essa é uma história baseada na vida real do seu Antônio devastado pela perda de sua esposa este senhor estava convencido de que seus dias de felicidade tinham ficado no passado mas o Destino Implacável em sua imprevisibilidade reservava planos surpreendentes para ele o que aconteceu em seguida é tão extraordinário que eu te peço AF Vel cintos a jornada do seu Antônio vai prender sua atenção do início ao fim e te provar de forma avassaladora que nunca é tarde para recomeçar dê aquele like de confiança se a história não te emocionar pode tirar no final enquanto isso
se inscreve no canal e descubra um baú de memórias incríveis dos nossos queridos avós hoje aos 72 anos eu olho para trás e quase não reconheço o homem que fui mas faz 11 anos 11 anos que tudo isso aconteceu eu tinha 61 e para ser sincero era mais amargo que um limão Verde nunca fui de muito papo nem quando era Moço mas depois que minha mulher a Helena se foi fiquei pior ainda já faz uns 15 anos que ela partiu é 15 longos anos ela era a base de tudo a casa sem ela parcia só
um monte de paredes vazias e quando aquele maldito câncer apareceu rasteiro como o bicho peçonhento eu ainda achava que daria um jeito Helena Começou a sentir as dores uns dois anos antes de partir no começo eram só uns incômodos nada que parecesse sério mas as dores só pioraram e quando a levamos para o médico a sentença veio seca câncer no pâncreas já avançado aquelas palavras destruíram tudo Passamos um ano inteiro indo de um hospital para outro tentando um tratamento aqui outro ali gastando o que a gente tinha e o que não tinha eu fiquei ao
lado dela até o fim vi minha mulher forte e cheia de vida definhar na cama Como uma plantinha sem água segurava a mão dela e dizia que tudo ia ficar bem mesmo sabendo que não ia mas o câncer não dá trégua e quando ela fechou os olhos pela última vez numa madrugada gelada Eu sabia que nunca mais as coisas seriam como antes fiquei andando pela casa como um fantasma tentando achar um motivo para continuar meus filhos Pedro e Eduardo ficaram um tempo por perto mas eu não era fácil de lar Pedro o mais velho já
estava com 30 e poucos anos na época mas a cabeça já tinha desandado muito antes se envolveu com gente errada começou a beber demais a se meter em jogo eu tentei falar Briguei mas nada adiantava e quando a mãe morreu ele desabou de vez sumiu uns seis meses depois pegou o que tinha deixou um bilhete dizendo que ia tentar a sorte em outra cidade e nunca mais voltou nem uma carta uma ligação nada eu ainda escutava o pessoal falando que tinham visto ele por aí mal trapilho mas nunca consegui confirmar o Eduardo o mais novo
sempre foi um bom menino trabalhava desde cedo na cidade nunca deu um pingo de trabalho e quando ficou adulto conseguiu juntar um dinheirinho era um rapaz centrado sempre querendo fazer a coisa certa não demorou para comprar uma casinha modesta no centro e casar com uma moça boa a Jane que conheceu no trabalho eles estavam construindo uma vida tranquila mas aí quando a mãe dele adoeceu ele começou a vir cada vez mais para o sítio preocupado comigo e com ela passava os finais de semana aqui e depois voltava para a cidade tentando equilibrar tudo mas quando
a doença avançou ele não conseguiu mais manter esse vai e vem a mulher dele comeou aamar dizendo que não aguentava mais aquele entra e sai e ele dividido acabou ficando mais por aqui do que lá largou a própria vida para tentar me ajudar a segurar as pontas mesmo depois quando a mãe dele se foi ele continuou insistindo querendo que eu fosse morar na cidade que vendesse o sítio e começasse de novo mas eu teimoso como sou dizia que nunca ia sair daqui o tempo foi Pass e sem eu perceber o casamento dele começou a se
desfazer a mulher dele queria a presença do marido ela estava grávida a coisa ficou feia e ele começou a ficar cada vez mais nervoso só que eu em vez de entender comecei a brigar mais ainda foi nessa época que a relação entre nós azedou que nem Leite velho cada visita dele era uma discussão mas quando Luciana minha princesinha nasceu a gente se aproximou novamente eu ia na casa dele levava presentinhos para minha primeira netinha mimava aquela coisinha linda Era muito bom depois de tudo que passei ela era uma luz na minha vida logo a Jane
engravidou de novo e nasceu o Joab outra luz nas nossas vidas mas o Eduardo Ah o Eduardo não sossegava vivia me atormentando que querendo que eu vendesse o sítio que fosse morar com eles na cidade mas como é que eu ia abandonar o lugar onde construí minha vida onde cada canto guardava uma lembrança da minha Helena onde criei meus filhos onde plantei cada árvore não isso eu não podia fazer era pedir demais para esse velho coração até que chegou o dia que eu nunca vou esquecer a briga foi a pior de todas as palavras saíam
como veneno eu vi o rosto do Eduardo contorcido de raiva os punhos cerrados foi quando ele disse aquilo que me gelou por dentro tô indo embora pai de vez fiquei paralisado enquanto ele continuava vou viver minha vida não vou mais te incomodar vi meu filho e quando ele se virou para ir embora nossos olhares se cruzaram havia algo no olhar dele Uma Última Chance talvez mas eu no meu orgulho idiota só consegui dizer vai então e não olha para trás Eduardo não respondeu apenas virou as costas e saiu o barulho da porta fechando ecoou pela
casa os dias seguintes foram um tormento a falta dele das Crianças era quase física eu andava pela casa sentindo o peso do Silêncio noite deitado na cama pensava em maneiras deir mas quando amanhecia meu orgulho teimoso me impedia de fazer qualquer coisa e assim o tempo foi passando dias semanas meses depois que eles foram eu fiquei ali sozinho um velho rabugento mal encarado que ninguém queria por perto o problema é que depois que a gente perde quem ama tudo vira lembrança dolorida Então fui endurecendo parei de o cemitério fechei a casa e só falava o
necessário com quem aparecia se alguém passasse por mim só faltava atravessar a rua do outro lado sei que a Vila falava de mim pelas costas lá vai o velho ranheta era isso que deviam dizer mas quer saber eu nem ligava não precisava de ninguém não as pessoas são complicadas demais e depois de um tempo você cansa de tentar entender eu passava os dias assim no meu canto entre a roça e o celeiro a verdade é que preferia a companhia das Galinhas do que de gente fofoqueira elas pelo menos não ficavam perguntando da minha vida mas
aí num belo dia o povo começou a perceber que eu andava diferente era só botar os pés no caminho pro celeiro e eu já estava com um sorriso que não me via há anos o pessoal coxixa olhava de lado fazia cara de esp panto porque afinal que diabos um velho ranzinza que nunca sorri estaria fazendo no celeiro para sair de lá tão satisfeito bom como eu ia dizendo era um segredo que eu guardava só para mim naquele tempo eu não era homem de ter alegria nenhuma nem bicho de estimação me fazia companhia quanto mais gente
mas por algum motivo toda vez que eu saía do celeiro meu rosto esse mesmo enrugado e fechado como uma porta de ferro abria um sorriso sem querer e olha não era de propósito não era que eu por um instante esquecia de ser amargo não demorou muito para os vizinhos começarem a reparar a fofoca correu mais rápido que carrapato em cachorro um cicho aqui um olhar atravessado ali até que começaram a inventar história disseram que eu tinha uma namorada escondida lá dentro Fala sério com 61 anos eu mal dava conta de cuidar de mim quem dera
ter mulher por aí outros mais exagerados juravam que eu tinha achado uma mina de ouro que besteira mas eu não ligava não deixava eles falarem era mais fácil deixar o povo pensar o que quisesse do que contar a verdade eu tinha algo muito mais precioso no celeiro algo que se alguém soubesse ia mudar tudo só que eu não estava preparado para isso não ainda E o pior é que tinha gente disposta a descobrir na marra entre eles a pior de todas Dona Margarida a maior língua solta que eu já conheci mulher pequena franzina mas com
um gênio de dar inveja em qualquer político se tinha um boato você podia apostar que foi ela quem começou e aí quando começou a perceber que eu estava diferente decidiu que era a hora de meter o nariz onde não era chamada certo dia depois que eu voltei da feira lá estava ela plantada no meu portão como uma praga o sol ainda nem tinha se posto e ela já estava lá com os braços cruzados e a cara azeda esperando para me interrogar eu nem tinha descido do carro quando ela começou E aí seu Antônio o que
tanto o senhor esconde lá no celeiro hein suspirei fundo tentando não perder a paciência Dona Margarida não era mulher de se mandar embora fácil era como capim brotava até no asfalto mas eu nunca fui de baixar a cabeça para ninguém então respondi com o mesmo mau humor de sempre e o que a senhora tem a ver com isso Margarida vai cuidar da sua vida e me deixa em paz ela não recuou claro Dona Margarida só faltava enfiar o dedo no meu nariz Ah então tem algo escondido mesmo não é ninguém sorria assim do nada seu
Antônio Conheço gente que ri por menos mas o senhor o senhor só pode ter achado algum baú de tesouro lá dentro ou está se metendo em coisa errada Vá se danar mulher foi só o que eu consegui responder antes de bater a porta na cara dela e ir direto para o celeiro o coração martelando no peito Me conta aí nos comentários se você tem um vizinho futriqueiro igual ou pior que a Dona Margarida eu vou ler e deixar um coraçãozinho para você quando você for comentar Aproveita e deixa o seu gostei tem muitas pessoas que
gostam da história e ficam tão atentas que vão embora sem deixar o like bom vou te contar o motivo dos meus sorrisos era muito mais simples e a mesmo tempo mais complicado do que qualquer um naquela Vila podia imaginar não tinha tesouro não tinha contrabando e muito menos mulher o que eu escondia lá dentro Era Uma Garotinha assustada que não tinha para onde ir se eu Contasse iam me tomar por louco iam querer levar ela embora era só isso que eu conseguia pensar e é por isso que eu endureci com Dona Margarida ela tinha um
Faro que nem cachorro de caça e se eu desse um pingo de brecha ela ia acabar descobrindo tudo naquela noite a chuva caía forte como se o céu quisesse lavar toda a sujeira do mundo eu tava voltando pro celeiro para guardar umas ferramentas quando vi um vulto pequeno se mexendo perto da porta no começo pensei que fosse um bicho qualquer procurando abrigo mas quando cheguei mais perto meu coração quase parou era uma menina não devia ter mais que 11 ou 12 anos toda encolhida e tremendo que nem vara verde abri a porta do celeiro num
instante e fiz sinal para ela entrar a coitadinha hesitou mas o frio e a chuva devem ter falado mais alto assim que entrou fechei a porta atrás de nós a luz fraca de um Lampião velho pude ver melhor o estado dela meu Deus do céu Parecia um passarinho que tinha caído do ninho e rolado na lama a roupa estava toda suja e rasgada o cabelo era uma pasta grudada na testa e dava para contar as costelas de tão magrinha que tava menina eu disse tentando não assustar ela o que você está fazendo aqui sozinha numa
noite dessas mas ela ficou muda só me olhando com aqueles olhos grandes e assustados era como se eu tivesse olhando para mim mesmo há muitos anos atrás quando eu também não tinha nada nem ninguém no mundo afinal de contas eu fui abandonado no orfanato ainda bebê e minha mãe Márcia e o pai Joaquim me adotaram fui bem criado por eles mas eu obviamente não estava seguindo nada do que eles tinham me ensinado se os dois estivessem vivos certamente estariam decepcionados com minhas atitudes eles sempre me falaram da importância da família de não deixar o orgulho
falar mais alto que o amor e o que eu estava fazendo exatamente o oposto estava jogando fora tudo que aprendi com eles todo o amor que me deram se pudessem me ver agora provavelmente balançaram a cabeça tristes por ver o filho que criaram com tanto carinho agindo desse jeito lembrei que tinha trazido Um Pedaço de Pão pro caso de encontrar algum animal para alimentar tirei ele do bolso já um pouco úmido da chuva mas ainda bom de comer tome ofereci estendendo o pão para ela deve estar com fome não é a menina olhou pro pão
como se fosse ouro mas não se mexeu então parti um pedacinho e comi na frente dela para mostrar que não tinha perigo só aí ela pegou o pão devagar como se achasse que eu ia mudar de ideia e tirar dela Comeu tudo num instante e dava para ver que fazia tempo que não botava nada na boca depois de um tempinho ela me olhou de novo e sussurrou tão baixo que eu quase não escutei luí foi a única coisa que ela falou naquela noite e desde então não disse mais nada luí Um nome tão bonito para
uma criatura tão sofrida eu não sabia de onde ela vinha nem o que tinha acontecido Mas uma coisa eu sabia aquela menina tava soha no mundo e precisava de ajuda fiz o que meu coração mandou e decidi esconder Ela ali mesmo no celeiro arrumei um canto com uns fardos de feno peguei uma coberta e deixei que ela se acomodasse naquela primeira noite ela ficou encolhida num canto sem tirar os olhos de mim parecia que estava esperando eu mudar de ideia e jogar ela na rua a qualquer momento mas eu não ia fazer isso não podia
aquela menina tinha aparecido na minha vida por algum motivo e eu ia cuidar dela mesmo sabendo que estava me metendo numa encrenca danada desde aquele dia toda vez que eu entrava no celeiro encontrava aqueles olhos me observando atentos e assustados e a cada dia que passava eu me apegava mais a ela luí nunca pediu nada nunca reclamou era só silêncio e medo mas eu entendia aquele silêncio era o mesmo silêncio de quem já viu mais dor do que devia na vida numa noite quando a lua estava bem escondida e os vizinhos já tinham se recolhido
levei luí escondida até minha casa para ela poder tomar um banho fiz tudo com muito cuidado olhando para todos os lados como se fosse um ladrão na própria casa depois do banho ela parecia outra mas o medo nos o meso expliquei para ela com toda a paciência do mundo que precisava ficar escondida no celeiro os vizinhos não podem te ver minha filha eu disse se descobrirem você aqui vão fazer perguntas que não posso responder e você terá que ir embora e assim foram se passando os dias 17 para ser exato Eu sabia que estava brincando
com fogo escondendo uma menina num lugar daqueles numa vila pequena como a nossa onde todo mundo fica de olho em tudo era questão de tempo até alguém descobrir mas eu não podia abandonar ela não agora meu plano se é que dá para chamar de plano essa loucura toda era esperar esperar que a garota criasse coragem e me Contasse que diabos tinha acontecido com ela só assim eu poderia pensar em como ajudar de verdade mas a menina tava mais fechada que uma ostra devia ter passado por alguma coisa terrível um grande trauma Talvez para ficar daquele
jeito muda e assustada como um bicho acuado cada vez que eu levava comida ou roupas limpas pro celeiro Meu Coração batia forte temendo que algum vizinho Xereta me visse mas o medo de ser descoberto era menor que a vontade de proteger aquela criança eu não sou homem de ficar passando a mão na cabeça de ninguém mas com ela bem com ela era diferente eu tava dando tempo ao tempo se ela estava traumatizada Como Eu suspeitava não adiantava forçar mas que era difícil Ah isso era eu um velho rabugento acostumado com a solidão de repente me
vendo responsável por uma criança o problema é que quanto mais eu tentava fazer as coisas discretamente mais chamava a atenção se eu dava um passo fora do lugar lá estavam os olhos de alguém reparando e naquelas últimas semanas os sussurros viraram gritos Todos falavam todos queriam saber e Dona Margarida liderava o couro uma mulher como ela com aquele jeito mandão nunca aceitaria um não como resposta naquele dia ela deve ter contado pra vila inteira porque no fim da tarde quando eu saí para buscar água no poço vi um bando de curiosos no caminho fingindo que
estavam Só passando não engoli aquilo Margarida espalhou que eu tinha algo perigoso no celeiro que era melhor o povo se juntar e dar um fim na minha atividade suspeita atividade suspeita Quem me dera tudo o que eu tinha era uma garotinha com medo que eu escondia porque sabia que se não fosse eu ninguém mais ia cuidar dela fiz o que pude para segurar a situação fechei o cadeado do celeiro mais cedo e voltei para casa mas mesmo assim não conseguia sossegar a noite caiu devagar e eu só ficava olhando pela janela esperando o que eu
sabia que viria eles iam dar um jeito de entrar e eu estava certo Não era nem meia-noite quando ouvi o som da Madeira do portão rangendo corri para a varanda e de lá Vi as tremeluzindo no escuro A silhueta de um grupo andando na minha direção Dona Margarida na frente com aquele jeito de quem manda no mundo eles iam arrombar o cadeado eu sabia e eu não podia fazer nada desci as escadas de dois em dois degraus o cora batendo tão forte que achei que ia explodir corri pelo quintal e cheguei lá quando eles estavam
começando a empurrar a porta gritei que parassem que fossem embora mas ninguém me ouviu É aquele tipo de situação em que quanto mais você tenta impedir mais eles têm certeza de que você está escondendo algo grave quando o cadeado caiu e A Porta Se Abriu eu soube que estava acabado as lanternas iluminaram o interior do celeiro e todo mundo ficou em silêncio no canto atrás de uma pilha de feno lá estava o rosto muito assustado a expressão nos olhos dela quando viu aquele monte de gente me partiu em pedaços tentou se esconder mas não tinha
mais como Margarida deu um passo à frente e quase tropeçou surpresa pela primeira vez ela calou aquela boca e isso vindo de Dona Margarida era um milagre por um segundo ninguém disse nada as lanternas apontadas para luí e os olhos arregalados do pessoal me dizendo o que eu já sabia eles não esperavam isso eu só conseguia pensar em como explicar sem parecer que eu era um maluco antes que eu abrisse a boca Margarida virou para mim com uma cara que eu nunca vou esquecer os lábios dela tremeram como se ela tivesse mastigado um bicho amargo
Então ela começou a gritar berrava Como se eu tivesse fazendo mal pra garota crimin Ela gritava apontando Aquele dedo torto para mim vou chamar a polícia agora mesmo todo mundo ali olhando para mim como se eu fosse a pior hisória do mundo luí se encolheu ainda mais tremendo como se cada palavra fosse um tapa não teve jeito chamaram a polícia e eu no auge do meu desespero só queria que ela não fosse levada de mim quando os carros da polícia chegaram foi como se o inferno tivesse descido ali no meu quintal sirenes ligadas luzes piscando
gente se acotovelando para ver eu tentei manter a calma mas meu coração estava aos pulos e eu sentia a garganta seca como se tivesse engolido areia O sargento Azevedo desceu primeiro aquela figura imponente com o uniforme esticado e a cara dura de quem já viu de tudo olhou para mim e depois para a menininha que se encolhia no fundo do celeiro deu dois passos na minha direção e Sem Rodeios começou a falar queria saber quem era ela de onde tinha vindo e principalmente por que diabos eu estava escondendo uma criança no meu celeiro e eu
que nunca fui bom de conversa me vi ali no meio daquela gente toda tentando explicar o inexplicável eu disse que a encontrei sozinha vagando por aí e que só queria protegê-la mas ele não parecia interessado nas minhas desculpas Margarida é claro começou a gritar de novo dizendo que eu devia estar mentindo que ninguém esconderia uma criança assim sem motivo eu quis responder quis mandar ela ir catar cocos mas minha voz falhou tudo o que consegui fazer foi ficar parado vendo O sargento se virar para luí ele tentou falar com ela devagar perguntando seu nome e
de onde era mas luí estava apavorada seus olhos saltavam cheios de Lágrimas enquanto ela tentava se afastar o máximo que podia Como se quisesse abrir um portal na parede do celeiro O sargento suspirou Balançou a cabeça e então deu a ordem que eu mais temia vamos levá-la para a delegacia ele disse quero saber o que esta pobre menina vem Pass na sua mão Meu Mundo Caiu naquele instante corri na direção dele implorei para que me Ouvisse eu gritei que não podiam fazer isso que ela precisava de mim mas tudo o que consegui foi ser empurrado
para atrás eles pegaram luí como se fosse um porco pro abate jogada pelos ombros do policial ela começou a chorar e gritar alto quando percebeu que estavam levando embora eu fiquei ali sem poder fazer nada só vendo minha única razão de viver ser levada mas a coisa não parou por aí mal tinham colocado luí no carro da polícia quando um dos oficiais se virou para mim o senhor também vai ter que nos acompanhar ele disse seco como palha não tive nem tempo de protestar me algemaram ali mesmo na frente de todo o mundo como se
eu fosse um bandido qualquer as portas do carro se fecharam e em segundos estávamos indo embora eu no banco de trás de uma viatura luí em outra vi as luzes das casas da vila ficando para trás agora me conta uma coisa você teria abrigado uma menina Nas condições que luí se encontrava Ou acha que eu me precipitei não levando ela imediatamente para a polícia eu gostaria de saber sua opinião na delegacia me jogaram numa sala pequena e abafada horas se passaram com policiais entrando e saindo fazendo perguntas querendo respostas que eu mal sabia como dar
vocês não entendem eu repetia a voz rouca de tanto falar ela precisava de ajuda eu não podia deixar ela na rua mas eles queriam mais queriam saber de onde ela veio eu a tinha mais alguém envolvido no começo eu não entendia bem o que eles estavam querendo dizer mas aos poucos a ficha foi caindo eles insinuavam que eu era parte de algum esquema maior que a menina tava sequestrada e eu só tava escondendo ela até alguém pagar o resgate pelo amor de deus eu gritei quando finalmente entendi você estão achando que eu sou o qu
um bandido um o delegado me olhou Senor Antônio o senhor tem que entender nossa posição uma menina encontrada escondida na sua propriedade claramente traumatizada Isso não é coisa que se vê todo dia eu quase ri de nervoso eu um velho que mal saía de casa agora era suspeito de fazer parte de uma quadrilha de sequestradores se não fosse tão sério seria até engraçado Olha aqui eu disse tentando manter a calma eu só queria ajudar aquela menina ela apareceu do nada toda lascada e com medo o que vocês queriam que eu fizesse jogasse ela na rua
o interrogatório parecia não ter fim não tinha advogado não tinha ninguém do meu lado era só eu Deus e aquele oficial que parecia determinado a me fazer confessar algo que eu não fiz as mesmas perguntas de formas dientes eu me sentia cada vez mais perdido e desesperado finalmente depois do que pareceu uma eternidade o policial se levantou bem Senor Antônio o senhor vai ficar detido enquanto investigamos mais a fundo tem direito a um advogado se não puder pagar um o estado vai providenciar um defensor público para seu caso naquela noite me levaram para uma cela
no centro de detenção era um lugar frio cheio de gente que eu nem queria olhar nos olhos deitado numa cama dura que mais parecia uma tábua eu só conseguia pensar em luí onde ela estaria Será que estava bem E como eu ia provar que minhas intenções eram boas Eu sabia que em algum momento ia aparecer um advogado para me ajudar mas até lá eu tava sozinho eu bem poderia ter ligado para meu filho Eduardo mas que ele se envolvesse nesta história Afinal seria mais um motivo para ele dizer que eu não podia morar sozinho depois
de TRS Dias naquela delegacia que pareceram uma eternidade sendo tratado igual bandido finalmente me levaram pra frente de um juiz tava nervoso mas determinado a contar a verdade por mais maluca que ela parecesse o juiz me olhou com uma mistura de curiosidade e cansaço escutou minha história fez algumas perguntas depois se virou pro promotor e pro meu advogado Um rapaz novo que o estado tinha arranjado para mim e começou a falar um monte de coisa que eu mal entendia no fim para minha surpresa o juiz decidiu me soltar o senhor está livre para ir para
casa ele disse mas terá que comparecer ao fórum toda semana e não pode sair da cidade ou tentar aanto a investiga continuar saí da delegacia com uma mistura de alívio e preocupação tava livre é verdade mas e a luí onde ela estaria como ela estaria e só o que me restava era rezar para que a verdade aparecesse para que lua estivesse segura e para que de alguma forma Tudo isso fizesse sentido no final nos dias que vieram depois a casa ainda mais vazia o som do galo cantando as galinhas ciscando pelo quintal tudo parecia abafado
sem vida eu acordava cedo mas não tinha mais ânimo para ir ao celeiro tentei trabalhar mexer na terra mas minha cabeça não saía daquele momento o choro de luí o som da porta do carro se fechando eu precisava ver ela mas o sargento Azevedo foi Claro quando disse que eu não podia tentar com contato com a menina enquanto a tal investigação continuasse até que uma manhã quando eu já estava quase desistindo de esperar um carro Parou em frente à minha casa era o sargento Azevedo de novo mas ele não estava sozinho do lado dele saindo
meio devagar com os olhinhos curiosos e a cabeça baixa estava luí eu senti meu coração disparar mas não me mexi estava ali no quintal com minha vassoura na mão fiquei parado sem acreditar O sargento olhou para mim como quem avalia um pedaço de mercadoria e Então disse que precisávamos conversar aproximei-me devagar com medo de que se eu me mexesse rápido demais eles fossem embora de novo então ele falou coçando a cabeça parecendo tão perdido quanto eu nessa história toda olha seu ele disse suspirando fundo considerando a situação de luí sem documentos sem família sem nada
que diga de onde essa menina brotou a menina não quer falar nada sobre a vida dela mas insiste que quer ficar com o senhor o pessoal do Abrigo conversou com o juiz que autorizou ela ficar aqui por enquanto considerando a circunstâncias especiais nessa hora aava quietinha numo levantou a cabeça os olhos dela grandes como dois Pires se encheram d'água quero ficar com seu Antônio ela disse a voz mal saindo foi só isso que ela falou veio andando devagar e me abraçou o homem olhou para ela depois para mim e deu de ombros por enquanto seu
Antônio parece que o senhor ganhou uma sombra ela fica com aqui mas estaremos de olho ele me encarou sério como uma pedra é temporário entendeu Amanhã o vento pode mudar de direção eu a senti sentindo o peso do mundo nas costas era um começo mas longe de ser o Fim dessa história maluca eu nem ouvi direito o que ele disse depois a única coisa que entendi é que luí podia ficar só por enquanto mas ela estava ali e isso era o que importava abaixei para ficar no mesmo nível dela e vi a sombra de um
sorriso no rosto que eu pensei nunca mais ver então o sargento fez uma última advertência eu estava sendo monitorado e qualquer deslize significaria o fim se eu quisesse mesmo ficar com ela precisaria provar que era capaz de cuidar de luí quando ele se foi a única coisa que consegui fazer foi pegar a mão dela e guiá-la para dentro a casa que que antes parecia morta de repente pareceu ganhar vida de novo não era um final feliz nem de longe mas era mais do que eu tinha esperado desde aquela noite em que tudo desabou e por
luí eu ia lutar até o último fio de cabelo que ainda restava em mim ficou decidido que ela não ficaria mais escondida no celeiro agora era para valer luí ia morar dentro de casa no quarto que antes estava fechado e cheio de poeira Passei à tarde arrumando tudo como pude tirando as velharias que estavam lá desde que minha mulher partiu botei um colchão bom alguns cobertores e dei meu jeito para que o lugar ficasse minimamente decente não era uma mansão mas era melhor do que aquele canto escuro no celeiro Quando ela entrou pela primeira vez
no quarto ainda parecia meio sem acreditar ficou ali de pé olhando ao redor como se Esperasse que alguém fosse aparecer e mandá-la embora de novo eu disse que aquele espaço agora era dela e que não precisava mais se esconder foi difícil no começo porque tudo ali trazia lembranças para mim a casa era grande pensada para uma família que um dia eu tive mas agora era só eu e luí ela ainda não tinha a confiança de circular por todos os cômodos Mas aos poucos foi se acostumando o que ela gostava mesmo era de assistir desenhos e
novelas a gente assistia juntos naquela noite pela primeira vez eu havi dormir sem se encolher como um bicho assustado de vez em quando ela ainda acordava sobressaltada Chamando por alguém que só existia em seus pesadelos mas eu estava lá para acalmar a verdade é que a casa que antes Parecia um túmulo voltou a ter vida quando eu ia fazer as tarefas eu chamava ela ensinava tudo os cuidados com a pequena horta ensinei a regar as plantas e devagarinho ela começou a me contar mais sobre quem era foi em uma dessas tardes que ela do nada
me disse que lembrava de uma cidade longe cheia de prédios altos falou de uma mãe que tinha cabelos longos e usava um vestio Amaro mas quando tentou Ir Além sua voz tremeu e ela calou-se sabia que a memória trazia mais dor do que conforto então nunca forcei nada a assistente social Marina comeou a nos visitar sempre perguntando sobre essas lembranças tentando juntar as peças para entender como luí tinha acabado ali não demorou muito para que ela começasse a ficar mais à vontade passei a deixá-la brincar no quintal e o povo da Vila aos poucos começou
a aceitar que eu não estava fazendo nada de errado mas para muitos Eu ainda era um velho teimoso que não sabia o que estava fazendo a diferença é que agora luí não tinha mais medo de ser vista quando alguém passava ela acenava mesmo que fosse um aceno tímido aquela confiança me encheu de um tipo de alegria que eu não sentia havia anos mas como sempre a tranquilidade Não durou muito uma tarde Enquanto estávamos na varanda vi um carro diferente se aproximando pelo caminho de terra não era da polícia nem de vizinho nenhum luí que estava
sentada num banquinho ao meu lado ficou rígida percebi o olhar dela se estreitar a respiração ficando rápida e em segundos ela se encolheu Como se quisesse desapare naquele momento algo dentro de mim já sabia que aquilo não ia terminar bem o carro parou e dois hom saíram não eram dali dava para ver pela roupa e pelo jeito de andar um deles mais velho usava óculos de aro fino e tinha os cabelos grisalhos o outro um pouco mais novo usa um terno alinhado e parecia mais preocupado em ajeitar a gravata do que em qualquer outra coisa
o mais velho deu um passo à frente e se apresentou como dror Augusto um advogado que segundo ele estava ali para tratar de um assunto importante me olhou de cima abaixo como se Med disse Cada centímetro do lugar onde estávamos e perguntou pelo meu nome mas eu fui mais rápido fui direto ao ponto o coração martelando no peito Quem eram eles e o que queriam ali o tal a tirou do bolso um envelope amassado e me entregou com um olhar frio disse que era uma notificação Mas eu sabia que aquilo era mais do que um
simples pedaço de papel era uma sentença assim que Comecei a ler o chão pareceu sumir dos meus pés eles sabiam de tudo tinham ido até à Delegacia pesquisaram cada detalhe e com isso conseguiram rastrear o paradeiro de luí não era coincidência estarem ali e quando ele começou a falar minha espinha gelou luí não era só uma menininha perdida ela tinha uma história uma família era uma dondoca e pasm tinha um irmão a cada palavra eu sentia o peso se acumulando no peito o Dr Augusto me explicou que os pais dela o senhor Ricardo e a
Dona Carolina eram donos de uma rede de fábricas têxteis e tinham deixado uma fortuna considerável gente rica conhecida dessas que aparecem nas colunas sociais eu como cagava e andava para notícias estava por fora de tudo nem Jornal Regional eu assistia a verdade é que quando Helena estava viva eu e ela assistíamos juntos o Jornal Nacional depois que ela se foi isso virou algo doloroso para mim o Dr Augusto falando de chuva tudo mudou saíram de uma festa e nunca mais voltaram para casa o carro derrapou numa curva e caiu num barranco a mãe e o
pai dela morreram num acidente de carro uns seis meses antes de eu encontrá-la lá fora encolhida como um passarinho os dois morreram na hora me contaram aquele tipo de tragédia que a gente vê no noticiário e pensa coisa triste mas ainda bem que não é com a gente Pois é foi isso que levou os pais de luí gente boa disseram eles gente que cuidava bem dos filhos só que destino não escolhe e quando chegou a hora não deixou sobrar nada além de dor e um monte de papelada para ser resolvida o Davi o irmãozinho mais
novo de luí tinha apenas se anos na época e esta com ela em casa so os cuidados da babá só então entendi o que ela tinha perdido Imaginei a cena os dois acordando de manhã esperando os pais entrarem pela porta e ao invés disso vieram estranhos com palavras duras e caras sérias dizendo que os pais não voltariam mais foram arrancados do único Lar que conheciam e jogados num abrigo como se fossem apenas números numa lista nenhum parente próximo nenhum avô ou avó para segurar suas mãos e dizer que tudo ia ficar bem lua e Davi
foram jogados em um abrigo como se fossem peças fora do lugar e você sabe esses abrigos podem até tentar ser acolhedores mas a verdade é que são só um depósito de gente que ninguém mais quis o advogado fez uma pausa como se estivesse escolhendo as palavras contou que luí ficou lá por alguns meses deixaram ela e o Davi juntos Tentando Manter alguns senso de família mas a menina ah a menina que eu conhecia tão bem foi se fechando cada dia que passava ela se retra mais mal comia não falava com ninguém e ficava olhando pela
janela como se Esperasse alguém vir buscá-la o Davi até que se adaptou melhor mas ela ela carregava toda a dor e a responsabilidade nas costas de repente começaram a aparecer parentes que nunca deram as caras antes tios de quinto grau primos que ela nem conhecia tudo gente que dizia estar preocupada com o bem-estar dela e do irmão quando ele falou isso eu já entendi tudo o que realmente queriam porque veja bem não era só a menina e o irmão que estavam em jogo tinha dinheiro da herança ações da família propriedades terras bens e quando o
dinheiro aparece aparecem também os abutres e tinham pressa porque quando não tem mais ninguém para herdar o dinheiro fica em disputa o Dr Augusto continuou esses parentes que nunca mandaram uma carta ou ligaram enquanto os pais dela estavam vivos agora estavam prontos para brigar pela guarda dos dois um aqui outro ali tudo gente que dizia querer o bem das Crianças mas que no fundo só queriam fiar as mãos no que sobrou luí percebeu isso logo de cara inteligente a pequena mais esperta do que muita gente grande e por isso não confiou em ninguém ficava calada
observando tentando entender qual era a jogada então quando um desses parentes apareceu para dizer que ia levá-la que ia resolver a vida dela e do irmão luí fez o que poucos teriam coragem de fazer fugiu a menina Saiu daquele abrigo no meio da noite só com a roupa do corpo sem fazer barulho provavelmente para ganhar tempo o Davi ficou certamente ela carregava a culpa por deixar ele lá sozinho não que tivesse escolha que opção uma menina de 11 anos teria a coitada devia ter ficado perambulando pelas ruas se escondendo em becos pedindo comida aqui e
ali sempre com o cuidado de nunca ficar muito tempo no mesmo lugar porque sabia que se a pegassem iriam levá-la de volta para aquele pesadelo por isso quando Eu a encontrei ela já estava arrebentada fraca e com mais medo do que coragem mas ainda assim não pediu ajuda só aceitou porque eu insisti não tinha outro lugar para ir e foi assim que ela acabou ali no celeiro naquela noite chuvosa eu não sabia de nada disso quando a abriguei para mim era só mais uma Alma Perdida que o mundo tinha cuspido mas aqueles dois sujeitos que
apareceram com o envelope me abriram os olhos Ele contou que desde que ela fugiu o abrigo virou um caos primeiro procuraram por toda parte mas não acharam nada então quando desistiram de encontrar luí começaram a ter visitas de uns advogados desses de terno caro e Fala Mansa dizendo que representavam uns parentes eram gente que nunca tinha aparecido antes mas que agora queriam levar as crianças para dar a elas o que os pais não poderiam mais dar mas eu sei bem como é essa conversa fiada luí sabia também sabia que se fosse com um desses ia
acabar presa numa casa onde o amor não passava nem pela porta e era isso que ela mais temia ser jogada numa Gaiola Dourada sem laços e sem raízes Foi então que o dror Alessandro o mais jovem dos Advogados se manifestou com uma voz séria ele explicou seu Antônio precisamos tomar uma decisão rápida se não agirmos logo existe o risco real de o Davi ser adotado por outra família essas palavras caíram como um peso no meu estômago a ideia de ver Aquele garotinho tão pequeno e inocente sendo jogado de um lado para o outro como se
fosse um pacote me deixou nauseado olhei para luí que parecia uma bonequinha quebrada os olhos cheios de medo e esperança ao mesmo tempo foi nesse momento que o doutor Augusto me encarou diretamente sua voz era firme quando disse o Davi ainda está no abrigo seu Antônio mas não por muito tempo a senora Marta e o Senor Jorge tios distantes das crianças estão movendo céus e terras para conseguir a guarda dele senti o peso daquelas palavras a situação era mais urgente do que eu imaginava não era só sobre luí agora mas também sobre seu irmão que
corria o risco de ser separado dela para sempre o sangue me subiu à cabeça tios distantes gente que nunca olhou para eles antes Meu Deus luí tinha fugido para evitar ISO e eu me senti na obrigação de ajudar quando o Dr Augusto entregou o papel com a decisão eu já sabia o que tinha que fazer não ia deixar que levassem ela sem lutar porque não era mais só sobre luí era sobre o pequeno Davi que ainda esperava Pela irmã e se eu não fizesse nada iriam separar os dois para sempre eu me decidi queria os
dois para mim depois de toda aquela confusão resolvi ligar pro meu filho Eduardo fazia um tempão que a gente não se falava e sim eu estava desesperado precisaria engolir meu orgulho e pedir ajuda desde aquela briga feia por causa da venda da casa quando ouvi a voz dele do outro lado da linha senti uma alegria que nem sabia que estava guardada dentro de mim a gente conversou um pouco eu perguntei das crianças dos meus netos que saudades Certamente eles tinham crescido muito foi aí que Eduardo me surpreendeu disse que era uma coincidência eu ter ligado
justo naquela hora ele e a esposa tinham decidido vir me visitar no próximo final de semana quisesse eu ou não falou que estava chateado sim depois da nossa briga mas que tinha resolvido aceitar que o velho aqui não queria vender a casa e que era teimoso feito burro empacado disse que queria falar comigo pessoalmente Olho no olho e que as crianças perturbavam ele e a mãe para os levarem na casa do avô fiquei sem saber o que dizer meu filho aquele mesmo que eu achei que nunca mais ia querer olhar na minha cara tava vindo
me ver senti um nó na garganta uma mistura de alívio e medo já não bastava o outro que caiu no mundão foi então que as palavras saíram sem eu nem pensar direito pedi desculpas falei que tinha falado mais do que devia naquele dia a voz dele ficou mais macia do outro lado como se um peso tivesse saído das costas dele também enquanto a gente conversava minha cabeça tava a mil pensei na luí em tudo que tinha acontecido nos últimos dias pensei em contar para Eduardo mas algo me segurou E se ele não entendesse e se
achasse que eu tinha feito uma loucura não melhor esperar deixar ele ver com os próprios olhos então resolvi guardar o segredo não contei nada sobre a Luísa sobre toda essa confusão decidi que ia apresentar ela como uma surpresa quando eles chegassem quem sabe ver aquela menina não ia amolecer o coração do meu filho quando desliguei o telefone Já comecei a pensar no que eu ia preparar pro almoço de domingo Fazia tempo que não tinha visita em casa muito menos o Eduardo e as Crianças o cheiro de comida de domingo aquela coisa de família reunida estava
guardado num canto da memória quase esquecido olhei pela janela vi a luí brincando no quintal na balança que eu fiz para ela resolvi chamar ela e contar a verdade sentada meu lado fui falando tudo desde o começo Contei sobre a minha relação complicada com o Eduardo como a gente se afastou sobre as brigas e mágoas que nos separaram ela escutava cada palavra como se estivesse desvendando um mistério antigo quando mencionei os netos vi o brilho nos olhos dela Se animou de imediato com a ideia de conhecer as crianças sorriu e disse que ia ajudar a
deixar tudo pronto Passamos o resto da semana nessa expectativa arrumando a casa pensando no que fazer para o almoço e então o dia tão esperado Finalmente chegou o som do carro subindo o caminho de terra fez meu coração pular no peito pedi a luí que ficasse dentro de casa queria preparar o terreno antes de apresentá-la deixar as coisas no lugar certo mas eu estava nervoso nervoso como um garoto no primeiro encontro mal tinha parado quando vi as duas crianças o Joab E a Luciana pulando para fora e correndo na minha direção meu Deus como tinham
crescido aqueles dois que eu só lembrava como pequenos grãozinhos agora estavam grandes fortes cheios de vida quando me abraçaram senti minhas pernas bambearem Foi como se todas as paredes que eu tinha construído em volta de mim desabem num instante apertados risadas e de repente as lágrimas vieram sem aviso queimando os olhos de um jeito que eu não conseguia segurar segurei firme cada um deles sentindo o cheiro de infância de vida nova fiquei ali parado os abraçando como se fossem um Tesouro Perdido tantos anos longe Tantos momentos que eu perdi uma verdadeira vergonha Eduardo ficou um
tempo parado observando de longe aquela postura dele meio rígida tentando não mostrar o que estava sentindo quando me aproximei ele soltou um comentário com um sorriso no canto da boca do jeito que ele sempre fazia quando queria quebrar o gelo esse velho Durão chorando pena que não trouxe uma máquina fotográfica disse ele rimos juntos um riso que não era só de brincadeira mas de alívio de eu o puxei para um abraço forte sentindo o peso do tempo entre nós o abraço não trouxe de volta os anos perdidos mas trouxe esperança de dias melhores a Jane
veio logo em seguida estava bonita mesmo que um pouco diferente do que eu lembrava elegante sempre foi cumprimentei ela com um sorriso tentando ignorar aquela maquiagem carregada que ela usava coisa que nunca gostei Mas quem sou eu para falar convidei todos para entrar tentando não deixar transparecer a ansiedade que me corroía por dentro quando entramos na sala lá estava luí sentada no sofá assistindo a televisão baixinho as pernas cruzadas Como se quisesse desaparecer assim que ouviu o barulho de tanta gente entrando ela se levantou num pulo os olhos arregalados de susto Ficou ali parada como
um passarinho pego no meio do ninho sem saber se devia correr ou ficar Eduardo parou no meio do caminho com o rosto carregado de confusão olhou para a menina e depois para mim eu vi as engrenagens rodando na cabeça dele tentando juntar as peças e então ele falou devagar com a voz trêmula de surpresa pai essa menina ela é filha do Pedro ele voltou as dele me acertaram como um soco no estômago filha do Pedro não não não era nada disso não Eduardo o Pedro não voltou Essa é a luí a menina que apareceu aqui
um tempo atrás ela não é parente Nossa eu sabia que ele não entenderia de cara mas precisava deixar isso claro ela não era filha de ninguém que ele conhecia era só uma menina que o destino tinha jogado no meu caminho e de algum jeito acabamos nos encontrando como quem encontra um Fio De Esperança Eduardo franziu a testa claramente desconfiado Jane também não parecia saber onde se encaixar naquela situação as crianças Porém fizeram o que as crianças fazem de melhor quebraram o gelo Luciana com a curiosidade que só uma criança pode ter deu um passo à
frente e estendeu a mão para luí Oi meu nome é Mariana quer brincar comigo e foi isso simples assim Luísa ainda meio receosa deu um passo à frente e apertou a mão da menina vi a rigidez nos ombros dela se desfazer um pouco aos poucos as duas começaram a se falar baixinho até que o Joabe disse que cheiro de comida boa o Que Vocês Fizeram pro almoço eu tô com fome ele disse isso girando a mão na barriga então a Luciana puxou pela mão de luí e saíram para a cozinha eu Eduardo e Jane ficamos
ali nos olhando com todo o peso do passado entre nós ele suspirou fundo Balançou a cabeça e disse com Um meio sorriso sempre fazendo as coisas do jeito mais difícil hein pai não consegui evitar sorri de volta não sei fazer de outro jeito filho não sei mesmo olha chegou a hora de abrir o jogo não dava mais para esconder nada resolvi contar tudo desde o começo falei da luí de como ela apareceu aqui em casa toda encolhida e com medo que nem um bichinho perdido contei do meu medo de alguém descobrir das noites que passei
acordado preocupado e de como eu me Virava para levar comida para ela sem ninguém ver aí quando cheguei na parte que que fui preso Jesus Cristo você precisava ver a cara do Eduardo os olhos dele quase saltaram para fora como é que é Pai o senhor foi preso e não falou nada pra gente ele gritou tão alto que eu pensei que até o pessoal lá do outro lado da Vila ia escutar a voz dele saiu cheia de preocupação e raiva parecia que não tava acreditando no que ouvia sabe eu nunca tinha parado para pensar em
como essa história toda soava maluca Mas vendo a cara do Eduardo caiu a ficha de que era mesmo uma loucura e tanto ele continuou Por que não me chamou pai eu sou seu filho podia ter ajudado arrumado um advogado que preste falou num tom que parecia mais uma bronca de pai para filho veja só fiquei ali cabis baixo sentindo cada palavra pesar que nem chumbo estava mais perdida do que cego em tiroteio olhava para mim e pro Eduardo sem saber o que dizer acho que nunca passou pela cabeça dela que o velho aqui podia se
meter numa encrenca dessas quando o Eduardo parou para tomar fôlego ergui a cabeça e fui direto ao assunto filho você é estudado entende dessas coisas melhor que eu me diz o que eu faço para conseguir ficar com essas crianças ele me olhou por um tempão aí soltou um suspiro fundo e perguntou se eu tinha certeza mesmo o senhor quer mesmo cuidar de um menino que nunca viu na vida e eu respondi na hora Claro que quero porque no fundo não era só querer era preciso eu sabia que se deixasse levarem o Davi embora a luí
ia ficar arrasada de vez o Eduardo ficou quieto um tempo pensando depois deu um meio sorriso daqueles que a gente não sabe se é de rir ou de chorar tá certo pai mas vamos fazer assim primeiro vamos comer de barriga vazia não consigo nem pensar direito eu senti um alívio tão grande que até a comida pareceu mais gostosa sentamos todos na mesa e o papo foi mudando de repente tava todo mundo falando das coisas do dia a dia como se aquela toda tivesse sumido no ar o Eduardo começou a contar do trabalho dele falava rápido
gesticulando com a colher na mão quase derrubando a comida a Jane com aquele jeito de mãe que tá sempre de olho em tudo Falou de como era difícil cuidar das crianças sozinha e as Crianças meu Deus do céu a Luciana aquela menina tinha mais história para contar que livro de biblioteca falava da escola dos amigos das professoras contou de uma vez que ela e a melhor amiga Trocaram o sal pelo açúcar na cozinha da escola riu tanto lembrando da cara da merendeira que quase engasgou com o arroz a luí tadinha ficava olhando para Luciana com
uma cara de espanto dava para ver que ela tava pensando essa menina fala mais que o homem da cobra mas tinha um brilho nos olhos dela como se tivesse descobrindo um mundo novo o Joab também não ficava atrás falou do futebol dos videogames até de uma menina da escola que ele achava bonita ficou todo vermelho quando contou mas não parou de falar era tanta conversa tanta risada que por um momento eu esqueci de todos os problemas ali naquela mesa com a barriga cheia e o coração quentinho parecia que o mundo lá fora tinha parado só
pra gente poder aproveitar aquele momento era como se a gente tivesse voltado no tempo pros Dias bons de antigamente quando a família toda se reunia e o maior problema era decidir quem ia lavar a louça depois e não é que no meio daquela conversa toda a Jane lembrou de uma coisa importante tá chegando o aniversário da Luciana e do Joab seu Antônio aí o Eduardo completou é como os dois fazem aniversário pertinho um do outro a gente sempre faz uma festinha só pros dois sabe como é economiza e as Crianças adoram a Luciana toda animada
começou a pular na cadeira vovô eu vou fazer 9 anos dia 19 de outubro e o Joab não querendo ficar para trás emendou e eu faço S dia 24 J olhou para mim e Lua com aquele jeito de mãe que tá planejando alguma coisa a gente queria muito que vocês dois viessem nada muito grande só a família e uns amiguinhos das Crianças Eduardo com aquele jeitão dele de querer resolver tudo já foi logo dizendo E nem precisa se preocupar com presente viu pai o importante é vocês irem vai ser bom para luí brincar com as
outras crianças mas eu pensei claro que vou presentear meus netos com a minha aposentadoria era pouco mais nunca faltou comida na mesa e eu sempre poupei o que sobrava as crianças ficaram todas alvoroçadas com a ideia olhei PR luí e vi que ela estava com os olhos brilhando acho que nunca tinha sido convidada para uma festa de pobre ela olhou para mim como se pedisse permissão e eu fiz que sim com a cabeça o sorriso que ela deu ah aquilo ali valeu por tudo viu depois do almoço a Jane toda prestativa como sempre fez questão
de lavar a louça a mulher não parava quieta um minuto as crianças de barriga cheia e pesada resolveram assistir televisão fiquei na mesa com o Eduardo ele começou falando de um jeito sério ajeitando os óculos como fazia quando queria dizer algo importante a Jane de ouvido na conversa pai conhecendo melhor a luí eu entendo porque o Senhor se apegou a ela a menina é um doce simples demais nem parece que veio de família de gente rica eu só balancei a cabeça pensando que ele tinha razão quem olhasse para luí agora Nunca ia imaginar a história
triste que ela carregava E então Eduardo mudou o Tom ficou mais firme disse que não dava para deixar as coisas como estavam que a situação dela tinha que ser resolvida do jeito certo Aí contou que ia falar com um advogado na segunda-feira um desses especialistas em guarda de criança e adoção ia ver quais eram minhas chances se tinha algum jeito de fazer tudo de maneira legal sem que alguém viesse arrancar a menina daqui de mim aquela conversa me deixou com um nó no estômago Porque até então eu tava tentando Segurar a Barra sozinho Mas de
repente Eduardo meu filho que eu não via há tanto tempo estava ali do meu lado disposto a ajudar ele disse que ia marcar uma conversa com o advogado e que me ligaria assim que tivesse alguma resposta os dias que se seguiram foram uma verdadeira agonia eu mal conseguia pregar o olho à noite de tanta preocupação o Eduardo conversou com o advogado dele o drout Matias um homem que ele disse ser de confiança e acostumado a lidar com casos complicados como o nosso lá pro fim da semana Eduardo apareceu em casa com um olhar meio sério
Mas dava para ver que tinha uma pontinha de esperança ele se sentou comigo na varanda e foi me contando devagarinho o que o Dr Matias falou o advogado disse que tinha um jeito sim mas que a coisa não seria fácil explicou que tudo ia passar por uma audiência onde eu ia ter que me preparar bem e mostrar ao juiz que era a melhor escolha para cuidar da luí e Davi e a tal audiência já estava marcada pra semana seguinte eu teria que provar diante de um monte de gente que eu podia dar uma vida digna
para crianças que mal conhecia enquanto ele falava eu sentia um peso no peito mas ao mesmo tempo um sopro de esperança Eduardo continuou dizendo que o advogado tinha experiência com casos complicados e que ia dar o melhor para nos ajudar combinamos de nos encontrar na cidade na sexta-feira para discutir os detalhes antes da audiência meu filho era ponta firme fiquei orgulhoso dele naquela mesma tarde enquanto ainda tentava processar tudo escutei um barulho de carro parando no meu portão quando fui lá fora ver me deparei com um carrão de luxo preto daqueles que você só vê
gente importante andando e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa vi a porta do carro se abrir e a luí sair correndo gritando um nome que eu nunca tinha ouvido Miguel ela se jogou nos braços de um homem alto de cabelo grisalho com um jeito elegante Fiquei parado sem entender nada com um nó de ciúme no peito E se ela resolvesse ir embora com ele pensei fiquei só olhando sem saber o que fazer mas depois de uma abraço apertado e de umas palavras trocadas entre eles que eu não ouvi direito o tal Miguel levantou os
olhos para mim e se apresentou com uma educação que me Pegou de surpresa me chamo Miguel amigo da família da luí ele não era um estranho qualquer convidei ele para entrar mais por do que por vontade chamei ele para sentar na cozinha e lá ficamos os três tomando um café forte que eu tinha passado mais cedo ele começou a contar a história disse que era amigo dos pais dela que conhecia o Ricardo e a Carolina desde a faculdade quando falou dos dois a tristeza no rosto dele era genuína contou que estava fora do país no
dia do acidente trabalhando nos Estados Unidos e que quando soube da tragédia voltou correndo mas aí disse que quando foi ao abrigo para ver como as crianças estavam só encontrou o Davi a Luísa já tinha fugido Ele disse que procurou a menina por meses bateu em todas as portas que conhecia e agora depois de tanto tempo ela tinha aparecido estava lá comigo escondida no meu sítio eu fiquei ali só ouvindo e tentando digerir tudo o que ele dizia com a cabeça a mil de um lado me senti aliviado de ver que ele só queria o
bem da menina mas do outro o medo de que levasse ela de mim não me deixava respirar direito só que o Miguel Ao contrário do que eu pensei não deu a menor pista de querer tirá-la daqui falou que veio na verdade para me agradecer por ter cuidado dela todo esse tempo e que agora sabendo que a menina estava segura podia dormir tranquilo de novo falou que tinha percebido o jeito como a Luísa olhava para mim cheia de carinho que eu era como um avô para ela então respirou fundo e disse que mesmo sendo amigo da
família e gostando muito dela não poderia ficar com a menina e o Irmão Davi Ele disse que andava trabalhando demais viajando para cima e para baixo e que a vida que levava não era coisa para criança eram viagens longas cansativas um entra e sai de avião e hotel e eles não poderiam acompanhá-lo também não queria que os meninos largassem os estudos e ficassem se mudando o tempo todo Foi aí que eu senti meu peito afrouxar um pouco ele não era um rival como eu temia não estava ali para levar ela de mim só queria ter
certeza de que a menina estava no lugar certo e me pareceu que aos olhos dele eu era esse lugar a Luísa que tinha ficado quieta o tempo todo então levantou a cabeça e perguntou sobre o Davi quando falava do menino vi o brilho de saudade no olhar dela Miguel deu um longo suspiro e disse que o garoto estava triste desde que a irmã Sumiu ficou ainda mais quieto e retraído como se Esperasse ela voltar a qualquer momento Foi então que Ele olhou para mim e disse que se eu quisesse podia ajudar a organizar uma visita
para eles se verem mal terminou de falar e a luí já deu um pulo de alegria quase gritando que queria ver o irmãozinho no dia seguinte Miguel apareceu de novo dessa vez eu a luí e ele saímos juntos no tal carrão de luxo era um carro que parecia mais um daqueles aviões chiques que a gente vê na televisão nunca tinha entrado num negócio daquele mas conhecia de ver em programa de TV tinha botão para tudo quanto é lado luzes piscando bancos de couro eu me ajeitei no assento meio sem graça tentando disfarçar o desconforto mas
não tinha como era bonito demais para um velho caipira como eu chegando lá já vi que a situação não era boa o lugar parecia mais uma casa abandonada que um abrigo de criança uma bagunça de menino a todo lado de tudo quanto é idade correndo e gritando parecia que ninguém tomava conta direito fiquei com o coração apertado só de ver aquele caos mas não era hora de reclamar a gente tinha um objetivo logo fomos levados para uma salinha separada meio abafada onde nos disseram para esperar a Luísa Coitada estava roendo as unhas até o Toquinho
nunca vi a menina tão ansiosa era um tal de mexer nas mãos bater os pés no chão dava para ver que o nervoso tava comendo ela por dentro foi então que a porta abriu e o Davi entrou um garotinho franzino de cabelo todo bagunçado e quando os dois se viram ah aquilo foi de partir o coração a luí correu na direção dele o Davi nem pensou duas vezes e se jogou nos braços dela se agarraram como se não houvesse amanhã aquilo foi de arrepiar fiquei ali parado com um nó na garganta e os olhos marejando
chorei mesmo sem vergonha de admitir porque quando o choro vem não adianta segurar ele passa por cima da gente como enchente nem que eu não quisesse o danado vinha e eu não fui o único olhei pro lado e O Miguel tava lá com os olhos vermelhos e fungando baixinho só Balançou a cabeça e disse que era uma situação triste demais ver os dois pequenos daquele jeito separados sofrendo sem precisar depois de um tempo a Luísa toda orgulhosa segurou a mão do Davi e o trouxe para me apresentar ela olhou para mim com os olhos brilhando
e disse que aquele era o irmãozinho dela o Davi o que ela sempre falava o menino me encarou tímido com aqueles olhinhos grandes e aguados e de repente veio correndo na minha direção me agarrou pela cintura e me deu um abraço que eu nunca vou esquecer um abraço apertado daqueles que a gente sente até na alma ai meu coração senti as pernas bambas e um calor subindo pelo peito eu ali um velho ranzinza e teimoso segurando aquele menino pequeno que eu nunca tinha visto mas que de alguma forma parecia que já era meu não sabia
se ia conseguir aguentar porque naquele momento eu entendi que não era só a Luísa que eu queria proteger o Davi também já tinha ganhado um lugar no meu coração fiquei só passando a mão no cabelinho dele tentando controlar a emoção enquanto eles falavam e Riam como se o tempo que ficaram separados não tivesse existido foi uma choradeira só na hora de dizer tchau pro Davi a luí se agarrou nele e eu mal consegui I separar os dois prometi com o coração apertado que ia fazer de tudo para levar ele para casa pra gente poder viver
todo mundo junto sem essa história de abrigo de separação ele ficou lá com os olhinhos cheios de esperança como quem acredita que o que eu dizia ia virar verdade e isso só me deu mais força para enfrentar o que vinha pela frente não demorou muito e chegou o dia da audiência Ah eu um trapo Passei a noite inteira revirando na cama sem conseguir pregar o olho com a cabeça cheia de pensamentos ruins imaginando como tudo podia dar errado eu fui com o Eduardo Quando entrei naquela sala cheia de gente engrav me senti menor que um
grão de areia era advogado de um lado parente do outro juiz no meio tudo muito formal e eu ali com a cara de quem não sabia se ou se saía correndo ali mesmo eu vi que tava certo desde o começo não era só pela guarda das crianças não aquele monte de parente Aquele bando de advogados tudo aquilo ali era por causa da grana que os pais deles deixaram os abutres Estavam todos de olho no dinheiro só esperando uma chance de meter a mão no que não era deles e o Miguel também estava lá o motivo
era que ele tinha sido curador dos bens da lua e do Davi Isso quer dizer que era ele quem ia tomar conta de tudo do dinheiro das propriedades dos rendimentos até que as crianças completassem 18 anos e pudessem decidir o que fazer com o que era deles mas isso Não significava que ele podia gastar como bem entendesse não pelo contrário o Miguel tinha a obrigação de usar só o necessário pro bem-estar dos dois como escola comida e tudo mais nemum centavo a mais nemum a menos e cada despesa ia ter que ser justificada pro juiz
com papel recibo e tudo isso era para evitar que algum desses parentes de última hora aparecesse dizendo que ele estava metendo a mão no dinheiro das Crianças pelo menos no meio daquele monte de aproveitador tinha alguém decente olhando por eles mas eu não era ingênuo não sabia que por trás das palavras bonitas e dos sorrisos forçados a maioria ali só queria uma coisa o que os pais da Luísa e do Davi deixaram eles não estavam preocupados com o futuro dos meninos e sim com o que podiam arrancar da herança Eu via o jeito como eles
cochichavam de canto trocando olhares de interesse era Como urubu sobrevoando carniça mas enquanto o Miguel estivesse como cura eles iam ter que engolir a ganância e esperar o juiz deixou bem claro que o papel do Miguel era proteger o patrimônio dos pequenos mas o que importava para mim era outra coisa eu queria mesmo era a guarda deles queria levar a luí e se Deus ajudasse o Davi também para viver comigo lá no sítio essa era a minha verdadeira batalha e eu sabia que não ia ser fácil vencer quando o juiz falou tudo aquilo senti um
alívio porque pelo menos eu sabia que tinha alguém de confiança do meu lado o Miguel não tava ali para disputar a guarda ele tinha que garantir que a herança fosse bem cuidada o juiz explicou que o dinheiro seria usado só para eles para educação pra saúde para tudo que precisassem até crescerem e poderem decidir o que fazer com o que era deles e mesmo fizessem 18 anos se o Miguel achasse que eles não estavam preparados ele podia pedir pro juiz continuar cuidando até eles estarem prontos de verdade para lidar com tanta responsabilidade enfim era uma
questão de proteger o futuro das crianças e eu senti um peso a menos nas costas depois cada um deles se levantava um por vez falando de um jeito bonito que mais parecia discurso de político palavras difíceis diziam tudo o que iam fazer pelas crianças só faltavam oferecer a lua eu entendo que não se pode generalizar as pessoas mas eu sempre achei melhor prevenir do que remediar em seguida vinha o advogado deles fazendo questão de reforçar as qualidades e tentando mostrar que eram A Melhor Escolha para cuidar das crianças cada um Puxava a sardinha pro seu
lado e quando chegou a minha vez Eu já tava com o estômago revirado mas lá fui eu de cabeça erguida contar a minha parte falei tudo como foi como a Luísa apareceu o que a gente passou junto e assim que terminei o Dr Matias o advogado que o Eduardo arranjou para mim se levantou para me defender começou dizendo que eu era viúvo que vivia sozinho mas que tinha um sítio muito bem cuidado com uma propriedade de terra boa um celeiro espaçoso galinha ciscando e tudo mais que uma casa de campo decente precisa Ele disse que
eu tinha tudo para ser um Bom Avô quando ouvi aquilo senti um aperto forte no peito como um nó bem dado eu amava meus netos isso é verdade mas eu também sabia que fui um avô ausente por muitos anos me afastei deles Me fechei no meu mundinho depois que a Helena se foi e só Pois é que fui perceber o estrago que isso fez Olhei pro Eduardo do lado e fiquei sem graça Porque por mais que eu estivesse lutando agora para dar uma vida boa pra Luísa e pro Davi a verdade é que eu não
estive presente como deveria isso doeu e até pensei que eu não era digno de estar ali a assistente social Marina foi chamada para falar também e quando ela começou eu já tava com o coração na boca ela ela disse que me conhecia bem que tinha acompanhado de perto o jeito como eu cuidava da Luísa desde que ela apareceu contou que a menina estava muito traumatizada machucada por dentro por conta de tudo que passou depois que os pais morreram e que fugiu do Abrigo disse que eu com meu jeito meio desajeitado consegui ganhar a confiança dela
fui ajudando devagarinho mostrando que ela podia se sentir segura comigo falou que a luí mudou muito desde então que começou a sorrir de novo a ter um pouco de alegria na vida naquele momento senti um calor no peito era como se pela primeira vez alguém tivesse enxergado o que eu realmente queria dar a ela um lar de verdade aí o juiz mandou que luí entrasse Quando ela entrou na sala parecia tão pequena naquele lugar cheio de gente grande todos ficaram em silêncio como se prendessem a respiração e aí veio a pergunta que eu mais temia
onde ela queria ficar o juiz perguntou com um jeito calmo quase como se estivesse falando com uma boneca de porcelana e ela mirradinha respirou fundo fechou os olhos por um segundo e respondeu com uma firmeza que até me fez arrepiar disse que queria ficar comigo que lá no sítio ela se sentia Segura que era o único lugar onde ela podia ser ela mesma O silêncio que se seguiu foi de cortar o ar eu só conseguia olhar para minha menina minha pequena que teve uma coragem que eu nunca vi em ninguém o juiz ficou parado olhando
para ela depois para mim e finalmente pros parentes como se estivesse tentando entender e eu eu só queria correr até ela abraçar dizer que ela não precisava passar por isso que tava tudo bem mas ali todo mundo coxixa cichos baixos olhares desconfiados eu via nos rostos deles a incredulidade devem ter pensado Quem é esse velho que apareceu agora querendo cuidar dela mal conhece o Davi e já quer levar os dois coitado não tem chance nenhuma a luí saiu e logo depois trouxeram o pequeno Davi Ah o coração velho quase saltou pela boca tão pequenininho com
aqueles olhinhos redondos olhando para todos os lados e quando perguntaram onde ele queria ficar ele só disse uma coisa onde a irmã dele estivesse disse que gostou de mim que confiava em mim ali ninguém teve mais o que falar eu já tava todo mole sem força nas pernas tentando entender se aquilo era mesmo real o juiz pediu um intervalo e todo mundo saiu da sala eu fiquei ali parado que nem poste sentindo as pernas bambas o pessoal saiu para tomar um ar fumar um cigarro sei lá mas eu não conseguia me mexer fiquei ali sentado
naquela cadeira dura olhando pro nada e pensando em tudo o Dr Matias disse que estávamos indo bem que o juiz muito em consideração o que as crianças queriam aqueles minutos pareceram uma vida inteira o juiz retornou à sala seu semblante sério e composto ele se sentou ajustou a toga e olhou para todos os presentes antes de começar a falar com voz firme e Clara após cuidadosa consideração de todos os fatos e Evidências apresentados Cheguei a uma decisão final neste caso primeiramente relação à questão patrimonial Como já havia determinado em nossa sessão anterior Mantenho minha decisão
final neste caso reitero que o senhor Miguel será o curador dos bens das Crianças lua e Davi conforme já estabelecido ele Continuará responsável pela administração da herança deixada pelos pais incluindo todas as propriedades e recursos financeiros até que ambas as Crianças ajam A maioridade legal esta decisão permanece inalterada e em pleno vigor quanto à guarda das crianças que é o Ponto Central deste processo minha decisão é a seguinte Considerando o bem-estar emocional das crianças e a importância de manter os irmãos unidos determino que tanto luí quanto Davi ficarão sob a guarda do Senor Antônio esta
decisão não é provisória nem está sujeita é uma decisão final e executória a partir deste momento o Senor annio deverá providenciar condições adequadas para o bem-estar e educação de ambas as crianças serão realizadas visitas periódicas de assistentes sociais para acompanhar a adaptação e o desenvolvimento das crianças em seu novo lar o juiz ajeitou os óculos e direto para mim Senor Antônio tomei esta decisão pensando no que é melhor para as crianças elas precisam de um lar estável e é importante que fiquem juntas o senhor parece ser a pessoa certa para dar isso a elas por
fim determino que a transição das crianças para a casa do senr Antônio seja feita de forma imediata mas cuidadosa para minimizar qualquer trauma adicional o Sr Antônio está autorizado a levar o Davi assim que esta sessão for encerrada Esta é a decisão do tribunal a sessão está encerrada o juiz bateu o martelo celando a decisão de forma definitiva e inequívoca assim que o juiz terminou de falar foi como se uma onda de decepção tomasse conta da sala o Eduardo que estava sentado do meu lado pulou da cadeira num instante ele me abraçou forte quase me
tirando o fôlego conseguimos pai conseguimos ele ficava repetindo estava muito emocionado o Dr Matias que sempre foi tão sério e composto agora sorria abertamente ele se aproximou de nós apertou minha mão com força e disse seu Antônio o senhor não faz ideia do quão importante é essa vitória para as crianças depois ele e o Eduardo se cumprimentaram trocando tapinhas nas costas os dois Começaram a conversar animadamente fazendo planos para ajudar na adaptação das crianças discutindo os próximos passos legais era Evidente o quanto eles estavam comprometidos com o bem-estar da luí e do Davi e eu
bom eu estava em outro planeta bobo demais para falar alguma coisa só conseguia ficar ali observando tudo com um nó na garganta e e o Coração Cheio de gratidão finalmente depois de tanta luta a gente ia poder ser uma família de verdade unida e feliz quando saímos da sala a luí e o Davi estavam lá fora esperando assim que me viram os dois vieram correndo a Luísa na frente puxando o irmãozinho pela mão ela me abraçou gritando vovô vovô e o Davi Mesmo sendo mais tímido me abraçou com força fiquei ali abraçado com os dois
ao mesmo tempo sentindo o coração quase explodir Eles já me chamavam de avô como se a gente fosse mesmo parente de sangue naquela hora percebi que para eles a gente já era família de verdade o Eduardo chegou perto e falou que era melhor a gente ir pra casa dele a Jane estava fazendo uma janta especial para comemorar no caminho pro carro a Não largava minha mão e o Davi ia agarrado na outra parecia que eles tinham medo que alguém fosse aparecer e levar eles embora de novo quando entramos no carro eu fui na frente com
o Eduardo e os dois pequenos atrás foi aí que aconteceu uma coisa que eu nunca vou esquecer a Luísa aquela menina que antes mal falava começou a tagarelar sem parar ela contava pro Davi sobre o sítio falava das Galinhas do Riacho da horta Davi tem um balanço lá que o vovô fez para mim ele vai fazer um para você também né vovô ela falava olhando para mim pelo retrovisor com aqueles olhos brilhando de alegria o Davi Coitadinho só balançava a cabeça os olhos arregalados de tanta informação Mas dava para ver que ele tava feliz demais
tinha um sorriso na boca que não saía de jeito nenhum e não parava por aí a Luísa começou a falar dos filhos do Eduardo como se fossem primos deles Davi a gente vai poder brincar com a Luciana e o Joab eles são nossos primos agora eu e o Eduardo Nos olhamos e não aguentamos começamos a rir baixinho balançando a cabeça num momento quando a conversa lá atrás estava mais animada eu pus a mão na perna do meu filho ele tava ind concentrado na estrada Mas eu vi que os olhos dele estavam meio marejados Deus te
abençoe meu filho eu falei com a voz firme Deus te abençoe por tudo que você fez você é um homem extraordinário Eduardo deve ter puxado a sua mãe Helena fiz uma pausa sentindo um nó na garganta tenho certeza que ela estaria feliz se pudesse ver a gente nesse momento o Eduardo engoliu em seco apertando volante com força Ele virou para mim por um segundo com um sorriso emocionado no rosto obrigado pai ele disse a voz meio tremida a mãe estaria orgulhosa do senhor também a gente ficou em silêncio por um tempo só ouvindo a risada
das crianças no banco de trás era como se a Helena estivesse ali com a gente abençoando nossa família reunida aquela noite ficou marcada na nossa vida para era uma coisa linda de se ver viu meus quatro netos se dando tão bem como se sempre tivessem sido uma família e o mais legal era a conhecidência das idades deles serem tão próximas a luí e o Davi se enturmar num instante corriam pela casa Riam brincavam era uma alegria só mas que a sabe como é sempre tem aquela pontinha de tristeza só uma coisa faltava para eu ser
de verdade saber como tava meu filho Pedro meu Deus do céu como pode ele ter sumido assim sem deixar rastro a gente até comentou sobre ele durante a janta O Eduardo falou que tinha tentado procurar mas sem sucesso a Jane sugeriu contratar um detetive particular Mas a gente não sabia nem por onde começar quando já era noite o Eduardo nos levou para casa mal botamos o pé para fora do carro e quem tava lá a Dona Margarida aquela Fofoqueira de Plantão ela ficou com uma cara de quem tinha visto a sombração quando viu nós três
juntos seu Antônio ela falou quase correndo na nossa direção o que é que tá acontecendo De onde saiu esse menino eu respirei fundo já irritado sabia que antes do Galo cantar a vizinhança inteira já estaria sabendo da história toda ela fingindo estar sem jeito eu queria pir desculpas sabe por ter chamado o senhor de bem o Senhor sabe de criminoso eu me precipitei falei sem pensar tudo bem Dona margara eu falei sem esconder minha irrita a senhora precisa é cuidar mais da sua vida o que tá fazendo a essa hora na rua não podia ter
esperado até amanhã não mesmo assim Comecei a contar o que tinha acontecido a audiência a decisão do juiz que Davi era irmão mais novo da luí os dois agora eram oficialmente minha responsabilidade a cada coisa que eu falava os olhos dela iam ficando mais arregalados quando terminei pensei que ela fosse mostrar um pingo de vergonha mas não sabe o que ela disse eu sabia eu sempre disse que o senhor escondia um baú do tesouro naquele celeiro e olha só que tesouro o senhor achou fiquei pasmo ela tava olhando pras crianças como se fossem algum tipo
de prêmio ou investimento Dona Margarida eu falei sentindo o sangue ferver essas crianças não são nenhum tesouro pra senhora ficar cobiçando são meus netos agora e eu vou cuidar deles ela ainda teve a pachorra de dizer mas seu antnio pense bem com a o senhor feito na vida nessa hora eu perdi a paciência de vez Ah faça-me o favor de ir PR sua casa e parar de meter o nariz onde não é chamada peguei as crianças pela mão e entrei em casa batendo a porta na cara dela ouvi ela resmungando lá fora mas nem liguei
no segundo dia que as crianças estavam comigo quem é que aparece oig formal dizendo que queria combinar como ia ser a rotina das Crianças dali pra frente sentamos na varanda e ele começou a falar de dinheiro escola essas coisas ficou acertado que a luí e o Davi iam estudar numa escola particular lá na cidade mas aí aconteceu uma coisa que me deixou de queixo caído as crianças na maior cara de pau como quem não quer nada pediram pro Miguel pagar escola pros primos Também os filhos do Eduardo e sabe o que ele fez disse que
tudo bem sem problema nenhum fiquei pensando se eu tinha ouvido direito só uma mensalidade daquela escola era mais que minha aposentadoria toda como o sítio é meio longe ele falou que ia contratar uma Van escolar para levar e trazer as Crianças todos os dias disse também que ia mandar um dinheiro todo mês para minha conta para fazer as compras do mês gás comprar roupa uniforme da escola essas coisas quando ele falou o valor quase caí para trás era muito dinheiro o Miguel explicou que como ele viaja muito a trabalho não ia poder estar sempre por
perto mas garantiu que pelo menos uma vez por mês ele viria à cidade para apresentar os documentos pro juiz mostrar que tá tudo certinho com as Finanças das Crianças fiquei ali ouvindo tudo aquilo meio zonzo com tanta informação era muita mudança de uma vez só mas olhei PR as crianças vi elas todas animadas com a ideia da escola nova e pensei tô lascado para dar conta de tudo isso quando liguei pro Eduardo para contar as novidades pensei que o telefone ia explodir de tanto barulho era ele e a Jane gritando de alegria como se tivessem
ganhado na loteria Sabe aquela escola chique que as crianças iam estudar pois é era o sonho dourado deles pros filhos mas nem vendendo a alma pro capeta eles iam conseguir pagar e agora num passe de mágica os filhos deles também iam estudar lá fiquei com o coração quentinho de ver tanta felicidade o tempo foi passando e logo chegou o aniversário da Luciana e do Joab mais um dia que ficou pra história que festa parecia coisa de gente rica a festa foi simples sim mas o que me deixou de queixo caído foram os presentes que a
luí e o Davi quiseram dar pros primos pra Luciana uma casinha de bonecas que era maior que meu galinheiro toda de madeira no quintal tudo mobiliada Já pensou e pro Joab uma bicicleta que tinha mais marcha que carro de corrida os olhos daquelas crianças brilhavam tanto que dava para iluminar a rua inteira a vida foi pegando um novo ritmo as crianças iam e voltavam da escola naquela van chique sempre com mil histórias para contar eu ficava no sítio cuidando das minhas plantas e bichos contando as horas para eles voltarem com o almoço pronto era engraçado
ver como a Luísa e o Davi misturavam as coisas da escola chique com a vida no sítio Um dia peguei eles tentando ensinar inglês para as galinhas ri tanto que Quase fiz xixi nas calças mas sabe como é a vida né Sempre tem uma nuvem escura esperando para chover na nossa horta depois de 8 meses nessa vida boa aconteceu uma coisa que me deixou com o coração na mão foi numa tarde de sábado Eu economizei toda a minha aposentadoria juntando Tostão por tostão para pagar um tive queria encontrar meu filho Pedro que há mais de
10 anos tinha sumido no mundão eu fiz tudo em segredo meu objetivo era surpreender a família com as notícias o coração de pai não sossegava isso era uma coisa que eu não podia simplesmente fingir que não estava acontecendo na minha vida sempre com aquela sensação de que um dia ele ia aparecer na porta de casa sorrindo o detetive levou uns meses mas quando ele voltou com as notícias eu senti o chão sumir debaixo dos meus pés meu Pedro meu primogênito tinha partido deste mundo há 4 anos o detetive foi Claro e direto Pedro se envolveu
com um agiota conhecido por sua crueldade as dívidas foram se acumulando chegando a um ponto sem volta quando ele não conseguiu mais pagar o agiota cobrou com a própria vida do meu filho o detetive tinha provas concretas registros de ameaças testemunhas que viram Pedro com o agiota e até um relatório policial arquivado sobre o caso que na época foi dado como acerto de contas do submundo a frieza dos fatos só tornava tudo mais doloroso não havia dúvidas não havia esperança de um engano meu filho tinha morrido de forma violenta sozinho provavelmente com medo e arrependido
essa certeza pesava como chumbo no meu peito Quando contei pro Eduardo vi meu filho desabar ele caiu sentado na cadeira com as mãos tremendo pai ele disse com a voz embargada eu sempre achei que um dia a gente ia encontrar ele vivo nós dois choramos ali abraçados a família toda ficou arrasada a Jane Coitada não sabia o que fazer para consolar a gente as crianças Mesmo Sem Entender direito ficavam quietinhas sentindo o peso da tristeza no ar a luí chegou perto de mim um dia e disse vovô não fica triste o tio Pedro agora tá
olhando a gente lá do céu ele foi fazer compania para a vovó Helena Aquilo me quebrou por dentro Mas o pior ainda tava por vir eu tinha que ir buscar os restos mortais do meu filho O Detetive descobriu que ele estava enterrado como indigente numa cidade bem longe de casa eu e o Eduardo fomos juntos foi a viagem mais longa e triste das nossas vidas cheguei naquela cidade desconhecida já no cemitério que sentimento era aquele nem sei te explicar me rasgava o peito quando me entregaram aquela caixinha com os ossos do meu Pedro eu chorei
que nem criança ali tava tudo que sobrou do meu menino voltei casa e organizei um enterro pequeno só PR família enterrei meu Pedro ao lado da mãe dele a Helena o Eduardo ficou do meu lado o tempo todo depois do enterro ele me abraçou forte e disse pai o Pedro tá em paz agora e a gente precisa seguir em frente pelas crianças foi difícil viu mas aos poucos a gente foi Aprendendo a Viver coma dor a a carregar e toda vez que eu olho pro céu estrelado penso no meu Pedro na Helena e agradeço por
ainda ter tanta gente para amar aqui embaixo Pois é o tempo foi passando e as Crianças foram crescendo quem diria que aquela vizinhança que antes me olhava torto agora adorava os meninos eu até Fiquei mais sociável mas não dava muita corda não esse povo gosta de dar palpite demais na vida dos outros os anos foram passando e a gente foi pegando o jeito dessa vida nova as crianças iam pra escola voltavam com um monte de lição para fazer eu ficava ali ajudando como podia era difícil viu esse negócio de matemática moderna Cruz Credo teve uma
vez acho que a luí estava com uns 14 anos ela chegou da escola toda chorosa a pequena tinha virado mocinha liguei PR Jane pedindo socorro ela cuidou disso o Davi demorou um pouco mais para se encontrar no começo era quietinho na dele mas aí descobriu o futebol meu Deus do céu virou uma paixão todo fim de semana tinha jogo eu ia assistir Claro ficava lá na arquibancada todo orgulhoso vendo meu neto correr atrás da bola as crianças foram estudando se formando A luí sempre foi estudiosa demais tiava notas altas os professores adoravam ela já o
Davi era mais das exatas vivia desmontando as coisas aqui em casa para ver como funcionavam Perdi as contas de quantos relógios e rádios velhos Ele abriu e olha só onde chegamos agora em fevereiro de 2024 o Davizinho fez 18 anos liberaram para ele a parte dele da herança fiquei com medo sabe achei Ai que ele ia querer sair por aí mas não está morando aqui comigo e nem fala em ir embora ele vai tirar a carteira de carro disse que quer me levar para todo lado a Luísa se formou na faculdade menina que orgulho ela
fez administração disse que queria entender melhor como cuidar dos negócios da família e dos projetos sociais dela no dia da formatura eu chorei que nem um bebê ela subiu no palco pegou o diploma e quando foi fazer o discurso dedicou tudo a mim disse que se não fosse pelo velho aqui ela não teria chegado onde chegou você acha que eu aguentei Chorei mais ainda já faz 4 anos que tá administrando tudo junto com o Miguel no começo ela ficava insegura achava que não ia dar conta mas ela tem todo um suporte e foi pegando o
jeito hoje em dia toma conta de tudo melhor que muito empresário por aí e o melhor não esquece das raízes dela sempre pensando em como pode ajudar mais gente ah e falando no Miguel numa dessas viagens dele acabou se enrabando por uma gringa lá Paola o nome dela uma italiana bonita de cabelo preto e olhos verdes moça fina Milionária igual ele quando anunciaram o casamento e nos convidaram pensei lá vamos nós para essa aventura o casamento foi uma coisa de louco nunca vi tanto luxo na minha vida foi numa vila antiga na Toscana dessas que
a gente só vê em filme eu que nunca tinha saído nem do Estado me vi voando pro outro lado do mundo quase morri de medo do avião viu passei a viagem toda rezando baixinho fomos todos nós até o Eduardo com a Jane e os primos que não se desgrudam por nada chegamos lá uns dias antes para conhecer o lugar Deus Que beleza as ruas de pedra aquelas construções antigas o cheiro de comida boa no ar fiquei pensando se não tava sonhando no dia do casamento parecia que tinha chegado à Realeza carros chiques para todo lado
gente importante que só a Paola chegou numa carruagem acredita tava linda que nem uma princesa O Miguel não cabia em si de tão feliz a cerimônia Foi numa igreja que tinha mais de 500 anos fiquei com medo até de respirar lá dentro de tão bonito que era tudo depois teve a festa meu Deus do céu que negócio chique tinha comida que eu nem sabia que existia provei umas coisas gostosas outras Nem tanto mas o vinho Ah esse era bom demais dancei até viu a luí me puxou pra pista e eu fui meio sem jeito mas
fui ficamos por lá quase um mês toda a férias da escola eu e as quatro crianças já o Eduardo e a Jane precisaram voltar para o Brasil devido aos compromissos eu deixei o sítio aos cuidados da Dona Odete vizinha querida paguei para ela alimentar os bichos o Miguel nos deixou ficar na mansão dele e uma semana depois que ele voltou da lua de mel em Paris ele fez questão de mostrar tudo pra gente fomos paraa Roma Veneza até pra praia a gente foi eu que nunca tinha visto o mar me vi nadando nas águas azuis
do Mediterrâneo quem diria é de gargalhar não é mesmo quando voltamos pro Brasil parecia que a gente tinha vivido um sonho mas não demorou muito e veio a notícia o Miguel e a Paola iam ter um bebê aí num piscar de olhos já eram dois o dipe e a Sofia uns italianos lindos viu mas com o nascimento das crianças Eles resolveram ficar morando lá na Itália mesmo foi aí que as coisas mudaram um pouco o Miguel não podia mais vir todo mês como antes mas ele não deixou a peteca cair não arrumou tudo direitinho para
luí tocar o barco por aqui deixou gente de confiança para ajudar ela ensinou tudo que Sabe às vezes ainda me pego pensando naquela viagem eu um velho caipira andando por aquelas cidades antigas vendo coisas que nem imaginava que existiam a vida é engraçada né a gente nunca sabe onde vai parar mas uma coisa eu aprendi não importa onde a gente tá o importante é ter a família por perto e família graças a Deus é o que não me falta e a luí aquela menina tem um coração que não cabe no peito pegou aquele abrigo onde
ela e o irmão ficaram um tempo e deu uma revira volta reformou tudo botou mais gente para trabalhar lá criou programas de apoio psicológico aulas de reforço até curso profissionalizante pros mais velhos e não parou por aí não foram muitos outros abrigos depois ela tá empenhada mesmo em cuidar dessas crianças que não tem ninguém o Davi sempre vai com ela ajuda no que pode mas ainda tá meio sem rumo na vida fica entre querer seguir os passos da irmã e montar algo próprio deve ser coisa da idade né Mas o importante é que ele tem
bom coração outro dia mesmo trouxe para casa um cachorrinho vira lata que achou na rua agora o totó faz parte da família mas não é só ele não com essa história de coração deles a casa já está com cinco cachorros e eu bom eu tô aqui no meu cantinho mas vou te contar o sítio já não é mais o mesmo não agora tem do bom e do melhor geladeira de duas portas sofá que parece não ter fim uma cama que dá para nadar nela de tão grande é um conforto só teve dias difíceis também viu
não pense que foi tudo um mar de rosas só porque a gente tinha dinheiro lembro bem daquela época maldita quando apareceu aquele vírus o tal do covid-19 foi um tempo de muito medo e tristeza a gente achava que estava protegido aqui no sítio longe de tudo mas esse danado do vírus não escolhe endereço não pegou todo mundo aqui em casa a luí e o Davi jovens que eram passaram meio mal mas logo se recuperaram eu Ah eu dei um susto em todo o mundo fiquei internado sabe pensei que ia encontrar com a minha Helena mais
cedo do que esperava mas graças a Deus a gente saiu dessa sem sequela agora o que me entristeceu de verdade foi o que aconteceu com a Dona Margarida aquela Fofoqueira de Plantão lembra Pois é ela não teve a mesma sorte que a gente o vírus pegou ela e pegou pesado mas antes dela partir aconteceu uma coisa que não desejo Nem pro meu pior inimigo dois filhos dela o José e a Verônica também pegaram o vírus e você acredita que os dois partiram antes dela foi de cortar o coração ver a Dona Margarida já doente tendo
que se despedir dos próprios filhos sem nem mesmo podendo fazer um enterro decente ela não aguentou pouco tempo depois ela também se foi nunca pensei que ia dizer isso mas senti falta daquela danada era estranho olhar pra rua e não ver ela passando sempre com alguma novidade para contar a Vila inteira ficou de luto não era para menos né perder três pessoas de uma família só assim de repente foi um baque para todo mundo as pessoas andavam pelas ruas cabis baixas as janelas todas fechadas parecia que uma nuvem escura tinha pousado em cima da gente
sabe eu e a Dona Margarida a gente vivia as turras ela com aquela língua afiada eu com meu jeito carrancudo mas no fundo no fundo acho que a gente se gostava era uma amizade torta dessas que a gente só entende o valor quando perde depois que ela se foi me peguei várias vezes olhando pro portão esperando ver ela aparecer para fofocar às vezes até ria sozinho Lembrando das histórias malucas que ela inventava a Luísa Chegou a me perguntar se eu tava passando bem de tanto que me via rindo sozinho foi um tempo difícil viu a
gente aprendeu na marra que a vida é frágil demais que não importa se você tem dinheiro ou não se é fofoqueiro ou quieto se é velho ou novo essa doença não escolheu ninguém mas sabe o que eu aprendi com tudo isso que a gente precisa valorizar mais as pessoas est depois que a dona margara se foi quantas vezes eu não pensei Poxa devia ter sido mais paciente com ela ou então devia ter convidado ela para tomar um café algumas vezes com os anos a vizinhança mudou muito também Antes era só o pessoal antigo que me
conhecia há anos agora tem gente nova chegando comprando terreno construindo casa começo eu estranhei Achei que ia perder a tranquilidade Mas sabe que até que é bom trouxe uma energia nova pro lugar e o melhor todo mundo respeita a gente acho que é por causa do trabalho que a luí faz todo mundo conhece todo mundo admira o Eduardo e a Jane também estão numa fase boa os filhos deles já estão na faculdade a Luciana decidiu seguir os passos da mãe tá fazendo pedagogia o Joab foi PR engenharia igual o Davi é bonito ver os primos
todos se dando bem se apoiando Sabe às vezes eu me pego pensando no futuro o que vai desse sío quando eu não es mais aqui mas aí vejo o cuidado que a luí e o Davi tem Com tudo o respeito que eles têm pela história da família e fico tranquilo sei que eles vão cuidar bem de tudo V honrar a memória da gente no fim das contas olhando para trás vejo que a vida foi Generosa comigo tive meus momentos difíceis Claro perdi gente que amava passei por apertos mas também ganhei muito ganhei dois filhos que
não esperava ganhei uma família maior ganhei a chance de fazer a diferença na vida de muita gente agradeço se você escutou até aqui minha história não deixe de assistir relatos reais doss avós aqui do canal tenho certeza que vai tocar fundo no seu coração antes de ir embora escolha outro vídeo para continuar assistindo e não saia sem deixar o seu like fique com Deus ah