E aí O olá boa noite sejam bem-vindos ao Roda Viva nesta segunda-feira de não carnaval estamos ao vivo para todo o Brasil pela TV Cultura emissoras afiliadas e conectados ao mundo Pelas nossas plataformas digitais a pergunta é antiga Afinal o que faz de um livro Um clássico para além da definição formal de estilo literário a palavra passou a designar obras que transcendem o tempo que retratam ou a época em que foram escritas por trazerem questões que são universais e ao permitir ao leitor uma experiência única e transformadora sabe o que faz de um livro o
clássico instantâneo o fato de ele ter todas essas características reconhecidas contemporaneamente pela crítica e pelo público lançado em 2018 primeiro em Portugal e só depois no Brasil torturado vem colecionando prêmios desde então e com protagonistas feminista femininas cuja força vem da Terra e da ancestralidade o livro se inscreve numa linhagem do romance brasileiro que vai de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos a Carolina de Jesus errado a Natália seu jovem autora é um geógrafo doutor em estudos étnicos e africanos e torturado é o seu primeiro Romance no centro do Roda Viva nesta noite Itamar Vieira Júnior
geógrafo formado pela Universidade Federal da Bahia concluiu mestrado e doutorado em estudos técnicos e africanos pela mesma Universidade foram suas pesquisas para esses cursos que o levaram a percorrer de inúmeras vezes o sertão da Chapada Diamantina onde testemunhou fatos que inspiraram a escrever o livro torturado no sertão viu de perto as situações de injustiça e abandono em que vivem os moradores de regiões onde não há governos a justiça não existe para entrevistar O Itamar Vieira Júnior algumas convidamos Adriana Ferreira Silva editora-executiva da revista Marie Claire Mário Câmara escritor jornalista crítico literário e colaborador do jornal
rascunho Paulo Werneck editor da revista literária 451 Renan sukevicius jornalista e apresentador do podcast finitude da Rádio novelo Yasmin Santos editor-assistente do nexo jornal teremos ainda a participação especial da jornalista portuguesa Isabel Lucas crítica literária do jornal público e curadora do prêmio oceanos e que na sua última edição foi concedida autor parado contamos ainda com os desenhos do Paulo Caruso em tempo real Boa noite Itamar muito obrigada para ficar aqui essa noite de carnaval né que todos nós estamos o trailer distanciamento eu queria começar pelo começo o seu livro se tornou uma febre nos últimos
tempos no Brasil mas ele descrever um caminho bastante tortuoso até chegar as estantes brasileiras queria que você Contasse esse caminho que levou aquele fosse publicado primeiro em Portugal e só depois no Brasil e de onde veio a inspiração para esse título que na primeira vez só um pouco estranho para quem ouve Boa noite Vera Boa noite a todos eu agradeço o convite para estar aqui né sinto-me muito honrado lembro de muitos é muitas personalidades admiráveis que sentarão nesta cadeira e fico muito honrada de estar aqui bom o livro foi ele fez um caminho né Um
percurso bem diferente eu tinha escrito o romance não sabia muito bem o que fazer com ele não tinha contato com editoras não tinha contato com escritores e bom dia Queria submeter a concursos e prêmios literários é por sorte quando eu concluir a escrita do romance estava aberta as inscrições para o prémio Leya faltavam poucos dias para terminar e eu fui ao usado né Fiz a esse gesto ousado de mandar enviar eu conheci um pouco do prêmio Eu sabia que os Os Vencedores anteriores eram portugueses mas tinha um brasileiro que já havia Vencido o moçambicano resolvi
enviar e foi assim que o livro veio a público meses depois eu recebi o anúncio né que o livro havia sido vencedor não tinha a dimensão do que era o prémio Leya e o livro foi foi recebido o festejado em Portugal e gerou Uma expectativa no público brasileiro também meses depois foi lançado aqui no Brasil e aí tem o seu caminho é e ganhou desde então mais dois prêmios né o jabuti e o oceanos agora né sim o jabuti o oceanos no fim de 2020 né é nada disso foi esperado nem imaginado o livro foi
crescendo ao longo do tempo foi foi conquistando leitores a crítica começou a falar sobre o livro E aí no fim de 2020 veio mais esse essa surpresa né o livro venceu o prêmio Jabuti de romance literário e semanas depois o prêmio oceanos de literatura é para mim é algo que não esperava mas tem né me trouxe muitas alegrias Então a gente vai conversar sobre tudo isso começando com o Paulo Werneck fala por favor Boa noite Camargo Que bom falar com você eu queria saber assim esse sucesso todo que livro Tá fazendo o quê que foi
mais difícil É nesse livro O quê que foi para você o mais desafiador é etapa da escrita foi algum corte que você tem que fazer foi a angústia da esperar o prêmio que que pesou nessa nesse caminho aí Paulo torturado é uma história bastante antiga que eu comecei há muito tempo né Eu estava profundamente influenciado pelas obras da geração de 30 e 45 romances que fazem parte hoje do nosso cânone literário E foi neste momento que eu comecei a escrever uma história né que tinha como mote as a relação de duas irmãs a relação que
ela mantinha com os pais lhe a terra eu cheguei escrever 80 páginas o título é Vem de um verso do poema Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga e essas páginas eu não tinha maturidade Claro era muito jovem né a página se perderam numa mudança de casa mas a vontade de contar essa história nunca nunca me deixou e anos depois eu fui trabalhar eu cursei geografia comecei a trabalhar no campo e aí é encontrar essa realidade não é está nesse meio descobri o campo brasileiro me devolveu essa vontade de contar essa história e foi assim
que eu retomei essa versão que é a versão que que chegou ao público né mas aí foi também graças ao a ao meu percurso Ao caminho que eu fiz como servidor público está de estar em contato com os trabalhadores rurais Reconhecer essa realidade do Brasil né Desse Brasil mais profundo é Tem pessoas que não gostam muito desse desse termo acho um Clichê Eu gosto muito de pensar no eu mando porque a gente pensa nas nossas origens nas nossas raízes né E foi isso que eu encontrei no campo e veio me devolveu essa vontade de narrar
essa história né de contar essa história então foi assim que eu que eu retomei a versão Nessa versão Inicial E aí chegou ao público né esse livro que que chegou o público foi assim que ele que ele foi escrito a gente fez um pacto aqui antes do programa começar de não dar spoiler agora é com Adriana Impacto difícil de conseguir e tomar não é preciso ser um especialista em Literatura para perceber que a gente tá vivendo um momento um pouco diferente então vou usar dois exemplos numa Livraria da Avenida Paulista a gente entra na livraria
a primeira pilha de livros que tem logo na entrada é uma pilha de feministas e ali tem Bell hooks Trial download tem djamila Ribeiro tem Laura González aí filho em alguma coisa está mudando aí a gente pensa nas últimas edições da Flip por exemplo né Principalmente a partir de 2018 ali com a curadoria da Josélia e fez aquela mudança tão bem vinda colocando na mesma quantidade homens e mulheres e com tendo estrelas que eram autores de países da África ou mulheres como a Leila slimani o calor foi falando a própria de Jamila Ribeiro E aí
quando a gente olha os prêmios do ano passado e o jabuti em especial a gente ver ali que eles refletem o gosto da um Gosto Popular Por que batem ali com a lista de mais vendidos Então os mais vendidos são torturado e o pequeno Mauro anti-racista de Camila Ribeiro e tamaru eu queria que você me falasse como você se vê nesse novo cenário e o que que você pensa deste novo cenário tá bom Adriana é eu eu vejo que há uma mudança em curso né é difícil falar partir desse lugar porque eu penso que autores
negros né autores indígenas sempre escreveram mas muitos não tiveram a oportunidade né não tiver o reconhecimento que merecia um em vida e e ver essas histórias né Tanto do pequeno manual anti-racista como o livro do Laurentino Gomes que trata da escravidão né que tem um peso muito grande na formação do nosso país em todo o racismo estrutural que nos que nos acomete até hoje é eu vejo que há um momento novo né o momento que é tributário também de mudanças na sociedade brasileira que a gente tem vivido nos últimos anos e que dizem respeito às
políticas afirmativas que vem se consolidando ao longo dos anos né Tem uma geração em feira de estudantes né é pobres e negros que puderam acessar a universidade pela primeira vez São pessoas que saem da Universidade com gana de leitura né querendo encontrar é pro buscando referências que que se aproximem de suas vidas que se aproximem de suas histórias e eu vejo além de tudo isso acho que nunca se discutiu tanto na sociedade brasileira temas Como como o racismo né a gente tem tem falado muito sobre isso é eu vejo com muita esperança né Parece que
de fato é um país que passa a olhar para os seus problemas e e faz disso e te encontrado isso na produção literária que tem né que têm sido publicadas nos últimos anos é eu confesso Adriana que eu fiquei muito feliz e quando quando eu tive o livro teve esse reconhecimento no fim do ano passado eu Fiquei imaginando o qual foi a última vez que um livro um romance literário né que tem como centralidade as vidas negras vencer um prémio jabuti ou Vencer um prémio Oceanos oceanos um ano antes a de Jamila Pereira de Almeida
tinha vencido como a história que também fala dessa diáspora Néia a partir do seu lugar Angola e e Portugal Mas eu vejo sim que é uma mudança essas histórias passam até importância não só para as pessoas negras né mas como como é para conhecer para toda a sociedade para que toda a sociedade possa conhecer sim o essa história que nos atinge né porque não é a pena a história de pessoas negras ou indígenas essa história acomete a todos nós porque afinal de contas somos uma sociedade diversa a única multicultural por favor saber foi tomar Boa
noite Boa noite Renata eu digo o seu livro e vou tentar aqui falar um pouco mais da história que tem data spoiler e eu percebi muitas histórias de luto e não só de luto por alguém que morre mais por coisa que acabam né uma casa de Barro que se desfaz ou uma terra que fica em fértil e eu fico pensando no elemento que seja Universal e que ligue o seu dos links do Brasil Rural do Brasil das cidades de Portugal você acha que essa relação que a gente tem como fim das coisas com o fim
da vida é esse elemento e é eu eu penso para o autor é difícil pensar no seu trabalho pensar nos seus escritos né mas eu tenho acompanhado que vem sendo escrito sobre o livro tenho acompanhado por exemplo entrevista de editores e vejo que acho que embora se trate de uma história sobre vidas negras esses herdeiros da diáspora africana que pouco se fala no nosso país porque eles vivem nos encontros mais remotos e e passam por imensas adversidades o que está em jogo ali o que o que aparece no romance é algo que que diz respeito
à experiência humana quer que a Universal né Você pode conhecer essa história no Japão ou na África do Sul ou nos Estados Unidos e ainda assim ali a sentimentos que que a e são todas as culturas que atravessam a nossa experiência humana a a literatura na sua trajetória tem se debruçado sobre sobre esse tema é eu diria que é o tema maior da literatura seja escrita em qualquer língua né em Esse é o tema maior da experiência humana e a questão do luto né é algo que a gente tem vivido que nós como humanos vivemos
desde sempre precisamos aprender a viver com isso algo que se acaba seja uma casa que se acaba estamos vivendo um momento muito duro muito difícil da história da humanidade né É parece que luto é uma palavra que não sai da Imprensa nem das nossas vidas nos últimos meses e daí eu penso que que assim né que essa história também vai vai se comunicando vai dialogando com com essa experiências pessoais dos leitores e de quem tem lido e o romance perfeito Marvel por favor Oi boa noite tomar veja só há quem diga que a literatura não
tem compromisso nenhum com a realidade mas sabemos que essa teoria é um tanto quanto contestável visto o seu poder de construir pontes com os seus leitores fomentar o debate público e até o exercício da empatia só literatura retrata denúncia lugar de fala questões étnico-raciais regimes trabalhistas análogas à escravidão a luta de um povo pelo seu não há pagamento de tudo isso para além de um mero exercício de fabulação e a um caráter de trazer à tona dentro do seu romance O Brasil esquecido desconhecido pelo próprio Brasil e completamente abarrotado pelas grandes elites brasileiras dito isso
eu quero saber se é isso é enquanto ficciones tá enquanto para os a lua você quer trabalhar com essas faltas de sindicância social você tem esse compromisso de você trabalhar uma literatura que de fato tenha um engajamento sociopolítico como é que funciona esse seu trabalho como ficcionista e já que alguns teóricos dizendo ser e é eu Marvel acho que Como como ficcionista é e sistemas chegam de forma secundária a minha literatura à vontade mesmo é de fabular de criar e e eu vejo o país o Brasil um país tão diverso Eu gostaria de falar sobre
ele né e eu tive uma experiência muito própria muito particular de caminhar de trabalhar no campo de viver experiências diversas é a Tony morre são diz que se você quiser ler um livro e não encontrou né que então que você escreva acho que eu procurava por esse livro na nossa literatura né É claro eu inscrevemos coisas maravilhosas que fazem parte da história da nossa literatura são obras consagradas Vidas Secas por exemplo 70 anos depois continua é um livro muito vendido o tecido muito estudado e mas eu sentia falta de algo que se aproximasse desse dia
é dos nossos dias é como se o campo tivesse acabado né na literatura não ninguém se voltava mais para esses temas e essa essa minha vontade de escrever né essa história voltou com muita força a partir da minha experiência profissional é antes de mais nada o que eu quero falar é sobre as personagens eu acho que no fundo como escritor me interessa apenas a ficção né a capacidade de fabular a capacidade da empatia de me deslocar para o lugar do outro é o que vem dessa história né são é tem mais acessórios que dizem respeito
a essa experiência eu poderia escrever uma história parecida Mas a partir da Ótica por exemplo dos latifundiários né explorando a ambiguidade e suas ambições né mas a minha escolha foi pela pela pelo povo né talvez me interessava isso nessa história e eu acho que os temas eles vêm é é como a vida nossa vida não está desconectada do mundo ela não está apartada do mundo se eu for escrever um romance sobre o Marvel certamente as coisas que estão a sua volta vão transparecer e era o que estava à volta dessas dessas personagens de torturado né
e por isso surgem Por isso aparece Yasmin por favor vai tomar Boa noite tô parado é narrado por três personagens femininas e eu queria e você contou aqui que você começou esse livro você queria escrever sobre essa relação de duas irmãs então desde o início Desde quando você era jovem quando a pessoa pela primeira vez nesse livro você queria que fossem duas personagens femininas e eu quero te perguntar por Quem escreveu o livro sobre uma comunidade quilombola é a partir da perspectiva de mulheres e que significava por Itamar jovem que teve aquela primeira ideia e
que significa hoje para você é interessante as mim porque quando eu imaginei aquela primeira versão que eu contei que eu cheguei escrever 80 páginas era uma história narrada em terceira pessoa então era um narrador distante das personagens né que estava contando essa história é uma uma das poucas coisas que eu ainda lembro desses dessas páginas né que depois eu perdi não e não dei continuidade e daí quando voltou essa eu fui alimentando essa história é colhendo informações né anotando imaginando essas personagens é eu percebi que essa história precisava ser narrada pelas personagens mulheres e aí
é um exercício que a gente faz de Ou pelo menos meu exercício de tentar aproximar essa história da realidade e essa foi a realidade que eu encontrei no campo Brasileiro né nos últimos anos de encontrar mulheres que exercem essa posição de poder de liderança nas suas comunidades nas suas famílias no interior do Nordeste principalmente quer são os lugares por onde o caminho e contar essa história para mim de uma comunidade que vive em situação de Servidão né tributária desse regime de escravidão que parece nunca ter acabado em nosso país eu queria contar uma história que
que estivesse que falasse das personagens mais vulneráveis desse sistema né porque a gente tem ali os homens e as mulheres uma situação de extrema vulnerabilidade mas as mulheres também são atravessados pelo machismo né pelas forças do o mercado dentro desse contexto com esse grupo né Elas estão numa situação de maior vulnerabilidade ainda e paradoxalmente elas vêm exercendo essa posição de liderança essa posição de poder em suas comunidades é eu já algum tempo ando com Trabalhadores Rurais não é conheço sindicatos conheço Associação de trabalhadores rurais e eu vejo mulheres ocupando e não são poucas são muitas
né É hoje eu diria Até que a maioria né em muitas localidades é dessas lideranças são exercidas por mulheres e para que eu pudesse aproximar essa história da realidade essa história teria que está focada nas personagens femininas e foi assim e como a literatura é o terreno da Liberdade né eu posso me deslocar para o lugar que eu quero que eu desejo né e essa alteridade não foi Nenhum obstáculo escrever essa narrativa a partir das personagens femininas Tá certo com isso a gente encerra o nosso primeiro bloco vai para um breve intervalo e volta já
com a entrevista com Itamar Vieira Júnior a nós estamos de volta com o Roda Viva com o escritor Itamar Vieira Júnior camada no primeiro bloco A gente abordou alguns dos temas do seu livro A questão da morte do luto o Marco falou bastante das questões sociais a Yasmim falou da predominância dos personagens femininos e tem também um caráter atemporal dessa história a gente tem leves pistas de em que época lá se ela se passa mas ela poderia tanto ser no Brasil colônia quanto no Brasil de Jair bolsonaro Isso é uma das coisas que mais chocam
no livro a permanência dessa situação aqui essas pessoas do campo EA questão fundiária estão submetidas Isso foi proposital em que medida se quis deixar no ar em que época o romance se passava inclusive com uma linguagem que remete um pouco né a uma época mais antiga como isso foi sendo construído na feitura do livro é um li a permanência sem a lei a gente tem pessoas vivendo em regime de Servidão né tributário desse regime escravagista e eu queria eu não me conformava ainda entregar tudo de bandeja ao leitor eu queria desafiá-lo a atc construir essa
história comigo né E como fala de permanência é interessante Vera porque quando eu senti vontade de escrever esse romance de novo foi quando no interior do Maranhão trabalhando no interior do Maranhão eu me deparei com famílias Vivendo em situação de Servidão né como agregados de fazendas em direito a construir uma habitação de alvenaria uma habitação adequada sem direito a terra sem direito a salário e e aquilo me chocou sobremaneira Porque eu conhecia esse Brasil através da literatura do livro dos livros de história eu ia achava que era algo superado na nossa sociedade e da Live
um choque Inicial né eu achei que eu poderia retomar essa história falando dessas irmãs e apartir desse lugar né Desse estranhamento e de todo de tudo que o país vive ainda no campo então é enquanto eu escrevia para mim era interessante manter essa dúvida do leitor em que tempo se passa exatamente a história eu como como autor sei e dou até algumas pistas né aparece ali uma Ford Rural quando as meninas são crianças têm uma referência a cerca de 32 mas ela já não viveram é uma seca que foi vivida pelos antepassados é tem aparece
jamais ao final uma motocicleta quando aparece quando ocorre um acidente importante no livro né então eu fui dando pistas para que os leitores pudessem e é TC esse cenário esse mundo tempo do livro né a partir de sua própria leitura eu não quis entregar de bandeja foi um desafio mesmo e achei como estratégia interessante por ser um romance que ainda trata das permanências dessa desse Brasil arcaico que continua vivo né um Brasil que nunca abandonou o seu status Colonial como você bem colocou né que falar nisso então vamos da colônia para nossa ex-metrópole porque o
livro foi lançado em Portugal e a Isabel Lucas esteve tanto no júri do prémio Leya quanto foi curadora do Oceano dela mandou perguntar se a gente vamos ver a primeira o Olá tem sido um imenso privilégio assistir o percurso deste romance desde cortar a desde que fiz parte do Júri do prémio Leya que ele ganhou em 2018 desde então do por mim muitas vezes a pensar no romance e no autor no risco que que o Itamar Vieira Júnior correu ao escreveu e eu publicado ao insistir nele numa altura em que poderia ser considerado datado por
ter uma narrativa que se situa numa espécie de Brasil arcaico numa geografia Rural longe dos grandes centros Onde se produz a literatura atualmente mais visível no Brasil para mais um livro com alguma relação ou inspiração e também com algumas marcas na chamada literatura regionalista dos anos 30 com nomes como o Graciliano Ramos o Raquel Queiroz que tomar muitas vezes fala para para explicar um bocadinho Universo de onde vem a universo literário de alguma maneira também é denúncia de por igualdades com alguma preocupação social ou seja havia o preconceito a e se calhar Ainda há o
preconceito de que este Brasil que está amar fala não será o Brasil atual mas um Clichê já é ultrapassado eu quero perguntar até que ponto ele te amar tinha consciência desse risco de poder ser considerado datado e como é que trabalha o livro na intenção de sublinhar que o romance fala para a atualidade de um país ainda marcado por feridas que não Saram Ah que bom bom escutar a Isabel né A Isabel Lucas que tem acompanhado a trajetória desse livro desde o começo não é uma grande escritora e crítica portuguesa é eu eu eu tinha
consciência Vera desse risco né tinha consciência do risco que era falar sobre sobre um Brasil que para muitos por exemplo que vivem nas cidades é um Brasil que quase não existe né a gente não tem um contato direto com o campo e ainda mais porque é um livro que se aproxima muito dessa literatura como a Isabel disse a leitura a literatura da geração de 30 né Principalmente esses grandes autores que fizeram a minha cabeça mas eu eu fui movido por essa vontade de contar uma história e dizer que esse país não superou é inúmeros traumas
né E este este este trauma da da escravidão é um trauma que nos perseguem ainda outro e não basta Não não precisa ler o romance para saber disso quem acompanha à imprensa né tem tem tem lido nos últimos tempos nos últimos tempos enumeras trabalhadoras né e trabalhadores têm sido resgatados de situação de escravidão né trabalhadoras domésticas à venda às vezes vivendo na cidade em edifícios com câmera com porteiro né com administração e ainda assim vivem reclusos as né sesteada com seus direitos limitados ou seja essa situação era um risco que o que ocorria que eu
e quando eu mandei e por isso que eu digo quando eu mandei o livro para concorrer ao prémio Leya eu tinha sérias dúvidas eu não tinha consciência Eu não achava que o livro pudesse levar o prêmio né Por tratar de uma realidade tão nossa ainda é tão tão a distinta né tão tão tão brasileira e mesmo assim não conhecida por todos mas eu eu decidi apostar porque o que me movia escrever essa história Era Justamente a paixão que eu tinha por ela ou seja era um projeto antigo um projeto que ganhou vida que ganhou dimensão
com minha própria experiência de vida e eu não queria por nada deixar isso para trás então é foi um risco que eu assumir né um risco calculado exatamente a roda tá aberta a Vera falou sobre o tempo né você não de marca com muita clareza o tempo em que a Trama acontece mas o fato dele ter sido lançado nesse momento esse livro talvez mude um pouco a maneira de ler esse romance né É até mesmo até pela capa ele parece ser o livro dessa era do ninguém solta a mão de ninguém né É por isso
talvez ele esteja muito demarcado talvez fosse outro o o livro Se fosse um outro momento do país alguns anos antes que você publicou e você falando as permanências recentemente o general Villas Bôas Que foi o alto Comandante das Forças Armadas Brasileiras disse numa entrevista publicada em livro que quanto mais igualdade de gênero mais cresce feminicídio quanto mais se combate à discriminação racial mais ela se intensifica quanto maior o ambientalismo mais se agride o meio ambiente como é que essa percepção que se construiu e tá tão predominante nos dias de hoje eu acho que essa essa
visão do General Villas Bôas né que ele põe no livro que ele que ele manifesta é uma é uma tem se manifestado com muita ênfase entre os políticos que fazem parte deste governo né É que eu penso que algo que que está restrito está limitado a esse segmento político não é algo que está posto como debate Na nossa sociedade muito pelo contrário eu tenho visto Há muitos avanços né da sociedade civil nesse sentido é algo que que é discutido a todo momento é muito interessante Paulo percurso que o que o livro fez eu lembro que
quando o livro venceu o prêmio leva lá em Portugal estávamos entre a o primeiro e o segundo turno da eleição E aí eu achei tão interessante porque o meses antes o atual presidente da república é tinha feito uma fala na Hebraica do Rio de Janeiro e essa fala inclusive e foi objeto de de inquérito da procuradoria geral da república né de denúncia aliás e uma fala racista né que ele fazia referências é uma comunidade quilombola alguém quilombola medindo em arrobas de gado etc e tal e aí veio esse Oi e eu vi assim a imprensa
portuguesa enquanto eu queria falar do livro estava muito interessada em saber que país era esse né que país era o Brasil que tinha dado essa dado essa guinada para o passado né então eu durante esse tempo eu fui várias vezes em estado a pensar sobre isso né a refletir sobre isso mas eu vejo assim Paulo que é é algo que está extremamente localizado São pessoas que não querem deixar para trás seus privilégios né e por isso é a gente vez ou outra é surpreendido para por essa Fala claro Estamos numa democracia ele pode manifestar o
o pensamento dele sobre isso mas não é o que condiz com o próprio avanço da sociedade né acho que é uma fala ultrapassada assim como como e escravista né deveria ter do estado no passado essa fala também deveria estar no passado e um dia vai encontrar esse lugar vai retornar ele e vai ser parte da história que tomar você falou agora pouco no primeiro bloco sobre o termo Brasil profundo né que você não entende por que algumas pessoas não gostam dele e eu queria fazer uma pergunta um pouco nesse sentido quando a gente alguns debates
hoje na internet às vezes no ambiente acadêmico existe um certo pedágio uma cobrança para que as pessoas têm um turismo no jeito de falar ou na utilização de alguns termos para que elas possam participar desse debate quando a gente olha temas tão urgentes a serem debatidos como a violência no campo por exemplo importa a forma como se as palavras são ditas eu acho que a palavra sempre tem força né ela importa sobremaneira a forma como ela é Dita e nem sei cenário de violência do campo a também a construção de um discurso que não é
que não está apenas com eu estou com o escritor né Eu trabalho com camponeses com trabalhadores rurais e ao longo desse tempo muitas vezes eu vi esse discurso né se você é elaborado ser falado muitas vezes nesses lugares e é tão interessante que algumas pessoas me dizem assim Mas será que um trabalhador é capaz de dizer algo que que aparece né como como aparece no livro há algumas pessoas acham que as pessoas que vivem no campo tem uma vida de extrema miserabilidade e não são capazes de articular um pensamento político ou não são capazes de
lei de conhecer a própria história e eu acho que o livro também tenta romper um pouco com isso não é mostra a construção o desenvolvimento dessas personagens e de como elas vão conhecendo a história se politizando na medida que são confrontados com o as comunidades com movimentos sociais com movimentos sindicais e vão construindo também esse esse discurso né que um discurso de Deus fez a vida né de defesa ao seu território é eu acredito sim Renan que que é dessa forma né que que acontece Tamar no bloco anterior a gente falou das personagens né e
elas são absolutamente apaixonantes a beloniza Bibiana a Santa Rita pescadeira que são também as narradoras do livro eu acho que muito do Sucesso desse livro é justamente por conta do Carisma dessas três narradoras né eu conheço uma porção de tortoretti que são fãs justamente das personagens eu queria que você Contasse pra gente como você chegou na voz dessas três personagens E por que que você acha que as suas identificaram tanto com as três personagens quem é Adriana eu enquanto Quem escreveu o livro parece que eu estava movido assim como se eu estivesse fazendo uma revelação
para os leitores isso é é tão interessante quando a gente é surpreendido é às vezes soa como prepotência né a gente achar que está contando uma história é que as pessoas não conhecem e o que eu tenho visto dos leitores é que eles têm se conectado com essa história justamente porque elas evoca a história evoca algo de suas memórias familiares afetivas né uma relação com o campo que não está superada ou que foi vivida pelos bisavós pelos avós pelos pais é e daí essa identificação com os personagens né enquanto eu pensava nelas escrevia sobre elas
acho que as maiores referências né dessas mulheres eram as a minha família né com que eu pude conviver desde a infância eu sempre brinco Adriana que as mulheres da minha família tem essa personalidade sólida forte né e de alguma forma foi um guia foi um farol para construção dessas personagens mas não somente elas a ao longo da minha trajetória como o pesquisador como servidor público e também pode encontrar muitas mulheres que que manifestavam essa essa personalidade aqui que também é fascinante né que também nos deixa deslumbrado nos deixa fascinados e acho que tentar aproximar essas
mulheres né seus sentimentos ambíguos né seus sentimentos é esse duelo entre o bem eo mal mesmo numa condição como é que é retratada no romance tudo isso e elas da gente né aproxima do leitor né Eu acho que ele fica conhece nessa a humanidade nessa que eu tive a pergunta parecida com a da Adriana mas que ela complementar que é o fato de as duas serem igualmente protagonistas Bibiana e bem o Nívea e não ser aquela relação tradicional entre irmãs na na literatura de competição de uma semblante podada outra elas são complementares ela se ajudam
e existe solidariedade entre elas né algo que se diz frequentemente que não existe entre solidariedade entre mulheres existe muita entre elas no incidente Inicial e também no incidente final que as une isso também foi uma coisa que você quis deixar como legado e também Vera também é algo que eu tenho que eu tenho presenciado vivido né é tão interessante aqui na epígrafe do romance eu trago o rádio AM que é um escritor que eu admiro imensamente não é acho que me ajudou a ser escritor leu leu Raduan Nassar mas ali em lavoura arcaica ele traz
o retrato de uma família e ruína né e uma família classe média que tem uma vida no campo mas que se arruína pela própria moral pelos costumes né que o que o pai tenta preservar diferente das famílias que eu encontrei das famílias que vivem nessa situação de vulnerabilidade neste Brasil profundo onde a solidariedade é um dado muito importante e eu acredito que é um dado que permite com que essas pessoas né sejam resilientes E resistam essas adversidades que estão e na nossa sociedade né então a solidariedade era algo que certamente né no romance iria surgir
naturalmente Aaliyah um pouco de disputa entre as irmãs na infância mas é algo que é que é muito aceitável que existe entre todos né mas na diversidade elas estão juntas né nos momentos de maior diversidade do romance elas estão juntas é é algo muito precioso muito valioso que eu vi no campo essa capacidade de empatia e de solidariedade essa rede de solidariedade que permite com que essas pessoas resistam A a tanta há tanta violência né do Estado a violência da história a violência como a gente vê o campo brasileiro ainda mata muitos ativistas né sindicalistas
ativistas ambientalistas EA solidão é um dado que precisava estar ali para representar tudo isso Yasmin a relação dos personagens com a Terra no seu livro né tem a ver não só com direito mas como uso que a comunidade dá aquele pedaço de chão cuidado com a terra parece moldar identidade dessas pessoas eu queria que você falasse um pouco da sua função social da terra a partir da escrita de toda de tornando e da sua atuação do INCRA também que você é servidor público há mais de dez anos né de quem de fato é a terra
onde vivem as comunidades tradicionais EA como manter essas tradições sem a terra em bem interessante a essa função social da terra que vai vai estar na Constituição Federal em vários normativos e legislações que tratam da relação com a Terra é algo que pode parecer e a lista né que está no na nossa legislação mas é algo que eu encontrei no trabalhador rural é algo que eles têm muito a relação com a propriedade não é de um bem econômico né é o direito ao território é o direito à Vida é o direito é o direito mais
elementar de todo o ser humano a gente está falando de uma comunidade específica que aparece no livro em torturado mas é esse direito ao solo esse direito à Terra é um direito de todos nós a gente precisa de uma casa para a gente precisa de uma casa para poder morar viver a gente precisa de um chão para pisar né nos deslocamos numa cidade Porque precisamos viver da mesma forma a o trabalhador rural ele ele tem essa relação muito afetiva com a terra muitas vezes eu vi um trabalhador dizer assim olha a terra Saint é nada
não vale nada cresce a mata cresce a capoeira velha né ela só tem algum valor se dela nasce a dela nasce a nossa produção o nosso alimento né ali ela tem valor essa essa relação com a função social da propriedade algo que que é íntimo do Trabalhador ele vai construindo isso ao longo do tempo sem romantismo né é algo que diz respeito ao direito ao território e que não só das Comunidades Quilombolas mais dos indígenas né dos ribeirinhos e de tantas outras comunidades tradicionais que tem no Brasil mas o direito ao território é um direito
que está sacramentado no na legislação internacional o Brasil por exemplo é signatário de Convenções como a White é um 69 e instalar o direito ao território está sacramentado né algo que diz é que diz muito da a construção do humano né do que é humano e do que é a experiência humana em Marte E tu vai tomar a quem diga que o seu livro torturado já nasceu Um clássico visto o tamanho repercussão que o romance tem tido no país desde a sua publicação o que O Itamar sente diante dessa notoriedade que tem ocorrido tanto no
âmbito literário quanto editorial e olha eu eu confesso que eu não tenho nada assim não não penso a respeito disso né eu vejo eu vejo de forma muito 7 com o momento atual as pessoas falando de clássico para mim é só o tempo para dizer né se o livro permanece se o livro é passa a ser estudado se eles tem pessoas que me dizem que não tem dúvidas do que isso vai acontecer mas eu penso não eu tento não não não pensar muito nisso né para mim não é algo importante não é algo importante você
olha a hashtag a torturado no Instagram sim eu eu acompanho as redes sociais né uma forma de divulgar o trabalho eu vejo muita gente falando sobre isso esse suco de um ambiente editorial bem mais reduzido você tinha uma já tava inclusive finalista do jabuti antes do fogão livro orado foi mas você ganhou bom dura que não estava ainda Você mesmo falou não estava planejada não tenho uma carreira que você trilhou assim a assusta e se destaque o vocês têm me perguntado por essa roda sair para outro intervalo vamos assusta um pouco é tudo muito novo
para mim né E a minha maior preocupação é que isso não contamine o Ah o meu projeto literário eu não quero que torturado seja um peso em limpar por exemplo de escrever outras coisas como eu havia planejado então por isso eu penso menos sobre isso que Deus não exatamente para que jogar um pouco mais de pressão a gente está entre os 10 assuntos mais comentados do Brasil no Twitter e entre os 43 que a gente tá com duas hashtag só da viva e torturado então a gente sai para o intervalo para ele assimila e se
volta para janta E aí nós estamos de volta com a nossa entrevista com o autor de torto arado Itamar Vieira Júnior e a gente vai de novo lá Portugal a Isabel Lucas tem agora uma pergunta sobre a linguagem do romance A minha outra pergunta eu tenho a ver com a linguagem a linguagem do livro Como é que chegou essa linguagem algures entre o Realista e o fantasioso com uma voz narrativa carregada de metáforas e simbolismos é e parece uma fala marcadamente geográfica também essa geografia é essencial para o modo como entendo a sua Literatura e
Tamar Acho que são várias perguntas numa peço desculpa pelo abuso mas é a minha impossibilidade estar presente e ter uma conversa viva com o autor e todos quantos participaram nesse quando estão a participar neste programa que me leva a esta espécie de transmissão Quero Agradecer o convite e quero agradecer sobretudo O Itamar e obrigado Isabel bom a linguagem algo que atormenta todo o autor né como é que eu vou contar aquela história como é que eu vou narrar essa história é essa versão que chegou o público é muito diferente da primeira versão Então a primeira
versão era narrada em terceira pessoa mas é ao longo de anos estudando eu eu eu eu fiz um trabalho etnográfico no doutorado E durante muito tempo eu gravei muitas entrevistas né não eram entrevistas eram conversas no dia a dia com muitos trabalhadores e eu voltei para eu voltava para casa e e fazia a transcrição daquelas entrevistas é quando passava horas transcrevendo quando eu chegava no final do dia eu via aquela narrativa tinha tanta melodia Harmonia né era um era algo esteticamente Poderoso estilisticamente poderoso para para uma narrativa E aí a minha decisão de escrever essa
história em primeira pessoa e claro eu não tentei nem matizar fala dos trabalhadores eu tinha consciência de que era um projeto meu né então teria que ter eu imprimir uma marca aquele trabalho e vou recriar essa linguagem recriar este mundo a partir desta dessa experiência né dos falares da forma de contar a história ou seja alguém me disse recentemente que que o romance tem parágrafos longos né é algo que remete a oralidade eu acho que a força da oralidade me deu essa me trouxe esse projeto esse estilo muito próprio é que está no romance e
acho que que também facilita tem facilitado no diálogo com o leitor porque ele porque ele se encontra naquela narrativa que que é tão que vai se tornando tão próxima né próximo a sua vida certo mas eu tinha uma pergunta eu ir a escrita cidade E como que se fomenta as com a construção da sua narrativa e com boses você de alguma forma é contaminado pela pela realidade pelo ambiente externo pela sua própria experiência no Campo como é que sempre que os baixos números sem do ano acho que tudo Acho que a literatura a boa literatura
né e eu quero fazer Rua literatura ela se aproxima muito da vida então eu tô atento a tudo Inclusive a própria a própria ambiguidade do Espírito humano né se aproximar disso para mim é importante é também me preocupa muito no meu processo criativo eu eu eu costumo viver eu brinco é eu vivo muito tempo entre as personagens então há todo um período preparatório a própria escrita eu preciso conhecer as Oi gente eu preciso ter imaginado muito a vida delas mesmo que durante o processo mude algo ali naquele percurso mas no meu processo criativo eu eu
costumo viver muito tempo com as minhas histórias né ele chega fazia anotações faça anotações faço muita pesquisa Eu costumo selecionar bibliografias para ler embora é quando eu começo a escrever essa bibliografia fica toda de lado porque eu não quero escrever um documento né Eu quero fazer literatura é eu fico muito é algo que eu faço assim que faz parte do meu processo criativo fica marquinha presença muito forte também das religiões de matriz africana né usar e é ali um dos momentos mais marcantes do livro as frases encontros as festas a presença dos Encantados naquela comunidade
da fazenda é você já eram estudioso dessas religiões você passou a estudá-las a partir da sua ida à Chapada Diamantina para PC o doutorado E como você vê a violência contra as religiões de matriz africana que tá crescendo no Brasil atualmente Vera eu não conhecia o jar embora viva na Bahia né a gente sabe da importância das religiões de Matriz africanas eu conheci o Candomblé conhecia umbanda né que é muito comum no Recôncavo baiano em Salvador e foi viajando a Chapada no começo dos anos 2010 que eu tive contato com jar eu chegava numa comunidade
E aí me Falavam sobre manifestações culturais falavam Gir ejar e foi o meu primeiro contato a partir dali eu comecei a pesquisar também né a colecionar informações sobre sobre essa religião eu gosto de chamar religião para não criar uma hierarquia sobre o que é Eo que não é religião mas o jarei é um sistema de crenças que tem para onde afluem as religiões de matrizes africanas um pouco é o do catolicismo Rural do Espiritismo das religiões xamânicas e só existe nessa região da Chapada Diamantina eu fui fui provocado a estudar hoje areia principalmente não pela
eu acho que a Mística o lado mágico dessa crença Essa é sua literariamente poderoso poético mas o meu interesse veio sobretudo das relações de solidariedade que se estabelecem na religião passa pelo parentesco fictício né o pai de santo que passa a estabelecer laços de parentesco com pessoas do grupo que fazem parte do jar e de como essa solidariedade assim a exemplo da Solidariedade que aparece lá sororidade entre as irmãs permitem que este grupo é atravessa e as vicissitudes né da sua situação atravesse é tanta adversidade e e e consiga se manter resiliente coeso mesmo quando
tudo ao seu redor conspira para aniquilá-los o meu interesse pelo jarei foi este e claro acho que literariamente sua sua muito muito poético né ver Essas manifestações e entender que o Brasil é muito mais né e tomar é muitas críticas ao seu livro fala usam o termo Itamar dar um novo fôlego à literatura Regional eu entendo que existe ali uma relação com a literatura regionalista efeito mas me incomoda um pouco porque quando a gente fala por exemplo de uma escritora como nigeriana chimamanda ngozi adichie exceto pelo americana todos os livros dela falam muito especificamente de
uma região da Nigéria né de uma guerra um conflito enfim são todos os lados muito regionais Mas é uma linguagem vai uma literatura muito Universal tanto é que ela é um fenômeno pop Oi eu queria saber o que que você pensa disso Você concorda te incomoda não não me incomoda mas não concordo né eu eu entendo as pessoas que estudam por esse viés mas eu costumo dizer que eu não escrevo a minha literatura não é Regional eu falo a partir do meu centro né e fico pensando quem cunhou este termo regional para classificar uma literatura
que era feita Fora do Eixo rio-são Paulo né dito como centro eu acho que a Raquel de Queiroz Jorge Amado José Lins do Rego Graciliano Ramos o Érico Veríssimo escreveram a partir dos seus Centros e eu eu eu penso a minha literatura A partir dessa centralidade das nossas vidas é o que importa o que importa é a perspectiva das personagens que estão ali a perspectiva do autor né e é o que nos faz ver que você deu o exemplo da China Amanda que a nos lugares mais remotos do mundo é universal e que Comunica a
experiência humana entre as pessoas né acho uma Manda ele dá no mundo todo ela foi traduzida para inúmeras línguas ela trata de uma realidade específica ali da Nigéria com exceção do American na e mais Alice tão questões que são universais né o direito à vida à liberdade e o direito à terra a violência né são temas que atravessam todas as sociedades todas as culturas então eu costumo imaginar que que a minha literatura é construída a partir de um centro e as personagens falam a partir do seu centro também de Camargo em relação a essa questão
Regional digamos assim é você não usa no seu livro muitos regionalismos né você não a linguagem da Bahia não tá muito de marcada né então em termos de vocabulário como de syntaxe pensando em grandes autores fez Euclides até o Cassiano João Ubaldo que tinha um frases se você é mais comedido você também não usa o vocabulário da Chapada Diamantina e também não uso da de Salvador e tal você tomar esse cuidado de de não incorrer nesse nesse nesse regionalismo vocabulário por exemplo que o milho a gente mais com uma na escola tentando imitar escritores ou
o Guimarães construir uma linguagem muito própria né muita gente pensa que aquela é a linguagem do Sertão Mas aquela é a linguagem do Guimarães Rosa ele tinha consciência disso não ele recria uma linguagem do do Sertão Mineiro Eu também me preocupei eu não queria recriar essa linguagem eu não queria mimetizar acho que não seria capaz de fazer isso E também o livro poderia se tornar um tanto hermético né mas não pudesse dialogar com grande público eu tinha essa consciência mas ainda assim eu preserva muita coisa muitos vocábulos o que de fato ocorrem e a gente
pode enumerar muitos né geral Calundu não é muita gente diz que letras do arado com dicionário do lado então vai para o Google é descobrir algumas palavras e daí a minha surpresa também quando o livro venceu o prêmio em Portugal né de como isso não interferiu na decisão do Júri né Acho que as pessoas conseguiram atravessar essa esse vocábulo é sem grandes sem grandes problemas né muita coisa e é o que os leitores portugueses me Retornam também sobre o livro Uma pergunta lá no primeiro no segundo bloco de quero falar agora um pouco de diversidade
e um pouco de mercado editorial também né porque tá na moda se diverso e isso é bom mas vem com algum atraso mas isso é muito bom as empresas nos processos de seleção priorizam do candidato a demeter de origem periférica negros o ra mídia tem olhado para questão de raça e gênero com mais atenção e isso o o tutorial nos capa disso também é você acha que essa política de diversidade ela tem um olhar de inclusão ou ela é só retórica eu acho que tem uma olhar de inclusão sim eu acho que existe Renan uma
grande demanda da sociedade por essa diversidade cada vez mais né passamos por um processo de de políticas públicas né de afirmação de políticas públicas eu acho que uma das mais importantes foi o sistema de cotas na universidade que permitiu que uma camada da sociedade que não tinha acesso ao ensino público é Universitário tivesse também então essas pessoas tem saída da universidade e sai com vontade de ler com vontade de escrever né tem essa grana e daí eu acho que as leitoras têm se atentado um tanto a isso começa esse movimento começou com as pequenas editoras
né Acho que as pequenas editoras aqui o que que foram pioneiras em Abrir suas portas para para os escritores que estavam à margem hoje eu já vejo as grandes editoras é depois de sucesso do Sucesso de número As feiras literárias como a flip né Se a gente for olhar a última flip os livros mais vendidos né eram protagonizados por vidas negras indígenas na penúltima flip a mesma coisa ou seja acho que as grandes editoras tem tem aberto né o Seu catálogo tem diversificado o Seu catálogo e eu não acho que é moda eu acho que
é algo que veio para ficar porque não é uma decisão do mercado editorial é uma decisão da sociedade é uma demanda da sociedade cada vez mais é tem esse demandado por obras né que tratem dessa diversidade nossa né somos um país multiétnico né multicultural e a literatura é o espelho de uma sociedade então ela deve esperar também isso o regresso uma provocação você acha que as pessoas estão buscando a diversidade no texto ou um autores negros eu fico pensando é autores negros que se debruçam sobre racismo e autores negros que escrevem sobre diferentes assuntos tem
uma diferença de recepção do público agora que tem esse interesse maior eu acho que tem uma pequena diferença de recepção mas não é determinante porque além de histórias que tratem de vidas negras das vidas que estão à margem né vidas indígenas a também o desejo de se ver representado então a representatividade ela passa por autores negros por exemplo que não escreve necessariamente sobrevida as negras e e esse interesse ele é muito difuso muito diverso Então você vai ter interesse em obras e vai ter interesses interesse no trabalho de autores né e a alguns autores negros
que não não trazem a o racismo né para suas obras eles são livres para escrever da forma que querem e ainda assim despertam o interesse por que fazem boa literatura né porque estão engajados em fazer boa literatura basta lembrar aqui no Brasil há inúmeros exemplos mas eu vou citar um de Fora o James baldwin e escrever um romance inteiro que não era protagonizado por pessoas negras a o quarto de Giovanni né é algo que eu acho isso muito bom né que não ninguém deve dizer o que um escritor negro ou sobre o que ele deve
escrever né E daí essa esse interesse é difuso é interesse em obras mas também interesse na representatividade que o autor negro pode oferecer para os leitores né ele se vem ali também perfeito com isso a gente fecha o nosso terceiro bloco vai para mais um breve intervalo e volta já já conhecer nós estamos de volta com a entrevista com Itamar Vieira Júnior Itamar no último sábado a gente viu a primeira Live da Maria Bethânia na quarentena e ela terminou com o sonho possível quando eu disse que né quando não é possível Mais Sonhar Você vai
esperar uma flor brotar do Impossível chão a gente vive um momento do Brasil em que cultura educação literatura música são É no mínimo para dizer o mínimo escanteados né quando não atacadas diretamente como você como escritor e como Servidor Público ver se esse momento do Brasil e como fazer para que a sociedade Resgate esse seus valores essa sua cultura seus grandes nomes da música da literatura volte a ter e no Brasil vivemos uma prova de fogo né em todos os sentidos acho que como o autor né como uma pessoa ligada ao mundo das Artes eu
vejo um um grande retrocesso nas políticas públicas como servidor que tem como missão né a a classificação do campo a melhoria da qualidade de vida das pessoas o campo Eu também sinto mesmo eu posso dizer até que não ah ah acho que o atual presidente da república foi muito claro durante sua campanha presidencial né sobre o que faria nesse sentido e ainda assim fizeram opção por ele né mas eu eu tenho uma imensa Esperança Vera na na nossa sociedade na educação do nosso povo é que eles desperta em para o que está acontecendo ou talvez
a gente precisar você passar por isso para passar para chegar do o lado mais forte né Então essa Prova de Fogo acho que vem como uma lição em todos os aspectos né E mesmo assim temos resistido né Não só no campo das Artes mas lá o trabalhador no campo tem resistido a todas as investidas é para aniquilá-lo né para para deixá-lo à margem alijá-lo das políticas públicas Acho que tudo isso era necessário para que a gente entender se valorizasse cada vez mais o que é nosso né e o que podemos enquanto sociedade fazer para fazer
deste país um lugar grande é assim como a Betânia eu acho que que eu guardo essa Esperança Eu costumo dizer é uma esperança engajada né eu tenho essa esperança engajada no Brasil e também não há esperança passiva que está só esperando que as coisas aconteçam é uma esperança ativa né Eu Tenho pensado muito nisso certo na área eu acho que finalmente marca diga então toma e se explica um sucesso Editorial de um livro que lida com questões étnico-raciais e um país ainda atolado pelo drama do racismo estrutural e eu acho que é justamente por isso
talvez tenha despertado interesse né a um sentimento na sociedade que muita coisa não pode mais ser tolerada eu fico pensando muita gente diz que mundo horrível esse que que vivemos hoje né mas eu tenho 40 anos eu lembro que há 20 anos não não falávamos tanto sobre o racismo como a gente fala hoje então pode parecer exaustivo porque a todo momento a imprensa fala sobre isso a gente tem se deparado com coisas mas é justamente por isso é porque a sociedade está engajada e não tolerar mais isso então é eu espero que o livro não
não não desperte apenas o interesse dos leitores por esse engajamento né Eu espero que ele seja lido é porque se tratam de vidas né devidas outras diferente das nossas mas eu fico eu acho que ele chegou no momento oportuno né No momento que a gente de BA e certamente e não vamos retroceder eu vejo dessa forma que a sociedade tem caminhado nesse sentido Pode parecer podem achar que eu sou um tanto otimista né mas eu eu preciso desse otimismo para continuar caminhando e trabalhando escrevendo mas muito raramente pega aí eu acho que ele não tinha
pedido é só queria voltar no ponto que você adora falava agora pouco no nesse fundo na fim da semana agora o presidente Jair bolsonaro facilitou editou um decreto que facilitam acesso a armas de fogo no Brasil essa é uma demanda inclusive e do agronegócio né apesar dos Altos índices de violência no campo e de impunidade né segundo o comissão Pastoral da terra 31 pessoas foram mortas em 2019 em conflitos agrários é a uma saída para os assentamentos rurais para as terras indígenas quilombolas de pessoas que lutam por moradia que não seja esse cenário de bang-bang
que a gente vê hoje no campo no Brasil Rural que a lei seja aplicada que a lei que já existe o Brasil tem um a lição né cidadão que foi construída que foi promulgada a 30 anos mas é uma constituição avançada em inúmeros aspectos né E este de da Terra para garantir o território as Comunidades Quilombolas garantia a função social da propriedade para reforma agrária se tudo isso for aplicado acho que a gente tem como mitigar essa grande violência que existe no campo é claro o Renan que assustador tudo que tá acontecendo nessa edição a
gente fica imaginando para Que tantas armas né Para que é ditar tanto os decretos né permitindo armamento da população se a gente já vive uma situação de violência extrema o Brasil é um dos países mais violentos do mundo e não só em relação as pessoas no campo né Elas estão vulneráveis sim mas na cidade a gente vive um genocídio negro nas periferias é isso não vende muito tempo imagine agora com essa liberação total de armas né O que é que vai se tornar este país é algo que a gente vai ter que lidar lá na
frente quando esse governo passar né sobre tudo isso a gente vai vai precisar se debruçar sobre esses decretos né sobre o sobre o armamento da população para tentar encontrar saídas mas basta a legislação que existe hoje para mitigar os conflitos no campo serem aplicadas que a gente já garante um pouco essa pacificação Sem dúvida eu queria te perguntar é sobre essa Isabel Lucas lá de Portugal fez uma pergunta você sobre o risco do regionalismo né que ela falou sobre aquela questão de perguntar sobre o risco do engajamento não se não termos literários quer dizer engajamento
político ele da boa literatura ele traz dificuldades adicionais e é muitas vezes você se ver ali transportando uma mensagem ou fazendo um tipo de exaltação de personagens ou de de sentimento mesmo com ideias como empatia coisas que a gente tá então muito muito comuns no discurso hoje em dia eu vou aproveitar a pergunta do Paulo para uma que eu tinha aqui que é se o engajamento político também pode causar problemas e a sua exposição pode causar problemas fruta Março Servidor Público eu vou tentar responder o Paulo e volta para você a Paulo eu acho que
nós somos seres essencialmente políticos então acreditar que se faz uma literatura a política é algo que eu não concebo o que seja possível mesmo nos quando a gente opta pela neutralidade né que acha que não está falando sobre isso aquilo reflete o pensamento político do autor e do leitor também que está ali lendo e construindo essa obra ou seja nós não estamos desprovidos de política É claro que eu acho que a crítica A Crítica o público consegue fazer uma diferença entre o que é um engajamento engajamento puro e simples né ou de uma obra que
reflete o pensamento político do seu autor né que tenta dar complexidade a esse pensamento político que não é algo panfletário isso a crítica eo público vai conseguir separar Vera eu e a todo momento eu me preocupo com isso né si si o si a minha exposição Pública pode me prejudicar enquanto enquanto servidor público é eu tenho um apoio muito grande dos meus colegas de trabalhos meus companheiros de trabalho né eles estão a todo momento eles me disseram esses dias assim eu nunca vi o Incra tão tão tão falado na imprensa às vezes são coisas tão
negativa E agora tem alguém falando sobre o que fazemos sobre o que é o nosso trabalho mas eu sei que eles não estão na posição de poder né lá no órgão mas ainda assim eu me sinto amparado por eles acolhido por eles né então o medo existe mas a coragem se sobrepõe a esse medo né teve uma entrevista em que fizeram uma comparação entre torturado e Bacural principalmente falando do final que a gente não pode dar spoilers e vai isso que essa direito e aí você falou ali um pouco também de parasita enfim todos os
filmes Neto estamos falando de todas as obras premiadas e celebradas né E você usou uma expressão eu tempo de reconciliação já passou que que você quis dizer com isso e é durante muito tempo a gente viveu essa ideia da conciliação né que dando um pouco a gente distensionar ia os grandes problemas do nosso país e esse pouco não não não é suficiente né não tem é provocado mudanças as mudanças que a sociedade quer as mudanças que a sociedade precisa e daí eu fui instado a a pensar sobre doutorado sobre Bacurau que saíram mais ou menos
no mesmo período e depois eu fui para obra obras como a da Olga tokarczuk sobre os ossos dos Mortos ou parasita como você citou e tentei pensar né Acho que o artista ele dialoga nesse Campo há algo no ar né e e o na minha na minha interpretação é algo que fala justamente sobre essa incapacidade de continuar com os interesses onde que um onde Uns vão se sobrepor aos outros e aniquilar outro né então a conciliação de interesses já não é bem vistas ou é mudamos essa efetivamente a nossa sociedade né damos a oportunidade que
as pessoas precisam para se manterem vivas né para se desenvolverem ou isso vai combinar né com espírito da arte né o espírito que aparece nessas obras por exemplo que foram escritas e e dirigidas em momentos diferentes mas convergem para algo parecido né que fala dessa não conciliação Você acha que a gente tá no momento barril de pólvora e eu eu acredito sim que estamos no momento No Limiar né E esse Limiar vai Depende do que virá nos próximos anos a pandemia nos lançam uma grande crise sanitária e econômica né a gente tem milhares milhões de
pessoas desamparadas não só no Brasil como no mundo a gente tem a ascensão do do do populismo da extrema-direita É o caldeirão um der perfeito para que se exploda uma revolta né E a gente não sabe o que vende isso aí eu tô aqui pensando né que pode ter uma revolta uma revolução a partir de sair E e essa revolução vai justamente de encontro a isso né Não Não podemos mais conciliar ou todos têm direitos né ou as políticas públicas chegam para todos ou então é teremos que tencionar até o limite né é o que
essas obras têm me dito E aí eu tô no campo da ficção né Do que é feito na que essas obras suscitaram aí para esse questionamento é feito com isso então a gente encerra esse quarto bloco volta já para o último bloco da nossa conversa com o Itamar Vieira não sai daí estamos de volta com Roda Viva a pergunta agora é da Yasmin Santos a gente passou programa falando que seu livro tem questões fundamentais é mas vendo um sucesso de torturado que já tá nas oitava e impressão que já vendeu mais de 60.000 exemplares eu
me pergunto qual a cara do leitor desse livro né quem são esses 60 mil eleitores em quem esse livro tá chegando em quem falta chegar em quem você mais gostaria que chegasse a interessante as mim acho que o os eleitores é muito diverso né muita diversa eu mantenho as redes sociais ativas então eu recebo mensagem sobre o livro são as pessoas das classes mais distintas das regiões mais distintas do Brasil tem gente que tá lendo português aí pelo mundo já tem edições estrangeiras Saindo também é e eu vejo pessoas que trazem por exemplo a sua
lembrança ancestral da sua ancestralidade negra outras que não tem nenhuma relação né com esse passado mas mas vivem no nosso país é o público é muito diverso e muito distinto eu gostaria que esse livro chegasse principalmente na ponta né chegasse lá nas regiões mais remotas do país onde onde um dia já existiu por exemplo um programa do governo chamado a arca das letras que levava livros para as como uma das para as pessoas lerem eu ficaria imensamente feliz se esse livro chegasse nas regiões onde não tem livraria não têm biblioteca pública né é o meu
desejo Acho que é o desejo de todo o autor né que é ser lido é quando a gente escreve um uma obra quando a gente escreve um trabalho desse no fundo a gente quer se comunicar quer estabelecer isso que estamos fazendo aqui nessa conversa se comunicar com o outro então o autor no fundo ele quer se comunicar com leitor e quanto mais leitores é claro acho que o objetivo do livro está cumprido e medicina Desculpa aí você disse no primeiro bloco no segundo que não quer ficar o resto da vida sendo o autor de um
livro Só você já tem um romance em gestação e você planeja a rede são dos Seus contos agora que você ganhou essa notoriedade a todavia vai no que lançar luz relação no segundo semestre o livro de contos ampliado com novos contos que eu escrevi durante esse período acho que que vai ficar um livro bem bacana E quando eu consegui ver era torto arado já era parte de um projeto maior de uma trilogia que fala da relação do homem do homem com a terra então eu já tenho pesquisa em andamento já tenho escrito né Tem faltado
um pouco tempo para colocar esse projeto de pé porque tô parado com os prêmios que recebeu ano passado com toda com toda essa repercussão que vem tendo do público e da crítica têm demandado muito do autor para falar sobre esse livro mas eu não tenho dúvidas de que em breve a gente vai ter coisa nova para falar já que a trilogia é o mesmo universo da mesma Fazenda os mesmos personagens e seus descendentes não tem nada a ver a próxima história ela se diz o Recôncavo da Bahia que é outra região é uma região do
entorno de Salvador na margem do Rio Paraguaçu e a história se passa entre a cidade eo Campo numa terra que pertence à igreja católica é feita uma acho que tu não pega nunca rodando então tomar parece que o seu romance suportar a dor já teve os direitos cedidos para o cinema eu queria que você me respondesse como se deu essa troca como é que surgiu o interesse de um cineasta para poder colocar nas telas esse romântica tem sido tão cultuado não imaginava quando a gente escreve não imagina né O que é que então fazer com
aquilo com a história e depois apareceram muitos diretores que leram livro interessados no romance O os direitos foram adquiridos pela Paranoid BR que tem como sócio o Heitor dhalia é um projeto dele eu é muita informação sobre o que vai ser esse vai ser um filme uma série nada disso ainda está definido acho que passamos um ano difícil por conta da pandemia e o audiovisual ficou um tanto paralisado né mas assim como como os leitores Eu também estou na expectativa de ver como vai ficar isso se pretende participar do roteiro não não não recebi nenhum
convite e acho que não não me interessa eu prefiro assistir como espectador mesmo Maravilha Adriana e tomar você costuma se referir ao torturado como um livro de uma vida inteira né como foi que terminar o doutorado Adriana é quando terminei esse livro O que eu mais senti porque a gente passa muito tempo convivendo com as personagens né você dorme acorda pensando nelas você é a nota coisa no meio da rua você pega o celular e Grava alguma coisa algum site que você tem a o que ficou foi a saudade e eu tinha uma saudade imensa
às vezes eu nem queria pegar naqueles manuscritos né para não remexer naquilo não viver aquilo de novo e aí veio veio o anúncio que o livro seria publicado em Portugal eu me lembro que a primeira coisa quando eu soube que o livro eu tinha vencido eu fui aos originais estavam impressos né e Comecei a ler alguns trechos e eu eu falei assim mesmo comigo é com as personagens eu não acredito Meninas vocês atravessaram o oceano foram para o outro lado senhor sem o notar né e agora me trazem essa surpresa a primeira coisa foi conversar
com elas e agora agora a saudade já não existe né porque são tantos leitores falando sobre o livro cada pessoa que me chega para falar sobre o livro é como se tivesse trazendo notícias delas Então já já estou em paz comigo aqui você tem uma preferida permaneceu Bibiana é um pai nunca bem não os cantores preferidos Quem são o que que você tá lendo o que que você espera que sai o livros que os autores brasileiros vivos que você é mulher eu são tantos eu tenho eu tenho medo de citar os autores e me esquecer
de alguns mas eu já aceitei um aqui o Raduan Nassar né Eu eu tenho também grande paixão pela obra do Milton atum é a Ana Miranda é uma autora que fez minha cabeça durante muito tempo eu gosto muito da Ana Miranda tem a Socorro Acioli do Ceará né com uma obra dela infantil com o romance a cabeça do santo é tem autores são muitos tem uma agora que que está saindo recente recentemente vai sair mês que vem da micheliny verunschk que o som do rugido da onça que é um livro que fala sobre sobre esse
Brasil né profundo que me interessa São muitos os autores eu eu sei que eu deixei de citar muito eu quero saber que que eu admiro eles tanta macro só voltar de um detalhe da história que você disse que perdeu o primeiro manuscrito né Sem aí nas suas mudanças você pensa sobre ele se alguém encontrou onde ficou durante muito tempo eu não pensei sobre ele e eu dei até Graças a Deus que ele tenha desaparecido porque talvez eu lesse a história não me interessasse contar de novo né disse isso é que não vai para lugar nenhum
não vou contar essa história de novo como se perdeu ficou aquela vontade de alguém inacabado que eu precisava provar para mim mesmo que eu tinha que terminar essa história mas eu penso o que é que aconteceu conhecer manuscrito era muito diferente do que acabou sendo Com certeza é muito diferente embora como eu disse Vera o título é o mesmo é desse período o mote é o mesmo a história das Duas Irmãs a relação com o pai com a terra mas ganhou foi atravessado por Inúmeras coisas eu não tinha experiência com trabalhadores do campo e o
trabalho da vida que aparecem torturado não seria um contato naquela história porque eu não tinha essa experiência não tinha esse ainda essa formação que eu tive esse aprendizado com os trabalhadores eu sempre digo eu trocaria meus títulos acadêmicos Eu trocaria todos os títulos pela vida que eu tiver ao lado deles pelas coisas que eu aprendi com eles queria que você terminasse Itamar dizendo para um jovem escritor que como você não tinha contato no mundo literário Qual é o Caminho das Pedras você acha que essa coisa de se inscrever em prêmios é o caminho ou você
vislumbra outros eu acho que é um é o que pode acontecer algo que não depende das editoras Então se seu livro tiver mérito Hoje é a muitos prêmios literários né se o livro tiver mérito claro que o júri algo muito particular muito pessoal mas é uma forma de publicar Claro acho que hoje as editoras também estão mais abertas estão recebendo autores nova e Há muitas editoras publicando editoras pequenas é tudo isso e mais um recado que eu dou é não ter pressa Eu acho que eu não tive pressa Vera de publicar eu escrevo desde muito
novo quando me perguntam Quando que você começou a escrever eu digo quando eu comecei a ler e escrever eu já inventava histórias aquele período Mas eu só se sente segurança de mostrar algo quando eu achei que estava pronto né e eu sempre fui muito crítico do meu trabalho eu não gosto nem de reler as coisas que eu escrevo porque eu vou sentir vontade de ajeitar doutorado por exemplo não rele só antes de publicar nas provas mas eu tenho alguns trechos selecionados para ler em público quando necessário mas seu Leo Romano assim de novo eu vou
sentir vontade de mudar um monte de ficou doente a premiação EA publicação não não não não não modificou mas no período entre no período em que a obra foi escrita até a publicação eu li e muitas coisas né então tirei trechos coisas que depois e em comum acordo com a editora ela viu que era que que fazia todo sentido em maneira de SAC para mais uma pergunta curta você falou que tinha duas se quiser fazer se for curta nada tipo eu penso seguinte nós estamos passando por um período histórico literário em que o Grande centro
da roda da literatura brasileira contemporânea está muito voltada essa questão nos grupos minoritários curta mesmo marca como eu recebi uma pergunta para as um minuto uma resposta de um queria saber sobre isso sobre essa questão de se pegou se tem consciência que está vendo esse período histórico literário que inclusive eu como professor de Literatura eu vou trabalhar sobre essas questões daqui a 30 40 anos eu acho que tá acontecendo isso aconteceu na segunda geração do Modernismo está voltando agora trazendo novas faltas sobre o feminismo é uma questão de negros eu acho e não eu acho
que essas faltas dizem diz respeito a quem está escrevendo né então como tem mais pessoas escrevendo e não é somente a elite do país que antes podia escrever né literatura como tem mais pessoas escrevendo cada um vai se aproximar de sua realidade Então são temas que vão surgir naturalmente que eu acho pouco provável que um escritor de verdade é diga que vai escrever um livro sobre sobre determinado tema porque está na moda ou isso aquilo no fundo eles querem contar a história querem comunicar experiência humana e aí os temas surgem quem faz essa seleção de
temas são os críticos o público né Aí você Bíblia fala sobre isso mas voltou eu acho pouco provável um autor de verdade não não perigo acontecendo esse período está acontecendo em sim E com isso a gente chegou ao fim do programa Eu agradeço muito ao Itamar Vieira Júnior pela entrevista também Adriana Ferreira Silva Isabel Lucas ao Mário Câmara é o Paulo Werneck é o Renan sukevicius a Yasmim Santos e o Paulo Caruso agradeço sobretudo a você pela sua audiência torturado com móveis pela história singular das irmãs beloniza e Viviana dos Encantados e das rodas do
jar e mas seu principal trunfo é retratar a Dura realidade racial e fundiária do Brasil que persiste desde os tempos da colônia que o livro esteja na boca do povo nas redes sociais nas estantes dos famosos e nos primeiros lugares das listas de mais vendidos é um sinal de vigor da literatura brasileira no momento em que ela como tantas áreas do conhecimento é alvo de ataques e de desmonte um povo que lê que se reconhece nas páginas de um romance é um povo capaz de provocar e exigir as mudanças necessárias o que superemos a desigualdade
a violência retratadas pelo Itamaraty a tua obra magistral é isso fiquei bem segura e até segunda que vem cá E aí