadas ao sofrer alguma injustiça na escola, por exemplo. O quadragésimo quarto sinal é ter uma mente
muito aberta. Às vezes, o que a gente imagina da pessoa autista é que ela seja muito formal, muito conservadora, muito sistemática. Porém, muitos autistas têm uma mente aberta e têm tranquilidade para aceitar as diferenças das outras pessoas; geralmente, não são preconceituosos. Às vezes, são muito ligados até à justiça e, por isso, eles não conseguem entender por que alguém exclui outra pessoa, por exemplo, ou por que alguém tem uma vantagem e o outro não. O quadragésimo quinto sinal é a inquietação motora. Às vezes, aqueles comportamentos de balançar as pernas ou de ficar estalando os dedos fazem
com que muitas pessoas se sintam confortáveis com esses brinquedinhos de apertar a bolha, né? Então, essa hiperatividade é um dos traços que aparece no critério B como comportamento repetitivo e, às vezes, restritivo. O quadragésimo sexto sinal é uma intensa dedicação aos hobbies, a projetos pessoais. Às vezes, a pessoa tem um mega talento em uma área. A gente imagina por que não usa essa competência como profissão, mas os autistas nos contam que, às vezes, aquele é o território que ele quer preservar; aquele é o território de segurança. Então, ele não quer que ninguém entre naquela bolha
e não quer também esgotar esse interesse pelo tópico. Olha só que contrassenso! Então, é muito frequente que a pessoa autista tenha um trabalho normal, muitas vezes de meio expediente, só para sustentar esse hobby. O quadragésimo sétimo sinal é a dificuldade para participar de grupos sociais. O que acontece? As pessoas autistas, às vezes, questionam, querem entender as coisas. Se elas percebem, por exemplo, uma desconfiança cognitiva, que é muito frequente em grupos sociais, então todo mundo se apoia, mesmo quando algo parece errado. Elas não questionam porque são amigos, mas a pessoa autista não é assim. Então, se
ela não concorda, simplesmente, ela não concorda, e vai expressar suas opiniões e questionamentos. Isso, às vezes, faz com que ela seja excluída do grupo. E, às vezes, simplesmente, ela não se interessa, não se conforma e não quer estar ali. Se ela tem consciência disso, está tudo bem. O problema é que, às vezes, ela não se sente pertencente e sofre. O quadragésimo oitavo sinal é uma tendência de querer dar explicações muito minuciosas. Isso gasta tempo, mas, assim como a pessoa autista gosta de receber instruções e explicações detalhadas, mais objetivas e literais, talvez ela também tenha esse
tipo de comportamento com o filho, com a família, com a esposa ou com o marido. E a questão é que isso gasta muito tempo e, às vezes, realmente, as informações são completamente desnecessárias para quem está ouvindo. O quadragésimo nono sinal é um lado sério. Eu chamo das minhas fadas etéreas as meninas autistas porque, às vezes, elas são sensíveis e têm uma sensibilidade espiritual muito aguçada, sentem as coisas com maior facilidade e, às vezes, são realmente muito intuitivas. Isso pode parecer estranho para algumas pessoas, às vezes, até para elas mesmas, que estão na área da ciência,
mas, quando a pessoa acolhe esse lado etéreo dela, é ótimo. O quinquagésimo sinal é a ansiedade relacionada à mudança e aos imprevistos. Então, a pessoa autista realmente pode ficar extremamente ansiosa e estressada quando há mudanças nos horários, na rotina. Os pais contam que, às vezes, não podem mudar nem um móvel de lugar porque a criança, às vezes, já fica muito instável, se desregula e sente insegurança e ameaça naquele ambiente diferente. O quinquagésimo primeiro sinal é a habilidade de resolver quebra-cabeças, cubos mágicos, problemas lógicos. Eles resolvem, às vezes, em um segundo, e isso pode chamar a
nossa atenção para essa facilidade para resolver problemas complexos. O que é contraintuitivo, e que as pessoas estranham, é que a pessoa resolve muito bem esses desafios. Enigmas, né? Quebra-cabeças. Mas, diante de um conflito ou de um problema social, às vezes relativamente simples para o neurotípico, a pessoa fica paralisada. A pessoa autista... O quinquagésimo segundo sinal é ter interesses pela história, interesse por culturas muito específicos. E a pessoa pode realmente ter um fascínio pela história antiga, pela cultura, por museus; e com isso se torna uma profissão. É maravilhoso! Mas, às vezes, é apenas um hobby, e
a pessoa mergulha nessas investigações. É excelente, a gente aprende muito. O quinquagésimo terceiro sinal é uma sensibilidade aumentada a sons e, às vezes, a texturas específicas. É o clássico, né? Que, às vezes, as crianças autistas não toleram determinados ruídos. É até um sinal, às vezes, de alerta, né? Que a criança fica com as mãos nas orelhinhas, tampando os ouvidos. Ou, às vezes, elas têm um ursinho ou uma textura e ficam passando a mão na roupa porque tem um toque diferente. Então, mais uma vez, pode aparecer como uma busca por estímulos, e às vezes uma versão...
aí tem que tirar a etiqueta de tudo, nem todo tecido a criança tolera. Então, a gente precisa observar se há um desconforto, tanto para um lado quanto para o outro. O quinquagésimo quarto sinal é não ter ansiedade social nenhuma. Então, se a gente estranha quando a criança foge das visitas, quando ela se esconde ou não quer ter contato com as pessoas, a gente estranha também se chega alguém que a criança não conhece em casa, se chega uma visita ou a pessoa que vai trocar o gás, e a criança dá um abraço, fica muito próxima. Isso
também é atípico, e a gente precisa, né, ficar atento a esse sinal. O quinquagésimo quinto sinal é algum tipo de comportamento autoestimulatório. Então, a gente percebe que, às vezes, as crianças e, mesmo os adultos, ficam passando a mão nos cabelos, às vezes enroscando a barba, às vezes até perdem em algum espaço, né? Pedem o pelo na barra, a unha, tiram as cutículas; às vezes se machucam mesmo. Aí, às vezes, é só um balançar que a pessoa faz no ambiente, mais discreto. O que enquadra é o perfeccionismo. Então, as pessoas autistas podem realmente ter uma facilidade
muito grande para detectar problemas e isso pode ser angustiogênico, né? Os erros podem deixar ela estressada. Então, o que acontece? Às vezes, na criança, a criança está na escola, comete um erro, escreve uma palavra errada. Em vez de passar o corretivo, ela arranca a página. E aí, os adultos interpretam isso como raiva, como estresse, mau comportamento, e na verdade, às vezes, é só tentativa de fazer algo correto e tem que ser tratado de uma outra maneira. O quinquagésimo sétimo sinal é a inércia autística. Então, o que é inércia? Inércia é uma lei da física, né?
E, segundo aqui o Google, é a tendência natural de um objeto em resistir às alterações do seu estado original, de repouso ou de movimento. Então, às vezes, as pessoas autistas nos contam que, se elas estão produtivas, elas estão super produtivas; se elas estão paralisadas, empacadas, elas estão super empacadas. E isso causa um estresse, um conflito imenso. A pessoa não consegue entender por que ela sim. E aí, mais uma vez, às vezes vem a síndrome do impostor e um desconforto imenso quando a pessoa tem clareza de que ela tende a ter esses momentos de produtividade intercalados
com momentos de necessidade maior de introspecção. Aí, ela se programa para ficar feliz nesse momento de produtividade e também feliz quando estiver na fase de descompressão. Está tudo certo. O quinquagésimo oitavo sinal é ter paixão por colecionar objetos. E, nas meninas, esse perfil, essa tendência a acumular objetos tende a ser bem compatível com os interesses dos pais. Por isso, talvez, chame tanta atenção e é por isso que as meninas não recebem o diagnóstico tão cedo, geralmente. Então, as meninas colecionam Barbies, maquiagem, objeto de cabelo, canetinha colorida, papel, enquanto os meninos estão nos dinossauros, nos seus
mortos antiguados. Às vezes, objetos muito inusitados chamam mais atenção e, talvez por isso, recebam o diagnóstico mais cedo. O que em quinquagésimo nono sinal é a síndrome do impostor. Então, a gente já falou sobre vários motivos aqui para que a pessoa questione as suas próprias competências. E olha só que interessante: às vezes a pessoa questiona até o mérito para que ela receba o diagnóstico formal de autismo, porque, hoje em dia, o autismo é uma espécie de identidade; a comunidade é muito unida. Então, às vezes, ela sente isso como status social e ela não se sente
merecedora do diagnóstico. Isso pode ser um problema, mas é bastante frequente, e no ambiente de trabalho, por exemplo, porque as autistas, às vezes, têm um comportamento mais infantilizado, talvez elas não tenham crédito; as pessoas, né, os chefes, talvez não as respeitem como elas merecem. O sexagésimo sinal é o apego aos rituais antes de dormir. Então, para que a pessoa consiga pegar no sono, talvez ela tenha uma sequência ali de tarefas, uma rotina rigorosa para cumprir até que ela chegue na cama. E, às vezes, na própria cama, para dormir, a pessoa precisa de um cobertor mais
pesado. Eu gosto de fazer um iglu aqui para proteger a minha orelha, porque eu gosto da orelha coberta para evitar os sons, mas, ao mesmo tempo, eu não gosto do lençol tocando a minha orelha. Então, é todo um processo, e algumas pessoas são ainda mais complexas. O sexagésimo primeiro sinal é a síndrome da boazinha, ou a síndrome do bonzinho. Mas isso acontece mais com as meninas, que às vezes percebem que, se elas são bondosas, assim, elas oferecem o próprio lanche, se elas fazem o dever de casa para as amigas e contribuem, elas acabam recebendo mais
atenção. E aí elas vão cultivando esse tipo de comportamento e acabam sobrecarregadas, no final das contas, porque elas não sabem dizer... Não, o sexagésimo segundo sinal é a sensibilidade às críticas. Já falamos aqui de feedback negativo, e todo mundo recebe feedback negativos, só que a pessoa autista pode ficar extremamente magoada e ressentida. Isso acontece com homens também, mas às vezes as mulheres são ainda mais sensíveis. E aí fica difícil, porque os pais, mesmo que comentem alguma coisa simples, a filha já fica emburrada, fica em silêncio, fica muda, deixa de responder, e os pais não sabem,
às vezes, como lidar com essas questões. O sexagésimo terceiro sinal é um comportamento muito preciosista. Às vezes, isso aparece na linguagem. Nós já mencionamos aqui o perfeccionismo, e o preciosismo às vezes é mais intenso ainda, porque a pessoa fica, por exemplo, buscando palavras mais precisas, mais perfeitas, para expressar os seus pensamentos e suas emoções. E isso, às vezes, deixa o discurso muito prolixo e causa problemas tanto no trabalho quanto nos relacionamentos, e é até bastante frequente entre as pessoas autistas. Você que está no sexagésimo quarto sinal é ter a gesticulação incompatível com o discurso, com
a fala da pessoa. Então, os nossos gestos são usados para enriquecer a nossa mensagem verbal, e, às vezes, na pessoa autista, como ela precisou aprender de forma racional a usar as mãos e os braços durante a sua fala, como isso não foi espontâneo, às vezes os gestos são mais marcados, mais expansivos ou mais neutros, quer dizer, atípicos. O sexagésimo quinto sinal é uma preocupação muito forte com a desigualdade e com injustiças. Então, a criança, desde cedo, pode manifestar esse senso de justiça muito forte e lutar contra a desigualdade, contra preconceitos. Às vezes, a criança é
até tímida, mas ela levanta a voz ou sai do lugar para defender alguém. Inclusive, tem crianças autistas que já avisam os pais que querem ser advogados ou juízas, é muito interessante. Você que está no vigésimo sexto sinal é uma intensa ligação emocional com a música. Então, muitos autistas também conseguem regular as suas emoções a partir de melodias, a partir de músicas e sons. É muito interessante, e se a pessoa tem essa habilidade, é ótimo. Muitas vezes, as pessoas não têm habilidade para cantar ou para tocar um instrumento, mas, desde cedo, quando estão na musicalização ou,
mais tarde, quando estão com fones de ouvido, elas conseguem ficar mais estáveis, tanto emocionalmente quanto fisicamente. A questão de não ter muita expressão facial pode ter um ponto positivo, que é a pessoa não ter muitas rugas, mas o problema é que, na infância, dificulta o vínculo, porque as outras pessoas não entendem o que essa criança autista está pensando. Os próprios pais, às vezes, falam: “não sei se o meu filho está triste ou se está feliz.” E se a criança vai recebendo esses feedbacks também, ela acaba internalizando que ela é estranha, que ela é diferente, e
acaba ficando confusa, porque ela mesma não tem essa impressão de que é pouco expressiva. Você sabe que o sinal tem uma produtividade regular. Então, nós já falamos dessa inércia autística, e outro nome é a produtividade irregular, que é bastante frequente tanto com pessoas autistas quanto com pessoas com TDAH. Para mulheres autistas, isso é bastante frequente porque vem a TPM, e aí têm dor cólica e alterações hormonais. Então, na adolescência, às vezes, há uma queda de rendimento escolar bastante brusca, os pais não entendem, os professores não entendem, a própria autista não entende. Às vezes, é por
isso que basta que se corrijam os hormônios, e a pessoa talvez tenha esse senso de produtividade um pouco maior. O sexagésimo sinal é ter dificuldade para expressar sentimentos, para ser romântico. As meninas autistas, às vezes, né, as adolescentes ou as mulheres autistas, são chamadas de "cubo de gelo". Os rapazes autistas são chamados de "ogros", porque são muito literais e não são românticos. Quando a família, a esposa ou o namorado sabe disso, eles acabam ficando mais confortáveis, e talvez seja o motivo até de riso, de brincadeira, o que vai ser ótimo. O septuagésimo sinal é precisar
de óculos escuros para ouvir. Então, às vezes, as pessoas autistas são muito sensíveis, e elas precisam proteger os olhos para que prestem atenção em outras coisas. E aí elas falam: “ai, mas eu preciso não olhar para a pessoa” ou “preciso estar em um ambiente menos claro” ou mesmo “usar óculos escuros para que eu tenha atenção, para que eu esteja presente.” O trigésimo primeiro sinal é uma dificuldade muito grande para lidar com pessoas muito dramáticas. Então, os próprios autistas, às vezes, tendem a ter uma desregulação emocional e podem exagerar na manifestação de seus afetos, mas, quando
estão perto de uma pessoa que é mais espalhafatosa ou mais brigona, mais agressiva, eles acham aquilo tudo muito desnecessário e às vezes têm dificuldade mesmo de ter empatia por essa pessoa. O trigésimo segundo sinal é uma dificuldade para manter as amizades, para cultivar as amizades. Às vezes, a pessoa até tem facilidade no início da conversa e num encontro, mas tem dificuldade para mandar uma mensagem e fica muito confusa, tem que perguntar às pessoas ao seu redor como responder uma mensagem que recebeu. Então, as coisas ficam muito artificiais, pouco fluidas, e talvez ela não consiga ter
relacionamentos duradouros, manifestar as suas emoções e criar vínculos. O trigésimo terceiro sinal é a camuflagem, que não poderia faltar aqui. Então, diversas pessoas já nos alertaram há anos sobre essa tendência de algumas pessoas camuflarem, esconderem os seus próprios traços autísticos. Isso acontece, sobretudo, com as mulheres, tende a ser muito ansiogênico e dificulta o diagnóstico. Então, os profissionais precisam saber detectar essas estratégias de camuflagem. Inclusive, existem escalas para isso, e eu criei uma aula de imersão só sobre isso. Esse assunto, então, você vai ter acesso a essas aulas e pode se capacitar para identificar tanto os
traços autísticos quanto os traços de camuflagem, que são muito interessantes e importantes na clínica. Continuando aqui a nossa conversa sobre camuflagem, vamos falar então sobre as três estratégias mais frequentes de camuflagem. Então, aqui no nosso septuagésimo quarto item, vamos falar sobre a assimilação. Assimilação é uma estratégia de camuflagem que é muito utilizada quando a pessoa quer se incorporar a algum grupo. Para que ela não se sinta diferente ou excluída, acaba usando os comportamentos normativos para se infiltrar, para estar perto das pessoas. Mas na escola, existem estudos mostrando que, às vezes, as meninas, principalmente, tendem a
ficar perto do grupinho social, mas não são incluídas. Um olhar desatento, né, um adulto, professor, talvez não perceba essas diferenças das meninas autistas, porque elas parecem estar ali, né, conversando com as outras meninas, mas, na verdade, onde estão isoladas, e isso causa uma extrema frustração para algumas meninas autistas. O septuagésimo quinto sinal, então, aqui continuando a nossa conversa sobre camuflagem, vai ser compensar: usar uma habilidade para suprir uma falta. Essa falta geralmente é a habilidade espontânea de socialização. E essa é a falta. A pessoa autista pode usar a capacidade que tem de observar, a capacidade
que tem de aprender com os livros sobre psicologia social, por exemplo. E aí, ela vai aprender quais são os comportamentos que deve utilizar para criar vínculos. O septuagésimo sexto sinal, ainda falando sobre a camuflagem, é o mascaramento, que é o que a gente mais reconhece como sinal de camuflagem de verdade: esconder os próprios traços autísticos. Então, se a pessoa recebe feedback de que tem a face mais congelada, talvez ela vá sorrir mais, vai fazer contato visual. Se ela tem estereotipias, talvez ela esconda, segure a mochila pesada no colo ou faça esses tipos de estereotipias em
um lugar mais reservado. Se ela tem estereotipia vocal, talvez mesmo que a criança perceba que, se emendar aquela estereotipia, né, aquela ecolalia, numa frase normal, atípica ou esperada, ou funcional para as outras pessoas, talvez ela incorpore esse tipo de comportamento. O septuagésimo sétimo sinal é a dificuldade de manter uma reciprocidade socioemocional. Às vezes, os pais percebem que, mesmo bebê, né, a criança não olha para a mãe quando está mamando. Às vezes, se os pais brincam, a criança não retribui aquele sorriso, não quer mostrar, né, o que é interessante para ela. Então, essa dificuldade de apontar,
de seguir, né, com o olhar algo que seja muito atrativo, muito chamativo, tudo isso nos faz pensar em falta de reciprocidade social emocional. Só que, às vezes, é muito sutil, não é perceptível na infância, e a gente vai observar justamente por esses feedbacks que a pessoa vive recebendo de que ela é fria, de que não tem empatia, e, na verdade, ela se sente empática. Então, essa discrepância entre o que a pessoa sente e os feedbacks que ela ouve, né, as observações das outras pessoas, também é um sinal de alerta. O octogésimo oitavo sinal é a
seletividade alimentar, que pode acontecer na infância e pode durar até a fase adulta. Pessoas às vezes me contam que têm sempre o mesmo café da manhã, mesmo almoço, mesmo jantar há anos na sua vida, e esse é um problema, porque, às vezes, a pessoa fica desnutrida se come só comida muito branca. Esse realmente é um grande problema, e, às vezes, é o terapeuta ocupacional quem vai ajudar essa pessoa a treinar o paladar, né, e vai desensibilizá-la para alguns sabores. A integração sensorial, às vezes, é fundamental para a pessoa autista. Inclusive, o tragésimo nono sinal é
um estilo de atribuição muito pessimista, muito negativo. As pessoas deprimidas tendem a ser assim, desesperançosas, e as pessoas autistas, mesmo que não estejam deprimidas, têm essa tendência de enxergar os erros no mundo, os equívocos, os sinais de alerta, né, o que não se encaixa. Talvez elas também tenham pensamentos muito catastróficos, e esse é um problema, porque, às vezes, a pessoa se desenvolve três passos adiante e volta cinco, porque ela tem aquela satisfação da vitória, da conquista, da evolução. Mas, ela fala: "não deve ter alguma coisa errada nisso", e aí volta, continua na ruminação. E aí,
no número 80, nós temos o estilo de atribuição também muito simples, carinhosos, muito unicórnio, muito cor-de-rosa. Então, um outro sinal, né, no caso do autismo, a gente olha os extremos. Quando a pessoa é muito pessimista, muito exagerada, muito literal, e, às vezes, quando é muito inocente, isso também chama atenção. O estilo de atribuição muito positivo, muito otimista, às vezes, coloca a pessoa autista em risco, porque, se ela até detecta os erros, mas não acredita, não interpreta aquilo como uma ameaça, pode se colocar numa situação de risco ou não se proteger quando pode. Esse é um
grande problema. Aqui, no sinal 81, nós vemos que, às vezes, a pessoa precisa de um tempo de latência maior para formular a resposta dela. Então, às vezes, a pessoa está conversando, o outro está aguardando a resposta, e a pessoa está em silêncio, mas está raciocinando, está processando as informações, porque é muito responsável com as suas próprias respostas. Mas isso também, às vezes, acaba deixando o discurso, a conversa, né, muito longa, muito demorada, e muita gente não tem paciência. Esse é um sinal, às vezes, os pais se irritam com as crianças, mas, na verdade, é porque
ela precisa de suporte, precisa de um tempo para formular as suas questões, as suas ideias, elaborar os seus pensamentos. E o octogésimo segundo sinal às vezes aparece como um comportamento compensatório em relação... A essa latência, a esse de lei que tem em relação à resposta, quando autista, minha aluna às vezes me conta, né, que percebe que a família, né, que alguém está esperando aquela resposta dela. Então, ela sabe que, conscientemente, ela criou o hábito de responder: “não sei, tanto faz”. E pode ser porque aí ela já elimina a expectativa do outro e segue com os
seus pensamentos, lá no seu mundo imaginário, pensando no Senhor dos Anéis, no Harry Potter, e está tudo bem. Então, quer dizer, quando ela fica muito ansiosa, o jeito de escoar aquela ansiedade, né, que é energia toda, é simplesmente abandonando o barco, abandonando a conversa. É bastante frequente entre os autistas. Chegamos aqui ao ponto 83, e esse traço às vezes leva a pessoa a se vestir de forma muito autêntica, às vezes até extravagante, diferente. E por que isso acontece? Porque às vezes a pessoa autista não reconhece os códigos sociais e, às vezes, se ela reconhece, às
vezes ela não aprova, não se identifica com esses códigos sociais. E como ela não tem necessidade, às vezes, de se conformar ao grupo, ela vai seguir o estilo, à moda que ela quiser, e às vezes vai ter um cabelo colorido, vai usar roupas diferentes. Então, nesse processo de construção de identidade, talvez ela experimente vários modelos de roupas, estilos e cortes de cabelo, maquiagem e tudo mais. E às vezes é até divertido, principalmente quando a pessoa se aceita, obviamente. O sinal 84 é a necessidade de conforto, e os pais às vezes se queixam muito de que
a menina não veste roupas femininas, que quer usar uma blusa muito larga, calça muito larga e quase que fica de pijama o dia inteiro. Os rapazes, também, às vezes as famílias falam que usam sempre o mesmo estilo de roupa, mas porque precisam de conforto. Às vezes, as interações já são tão desgastantes; a mudança de rotina e uma série de expectativas sociais e de trabalho na escola, enfim, a vida às vezes já é tão complexa para a pessoa autista que, às vezes, o mínimo que ela quer é o conforto na roupa, e está tudo bem. O
sinal 85 é uma dificuldade para digerir determinados alimentos e a pessoa pode ter sensibilidade, pode ter intolerância alimentar mesmo. E isso pode acontecer na infância e às vezes permanece na fase adulta. A pessoa fica sempre se queixando de dor na barriga, de gases; às vezes, refluxo pode atrapalhar o sono, pode atrapalhar suas atividades. Então, é muito bom quando a pessoa reconhece quais são essas sensibilidades e consegue modificar a sua dieta. O sinal 86, ainda que sobre os problemas gastrointestinais, é a constipação, que pode acontecer por vários motivos. Um deles é alimentação pobre em fibras; às
vezes, a pessoa está muito desidratada. Também isso pode acontecer por uma questão de interpretação de que há uma perda quando a pessoa evacua. Às vezes, com crianças, os psicólogos notam essa interpretação equivocada de que é um problema liberar as fezes, e às vezes é um comportamento também autoestimulatório. Então, precisa de profissionais especializados para resolver essa questão e abordar todos os sinais, né? Tudo que seja necessário. O sinal 87, ainda falando aqui sobre controle dos esfíncteres, pode aparecer como a dificuldade de parar de fazer xixi na cama. Então, algumas crianças vão até os 7, 10 anos,
ainda precisando usar fralda para dormir. O sinal 88 pode ser a hiperlexia, e apesar de trazer um valor social muito grande, às vezes é interpretado como algo muito positivo para a criança que é realmente hiperléxica, que tem uma compulsão por leitura. Esse pode ser um grande problema: os pais me contam que, às vezes, determina os horários de sono e a criança, mesmo assim, insiste, esconde o livro no quarto para que ela leia. E às vezes, realmente não consegue fazer outras coisas de forma adequada porque precisa sempre estar lendo, não consegue manter uma conversa. Enfim, gera
ansiedade, e esse é o problema. Quando causa prejuízo, aí a gente tem que considerar como um transtorno, como um problema real. O sinal 89 é o medo de não pertencer. Então, por uma série de frustrações, por uma série de julgamentos, expectativas, as pessoas, a menina principalmente, pode sentir muito medo de ser isolada, de ser julgada, de ser excluída dos grupos. E às vezes é por isso que ela fica muito boazinha ou que elas ficam muito cismadas, têm uma certa gelatofobia, né? Têm medo de passar vergonha. Então, a gente observa isso e é um sinal de
alerta. Chegamos aqui ao nosso nonagésimo sinal, e esse sinal é muito frequente nas meninas e nas mulheres autistas, que é criar scripts para suas interações normais do cotidiano. Então, as meninas às vezes parecem atrizes porque elas fazem listas de perguntas, tópicos para conversas, e se a pessoa sai daquele caminho que era previsto para ela, isso já era um custo muito grande. Ela fica muito aflita, mas às vezes bastante funcional. O nonagésimo primeiro sinal também tende a aparecer mais nas meninas, sobretudo na infância, que é uma maior motivação social. E tem estudos mostrando que as meninas
costumam ser mais motivadas a estar com outras crianças ao longo da infância. À medida que os anos vão passando, por causa de uma série de frustrações sociais, elas acabam se esquivando, então acabam se isolando. E os meninos, pelo contrário, eles tendem a se isolar na infância, mas porque às vezes eles têm habilidades motoras, por exemplo. Então, eles são convidados para jogos e tudo, então acabam, às vezes, treinando essa habilidade social das brincadeiras ali, dos próprios meninos, que têm menos exigência de vínculo. É interessante isso, né? É importante saber desses detalhes. O nonagésimo segundo sinal é
uma facilidade muito grande para captar sutilezas. Então, se a pessoa muda de país ou muda de estado, simplesmente vai fazer uma visita, ela já começa a captar ali o jeito de... Falar do outro é isso; pode ser ótimo. Muita gente não vai ligar, mas às vezes o outro se sente incomodado, acredita que esteja sofrendo um deboche. Minhas alunas me contam que às vezes passam por situações constrangedoras porque não perceberam que estavam imitando aquele sotaque. Esse é interessante, né? E, ao mesmo tempo, pode realmente ser desconfortável. Número 93: a tendência ao monopapo. Nós sabemos que os
autistas podem ter hiperfocos; não é imprescindível para o diagnóstico, mas muitos têm interesses especiais. Aí, se eles estão investigando um assunto, se estão interessados por cultura, por dinossauros, por bonecas, por um filme, por uma série, todo assunto vai ser esse; qualquer interação vai ser motivo para falar sobre esse mesmo tópico. O sinal 94 pode ser uma tendência a pedir muitas desculpas o tempo inteiro. Isso não acontece à toa; acontece porque a criança comete uma série de equívocos sociais, pode ser julgada, não se sentir pertencente, sentir que não atende às expectativas do outro. Então, ela internaliza
que é estranha, que é diferente, e vai pedindo desculpas o tempo inteiro. Os adultos precisam ficar muito atentos logo na infância para não reforçarem essa tendência de pedir muitas desculpas. Às vezes, a criança pede desculpa até para o vento, e isso não é saudável, né? Porque é importante saber pedir perdão, saber reconhecer os próprios erros, mas a gente não quer que a criança seja submissa, que ela não saiba dizer não, que não saiba ser assertiva, que não saiba expressar a sua própria opinião ou, até mesmo, aceitar que ela é diferente. O sinal 95 é a
tendência de criar regras e pressupostos. Quem estuda terapia cognitivo-comportamental vai compreender que são as crenças intermediárias. Estou me lembrando de uma situação em que minha aluna levantou a mão para responder a uma pergunta que o professor fez; era uma pergunta complexa e ela respondeu com muita precisão. Todo mundo olhou para ela e, naquele momento, ela criou a regra: "Se o professor fizer uma pergunta, mesmo que seja simples, nunca mais eu vou responder, porque eu não quero sofrer esse constrangimento." Aqueles olhares foram invasivos para ela. Então, precisamos ficar atentos a esse tipo de pensamento, porque pode
ser bastante disfuncional e atrapalhar o desenvolvimento da pessoa. Esse problema precisa ser abordado. O sinal 96 é uma dificuldade para entrar em brincadeiras simbólicas. Isso a gente observa na infância; às vezes, a criança até usa brinquedos que são compatíveis com a idade ou dos pares, só que ela brinca de forma diferente. Às vezes, ela prepara o ambiente ou faz a cerimônia, e não usa aquele brinquedo como se tivesse outra função. Certa vez, peguei um objeto e usei como se fosse um celular: "Ah, oi, mãe, tudo joia, tal! Você quer falar com Fulano?" Aí passa o
"celular". E a criança diz: "Não, isso não é um telefone; isso é uma caneta." Então, não sabe simbolizar e imaginar que esse objeto possa ser outro. Isso a gente observa na infância, mas também causa muita confusão na fase adulta. Mais uma vez, sobretudo em nível 1 e nível 2 de suporte, que às vezes passaram despercebidos na infância, e agora estão em um relacionamento; às vezes, a esposa ou o marido vai falar: "Não, mas não tem senso de humor, é inflexível, não aceita brincadeiras, não entende o que eu estou falando, é muito literal." Então, a gente
observa esse desconforto. O sinal 97 é justamente a inflexibilidade mental, que às vezes aparece desde a infância: a criança não tolera mudanças, não aceita que as coisas sejam ditas de uma forma diferente da que ela espera. Enfim, tem uma série de repercussões. E às vezes, mesmo na fase adulta, a pessoa é inflexível. No caso das meninas, elas tendem a ser mais flexíveis até o início da adolescência, e aí, durante a adolescência, vão ficando menos flexíveis. Isso tem uma série de hipóteses, e uma delas é justamente cometer muitos equívocos sociais, ter muitas falhas ao longo da
vida, já acumulando muitas frustrações. Aí, elas vão fechando a própria bolha e evitando novas experiências, ficando cada vez mais inflexíveis. O sinal 98 é a tendência a ficar doente, porque a pessoa não reconhece os sinais iniciais de um desconforto, de um problema. Então, às vezes por alexitimia, às vezes por reatividade a estímulos sensoriais, a pessoa não percebe—às vezes não tem interocepção adequada—que precisa esvaziar a bexiga, que está com fome, que está com sede. Isso tudo tem repercussão, porque a pessoa pode ficar desidratada, pode ter infecção urinária de repetição. Portanto, esse problema de detectar e resolver
necessidades fisiológicas pode levar a um adoecimento. Isso é bastante frequente em mulheres autistas, que às vezes são vistas como "complainants", como dramáticas, quando na verdade o problema central está nessa falta de interocepção. O sinal 99 é a baixa autoestima. Esse não é o critério que você vai ver lá no DSM-5-TR, mas, por tudo que a gente conversou aqui, por não conseguir atender às expectativas do outro, por se sentir julgada, por cometer muitos equívocos sociais, por uma série de frustrações tanto na vida acadêmica quanto na vida nos relacionamentos e, às vezes, na profissão, a pessoa pode
interpretar que não é capaz. Esse senso de baixa autoeficácia, de baixa autoestima, de baixa autoconfiança—uma série de fatores—pode levar o autista a realmente ficar mais triste, deprimido, e não investir em seu potencial, que às vezes é gigantesco. Então, isso precisa ser observado, e às vezes é o principal ponto de suporte que a nossa autista ou o nosso autista necessita. Aluno autista precisa, e chegamos aqui ao nosso centésimo ponto: cent. Um sinal de autismo que é precisar de suporte. Então, às vezes a gente acha estranho, né? Porque a pessoa tem muitas competências, é muito criativa, sabe
tocar um instrumento como ninguém, tira notas excelentes em matemática, física e literatura, e escreve histórias maravilhosas. Então, sobretudo, novamente em nível 1 e nível 2 de suporte, às vezes as pessoas estranham muito que a pessoa precise de ajuda. Por exemplo, para enviar uma mensagem simples pelo WhatsApp, para se comunicar com uma pessoa numa festa, precisa de auxílio—às vezes, simples ali—para uma conexão num grupinho da escola. E às vezes, precisa de manter uma rotina, precisa de um maior senso de controle. Isso tudo, às vezes, é muito estranho para a família. A família pode, sem querer, invalidar
essas necessidades dos filhos, né? Da pessoa autista, e pode ser extremamente traumático. Então, quando a gente sabe que todo mundo precisa de suporte, precisa de auxílio, e as pessoas autistas—quer dizer, o diagnóstico de autismo já vem com esse especificador lá que é a necessidade de suporte um, dois ou três—então a gente não precisa ficar chocado com isso. Pelo contrário, a gente tem que favorecer o desenvolvimento da pessoa, sabendo que ela precisa de um suporte em áreas específicas. E está tudo bem. Eu falo para os meus alunos: necessidade de suporte não significa—não é sinônimo de—dependência, nem
dependência emocional, nem dependência financeira. Só precisa, só é necessário saber que você vai precisar de auxílio, né? Ou vai precisar de delegar algumas demandas, ou vai precisar de treinar algumas habilidades diferentes. E está tudo bem se a gente estiver de acordo, né? Se a gente tiver alinhado nessa proposta. Lembrando que a presença ou a ausência desses traços pode variar muito de pessoa para pessoa. O diagnóstico de autismo é dimensional, então também algumas pessoas neurotípicas podem ter alguns desses traços. E quanto mais traços a pessoa tem, né? E mais dos critérios ela tem, talvez mais ela
se aproxime do autismo. Então, ela pode estar, às vezes, no que a gente chama de fenótipo ampliado ou no espectro expandido, que tem mais características, mas não fecha o diagnóstico. Mas se você teve dúvida, eu sinto que talvez seja importante contratar um profissional qualificado e passar por um processo de avaliação formal. E agora, por favor, deixa aqui embaixo nos comentários qual característica foi a mais surpreendente para você. É claro, compartilha esse vídeo com quem você ama, com quem você sente que possa se beneficiar tendo essas informações. E se você deseja aprender mais sobre o autismo,
especialmente em meninas e em mulheres, eu tenho um curso específico sobre isso. É uma aula de mais de duas horas, uma Master Class. O link está aqui abaixo na descrição, e vai ser ótimo ter você comigo nessa jornada de aprendizagem de muitos estudos. Então, um grande abraço e até breve! Até quinta-feira, tchau tchau!
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