O planeta está chegando aos 8 bilhões de habitantes. E nos próximos anos, a distribuição dessa população deve mudar bastante. Pra começar, a China vai perder o posto de país mais populoso do mundo, que mantém há séculos, para a Índia, e já no ano que vem.
A África Subsaariana vai ganhar mais protagonismo. E o Brasil vai, daqui a algumas décadas, começar a ter cada vez menos gente. Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil em São Paulo, e neste vídeo vou resumir algumas das mudanças previstas pelo novo relatório Perspectivas da População Mundial, da ONU.
E que nos dá algumas pistas de como vai ser a Terra no final do século 21. Antes, guarde esta data: 15 de novembro de 2022. É uma data simbólica, claro.
Mas é quando a ONU prevê que a população da Terra vai alcançar os 8 bilhões. Daí, a estimativa é que isso aumente para 8 bilhões e meio em 2030; 9 ponto 7 bilhões em 2040, e 10 ponto 4 bilhões em 2080, quando deve ficar estável até o final do século 21. Você deve ter notado que, embora a população esteja crescendo, o ritmo é cada vez mais lento.
Aliás, em 2020 foi a primeira vez desde o ano de 1950 que a taxa de crescimento da população global foi mais baixa do que 1%. O porquê disso está no nosso primeiro ponto: a queda na taxa de fecundidade. Em muitos países, a tendência é de que as famílias tenham cada vez menos filhos.
É um caminho natural do desenvolvimento, decorrente de mais acesso a contraceptivos, da vida nas cidades, da maior autonomia das mulheres e de uma expectativa de vida mais longa. Em números, entre 1950 e 2021, a média de nascimentos por mulher caiu de 5 para 2,3. E a expectativa é de que a taxa mundial de fertilidade diminua ainda mais, atingindo 2,1 até 2050.
Essa patamar, aliás, é considerado o nível mínimo para que uma população consiga repor, digamos assim, as pessoas que morrem e não comece a encolher. Muitos países já estão abaixo desse limite nos dias de hoje: dois terços da população global vivem hoje em países onde, em média, cada mulher tem menos de 2,1 filhos. Estima-se que 55 países vão ver sua população vai diminuir até 2050, segundo a previsão da ONU.
Desses, 26 devem perder mais de 10% de seus habitantes, seja pela queda nas taxas de fecundidade, seja pela imigração em larga escala, ou por uma combinação das duas coisas. É o caso, por exemplo, de Bósnia Herzegovina, Croácia, Bulgária, Hungria, Japão, Letônia, Lituânia, Romênia e a Ucrânia - que já estava em rota de declínio populacional e agora enfrenta uma guerra que já expulsou milhões de pessoas. Aliás, a gente fez um vídeo sobre a Croácia, vou deixar o link lá na descrição.
Mas o caso mais emblemático é o da China, hoje o país mais populoso do mundo, com 1 bilhão e 400 milhões de habitantes. A China tem hoje mais ou menos 14 milhões de pessoas a mais que a Índia, mas isso deve mudar logo mais, no ano que vem, quando a Índia vai passar na frente. Daí a diferença entre eles começa a aumentar.
A previsão é de que, em 2050, a população chinesa diminua para 1 bilhão e 300 milhões, enquanto a indiana vai continuar crescendo, até quase um bilhão e 700 milhões. O Brasil provavelmente ainda continua a crescer por algumas décadas, até mais ou menos 2050, quando deve alcançar 231 milhões de habitantes - 16 milhões a mais do que tem hoje. Depois, a tendência é de que a população brasileira também comece a diminuir.
O demógrafo brasileiro José Eustáquio Diniz Alves explica que é um caminho natural, mas não deixa de ser marcante: afinal, nos últimos 200 anos a população brasileira havia crescido impressionantes 50%. Bom, mas existe um grupo de países onde a população só deve aumentar. A maioria fica na África Subsaariana, onde as mulheres ainda têm, em média, 4,6 filhos cada.
A população dessa região deve quase dobrar de tamanho até 2050 e concentrar a maior parte do crescimento populacional do mundo até o fim do século 21. A ponto de a Nigéria, o país mais populoso da África, provavelmente ultrapassar a China no fim do século. Por um lado, esse crescimento é desafiador, afinal acontece em alguns dos países mais pobres do mundo, com estrutura precária de saúde e educação e, além disso, grande vulnerabilidade ao aquecimento global.
Por outro, é também uma oportunidade. A África não só terá uma população maior, como mais jovem, o que nos leva ao segundo ponto deste vídeo: a longevidade. No mundo inteiro, um fator importante para manter a população crescendo até agora é que as pessoas estão vivendo mais.
Em 2019, a expectativa de vida no mundo era de 72,8 anos — quase nove anos a mais em comparação com 1990. A pandemia de covid-19 interrompeu temporariamente essa tendência, mas, mesmo assim, segundo a ONU, a expectativa de vida deve continuar subindo e atingir 77,2 anos em 2050. Essa é uma média que esconde, claro, grandes disparidades entre países ricos e pobres.
Mas o fato é que os idosos vão compor uma parcela cada vez maior das sociedades. Atualmente, pessoas com mais de 65 anos representam 10% da população. Em 2050, serão 16%.
E olha só que simbólico: em 2050, haverá duas vezes mais idosos com mais de 65 anos do que crianças com menos de cinco anos. É claro que é muito bom que as pessoas estejam vivendo mais. Mas isso traz desafios enormes para os sistemas de saúde pública e de aposentadorias, de um lado, e para a própria economia em si, que deve ver a força de trabalho potencial encolher.
E aqui chamam atenção casos como os da América Latina, partes da Ásia e, de novo, da África Subsaariana. Segundo a ONU, a população em idade ativa, de 25 a 64 anos, ainda está crescendo nesses continentes, o que lhes dá a chance de ganhar produtividade, mais espaço na economia mundial e, em consequência, de aumentar o seu desenvolvimento. Essa oportunidade costuma ser chamada de "bônus demográfico", que se perde quando uma parcela grande da população passa a depender de aposentadorias.
O Brasil se inclui por enquanto nesse cenário: a população em idade ativa está no maior patamar da série histórica e a relação de dependência de crianças e idosos, no menor. No entanto, a ONU alerta que é preciso investir em educação e saúde para otimizar esses ganhos. Afinal, essa janela de oportunidade está se fechando: por volta de 2050, como eu falei lá no começo, a população vai parar de crescer.
Para alguns países, quando essa janela de oportunidade se fecha, muitas vezes a única solução é contar com a força de trabalho que vem de fora. Esse é o nosso terceiro e último ponto: a imigração. Entre 2010 e 2021, guerras, crise econômica e insegurança causaram ondas de migrações em massa de países como a Síria, que perdeu 4,6 milhões de habitantes, e da Venezuela, que perdeu 4,8 milhões.
Do outro lado dessa equação estão países que recebem um grande fluxo de migrantes, como Jordânia, Líbano e Turquia - onde foram parar a maioria dos refugiados sírios. Os migrantes venezuelanos, por sua vez, se espalharam por Colômbia, Peru, Estados Unidos, Chile, Espanha e Brasil, por exemplo. Eu citei essas duas grandes crises migratórias, mas tem muitas outras em curso: basta a gente lembrar de tragédias como a dos migrantes latino-americanos que morreram recentemente dentro de um caminhão no Texas ou a guerra da Ucrânia.
O ponto da ONU nessa questão é que a migração é hoje uma enorme força motriz de mudanças populacionais no mundo. Nos países ricos que são destino de parte desses migrantes, a imigração já responde hoje por uma parcela maior do aumento populacional do que os nascimentos. Entre 2000 e 2020, a imigração para esses países ricos fez a população crescer em 80,5 milhões.
Já o número de novos nascimentos — descontadas as mortes — responde por 66,5 milhões. Para países onde a população cai, a migração é vista por muitos analistas como algo que pode ser proveitoso do ponto de vista econômico, porque adiciona uma mão de obra jovem à força de trabalho da qual esses países tanto precisam. Todos esses pontos que a gente abordou aqui vão moldar a população da Terra até 2100, quando se encerrará o século 21.
Por hoje eu fico por aqui, deixe seu comentário com mais temas que você gostaria que a gente abordasse num vídeo. Tchau!