Palestra sobre ‘A vida não é útil’, do imortal Krenak, abre edição 2024 do Cria Unicamp

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TV Unicamp
A segunda edição do projeto “Cria Unicamp – Te preparando para o Vestibular!” foi aberta com uma pal...
Video Transcript:
[Música] Bom dia jovens tudo bem com vocês fico honrada de fazer abertura do cria de novo cria é um projeto muito especial para mim talvez vocês já tenham me encontrado no na no cria do ano passado no YouTube por aí eu gosto que o cria ele acompanhou tudo né o primeiro cria eu tava barrigona grávida segundo cria eu tava com o bebezinho por aí amamentando agora o terceiro cria o bebê ficou dormindo porque ele já tá grande o suficiente para me esperar no hotel é agora já tá o mocinho eh eu quero fazer um adeno
importante sobre a minha presença aqui de fato eu tenho a imensa honra de ser supervisionada pelo Zé no meu pós-doutorado atualmente eu tô lecionando na uma disciplina Na graduação de história mas a minha formação oficial original é em letras e eu posso dizer que eu sou um avantgard do cria porque antes de existir o cria eu sou cria que é o seguinte eu fiz graduação em letras aqui no Iel eu fiz mestrado em crítica literária no Iel eu fiz doutorado em crítica literária no Iel Ou seja eu nunca saí da Unicamp eu tô eu tenho
Hoje quase 35 anos eu entrei aqui com 17 há 17 quase 18 anos eu não saí porque eu ainda Fiz graduação em filosofia que eu acabei não terminando porque tava difícil demais para conciliar com a vida de trabalho e agora eu tô no pós-doutorado Vocês estão entendendo que eu entrei na Unicamp e nunca mais saí você corre esse risco tá Vai ser um prazer inclusive você não sair daqui bom me foi dado o privilégio além de fazer a abertura de falar de um livro que é no mínimo suig gêneros na escolha e e a Unicamp
e eu não tenho problemas algum de ser puxa Sao da minha casinha Afinal acho que eu atingi a maioridade aqui eu vivo na Unicamp há mais tempo do que eu vivo fora dela fao uma conta não sou bom em matemática mas essa mínima conta eu consigo e ela é muito vanguardista a Unicamp é muito sacudida mesmo vocês pensem que ontem porque a gente tem uma coincidência de datas krenak assumiu a cadeira de Imortal na Academia Brasileira de Letras ontem Inclusive eu tive que estudar o discurso dele ontem à noite porque não deu tempo né foi
ontem eu tive que saber hoje vocês vão perceber até que eu vou fugir um pouco do script da aula para conseguir incorporar a fala dele a minha aula que foi literalmente ontem e quando ele foi nomeado que foi em outubro a lista já tinha saído a Unicamp já tinha escolhido e é como se ela brilhantemente previsse uma das grandes condições eh de discussão do que é literatura atualmente e é um pouco disso que a gente vai falar hoje Deixa eu só pegar meu negocinho isso aqui eu fiz uma coisa que os meus alunos eh regulares
sempre me pedem um handout tipo é uma folha que você não vai conseguir preencher agora se você não tiver com tablet não tem problema mas que eu fiz para você conseguir estudar depois sem ficar na loucura de ficar copiando todo o slide Então ela tem os tópicos que eu vou trabalhar com o espacinho em branco ah Espero que esteja funcionando QR Code tava tá tá funcionando ah eh então tem todos os tópicos que eu considero fundamentais nesse livro com espacinho para você preencher se você imprimir você preenche a mão se você tiver no computador você
consegue editar e embaixo tem um documentário que não é uma sugestão tá é uma obrigação assistir 25 minutinhos ninguém vai morrer por isso esse documentário vai ser eu vou costurar alguns elementos desse documentário aqui nessa aula que ele é bastante importante ele é todo conduzido por uma entrevista do krenak essa série documental guerras do Brasil ele vai tratar de alguns elementos da história do Brasil e esse primeiro são os 100 primeiros anos que a gente chama de guerra de conquista né que não foi fato uma guerra de conquista e além da dos elementos teóricos importantes
desse documentário vocês vão conhecer uma das minhas coisas favoritas no krenak que é a postura dele ele é treta no meio da entrevista os primeiros 15 minutos vão assistir vocês vão lembrar de mim ele olha pro entrevistador eí a câmera focaliza ele fala assim que que você tá me olhando com essa cara simpática a gente tá em guerra o meu povo e o seu povo tá em guerra no meio do documentário Oi meu amor então é uma das coisas mais legais do mundo Espero que ajude tá bom os slides eu sei que o cria disponibiliza
por isso que eu não coloquei mas eu posso subir depois nesse drive também eh que vocês já t o q code Tá bom quem é o krenak este nome que talvez vocês não tivessem conhecido até tão recentemente ele é um monte de coisa né a gente com a nossa leitura ocidental classifica como líder indigenista Claro que ele é ambientalista filósofo Professor Ele é professor hes causa pela Universidade de fora e é agora em tal da Academia Brasileira de Letras ocupando a cadeira número cinco que já foi de Raquel de Queiroz e que é a cadeira
da diversidade porque a Raquel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras E o Zé já adiantou né que eu falo assim Leiam o texto sim gente eu sei que na vida real existe a vida não sai da nossa frente tem um problema muito sério em viver que a vida não sai da frente um monte de coisa para fazer a vida colocando um monte de coisa na minha frente também muito bem ela não sai da frente às vezes você não consegue ler mas de todos os textos que vão entrar os
novos principalmente existe uma experiência de leitura muito rica nessa daqui eu espero sinceramente que vocês a façam eh eu gosto de trabalhar porque assim eu posso entrar numa obra de muitas maneiras e eu chamo essas maneiras de entrar na obra quando eu trabalho com os meus alunos de Chaves de leitura então eu tenho chaves para conseguir entender por onde eu quero abordar essa esse texto porque eu poderia fazer um curso inteiro sobre esse livro e não falar 40 minutos que eu vou fingir que são uma hora porque não Fingi que tô fingindo ninguém tá vendo
essas três chaves que eu escolhi são o fato desse texto não ser visto como literário e você pode ter certeza eu posso apostar com você toda a minha coleção de cinco batons vermelhos que é meu maior bem precioso é minha maior Preciosidade que vai ter a professor conservador dizendo ai isso nem é literatura assim já deve ter não já tem não tô apostando porque eu já sei que é uma aposta ganha e se você ouvi isso no cursinho na escola na universidade no YouTube você Respira fundo e ignora esse ser humano combinado A gente não
vai ofender porque a gente é educado você ofende internamente e segue a vida essa é uma das coisas Mais Burras que alguém pode dizer para eu ser educada porque aqui eu não vou ficar falando palavrão no meio de tanta gente bonita Então eu vou discutir a literariedade dessa obra ou seja o estatuto ou não de Literatura e é daqui que vai sair uma conclusão que eu não vou te dar no início dessa aula eu quero que você construa ela comigo e no final quero ver se você concorda ou não comigo segundo um diálogo importante com
a tradição literária especialmente com a tradição literária ocidental porque ele tá batendo na gente vários momentos desse texto e às vezes ele também tá trazendo outras vozes dissonantes para construir o texto dele e por fim partindo de um de uma premissa muito importante de um cara chamado Antônio Cândido que é o texto ele é formado por duas entidades o bom texto né a dimensão ética que é aquilo que o texto fala e a dimensão estética que é como o texto fala e eu quero nessa conclusão que eu quero chegar com vocês eu quero partir da
premissa que existe uma coerência fora do sério entre ética e estética nesse texto tudo bem sobre por onde vou entrar Maravilha se um professor conservador quisesse discutir o que é literatura comigo esse professor hipotético Imaginário ele certamente mobilizaria críticos literários para isso então eu já me Adiantei eu trouxe dois homens críticos literários ocidentais para me dizer o que é literatura e mesmo usando essa categoria Eu Consigo provar que kenak é literatura imagina se eu nem quisesse usá-las Mas vamos lá Terry eagleton um dos nomes mais recorrentes para falar sobre o que é inclusive o livro
mais famoso dele chama o que é literatura ó e ele é muito usado especialmente no ensino médio por ser um contemporâneo tem uma linguagem mais acessível mas assim 98% dos exemplos dele ele discute literatura é Jenny Austin é Shakespeare ele ele vai usar só textos em inglês majoritariamente então ele faz todo um trabalho em cima de do personagem do redcliff do Morro dos ventes Z vantes então Emily bron ele nunca vai usar um líder indígena como exemplo e mesmo assim olha qual é a definição dele de literatura que a literatura tem um certo juízo de
valor que é diferente você dizer o que é literatura como você diz o que é um inseto Por exemplo biologicamente essa é a conclusão de livro dele eu sei o que é um inseto eu consigo definir o que é um inseto mas a literatura tem juízos de valor que carregam ideologias sociais Então o que é e não é literatura vai depender de variáveis aí ó tá aqui a minha grande amiga do coração professora matemática thí eu zoou com ela falou assim amiga se fosse fácil era exatas porque a gente chega num número pode até suar
para chegar mas chega aí quando eu trabalho com literatura eu chego e falo assim pro meu aluno então pode ser e pode não ser a depender do contexto do que pode e não pode então eu tenho algumas variáveis que vão dizer se pode ou não você e quem decide nós jamais nós nos curvamos respeitosamente a maior de todas as musas que existe a literatura é ela quem vai me dizer dentro do meu contexto Qual é a materialidade é a maior Musa Não Me vem com a história não José E aí o Antônio Cândido vai dizer
num dos textos mais bonitos da crítica literária brasileira sugiro inclusive que vocês Leiam posso até depois lembrar de botar o PDF no Drive que chama direito à literatura pro Antônio Cândido lá em 88 no contexto da constituinte e eu não estou dizendo isso à toa porque o kenak foi um nome importantíssimo na Wi inclusive o famoso discurso dele que está no documentário que Eu mencionei para vocês dele pintando o rosto com genp defendendo na Assembleia o direito ao Marco temporal que a gente depois teve questões históricas que é o direito à Terra indígena o Antônio
Cândido disse que a literatura é um direito humano como qualquer outro direito e é desse texto a definição de direito humano que eu mais gosto para ensinar para os meus alunos O direito humano é tudo aquilo que concebendo como direito para mim eu preciso conceber pro outro ele vai dizer a literatura fruição literária é um deles porque ela nos constitui enquanto indivíduos meus alunos adoram perguntar né Para que que serve literatura Graças aos Deuses xamãs Orixás e todos eles para nada porque o dia que a literatura servir para alguma coisa eu não vou querer falar
dela continuando agora a gente vai entrar no texto beleza para entrar no texto eu vou retomar um texto que estava até o ano passado na Camp que é a carta de achamento do Brasil eu disse para vocês e isso inclusive é um dos pontos que define literatura como literatura especialmente literatura clássica que existe um diálogo do texto do krenak com outros textos um dos textos com os quais ele está conversando eu diria mais espancando é os texto que Funda o pensamento colonial brasileiro um texto que foi esquecido por muito tempo até os chatos do romântico
ressuscitar e começar a usar de modelo um texto que é a carta de achamento e que diz olha que curioso a carta de achamento nasce como um texto histórico vamos dizer assim ela foi escrita Teoricamente por pvag caminha para mandar pro rei quase como um relato olha aqui oos seus bens sabe quase uma ata de de informação a gente achou isso isso é seu isso é seu tô te levando um papagaio as ind dia assim desse jeito esse texto foi colocado no vestibular do Unicamp embora ele tenha gerado alguma novidade não vi conservadores perguntando se
deveria tá ou não porque existia um diálogo importante da carta de achamento especialmente com romantismo que fazia todo sentido colocar numa prova de português dito isso voltamos aqui eu vou escolher três pontos da carta que vão aparecer na obra sendo debatidas pelo krenak um a inocência do povo indígena Quando eu falar índia que eu tô citando o termo daqui tá a gente não usa mais essa essa nomenclatura mas ele vai dizer que os os são gente de extrema Inocência temos aí com eh derivações filosóficas dessa lógica da inocência indígena mas o meu ponto principal é
por muito tempo você vai encontrar pessoas lendo a inocência quase como uma leitura positiva pueril na verdade a gente só coloniza e aqui no sentido amplo do termo tá no sentido só de terras eu só colonizo o outro no sentido de um grande autor chamado todorov quando o outro me é muito menor que eu em termos amplos eu não colonizo aquilo que é grandioso e com qual eu respeito porque a colonização é um processo violento não é um processo Generoso então pressupor uma Inocência ela é a base necessária do processo Colonial não tem nada de
positivo nisso segundo ponto ele menciona o fato que os os povos que ele está encontrando não lá nem criam ão de tá uma referência ao fato de que eles são povos nômades Caçadores coletores que vivem numa lógica diferente que a portuguesa colocando isso como algo negativo e o próprio livro que a gente vai trabalhar vai discutir o conceito de utilidade e vai colocar o modo de pensamento desses que não lavram nem criam num outro estatuto hierárquico vai inverter não somos piores que não lavram nem criamos não somos melhores também porque eles não eles não têm
essa arrogância nós somos um outro jeito de estar no mundo e o livro que vocês estão trabalhando foi escrito no contexto da pandemia e nesse contexto ficou muito evidente que essa hierarquia de povos que lavram e criam e povos que não lavram e criam abaixo não fazia mais sentido Afinal como ele mesmo diz a gente não come dinheiro chega uma hora que a gente precisa prisa ter o que comer e por fim aqui a terceira parte é a premissa de que o branco né diante de gente de tal Inocência que sequer Sabia lavrar tinha como
função o processo de salvação e aí Eu acho essa parte interessante para falar do texto atual porque o texto todo não sei se vocês sentiram isso ele tem uma carga otimista muito bonita um uma um viés de esperança possível e esse viés tá na contrapartida disso Quem vai salvar a humanidade quem ainda sustenta o céu Essa é a metáfora que a gente vai trabalhar são os xamãs são os povos vou usar agora o termo do crenac da floresta quem tem que salvar o branco são os povos da floresta Então a gente tem uma inversão Clara
de três valores clássicos dessa carta de achamento vou partir do cada capítulo primeiro capítulo que diz não se come dinheiro eh duas citações fundamentais para entender a primeira é quando o último Pee es nas águas e a última áv for removida da terra só então o homem perceberá que ele não é capaz de comer dinheiro tudo que tá em aspas em vermelho são citações do livro não vou ler todas necessariamente tá quando a gente discute que não se come dinheiro o kenak tá fazendo uma coisa que para mim é muito importante ele vai ressignificar o
conceito de humanidade ele vai partir da seguinte explicação que nós brancos tô aqui trabalhando brancos como ocidentais né não somos todos brancos aqui mas essa entidade ocidental branca colonizadora ela dizia que a humanidade é composta por humanos o krenak vai dizer não vocês dizem que a humanidade é composta por humanos quando na verdade a humanidade é composta por determinados humanos e os outros humanos são subh humanidade e eu crenaque vou dizer a verdadeira humanidade não é composta por humanos humanos também fazem parte dela ela compõe os humanos a floresta os animais ele expande o conceito
de humanidade para entender que o humano só existe em relação ao outro o outro humano diferente dele mas o outro natural o outro que entorna E cria o mundo tal qual ele existe esse conceito não é fácil então por favor Vocês entenderam vou repetir por via das dúvidas o homem branco chama de humanidade o Humano o krenak diz o homem branco está mentindo o que ele chama de humanidade é o só ele o branco europeu colonizador o resto é uma subhuman foi até aqui e o que o krenak tá dizendo eu quero chamar de humanidade
uma outra coisa o humano em relação ao natural o o humano é parte da humanidade ele não é a humanidade porque a humanidade é uma coisa maior mas como assim a humanidade pode conter alguma coisa que não humano porque pro kenac a gente só existe em relação ao outro e ao entorno não é uma existência única sozinha como o neoliberalismo prega fez sentido agora então eu posso continuar ele vai chamar de clube exclusivo da humanidade né vai dizer é para além do homo sapiens vamos sair dessa lógica e aí ele diz assim é incrível que
esse vírus que está aí agora esteja atingindo só as pessoas Tá vendo como ele não chama de humanos ele chama de pessoas porque a humanidade é um conceito maior para ele então o contexto da escrita na verdade da escrita não porque esse depois eu vou falar um pouco disso mas esse livro é uma transcrita de falas orais do krenak você deve ter percebido isso até pela linguagem ser uma linguagem muito mais oralizada muito mais acessível E aí eu te te deixo uma provocação que vai retomar ao longo da aula ele diz assim foi uma manobra
fantástica do organismo Terra então assim o organismo da terra Olha a imagem que ele faz tira a teta da nossa boca e diz respira agora eu quero ver se eu não tô te provendo tudo que eu sempre te provi respira agora que eu quero ver lá na carta de achamento tem uma premissa que finaliza A Carta que assim eles vieram atrás de ouro e prata ouro e metais né de maneira geral e quando não encontra para não ficar feio pro rei o o cara diz assim ó não tem não achama assim de primeira vista mas
tem um monte de água água há muitas aí uma frase famosa aqui o que plantar vai dar e essa lógica de que a gente sempre a natureza especialmente a brasileira agora é um lugar de água infinita que tudo pode prover tá sendo posta à prova ó que alguns só estão enxergando agora e da onde vem essa ideia da carta de achamento desde a colonização Ah já que não tem né ouro aqui gasta tem água infinita E aí eu te pergunto vocês enxergam aqui uma personificação da terra vamos relembrar o conceito de personificação é quando seres
inanimados são atribuídos a eles elementos ou ações animadas enxergam né Guarda essa informação mais um pouquinho mas para frente ele diz assim não é preciso nenhum sistema bélico complexo para pagar essa tal de humanidade essa tal é a humanidade do Branco tá se extingue com a mesma facilidade que os mosquitos de uma sala depois de aplicado o aerosol nós não estamos com nada essa é a declaração da terra te pergunto de novo enxerga uma personificação aqui como se a terra depois de tirar a teta ela vira e fala assim para mim você não tá com
nada amigo a gente adora falar né o mundo vai acabar o mundo não vai acabar gente o mundo segue inclusive segue melhor a gente provavelmente acaba mas o mundo n ele dá conta ele se organiza ele se reorganiza a gente já não garanto muito estamos a tal ponto dopados por essa realidade nefasta de consumo e entretenimento que nos desconectamos do organismo vivo da Terra com todas as evidências as geleiras derretendo os oceanos cheios de lixo as listas de espécies instint estão aumentando Será que a única maneira de mostrar PR os negacionistas que a Terra é
um organismo vivo é esquartejar la primeira hipótese da minha conclusão não é uma personificação seria uma personificação Olha como literatura não é Preto no Branco que nem outras ciências exatas seria uma personificação C eu concebesse a terra como um ser inanimado então para nós é uma personificação para ele não é uma figura de linguagem a Terra é viva a gente é que não enxerga percebam Alô que questão maravilhosa para colocar a dica aqui é ou não é uma personificação Depende de quem tá lendo pro kenac não é uma personificação para nós leitores ocidentais triviais é
como é que eu posso esquartejar alguma coisa Não viva mas para ele é viva prova para mim Marcela provo Sim Senhor ele menciona James lovelock que é um teórico criador da teoria de Gaia que é uma teoria justamente da ideia de que a Terra é um organismo vivo ent viu então para ele e para todos e aí eu vou botar até o para mim porque eu fui convencida pelo krenak a Terra é um organismo vivo então em termos de figura de linguagem não é exatamente uma personificação no início da aula disse assim eu quero te
mostrar como ética e estética caminham nesse livro Qual que é a premissa ética a Terra é um organismo vivo Qual que é o trabalho estético usar uma figura de linguagem que mantenha a vida da Terra no sentido textual também colocar a terra para falar é um jeito estético de provar um ponto de vista ético fez sentido minha afirmação massa Podemos seguir ele vai falar em dois conceitos macro e micropolítica a macropolítica É no sentido amplo então é capital exterior relação Norte Sul Global relações inclusive dentro do país e a micropolítica é a ação de pequenas
comunidades pequenas eh agrupamentos que também fazem política no sentido micro e ele vai dizer lembra que eu falei para vocês que existe uma ele é um livro Considerando o nível de pessimismo do krenak é um livro esperançoso Vou Colocar assim que ele é pistola ele é brabo que diz assim os agentes da micropolítica então Então quem são esses agentes são pessoas plantando horta no quintal abrindo calçada para deixar brotar Seja lá o que for eles acreditam que é possível remover aí vai começar um festival de linguagem que para mim é um show assim é uma
aula do kenac Olha que lindo isso é possível remover o túmulo de concreto das metrópoles Isso é uma linda metáfora que que é o túmulo de concreto a gente fez transformou tudo em cemitério quando a gente encheu de cimento matou matou árvore matou planta é um túmulo de concreto eh e diz assim aí olha que legal isso aconteceu uma coisa muito bonita eu coloquei esse slide e eu me lembrei eu vou botar no Drive também porque só eu lembrei disso ontem de uma linda música do Emicida que chama é tudo para ontem que aparece o
Gil contando a lenda que aparece nesse livro A Lenda dos ai se a gente tivesse um trabalho de som até tiia ter colocado é aquela lenda de que o criador da Terra volta em forma de tatu E aí eles perseguem o tatu e duas crianças libertam ele aí as crianças correm atrás do Criador e perguntam criador que que você achou da gente mais ou menos mais ou menos o Gil declama essa história dentro da música do Emicida É tudo para ontem que o verso do refrão é viver é partir voltar e repartir E aí eu
acordei hoje abri meu minhas redes sociais e vi uma foto do krenak abraçado com um Gil que os dois são Imortais e me lembrei desse slide que ele coloca refazenda que é uma música linda do do Gil que ele fala abacateiro acataremos o teu ato Nós também somos do mato como o pato e o leão Qual que é o uso aqui do abacateiro sintaticamente vocativo eu não tô dizendo que eu vou acatar o abacateiro eu tô avisando abacateiro abacateiro acataremos o teu ato tá vendo que bonito trabal estético de manter essa natureza como um ser
vivo para o qual Inclusive eu sou hierarquicamente e subordinado o abacateiro vai me dizer o ato que eu vou acatar fora né que pensando em Gil na aliteração e na sonância linda né do t e do a Mas isso é para outra coisa aqui eu tô focando no trabalho do kenac tá fazendo sentido sim ótimo e aí vem essa passagem mas agora de dentro do concreto olha essa metonímia o concreto como metonímia todo pela parte parte pelo todo da cidade surge essa Utopia de transformar o cemitério Urbano em vida aqui a gente até tem uma
antítese né transformar cemitério em vida Eu não marquei porque o foco é outra coisa a agrofloresta e a permacultura mostram aos povos da floresta que existem pessoas nas cidades viabilizando novas alianças ele não queria me dizer que dá para fazer diferente queria que existe gente na cidade que pode fazer diferente igual aos povos da floresta sim para isso ele faz uma metonímia da cidade elemento estético para defender um ponto de vista ético perceberam se isso não é literatura meu amor Aí vem uma belíssima intertextualidade tudo virou Agro minério é Agro assalto é Agro roubo do
planeta é Agro é tudo é pop essa essa essa calamidade que nós estamos vivendo no planeta hoje pode apresentar a conta dela pro Agro Isso é uma paródia caso veja né em termos literários da famosa propaganda o Agro é Tech o Agro é pop o Agro é tudo então temos um trabalho muito importante de intertextualidade ali atrás a gente teve uma citação do Gil aqui a gente tem uma paródia O que faz da paródia paródia o Tom crítico e debocho que a gente faz daquilo aí mais uma linda intertextualidade que entra pra gente a partir
de uma belíssima metáfora ele vai chamar o drumon e vai dizer drumon é meu escudo ó coisa mais bonita que que significa escudo escudo é aquilo que me protege me blinda Por que que é uma metáfora porque é uma comparação sem termos comparativos uma comparação implícita dá uma olhada aqui não é drumon é como um escudo é drumon é escudo e diz e ele coloca esse poema que deve ser um dos mais bonitos do drumon que diz assim restam outros sistemas fora do solar a colonizar gente Eu não digitei errado não tá é um jogo
de linguagem do drumão mesmo ao acabarem todos só resta o homem estará equipado a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo pôr o pé no chão do seu coração experimenta colonizar civilizar humanizar o homem descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene insuspeitada alegria de conviver Qual que é o recado do drumon só vai dar certo quando essa suposta humanidade parar de colonizar o outro e começar a colonizar Aim porque quando você coloniza o outro disse é porque o outro tem muito a aprender o que que o drumon tá dizendo e o kenac tá
reiterando quem tem muito aprender você mesmo meu filho tá na hora de colonizar suas próprias entranhas maravilhoso Aí vem meu Capítulo Favorito sonhos para adiar o fim do mundo nesse capítulo ele vai usar o sonho como uma instituição ele até vai dizer vocês aí os brancos vocês os colonizadores acham que o sonho é um estado que se opõe a vigília que é o acordado para nós o sonho é um aprendizado para vigília o sonho é uma uma experiência de instituição para eu saber como viver se eu não sonho eu não sei nem como viver o
que sugere citando ele que o sonho é um lugar de veiculação de afetos afetos no vasto sentido da palavra não falo da sua mãe do seu irmão mas também um sonho como o sonho afeta o mundo sensível porque o cotidiano essa frase tem que guardar no seu coração o cotidiano é uma extensão do sonho eu só posso viver de um jeito possível se eu conseguir sonhar e sonhar para quem tem uma cultura xamânica como os povos da floresta T não é numa leitura boba assim ai Sonhei que a gente estava junto acabou sonhos são avisos
sonhos são lembranças sonhos são métodos de aprendizado sonhos são conexões com antepassados e ancestrais sonhos são conexões com possíveis futuros sonho é a única saída possível e ele diz que é preciso suspender o céu essa imagem linda que ganhou notoriedade com uma obra chamada a queda do céu em que um antropólogo francês trans tá tudo bem amiga Você deu uma ficou feliz estamos feliz demais você gosta do copenal é isso eu também ele cita o copena tá tudo bem eu fiquei feliz não fiquei feliz é que você me deu uma alegria aqui eu quis dividir
alegria ele cita um trecho ele menciona né uma Inter sualidade com o copenal que é o seguinte os chams para os povos da floresta eles dançam eles fazem eh rituais eles fazem eh construtos sociais eh dentro desses rituais eles elegem pessoas eles criam hierarquias todas elas porque eles acreditam que são eles uma das grandes funções dos xamãs nessa relação ancestrais e vivos é manter o céu suspenso e o copenal fala sobre Especialmente na segunda parte desse livro sobre garimpo que é um tema atualíssimo aliás e ele vai dizer ele o copenal é Yanomami é da
Tribu yoman ele vai dizer o povo em anom mame tá suspendendo o céu a hora que todos os chamans morrerem o céu vai cair mais uma vez pra gente é metáfora pro copena não é não Ele tá lá segurando o céu e a gente tá tirando a base do céu a gente pode inclusive jogar isso para uma extensão de sentido e lembrar que de fato cada vez que uma enchente destrói um pouco mais o nosso país o céu tá caindo e a culpa é nossa no terceiro capítulo ele fala dessa máquina de fazer coisas que
aí sim é uma metáfora pro capitalismo a gente só quer consumir consumir consumir e tudo tem que ser novo essa lógica da novidade ele inclusive desconstrói o que que é o novo né e ele diz nós povos originários a gente se Fala como uma nação que fica de pé porque para ele o povo é o povo e a floresta as árvores são os povos que ficam de pé e nessa máquina de fazer coisas ele menciona uma das coisas mais importantes eu digo para vocês como professora não só de literatura talvez esse seja o tema de
2024 racismo ambiental isso aqui é um dos pontos mais importantes dessa era que a gente tá vivendo levem isso estudem isso falem disso discutam deix deix o link aqui para vocês de um texto do governo federal não tem nem um trabalho assim para você falar ai meu Deus como ela é doutrinadora não governo federal coisa mais neutra do mundo assim entenderam né que diz o seguinte o krenak diz a gente tá colocando a conta em quem menos tem que pagar a conta que são as pessoas mais pobres vulneráveis às Comunidades Quilombolas Caiçaras povos originários tudo
isso fiquem de olho nisso o racismo ambiental é Talvez um das maiores contas que a gente tá pagando Desse nosso pensamento que retroalimenta colonialismo com capitalismo que ele vai inclusive dizer que já evoluiu para necrocapitalismo o necrocapitalismo é uma citação que ele faz da sua elonick do esferas da re Insurreição que ele ela vai dizer que assim o capitalismo chegou a tal ponto que ele só funciona Ele sempre foi um pouco assim mas agora ele só funciona numa lógica de morte aqui eu não quis colocar muita coisa para não pesar muito aula eu sei que
eu tenho pouco tempo mas aqui se te interessar esse assunto é uma é um diálogo muito importante com um Pensador pós-colonial chamado atin meem e uma obra dele um artigo acessível Vocês conseguem ler que chama necropolítica então o necrocapitalismo é uma lógica capitalista que que é um desenvolto uma consequência direta da necropolítica E por que que eu desenhei nesse ciclo né o colonialismo gera necrocapitalismo que gera colonialismo porque a má notícia é a gente ainda é uma merda de uma colônia a gente nunca deixou de ser colônia pensamento Colonial nunca nos abandonou a gente segue
numa lógica Colonial que que significa seguir numa lógica Colonial significa pensar que no mundo existe quem Deva explorar e quem possa ser passível de exploração é claro que a lógica Colonial ela vai muito estratégica se adaptando a quem vai ser explorado a cada momento mas os povos originários os Caiçaras os ribeirinhos os quilombolas a população negra os favelados existe uma colonização que nunca acabou e ela se retroalimenta de uma lógica Mercantil lembrem o o berço do Mercantilismo e sua expansão está na lógica colonial e eles são gêmeos inseparáveis Eles continuam se retroalimentando nesse Ciclo Sem
Fim e ele diz gente uma manhã não está vendo a terra tá dizendo filho silêncio você precisa parar porque esse pacote chamado humanidade tá se descolando do que é a terra vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade nega a popularidade das formas de vida da existência de hábitos no discurso dele ontem muito bonito o discurso ele subiu e disse assim eu sou só um mas 305 povos porque o que ele quer é levar essa galera para ser lida esse novo jeito de pensar o mundo ele diz inclusive no capítulo que se encerra a vida
não é útil que a a grande treta da nossa existência é as águas que o per de caminho acreditou infinitas construiram um pensamento que foi muito bem-vindo pelo capital de que o nosso desejo é infinito e ele é só que acontece que existe uma coisa importante aquilo que Supra o nosso desejo é finito e ou o ser humano lida com angústia de não ter tudo que ele acha que deve ter ou ele próprio vai se autoc consumir viver experiência de fruir a vida de verdade devia ser a maravilha da existência E aí ele conta né
que no contexto da pandemia numa das partes do livro enquanto estava todo mundo enlouquecido com o isolamento ele tava só plantando porque é out outro jeito de imaginar o mundo estamos colados no corpo da Terra quando alguém fura machuca arranha desorganiza nosso mundo cada indivíduo dessa civilização que veio para saquear o mundo indígena é um agente ativo dessa predação e estão crentes de que estão fazendo a coisa certa Talvez o Que incomode muitos brancos seja o fato de o povo indígena não admitir a propriedade privada como fundamento e aí a gente tem a chave da
questão da necro do necrocapitalismo e Da Lógica Colonial a gente só vou repetir de propósito a gente só coloniza o outro se a gente acha ele menor que a gente a gente só coloniza o outro se a gente o prevê como propriedade porque a lógica Colonial é um assalto de espaço o outro pode ser um espaço que eu posso tomar para mim se eu olhar para tudo e todos como propriedade privada curioso né Que o mesmo homem branco e que olha como propriedade privada pro outro que ele quer colonizar esquece a instituição propriedade privada quando
as mulheres querem ter direito sobre o próprio corpo um paradoxo curioso esse né eu comecei essa aula com a seguinte premissa eu trouxe para vocês teóricos da literatura para discutir se é ou não literatura fica evidente pelo uso da intertextualidade pelo trabalho estético de que é literatura certo vocês concordam então mas a conclusão que eu quero que vocês concluam comigo é um pouquinho diferente não faz diferença para nós se é ou não literatura porque dentro do pensamento do krenak isso não muda nada o que eu quero dizer com isso vamos ler um trechinho para fazer
sentido no capítulo Favorito ele diz assim vamos ter que produzir outros corpos outros afetos sonhar outros sonhos para sermos acolhidos por esse mundo e nele podermos habitar se encararmos as coisas dessa forma isso que estamos vivendo hoje Não será apenas uma crise mas uma esperança fantástica e promissora eu acho que o que falta pra gente e eu só percebi isso montando a aula eu juro para vocês eu concluí isso quando eu acabei de montar minha aula a gente fica usando raciocínios coloniais literatos coloniais estruturas Coloniais de definições coloniais estatutos linguísticos coloniais figuras de linguagem coloniais
para definir alguém que não trabalha nessa lógica se ele diz que a gente tem que produzir outros corpos outros afetos sonhar outros sonhos Eu leio Precisamos de outra definição de literatura quando a literatura que a gente tá lendo não é a Colonial então isso me lembra Conceição Evaristo Isso me lembra Carolina Maria de Jesus Isso me lembra Racionais Isso me lembra todos aqueles que produziram uma literatura que o branco continuou tentando dizer é ou não é que arrogância Nossa uma uma literatura que se propõe não Colonial não pode ser lida numa lógica Colonial então muito
obrigada Terry eagleton muito obrigada Antônio Cândido pelos seus serviços mas hoje não faz diferença para mim se krenak é ou não literatura krenak é krenak e a gente precisa ler muito [Música] [Aplausos] [Música] obrigada
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