[Música] Em 29 de novembro de 1268, o Papa Clemente faleceu, dando início a movimentação dos cardeis para a escolha do seu sucessor. Porém, o processo que deveria ser guiado por inspiração divina foi perturbado pelos poderosos interesses seculares, os interesses de nobres e reis, tanto o rei Carlos de Anj, que controlava o sul da Itália, quanto da nobreza de Roma. E isso acabou gerando consequências de disputas e impasses que atrasaram por nada menos que do anos a escolha do novo papa.
[Música] A eleição sem fim, sediada na comuna italiana de Viterpo, indignou a população local que cobrava sem resposta uma resolução para a crise. Até que, esgotada a paciência dos cidadãos, uma medida radical foi tomada. Eles trancaram os cardeais dentro do palácio episcopal, obrigando-os a lá permanecer até que anunciassem o nome do novo papa.
Curiosamente, a medida acabou sendo respaldada pelo próprio governador de Viterbo, que foi aconselhado por nada menos que São Boaventura. E não apenas manteve os cardiais trancados, mas também reduziu o fornecimento de alimento a eles e chegaram até mesmo a destelhar parte do palácio, expondo o Senado da Igreja à intemper do clima. Essa ocorrência peculiar que resultou na eleição do Papa Gregório X também lançou as bases da tradição até hoje perpetuada de escolha dos novos papas.
Assim como os cardiais na ocasião foram trancados com chaves em latim kunclaves. O atual conclave consiste em uma reunião de cardeis a portas fechadas que se prolonga até o anúncio de um novo papa. Mas como de fato essas reuniões são conduzidas?
Quem são os seus membros e quais são as regras que devem seguir? Neste episódio da trilogia especial sobre o papado, vamos desvendar o mistério do [Música] complo. A eleição de um papa é um momento de grande expectativa para a igreja e para o mundo.
Mas antes de um novo sucessor de São Pedro ser escolhido, a igreja entra em um período conhecido como séante, ou seja, quando a Santa Sé está sem um papa. Esse período começa imediatamente após a morte do pontífice ou como aconteceu em 2013, após a sua renúncia. Durante a Sé vacante, a igreja é administrada pelo cardeal Camerlengo.
É um cardeal de confiança do Papa falecido nomeado para essa função. Ele tem funções específicas e simbólicas. A primeira delas é comprovar oficialmente a morte do Papa.
No passado, o camerlengo costumava bater na testa do pontífice com um pequeno martelo de prata, chamando-o três vezes pelo nome de batismo. Hoje o procedimento ele é menos cerimonial, mas ainda assim é formalizado perante testemunhas. Uma vez confirmada a morte, o cardeal Camerlengo lacra os aposentos do falecido papa e quebra o seu anel oficial, conhecido como o anel do pescador.
O material do anel quebrado é novamente fundido para compor o anel do novo papa. Esse ato simboliza que nenhum documento ou ordem pode mais ser emitido em nome do Papa que já não se encontre neste mundo. Em seguida, o camerlengo organiza o funeral e convoca o colégio dos cardeis para dar início ao próximo conclave.
Enquanto a igreja está de luto, os cardeais começam a chegar a Roma. Durante dias, período conhecido como novendíales, são celebradas missas solenes em sufrágio pela alma do Papa falecido. Mas também existem reuniões e conversas entre os cardeis conhecidas como congregações gerais.
Nesses encontros, os cardeis discutem o estado da igreja, os seus desafios e também as qualidades que o próximo papa deve ter. Esses debates não são oficiais, mas eles são fundamentais para que cada cardeal eleitor chegue ao conclave com uma ideia clara sobre quem pode ser o novo sucessor de Pedro. Finalmente chega o dia esperado, a entrada no concláio.
Os cardiais se reúnem na Basílica de São Pedro para uma última missa antes da eleição. Essa missa é conhecida como a missa proigendo romano Pontifífice, ou seja, a missa pela eleição do Romano Pontífice. Após a celebração, os cardeis se dirigem em procissão até a capela cistina, onde o ritual sagrado da escolha do novo papa se fará.
Ao ingressarem na capela cistina, os cardeais tomam seus assentos, cada um posicionado sob as impressionantes pinturas de Michelângelo, que retratam a criação e o juízo final. No centro da capela, duas mesas são colocadas, uma para os cardeais escrutinadores, que contarão os votos. e uma outra mesa onde os cardeis depositarão suas cédulas.
O momento solene se aproxima. O mestre das celebrações litúrgicas, encarregado de dirigir os rituais e o protocolo, pronuncia em voz alta extraomness, que significa todos para fora. Extraomnes é a ordem para que qualquer pessoa não essencial ao conclave deixe imediatamente o ambiente da capela assistida.
Jornalistas, cinegrafistas, auxiliares, todos saem do local. A partir deste momento, os cardeais estão completamente isolados do mundo externo. A comunicação com o exterior é absolutamente proibida.
Nenhum cardeal pode usar telefone, rádio ou qualquer outro meio de contato. O sigilo é tão rigoroso que qualquer violação pode resultar em escomunhão automática. Esse isolamento garante que a eleição seja dirigida sem influência externa, apenas sob a inspiração do Espírito Santo.
Antes que as votações comecem, cada cardeal eleitor se levanta e diante dos demais faz um juramento solene. Com a mão direita sobre os evangelhos, cada um deles promete escolher aquele que acredita ser o melhor para guiar a igreja. sem se deixar influenciar por política ou qualquer interesse pessoal.
Eles encerram o juramento com as seguintes palavras: Sick Deus duvet, que Deus me [Música] ajude do juramento, são sorteados três cardeis escrutinadores responsáveis pela coleta e contagem dos votos. Também são sorteados três cardeais enfermari que levarão as cédulas de votação aos cardiais enfermos que não puderam caminhar até a urna. Além disso, outros três cardeis revisores são escolhidos para garantir a lisura no processo.
Eles são responsáveis pela conferência dos votos. O conclave não é apenas uma eleição, é um ato de fé, é um momento de oração. Cada cardeal se recolhe em silêncio e invoca a assistência divina antes de depositar o seu voto.
Esse momento carrega um peso espiritual imenso, pois para os católicos a escolha de um papa não é uma simples decisão política, é uma escolha guiada pelo Espírito [Música] Santo. As votações dentro do conclave seguem um protocolo minucioso e tradicional. Cada cadeal recebe um pequeno pedaço de papel dobrado com as palavras latinas escritas no topo.
Eigo insumum pontificen, que significa elejo como sumo pontífice, e então deposita o nome do cardeal em quem ele deseja votar. Os cardeis devem escrever à mão com letra clara e impessoal o nome do candidato que consideram digno para assumir o trono de Pedro. Um a um, os cardeais vão até a urna, segurando o voto entre os dedos.
Eles param por um momento, elevam os olhos para o altar mor e atrás do altar mor está a lindíssima imagem do juízo final pintada por Michelângelo, enquanto rezam em voz baixa a seguinte oração: "Chamo como testemunha Jesus Cristo, o Senhor, que seja meu juiz e que o meu voto seja dado a aquele que perante Deus considera o dever ser eleito. " Então, cuidadosamente colocam o voto sobre uma bandeja de prata e a inclinam para que a cédula deslize para dentro de uma urna, uma espécie de ânfora de [Música] prata. Esse ato se repete com cada cardeal.
Quando todos os cardeais terminam de votar, os escrutinadores responsáveis por conduzir a contagem iniciam seu trabalho. Um deles pega cada cédula e lê o nome em voz alta, enquanto os outros anotam os votos em uma folha de papel. E após a leitura de cada voto, a cédula contabilizada é perfurada com uma agulha e nela é enfiada ali um fio para que nenhum voto seja contado mais de uma vez.
Em seguida, os três cardiais revisores conferem a soma dos papéis e verificam se tudo foi feito corretamente. Se nenhum candidato atingir 2/3 dos votos, uma nova rodada de votação acontece. Se por três dias consecutivos não houver uma decisão, o conclave pode eventualmente ser suspenso por um breve período para oração e [Música] reflexão.
Este é o episódio do Conclave da trilogia especial da Brasil Paralelo sobre o papado. Para que esse conteúdo possa atingir mais pessoas de forma completamente gratuita, auxilie na divulgação desse vídeo. Basta curtir, compartilhar e se inscrever no canal.
Desde Gregório X, em 1274, mais de 80 conclaves foram realizados cada um, desempenhando um papel crucial na história da igreja. Algumas eleições foram rápidas, como a de 1939, que elegeu Pio X em apenas do dias. Outras foram marcadas por uma longa espera, como a eleição de Celestino V, que demorou mais de 2 anos para ser concluído.
A cada rodada de votação, os votos são queimados na estufa da Capela Cistina. Se não há um vencedor, produtos químicos são adicionados para produzir uma fumaça preta. Esse é o sinal para o mundo de que ainda não há um novo papa.
[Música] Mas quando a decisão finalmente é tomada, tudo muda. A fumaça branca sobe. O sinal tão esperado pelos fiéis.
O novo papa foi escolhido. Na praça de São Pedro, sinos tocam em celebração e a multidão explode de [Música] alegria. É quando o cardeal protodiácono surge numa das sacadas da imensa basílica de São Pedro para proclamar ao mundo as palavras mais aguardadas.
Anunciovis maum abemos papan. Anunci-vos uma grande alegria. Temos um papa.
Anobemos papa. [Aplausos] [Música] Ele então anuncia o eleito e o nome que o eleito assumirá para o seu pontificado. O nome escolhido pelo novo papa traz em si uma síntese das ideias e do tom que o Papa eleito dará ao seu pontificado.
João Paulo I, por exemplo, que sucedeu ao Papa João Paulo I, cujo pontificado durou apenas 33 dias, entendeu seu dever continuar aquilo que o seu predecessor pretendia fazer durante o seu pontificado, ou seja, ajudar a igreja a caminhar para o novo milênio, fazendo implantar as diretrizes do Concílio Vaticano II. O mesmo se pode dizer de P X, que escolheu tal nome por ter sido secretário de estado e braço direito de PI, além do fato de que a sua família servia aos papas na diplomacia vaticana desde o século XIX, inclusive o seu avô serviu diretamente ao Beato [Música] [Música] Piono. Minutos depois do solene anúncio, o novo Papa aparece pela primeira vez diante do mundo.
Esse é um momento de grande simbolismo e emoção. O seu primeiro gesto oficial é conceder da lódia centrale da basílica de São Pedro a bênção Urbe etiorbe, ou seja, a bênção dada à cidade e ao mundo. Com esse ato, a sua missão começa.
Nos dias seguintes à sua eleição, o Papa participa de uma série de cerimônias solenes. Primeiro ocorre a missa de intronização, na qual ele recebe o pálio, símbolo da sua autoridade como bispo de Roma. Depois, ele é apresentado oficialmente como papa eleito e recebe o anel do pescador, que representa o seu papel como chefe da igreja e sucessor de São Pedro.
Para o próximo conclave, a Igreja Católica conta atualmente com 252 cardeais, sendo que apenas 135 são votantes, pois aqueles que já ultrapassaram os 80 anos de idade são impedidos de votar. O Papa Francisco, durante o seu pontificado, escolheu mais da metade dos cardeis que elegerão o seu sucessor. Atualmente, a igreja já não possui nenhum cardeal em idade ativa que não tenha sido criado como cardeal, ou por João Paulo II, Bento X, ou mesmo pelo próprio Papa Francisco.
O colégio cardinalício atual é bem diversificado e conta inclusive com uma substancial participação de sete membros nascidos no maior país católico do mundo, Brasil. Jaime Spengler, Sérgio Rocha, Odilo Pedro Sherer, Orani João Tempesta, Leonardo Uri Steiner, Paulo César Costa e João Brazia Avis. Além disso, há representantes de diversos países africanos, como Ruanda, Gana e Etiópia, de países asiáticos, como a Índia, o Myanmar e as Filipinas, também da Nova Zelândia, dos Estados Unidos, do Canadá, além, é claro, dos países europeus.
Por trás de todo esse ritual solene e repleto de tradição, há a promessa de Cristo. Quando Jesus disse a Pedro, tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela, ele garantiu que a sua igreja continuaria firme, independentemente dos desafios que enfrentasse. O papa vio, por exemplo, sequestrado por Napoleão, manteve a fé da igreja viva mesmo no exílio.
Pio X guiou os católicos durante a Segunda Grande Guerra Mundial. João Paulo II enfrentou o comunismo e ajudou a derrubar a cortina de ferro na Europa. Bento X surpreendeu o mundo ao renunciar sendo sucedido pelo primeiro papa jesuíta da história, Francisco.
Os tempos se sucedem e a igreja permanece. Cada um, a sua maneira respondeu aos desafios do seu tempo, mas todos foram escolhidos pelo mesmo processo. Ou a aclamação no início da igreja, ou o conclave, como fazemos hoje.
Bora.