As riquezas da Groenlândia por trás de interesse de Trump

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BBC News Brasil
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, provocou alvoroço internacional ao dizer que quer incorpo...
Video Transcript:
Um território que passa a maior parte do  ano sob temperaturas congelantes e é quase desconhecido da maioria da população global. . .
Mas que abriga riquezas minerais valiosas e tem uma posição geográfica estratégica. A Groenlândia está mobilizando as atenções globais por causa da intenção de Donald Trump de  tornar o território parte dos Estados Unidos. Eu sou Mariana Sanches, correspondente da BBC  News Brasil em Washington, e neste vídeo explico o interesse de Trump na Groenlândia e as pistas  que essa discussão nos dá a respeito do que vem por aí no segundo mandato do republicano.
Vamos começar pelos interesses na área. Trump fala em incorporar a Groenlândia  aos Estados Unidos desde 2019, em seu primeiro mandato. Lá atrás, ele  chegou a dizer que não era uma prioridade, mas a intensidade das declarações nos últimos  dias sugere que a Groenlândia ganhou importância.
Trump aliás manifestou outras intenções  expansionistas de viabilidade questionável, como anexar o Canadá, reivindicar  o Canal do Panamá e rebatizar o Golfo do México de Golfo da América. O interesse maior do republicano, porém, parece ser mesmo a Groenlândia, e ele não  descartou usar força militar pra isso. Essa ilha ártica que abriga só  57 mil habitantes é um território autônomo da Dinamarca, que colonizou a região.
E por que ele desperta tanto interesse? Além de estar numa posição geográfica estratégica,  entre Europa, América do Norte e Rússia, a Groenlândia abriga, segundo estimativas,  grandes reservas de minérios cobiçados, como níquel, lítio, cobre e grafite. Como grande parte desse território é inexplorado e está sob gelo, ninguém sabe exatamente o que  há ali.
Mas os estudos sugerem que a Groenlândia tem depósitos de 38 dos materiais considerados  críticos por União Europeia e Estados Unidos. E teria potencial de abrigar até um quarto  das reservas globais de terras-raras – aqueles minérios que são componentes essenciais pra  indústrias modernas como as de veículos elétricos e turbinas eólicas. Por isso, a demanda  por esses elementos não para de crescer.
O acesso a esses componentes ajudaria os  Estados Unidos a competir com seu maior adversário comercial atual: a China, que é também  a líder global na exploração de terras raras e na fabricação de veículos elétricos. Das duas mineradoras que atuam na ilha, os chineses são investidores de uma delas.  E nos últimos anos, a China tentou aumentar sua pegada na Groenlândia, inclusive propondo  obras de infraestrutura como aeroportos.
A China, no entanto, pode não ser a única  motivação urgente por trás das intenções de Trump. Muitos analistas apontam para  o interesse nesses minerais pela Tesla, empresa de veículos elétricos de Elon  Musk - o bilionário que se tornou uma das maiores influências de Trump e  que deve compor o novo governo. Ponto importante de  acesso ao Ártico, atualmente a Groenlândia já tem uma base especial operada pelos Estados Unidos.
O local serve de posto avançado  de observação de mísseis balísticos. E quais foram as reações até  agora às declarações de Trump? A Dinamarca, que oficialmente tem  a Groenlândia sob o seu reinado, afirmou que o território não está à venda  e que pertence aos próprios groenlandeses.
Não à toa, o país tem intensificado os  gastos com a defesa da sua ex-colônia. Vale lembrar aqui que a Dinamarca é membro da  Otan, a aliança militar de países ocidentais liderada pelos próprios Estados Unidos. Alemanha e França também reagiram com críticas às declarações de Trump e prometendo defender  a soberania territorial europeia.
O chanceler alemão Olaf Scholz afirmou, entre aspas: “O princípio da inviolabilidade das fronteiras se aplica a qualquer país (. . .
), seja  ele muito pequeno ou muito poderoso” E, para a surpresa de ninguém,  o atual governo democrata americano, que encerra seu mandato, disse que a  retórica de Trump afasta os aliados europeus. De todo modo, o episódio expõe  um certo expansionismo do segundo mandato de Trump. É o que explica o  correspondente diplomático da BBC.
E dá pra comprar um território  como a Groenlândia? Em 2019, Trump chamou o interesse pela ilha de “um  grande negócio imobiliário”. Historicamente, era, de fato, comum que países vendessem territórios. 
O Alasca, por exemplo, foi vendido pela Rússia aos Estados Unidos em 1867, pelo equivalente  a 150 milhões de dólares em valores atuais. Mas desde o fim das duas grandes guerras,  esse tipo de arranjo não é usual. No caso da Groenlândia, caso não haja investida militar  dos americanos, caberia aos 57 mil habitantes decidir sobre se tornar totalmente independentes  da Dinamarca e sobre se associar aos Estados Unidos.
A Dinamarca, sozinha, não poderia  fechar um negócio com os americanos. E o que acham os groenlandeses disso  tudo? Bom, o premiê local também afirmou que a ilha ártica não está à venda.
Mas ao mesmo tempo em que rebate as insinuações de Trump, o governo groenlandês tem feito demandas  por independência total em relação à Dinamarca. A BBC conversou com um jornalista local pra  saber mais das impressões dos groenlandeses a respeito dessa discussão toda. Por tudo o que eu disse até aqui,  fica claro que a anexação da Groenlândia  não seria tarefa fácil pra Trump.
E ainda que ele conseguisse, o geólogo Adam  Simon me assegurou que a exploração comercial das minas da ilha levaria pelo menos  dez anos pra se concretizar. Portanto, é improvável que o governo Trump possa  se beneficiar economicamente da aposta. O que, então, Trump tem em mente?
Analistas  políticos conservadores apontam para a chamada doutrina do Destino Manifesto, uma ideologia do  século 19 que sustentava que os americanos tinham o dever e o direito de avançar sobre territórios  estrangeiros para garantir o desenvolvimento e a expansão do experimento de liberdade e  autogoverno que o país preconizava. Isso incluía conquistar recursos para sustentar  a economia e garantir a segurança do país. O provável maior exemplar de político a executar essa ideologia  foi o sétimo presidente dos Estados Unidos, Andrew Jackson, a quem Trump afirma admirar.
No  seu primeiro mandato, Trump colocou um quadro de Jackson no salão oval. No novo mandato,  Jackson parece fadado a ocupar bem mais que uma parede nos planos do republicano. A gente, é claro, vai seguir de olho nos desdobramentos.
Acompanhe a  nossa cobertura em bbcbrasil. com, nas redes sociais e no nosso canal no WhatsApp  e no YouTube. Obrigada e até a próxima.
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