Hoje, nós vamos falar sobre 10 semelhanças e diferenças entre o autismo e as altas habilidades e a superdotação. Antes de mais nada, preciso fazer um convite a vocês: nós estamos produzindo aqui uma série de vídeos comparando duas condições. Na maior parte das vezes, são dois transtornos.
E hoje, nós temos o autismo, que é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, e as altas habilidades e a superdotação, que nós não configuramos; não é considerada um transtorno, é uma condição, uma característica da pessoa. Tanto que a maior parte dos estudiosos diz que é equivocado se falar em diagnóstico; nós usamos mais a palavra identificação. Embora, se a gente for à etimologia da palavra diagnóstico, vai significar reconhecimento.
Então, nem sempre está associado a patologia. Outros estudiosos vão dizer que nós não podemos usar a palavra diagnóstico porque não existe uma CID, uma classificação internacional de doenças, porque as altas habilidades não são vistas, né, como uma doença, um transtorno. Mas nós sabemos que existem na CID, né, na classificação internacional de doenças, também códigos específicos para saúde, para avaliação, para avaliação do adolescente, avaliação da criança, código para gestação, parto.
Então, existe toda essa polêmica. No final das contas, a gente não precisa ser tão preciosista em relação à terminologia. Se você usar a palavra diagnóstico em vez de identificação ou reconhecimento, você não está completamente equivocado.
E aqui, nós já começamos a falar sobre diferenças e semelhanças e também acerca dessas discussões sobre os dois temas. Mas por que eu decidi fazer esse vídeo aqui hoje? Um dos motivos é que vocês sempre me pedem para comparar as duas condições.
E uma outra razão para nossa conversa é que, não raramente, uma pessoa chega ao consultório ou demanda uma avaliação porque ela imagina que seja autista, uma pessoa adulta. E quando nós vamos conversar com essa pessoa, ela tem muitos marcos, avanços, às vezes no desenvolvimento, e muitos marcos, muitas conquistas, ou antecipadas ou grandes conquistas acadêmicas, físicas ou na área artística. E nós percebemos todos os três anéis de Renzulli: então, alta capacidade em uma determinada área, muita motivação, engajamento com aquela tarefa, aquele tema de interesse e também muita criatividade.
E aí, a nossa missão é avaliar se essas três características são tão fora da curva, tão acima da média, que essa pessoa deve ser caracterizada, reconhecida e identificada como altamente habilidosa. E muitas vezes, porque essa pessoa veio com queixas de dificuldades sociais, tanto que ela se reconheceu como autista, né? Percebeu que tem alguns traços semelhantes, às vezes está muito ansiosa, retraída, tende ao isolamento, pode ter cultivado ao longo do tempo alguns comportamentos repetitivos.
Então, nós precisamos avaliar também se esses comportamentos repetitivos e restritivos são compensatórios a partir de experiências frustradas ou experiências adversas por conta da inteligência mais elevada. Então, nós não estamos falando de autismo ou se existe uma dupla excepcionalidade. Então, por isso, o tema é relevante e o assunto é muito extenso.
Nós vamos abordar aqui alguns tópicos. Como eu disse, 10 pontos de contato, 10 pontos de interseção, que, quando nós olhamos superficialmente, realmente parecem semelhantes, mas, à medida que nós nos aprofundamos na avaliação, nós vamos percebendo que as raízes, as causas, as motivações desses comportamentos muitas vezes são bastante distintas. Então, vamos à nossa lista, começando aqui pelo primeiro item, pelo primeiro ponto de semelhança, que é ter interesses especiais, hiperfocos, ficar muito tempo concentrada nos seus temas de interesse.
Assim, as pessoas autistas sim, podem ter; não é uma característica imprescindível. Essa característica faz parte das quatro listadas pelo DSM-5 TR que fazem parte do critério B, que trata dos temas, né, dos comportamentos restritivos e repetitivos. A primeira delas é ter estereotipias; a segunda é ter adesão inflexível a rotinas; a terceira é ter justamente os interesses especiais; e a quarta é ter reatividade diferente ou abaixo da média ou acima da média, hiperreatividade ou hiporreatividade a estímulos sensoriais.
Então, o DSM exige a presença de pelo menos dois desses itens para que se pense em um diagnóstico de autismo, e nós precisamos de todos os três itens do critério A, que fala sobre a comunicação atípica e também dificuldades na interação. Esses três itens do critério A são as dificuldades na reciprocidade sócioemocional, a comunicação não verbal atípica, e a dificuldade na integração entre comunicação não verbal e comunicação verbal. O terceiro item fala sobre a dificuldade para iniciar, compreender e cultivar os seus relacionamentos.
Então, esses três itens são, sim, imprescindíveis e estão no critério A. E aí, o critério B fala sobre esses comportamentos repetitivos e restritivos. Pois bem, então eu disse isso tudo para que a gente compreenda que os interesses especiais não são imprescindíveis, e nem todas as pessoas autistas os têm.
Mas quando a pessoa autista apresenta interesses especiais, geralmente eles estão ligados a uma tentativa de buscar conforto, previsibilidade, ordenação. Muitas vezes, os interesses especiais como dinossauros, como unicórnios, e, às vezes, livros, trazem também uma regulação emocional, regulação sensorial. Então, no caso das pessoas autistas, aparece como interesse repetitivo e restritivo, por isso, porque muitas vezes é uma tentativa da pessoa estabelecer, regular o seu mundo interno a partir do mundo externo.
E nós precisamos pensar sempre que, se é um transtorno, nós vamos observar intensidade e frequência desses comportamentos a ponto de gerar prejuízos clinicamente significativos, porque nós estamos falando de um transtorno mental. Agora, a pessoa que tem altas habilidades e superdotação também pode ter muitos interesses especiais, ficar hiperfocada em determinados tópicos, se aprofundar muito em determinados temas, em livros, só que ela faz isso por uma curiosidade intelectual, porque ela busca desafios cognitivos, intelectuais, e isso gera uma satisfação intrínseca, um desejo de dominar aquele conhecimento de repassar o conhecimento. Então, nesse caso, o hiperfoco nós nem chamamos, né, de hiperfoco; nós chamamos realmente de engajamento com a tarefa.
Ela traz. Prazer e não prejuízos! No caso das pessoas autistas, por exemplo, um comportamento que às vezes é socialmente validado é a hiperlexia, só que esse é um comportamento ou uma característica que traz prejuízo.
Já vi casos, por exemplo, de crianças que levavam lanterna para o quarto à noite, escondido dos pais, porque elas queriam ler durante toda a noite. Quer dizer, perdiam o sono, perdiam uma noite de sono ou várias, porque elas queriam concluir um livro e não conseguiam parar de ler. No recreio, não socializam porque estavam sempre lendo.
Então, parece muito lindo: a criança está envolvida ali com o mundo fantástico ou com literatura, e os adultos acham maravilhoso. Mas nós precisamos observar que causa um prejuízo. Não é o caso das crianças ou das pessoas que têm altas habilidades e superdotação sozinhas; apenas altas habilidades e superdotação.
O segundo ponto de contato é em relação à sensibilidade ou hipersensibilidade, que pode estar presente em muitas pessoas autistas. Nós chamamos de hiperreatividade a estímulos sensoriais, e novamente, isso é tão intenso e tão frequente que chega a causar prejuízos. Nem todas as pessoas autistas têm, como nós dissemos aqui, o critério B, que tem quatro itens, e é necessária a presença de pelo menos dois para que o diagnóstico seja aventado.
Mas vamos supor que a pessoa autista tenha a alteração sensorial, que geralmente está ligada a uma diferença neurológica no processamento sensorial. Então, a pessoa recebe todos os estímulos, como as outras, né? A partir dos seus receptores periféricos, e quando esses estímulos chegam ao cérebro, há filtros, né?
Por exemplo, tálamo e cerebelo. Há alguma diferença, e a pessoa não consegue processar. Às vezes, inunda o cérebro com muitos estímulos e não consegue distinguir de maneira adequada.
Tanto que a terapia faz a integração sensorial, a integração desses estímulos, para que a pessoa não fique tão aflita diante de estímulos diferentes: muitas texturas, sabores, sons, aromas, tudo que possa provocar aversão. Talvez o terapeuta ocupacional consiga ir aos poucos dessensibilizando a pessoa autista. Já a pessoa que tem altas habilidades e superdotação também pode se sentir, às vezes, sobrecarregada pelo excesso de estímulos.
Ela pode se descrever como muito sensível, que às vezes sente demais as emoções das pessoas, os estímulos do ambiente. Só que, se tudo estiver bem, se ela tiver tido um ambiente validante, se ela tiver a possibilidade de usar a criatividade, essa percepção, essa sensibilidade maior pode ir a favor da profissão, dos relacionamentos, da produção criativa. Isso é maravilhoso!
Acontece que nem sempre ela reconhece isso como um benefício, e aí nós precisamos conversar, mostrar quais são os caminhos, porque ela também recebe essa série de estímulos sensoriais. Só que a tendência das pessoas com altas habilidades é filtrar muito bem esses estímulos, discriminá-los de forma bastante eficiente e integrá-los de maneira inteligente, de maneira criativa. Por isso, há uma facilidade para categorizar informações, criar algo muito diferente, e isso é maravilhoso!
Nós percebemos que as produções são muito acima da média, em redação, por exemplo, de uma criança num balé, produções artísticas, literárias, e é encantador. Só que, novamente, se a pessoa não consegue nomear isso como uma qualidade, isso pode deixá-la sobrecarregada e também pode fazer com que ela se sinta muito diferente, não pertencente. Às vezes, não tem mesmo o ambiente, o espaço, para que ela exerça a sua inteligência, para que ela sinta essas emoções, a sensibilidade, tudo de maneira saudável, e por isso talvez ela se sinta sobrecarregada.
O terceiro ponto de interseção diz respeito ao desenvolvimento assíncrono, que tanto as pessoas com autismo quanto com altas habilidades e superdotação podem passar por marcos do desenvolvimento atípicos, sejam muito precoces ou, às vezes, um pouquinho atrasados. Nós vemos isso no autismo, por dificuldades ou às vezes por compensação. Então, a pessoa usa, por exemplo, a inteligência.
Se ela tem a dupla excepcionalidade, por exemplo, e conquista habilidades sociais, isso até pode mascarar os traços do autismo. Agora, nas pessoas que têm altas habilidades e superdotação, isso também tende a acontecer, mas é muito interessante porque algumas habilidades a criança desenvolve muito rapidamente, enquanto outras estão no tempo normal previsto ou, às vezes, um pouquinho menos adiantadas. E os pais me contam, por exemplo, que às vezes a criança já tem um processamento verbal muito eficiente, compreende o mundo e tem desejo de participar, gostaria de conversar com os adultos, só que ainda não consegue articular as palavras.
Então, ela fala tudo emboladinho, muito pequena, mas quem está perto dela sabe qual é a intenção dessa comunicação diferente. Nós observamos na escola que a criança já prevê o conhecimento, o conteúdo, a partir de alguns trechos do que é oferecido, seja de conteúdos, e por isso às vezes nós precisamos acelerar. É excelente, não há problema se a pessoa intuir parte do conteúdo; está tudo certo.
Inclusive, é uma recomendação acelerar o conteúdo e, às vezes, até acelerar uma série. E aí vem a pergunta: quanto acelerar? Se a criança não estiver alfabetizada, geralmente a aceleração não passa de três meses.
Tudo precisa ser visto individualmente, claro, mas para uma criança pequenininha, três meses, no máximo; depois da alfabetização, às vezes sim, nós vamos pensar em seis meses e, depois, até um ano. Ou às vezes tem algumas crianças, né, adolescentes, que chegam a saltar o ensino médio e vão direto para a universidade. E aí vem uma série de discussões, porque às vezes essa criança ou adolescente está preparado fisicamente, cognitivamente, tem o intelecto suficiente para acompanhar a turma, mas e emocionalmente?
Será que essa pessoa vai conseguir dar conta de acompanhar as brincadeiras de uma turma mais avançada? Será que ela vai ser bem acolhida ou será que ela não vai correr o risco de, diante desse contato com pessoas mais velhas, por exemplo, se for uma menina numa turma de adolescentes? Ela pode… correr algum risco de ter um contato físico precoce, de sofrer um assédio antes do tempo.
Então, tudo isso precisa ser observado e talvez o mais adequado seja que todas essas crianças estejam em uma classe especial, em que elas sejam superdotadas, tenham atividades diferentes. Em outros países, isso é mais fácil e, no nosso, às vezes existem algumas limitações, algumas dificuldades, mas a gente pode pensar também em possibilidades a partir desse reconhecimento. O quarto ponto de intercessão diz respeito às dificuldades sociais, porque tanto as pessoas autistas, obviamente, quanto as pessoas com altas habilidades podem ter dificuldades na interação ou na comunicação.
Mas as pessoas autistas tendem a apresentar essas dificuldades, por, às vezes, não compreenderem as pistas sociais ou por dificuldade na comunicação não verbal, que é um pouco atípica. E, às vezes, elas acham um ambiente social muito estimulante e ficam sobrecarregadas. Então, há uma série de motivos.
Já no caso das pessoas com altas habilidades e superdotação, isso pode acontecer porque elas têm interesses muito diferentes da média, muito diferentes da norma daqueles pares do meio em que estão. Então, as conexões podem ficar prejudicadas e as interações podem não ser tão profundas, ou mesmo ela pode perder o interesse pelas conversas com as outras pessoas. O quinto ponto de intercessão é o pensamento não convencional.
As pessoas autistas, por terem um processamento de informações diferente, também vão ter uma percepção do mundo mais peculiar ou espectral; vão ter um jeito de ver o mundo muito singular. Para compreender, às vezes, o que está acontecendo no mundo exterior, como nós dissemos aqui, elas precisam organizar tudo, enfileirar ou empilhar, fazer associações, categorizações, para que o mundo exterior, para que o ambiente faça sentido para elas. Então, nesse processo, os pensamentos diferentes, atípicos ou pouco convencionais, acabam aparecendo.
Um outro ponto que nós observamos, principalmente em adultos, é que talvez eles tenham passado por bullying, muito preconceito, capacitismo, então eles se tornam pessoas mais flexíveis e mais respeitosas em relação às ideias e pensamentos dos outros, mais acolhedoras. Assim, acabam, às vezes, tendo pensamentos não convencionais ou não conservadores, e isso pode aparecer já na pessoa que tem altas habilidades e superdotação, por terem uma capacidade de pensamento abstrato muito acima da média. Por ter essa capacidade de abstrair algo que não é visível, que não está presente, de imaginar cenários, às vezes vêm as altas habilidades com essa capacidade de hiperfantasia de visualizar cenários vívidos, mesmo que ela não esteja presente nesses cenários imaginários, lembranças também muito nítidas.
Então, isso faz com que ela integre essas informações de maneira bastante diferente, tenha uma criatividade muito avançada em relação à média e, por isso, ela vai ser inovadora, ter mais capacidade de resolver problemas complexos. Essa expressão criativa, seja nas artes ou na vida, mesmo a capacidade de resolver problemas, está muito acima da média. E, naturalmente, porque ela tem esse jeito diferente de pensar, ela pode ter relacionamentos não convencionais, pensamentos não convencionais, produções pouco convencionais, e isso pode chamar atenção se ela não estiver no ambiente adequado.
Às vezes, por isso, ela sente que é um prejuízo e, novamente, é o que leva, às vezes, a pessoa a pensar que tem um transtorno. O sexto ponto de intercessão fala sobre o perfeccionismo. No autismo, às vezes, esse comportamento compensatório aparece para que a pessoa tenha controle sobre o seu ambiente, uma certa previsibilidade.
Então, para que ela reduza a ansiedade diante das incertezas, ela vai tentando micro-administrar tudo que está ao seu redor, inclusive as pessoas. No caso de quem tem altas habilidades e superdotação, o perfeccionismo aparece pelos altos padrões internos ou pelas expectativas que ela imagina que os outros têm, ou às vezes pela autocrítica elevada, pelo padrão de excelência. Então, porque ela quer realizar muitas coisas, tem muitos hiperfocos, ela acaba, às vezes, entrando nesse comportamento perfeccionista, que é prejudicial.
Essa não é uma qualidade, então pode atrapalhar o sono. Às vezes, a pessoa entra em outro comportamento compensatório, que é a procrastinação, e deixa de realizar justamente aquilo que ela mais deseja, porque os altos padrões de comportamento de execução evitam que ela se sinta capaz de alcançá-los. E aí a pessoa fica sempre adiando, porque, no seu mundo interno, o trabalho não concluído, o trabalho imaginário é sempre melhor do que o que ela consegue executar.
E aí, talvez, ela evite a produção real, a execução real. Esse é um problema que aparece nas pessoas que têm altas habilidades e também nas pessoas que têm autismo, mas, novamente, quando nós nos aprofundamos nas questões, elas são diferentes. E aí nós precisamos avaliar se existe uma dupla excepcionalidade e oferecer o suporte para a pessoa que tem a necessidade de previsibilidade, de mais controle no seu ambiente, de mais segurança, e também a oportunidade para que ela exercite a sua inteligência, para que ela crie, para que ela diminua um pouquinho a autocrítica e consiga performar, consiga desempenhar as suas atividades.
O sétimo ponto de contato fala sobre as dificuldades em relação às mudanças de rotina. As pessoas autistas naturalmente podem ter uma adesão inflexível a rotinas, podem ser mais rigorosas, menos flexíveis. No caso dos meninos, a inflexibilidade tende a ser bem maior do que nas meninas.
Na fase da infância, nos primeiros anos de vida, e ao longo da adolescência, as meninas vão alcançando os meninos nesse gráfico e podem até superá-los em relação à dificuldade de mudanças na rotina. E isso acontece porque a pessoa precisa de previsibilidade, pois o ambiente desorganizado externamente também faz com que ela fique desorganizada internamente. Então, para se manter segura, para evitar ansiedade, às vezes ela controla mais esses elementos externos.
Já no caso das pessoas que têm altas habilidades e superdotação, a dificuldade com mudanças de planos vem porque elas têm a sua rotina estruturada para manter um desempenho muito alto. Altas habilidades. Se ela estiver saudável, ela está trabalhando em alta performance.
Então, se alguém atrasou uma consulta, se a pessoa marcou e não foi, se aconteceu algo que não estava previsto, isso pode deixá-la muito angustiada, porque ela está perdendo tempo, ela está perdendo vida, ela está perdendo oportunidade de aprendizagem. Então, novamente, quando nós vamos fazendo as perguntas, as ações para esses mesmos comportamentos são completamente diferentes. O oitavo ponto de similaridade é a intensidade emocional, e lembrando aqui que a desregulação emocional não é um critério específico do autismo.
Mas, porque a pessoa, às vezes, tem uma sobrecarga sensorial, uma sobrecarga informacional ou uma sobrecarga social, talvez ela fique muito ansiosa ou muito drenada; talvez apareça um mutismo ou uma explosão. E, mais frequentemente, é essa explosão - o meltdown, a crise autística - que vai ser vista como um comportamento problema, um comportamento difícil e muito intenso; um escoamento emocional não elaborado, um escoamento bruto das emoções ou da angústia. E aí, as pessoas à volta da pessoa autista vão ficar, às vezes, impressionadas ou não vão compreender.
E, no caso das pessoas que têm altas habilidades e superdotação, essa intensidade também tende a aparecer, mas, por elas serem muito sensíveis, às vezes precisam viver tudo de maneira muito profunda, muito intensa. Talvez elas queiram escrever a respeito do tema, vão sentir muito o que acontece ao seu redor. Existe até um cuidado, né?
Nós precisamos deixar esse alerta aqui porque a pessoa que tem altas habilidades e superdotação, se ela estiver falando muito e ela tem muitas informações para compilar, pode parecer loquaz; e esse é um dos critérios, por exemplo, para o diagnóstico de transtorno bipolar. Alguém pode pensar que ela está numa fase de hipomania porque ela compartilha muito, ela sente muito, ela está muito empolgada, muito emocionada diante de determinada situação ou vivência. E aí também existe a possibilidade de um equívoco diagnóstico.
Por isso, é importante que a avaliação seja mais profunda e leve um tempo maior. Mas, por essa busca incessante por experiências novas, experiências emocionais criativas, a pessoa com altas habilidades certamente vai mostrar essa intensidade emocional. A nona semelhança fala sobre a capacidade de concentração.
Muitas pessoas autistas conseguem ficar por longos períodos concentradas em um mesmo tema, montando um quebra-cabeça ou cubo mágico. E, se é algo do interesse dela, ela tende a ficar muito focada, ter essa capacidade de concentração, e isso pode até trazer conforto. Embora esses comportamentos, né, que nós observamos, por exemplo, os interesses especiais e hiperfocos, no final das contas, tendam a trazer prejuízos.
A concentração, se nós estivermos observando uma pessoa com altas habilidades e superdotação em um ambiente enriquecido em que ela é respeitada, validada, e se essa pessoa estiver saudável, o tempo de concentração tende a ser muito produtivo; ela fica concentrada, produz algo. Então, diferentemente da pessoa autista, que às vezes fica hiperfocada e tem um pensamento perseverativo, a pessoa que tem altas habilidades e superdotação é entusiasmada, é apaixonada. Então, ela tem um engajamento muito forte com aquele tema de interesse.
E aí, ela pode passar horas concentrada, mas a partir de um tópico de concentração, ali, de domínio, ela tende a ter um pensamento arbóreo e dominar vários outros pontos de conexão. É muito interessante ver esse pensamento da pessoa e o método de estudo das pessoas com altas habilidades e superdotação. E aqui, quando nós falamos de foco, eu preciso tocar em um assunto.
Não raramente, também, as pessoas que têm altas habilidades e superdotação tendem a ser confundidas com as pessoas que têm o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. E aí, às vezes, chega ao consultório uma pessoa que é claramente superdotada, mas ela fala: "Ah, eu me interesso por muitas coisas, eu não concluo nada, eu compro vários cursos, eu entro em várias aulas e não concluo nada". Mas, quando nós vamos observar, a pessoa não conclui aquele curso, por exemplo, porque o início já foi suficiente para que ela desse um salto de conhecimento.
Então, ela já esgotou aquele conteúdo, que às vezes é básico. O professor serve como um mediador, às vezes oferece um repertório, referências bibliográficas, e, a partir dessas referências, ela se enriquece; ela sabe mais do que esse professor inicial. Então, ela não conclui porque ela não precisou.
E nós precisamos avaliar se é esse o caso, porque se a pessoa tem o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, é desse jeito mesmo que acontece: ela inicia algumas tarefas ou começa a arrumar a cozinha e, daqui a pouco, está arrumando o quarto e não conclui nada durante o dia. Isso é verdade, não conclui; entra num curso, também faz duas aulas e ela nem sabe do que se tratava, o que o professor deu nessas aulas, e ela não conclui porque procrastinou, ela se interessou por outra coisa que também não se aprofundou. E é completamente distinto o comportamento.
No caso das altas habilidades, a pessoa aproveita esse início, esse estímulo inicial, para que ela mesma enriqueça e busque outros professores, outros mediadores, outras fontes de conteúdo. E aí, ela faz um estudo autoguiado e realmente domina o que ela pretendia dominar ou o que ela pretendia aprender. É completamente distinto.
E, finalmente, a décima semelhança fala sobre as dificuldades em se relacionar com pessoas da mesma idade. Se, no autismo, as crianças têm dificuldade para se relacionar com outras da mesma idade, por quê? Talvez as crianças da mesma idade percebam as atipicidades; talvez elas estranhem a criança autista.
Tem estudo mostrando que, em poucos segundos, as crianças ou os adultos neurotípicos já observam essas peculiaridades das crianças autistas, das pessoas autistas, e tendem a se afastar. O relacionamento, a ação, não se aprofunda tanto. Olha só, e muitas vezes a pessoa autista sente.
. . Isso sente esse afastamento, sente o não pertencimento, e aí ela busca grupos mais seguros, naturalmente, como um comportamento compensatório.
No caso das meninas, talvez elas se sintam mais à vontade com os meninos, porque já existem diferenças claras entre meninos e meninas. Então, as diferenças, as atipicidades dela em relação ao autismo, talvez não chamem atenção nesse grupo de meninos. Por outro lado, os meninos talvez tendam a ficar mais sozinhos ou, às vezes, com pessoas mais adultas.
Isso pode acontecer tanto com meninos quanto com meninas. Às vezes, as crianças autistas tendem a preferir a companhia dos pais ou, às vezes, dos professores, dos amigos, dos irmãos mais velhos, ou às vezes ficam com crianças mais jovens, em que eles podem atuar como professores. Eles sabem muito sobre determinados conteúdos, e aí vão ter o seu valor social, o status social ali naquele grupo.
Já no caso das pessoas que têm altas habilidades ou superdotação, elas podem preferir ambientes mais eruditos, em que as pessoas conversem sobre temas mais profundos. Então, talvez uma criança queira participar de um grupo adulto de produção de poemas ou robótica, engenharia; queira estar em projetos de extensão de uma faculdade, mesmo que ela não tenha feito uma aceleração total. Ela possa ter contato com laboratórios e consiga mesmo conversar com essas pessoas, cientistas e pessoas adultas que estão conversando sobre algo mais profundo e que seja do interesse delas.
Mas, como nós estamos vendo, é importantíssimo compreender essas distinções, as motivações de cada comportamento, para que o diagnóstico ou reconhecimento seja feito de maneira precisa. Porque tanto as pessoas autistas quanto as pessoas superdotadas podem se sentir muito angustiadas, muito aflitas, ansiosas, caso as suas necessidades não sejam atendidas. Então, tanto a necessidade de suporte, se houver um transtorno, quanto a necessidade de enriquecimento ou aceleração, se for o caso, precisam ser atendidas para que a pessoa floresça, para que se desenvolva, para que tenha autoestima.
Então, se houver a dupla excepcionalidade, nós precisamos olhar para as duas condições. E agora eu quero saber de vocês o que vocês pensam sobre essa lista: quais itens vocês gostariam de adicionar para que a gente enriqueça essa conversa? Por favor, curta o vídeo, compartilhe com os amigos e se inscreva no canal para que você continue participando dessa série aqui comparativa comigo e colaborativa.
Grande abraço e até o próximo vídeo! Tchau tchau!