onde tem Cultura a Vale está no poder criativo que nasce dos palcos orquestras das Artes das ruas e dos museus na valorização das diversas identidades brasileiras e na preservação de memórias é valorizando a cultura que crescemos e evoluímos juntos [Música] [Música] ministério da cultura e Associação casaazul apresentam 2ª flip festa literária internacional de Parati a flip conta com benefício da lei federal de incentivo à cultura pronac 350 60 e possui acessibilidade para pessoas com deficiências física visual e auditiva tem Patrocínio master Instituto Cultural Vale Patrocínio ouro Itaú CCR e Susano Patrocínio prata maqu móveis eletronuclear
O Globo e Sesc Patrocínio bronze sebrai e Globo livros parceria institucional Prefeitura de Parati Secretaria Estadual de turismo do Rio de Janeiro e Museu do território é uma concepção Associação casaazul realização ministério da cultura governo federal Brasil união e reconstrução Obrigada e boa [Música] mesa k [Música] Us [Música] flip o encontro da literatura com a [Música] cidade tô aqui em Parati desde 91 cheguei em Parati 91 dia 6 de junho de 91 e comecei trabalhar na k Food em 93 Então estou aqui há 30 anos 31 anos mais ou menos trabalhando na caipe fruta Nós
temos muitos fregueses mesmo muito crente de Fora muito turista eu vi muitas crianças crescerem se formarem hoje em dia são doutores voltam na Minha barraca e me cumprimentam sempre tenho contato com eles eu gosto muito de trabalhar com público gosto muito de atender os turistas você você me faz muito bem o dia que eu não venho trabalhar eu fico triste em casa a a minha barrar é como se fosse um consultório de psicólogo porque todos que chegam lá tem uma história para contar né a gente acaba fazendo terapia na na própria barraca a gente acaba
sabendo de muitas histórias né a gente procura ajudar muitas pessoas né de alguma forma procura ajudar conversando com as pessoas então eu escolhi Parati há 30 anos 31 anos eu escolhi Parati não me arrependo e não pretendo sair daqui [Música] flip o encontro da literatura com a cidade Bom dia para ti é uma alegria tá aqui com esse auditório cheia de gente para ouvir esses dois autores falar esse auditório E lá fora no auditório da praça também eh eu queria dizer que esse ano a gente tem uma novidade que a gente tá muito feliz que
tem um esquema para quem tá lá fora assistindo no auditório da praça pode também fazer perguntas e mandar aqui para dentro então o pessoal escreve os nossos anjos lá de fora vão recolher e trazem aqui pra gente bom quem viu a mesa do Luís Antônio cimas ontem A nossa abertura arrebatadora e fulgurante com Exu abrindo os caminhos em nome do João do Rio aqui na flip entendeu como pro João do Rio era importante a relação com a cidade o tudo que a cidade nos dá e a relação do João do Rio entre o medo e
o maravilhamento com isso hoje a gente tem aqui dois autores para quem essa relação é muito importante a poeta carioca Bruna mitrano e o cronista romancista contista gaúcho José Faleiro eles vão trazer um pouco sobre como que é a relação com ess hoje para mediar eu vou chamar Stephanie Borges que já é uma parceira da Flip antiga ela é poeta tradutora e uma grande pensadora traduziu Bell Hook traduziu audre Lord tem um livro de poesia premiado chamado talvez precisamos de um nome para isso e está lançando nessa flip uma plaquete de poesia chamada um nome
não é uma chave Então venha stepan [Aplausos] Bom dia eu quero chamar então os nossos autores Bruna mitrano e José [Aplausos] Faleiro um bom dia a todos todas e todes que estão nos assistindo é uma alegria imensa est de volta aqui nessa tenda eh com autores que eu admiro muito eu quero agradecer ao convite da Ana Lima Cecílio como curadora da Flip quero agradecer a toda a equipe da Casa Azul que a cada ano monta esse espetáculo aos nossos tradutores na cabine aos nossos intérpretes de libra que tornam eh acessível a nossa conversa para Inúmeras
pessoas pra equipe de audio inscrição também e quero agradecer a quem tá nos assistindo não só aqui em Parati mas também pelo YouTube pela TV Enfim vou fazer uma breve apresentação dos nossos queridos autores Bruna mitrano nasceu em 85 no complexo de Senador Camará no Rio de Janeiro é escritora professora mestre em Literatura pela werge eh recebeu o prêmio off flip em 2010 publicou seu primeiro livro de poemas não pela Editora patuá e em 2023 lançou ninguém quis ver pela companhia das letras um dos livros de poesia mais impactantes lançados no Brasil no ano passado
participou de diversas antologias entre elas algum vazio nesta paz fajuta scriptonita ontologia primata ato poético poemas pela democracia e versão brasileira a voz da mulher 47 poemas sobre a independência além de as 29 poetas hoje organizado pela professora elía Bararque de Holanda também publicada pela companhia José Faleiro nasceu em 1987 na Lomba do Pinheiro em Porto Alegre é escritor estreou na literatura em 2019 com o livro de contos Vila Sapo publicou o romance os supridores pela Editora Todavia que recebeu o troféu aucides Maia na categoria narrativa longa e o o prêmio ages livro do ano
além de ter sido finalista do prêmio Jabuti na categoria romance literário e do prêmio São Paulo de literatura na categoria melhor romance de estreia publicou também a coletânia de crônicas mas em que mundo Tu vive também pela todavia em 2020 recebeu o prêmio Jacarandá autor Revelação em 2023 recebeu o Título de Cidadão emérito de Porto Alegre e em breve vai publicar um novo romance que será lançado pela todavia eu gostaria de lembrar a vocês que a plateia pode fazer perguntas É só vocês sinalizarem aqui vão receber o papelzinho para fazer as perguntas por escrito e
agora o pessoal do telão tá assistindo a gente lá na praça também pode fazer perguntas façam e mandam mandem as perguntas de vocês porque se vocês não fizerem eu vou ter que fazer todas sozinha eh eu quero começar né É É muito precioso estar aqui com vocês numa flip que homenageia João do Rio porque eu acho que ele possibilita várias entradas pra gente pensar a literatura contemporânea a gente pensar a cidade a gente pensar várias contradições do Brasil e aí P aqui nessa conversa eu queria começar Pensando que nós que viemos né de regiões que
não são centrais nas nossas cidades a nossa formação como pessoa eh como cidadão como escritor ela passa por uma uma relação muito intensa com a cidade porque a gente Passa muito tempo se deslocando a gente cresce em determinados bairros e depois a gente precisa se deslocar pro centro a gente precisa se deslocar para estudar para trabalhar para ter acesso a cultura uma série de experiências que para algumas pessoas isso tá próximo tá dado mas que muitas vezes para nós não está Então eu queria que vocês começassem falando um pouquinho cada um de como essa relação
com a cidade os deslocamentos o tempo perpassa a produção literária de vocês mas pode Bom dia gente eh é uma alegria est aqui conversando com essas queridas eh eu peço que vocês me perdoem Se eu disser alguma besteira porque eu tô nervoso e e o meu raciocínio também não funciona muito bem às 10 da madrugada daí bom saber porque eu nem tava nervosa agora e assim eu acho que eh influencia a minha relação com a cidade influenciando que eu escrevo em muitas dimensões assim uma delas eu acho que talvez a mais óbvia é que a
minha relação com a cidade me molda enquanto sujeito e o sujeito que a gente é invariavelmente é refletido na escrita que a gente produz né na literatura que a gente produz eh mas eu Eu até comentei isso no numa das Crônicas do mais Em que mundo Tu vive é que inclusive eu acho que dialoga muito com o João do Rio porque é muito ruera assim a as crônicas assim e tal eh Eu até comentei isso que a gente na verdade tem uma relação muito específica com a cidade né E muito injusta eu diria eu comecei
a me dar conta disso quando eu publiquei meu primeiro livro Vila Sapo lá em 2019 pela Editora Popular venas abertas reeditado agora pela Editora todavia eh eu me dei conta disso porque quando eu publiquei aí começaram a me chamar pros eventos pros Coquetel Zinho pras coisas que rola e eu comecei a de fato experimentar certos setores da cidade que eu não experimentava né então tu vê que eu passei 30 anos da minha vida morando na Lomba do Pinheiro que é um bairro afastado para caramba assim Eh aí eu construí a relação sujeito cidade muito mais
na Lomba do Pinheiro do que no no restante de Porto Alegre né então ali no Pinheiro desenvolvia essa relação com a cidade eu cidade as Praças os becco a rapaziada e aí a minha relação com o restante de Porto Alegre era uma relação de trabalho eu ia pegava o ônibus e ia trabalhar e voltava e chegou ao ponto de parecer para mim que aqueles prédios eram de papelão assim sabe era de mentira né Um cenário de mentira porque eu passava por ali de ônibus mas não parava naqueles lugares sabe não entrava naqueles lugares não frequentava
aqueles espaços a não ser na condição de subalternizado né de de porteiro de cozinheiro ou o cara que Vai tapar um buraco numa obra e tal eh e aí a princípio tive Então essa relação com com com o restante da cidade Isso tá muito presente eh nos meus textos e depois eu comecei a desenvolver uma outra relação com a cidade como autor e frequentando esses espaços né tem o camarada meu lá poeta do Pinheiro até fala um tr muito muito curioso que ele fala oh meu Quando é a gente que chega e tal né pô
o Du é poeta o Faleiro ali escritor e tal né então as pessoas acham que já se desconstruíram o suficiente mas se aparece o meu pai se aparece o meu primo se aparece sabe alguém da nossa estirpe que eles não conhecam eles atravessam a calçada tá ligado Então eu acho que essa essa é um pouco a segunda a segunda relação que eu passei a ter com a cidade assim as passoas as pessoas pararam de atravessar a calçada quando me viam né porque porque começaram a me conhecer um pouco mais obrigado bom dia todos todas e
todas Obrigada pela escuta pela presença Eh o meu livro ele tem uma cidade ou uma parte da cidade ou uma cidade eh fora da cidade ou outra cidade dentro da cidade que eu experimento né você falou disso da gente transitar e eu experimentei muito mais na adolescência porque eu fui expulsa de casa pela primeira vez eu fui expulsa três vezes tive que voltar porque a polícia levou com 13 anos e aí eu comecei a trabalhar na rua e depois com 16 anos já com carteira assinada eu fui trabalhar muito longe da minha casa e eu
estudava eu nunca deixei de estudar e também estudava muito longe e a escola e o trabalho eles estavam em direções Opostas então eu atravessava a cidade eu circulava pela cidade E aí tem um ponto que a gente precisa considerar é que um morador da Periferia conhece a cidade sabe dos problemas e sepá sabe até da solução desses problemas só que esse morador ele não é ouvido ele não tem voz e quem pode promover mudança quem tem voz não se desloca porque tá nesse lugar privilegiado como você falou tem acesso a equipamentos culturais tem acesso a
tudo ali então não vê a necessidade de sair e não quer mesmo né E aí fica claro que existe um projeto muito bem estruturado de exclusão de uma parcela da população e esse projeto ele vai por muitas vias por muitos caminhos alguns muito discretos um deles é o seguinte é ter esse fato porque não é nem uma narrativa é um fato e fazer com que a gente acredite que essa população pobre eu gosto de falar pobre eu não gosto da palavra carente não gosto da palavra humilde Por que que tem que ser humilde simples eu
não sou simples sou complexa sou filha de camelô e sou complexa e obrigada e faz a gente acreditar que essa parcela que é ignorante tem uma frase que me incomoda muito que é o povo é burro já começa errado porque essa pessoa que fala que o povo é burro se coloca fora do Povo amigo se tu não é povo Tu tá onde flutuando no espaço né o povo é burro o povo não é burro né o povo sabe muito bem das suas necessidades só o que que acontece não existe ali o diálogo uma pessoa da
Elite seja Econômica cultural intelectual ela não vai eh ait tá que a pessoa que limpa a privada dela sabe mais do que ela então o que eu tento fazer nesse livro já tô falando bastante coisa é dá nome a essas pessoas porque o nome próprio é uma propriedade ele é um bem que algumas pessoas têm acesso a outras não isso diz muito né do do do lugar onde a gente tá né então eu penso que eh a poesia ela tem essa possibilidade de nomear de humanizar isso diz também do Papel transformador da poesia eu acredito
no papel transformador da literatura eu acho que quem não acredita ou não vê necessidade de mudança ou pior não quer mudança porque tá no lugar cmodo então como eu tenho essa possibilidade hoje de falar por meio da poesia eu uso essa poesia para falar dessas pessoas que são minhas vizinhas porque eu ainda moro na periferia e promover pelo menos ali dentro do meu livro Um Diálogo com essa parcela que tá fora do Povo né que não não conhece a própria cidade o próprio território tem uma uma coisa que eu pensei muito né relendo os livros
de vocês para essa conversa que é assim a gente costuma ver muito eh uma imagem do escritor como uma figura solitária e a gente também costuma ver um reforço de uma ideia da cidade como esse lugar eh da Solidão eu acho que assim a gente vive um um período em que se é muito importante a gente falar de encontro né porque as pessoas estão sendo o tempo todo bombardeadas por um discurso eh neoliberal individualista né que faz que reforça uma ideia de solidão de isolamento que é não só perigosa mas também é adoecedor E no
entanto a a produção literária de vocês Ela me parece justamente abarcar uma ideia de coletividade não só pelo que a Bruna eh falou sobre vou escrever sobre os meus vizinhos né mas também assim uma atenção do escritor não só paraa histórias que são pouco contadas mas para essa representação da complexidade Uhum Então eu queria que vocês falassem um pouco assim o quanto essa o quanto para vocês a literatura é um projeto coletivo eh assim stef eu acho que esse lance da coletividade tá muito presente nos meus textos sim eh e eu eh inclusive digo isso
com muita frequência que muitas vezes pessoas gostam do que eu escrevo Mas elas apontam certas Virtudes no meu texto que não são virtudes realmente min assim eh que são justamente virtudes coletivas assim as pessoas às vezes elogiam por exemplo a linguagem mais eh coloquial mais informal assim que eu emprego Principalmente nos diálogos né Eh dizendo que como Nossa como é uma linguagem expressiva bacana divertida e tal irônica não é uma linguagem minha sabe não é uma linguagem que eu inventei uma linguagem coletiva é uma construção na verdade intelectual que é foi feita de maneira coletiva
eh mas eu tenho que admiti um negócio que é o seguinte eh eu eh tenho um modo de produzir muito solitário mesmo assim e muito até egocêntrico digamos assim sabe queria confessar isso para vocês porque eu não costumo pensar nas pessoas quando eu vou escrever assim sabe eh Nossa isso tem o potencial de aproximar leitores que não tem o hábito da Leitura porque a as histórias que eu trago os diálogos que eu trago Talvez seja interessante para essas as pessoas eh não penso nisso Nossa isso pode ter um impacto assim ou assado não não não
penso e evidentemente que se isso acontecer maravilhoso né maravilhoso se se o meu texto tiver Impacto positivo nas pessoas assim mas eu tenho um modo de produzir muito solitário quando eu tô escrevendo realmente assim eu não eu não eu sou chato assim A Dalva A Dalva passa um bocado comigo minha irmã também minha mãe também as pessoas que eram próximas de mim e que são próximas de mim Eh porque eu não não olho para mim não falho comigo não olho para mim quando eu tô escrevendo assim então eu gosto de estar sozinho e eu penso
sobretudo em agradar a mim mesmo assim eu penso em escrever um livro que eu gostaria de ler e depois eh quando o livro vai pra rua aí eu torço para que ele tenha os melhores impactos possíveis que ele tenha um potencial de representatividade junto a pessoas que são invisibilizadas né Eh eh mas eu acho que também isso tem a ver com o modo como eu me tornei escritor né que foi um período de absoluta solidão também porque porque eu tinha depressão tava assim super mal eh que nem diz o cara lá na vila lá tava
com a baixo estima lá embaixo né eh e aí eu não não tinha vida social não saía pra rua não tinha amigos e tal e e era um era porque eu acreditava que a felicidade só era possível na rua assim porque antes desse período eu era um cara da rua assim era um cara vivia na rua e tal vários parceiros e quando eu comecei a ficar deprimido eu comecei a ficar em casa e não conseguia ser feliz em casa porque para para mim todos os símbolos de felicidade estavam na rua e aí eu descobri a
leitura né não era um leitor né Comecei a ler para e aí descobri a escrita sabe E aí eu consegui ser feliz sozinho sabe em casa sozinho assim vivendo no mundo das minhas histórias assim que eu ia pensando sabe e e trabalhando então eu acho que a minha formação como como escritor Passa muito pela solidão mesmo é muito legal ouvir dos processos para pensar dessa nessa diversidade mesmo porque costumam colocar a gente no mesmo barco a gente os nossos né eu comecei a escrever no trem porque eu passava muito tempo dentro de transporte público eu
pensei vou aproveitar esse tempo Eu Acredito sim que a poesia ela pode ser criada mas tinha tanta poesia ali perto de mim sabe que eu falei eu vou me apropriar disso eu acho que daí vem as muitas vozes que ão no meu livro agora meu primeiro livro não de 2016 eu acho que ele ainda construía muros em torno de si ainda era difícil de acessar no ninguém quis ver eu trabalhei uma voz poética eu tinha falado antes que eu queria falar dos meus vizinhos mas eu pensei também em falar pros meus vizinhos pros nossos então
eu trabalhei essa voz poética pensando em para quem eu quero falar e teve um momento que foi divisor de águas eu eu fico arrepiada quando eu conto essa história gente sempre me emociono uma senhora chamada Dona Isabel que já não tá nesse plano ela morava no bosque das caboclas que é um espaço lindo lá em Campo Grande Zona Oeste do Rio de Janeiro Periferia da cidade do Rio de Janeiro é um espaço lindo só de mulheres e essas mulheres constroem as casas com as próprias mãos essas mulheres se organizam de uma forma Íssima e e
dona Isabel era uma grande conhecedora das plantas da terra e um dia a gente fez um saral a coletiva popular de mulheres da zona oeste fez um saral nesse espaço e dona Isabel tava lá com as mudinhas dela E aí a saney que é uma grande articuladora cultural da região gosto de dar nomes e ela leu um poema de Manuel de Barros e dedicou a dona Isabel e don Isabel ficou emocionada ela chorou no auge dos seus 70 anos ela chorou porque ela ouviu um poema pela primeira vez e eu descobri isso porque eu cheguei
assim de cantinho na dona Isabel e falei ei dona Isabel tá gostando ela tô minha filha tô gostando como é que é o nome disso eu falei é saral ela bonito esse saral que ela leu né eu falei não isso é poema ela nunca tinha escutado o poema como a gente conhece poema né porque eu acredito que a poesia vai muito além do do texto e tudo mais e nesse momento eu pensei eu quero escrever uma poesia que faça Dona Isabel chorar eu quero escrever para essas pessoas e o ninguém quis vê ele nasce disso
não é só sobre o lugar onde eu moro é pro lugar onde eu moro eu quero que os meus vizinhos me entendam eu eu pensei numa linguagem que pudesse dialogar com a maior parte das pessoas mas principalmente com essas pessoas [Aplausos] vocês estão falando bastante do trabalho de vocês eh mas eu queria pedir que vocês lessem um trechinho que é para passa para Bruna por favor que é pro nosso público entender um pouco porque a gente tá falando aqui né de linguagem de ritmo de escolha de palavras Então eu acho que nada mais contundente né
Do que vocês lerem um pouquinho né no caso o Zé leu um TR de prosa e a Bruna leu uns poemas por favor Ah legal eh posso contextualizar só antes que que eu vou ler aqui é um trechinho do meu novo romance que sai agora em novembro pela Todavia que se chama Vera né onde eu tentei problematizar algumas questões de gênero e a masculinidade tóxica e tal eh e aí nessa cena em particular é o seguinte tem um um cara Marcelo que ele é casado mas ele tá tentando seduzir uma outra mulher e ele não
é bom nisso né então dá errado as coisas e ele e ele vai para casa e desconta na esposa assim a raiva dele sabe Então contextualizando nesse dia ele chegou bêbado e tal e a a esposa dele tava com saudade da mãe dela e foi visitar a mãe né aí segue-se a seguinte cena eh alerta de gatilho eh para violência doméstica vamos lá se na quarta-feira Carmen a esposa de Marcelo passar a suspeitar que o marido andava com problemas no seu mundo secreto uma vez que o homem começara a beber já pela manhã daquele dia
na quinta ela tivera certeza de que algo realmente o atormentava Pois então ele não conseguira sequer esperar a sua folga para iniciar os trabalhos saíra do serviço e fora direto para algum bar chegando em casa só de madrugada completamente bêbado a mulher fingindo que dormia sentira o corpanzil a ajeitar se pesadamente na cama envolto no característico bodum de cerveja e ficara possessa a sua Fúria no entanto não se devia à absoluta falta de consideração de Marcelo já se fora o tempo que Carmen nutria esperanças de que o homem tomasse juízo o que a punha irada
daquele jeito era perceber que apesar de tudo estivera preocupada com o marido e era um ali vê-lo voltar da rua Se não são pelo menos salvo hoje bem cedo contudo a esposa saltou da cama com uma resolução inédita poucas horas depois da chegada de Marcelo o sol mal começava a iluminar tudo e os pássaros mal começavam a cantar quando ela já de banho tomado e enfiada em roupas das quais gostava muito embora não conseguisse se lembrar da última vez em que as vestira foi visitar a mãe outra coisa que também fazia não fazia apesar de
nunca lhe faltar vontade Marcelo acordou ao meiodia com dor de cabeça e sede antes ainda de Despertar por completo percebera também Faminto e naquele lampejo de consciência pensara consigo mesmo que Seria maravilhoso levantar e encontrar o almoço pronto isso porém não aconteceu indo à cozinha deparou-se com fogão tristemente Inativo as bocas todas desligadas nenhuma panela sequer sobre ele foi Grande a sua decepção evitando o costume de bragar contra Carmen entretanto resignou-se de imediato porque depois de desaparecer por horas AF fil sem dar à mulher qualquer satisfação como tinha feito na véspera não se sentia em
condições de criticá-la ademais sem achá-la em parte alguma da casa precipitou-se a concluir que ela devia ter ido ao mercadinho e que por isso não dera ainda jeito na comida o que contribui para mantê-lo de sangue doce todavia conforme o tempo passava e a esposa não dava as caras o homem ia perdendo a paciência decorrida quase uma hora inteira ele só conseguia imaginar Carmen parada numa esquina os braços cheios de sacola Alegre em trocar fofocas com alguma vizinha enquanto aquela fome de Mil Dias o torturava aqui e apenas Então deu-se conta de que quando a
esposa chegasse o almoço não se materializaria instantaneamente havia ainda o tempo necessário para prepará achando que não resistiria tant Marc resolveu improvisar um omelete mas ao abrir a geladeira verificou que não havia ovos [Música] inferno explodiu batendo a porta com toda a força o que deixou o eletrodoméstico balançando como um boneco João teimoso aqui eu acho que eu tinha botado João Bobo pessoal da revisão mudou para João teim se eu não me engano mas vamos lá joga na fogueira Carmen só Carmen só apareceu perto das 2as da tarde umas espadas de São Jorge ganhadas da
mãe debaixo do braço ao entrar em casa deu de cara com o marido que se achava em pé bem de frente para a porta a bunda levemente escorada nas costas do sofá os braços cruzados o rosto de tempestade todo ele um bicho de peçonha plantado ali daquela forma Deus sabia havia quanto tempo no caminho desde a mãe até o lar prometera a si mesma que enfrentaria Marcelo fosse qual fosse a reação a sua reação ao seu sumiço agora no entanto que o via assim como jamais o vira sentiu esvair-se toda sua coragem Ah oi foi
o que conseguiu dizer tentando pelo menos não demonstrar todo o medo que de repente a assaltava Ah oi o marido a imitou incrédulo eu tava na mãe a essa altura a fome de Marcelo já fora de todo suplantada pelo Ódio e havia se acumulado na mente dele uma série de motivos na sua avaliação muito justos para cpir marimbondos na esposa o almoço não feito os ovos não comprados o chão não varrido as roupas não lavadas tudo isso porém desapareceu dos seus pensamentos pois bastou que deitasse os olhos em Carmen para para julgá-la Comet Dora de
uma falta muitíssimo mais grave e isso é roupa de ir na na tua mãe é minhas roupas amor amor palavra estranha palavra ardida palavra amarga palavra maldita Carmen não a pronunciava via séculos naquelas circunstâncias contudo se dispôs a resgatá-la do porão da alma e a vitá com a esperança de escapar do pior recorria Entretanto a um idioma morto e descobriu isso no instante seguinte quando Marcelo avançou para cima dela encolheu-se toda a princípio todavia percebendo que o marido tentava arrancar-lhe as espadas de São Jorge para jogá-las no chão sentiu como se a violência atingisse a
sua mãe de algum modo representada naquelas folhas e a isso não pode deixar de revidar distribuindo tapas de matac cobra com a mão livre mas a sua reação durou menos de dois ou três segundos interrompida de supetão pelo soco que ele atingiu o supercílio fazendo-a bater com as costas na porta e cair sentada no chão desorientada à vista escurecida não satisfeito Marcelo ainda pegou pelos cabelos e puxou para cima forçando a ficar de pé e então deu um berro no seu ouvido aqui nesta casa o homem sou eu é isso obrigado é muito chique a
gente ouvi um inédito de José faleira que legal eu vou começar com o poema que abre o livro e eu acho que tem tudo a ver com essa mesa é autoexplicativo a 70 km do mar moro a 70 km moro a 2 me do mar moro a dois ônibus ou 24 estações de trem e 11 estações de metrô do mar mora tanta preguiça de ir até o mar mas todo dia piso nos dois montes de Areia da calçada do vizinho e lembro que só esquece o mar quem mora perto do mar eu não esqueço que
moro onde não escolhi que moro onde posso morar e às vezes é madrugada e faz silêncio às vezes é madrugada e durmo ouvindo o barulho da água do Valão diante da minha casa e acordo com a boca salgada nos olhos dois montes de areia eu fico tímida depois da leitura do poema de qualquer poema meu porque eu fico pensando ai a gente tá expondo as nossas entranhas aí né e eu vou ler outro que fala de uma coisa que eu falei aqui a a propriedade né que é esse nome nome próprio o vassoureiro o moço
da pipoca o ferante o catador de latinhas a voz do carro do pão o rapaz morto ontem o garçom o motorista da van o camelô não tem nome próprio os animais de rua também não t nome próprio nem ocupam cargos públicos a mulher nunca tem nome próprio é a mulher do fulano A minha avó não teve nome próprio os filhos a chamavam de mãe eu a chamava de vó e ela sempre atendia a minha avó me ensinou a atender prontamente e a morrer sozinha ela também me ensinou a degolar franguinhos e que as mulheres são
sempre propriedade de alguém menos as que matam o marido e com a cabeça numa sacola de mercado essas ganham nome nos jornais e ameaçam Anonimato das mulheres que em breve vão aprender a degolar franguinhos muito [Aplausos] uma degolar esses franguinhos é muito chique ouvir vocês dois tá não é só inéditos de Zé Faleiro expondo bastidores do editorial tipo mudaram a expressão aqui mas também ouv você ler os seus poemas também é muito especial eu queria lembrar a vocês aqui na tenda que vocês podem fazer perguntas quero lembrar também ao nosso público lá na praça do
telão que também pode mandar perguntas porque enfim nós temos um tempo limitado aqui gente então vocês participem e enquanto vocês estavam lendo eh me ocorreu uma coisa né que o Faleiro já já avisou de uma certa violência Antes de ler o texto e essa é uma conversa que eu tenho com a Bruna porque a Bruna não é só uma poeta que eu admiro e que eu acompanho mas com quem eu tenho a felicidade de enquanto poeta e discutir várias das minhas angústias enquanto autura contemporânea e e isso surge também nesse último poema do nome próprio
que é um dos meus preferidos do ninguém quis ver que é uma questão da violência assim a gente existe num país extremamente violento em vários níveis Né desde a violência mais óbvia e mais crua que vem de uma crise de Segurança Pública que na verdade é fabricada por esse imenso processo de exclusão que vocês já mencionaram aqui porque a gente sabe muito bem quais corpos estão encarcerados a gente sabe muito bem quais são os traficantes que estão presos né então assim Quais Quais pessoas estão pagando por seus crimes e quais não estão mas a gente
também é atravessado por uma série de violências sutis e simbólicas no nosso dia a dia e eu sempre percebo que dependendo das origens dos autores espera-se muito que se ofereça um testemunho que se ofereça né assim a gente muitas vezes tá produzindo ficção inclusive no poema né muita gente acha a Bruna fez essa piada ah estamos aqui expondo nossas nossas entranhas e eu acho que quando se é mulher e poeta essa expectativa maior ainda por um biografismo uhum né mas eu acredito isso também atravesse a tua escrita Zé e aí eu queria que vocês falassem
um pouco disso assim de como é a elaboração dessas muitas violências na literatura porque ela não é denúncia Uhum Ela não é ela muitas vezes é um trabalho extremamente sofisticado de vivenciar de presenciar de ser atravessado por essa violência de diversas maneiras e ainda sim produzir arte com ela a partir dela e numa certa medida devolvê-la a certos eh setores da sociedade que esperam que a gente não Produza arte Nem que a gente viva né então a gente dobra aposta e faz os dois queria que vocês falassem um pouquinho disso no trabalho de vocês posso
eh bom assim tu sabe que teve uma vez aí eu conto mesmo eu vou falar teve uma vez que uma jornalista me perguntou Ela leu lá os supridores e perguntou você já cometeu crimes e e quais foram e se ficou preso quanto tempo ela perguntou o doido é que tipo assim eh quando ela fez essa pergunta eu pensei eu eu não sabia se eu ficava com raiva ou se eu admirava ela pela pergunta porque todo mundo pensa isso só que ela expressou né então tipo todo mundo o o meio literário é um troço muito até
aqui muito de passagem eu queria fazer um pouco Essa problematização é é é é um contrassenso isso é é surpreendente porque a gente sabe dos problemas que a gente tem na sociedade e tal eh racismo machismo homofobia e a gente tem uma tendência me parece de supor assim nossa mas eh se isso vai se refletir como problemas estruturais se isso vai se refletir em todos os segmentos sociais talvez se reflita menos em alguns segmentos sociais Como por exemplo o meio literário que afinal de contas da intelectualidade pessoas não é nada elitista e é o oposto
é o oposto né isso isso é incrível assim não há diversidade tem muito muito racismo muito machismo muita homofobia Enfim estava só comentando isso E aí como eu tenho circulado [Risadas] nesses como eu tenho circulado ambientes Eu percebo que a maior parte das pessoas pensa justamente o que aquela repórter perguntou né e e só não tem coragem de falar mas é isso que nem diz a minha namorada e da alva Maria Soares que deve estar nos assistindo um beijo preta te amo eh sentimento a gente comunica então a pessoa pode até não falar mas mas
tu tu vai sacando assim né e é doido porque isso é uma coisa que eu já percebia pensando em como as pessoas consomem Racionais por exemplo sabe que é Ah é justamente isso é den né e tal não você tem um trabalho estético ali velho é muito tá ligado não é só uma questão de denúncia e E aí e eu no meu caso quando eu percebo isso assim eu me sinto particularmente agredido assim porque assim eu vou ver vou dizer aqui como é que eu vejo essa parada não sei vocês concordam não precisam concordar mas
eu gosto muito de pensar a arte de modo geral e a literatura em particular dividindo em conteúdo e forma assim sabe e e eu esse é repito é o meu modo de pensar eu sei que essa é uma opinião impopular assim mas eu acho que o conteúdo ou seja o que que tu vai falar né Qual é o conteúdo daquilo ali eu eu Para mim é menos importante do que a forma por qu porque um conteúdo literalmente todo mundo tem todo mundo tem uma história todo mundo tem uhum qualquer pessoa tem e mas dar a
forma isso é difícil entar isso de uma maneira interessante é difícil e E aí é um sacrifício sabe pra gente e tornar um texto interessante fazer escolhas eh em detrimento de outras né sabe E aí olhar exaustivamente até dizer Poxa acho que tá legal assim aí tu apresenta e os caras é uma denúncia sa é uma denúncia velho é tá ligado eh então a a minha poesia ela tem uma base no real parte da minha experiência mas ela não tem um compromisso com a realidade eu digo que ela tem compromisso com a verdade com a
minha verdade e a verdade da poesia é sobretudo invenção eu não posso esquecer que eu tô trabalhando com ficção também e é engraçado que sempre esperam da gente falar do que a gente vive da denúncia eu faço a denúncia tem um pouco ali da violência de revide né que eu acho importante mas não dá para parar na denúncia tem que trazer o anúncio tem que trazer algo novo tem que trazer algo de esperança como por exemplo as mulheres para degolar franguinho né Eh tento Trazer isso e é interessante que você tava falando da tua escrita
muita gente comenta que meu livro é muito violento porque Traz esse cenário de onde eu moro e eu acho interessante porque todo lugar é violento todo lugar tem suas violências eu acho muito mais terrível você desumanizar uma pessoa você deixar uma pessoa em situação de rua do que por exemplo as violências que eu vejo na minha favela e você vai para Copacabana você vai para e Santa Cecília em São Paulo você tem ali e lugares conhecidos mundialmente cartão postal que você vê você vê as pessoas pulando cobertores como se não tivesse um ser humano ali
embaixo isso é extremamente violento não tem violência maior que ela que essa então quando as pessoas escolhem destacar a mídia escolhe destacar a violência específico um tipo de de violência de um determinado lugar me parece que aí a gente volta a falar daquele projeto de exclusão né me parece que tem aí uma intenção um desejo de manter né Essa essa população distante a que eu falei do longe né de manter distante e aí reforçar esse projeto de exclusão que vai muito bem obrigado né emos uma pergunta aqui ai ai a Eh ó calma que a
mediadora tá aqui para filtrar mas ess essa aí não deu tempo de combinar ontem não mas tá tranquilo tá tranquilo você vai sair bem nessa eh falando pedindo para que vocês falem um pouco eh sobre se colocar no mundo enquanto escritor e eu acho interessante de falar isso porque eu também fico pensando o seguinte né Eh quando nós saímos de lugares que não são centrais e vamos construindo a nossa carreira na literatura às vezes é um pouco a gente precisa se apossar da literatura assim como a gente se aposta na cidade de uma certa formaum
assim como a gente tem que aprender a pegar dois ônibus o ônibus e o metrô assim como a gente lê em pé no metrô escreve no ônibus a a gente também tem que dar os pulos para escrever a gente precisa dar os pulos para aprender a circular por certos espaços dominar certos códigos e isso passa por um momento eu acho que aquele momento que você vir e fala assim não eu escrevo sim Vou bancar esse negócio Uhum Então eu queria que vocês falassem sobre como é que foi esse processo para vocês eh sabe que as
minhas referências são são muito estranhas assim quando as pessoas me convidam a a falar sobre isso eu fico até com vergonha às vezes eu tô aprendendo a ficar à vontade com isso assim mas isso que tu falou me lembrou de um de um negócio que me impactou muito e que eu acho que me contribuiu assim para para me tornar esse cara teimoso assim porque na verdade é isso assim tipo uma coisa que me ajuda muito é o fato de eu ser teimoso né e e isso que me ajudou muito foi uma cena porque eu fui
muito moldado assim não só como escritor mas como pessoa vendo filmes assim e na maioria das vezes ruins inclusive mas mas assim que eu gosto assim apesar de serem ruins e aí tem uma cena não não sei se vocês conhecem eh um filme que chama Forest Gump Uhum aí tem uma cena não sei se tu lembra que o cara perdeu as pernas e tal e Mas ele foi trabalhar no barco tá trabalhando lá e tem uma tempestade né E aí só o barco deles que não afunda todos os outros afundam e tal mas na cena
da Tempestade ele tá lá em cima porque ele era forte com os braços ele sobe nas cordas e tal ele tá lá no em cima no mastro e E aí tá aquele temporal o barco quase virando e ele fala assim ele num diálogo com Deus muito enfurecido né Ele fala É só isso que você sabe fazer seu filho da mãe manda mais eu quero mais aquilo eu fiquei assim impactado com aquilo e eu penso isso assim sabe eu sou teimoso como aquele cara sabe eu gosto de ser íntimo dos problemas eu gosto de fazer dos
problemas combustível Ah vocês acham e e é problema para como tu tu falou assim porque tipo velho eu não tinha obrigado gente é não tinha né não tinha leitores ao meu redor né era um era um ambiente completamente eh que não contribuía para que uma pessoa se tornasse leitora e muito menos escritor né E aí eu eh me tornei leitor Vou escrever sim e eu virei motivo de chacota entre meus parceiros sabe na na obra descobriram Quando trabalhava na construção civil Descobriram que eu que eu gostava de escrever debochavam de mim sabe então foi muita
coisa mesmo assim para para enfrentar eu acho que essa teimosia me ajudou eu sou muito teimoso mesmo tanto que eu tô com esses óculos aqui né que eu eu eu comprei para usar na mesa e aí e aí não tá não tem nem sol lá fora mas eu não vou deixar de usar [Risadas] entendeu você escritor às vezes também é sustentar o carão né Zé é sustentar eu só tive coragem de vir com esses óculos porque eu vi o Faleiro com ele e o meu não são óculos escuros isso aqui é óculos de proteção contra
a luz azul porque eu tenho epilepsia mas eu não ia vir então você falando da de como você começa a ler né me lembra muito a minha experiência eu não tinha livros em casa sempre que eu posso eu conto essa história eu não tinha livros em casa o único livro que tinha era a Bíblia e ninguém Lia a Bíblia a Bíblia fica assim no centro da sala para abençoar a casa ninguém vai lá e lê Então o meu primeiro contato com poesia que aquilo ali é poesia gente Versículo verso pá foi lendo a bíblia e
nessa época eu ouvia Punk Rock então era eu era evangélica eu frequentava a igreja participava dos cultos eu era Líder das Jovens cristãs em ação e eu ouvia Punk Rock eu ouvia eu tinha uma da dupla na igreja ninguém sabia que ouvia Punk Rock e lá nos barzinhos ninguém sabia também da igreja e e eu acho que o punk a letra de protesto né ela ela trouxe isso para mim da poesia Então eu acho que esse foi meu primeiro contato com poesia né esses dois essas esses dois lados assim e a onde eu começo porque
não tinha livro em casa não tinha acesso à biblioteca onde eu mora até hoje não tem livraria a gente tem ali um bibliotecas que a gente mesmo constrói em espaços que a gente constrói o famoso nós por nós aí você contando eu lembrei disso né como a gente insiste numa coisa que fazem a gente acreditar que a gente não pode não pode eu eu eu achava que escritor era aquele cara morto Branco sis muito distante no outro país falando de suas crises existenciais lá no Sei lá onde e e nunca imaginei né e de repente
gente tô vivendo de poesia pobre porém vivendo de poesia que loucura isso [Aplausos] né Eh o Zé fez um um comentário aqui sobre gostar de filme ruim enfim e eu acho maravilhoso quando a gente também fala de influências eh extr literárias assim e eu já tinha comentado que eu ia falar isso só com Zé Mas chegou uma pergunta muito boa aqui do nosso auditório da praça né então quero agradecer as as perguntas que estão vindo da praça que estão pedindo de dicas n de leituras de referências de vocês para que os os nossos periféricos encontrem
aí os seus caminhos para a literatura então eu vou juntar essas duas perguntas uma pedindo as referências de vocês e aí eu acho que vale tudo literatura música Punk Rock Filme ruim porque eu acho que a gente também precisa falar disso né de como o escritor não tá trabalhando só com as pessoas o ouvido também trabalha com o que a gente gosta né então assim o que vocês leem ouvem escutam que não só mexe com vocês de alguma forma e acaba atravessando o trabalho de vocês mas que vocês também recomendam para os nossos é b
isso é sempre difícil de responder porque é uma infinidade de coisas na real né tipo que que que faz parte do do nosso Esso eh Nossa tipo eu gosto muito de de coisa clássica aquelas que todo mundo detesta quando Lê por obrigação assim tipo gosto de Machado acho assim e E aí eu tô falando do do que que me que que faz sentido para mim assim né Eu gosto de Tarantino sabe Teve uma época da minha vida que assistir filme vou assistir um filme hoje era assistir p Fiction assim né então eu assistia Pub Fiction
não ver filme é ver Pub Fiction então eu sentava fazia uma pipoca e ficava vendo p F viia duas vezes três vezes aí dava uns dois dias eu via de novo sabe eh eh tem um troço muito doido que eu acho que o que mais me molda assim cara por incrível que pareça não é nem uma obra em particular assim mas é o estar com as pessoas assim sabe isso é impressionante o potencial disso assim das das conversas que tu ouve eh a vida ela é uma obra prima por Excelência não é o que nos
rodeia né as conversas as relações entre as pessoas e a a gente nem vai conseguir inclusive Reproduzir uma obra tão boa tá ligado Tipo apesar de todos os pesares apesar de todos os problemas então eu fico muito atento a isso Outro dia eu tava subindo a lomba E olha que doida eu vou contar uma história aqui que é meio meio meio meio trágica mas eu eu não não pude evitar de rir assim é que eu tava subindo e tinha umas mulheres conversando debochando da outra porque tinha um cara dando em cima dela e tal e
o cara não tinha os dentes tá ligado é trágico eu houvi uma risadinha aí não V não vão rir disso mas e aí ela falava assim é não eu vi dois dentes eu vi que ele tinha as trav uma do lado da outra mas não vi o goleiro ali no meio Eu não vi e aí eu eu falei velho isso isso vai pro meu romance velho isso vai pro meu romance Então acho que mais o que mais mexe comigo assim mais que um livro um filme assim é é o mundo real as pessoas a vida
assim eh E quanto a dicas assim cara tipo é muito doido isso eu acho que é muito difícil dar uma dica de qualquer coisa geral para toda essa comunidade só que vai servir Eu acredito muito que eh existem coisas que vão funcionar para uma pessoa e não vai funcionar para outra depende da vida que aquela pessoa teve das preferências daquela pessoa de toda a bagagem que aquela pessoa tem de vida de enfim eh eu posso dizer o que aconteceu comigo não é para eu me tornar um leitor voraz por exemplo é primeiro que a minha
irmã Insistiu muito para que eu me tornar essa leitura ess é uma história que eu sempre conto né E até que ela me convenceu reparem que eu tive que ser convencido a ser um leitor e e demorou muito tempo paraa minha irmã conseguir me convencer E aí eu fui ler um livro que chamava besta fera fazia todo sentido tinha a ver com os filmes ruins que eu gostava era um filme era um livro sobre lobes homens e tinha uma leitura que favorecia uma pessoa que não não é leitor que isso também é importante tem certos
livros que exigem uma bagagem de leitura antes que tu vá ler aquilo ali tu não pode ir do nada nunca leu nada vai ler aquilo ali sabe então acho que tem a ver com as preferências das pessoas o meu livro preferido da vida até hoje é o Musashi né que é sobre um samurai japonês E aí tu vê que antes eu antes de eu ler esse livro eu lia o mangá eu sou eu gosto muito de M vê que é uma história particular minha gosto muito de história de quadrinho gosto de Mangá e eu li
o vagabonde que é baseado nesse livro então no mangá dizia que era baseado no livro então Então fui ler o livro e evidentemente para mim funcionou porque é uma coisa que que que dialoga com símbolos que me compõem assim então acho difícil de de de dar essas dicas Gerais assim mas eu vou dizer me vou dizer uma que eu acho que seja geral e que e acredito que funcione pros nossos eh O Livro dos Racionais mcis que saiu pela companhia das Letras isso não não vai ter erro Racionais nunca falha sobrevivendo no inferno né sobrevivendo
no inferno maravilhoso É difícil dar dica né não dou conta nem da minha vida quanto mais aconselhar Mas eu sempre falo pras pessoas principalmente jovens lerem de tudo ler o que eles quiserem porque a gente tem não leitores formados por uma escola tradicional que impõe é a moreninha é Iracema tudo bem gostar tudo bem eu não gosto mas tem as pessoas ficam com medo as pessoas acham que poesia é uma coisa só Uhum é uma coisa só então gente não é só o que vocês vem na escola não é só o que vocês veem na
TV vocês que estão aí no no outro lado do telão Leiam de tudo e eu posso indicar grandes poetas brasileiras contemporâneas como stepan Borges Adelaide iova Nat [Aplausos] e pesadíssimo esse Bond pesad gente nós estamos nos aando do final e aí eu queria só assim fazer uma pergunta rápida para cada um vocês eu história né que da Palha do do check diz que se uma arma é colocada num conto ela tem que ser usada então nós temos um cavaquinho nesse palco esse cavaquinho vai ter que ser tocado inclusive temos pedidos da plateia se pudesse o
do Zeca Pagodinho pelo amor de Deus mas aí eu já acho demais mas aí enquanto você pensa na resposta você já vai pensando no seu repertório Zé meu Deus é o seguinte eh tem uma coisa que me chama atenção no teu trabalho que é você trabalha né com esses personagens que muitas vezes não são vistos não são considerados E você tá ali elaborando uma subjetividade masculina né que muitas vezes ela não aflora assim o lado brincalhão do do pedreiro do cara que trabalha como porteiro e tal não sei que tem é essa questão que a
gente tá falando né da Complex da complexidade dessas figuras que geralmente são vistas meio como opacas uhum e uma coisa também que me chama atenção por exemplo no supridores em alguma das suas crônicas que é o papel da Amizade como esse espaço em que o o sujeito se abre né em que o homem não é só esse macho opressor que por exemplo é esse exemplo eh que você deu aqui então eu queria saber assim a amizade é um tema importante para você como autor Principalmente quando você tá tentando chegar nessas matizes do que que significa
ser homem Ah sim com certeza eh sobretudo por eh eu sempre penso assim tipo tem uma palavra para negócio mas eu gosto de pensar no que que aquilo representa Afinal né sabe a gente pensa se a gente fica preso nessa palavra amizade assim a gente fica na superfície mas quando a gente começa a pensar no que que isso representa que se significa convivência significa a pessoa te confessar as paradas não é significa Justamente esse estar às vezes meio anônimo né Tem uma coisa que sobretudo se pensando as masculinidades né Tem uma coisa que eu tentei
trabalhar até nesse novo romance que é tentei aprofundar essa ideia sabe quando as pessoas dizem eh ô meu não sei se ouviu essa expressão mas Ô meu fala ISO aí tem mulher e criança aqui né é exatamente isso existe um mundo secreto saibam as mulheres presentes aqui existe um mundo secreto que não se manifesta na presença da mulher evidentemente a mulher sabe que o escroto que os homens são essa é outra coisa que eu quis trabalhar no livro não não é não há exceção né enfim eh era para ser suscinto né tô tentando aqui tô
me esforçando eh e aí o negócio é seguinte é perdi o fio da miada a amizade masculinidade tóxic a possibilidade de não ser só tox é E aí tem esse mundo que se manifesta longe das mulheres e das crianças onde os homens são homens mesmo ali isso as mulheres não t acesso assim e aí é mano é e e até uma coisa que as mulheres me perguntam se quando eu tô com os meus amigos e acontece essas paradas violentas e tal se eu me me posiciono e é muito difícil velho é aí tu sente o
peso dessa estrutura patriarcal assim que velho qualquer coisa que tu fale se colocando contra esses discursos é acaba que tu vai virar o motivo de chacota pro resto da vida assim e é difícil de enfrentar é muito difícil né e é uma coisa que essa proximidade com esse universo terrível se dá pela olha veja através da amizade né mas sei lá cara eu acho difícil falar disso porque eu queria deixar muito claro que eu não escrevi não tentei trabalhar esses assuntos me colocando no lugar de sessão também então tipo embora eu tenha tido acesso a
a muitas coisas através justamente da amizade e qualquer coisa que eu Produza vai vai vai a amizade com as pessoas vai ter um uma função fundamental eh Eu também produzi esses temas Porque eles estão dentro de mim né porque eu também sou um macho escroto diria E aí obrigado pra Bruna eu queria também que você comentasse rapidamente enquanto o Zé se recupera para tocar o cavaquinho eh que assim o seu livro tem várias entradas e várias possibilidades de leitura como um bom livro de poesia deveria ser e Mas tem uma coisa que eu vi falar
pouco do teu livro que é a gente vive um momento hoje em que boa parte da literatura principalmente da poesia brasileira contemporânea mais relevante é feita por mulheres e muitas dessas mulheres estão ainda pensando sobre diferentes representações eh do que significa ser mulher dos papéis da sociedade das limitações das dissidências de gênero mas no teu livro emergem duas figuras para mim são muito importantes que são a menina e avó Uhum E aí eu queria saber se isso era parte do teu projeto desde o início porque a menina e avó também são essas figuras que ninguém
quer ver uhum né esses extremos da vida da mulher enquanto você é extremamente vulnerável ou quando você não serve serve mais PR reprodução ou como força de trabalho e no entanto muitas das avós estão trabalhando PR Caramba então eu queria que você comentasse isso enquanto o Zé vai pensando aqui no repertório dele pra gente encerrar a nossa mesa eu acho que vale falar uma coisa muito importante o meu livro ele foi escrito pra minha avó quando minha avó tava quase morrendo Dona Adina eu prometi que ia contar a história dela uma mulher grandiosa toda história
né que criou sete filhos sozinha no barraco de madeira sem banheiro o um homem que deveria ajudar não ajudou tentou matar ela o filho os filhos foi morto Enfim uma história de muita violência e eu ouvia essas histórias minha avó foi uma grande contadora de histórias ela contava só para mim mas ela era uma grande contadora de histórias e eu fiz essa promessa só que eu percebi que eu não conseguiria contar a história da minha avó porque toda história ma que a poesia poesia não dá conta não dá conta e porque também tinha muitas lacunas
A minha avó não teve registro de nascimento tinha muitas lacunas E aí eu fui tentando preencher essas lacunas com outras outros outros personagens né e eu fui encontrando ali a minha própria história Então eu acho que a velha aparece nessa figura da minha avó e a menina aparece na minha figura porque não tem como você construir a tua própria biografia porque é um livro de pegada biográfica sem ser atravessada pela biografia das suas antepassadas e não tem como e vice-versa e vice-versa eu percebi que essas violências que a minha avó sofria a opressão que ela
sofria de alguma forma foram atualizadas nas violências e na opressão que eu sofro e que eu sofri quando menina e então foi isso tentando contar a história da minha avó eu encontrei a minha própria história e aí aparecem essas duas figuras a avó a velha e a criança Maravilha incrível vamos lá Zé você você usou os óculos escuros você vai ter que usar o cavaquinho assim gente é eu queria só dar uma explicação aqui que eu sou um um sambista frustrado né Eu gostaria muito de ter sido sambista Então as pessoas se alguém aqui me
me segue já deve saber não é surpresa nenhuma que eu sou muito ruim nisso aqui eu não não pensem que que vai ser uma coisa legal é ser escritor é falta de opção o restante não deu certo a gente vai a gente vai para esse caminho mas até queria fazer uma aproveitar para fazer uma uma dá uma outra dica de leitura que é o seguinte gente vocês sabem que a maior eu diria para mim assim do meu ponto de vista né o maior acontecimento cultural desse país a maior manifestação cultural que teve nesse país foi
o cacique de Ramos para mim não é que se vocês não ouviram falar disso provavelmente é porque foi coisa de preto e as coisas de Preto São invisibilizadas nesse país são abafadas mas é o que melhor há né e do que aconteceu ali segundo Simas que deu uma conferência magistral aqui ontem é um grande empreendimento civilizatório o cacique de Ramos aham e no que ele está muito correto inclusive sim então queria pedir para que vocês procurem saber disso procurem a casa da malê que tem uma biografia do Fundo de Quintal que conta toda essa história
aí vocês não vão se arrepender e eu vou tocar uma do fundo então pode ser eh gente vocês me ajudam o refrão é barbada refrão é assim ó B é fácil vocês ajudam vamos vamos ensaiar Vamos ensaiar [Música] [Aplausos] ó a su ali não tá fazendo ô su vamos fazer tem que ser todo mundo vamos lá vamos lá agora vai agora vai vamos lá o Meu Sonho Verdadeiro é gostoso sonhar todo mundo é um terreiro S até o sol raiar Sob a Luz da poesia é tão doce de cantar e ao Son dos cantas e
das paladas eu não quero parar vou sorrindo cantando sambando ao sabor do luar é um samba dolente ou até de repente pra gente pensar se canta se panta se canta raiz Popular samba é filosofia dá o guia do salão tem a força e a magia que acende o coração e Pra minha alegria o meu samba vai a lei é a minha bandeira a paixão verdadeira que me satisfaz essa luz tão Divina ilumina os nossos Quintais é um dom envolvente presente na gente na sente da Paz essa luz não divin ilumina todo mundo no Bororó comigo
agora eu quero ver [Música] Bororó B B obrigado bom eu acho que não tem jeito melhor de encerrar essa mesa e dizer que a flip só está começando né Eu quero agradecer a todos vocês agradecer ao Zé pela pal agradecer a Bruna e e lembrar a vocês que os nossos autores vão autografar na livraria da Flip que tá aqui ao lado Tá bom muito obrigado a todos vocês obrigada gente [Aplausos] i