O que acontece com o mundo se eletricidade não for mais algo disponível? Se você toca no teu interruptor e nada mais acontece e não tem prazo para voltar. Logo de cara deve vir a sua cabeça uma ideia hollywoodiana de meteoros, ondas destruindo cidades.
Calma, vamos puxar pro real hoje. Vamos tentar entender como uma pessoa normal passaria pelo processo de um blackout prolongado e quais seriam os riscos associados a isso. Imagine o seguinte cenário.
Você está no final do seu expediente, lá do seu trabalho, quando de repente tudo desliga, falta energia. Como não há muito o que fazer, afinal você tá com um computador na sua frente, você decide ir embora. Quando você tá saindo, você vê uma certa comoção de pessoas ali no corredor dizendo que tem um pessoal que ficou preso no elevador.
Então, é melhor pegar as escadas para não perder tempo. Ao entrar no carro, você pensa que talvez seja uma boa ideia encher o tanque, que está obviamente na reserva, mas quando você tá indo pro posto, você percebe que os frentistas estão lá parados, sem trabalho, e aí você lembra: "Putz, as bombas de combustível não funcionam quando não tem luz". Então, hora de ir para casa.
Mesmo assim, você chega em casa à noite, acende a luz, nada. De uma forma quase irritante, você tá tão acostumado que ao entrar em qualquer quarto, você tenta ligar o interruptor mesmo sabendo que não tem luz. Bom, como já é final do dia, você olha pro seu celular e percebe que ele tá com 30% de bateria.
E apesar de você não ter o seu Wi-Fi, você ainda tem o seu sinal de 4G. Afinal, as repetidoras têm bancos de bateria. Então você passa um tempo ali olhando as notícias, falando com seus amigos, até que de repente 5% de bateria.
É, sem ter onde carregar por agora é melhor parar e esperar voltar à luz. O jeito é comer alguma coisa e ir dormir, mas você tá sem microondas e preparar alguma coisa complexa no meio do escuro não parece uma boa ideia. Então, pelo visto, hoje a gente vai ter que ficar com um lanche improvisado.
Depois de comer, a comida te deu sede, então é hora de tomar água. Você abre a geladeira, pega sua água gelada e bebe. Depois você vai encher ela mais um pouquinho, mas quando você abre a torneira não sai nenhuma gota d'água.
Por quê? Bom, porque o bombeamento das estações de tratamento depende de energia. Então, frustrado e irritado com a concessionária de luz, você vai dormir.
Amanhã vai ser um dia melhor. Você acorda no dia seguinte e percebe surpreso que ainda não tem luz. Será que você precisa ir pro trabalho ou é melhor ficar em casa?
Ao pegar o celular para descobrir o que você tem que fazer, você percebe que ele também não tem mais bateria. Hoje seria um ótimo dia para você não ter perdido aquele seu power bank, né? Pois é, mas você perdeu.
Então você decide ir no trabalho. Afinal é melhor não arriscar, né? Vai que você leva uma falta, uma advertência.
Então você vai para ver o que vai acontecer. Você se arruma como pode, claro, sem tomar banho, porque não tem água. E você sabe que vai passar fome de manhã porque você nunca toma café da manhã em casa, porque você sempre para numa padaria ali perto, mas você tá sem seu celular, então você não tem dinheiro para pagar o lanche que você come.
Quando você chega na rua, é uma sensação estranha. Você tá andando e você vê o trânsito desorganizado, os semáforos não estão funcionando, as pessoas parecem meio desorientadas igual você. Os mercados estão aberto, mas estão operando no escuro, com promoções na parte dos frios.
E ao fundo você ouve o barulho dos motores dos geradores, que também são bem alto aquele som. Enfim, você chega na sua empresa e aí você percebe que foi inútil. Você trabalha com TI, então sem luz você não tem o que fazer.
E pro seu alívio, o teu chefe descobriu a mesma coisa e dispensa todo mundo e fala assim: "Ah, cara, vai paraa casa, quando a luz voltar, você volta a trabalhar. " Na volta você até pensa em sacar dinheiro, mas o banco tá fechado e os caixas automáticos estão com as telas apagadas. Ao passar pelo hospital, você vê aqueles geradores ligados, né?
E até fica pensando: "Nossa, mas quanto tempo esses geradores aguentam? Bom, enfim, hora de voltar para casa e esperar que tudo isso passe logo. É um absurdo você ver o governo parado numa situação tão séria como essa.
Dois dias se passaram, dois dias comendo o resto das bobeiras que você tinha no armário e cozinhando tudo que ia estragar na geladeira para tentar aproveitar. O tédio é avaçalador. Você não tem muito o que fazer e andar na rua parece uma ideia ruim.
As sirenes parecem mais frequentes e você ouviu sons de coisas quebrando e gritos à distância. Preocupado, você criou coragem e pediu para o vizinho para saber se ele tinha algum powerbank sobrando, mas ele disse que não. Você poderia jurar que ouvi um barulho de música no apartamento dele mais cedo, mas enfim, é o que é.
Pelo menos você conseguiu uma garrafa de água e um pacote de bolacha de água e sal da senhorinha que mora na porta da frente. Quando você entra no seu apartamento e olha pela janela, você se espanta. Lixo.
A quantidade de lixo que está começando a se acumular nas calçadas começa a ser preocupante. Várias pilhas de lixo espalhadas praticamente a cada 5 m da calçada e não tem nem sinal do caminhão de lixo para buscar. De repente alguém bate na porta.
é o seu outro vizinho. São quatro por andar e ele tá perguntando para você se você tem alguma comida para emprestar. Ele diz que foi pego de surpresa e que tá sem nada em casa, tanto para ele como pros filhos.
Infelizmente você não tem o que é suficiente e diz que não. Ele parece preocupado porque ele ouviu falar por aí que não tem uma data pra energia voltar. E aí você pensa: "Hum, até quando eu vou aguentar nessa situação?
E se mais uma semana passar? Será que é melhor eu sair agora e tentar ir pra casa dos meus pais antes que a situação fique pior? A dúvida é grande, mas não é como se você tivesse escolha.
Então você pega sua mochila, pega suas coisas básicas e sai de casa. 20 km andando até a casa dos seus pais, mas é o que tem para hoje. No caminho, você percebe que a cidade não tá mais igual.
Muita gente andando nas ruas com as coisas nas costas e com caras preocupadas, lojas fechadas e algumas até mesmo foram saqueadas. Sabe aquela padaria que você tomava café? Tá toda quebrada e as prateleiras estão vazias.
Instintivamente você começa a andar pelos cantos, sentindo que você tá num lugar que não deveria estar e talvez você esteja mais encrencado do que parece. Conforme você anda mais à frente, há um grupo de homens encapuzados. Eles olham para você, você congela.
De uma forma rápida, eles vêm e exigem a sua mochila. Você entrega ela e ganha um soco na cara de graça. Você cai no chão ali, sem nada nas mãos, sem informação sobre o que está acontecendo, sem perspectiva de alívio, você percebe que o colapso de tudo o que você conhecia começou.
Essa história surgiu a partir de uma ideia de um comentário que vocês deixaram em um vídeo aqui no canal. Nós fizemos um vídeo recentemente sobre bitcoins e tecnologia dentro da área dessa questão toda. E um comentário que foi muito votado me chamou atenção.
O comentário era mais ou menos assim: "Ah, mas Bitcoin sem eletricidade não serve de nada". E sim, esse comentário tá correto, mas ao mesmo tempo ele denota uma certa inocência, que é o fato de que se de fato estamos falando de uma queda da eletricidade a nível municipal, estadual, nacional ou pior global, essa vai ser a menor das suas preocupações. Esse tipo de comentário me traz a concepção de que eu acho que a maior parte das pessoas não entende a severidade que é um blackout prolongado.
Eu fiz questão de escrever um personagem normal, que provavelmente você aí deve estar falando assim: "Nossa, a história desse cara é bem parecida com vivo a minha vida". Porque é assim que a maior parte das pessoas vivem. E é por isso que em situações de colapso, a maior parte das pessoas sofre pesadamente.
Em grandes eventos civilizacionais de quebra da existência da sociedade, das regras, das leis, a maior parte das pessoas perece ou sofre horrores. E não é porque eles são vulneráveis e pessoas que estão ali por azar, não, cara. É porque eles são ignorantes porque querem, porque decidiram seguir o caminho da ignorância.
E aqui cabe um ponto importante, saiba que você não tá tão preparado quanto você pensa. Existe um fenômeno que a gente já comentou há muitos anos aqui no canal chamado Daning Krueger, que é um fenômeno que, infelizmente, nós seres humanos temos de é uma tendência de você achar que sabe das coisas sem verdadeiramente sabê-las. Por exemplo, se eu faço um vídeo mostrando como acender fogo, você vê o vídeo e você não praticou como acender fogo, mas você sente que agora sabe fazer fogo.
O que é uma falácia? É um engano. A grande sacada é que a nossa vida, ela precisa de experiência prática.
E o que nós mais temos em mídias como YouTube, Instagram, ex, todas as plataformas são os teóricos especialistas. Caras que sabem tudo na teoria, mas na hora da prática eles fracassam no básico. Então, meu caro, lembre-se que a regra aqui é a seguinte, tá?
Quem sofre de Dunning Krugger é incapaz de saber que está sofrendo disso. Porque uma pessoa que é estúpida de verdade, ela não tem as ferramentas para perceber que está sendo estúpida, então ela acha que está certa. Ok?
E por que que eu tô dizendo isso para você? Porque nós estamos em um momento social onde as tecnologias que suportam a nossa sociedade, elas são extremamente entranhadas na nossa vida. Você, com certeza, depende da eletricidade, da internet, de formas que você sequer é capaz de perceber, de tão profunda que é a sua dependência desses sistemas.
Então, quem sabe um desafio. Se você fala assim: "Não, Júlio, não é para tanto. Eu te desafio aqui.
Chegou na sexta-feira, final do dia, desliga o disjuntor. Vai lá, bate lá no seu disjuntor, desliga a luz da sua casa e liga só no domingo ao final do dia. Me diga o que vai acontecer com você.
Me diga quais são os desafios, dificuldades e aprendizagens que você vai ter no processo. Porque enquanto você não faz um simulado desse, sinto muito, você tá se baseando em fantasia, você tá se baseando na ideia do The Walking Dead. Então, parta do princípio de que nada é simples.
Seja você um cara que não é preparador, seja você um cara que é preparador, ambos têm dificuldades, ambos têm situações para melhorar. E parta do princípio de que a preparação nunca será suficiente. Mas a gente tá aqui pensando em se você usar técnicas simples, e eu não tô aqui, meu Deus, você não precisa ter uma propriedade autossuficiente lá na Alasca, cara.
Se você tiver um power bank carregado com painelzinho solar, por exemplo, o protagonista da nossa história, não perderia a capacidade de se comunicar com as pessoas. Ou quem sabe se ele fosse um pouco mais precavido, se ele tivesse duas ou três semanas de comida em casa e olha que isso não é nada, ele não precisaria ter saído na rua e se colocado em uma situação situação de risco. Olha só como são coisas simples.
A gente muitas vezes começa a hiperbolizar as condutas do preparador, né? Não, se o cara é sobrevista, ele tem que ter um bunker, ele tem Não, cara, não. Ser um sobrevivencialista ter o básico, é ter o simples, é ter um mês de comida em casa, três meses de comida em casa, alguma forma de energia sustentável, quem sabe um sistema de comunicação alternativo, remédios guardados, coisa simples que pode evitar que você acabe como protagonista da nossa história.
Então isso aqui é só um puxão de orelha, porque de novo tem muita gente que acompanha o nosso canal por entretenimento. E algumas vezes o risco disso é que você começa a achar que é tudo brincadeira e fantasia, só que um dia, cara, bate na tua porta. Olhando a totalidade da história da humanidade, o ponto principal aqui a entender é o seguinte: não se trata de se uma crise vai bater na sua porta, e sim quando ela vai bater.
Talvez você tenha sorte de passar o seu tempo de vida num momento de algodão doce da sociedade, mas tudo indica que nós estamos chegando próximos de um fim civilizacional muito em breve. São ciclos que se repetem, não há novidade nisso. Então, por que fechar os olhos de maneira intencional para riscos que podem atingir não só você, mas a sua família?
Então, fica essa mensagem para quem sabe você dar uma acordada aí no ponto, voltar a estudar, voltar a tomar conta das suas coisas e controlar um pouco mais de coisas na sua vida e menos de deixar a o mundo te direcionar pros lados que você quer. Fechou? Espero que essa conversa tenha sido boa para você.
A gente se vê no próximo vídeo. Coloca aqui nos comentários. Se você já fez o teste do blackout intencional, coloca nos comentários.
Tô curioso para saber qual foi a sua experiência. E a gente se vê no próximo vídeo. Eu sou o Júlio Lobo.
esteja preparado.