NEURO-HIPÓFISE (OCITOCINA E VASOPRESSINA) | Introdução ao eixo hipotálamo-hipófise | MK Fisiologia

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Video Transcript:
Olá pessoal, tudo bem com vocês? Neste vídeo a gente vai começar a falar sobre uma pequena glândula muito importante do sistema endócrino, a pituitária, mais conhecida como hipófise. Antes de continuar assistindo esse vídeo, é muito importante que você tenha um conhecimento geral sobre hormônios.
Por isso, eu recomendo esses dois vídeos aqui do card pra quem quiser aprender ou fazer uma revisão sobre hormônios. Mas se você já tem esse conhecimento, bora falar sobre a hipófise. Essa glândula, fica localizada na base do encéfalo e encontra-se associada fisicamente a uma estrutura do sistema nervoso, o hipotálamo, o qual regula a secreção dos hormônios da glândula hipófise.
Mas como? Pra entender como o hipotálamo regula a secreção da glândula hipófise, é preciso entender como essas duas estruturas se organizam. Vamos olhar primeiro pro hipotálamo.
Em um corte mediano separando os dois hemisférios cerebrais, podemos ver que o hipotálamo é formado por vários núcleos, os núcleos hipotalâmicos. Esses núcleos podem ser divididos em 3 regiões: anterior (núcleos azuis), tuberal ou medial (núcleos vermelhos), e posterior (núcleos verdes). Como vocês podem perceber há muitos núcleos hipotalâmicos e nem todos estão ilustrados aqui nessa figura.
Mas nesse momento, você não precisa se preocupar em conhecer todos os núcleos hipotalâmicos, o que é importante é saber que muitos desses núcleos recebem sinais de diversos tipos, como: Sinais neurais, que chegam via transmissão sináptica e trazem informações sensoriais sobre o meio externo e interno, além de informações emocionais vindas de estruturas neurais responsáveis pela geração de emoções, como a amígdala. Sinais hormonais, que chegam através da sinalização de alguns hormônios como por exemplo, a insulina. E sinais metabólicos, que chegam através da sinalização de alguns nutrientes, como a glicose e alguns aminoácidos.
Todos esses sinais podem alterar a atividade dos neurônios localizados nos diversos núcleos hipotalâmicos, e muitos desses neurônios podem projetar seus axônios: Pro tronco encefálico, onde estão localizados neurônios do sistema nervoso autônomo, que regulam a função das vísceras; Pro córtex cerebral (como por exemplo pro córtex motor, influenciando diversos tipos de comportamentos); E, claro, pra glândula hipófise (regulando a sua secreção hormonal). Assim, de acordo com os sinais recebidos, o hipotálamo pode ativar vários sistemas efetores (como o sistema visceral, o sistema motor e o sistema endócrino), tudo isso pra manter a homeostase e regular o crescimento e a reprodução do organismo. Neste vídeo, iniciaremos o estudo da regulação da secreção hormonal da glândula hipófise pelo hipotálamo.
Bom, então pra entender como o hipotálamo regula a secreção da hipófise, precisamos entender como essa glândula se organiza. Observando um corte mediano, separando os dois hemisférios cerebrais, podemos ver que a hipófise se localiza logo abaixo do hipotálamo, e parece uma pequena bolsa que se projeta a partir do próprio hipotálamo. Uma informação importante é que a hipófise é dividida em duas porções: uma porção anterior (por isso chamada de hipófise anterior, também conhecida como adeno-hipófise), e uma porção posterior (por isso chamada de hipófise posterior, também conhecida como neuro-hipófise).
Por ser uma estrutura delicada, essa pequena glândula não deve ficar pendurada balançando pra lá e cá, por isso ela fica alojada, bem protegida, dentro de uma cavidade do osso esfenoide, que é chamada de sela turca ou túrcica. Ainda nessa figura, observem que a neuro-hipófise está associada ao hipotálamo através de uma pequena estrutura na forma de haste, a haste infundibular ou simplesmente infundíbulo. Observem ainda que uma parte da adeno-hipófise meio que abraça o infundíbulo, e juntos formam o que chamamos de haste hipofisária, estrutura que conecta toda a hipófise ao hipotálamo.
Agora, reparem que essas duas porções da hipófise estão representadas em cores diferentes, isso porque o tipo de tecido que forma cada hipófise é diferente. Olhem o nome: neuro-hipófise, como o próprio nome diz é constituída de tecido nervoso; e a adeno-hipófise (do grego, adeno que significa “corpo glandular”) é constituída por tecido epitelial, um tipo de tecido que dá origem as glândulas endócrinas, especializadas na síntese e secreção de hormônios. Sabendo que as duas porções da hipófise são formados por tecidos diferentes, é de se esperar que cada uma delas secrete hormônios diferentes.
Enquanto a neuro-hipófise secreta apenas dois hormônios (ocitocina e vasopressina), a adeno-hipófise secreta seis hormônios diferentes: Prolactina, GH, TSH, ACTH, LH e FSH. Neste vídeo vamos falar apenas sobre a neuro-hipófise e seus respectivos hormônios. Bom, então como eu disse, a neuro-hipófise é formada por tecido nervoso.
Logo, vocês podem estar pensando que deve ter um monte de neurônios aí”. Tem, mas tem apenas axônios de neurônios, cujos os corpos celulares ficam localizados adivinhem onde? No hipotálamo, mais especificamente em dois núcleos hipotalâmicos (núcleos supraóptico e paraventricular).
A neuro-hipófise então é formada basicamente por projeções axonais que ao invés de liberar seus “neurotransmissores” nas fendas sinápticas, liberam nos espaços intersticiais, próximo aos capilares sanguíneos que irrigam a neuro-hipófise. Portanto, não liberam neurotransmissores, mas sim neuro-hormônios ou simplesmente hormônios, no caso, ocitocina e vasopressina, a qual também é conhecida como ADH, sigla que vêm do inglês, e significa hormônio antidiurético. Esses hormônios são dois peptídeos formados por 9 aminoácidos, e diferem em apenas dois aminoácidos, sendo, portanto, classificados como hormônios peptídicos.
Sabendo disso, é fácil prever como esses hormônios são sintetizados e secretados. Como eles são peptídeos, esses hormônios são sintetizados da mesma forma que qualquer proteína. Ou seja, o gene deve ser transcrito,  o RNA mensageiro deve ser traduzido em uma sequência de aminoácidos; e essa sequência deve ser processada e empacotada em vesículas ou grânulos secretórios lá no complexo de golgi.
Tudo isso acontece no corpo celular dos neurônios, que ficam localizados, lá no hipotálamo. Assim, os grânulos secretórios cheios de hormônios devem ser transportados até os terminais axonais, localizados na neuro-hipófise. Nesses terminais, os grânulos secretórios ficam estocados, até que  estímulos neurais (isto é, sinapses excitatórias), provoquem a despolarização desses neurônios e o disparo de potenciais de ação, que chegam até os terminais axonais, e iniciam a exocitose dos grânulos secretórios, algo muito parecido com o que ocorre nas sinapses químicas, mas ao invés da liberação ocorre em uma fenda sináptica, o hormônio é liberado próximos aos capilares sanguíneos e, por difusão, entra na circulação sanguínea.
Como qualquer hormônio peptídico, a ocitocina e a vasopressina são hormônios hidrossolúveis, e podem circular livremente pela circulação, o que implica em um tempo de meia vida relativamente curto (no máximo 20 min). Ao chegar nas células alvo, esses hormônios se ligam em seus receptores específicos pra desencadear as suas ações. Mas, quais são as células alvo da ocitocina e da vasopressina?
Ou seja, quais os tipos de células que apresentam receptores pra cada um desses hormônios? Os receptores de ocitocina estão presentes principalmente, no músculo liso da parede uterina, ou miométrio. Quando a ocitocina se liga nesses receptores, ela promove a contração uterina.
Também há receptores de ocitocina nas glândulas mamárias, mais precisamente nas células contráteis presentes nos alvéolos dessas glândulas, chamadas de células mioepiteliais. Quando a ocitocina se liga aos seus receptores, essas células se contraem, promovendo a ejeção do leite armazenado nos alvéolos dessa glândula. Já os receptores de vasopressina, estão presentes no músculo liso dos vasos sanguíneos, e quando a vasopressina se liga nesses receptores, adivinhem o que ela faz?
Não é “vaso-pressina”, Ah então ela faz pressão nos vasos sanguíneos, isto é, estimula a contração do músculo liso da parede vascular que se contrai, causando o que chamamos de vasoconstrição, o que contribui pro aumento da pressão sanguínea. Também há receptores de vasopressina nas células dos ductos coletores dos túbulos renais ou néfrons, e quando a vasopressina se liga nos seus receptores nessas células, ela promove aumento da reabsorção de água, ou seja, diminui a eliminação de água na urina. Lembrem-se do segundo nome da vasopressina, ADH, hormônio antidiurético, um hormônio que evita a diurese;  isso porque ela estimula a inserção de um tipo específico de canais de água ou aquaporinas, na membrana dessas células, aumentando a reabsorção de água.
Bom, agora que vocês já conhecem as principais ações desses hormônios fica fácil entender os principais estímulos pra secreção de cada um deles. Como vimos, a ocitocina promove contração uterina. E quando é necessário contrair o útero?
Durante o parto. Então, como ocorre a liberação de ocitocina durante o trabalho de parto? Aqui entra em cena um típico mecanismo de feedback positivo.
No final da gravidez a concentração dos hormônios femininos estrogênio e progesterona diminuem e aumenta-se a produção de substâncias chamadas de prostaglandinas, que podem iniciar as contrações uterinas. O bebê é então forçado contra o colo uterino (a saída do útero) onde há mecanorreceptores. O estiramento da parede do colo uterino ativa estes mecanorreceptores que disparam potenciais de ação, os quais serão conduzidos até chegar no hipotálamo, lá nos núcleos supraópticos e paraventriculares, excitando os neurônios secretores de ocitocina.
A ocitocina liberada segue pela circulação sanguínea até chegar no músculo liso da parede uterina, causando mais contração. Isso empurra mais o bebê, causando maior estiramento do colo uterino que, consequentemente, estimula a liberação de mais ocitocina, mantendo um ciclo vicioso, característico de um mecanismo de feedback positivo. Esse ciclo vicioso, só acaba quando o bebê for completamente expulso do útero, e não houver mais ativação dos mecanorreceptores do colo uterino.
Outro estímulo pra secreção da ocitocina ocorre durante a amamentação. Quando mecanorreceptores presentes no mamilo, são ativados pela sucção, potenciais de ação serão conduzidos até chegar nos neurônios secretores de ocitocina do hipotálamo, estimulando a secreção de ocitocina. Uma vez na circulação sanguínea, a ocitocina pode chagar até as células contráteis das glândulas mamárias, causando ejeção de leite.
Além desse estímulo físico, outras influências do meio externo também podem estimular a secreção desse hormônio, como por exemplo um estímulo sonoro, como o choro do bebe, que pode antecipar a ejeção de leite nas glândulas mamárias. Agora sobre a regulação da secreção da vasopressina, lembrem-se que um dos seus efeitos era promover aumento da pressão sanguínea, por promover vasoconstrição. Então, adivinhem quando eu preciso secretar vasopressina?
Quando a pressão arterial diminuir. Quando isso acontece, receptores de pressão (ou barorreceptores) presentes na parede das grandes artérias, detectam essa diminuição e enviam essa informação até o hipotálamo, onde os neurônios secretores de vasopressina são excitados librando seus hormônios na neuro-hipófise. A vasopressina secretada promove vasoconstrição, elevando a pressão arterial.
Esse aumento da pressão, faz um feedback negativo, e a secreção da vasopressina é inibida. Embora a queda da pressão arterial possa estimular a secreção de vasopressina, o principal estímulo pra secreção desse hormônio é a diminuição da quantidade de água corporal. Quando a quantidade de água corporal diminui, a osmolaridade dos líquidos corporais aumenta (ou seja, fica mais concentrado em solutos).
Isso ativa os osmorreceptores (isto é, neurônios que detectam a osmolaridade) cujos axônios se projetam pro hipotálamo onde eles excitam os neurônios secretores de vasopressina, causando a sua liberação na circulação. A vasopressina, ao chegar nos rins, promove reabsorção de água produzindo uma urina mais concentrada e com volume reduzido, poupando água que está em falta. Ao contrário, quando a quantidade de água corporal aumenta, a secreção de vasopressina é inibida, e a reabsorção de água nos rins diminui, produzindo uma urina mais diluída e com volume elevado, eliminando água que está em excesso.
-- Uma curiosidade interessante aqui é que o consumo de álcool pode inibir a secreção de vasopressina mesmo se a quantidade de água corporal estiver normal. Isso explica porque vamos tanto ao banheiro quando consumimos esse tipo de bebida. Bom então resumindo tudo que vimos nesse vídeo, lembrem-se que: A neuro-hipófise é uma projeção do hipotálamo, e secreta dois hormônios com ações bastantes diferentes.
A ocitocina age principalmente no útero, estimulando a contração uterina, e nas glândulas mamárias, estimulando a ejeção do leite. A vasopressina age principalmente nos vasos sanguíneos, estimulando a vasoconstrição e o aumento da pressão arterial, e nos rins, estimulando a reabsorção de água, evitando a diurese, por isso também é chamada de hormônio antidiurético ou ADH. Bom, se vocês ficaram com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, blz?
A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!
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